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sábado, 29 de fevereiro de 2020

O que é abstinência e como se pratica?

Imagem referencial / Foto: Pixabay (Domínio Público)
REDAÇÃO CENTRAL, 29 Fev. 20 / 05:00 am (ACI).- A abstinência é um gesto penitencial no qual os fiéis se privam ou abstêm voluntariamente de comer carne.
Vem da palavra em latim “abstinentia” e, ao realizar este sacrifício, a pessoa faz – em espírito, alma e corpo – um ato de reparação pelo dano ocasionado pelo pecado e para o bem da Igreja.
O Código de Direito Canônico indica que “todos os fiéis, cada qual a seu modo, por lei divina têm obrigação de fazer penitência”, a fim de que “se abneguem a si mesmos”.
“Para que todos se unam entre si em alguma observância comum de penitência, prescrevem-se os dias de penitência em que os fiéis de modo especial se dediquem à oração, exercitem obras de piedade e de caridade”, assinala o cânon 1249.
Por isso, a partir dos 14 até os 59 anos, os católicos devem praticar a abstinência todas as sextas-feiras do ano em honra à Paixão de Cristo, a menos que este dia coincida com uma solenidade, na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa.
No cânon 1253, a Igreja assinala que cada Conferência Episcopal pode determinar os modos de observar o jejum e a abstinência, assim como “substituir outras formas de penitência, sobretudo obras de caridade e exercícios de piedade, no todo ou em parte, pela abstinência ou jejum”.
Em declarações ao Grupo ACI, Donato Jiménez explicou a origem da prática da abstinência.
Disse que, antigamente, preparar uma comida que incluísse carne era caro e considerava-se “suculento”. Por isso, “uma forma de jejuar e uma forma de austeridade era não comer carne”.
Acrescentou que, atualmente, a abstinência implica não só “nos privarmos de carne, mas de outras delícias”, como fast food, doces, lanches e outras opções gastronômicas agradáveis.
Abster-se não é o mesmo que jejuar
O jejum consiste em substituir a refeição forte do dia (o almoço) por pão e água. Os católicos que têm entre 18 e 59 anos são obrigados a praticá-lo na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Se a pessoa tem problemas de saúde, pode ingerir comidas sóbrias.
ACI Digital

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

O Papa: novas tecnologias, um dom de Deus, mas é necessária a “algor-ética”

Congresso sobre inteligência artificial, no Vaticano
Congresso sobre inteligência artificial, no Vaticano
Francisco não recebeu os participantes do congresso por causa de uma “leve indisposição” que, desde quinta-feira (27/02), o levou a mudar sua agenda de compromissos. A mensagem do Pontífice foi lida pelo presidente da Pontifícia Academia para a Vida, dom Vincenzo Paglia.

Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano

“A “galáxia digital” e a “inteligência artificial” estão no centro da mudança de época que estamos vivendo. A inovação digital diz respeito a todos os aspectos da vida seja pessoal seja social.”
É o que afirma o Papa Francisco em sua mensagem aos participantes da plenária da Pontifícia Academia para a Vida, divulgada nesta sexta-feira (28/02), lida pelo presidente do organismo vaticano, dom Vincenzo Paglia.
O Papa não recebeu os participantes por causa de uma “leve indisposição” que, desde quinta-feira (27/02), o levou a mudar sua agenda de compromissos.  De fato, o pontífice não saudou pessoalmente as personalidades presentes esta manhã, no Vaticano, como o presidente do Parlamento europeu, o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), demais autoridades e personalidades do campo da tecnologia informática que participaram do encontro “O bom algoritmo? Inteligência artificial: ética, direito e saúde”.
Segundo o Papa, a inovação digital “incide em nossa maneira de entender o mundo e também a nós mesmos. Está cada vez mais presente nas atividades e decisões humanas, e está mudando o nosso modo de pensar e agir. As decisões, mesmo as mais importantes, como as das áreas médica, econômica ou social, são hoje o resultado da vontade humana e de uma série de contribuições algorítmicas. O ato pessoal chega ao ponto de convergência entre a contribuição propriamente humana e o cálculo automático, de modo que é cada vez mais complexo entender seu objeto, prever seus efeitos, definir suas responsabilidades”.
     
Tecnologias digitais e democracia

“No plano pessoal, a época digital muda a percepção do espaço, tempo e corpo. Infunde um sentido de expansão de si que parece não ter mais limites e a homologação se afirma como critério predominante de agregação: reconhecer e apreciar a diferença se torna cada vez mais difícil. No âmbito socioeconômico, os usuários são reduzidos a consumidores, escravos de interesses privados concentrados nas mãos de poucos”, frisa o Pontífice.
Para Francisco, “dos canais digitais disseminados na internet, os algoritmos extraem dados que permitem controlar hábitos mentais e relacionais, para fins comerciais ou políticos, geralmente sem o nosso conhecimento. Essa assimetria, na qual poucos sabem tudo sobre nós, enquanto nós nada sabemos sobre eles, entorpece o pensamento crítico e o exercício consciente da liberdade".

