As origens da Igreja Católica na Tailândia remontam
aos séculos XVI e XVII. Mesmo sendo minoritária no país de maioria budista, sua
presença é discreta mas ativa na sociedade.
Cidade do Vaticano
Por ocasião da visita do Papa
Francisco à Tailândia, trazemos alguns dados sobre a presença católica no país.
A Tailândia tem uma superfície de
513.115 km², onde vivem mais de 65 milhões de habitantes, dos quais os
católicos são apenas 0,59% . No país há 11 Circunscrições Eclesiásticas, 502
paróquias, 566 centros pastorais, 16 bispos (dado de 30 de dezembro de 2019),
523 sacerdotes diocesanos, 312 sacerdotes religiosos.
Os religiosos não sacerdotes são 123,
as religiosas professas 1.461, os membros de Institutos seculares 57, os
missionários leigos 221, as (os) catequistas 1.901, os seminaristas maiores
306, os centros de educação (de propriedade e/ou administrados por
eclesiásticos ou religiosos) 426, que atendem 488.698 estudantes, e 190 centros
caritativos e sociais.
As
origens da Igreja Católica no país
século
XVI-XIX
o cristianismo foi introduzido no
Reino de Sião entre os séculos XVI e XVII. Os dois primeiros missionários a se
estabelecerem no território foram os dominicanos portugueses Jeronimo da Cruz e
Sebastião da Canto, ambos mortos no 1569. Vieram então os franciscanos, que
chegaram à antiga capital Ayutthaya em 1589, os jesuítas em 1607, que puderam
abrir casas, escolas e igrejas e os Missionários das Missões Exteriores de
Paris (MEP), graças aos quais a missão pode definitivamente se consolidar no
território.
Em 1664 foi realizado o Sínodo de
Ayutthaya, o primeiro da Igreja neste Região da Ásia, cujas diretrizes foram
aplicadas até o século XX. Em 1669, a pedido dos bispos franceses François Pallu
e Pierre Lambert de la Motte, enviados pelo Papa Alexandre VII como Vigários
Apostólicos com a missão de evangelizar o sudeste Asiático, é instituída a
Missão Sião sendo confiada aos missionários das MEP. Elevada à Vicariato
Apostólico em 1673, com jurisdição também sobre a Malásia, Sumatra e Birmânia
do Sul, a Missão pode crescer especialmente sob o Rei Narai, o Grande
(1657-1688), que concedeu ampla liberdade aos missionários. Uma benevolência
que se transformou no entanto em hostilidade no final de seu reinado, dando
início a um período de perseguições terminadas somente em 1782 com a ascensão
ao trono de Rama I (1782-1809), ansioso por promover alianças com as potências
ocidentais.
No decorrer do século XIX, a presença
da Igreja pôde assim se consolidar: um decreto do Papa Leão XII conferiu ao
Vigário Apostólico de Sião a jurisdição eclesiástica sobre a Diocese de Malaca,
enquanto em 10 de setembro de 1841 o Vicariato foi dividido em duas partes: a
Missão de Sião Ocidental (incluindo a Malásia, a Ilha de Sumatra e a Birmânia
do Sul) e a Missão de Sião Oriental (incluindo o Reino de Sião e Laos),
confiada ao Vigário Apostólico Jean-Baptiste Pellegoix do Mep (1841-1862). A
ele se deve o primeiro dicionário tailandês-latino-francês-inglês. A Dom Pellegoix
sucedeu outro grande missionário das MEP, Dom Ferdinand-Aimé-Augustin-Joseph
Dupond (1864-1872). No final do sécul, o catolicismo já havia chegado a todas
as partes do Sião.
