+ Sergio da Rocha Cardeal Arcebispo de Brasília |
A Liturgia da Palavra deste 16º Domingo do Tempo Comum ressalta o pastoreio do rebanho que pertence ao Senhor, convidando-nos a participar da missão. O Evangelho segundo S. Marcos nos apresenta a “compaixão” de Jesus diante da “numerosa multidão” que o procurava, cuja situação era semelhante à de “ovelhas sem pastor” (Mc 6,34).
O profeta Jeremias (Jr 23,1-6) censura os “pastores” por não cuidarem do rebanho, deixando as ovelhas se dispersarem e se perderem. Ao mesmo tempo, ele anuncia que Deus irá substituí-los por pastores capazes de tomar conta das ovelhas e fará surgir da descendência de Davi o pastor ideal que reinará com sabedoria, justiça e retidão, trazendo a salvação e a vida para o seu povo. Reconhecemos, nessa profecia, a promessa messiânica, pois ela se cumprirá plenamente em Jesus Cristo, o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas.
Na Carta aos Efésios, São Paulo nos mostra que Jesus Cristo, pelo seu sangue derramado, une os que se encontravam divididos em um “só corpo” (Ef 2,16), isto é, num só rebanho. Ele derrubou o muro da inimizade que separava judeus e pagãos e fez deles um só povo. Tal imagem faz pensar no muro do templo de Jerusalém que impedia aos pagãos de ultrapassá-lo e de violar o espaço reservado aos judeus ou na própria Lei de Moisés interpretada erroneamente por mestres que excluíam os pagãos da salvação. No mundo de hoje, marcado por tantas divisões e violências, necessitamos anunciar que Cristo “é a nossa paz” (Ef 2,14), promovendo a reconciliação e a unidade, aos que se encontram perto e aos que estão longe (Ef 2,17).
O Salmo 22 nos recorda que o rebanho pertence ao Senhor. É ele o verdadeiro pastor que a todos conduz, contando também com a nossa colaboração no cuidado pastoral do seu rebanho, conforme os diversos dons e vocações. Além da dedicação dos pastores, cada um é chamado a oferecer a sua colaboração no cuidado pastoral e na ação missionária da Igreja, testemunhando a “compaixão” diante dos que mais sofrem, através de gestos concretos. Cuidar das ovelhas sofridas com compaixão é missão a ser compartilhada por nós na Igreja. Cada um é também chamado a contribuir para que a paz e a reconciliação ofertadas por Jesus aconteçam na vida das pessoas, nas famílias e na sociedade.
Como fizeram os apóstolos, nós também nos reunimos com Jesus, na Celebração Eucarística, para contar a ele o que temos vivido e restaurar as nossas forças a fim de amar e servir os irmãos, cuidando com compaixão dos que mais sofrem.
O Povo de Deus/Arquidiocese de Brasília