“As desigualdades se ampliam demasiadamente, o conhecimento e a riqueza se acumulam nas mãos de poucos, com sérios riscos para as sociedades democráticas. Esses perigos não devem esconder o grande potencial que as novas tecnologias nos oferecem. Estamos diante de um dom de Deus, ou seja, um recurso que pode dar frutos para o bem.”
O Papa reconhece que as ciências biológicas se beneficiam da  “inteligência artificial”. “Esse desenvolvimento induz mudanças profundas na maneira de interpretar e gerir os seres vivos e as características da vida humana, que é nosso compromisso proteger e promover, não apenas em sua dimensão biológica constitutiva, mas também em sua qualidade biográfica irredutível.”

Ação educacional mais ampla

 

Francisco afirma na mensagem, “que não basta educar simplesmente ao uso correto das novas tecnologias: não são instrumentos neutros, pois plasmam o mundo e comprometem as consciências no plano dos valores. É necessária uma ação educacional mais ampla e amadurecer motivações fortes a fim de perseverar na busca do bem comum”.  
Segundo o Pontífice, existe uma “dimensão política na produção e uso da inteligência artificial que não é apenas distribuir seus benefícios individuais e abstratamente funcionais. Em outras palavras: não basta simplesmente nos confiar à sensibilidade moral de quem faz pesquisa e projeta dispositivos e algoritmos. É preciso criar órgãos sociais intermediários que representem a sensibilidade ética de usuários e educadores.”

Princípios da Doutrina Social da Igreja

 

“Na busca comum por esses objetivos”, sublinha o Papa, “os princípios da Doutrina Social da Igreja oferecem uma contribuição decisiva: dignidade da pessoa, justiça, subsidiariedade e solidariedade. Expressam seu compromisso de se colocar a serviço de cada pessoa em sua totalidade e de todas as pessoas, sem discriminação ou exclusão. Mas a complexidade do mundo tecnológico exige uma elaboração ética mais articulada, para tornar esse compromisso verdadeiramente incisivo”.
Francisco concluiu o texto, ressaltando que “a “algor-ética”, ética algorítmica, “pode ser uma ponte para garantir que os princípios sejam inscritos nas tecnologias digitais, através de um diálogo transdisciplinar eficaz. Além disso, no encontro entre diferentes visões de mundo, os direitos humanos são um importante ponto de convergência para a busca de um terreno comum”.

Vatican News

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

São Gabriel das Dores, copadroeiro da juventude católica italiana


REDAÇÃO CENTRAL, 27 Fev. 20 / 05:00 am (ACI).- “Jesus, José e Maria, expire em paz, entre vós, a alma”, foram as últimas palavras de São Gabriel de Nossa Senhora das Dores, copadroeiro da juventude católica italiana, cuja festa é celebrada neste dia 27 de fevereiro. Ele abandonou toda uma série de “vaidades” para seguir o conselho da Virgem Maria.

Seu nome original era Francisco, assim como São Francisco de Assis. Inclusive, nasceu em Assis (Itália), em 1838, e foi batizado na mesma pia batismal que São Francisco e Santa Clara. Era o décimo primeiro de treze irmãos e ficou órfão de mãe quando tinha quatro anos.
Desde criança, destacou-se por seu grande amor aos pobres, mas tinha o defeito de explodir rapidamente de raiva. Na adolescência, sua vaidade cresceu. Gostava de se vestir na moda, com roupas elegantes. Ia frequentemente ao teatro, gostava de ler romances e sentia paixão por bailes.
Entretanto, Francisco cumpria fielmente suas práticas religiosas e tinha uma grande devoção pela Virgem Maria, sob a advocação de Nossa Senhora das Dores. Em casa, conservava uma imagem da Pietá que enfeitava com flores.
Era um líder entre os jovens. Frequentou o colégio dos irmãos das Escolas Cristãs e o liceu clássico com os jesuítas. Certo dia, um conhecido lhe fez uma proposta imoral e Francisco puxou um canivete que ocultava entre suas roupas para afastá-lo.
O chamado
Aos 17 anos, a vocação sacerdotal começou a inquietá-lo. Ficou gravemente doente e, acreditando que estava morrendo, prometeu se tornar religioso se sua vida fosse salva. Uma vez recuperado, esqueceu-se de sua promessa. Mais tarde, ficou novamente doente e se encomendou ao então Beato jesuíta (hoje santo) Andrés Bobola.
Quando recuperou a saúde, prometeu igualmente se tornar religioso, mas as diversões o atraiam mais. Em um dia de caça, Francisco tropeçou e disparou um tiro que passou de raspão em seu rosto. Viu nisso um aviso do céu e renovou sua promessa. Tempos depois, comunicou sua inquietação vocacional ao seu pai, que o distraiu com teatro e reuniões.
Um 22 de agosto de 1856, na procissão de “Santa Ícone” (imagem mariana venerada em Spoleto), Francisco fixou seus olhos nos da imagem da Virgem e escutou a voz da Mãe de Deus em seu coração que lhe disse: “Tu não és chamado a seguir no mundo. O que fazes, então, nele? Entra na vida religiosa”.
Mais tarde, despediu-se de sua suposta “noiva” chamada Maria, que esteve presente em sua beatificação, e ingressou no noviciado passionista. Quando recebeu o hábito, adotou o nome “Gabriel de Nossa Senhora das Dores”. “A alegria e o gozo que disfruto dentro dessas paredes são indescritíveis”, escreveu uma vez.
Teve que aprender a controlar seu gênio e, em 1857, emitiu a profissão religiosa. No jardim, São Gabriel tinha reservado um espaço para semear e cuidar das flores especificamente para o altar. Posteriormente foi enviado ao convento passionista de Isola del Gran Sasso.
Aos 23 anos, São Gabriel se sentiu cansado, sem forças e vomitou sangue pela primeira vez, por causa da tuberculose. A comunidade se alarmou, o santo permaneceu sereno, mas piorou.
Em 27 de fevereiro de 1862, pediu a absolvição várias vezes e, com os olhos voltados para o céu, disse: “Pronto, minha Mãe. Maria, Mãe de graça, Mãe de misericórdia, defende-me do inimigo e acolhe-me na hora da morte”. Neste dia, partiu para a Casa do Pai.
ACI Digital