Século
XX
A ocupação japonesa durante a Segunda
Guerra Mundial (1941-1945) marcou o início de um novo período de perseguições
com a prisão de sacerdotes e a destruição de missões. O fim da ocupação, que
abriu o país também à chegada de Missionários protestantes seguindo as tropas
americanas, permitiu à Igreja na Tailândia de retomar sua atividade e
consolidar sua organização. Foram criadas novas dioceses, em 1957 foi
instituída uma Delegação Apostólica, premissa do estabelecimento de plenas
relações diplomáticas em nível da Nunciatura em 1968, e em 1965 foi
estabelecida a hierarquia católica.
Em 1984, o país recebeu a primeira
visita de um Pontífice por ocasião da Viagem Apostólica de João Paulo II a
Fairbanks, Coreia, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e Tailândia (2-12 de maio de
1984) com etapa em Bangkok (10-11 maio).
Cinco anos mais tarde, em 22 de
outubro de 1989, o próprio Pontífice presidiu a beatificação de sete mártires
tailandeses mortos in odium fidei em 1940 no povoado de
Songkhon, na fronteira com o Laos: o catequista Philip Siphong Onphitake, duas
religiosas e quatro leigos.
A
Igreja na Tailândia hoje
Uma pequena minoria
Ainda hoje, os cristãos são uma
pequena minoria na Tailândia: pouco mais de 1% da população, mais de 90% da
qual é budista Theravada, enquanto 4-5% é muçulmano. Destes, 0,59% (0,46 de
acordo com a Ucan-2018) são católicos, pertencentes principalmente a minorias
étnicas locais ou imigrantes vietnamitas e chineses, enquanto a outra metade
(principalmente da etnia Karen e Shan) pertence a diversas Igrejas e seitas
protestantes (evangélicos, batistas do sul, Igreja de Cristo e Adventistas do
Sétimo Dia).
Relações com o Estado
As relações da Igreja com o Estado -
que mantém plenas relações diplomáticas com a Santa Sé desde 1968 - hoje são
geralmente boas ainda que nos anos 80 tenha havido momentos de tensão, mais
tarde superados, com os monges Budistas preocupados com a atividade
missionária.
O budismo, de fato, sempre foi um
status protegido, mas não é a religião oficial do Estado e a liberdade
religiosa é no entanto garantida. De acordo com a Constituição, o Estado
promove a harmonia entre os seguidores de todas as fés e incentiva a aplicação
dos princípios religiosos "para criar virtudes e desenvolver a qualidade
de vida".
A reforma constitucional adotada em
abril de 2017, introduziu todavia um controverso artigo que impõe ao Estado a
promoção do budismo Theravada e a adoção de medidas “para impedir a profanação
do Budismo em qualquer forma". Essa mudança levantou a preocupações entre
as minorias cristãs e muçulmanas, porque todo ato interpretado como ameaça ou
um desprezo pelo budismo é agora passível de sanções.
O trabalho da Igreja tailandesa nos
campos educacional, de saúde e social
Pequena em números, a Igreja tem sido
apreciada por seu trabalho no campo da saúde, da educação e na área social. Na
Tailândia existem cerca de 426 escolas católicas com mais de 450 mil
estudantes. Frequentadas por muitos não-cristãos, as instituições educacionais
católicas são reconhecida pela alta qualidade do ensino oferecido. Notável
também o compromisso da Igreja em favor dos pobres e das categorias mais
vulneráveis, entre os quais os refugiados e migrantes presentes no país, que se
tornou um dos principais destinos migratórios do sudeste Ásia.
Em particular, a Igreja está na
vanguarda da ajuda humanitária há anos aos muçulmanos Rohingya que fogem de
Mianmar, mas também dos solicitantes de asilo cristãos Paquistaneses, vítimas
de perseguição de fundamentalistas islâmicos em seu país. A Caritas Tailândia,
em colaboração com o Catholic Relief Services, a agência de
caridade do Bispos dos EUA, implementou programas para fornecer assistência
médica, alimentação e assistência em diferentes centros de acolhimento. Esses
serviços são dirigidos também às numerosas mulheres e crianças vítimas de
tráfico de pessoas, que encontram nas estruturas católicas locais protegidos
onde recuperar sua dignidade.
