+ Dom Sérgio da Rocha Cardeal Arcebispo de Brasília |
A passagem do Evangelho segundo Lucas, hoje proclamada, ressalta a amplitude e a urgência da missão. Jesus, que havia chamado e enviado os doze apóstolos, escolhe e envia outros setenta e dois discípulos. A messe, por ser tão grande, necessita de muito mais operários. Por isso, é preciso pedir ao “dono da messe” para enviar trabalhadores para a colheita, o que pressupõe a oração (Lc 10,2). A seguir, Jesus orienta como devem agir os discípulos enviados em missão.
Podemos destacar três aspectos da conduta dos discípulos, nas palavras de Jesus. O primeiro refere-se à simplicidade de vida, pois eles não devem levar consigo bens materiais, nem fazer exigências ou obter vantagens; devem aceitar aquilo que lhes for oferecido como hospedagem ou alimento, sem ficar buscando de casa em casa. O segundo aspecto é a atitude de paz dos discípulos, enviados “como cordeiros para o meio de lobos”. A paz deve ser transmitida ao entrar “em qualquer casa”. O terceiro se refere à atenção a ser dada aos enfermos, acompanhada do anúncio da chegada do reino de Deus. Assim agindo, os discípulos ficam “muito contentes” e recebem de Jesus a promessa de terem os seus “nomes escritos no céu” (Lc 10,20). A urgência da missão dá sentido à recomendação de não ficar cumprimentando gente pelo caminho, o que podia tomar tempo, segundo os costumes daquela época.
A missão confiada por Jesus aos discípulos continua imensa e urgente. Não pode ser deixada para depois ou para os outros. Jesus continua a enviar em missão seus discípulos, através da Igreja, comunidade de discípulos missionários de Jesus Cristo. A Igreja deve estar em estado permanente de missão. Em resposta ao Evangelho, nós continuamos a suplicar ao Pai para enviar trabalhadores para a messe, suscitando as diversas vocações e ministérios. Além disso, em comunhão na Igreja, cada um deve procurar fazer a sua parte para que a missão de anunciar e testemunhar o Evangelho aconteça sempre mais, a começar da vida cotidiana. Para que isso ocorra, procuremos cultivar a atitude de oração, a simplicidade de vida, o amor pelos enfermos e a busca da paz.
Jesus alertou os seus discípulos para os desafios que iriam encontrar, como a rejeição e as perseguições que iriam sofrer. Contudo, ele também nos deixou a certeza de sua presença, acompanhando-nos na missão. Contando com a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o discípulo pode fazer a experiência testemunhada por S. Paulo na Carta aos Gálatas, de gloriar-se “somente da cruz” de Cristo (Gl 6,14), não buscando vantagens ou privilégios. Quem assim faz é feliz, colaborando para que toda a terra possa aclamar o Senhor Deus, conforme rezamos no salmo responsorial (Sl 65).
Arquidiocese de Brasília / O Povo de Deus