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

O sentido das Cinzas que recebemos no início da Quaresma

Rito da Imposição das Cinza na Basílica de Santa Sabina
Rito da Imposição das Cinza na Basílica de Santa Sabina

Ao impor essa cinza sobre nós, o sacerdote, ou ministro, dirá: “convertei-vos e crede no Evangelho”. Esta é a frase de Jesus, que sintetiza o desejo do Pai Celeste de que voltemos a Ele, nos recorda Padre Paulo de Souza, monge beneditino do Mosteiro de São Geraldo de São Paulo.
Padre Paulo de Souza OSB - Cidade do Vaticano

Quarta-feira de Cinzas

Bem vindos, irmãos e irmãs. Bem vindos à Quaresma. Bem vindos a este tempo de graça, de bênção e da Salvação de Deus. Nosso Pai Celeste está com muita saudade de nós. Ele sente falta de seus filhos amados, assim como todo pai e toda mãe anseiam pela volta dos filhos que estavam distantes. Ouçamos o convite que o próprio Deus nos faz, através do Profeta Joel: “voltai para mim com todo o vosso coração”.
A volta é uma ocasião de alegria, de júbilo e de festa.  Mas o profeta acrescenta que devemos voltar a Deus com jejuns, lágrimas e gemidos. Por quê? Ora, porque estamos distantes d’Ele pelo nosso pecado, pela maldade que cometemos, pelo nosso mundo de erros e de iniquidades. Praticamos o mal, cometemos tantas injustiças, ofendemos a Ele e aos irmãos e irmãs que nos rodeiam.
Nossa volta é o abandono sincero e penitente do desamor ao nosso Pai Celeste, fonte de todo amor e bondade. É a reconciliação para a qual somos chamados, a fim de reatar o pacto de amor e fidelidade com aquele que nos fez por amor, e de quem nos afastamos pela ímpia desobediência. “Ele é benigno e compassivo”, diz o profeta. “É paciente e cheio de misericórdia. É generoso no perdão e na bondade, apesar de nossa indignidade”.
Com certeza seremos bem recebidos, com aquele abraço amoroso e paterno, como nos anunciou seu próprio Filho Jesus, na monumental Parábola do Pai Misericordioso e do Filho Pródigo de Lc 15. Nosso jejum, nossas lágrimas e gemidos são aquela dor, aquele arrependimento e a humildade do filho que voltou. E como esse filho, vamos ao Pai com o coração totalmente despojado das glórias e conquistas deste mundo. Com a cabeça inclinada, diremos a Ele que não somos dignos de ser seus filhos, e merecemos realmente a condição de empregados.

Convertei-vos e crede no Evangelho

Queridos amigos, irmãos e irmãs, este é o sentido das Cinzas que vamos receber. Ao impor essa cinza sobre nós, o sacerdote, ou ministro, dirá: “convertei-vos e crede no Evangelho”. Esta é a frase de Jesus, que sintetiza o desejo do Pai Celeste de que voltemos a Ele.
É uma mensagem de alegria e libertação, o abandono radical de tudo o que é mundano, da hipocrisia e do farisaísmo, da falta de autenticidade que nos faz viver de aparências enganosas, do egoísmo, da luxúria, da soberba e especialmente da falta do amor e da fé. Nossa volta a Deus é o desejo de uma vida totalmente renovada, porque estávamos no lodaçal do pecado e da imundície, como mais uma vez está bem expresso na parábola do Filho Pródigo: estávamos cuidando de porcos e passando fome.
Os animais comiam melhor do que nós. Por isso, ao voltarmos à casa do Pai, nosso impulso fundamental é a penitência, a humildade, o pedido de perdão e o reconhecimento da nossa indignidade. Aliás, ao recebermos as cinzas, a frase alternativa do ministro é: “lembra-te de que és pó, e ao pó voltarás”. É uma mensagem triste e dolorosa, como se não tivéssemos direito a mais nada, a não ser ao castigo, à dor, ao sofrimento e à morte!
Mas é aqui que precisamos voltar ao sentido da festa e da alegria do Pai que nos recebe. Por um lado, voltaremos a ser o pó da terra. Com certeza! Por isso deixamos que se derramem cinzas sobre nós. Por outro lado, a cinza desta Quarta-feira é a cinza da ressurreição.
É necessário que morra e volte ao pó o corpo contaminado pela lepra do pecado, para que, como nos ensina o apóstolo Paulo em 1 Cor 15, o Pai Celeste nos dê um novo corpo, que não mais será sujeito à corrupção deste mundo; será um corpo imortal, totalmente renovado, lavado e purificado no sangue glorioso de Nosso Senhor Jesus. É o sentido profundo deste tempo de Quaresma, que irá desembocar na gloriosa Páscoa.