Compromisso com a paz e o diálogo
A presença católica na Tailândia é
discreta mas dinâmica. Diante dos repetidos conflitos e à polarização política
que marcou a história recente do país, a Igreja reiterou repetidamente não
desejar tomar partido, mas sempre defender o diálogo, invocando o respeito pela
liberdade religiosa necessária para realizar suas atividades de culto,
pastorais, educacionais e caritativas, para contribuir para o bem comum da
nação.
Nesse sentido também durante a última
crise que levou ao golpe militar de 2014, os bispos tailandeses exortaram
repetidamente os fiéis a manterem uma posição neutra. Paz, diálogo, oração e,
acima de tudo, não-violência, foram portanto a linha seguida pela Igreja em
todos os momentos difíceis vividos pelo país. Ao mesmo tempo, a Conferência
Episcopal sempre sustentou que na raiz destas tensões estão as fortes disparidades
e injustiças sociais e o flagelo da corrupção.
A vida da Igreja na Tailândia também
sentiu o ressurgimento do antigo conflito entre o governo de Bangkok e os
separatistas islâmicos malaios das Províncias de Sul (Pattani, Yala e
Narathiwat), onde os muçulmanos são maioria. Um conflito de origens antigas nas
quais fatores étnicos e religiosos interagem. As violências obrigaram muitos
cristãos presentes na área a fugir. Além disso, o clima de insegurança
dificulta o trabalho pastoral e os projetos sociais e de caridade da Igreja
local, que já conta com poucas forças. Nesse contexto, fez sua voz ser ouvida,
junto às ONGs, para que a população civil vítima do conflito seja protegida e
se organizou para promover o diálogo entre as diferentes comunidades religiosas.
Uma Igreja comprometida em buscar
novas maneiras de evangelizar
A busca de novos caminhos para
evangelização e a promoção dos valores da família e da vida: esses são os
principais desafios e prioridades da Igreja hoje na Tailândia. A oferecer a
ocasião para relançar a evangelização, foi a recorrência neste ano de 350º
aniversário da "Missão de Sião" (1669). Em vista do
aniversário, a Conferência Episcopal Tailandesa convocou um período de
preparação de três anos (2017-2019), para "redescobrir a fé, promovendo o
anúncio da Boa Nova a partir do testemunho evangélico nas pequenas comunidades
e aprofundar o diálogo inter-religioso, especialmente com o mundo budista”.
O aniversário foi precedido pelo Ano
Santo especial, entre 2014 e 2015, para celebrar o 350º aniversário do Sínodo
de Ayutthaya (1664), que consolidou a presença da fé católica na então Sião. O
momento central do ano jubilar foi o Sínodo Plenário da Igreja Católica na
Tailândia, centrado no tema "Os discípulos de Cristo vivem a nova evangelização".
O encontro foi uma ocasião para
recordar o passado, mas também um importante momento de renovação para olhar
para o futuro. Na conclusão do Sínodo, os Bispos divulgaram um documento que,
partindo da situação do país, indicou os caminhos para a ação pastoral da
Igreja nos próximos anos.
"Os católicos - lê no documento
- estão buscando novas formas para encarnar o Evangelho no país e vivê-lo na
sociedade, na economia, na política, para contribuir para o bem comum da
nação”, um claro convite aos fiéis leigos para um maior envolvimento na vida da
Igreja e um compromisso ativo de construir uma sociedade justo e pluralista.
A Igreja tailandesa também está ativamente
comprometida na promoção dos valores da família e da dignidade da vida humana,
temas sobre as quais encontrou sintonia com os budistas, com os quais
compartilhou lutas como o flagelo do aborto (legal no país desde 1957 apenas em
caso de estupro ou em caso de perigo para a vida da mãe, mas muitas vezes
praticada ilegal e clandestinamente), ou contra o mercado da “barriga de
aluguel”, alimentado pela pobreza.
Fonte: Vatican News