Redimidos pelo sangue de Jesus

O castigo, a dor, o sofrimento e a morte serão assumidos totalmente por Jesus, que carregará a Cruz que seria destinada a cada um de nós, pecadores. E por este sangue precioso, que mais do que sangue humano é sangue de Deus, o nosso Pai bondoso e Misericordioso nos vestirá com a melhor roupa de sua casa, fará a festa e nos devolverá a dignidade de filhos.
Aqui está o feliz desfecho da parábola do Filho Pródigo: na cinza que éramos, quando estávamos longe da casa do Pai pelo pecado, será derramado o sangue do nosso Redentor. E este Cristo que sofre a morte por nós, vencerá a morte pela ressurreição; e pelo desmedido amor que Deus tem para conosco, desta Ressurreição todos participaremos felizes no Reino dos Céus.
Assim, a Páscoa de Cristo não será somente sua, mas de todos os que Ele faz voltar para Deus. Com Jesus, todos seremos filhos pródigos.
Iniciemos, portanto, nossa preparação para a Páscoa de Jesus, deixando-nos reconciliar com Deus, como pede São Paulo. Este é o tempo favorável. Este é o dia da Salvação. Como o Filho Pródigo, voltemos ao Pai na humildade, na contrição do coração, na força do amor e da fé.
É o que Jesus nos pede no Evangelho. Joguemos fora e libertemo-nos das falsas aparências, da vaidade, da arrogância, da soberba e de todos os males. Esqueçamos as recompensas e os louvores do mundo, que se transformam na podridão e na condição daquele pobre filho, que estava cuidando de porcos; e de tanta fome que tinha, desejava comer a comida dos porcos.
E quantas vezes nós alimentamos nossa mente e o coração com o lixo, com o vitupério da iniquidade e - desculpem a vulgaridade da expressão -, com as porcarias deste mundo! Ao voltarmos à casa do Pai pelo jejum, pela esmola, pela humildade, pela caridade, pela oração, teremos a verdadeira recompensa, que nos proporcionará a verdadeira alegria do Reino dos Céus, que durará para sempre. 

Tenhamos todos uma santa preparação para a Páscoa de Jesus, que é também a nossa Páscoa. Louvado seja Ele, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vatican News
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Quarta-feira de Cinzas, a Igreja Católica começa a Quaresma

REDAÇÃO CENTRAL, 26 Fev. 20 / 05:00 am (ACI).- A Igreja Católica inicia hoje, com a Quarta-feira de Cinzas, o tempo litúrgico da Quaresma no qual, durante 40 dias e através da vivência do jejum, da oração e da esmola, os fiéis se preparam para a Semana Santa em que se atualizam os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.

Neste tempo, os fiéis estão chamados à conversão pessoal, exortação que durante a imposição das Cinzas o celebrante expressa com as palavras: “Convertei-vos e crede no Evangelho”.
Do mesmo modo, com a expressão “Lembra-te de que és pó e ao pó voltarás”, recorda-se a fragilidade da vida humana e que a morte é um destino inevitável.
Na Roma antiga, os fiéis começavam com uma penitência pública o primeiro dia de Quaresma no qual eram salpicados com cinzas. Atualmente os fiéis são marcados com uma cruz na testa com as cinzas obtidas ao queimar as palmas usadas no domingo de Ramos do ano anterior.
Em sua mensagem para a Quaresma deste ano, intitulada “A criação encontra-se em expectativa ansiosa, aguardando a revelação dos filhos de Deus” (Rm 8, 19), o Papa Francisco fez um chamado à conversão, mediante o jejum, a oração e a esmola
“Que a nossa Quaresma seja percorrer o mesmo caminho, para levar a esperança de Cristo também à criação, que ‘será libertada da escravidão da corrupção, para alcançar a liberdade na glória dos filhos de Deus’. Não deixemos que passe em vão este tempo favorável! Peçamos a Deus que nos ajude a realizar um caminho de verdadeira conversão. Abandonemos o egoísmo, o olhar fixo em nós mesmos, e voltemo-nos para a Páscoa de Jesus; façamo-nos próximo dos irmãos e irmãs em dificuldade, partilhando com eles os nossos bens espirituais e materiais”, afirmou.
ACI Digital

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Papa: Quaresma é graça, não deixar passar este tempo em vão

Papa propõe diálogo "coração a coração" com o Senhor
Papa propõe diálogo "coração a coração" com o Senhor
Em sua mensagem, o Papa Francisco recordou a convocação para esta Quaresma de jovens economistas em Assis, de 26 a 28 de março, como um passo no processo de "conversão" da economia.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

Um diálogo coração a coração, de amigo a amigo com Jesus: é o que propõe o Papa Francisco na sua mensagem para a Quaresma 2020.
O título escolhido foi inspirado na 2ª carta de São Paulo aos Coríntios: “Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5, 20).
Neste tempo quaresmal, o Pontífice estende a todos os cristãos o que escreveu aos jovens na Exortação apostólica Christus vivit: fixar os braços abertos de Cristo crucificado e deixar-se salvar sempre de novo. “A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em tantas pessoas que sofrem.”

Face a face com o Senhor

Francisco insiste numa contemplação mais profunda do Mistério pascal, recordando que a experiência da misericórdia só é possível “face a face” com o Senhor crucificado e ressuscitado.
“Um diálogo coração a coração, de amigo a amigo. Por isso mesmo, é tão importante a oração no tempo quaresmal. Antes de ser um dever, esta expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta.”
De fato, prossegue o Papa, o cristão reza ciente da sua indignidade de ser amado. A oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de cada um de nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à vontade.
Quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós. O convite do Pontífice, portanto, é não deixar passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele.

Não interromper o diálogo com o Senhor


Esta nova oportunidade, prossegue Francisco, deve suscitar em nós um sentido de gratidão e sacudir-nos do torpor em que nos encontramos, às vezes estimulados por um “uso pervertido” dos meios de comunicação
“Não obstante a presença do mal, por vezes até dramática, tanto na nossa existência como na vida da Igreja e do mundo, este período que nos é oferecido para uma mudança de rumo manifesta a vontade tenaz de Deus de não interromper o diálogo de salvação conosco.”
Colocar o Mistério pascal no centro da vida, acrescenta o Papa, significa sentir compaixão pelas chagas de Cristo crucificado presentes nas inúmeras “vítimas inocentes das guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria”.

Encontro de Assis


Para reverter este cenário, Francisco chama em causa a partilha na caridade e uma nova maneira de gerir a economia, mais justa e inclusiva, recordando a convocação para esta Quaresma de jovens economistas em Assis, de 26 a 28 de março. O magistério da Igreja nos lembra que a política é uma forma eminente de caridade.
O Papa então conclui:
“Invoco a intercessão de Maria Santíssima sobre a próxima Quaresma, para que acolhamos o apelo a deixar-nos reconciliar com Deus, fixemos o olhar do coração no Mistério pascal e nos convertamos a um diálogo aberto e sincero com Deus. Assim, poderemos tornar-nos aquilo que Cristo diz dos seus discípulos: sal da terra e luz do mundo.”

Vatican News

5 coisas que deve saber sobre a Quaresma

REDAÇÃO CENTRAL, 25 Fev. 20 / 07:00 am (ACI).- A Quaresma é um tempo litúrgico em que por 40 dias a Igreja chama os fiéis à penitência e à conversão, para se preparar verdadeiramente para viver os mistérios da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo na Semana Santa.
Aqui estão cinco pontos que todo católico deve saber sobre a Quaresma:
1. Oração, mortificação e caridade: as três práticas quaresmais
A oração é uma condição indispensável para o encontro com Deus. Na oração, o cristão entra em diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça entre em seu coração e, como Maria, abre-se para a oração do Espírito cooperando com ela em sua resposta livre e generosa (ver Lc 1,38).
A mortificação se realiza cotidianamente e sem a necessidade de fazer grandes sacrifícios. Com ela, são oferecidos a Cristo aqueles momentos que geram desânimo no transcorrer do dia e se aceita com humildade, gozo e alegria, todas as diversidades que chegam.
Da mesma forma, saber renunciar a certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e desprendimento. Dentro dessa prática quaresmal, estão o jejum e a abstinência que serão explicados mais adiante.
A caridade é necessária como refere São Leão Magno: “Se desejamos chegar à Páscoa santificados em nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo na aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de pecados”.
Sobre esta prática, São João Paulo II explica que este chamado a dar “está enraizado no mais profundo do coração humano: toda pessoa sente o desejo de colocar-se em contato com os outros e se realiza plenamente quando se dá livremente aos demais”.
2. O jejum e a abstinência
O jejum consiste em fazer uma refeição forte por dia, enquanto a abstinência consiste em não comer carne. Com ambos os sacrifícios, reconhecemos a necessidade de fazer obras para reparar o dano causado por nossos pecados e para o bem da Igreja.
Além disso, de forma voluntária, deixam-se de lado necessidades terrenas e se redescobre a necessidade da vida do céu. “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4,4).
O jejum não proíbe de tomar um pouco de alimento na parte da manhã e à noite. É obrigatório dos 18 aos 59 anos.
Por outro lado, a abstinência, embora proíba o consumo de carne, não é o caso de ovos, leite e qualquer condimento feito a partir de gorduras animais. O jejum é obrigatório a partir de 14 anos de idade.
3. A Quaresma começa com a Quarta-feira de Cinzas e termina na Quinta-feira Santa
Na Quarta-feira de Cinzas começam os 40 dias de preparação para a Páscoa. Após a Missa, o sacerdote abençoa e impõe as cinzas feitas de ramos de oliveira abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estas são impostas fazendo o sinal da cruz na testa e dizendo as palavras bíblicas: “Lembra-te que és pó e ao pó retornarás” ou “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Desta forma, a cinza é um sinal de humildade e recorda ao cristão sua origem e seu fim.
A Quaresma termina na Quinta-feira Santa. Nesse dia, a Igreja recorda a Última Ceia do Senhor, quando Jesus de Nazaré compartilhou a refeição pela última vez com seus apóstolos antes de ser crucificado na Sexta-feira Santa.
4. A duração da Quaresma está baseada na simbologia do número 40 na Bíblia
Os 40 dias da Quaresma representam o mesmo número de dias que Jesus passou no deserto antes de começar sua vida pública, os quarenta dias do dilúvio, os quarenta dias da marcha do povo judeu pelo deserto, os quarenta dias de Moisés e Elias na montanha e os 400 anos que durou a estadia dos judeus no Egito.
Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provas e dificuldades.
5. Na Quaresma, a cor litúrgica é o roxo
A cor litúrgica deste tempo é o roxo, que significa luto e penitência. É um tempo de reflexão, penitência, conversão espiritual; tempo para preparar o mistério pascal.
ACI Digital

Santos mártires salesianos assassinados na China

REDAÇÃO CENTRAL, 25 Fev. 20 / 05:00 am (ACI).- Neste dia 25 de fevereiro, é celebrada a festa dos Santos Luís Versiglia e Calisto Caravario, mártires salesianos assassinados por comunistas na China. Eles defenderam a honra e a dignidade de três jovens que escaparam de ser violadas e escravizadas.

“O missionário que reza muito alcança muito”, costumava dizer o Bispo São Versiglia, enquanto o presbítero São Caravario, dias antes de morrer, escreveu à sua mãe: “Passará a vida e acabarão as dores: no Paraíso seremos felizes. Nada te perturbe, minha boa mãe; se levas tua cruz na companhia de Jesus, será muito mais leve e agradável...”,
Luís Versiglia nasceu na Itália em 1873. Aos 12 anos ficou fascinado por Dom Bosco. Depois da morte do santo, decidiu se tornar salesiano para sair em missão.
Em 1895, foi ordenado sacerdote. Foi nomeado diretor de noviços em Roma pelo Beato Miguel Rua e, posteriormente, liderou um grupo de salesianos que chegaram à China em 1906. Instalaram-se com uma obra em Macau e com uma frente missionária em Heungchow.
São Luís Versiglia abriu orfanatos e oratórios salesianos e, em 1921, foi consagrado Bispo do Vicariato Apostólico de Shiuchow. Sob seu impulso, multiplicaram-se as casas missionárias, institutos, asilos, orfanatos e teve início o seminário de nativos.
São Calisto Caravario, por sua vez, nasceu em Turim (Itália), em 1903. Quando o jovem salesiano se encontrou com Luís Versiglia em 1921, disse-lhe: “Encontrarei vocês na China”. Anos depois, cumpriu sua promessa, recebendo a ordenação sacerdotal das mãos do Bispo São Versiglia. Em seguida, foi enviado à missão de Lin-chow.
Nessa época, a situação política na China havia se tornado tensa, especialmente contra os cristãos e os missionários estrangeiros. Até as Igrejas eram incendiadas. Dessa forma, começaram as perseguições.
O Bispo Versiglia realizou uma visita pastoral a Lin-Chow e o Pe. Caravario saiu para recebê-lo no caminho.
Em 25 de fevereiro, os dois celebraram a Missa em Ling Kong-how e, em seguida, pegaram uma barca junto com dois professores e três jovens da missão (Maria, de 21 anos, Paula, de 16, e Clara, de 22). Na viagem, juntaram-se a eles uma catequista idosa e um menino.
Um grupo de piratas comunistas mandou que parassem a barca e, com fuzis e pistolas, pediram que os missionários pagassem 500 dólares para que pudessem passar. O Bispo disse a Caravario: “Diga-lhes que somos missionários e, portanto, não levamos dinheiro conosco”.
Os bandidos revistaram a barca, encontraram as meninas, que se escondiam rezando, e gritaram que iriam levá-las. Queriam violá-las e escravizá-las.
Os santos tentaram detê-los e foram muito agredidos. Os dois acabaram ensanguentados e presos com as jovens. Os piratas ordenaram aos outros que estavam na barca que regressassem para Lin-Kong-How, os quais alertaram as autoridades.
Sobre os missionários, a jovem Maria testemunhou: “Vi dom Caravario, com a cabeça inclinada, falava em voz baixa com o Bispo”. Estavam se confessando mutuamente. “O Bispo e dom Caravario nos olhavam, mostravam-nos o céu com os olhos e rezavam. Seu aspecto era amável e sorridente e rezavam em voz alta”.
Enquanto as meninas era transladadas, ouviram-se cinco disparos. Mais adiante, os bandidos comentavam: “Todos têm medo da morte. Pelo contrário, esses dois morreram felizes”.
Dias depois, os soldados regulares chegaram ao esconderijo dos bandidos, os quais fugiram abandonando as jovens. Em seguida, elas, de joelhos, rezaram diante dos corpos dos dois santos, que tinham dado sua vida para defendê-las.
São João Bosco sempre teve o desejo de ser missionário e, em um de seus sonhos, viu um cálice cheio de sangue que fervia e se derramava. Assim, compreendeu que os salesianos também teriam mártires. Por isso, São Versiglia e São Caravario, primeiros mártires salesianos, são representados com um cálice que derrama sangue.
São Paulo VI os declarou mártires em 1976. Foram beatificados em 1983 e canonizados em 2000, por São João Paulo II.
ACI Digital

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Bispos ucranianos exortam os alemães a serem fiéis às Escrituras e à Tradição

A Comissão Episcopal para a Família da Conferência Episcopal da Ucrânia enviou uma carta de correção fraterna aos bispos que participam da Assembléia Sinodal da Igreja na Alemanha. A carta pede aos bispos alemães que se mantenham fiéis à Sagrada Escritura e à Tradição da Igreja e lhes adverte que suas posições prejudicam a fé dos fiéis na Ucrânia. 

Tradução: FratresInUnum.com –  Os bispos da Igreja na Ucrânia asseguram em sua carta que há uma profunda crise na Igreja do país “de nossos vizinhos ocidentais” e enfatizam que a postura dos bispos alemães sobre alguns temas é uma ameaça aos fiéis na Ucrânia.
Entre os temas está a questão da homossexualidade na doutrina da Igreja e também sua atitude para com a ideologia LGBT e a lei natural. O documento tem a forma de uma correctio fraterna”.
Os prelados ucranianos são contundentes em sua advertência aos alemães:
« Os grupos LGBT estão realizando um ataque ideológico massivo contra nossos jovens e crianças para corrompê-los moralmente. Igualmente, as organizações mencionadas justificam suas atividades e sua propaganda apoiando-se na nova perspectiva do episcopado alemão. Dói-nos ver como a propaganda LGBT invoca vossas próprias palavras para lutar contra o cristianismo e também contra todos os que reconhecem a verdadeira antropologia baseada na Bíblia e na lei natural»
E acrescentam:
« Alguns de nossos fiéis, que carregam o fardo da homossexualidade e outras ferias na esfera sexual, ao tomar conhecimento de tais declarações de sua Assembléia, sentem-se importantes em sua luta para levar uma vida casta…
Os matrimônios que lutam contra a mentalidade contraceptiva deste mundo e se abrem ao dom da vida, experimentam profundas dúvidas depois de ler suas opiniões sobre a contracepção».
Em sua carta, os bispos ucranianos também mencionam que os fiéis da Igreja Católica na Ucrânia são acusados por cristãos de outras denominações (ndr: ortodoxos e protestantes) de que a Igreja Católica se está distanciando da verdade revelada. Os bispos ucranianos advertem que a razão de tais acusações é a posição dos hierarcas alemães.
« Eles veem vossa postura não como vosso próprio ensinamento privado, ou, inclusive, como um caminho apartado da Igreja na Alemanha, mas como a postura de toda a Igreja Católica.»
Entre os signatários da carta está Dom Radoslav Zmitrovich, bispo de Kamenets-Podolskiy, que ressaltou que a Igreja tem um ensinamento claro sobre os temas sexuais. Tais ensinamentos são a melhor resposta aos desafios dos tempos modernos, e não a concessão às propostas LGBT e à revolução sexual. Em declarações a PCh24, ele afirmou:
« A Assembléia sinodal alemã propõe uma direção oposta, que destrói as vidas humanas. Ela os fecha ao amor trazido por Jesus Cristo. Sem este amor, o homem não pode ser feliz. Certamente, sempre há dificuldades e quedas, mas a direção é importante. É importante se seguimos o caminhjo que leva as pessoas a viverem a sexuailidade como um dom maravilhoso para um homem e uma mulher, a fim de criar uma relação ágape-caritas, que também é um Sacramento, uma comunhão de pessoas e o presente de uma nova vida. Do contrário, estamos seguindo um caminho de vida no qual o homem está sujeito ao poder de Eros, o que significa que vive sem Cristo, somente sob o poder de seu próprio ego e de sua própria paixão.»
Bíblia Católica News

Papa Francisco convoca os fiéis à partilha e à oração

Papa Francisco. Foto: Daniel Ibañez/ACI Prensa
Vaticano, 24 Fev. 20 / 07:43 am (ACI).- Nesta segunda-feira, 24, o Papa Francisco publicou como de costume sua Mensagem pela Quaresma e exortou os fiéis que neste ano vivam com intensidade a generosidade e a partilha dos bens com os necessitados, vítimas de desastres naturais, idosos e enfermos e abracem o caminho da conversão.
A seguir, na íntegra, a mensagem do Santo Padre:
«Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus» (2 Cor 5, 20)
Queridos irmãos e irmãs!
O Senhor concede-nos, também neste ano, um tempo propício para nos prepararmos para celebrar, de coração renovado, o grande Mistério da morte e ressurreição de Jesus, cerne da vida cristã pessoal e comunitária. Com a mente e o coração, devemos voltar continuamente a este Mistério. Com efeito, o mesmo não cessa de crescer em nós na medida em que nos deixarmos envolver pelo seu dinamismo espiritual e aderirmos a ele com uma resposta livre e generosa.
1. O Mistério pascal, fundamento da conversão
A alegria do cristão brota da escuta e receção da Boa Nova da morte e ressurreição de Jesus: o kerygma. Este compendia o Mistério dum amor «tão real, tão verdadeiro, tão concreto, que nos proporciona uma relação cheia de diálogo sincero e fecundo» (Francisco, Exort. ap. Christus vivit, 117). Quem crê neste anúncio rejeita a mentira de que a nossa vida teria origem em nós mesmos, quando na realidade nasce do amor de Deus Pai, da sua vontade de dar vida em abundância (cf. Jo 10, 10). Se, pelo contrário, se presta ouvidos à voz persuasora do «pai da mentira» (Jo 8, 44), corre-se o risco de precipitar no abismo do absurdo, experimentando o inferno já aqui na terra, como infelizmente dão testemunho muitos acontecimentos dramáticos da experiência humana pessoal e coletiva.
Por isso, nesta Quaresma de 2020, quero estender a todos os cristãos o mesmo que escrevi aos jovens na Exortação apostólica Christus vivit: «Fixa os braços abertos de Cristo crucificado, deixa-te salvar sempre de novo. E quando te aproximares para confessar os teus pecados, crê firmemente na sua misericórdia que te liberta de toda a culpa. Contempla o seu sangue derramado pelo grande amor que te tem e deixa-te purificar por ele. Assim, poderás renascer sempre de novo» (n. 123). A Páscoa de Jesus não é um acontecimento do passado: pela força do Espírito Santo é sempre atual e permite-nos contemplar e tocar com fé a carne de Cristo em tantas passoas que sofrem.
2. Urgência da conversão
É salutar uma contemplação mais profunda do Mistério pascal, em virtude do qual nos foi concedida a misericórdia de Deus. Com efeito, a experiência da misericórdia só é possível «face a face» com o Senhor crucificado e ressuscitado, «que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim» (Gl 2, 20). Um diálogo coração a coração, de amigo a amigo. Por isso mesmo, é tão importante a oração no tempo quaresmal. Antes de ser um dever, esta expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta. De facto, o cristão reza ciente da sua indignidade de ser amado. A oração poderá assumir formas diferentes, mas o que conta verdadeiramente aos olhos de Deus é que ela escave dentro de nós, chegando a romper a dureza do nosso coração, para o converter cada vez mais a Ele e à sua vontade.
Por isso, neste tempo favorável, deixemo-nos conduzir como Israel ao deserto (cf. Os 2, 16), para podermos finalmente ouvir a voz do nosso Esposo, deixando-a ressoar em nós com maior profundidade e disponibilidade. Quanto mais nos deixarmos envolver pela sua Palavra, tanto mais conseguiremos experimentar a sua misericórdia gratuita por nós. Portanto não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele.
3. A vontade apaixonada que Deus tem de dialogar com os seus filhos
O facto de o Senhor nos proporcionar uma vez mais um tempo favorável para a nossa conversão, não devemos jamais dá-lo como garantido. Esta nova oportunidade deveria suscitar em nós um sentido de gratidão e sacudir-nos do nosso torpor. Não obstante a presença do mal, por vezes até dramática, tanto na nossa existência como na vida da Igreja e do mundo, este período que nos é oferecido para uma mudança de rumo manifesta a vontade tenaz de Deus de não interromper o diálogo de salvação connosco. Em Jesus crucificado, que Deus «fez pecado por nós» (2 Cor 5, 21), esta vontade chegou ao ponto de fazer recair sobre o seu Filho todos os nossos pecados, como se houvesse – segundo o Papa Bento XVI – um «virar-se de Deus contra Si próprio» (Enc. Deus caritas est, 12). De facto, Deus ama também os seus inimigos (cf. Mt 5, 43-48).
O diálogo que Deus quer estabelecer com cada homem, por meio do Mistério pascal do seu Filho, não é como o diálogo atribuído aos habitantes de Atenas, que «não passavam o tempo noutra coisa senão a dizer ou a escutar as últimas novidades» (At 17, 21). Este tipo de conversa, ditado por uma curiosidade vazia e superficial, carateriza a mundanidade de todos os tempos e, hoje em dia, pode insinuar-se também num uso pervertido dos meios de comunicação.
4. Uma riqueza que deve ser partilhada, e não acumulada só para si mesmo
Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas chagas de Cristo crucificado presentes nas inúmeras vítimas inocentes das guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria.
Também hoje é importante chamar os homens e mulheres de boa vontade à partilha dos seus bens com os mais necessitados através da esmola, como forma de participação pessoal na edificação dum mundo mais justo. A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia. Por este motivo, na Quaresma de 2020 – mais concretamente, de 26 a 28 de março –, convoquei para Assis jovens economistas, empreendedores e transformativos, com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual. Como várias vezes se referiu no magistério da Igreja, a política é uma forma eminente de caridade (cf. Pio XI, Discurso à FUCI, 18/XII/1927). E sê-lo-á igualmente ocupar-se da economia com o mesmo espírito evangélico, que é o espírito das Bem-aventuranças.
Invoco a intercessão de Maria Santíssima sobre a próxima Quaresma, para que acolhamos o apelo a deixar-nos reconciliar com Deus, fixemos o olhar do coração no Mistério pascal e nos convertamos a um diálogo aberto e sincero com Deus. Assim, poderemos tornar-nos aquilo que Cristo diz dos seus discípulos: sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5, 13.14).
FRANCISCUS
Roma, em São João de Latrão, 7 de outubro de 2019,
Memória de Nossa Senhora do Rosário.
ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF