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terça-feira, 12 de maio de 2020

Quarta Catequese Mistagógica

Quarta Catequese Mistagógica sobre o Corpo e Sangue de Cristo e leitura da primeira epistola aos Coríntios: «Porque eu recebi do Senhor o que vos transmiti» etc.
1 Este ensinamento do bem-aventurado Paulo foi estabelecido como suficiente para vos assegurar acerca dos divinos mistérios, dos quais tendo sido julgados dignos, vos tornastes concorpóreos e consangüíneos com Cristo. O próprio Paulo proclama precisa-mente: «Na noite em que foi entregue, Nosso Senhor Jesus Cristo, tomando o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e o deu a seus discípulos, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E tomando o cálice e tendo dado graças, disse: Tomai, bebei, isto é o meu sangue».
2 Se ele em pessoa declarou e disse do pão: «Isto é o meu corpo», quem se atreveria a duvidar doravante? E quando ele afirma categoricamente e diz: «Isto é o meu sangue», quem duvidaria dizendo não ser seu sangue? Outrora, em Caná da Galiléia, por própria autoridade, transformou a água em vinho. Não será digno de fé quando transforma o vinho em sangue? Convidado às bodas corporais, realizou, este milagre maravilhoso. Aos companheiros do esposo não se concederá, com muito mais razão, a alegria de desfrutar do seu corpo e sangue?
Presença real de Cristo
3 Portanto, com toda certeza recebemo-los como corpo e sangue de Cristo. Em forma de pão te é dado o corpo, e em forma de vinho o sangue, para que te tornes, tomando o corpo e o sangue de Cristo, concorpóreo e consangüíneo com Cristo. Assim nos tornamos portadores de Cristo (cristóforos), sendo nossos membros penetrados por seu corpo e sangue. Desse modo, como diz o bem-aventurado Pedro, «tornamo-nos participes da natureza divina».
4 Falando, outrora, aos judeus Cristo dizia: «Se não comerdes minha carne e não beberdes meu sangue, não tereis a vida em vós». Como não entendessem espiritualmente o que era dito, escandalizados, se retiraram, imaginando que o Salvador os incitava a comer carne humana.
5 Também no Antigo Testamento havia pães de proposição. Mas esses pães, por pertencerem à antiga aliança, tiveram fim. Na nova aliança o pão celeste e o cálice de salvação santificam a alma e o corpo. Pois, como o pão se adequa ao corpo, assim o Verbo se harmoniza com a alma.
6 Não consideres, portanto, o pão e o vinho como simples elementos. São, conforme a afirmação do Mestre, corpo e sangue. Se os sentidos isto te sugerem, a fé te confirma. Não julgues o que se propõe segundo o gosto, mas pela fé tem firme certeza de que foste julgado digno do corpo e sangue de Cristo.
Prefigurações escriturísticas
7 O bem-aventurado Davi te anuncia a força [deste mistério] dizendo: «Preparaste para mim a mesa à vista de meus inimigos». Com isso ele quer dizer: Antes de tua vinda os demônios preparavam para os homens uma mesa contaminada e manchada, cheia de poder diabólico. Mas depois de tua vinda, ó Senhor, tu preparaste diante de mim uma mesa. Quando o homem diz a Deus: «Tu preparaste diante de mim uma mesa» , que outra coisa quer ele insinuar, senão a mística e espiritual mesa, que Deus nos preparou em oposição ao adversário, isto é, em oposição ao demônio? Sim, é isso mesmo. Pois a primeira mesa tinha comunhão com os demônios, essa, ao contrário, comunhão com Deus. «Ungiste de óleo minha cabeça». Com o óleo te ungiu a cabeça, sobre a fronte, pelo sinal que tens de Deus, a fim de que te tornes assinalado santo de Deus. «E teu cálice inebria-me como o melhor». Vês aqui mencionado o cálice que Jesus tomou em suas mãos e sobre o qual rendeu graças dizendo: «Este é o meu sangue, que é derramado por todos, em remissão dos pecados».
8 Por isso também Salomão, aludindo a essa graça, disse: «Vem, come teu pão na alegria», o pão espiritual. «Vem» designa o apelo salutar e que faz bem-aventurado. «E bebe, de bom coração, teu vinho», o vinho espiritual. «Derrama o óleo sobre tua cabeça (vês aqui mais uma alusão à unção mística?) Traja sempre vestes brancas, já que Deus sempre favorece as tuas obras». Pois agora Deus se agradou de tuas obras. Antes de te aproximares da graça eram tuas obras «vaidade das vaidades». Todavia agora, tendo despido as velhas vestes e revestido espiritualmente a veste branca, é necessário estar sempre vestido de branco. Não dizemos isso absolutamente porque é preciso estar trajado de branco, mas porque deves, em realidade, revestir a veste branca, brilhante e espiritual, a fim de dizeres com o bem-aventurado Isaías: «Com grande alegria me rejubilei no Senhor, porque me fez revestir a vestimenta da salvação e me cobriu com a túnica da alegria».
9 Tendo aprendido e estando seguro de que o que parece pão não é pão, ainda que pareça pelo gosto, mas o corpo de Cristo, e o que parece vinho não é vinho, mesmo que o gosto o queira, mas o sangue de Cristo ? e porque sobre isto dizia vibrando Davi: «O pão fortalece o coração do homem, para que no óleo se regozije o semblante» ? fortalece o teu coração, tomando este pão como espiritual e regozije-se o semblante de tua alma. Oxalá, tendo a face descoberta, em consciência pura, contempleis a glória do Senhor, para ir de glória em glória, em Cristo Jesus Senhor Nosso, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Veritatis Splendor

Terceira Catequese Mistagógica

Terceira Catequese Mistagógica sobre a Crisma e leitura da primeira epístola de São João, a começar com: «Vós tendes a unção de Deus e conheceis todas as coisas» até: «e por Ele não sejamos confundidos na sua vinda».
Significação espiritual
1 Batizados em Cristo e dele revestidos, vos tornastes conformes ao Filho de Deus. Em verdade, Deus, predestinando-nos à adoção de filhos, nos fez conformes ao corpo glorioso de Cristo.Feitos, pois, participes de Cristo, não sem razão, sois chamados cristos e é de vós que Deus disse: «Não toqueis os meus cristos». Ora, vós vos tornastes cristos, recebendo o sinal do Espírito Santo, e tudo se cumpriu em vós em imagem, pois sois imagens de Cristo. Ele, quando banhado no rio Jordão e comunicando às águas a força da Divindade, delas saiu e se produziu sobre ele a vinda substancial do Espírito Santo, pousando igual sobre igual. Também a vós, ao sairdes das águas sagradas da piscina, se concede a unção, figura daquela com que Cristo foi ungido. Refiro-me ao Espírito Santo, do qual o bem-aventurado Isaías, na profecia a respeito dele, disse, na pessoa do Senhor: «O Espírito do Senhor [repousa] sobre mim, pelo que me ungiu; enviou-me para levar a boa-nova aos pobres».
2 Na verdade, Cristo não foi ungido com óleo ou ungüento material por um homem. Mas foi o Pai que, estabelecendo-o com antecedência como Salvador de todo o universo, o ungiu com o Espírito Santo, conforme diz Pedro: «Jesus de Nazaré, a quem Deus ungiu com o Espírito Santo». E o profeta Davi exclamou: «Teu trono, ó Deus, é para os séculos dos séculos; cetro de retidão, o cetro de tua realeza. Amaste a justiça e por isso te ungiu Deus, teu Deus, com o óleo da alegria, mais que teus companheiros». E como Cristo foi verdadeiramente crucificado e sepultado e ressuscitou, e vós, pelo batismo, fostes, por semelhança, tidos por dignos de com ele ser crucificados, sepultados e ressuscita-dos, assim também na unção do crisma. Ele foi ungido com o óleo espiritual da alegria, isto é, com o Espírito Santo, chamado óleo de alegria, por ser causa da alegria espiritual. Vós fostes ungidos com o óleo, feitos, partícipes e companheiros de Cristo.
3 Vê, porem, que não imagines ser um simples ungüento. Pois, como o pão da Eucaristia, depois de epiclese do Espírito Santo, já não é simples pão, mas o corpo de Cristo, assim também este santo ungüento, com a epiclese, já não é puro e simples ungüento, mas é dom de Cristo e obra do Espírito Santo, pela presença de sua divindade. Com ele se unge simbolicamente tua fronte e os outros sentidos. Se, por um lado, o corpo é ungido com o ungüento sensível, por outro, a alma é santificada pelo santo e vivificado Espírito.
O rito da unção
 4 E primeiro sois ungidos na fronte para serdes libertados da vergonha que o primeiro homem transgressor levou por toda parte e para que, de face descoberta, contempleis a glória do Senhor. Depois nos ouvidos, para terdes ouvidos conforme disse Isaías: «E o Senhor me deu um ouvido para ouvir» e o Senhor no Evangelho: «Quem tem ouvidos para ouvir que ouça». Em seguida nas narinas, para que, ao receberdes este divino ungüento, possais dizer: «Somos para Deus, entre os que se salvam, o bom odor de Cristo». Depois no peito, a fim de que, «tendo revestido a couraça da justiça, resistais aos artifícios do diabo». Como na verdade o Salvador, após seu batismo e a descida do Espírito Santo, saiu a combater o adversário, assim também vós, depois do santo batismo e da mística unção, revestidos da armadura do Espírito Santo, resistis à força inimiga e a venceis dizendo: «Tudo posso naquele que me conforta, Cristo».
5 Feitos dignos desta santa unção, sois chamados cristãos. Assim, pela regeneração, mostra ser de direito o nome [de cristãos]. Antes, pois, de serdes declarados dignos do batismo e da graça do Espírito Santo, não éreis dignos deste nome, mas estáveis a caminho de serdes cristãos.
Prefigurações escriturísticas
6 É necessário que saibais que há ó símbolo desta unção na Escritura Antiga. E na verdade, quando Moisés comunicou ao irmão a ordem de Deus e o estabeleceu sumo sacerdote, depois de lavar-se com água, o ungiu e foi ele chamado Cristo, em virtude, evidentemente, da unção figurativa. Do mesmo modo, o sumo sacerdote, ao elevar Salomão à dignidade de rei, o ungiu, depois de lavar-se no Gion. Mas essas coisas lhes aconteceram em figura. A vós, porém, não em figura, mas, em verdade. Isso, já que o começo de vossa salvação remonta àquele que foi ungido pelo Espírito Santo. Cristo é realmente as primícias, e vós sois a massa: mas se as primícias são santas, é evidente que a santidade também passa à massa.
7 Guardai imaculada esta unção: ensinar-vos-á todas as coisas, se permanecer em vós, como ouvistes há pouco dizer o bem-aventurado João, explicando muitas coisas sobre a unção. Esta unção é a salvaguarda espiritual do corpo e a salvação da alma. Foi isto que desde tempos antigos o santo Isaías profetizou, dizendo: «E preparará o Senhor para todos os povos nesta montanha». Por montanha ele designa a Igreja, como outras vezes quando diz: «E nos últimos dias será visível a montanha do Senhor»; «Beberão vinho, beberão a alegria, serão ungidos de ungüento». E para que mais te assegures, ouve o que diz sobre este ungüento em sentido místico: «Transmite tudo isso às nações, pois o desígnio do Senhor se estende sobre todos os povos». Assim, pois, ungidos com este santo crisma, guardai-o sem mancha e irrepreensível em vós, progredindo em boas obras e tornando-vos agradáveis ao autor de nossa salvação, Cristo Jesus, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Traduzido por fr. Frederico Vier, O.F.M.
Veritatis Splendor

Segunda Catequese Mistagógica

Segunda Catequese Mistagógica sobre o Batismo e leitura da epistola aos romanos: «Ou ignorais que todos nós que fomos batizados para Cristo Jesus fomos batizados para [participar da] sua morte?» até: «Pois que não estais sob a lei, mas sim sob a graça».
1 Úteis vos são as cotidianas mistagogias e os novos ensinamentos que vos anunciam novas realidades, e isto tanto mais a vós que fostes renovados da vetustez para a novidade. Por isso é necessário que vos proponha o que se segue à instrução mistagógica de ontem, a fim de que compreendais a significação simbólica do que foi realizado por vós no interior do edifício.
Despojamento dos vestidos
2 Logo que entrastes, despistes a túnica. E isto era imagem do despojamento do velho homem com suas obras. Despidos, estáveis nus, imitando também nisso a Cristo nu sobre a cruz. Por sua nudez despojou os principados e as potestades e no lenho triunfou corajosamente sobre eles. As forças inimigas habitavam em vossos membros. Agora já não vos é permitido trazer aquela velha túnica, digo, não esta túnica visível, mas o homem velho corrompido pelas concupiscências falazes. Oxalá a alma, uma vez despojada dele, jamais torne a vesti-la, mas possa dizer com a esposa de Cristo, no Cântico dos Cânticos: «Tirei minha túnica, como irei revesti-la?». Ó maravilha, estáveis nus à vista de todos e não vos envergonhastes. Em verdade éreis imagem do primeiro homem Adão, que no paraíso andava nu e não se envergonhava.
Unção

3 Depois de despidos, fostes ungidos com óleo exorcizado desde o alto da cabeça até os pés. Assim, vos tornastes participantes da oliveira cultivada, Jesus Cristo. Cortados da oliveira bravia,
fostes enxertados na oliveira cultivada e vos tornastes participantes da abundância da verdadeira oliveira. O óleo exorcizado era símbolo, pois, da participação da riqueza de Cristo. Afugenta toda presença das forças adversas. Como a insuflação dos santos e a invocação do nome de Deus, qual chama impetuosa, queima e expele os demônios, assim este óleo exorcizado recebe, pela invocação de Deus e pela prece, uma tal força que, queimando, não só apaga os vestígios dos pecados, mas ainda põe em fuga as forças invisíveis do maligno.
Imersão batismal
4 Depois disto fostes conduzidos pela mão à santa piscina do divino batismo, como Cristo da cruz ao sepulcro que está à vossa frente. E cada qual foi perguntado se cria no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. E fizestes a profissão salutar, e fostes imersos três vezes na água e em seguida emergistes, significando também com isto, simbolicamente, o sepultamento de três dias de Cristo. E assim como nosso Salvador passou três dias e três noites no coração da terra , do mesmo modo vós, com a primeira imersão, imitastes o primeiro dia de Cristo na terra, e com a imersão, a noite. Como aquele que está na noite nada enxerga e ao contrário o que está no dia tudo enxerga na luz, assim vós na imersão, como na noite, nada enxergastes; mas na emersão, de novo vos encontrastes no dia. E no mesmo momento morrestes e nascestes. Esta água salutar tanto foi vosso sepulcro como vossa mãe. E o que Salomão disse em outras circunstâncias, sem dúvida, pode ser adaptado a vós: «Há tempo para nascer, e tempo para morrer». Mas para vós foi o inverso: tempo para morrer, e tempo para nascer. Um só tempo produziu ambos os efeitos e o vosso nascimento ocorre com vossa morte.
Efeitos místicos
5 Oh! fato estranho e paradoxal! Não morremos em verdade, não fomos sepultados em verdade, não fomos crucificados e ressuscitados em verdade. A imitação é uma imagem; a salvação, uma verdade. Cristo foi crucificado, sepultado e verdadeiramente ressuscitou. Todas estas coisas nos foram agraciadas a fim de que, participando, por imitação, de seus sofrimentos, em verdade logremos a salvação. Oh! amor sem medida! Cristo recebeu em suas mãos imaculadas os pregos e padeceu, e a mim, sem sofrimento e sem pena, concede graciosamente por esta participação a salvação.
6 Ninguém, pois, creia que o batismo só obtém a remissão dos pecados, como o batismo de João só conferia o perdão dos pecados. Também nos concede a graça da adoção de filhos. Mas nós sabemos, com precisão, que como é purificação dos pecados e prodigalizador do dom do Espírito Santo, é também figura da Paixão de Cristo. Por isso clama a propósito Paulo, dizendo: «Ou ignorais que todos nós, que fomos batizados para Cristo Jesus, fomos batizados para [participar da] sua morte? Com ele fomos sepultados pelo batismo». Talvez dissesse estas coisas por causa de alguns, dispostos a ver o batismo como prodigalizador da remissão dos pecados e da adoção, mas não como participação, por imitação, dos verdadeiros sofrimentos de Cristo.
7 Para que aprendêssemos que tudo o que Cristo tomou sobre si foi por nós e pela nossa salvação, tudo sofrendo em verdade e não em aparência e para que nos tornássemos participantes dos seus sofrimentos, exclamava veementemente Paulo: «Se fomos plantados com [Ele] pela semelhança de sua morte, também o seremos pela semelhança de sua ressurreição». Boa é a expressão «plantados com Ele». Logo que foi plantada a verdadeira vide, nós também pela participação do batismo da sua morte «fomos plantados». Fixa a mente com toda a atenção nas palavras do Apóstolo. Não disse: Fomos plantados com Ele pela morte, mas, pela semelhança da morte. Deveras, houve em Cristo uma morte real, pois a alma se separou do corpo. Houve verdadeiramente sepultamento, pois seu corpo sagrado foi envolvido em lençol limpo e foi verdadeiro tudo o que nele ocorreu. Para nós há a semelhança da morte e dos sofrimentos. Quando se trata da salvação, porém, não é semelhança e sim realidade.
8 Todas estas coisas foram ensinadas suficientemente: retende tudo em vossa memória, rogo-vos, para que eu, ainda que indigno, possa dizer-vos: «Amo-vos porque sempre vos lembrais de mim e conservais as tradições que vos transmiti». Ademais, poderoso é Deus que de mortos vos fez vivos, para conceder-vos que andeis em novidade de vida. A Ele a glória e o poder, agora e pelos séculos. Amém.
Traduzido por fr. Frederico Vier, O.F.M.
Veritatis Splendor

SANTOS NEREU, AQUILES E PANCRÁCIO, MÁRTIRES

S. Pancrácio | Piterest
12 de maio
SANTOS NEREU, AQUILES E PANCRÁCIO, MÁRTIRES
O martírio destes dois soldados romanos passou para a história com o Papa São Dâmaso, que, no século IV, escreveu uma epígrafe, em sua homenagem, revelando a sua identidade. Assim, ele transmitiu esta triste história à posteridade.

Conversão, obra da glória de Cristo

Nereu e Aquiles eram pretorianos, ou seja, guardas militares romanos, que têm a tarefa especial de proteger de perto o imperador. Neste caso específico, provavelmente serviram Diocleciano, por cujas mãos morreram anos depois.
Em certo momento, cansados de cumprir ordens de morte e de obedecer apenas por medo das consequências, os dois Santos soldados foram iluminados pela glória de Deus e, finalmente, abriram os olhos. Assim, desertaram, abandonaram seus escudos, as armaduras e seus dardos sujos de sangue.

Translado das relíquias, entre lendas e realidade

Não se sabe muito sobre a morte destes dois mártires, exceto o fato de que terem sido decapitados, por volta do ano 304, precisamente sob o império de Diocleciano.
Desde então, foram venerados em uma basílica paleocristã, nas Termas de Caracala. Seus restos mortais foram enterrados no cemitério de Domitila, ao longo da Via Ardeatina. Segundo uma lenda, o martírio destes dois soldados era coligado ao de Santa Domitila, sobrinha do imperador Domiciano.
A memória litúrgica dos Santos Nereu e Aquiles é celebrada, precisamente, no dia do translado das suas relíquias.

São Pancrácio é um dos Santos dos primeiros anos do catolicismo, um adolescente que passou pelo martírio muito cedo.

Nascido em roma, filho de nobres e cristãos, São Pancrácio tinha uma vida tranquila, principalmente devido a proximidade de seus pais com o então imperador Diocleciano. Se tornou órfão ainda criança indo morar com seu tio Dionísio.
Devido a influência de sua família conseguiu estudar em Roma, morando na mesma casa onde o Papa Marcelino fazia seu retiro, sendo próximo do Santo Papa que o respeitava por sua modéstia, doçura, piedade e profunda fé.
Porém era um período difícil para os cristãos que eram perseguidos pelo então imperador Diocleciano, e foi denunciado, sendo levado a julgamento junto de Dionísio, que foi morto imediatamente. Porém devido a consideração do imperador Pancrácio teve uma chance, pois era jovem e filho de um amigo, tentou fazer com que o garoto desistisse de sua fé de várias formas, mas não obteve resultados.
Por não negar sua fé em Cristo, São Pancrácio ainda um adolescente foi condenado a decapitação no dia 12 de maio de 304. O jovem afirmava não temer a morte pois essa só o levaria diretamente a Deus.
O túmulo de São Pancrácio fica em uma das estradas mais famosas Roma, conhecida por Via Aurélia, no séculO VI o Papa Símaco mandou erguer uma igreja em sua homenagem que existe até os dias atuais, inclusive ajudando a difundir o culto a São Pancrácio.
São Pancrácio é conhecido como padroeiro dos enfermos na Itália, dos trabalhadores na Espanha, e da Juventude da Ação Católica na América Latina.
Vatican News

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac, abade do Mosteiro de Stella

Caritas Christ urget nos: Dos Sermões do Bem-aventurado Isaac ...
(Sermo 42: PL 194,1831-1832)        (Séc.XII)


O primogênito de muitos irmãos

Como a cabeça e o corpo formam um só homem, assim o Filho da Virgem e seus membros escolhidos formam um só homem e um só Filho do homem. Cristo completo e total, como diz a Escritura, é cabeça e corpo. Com efeito, todos os membros juntos constituem um só corpo que, unido à sua cabeça, forma um só Filho do homem. Este, pela sua união com o Filho de Deus, forma um só Filho de Deus, o qual, pela sua união com Deus, forma um só Deus. Consequentemente, todo o corpo com a cabeça é Filho do homem, é Filho de Deus, é Deus. Por isso se diz no Evangelho: Quero, Pai, que assim como eu e tu somos um, também eles sejam um em nós (cf. Jo 17,21). 
Vemos que, segundo esse famoso texto da Escritura, não existe o corpo sem a cabeça nem a cabeça sem o corpo; nem Cristo total, cabeça e corpo, sem Deus. 
Tudo isto, portanto, pela sua união com Deus é um só Deus. O Filho de Deus, porém, está unido com Deus por natureza. O Filho do homem está unido como Filho de Deus numa só pessoa; por sua vez, os membros do seu corpo estão unidos com ele sacramentalmente. 
Por conseguinte, os membros fiéis e espirituais de Cristo, podem afirmar de si, com toda verdade, aquilo que ele é, até mesmo Filho de Deus e Deus. Mas o que ele é por natureza, os membros são por participação. O que ele é em plenitude, os membros são parcialmente. O que o Filho de Deus é por geração, os membros são por adoção, como está escrito: Recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos clamamos: Abá – ó Pai! (Rm 8,15). 
Este Espírito deu-lhes a capacidade de se tornarem filhos de Deus (Jo 1,12), para que o primogênito de muitos irmãos pudesse ensiná-los a dizer: Pai nosso que estais nos céus (Mt 6,9). E noutro lugar: Subo para junto do meu Pai e vosso Pai (Jo 20,17). 
Pelo Espírito Santo, o Filho do homem nasceu da Virgem Maria como nossa cabeça; pelo mesmo Espírito, nós também renascemos na fonte batismal como filhos de Deus e membros do corpo de Cristo. E assim como ele nasceu livre de todo pecado, também nós renascemos pela remissão de nossos pecados. 
Assim como na cruz ele tomou sobre seu corpo de carne os pecados de todo o corpo, do mesmo modo, pela graça da regeneração, concedeu ao seu corpo espiritual que não lhe fosse atribuído nenhum pecado, como está escrito: Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de pecado (Sl 31,2). Este homem feliz é, sem a menor dúvida, Cristo: enquanto cabeça do Cristo místico é Deus e perdoa os pecados; enquanto cabeça do corpo, é o Filho do homem, nada tendo que se lhe deva perdoar; e enquanto o corpo da cabeça é formado por muitos, nada se lhe atribui. 
Ele é justo em si mesmo e justifica-se a si mesmo. Ele próprio é Redentor e redimido. Tomou sobre seu corpo, na cruz, os pecados daquele corpo que ele purifica por meio da água do batismo, e continua salvando pela cruz e pela água. Ele é o Cordeiro de Deus que tira, que carrega o pecado do mundo (Jo 1,29. Ele é ao mesmo tempo sacerdote e vítima do sacrifício. Ele é Deus que, oferecendo-se a si mesmo, por si reconciliou-se consigo mesmo, com o Pai e com o Espírito Santo.

Papa em oração inspira escultura de jovens vietnamitas no convite à união na luta contra a pandemia

Escultura retrata o Papa Francisco diante do Crucifixo no Vaticano
Escultura retrata o Papa Francisco diante do Crucifixo no Vaticano
A oração realizada no Vaticano no dia 27 de março, com a Bênção Urbi et Orbi, foi acompanhadas por fiéis, e não só, em todas as partes do mundo.

Para recordar a oração e a Bênção Urbi et Orbi que o Papa Francisco presidiu em 27 de março na Praça São Pedro, transmitida em Mundo Visão, três jovens de Nam Dinh, no Vietnã do Norte, fizeram uma bela escultura em areia na praia do Distrito de Nghia Hung, Nam Dinh.

O trabalho, medindo 4 x 5 m, retrata o Papa Francisco com 2,5 m de altura rezando diante do Crucifixo Milagroso da Igreja de São Marcelo, levado ao Vaticano especialmente para a ocasião.  O escultor profissional Lai Trinh e seus dois amigos católicos Nguyen Son e Tran Nhat fizeram o trabalho em três horas usando ferramentas rudimentares: pá, corda, espátula e um grande pincel.

Respondendo ao jornalista que os entrevistava, Lai Trinh, nascido em 1989 em Quy Nhat, Nghia Hung e Nam Dinh, revelam que os três são apaixonados por escultura e sonhavam fazer esse trabalho intitulado "O Papa reza", para expressar a sua fé religiosa e convidar todos a se unirem na luta contra a pandemia Covid-19.

A inspiração para a obra foi justamente a cena do Papa Francisco, que, sozinho, concedeu a Bênção Urbi et Orbi do átrio da Basílica de São Pedro, voltado para uma Praça completamente deserta, mas espiritualmente repleta de fiéis de todas as partes do mundo.

Nguyen Son disse que acompanhados por amigos e familiares, acompanharam a cerimônia e aguardaram até o momento da Bênção Urbi et Orbi, quando era meia-noite no Vietnã, todos com um coração piedoso e espiritual.

Não é a primeira vez que o artista cria uma escultura em areia. No passado, ele havia feito uma escultura do Papa com 5 m de altura, também em uma praia em Nam Dinh.

A escultura "O Papa reza" realizada no início de maio foi uma surpresa bem recebida pelas milhares de pessoas na praia, graças a dois feriados próximos: 30 de abril, quando é celebrada a unificação do Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, enquanto 1º de maio é o Dia do Trabalho.
Vatican News

Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade” (Parte 2/5): ponto 2


Apologética

2. A VERDADE E O ERRO SÃO INCOMPATÍVEIS
Encontramos na Escritura como a Verdade e o erro são completamente opostos e se excluem mutuamente, isto é, não se pode sustentar a verdade sobre uma coluna de erro. Uma instituição cheia de erros não pode guiar firmemente e estabelecer a Verdade, sob pena de contradizer as Escrituras:
  • “O que diz a verdade manifesta a justiça, mas a falsa testemunha diz o engano” (Provérbios 12,17).
  • “‘E encurvam a língua como se fosse o seu arco, para a mentira; fortalecem-se na terra, mas não para a verdade; porque avançam de malícia em malícia, e a mim não me conhecem’, diz o Senhor” (Jeremias 9,3).
  • “‘Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira'” (João 8,44).
  • “E vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Por isso deixai a mentira, e falai a verdade cada um com o seu próximo; porque somos membros uns dos outros” (Efésios 4,24-25).
  • “Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis, e porque nenhuma mentira vem da verdade” (1João 2,21).
  • “E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1João 2,27).
Conforme estas citações, a verdade e o erro ou a mentira são coisas totalmente opostas e jamais uma mentira pode provir de uma verdade, de modo que é biblicamente impossível falar que Paulo irá ensinar que uma Igreja falsa, mentirosa, cheia de erros doutrinários, poderá guiar e manter o povo na Verdade.
Assim entendido, deduzimos que a instituição escolhida por Cristo para guiar o seu Povo e manifestá-Lo deve ser uma instituição infalível, livre de todo erro doutrinário, embora composta por seres humanos, como São Paulo nos indica alguns versículos antes:
  • “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujeição, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neófito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém também que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e no laço do diabo. Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância; guardando o mistério da fé numa consciência pura. E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos e suas próprias casas” (1Timóteo 3,1-12).
Esta instituição, denominada “Casa de Deus”, é formada por homens, os quais devem se comportar de maneira correta e cumprir uma série de regras disciplinares que a própria Casa estabeleceu. Estas pautas são dadas por São Paulo, como a que consta no versículo 13:
  • “Porque os que servirem bem como diáconos, adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus” (1Timóteo 3,13).
Isso nos ensina que a Casa é regida, governada, possui uma hierarquia que se encarrega de orientar, guiar, manter o povo, assim como no lugar onde Deus se manifesta, e é por isso que tudo deve ser realizado em ordem e com normas específicas.
Enxergamos então o contraste que este terceiro capítulo da 1ª Carta a Timóteo faz entre a infalibilidade da Igreja e como é formada por seres humanos que possuem uma natureza pecadora, que podem cair no pecado; porém, não significa que esse pecado pessoal destrói os fundamentos, as fundações da Igreja de Cristo. Por isso, é necessário agora abordarmos um terceiro ponto, em que se verão outros textos que ajudarão a compreender muito melhor este, de forma que restará demonstrado onde se encontra a autoridade infalível do cristão, assim como que a referida autoridade não se corrompe pelo pecado (já que suas fundações estão cheias de pecadores, mas infalíveis).
Veritatis Splendor

São Pedro e os Papas

São Pedro e os Papas

  • Autor/Fonte: A Catholic Response Inc. (http://users.binary.net/polycarp)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto
– “Jesus olhou intensamente para Pedro por um momento e depois disse-lhe: ‘Tu és Simão, filho de Jonas, mas serás chamado Pedro, a pedra'” (João 1,42).
* * *
Alguns cristãos negam que o Papa, como sucessor de São Pedro, tenha qualquer papel de especial autoridade na Igreja fundada por Cristo. Alguns afirmam que, segundo a Bíblia, São Pedro nunca serviu como líder da Igreja. Outros até reconhecem sua especial autoridade, mas negam a Sucessão Apostólica, a transmissão deste ofício na Igreja.
Este desafio para um cristão católico deve começar com os seguintes versículos do Evangelho:
  • “E eu te digo que tu és Pedro (Petros) e sobre esta pedra (petra) edificarei a minha Igreja, e os poderes da morte não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e tudo o que ligares na terra será ligado no céu, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu” (Mateus 16,18-19).
No decorrer dos séculos, muitas coisas foram escritas sobre esses dois versículos; no entanto, apenas alguns pontos serão considerados aqui.
Primeiro: Jesus promete que o destrutivo “poder da morte não prevalecerá contra” a Sua Igreja. Este versículo, especialmente à luz de Mateus 28,19-20 e 2Timóteo 2,2, sugere a Sucessão Apostólica – a transmissão do discipulado a homens fiéis através dos séculos -, uma vez que os discípulos originais de Cristo eram homens mortais.
Segundo: no versículo 19, São Pedro é a única pessoa a quem Jesus promete entregar as chaves do Seu Reino. Na Bíblia, as chaves são um sinal de autoridade (cf. Isaías 22,22; Apocalipse 1,18; 3,7). Se você, acidentalmente, já ficou trancado fora de casa ou do carro, provavelmente experimentou o poder das chaves!
Terceiro: no versículo 18, Cristo dá a Simão o nome de “Pedro”, que significa “pedra”, e promete que a Sua Igreja será edificada “sobre esta pedra”. No texto grego original, “petra” é usada para “pedra”, enquanto “Petros” é usado para “Pedro”. Em grego, os substantivos possuem gênero: “petra”, sendo o substantivo grego comum para “pedra”, possui gênero feminino e, portanto, não é apropriado para o nome de um homem. Assim, para torná-lo adequado a Simão, “petra” recebe um final masculino, resultando em “Petros” (“Pedro” em grego).
Em outros lugares da Bíblia, Simão Pedro também é chamado de Cephas (ou Cefas). “Cefas” significa “pedra” em aramaico, a língua que Jesus e os Apóstolos costumavam falar. Em João 1,42, Jesus renomeia Simão como Cefas:
  • “‘Tu és Simão, filho de Jonas. Serás chamado Cefas’ (que significa Pedro)” (João 1,42).
A nota de rodapé deste versículo na Bíblia RSV declara: “Da palavra ‘pedra’ em aramaico e grego, respectivamente”. A Bíblia Viva, uma edição parafraseada protestante, apresenta esse versículo como: “Mas serás chamado Pedro, a pedra!” (v. epígrafe). Se Jesus não estabeleceu São Pedro como a pedra fundamental da Igreja, é bem estranho que Jesus o tenha renomeado como “pedra” em dois idiomas diferentes [=aramaico e grego]!
Jesus e Seus apóstolos eram fluentes na Escritura. Em Mateus 16,19, Jesus está fazendo referência ao rito de sucessão encontrado no Livro de Isaías:
  • “E será naquele dia que Eu (=Deus) chamarei a meu servo Eliaquim, filho de Hilquias; e (…) entregarei nas suas mãos a tua autoridade (=de Shebna), e será como pai para os moradores de Jerusalém e para a casa de Judá. E porei a chave da casa de Davi sobre o seu ombro; e abrirá, e ninguém fechará; e fechará, e ninguém abrirá” (Isaías 22,20-22).
Nos versículos 15-25, Eliaquim está sucedendo Shebna no ofício de primeiro-ministro. Eliaquim não é o rei, mas o primeiro-ministro do rei Ezequias (cf. Isaías 36,1-3, 22). O rei da dinastia davídica tinha ministros que o ajudavam no governo (cf. 2Samuel 8,15-18; 20,23-26). Da mesma forma, Jesus, sendo o rei da casa de Davi (cf. Lucas 1,32-33), nomeia São Pedro como seu primeiro-ministro, dando-lhe “as chaves do Reino”.
Devemos notar que Jesus, em Mateus 16,18-19, fala no tempo futuro, como que prometendo. Neste [exato] momento Jesus não está conferindo autoridade a São Pedro, de modo que quando este nega posteriormente a Cristo, tal promessa não é tornada sem efeito. Na verdade, Cristo orou por São Pedro antes da sua negação:
  • “[Disse também o Senhor:] Simão, Simão, eis que Satanás pediu para vos peneirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, quando te converteres, confirma os teus irmãos” (Lucas 22,31-32).
Somente após esse julgamento é que Cristo confere autoridade a São Pedro em João 21.
As imagens em João 21 são diferentes: Jesus não é referenciado como Rei, mas como o Bom Pastor. Em João 10,16, Jesus fala de “um só rebanho e um só Pastor”. Pelo texto, resta óbvio que o rebanho é a Igreja, enquanto que o Pastor é Jesus. Pois bem: em João 21,15-19, Jesus concede Sua autoridade terrestre a São Pedro, dizendo-lhe: “Simão, filho de Jonas (…) Apascenta os meus cordeiros (…) Apascenta as minhas ovelhas … Apascenta as minhas ovelhas”. Jesus não está dizendo a São Pedro para literalmente apascentar um mero rebanho de ovelhas, mas para conduzir e cuidar da Sua Igreja na terra.
Uma objeção comum contra a primazia de Pedro é baseada em Gálatas 2,11-14, onde São Paulo repreende São Pedro (Cefas) por este agir sem sinceridade. Essa repreensão de São Paulo não prejudica a autoridade de ensino de São Pedro, uma vez que São Paulo não o repreendeu por falso ensino, mas por mau exemplo (convém aqui observar que São Paulo também deu um péssimo exemplo em Atos 16,3). Devemos recordar que São Pedro era pecador como todos nós somos (cf. Lucas 5,8.10). Da mesma forma, a condenação de Natã ao rei Davi, em 2Samuel 12, não retirou a autoridade reinante de Davi, mas o levou ao arrependimento. Por fim, se São Paulo não reconhecia a autoridade de ensino de São Pedro, por que ele quis passar 15 dias com Pedro (Cefas), no seu ministério de seu ministério (cf. Gálatas 1,18)?
Ha exemplos de Pedro exercendo a sua liderança nos Atos dos Apóstolos (cf. 1,15-26; 5,1-11; 11,1-18); no entanto, a melhor testemunha da Sucessão Apostólica e do Papado pode ser encontrada nos primeiros escritos cristãos. Uma testemunha precoce da autoridade papal é a Epístola de Clemente aos Coríntios. Esta carta foi escrita em 96 d.C., em Roma, pelo Papa Clemente, para restaurar a ordem da Igreja em Corinto. Clemente não apenas interfere nesta Igreja [local], como também pede escusas por não ter agido antes. Em 190 d.C., Santo Irineu de Lião lista os Bispos de Roma (Papas) em seu livro “Contra as Heresias”:
  • “Os bem-aventurados Apóstolos, após fundarem e construírem a Igreja (em Roma), entregaram nas mãos de Lino o ofício do episcopado (…) A este, sucedeu Anacleto; e depois deste, em terceiro lugar a partir dos apóstolos, Clemente recebeu o bispado (…) Na época deste Clemente, uma pequena dissensão ocorreu entre os irmãos de Corinto e a Igreja em Roma remeteu, com autoridade, uma carta aos coríntios. (…) A este Clemente, sucedeu Evaristo. Alexandre seguiu Evaristo; depois, (…) Sixto… (e a lista continua) … Nesta ordem e nessa sucessão, a Tradição Eclesiástica dos Apóstolos e a pregação da verdade chegaram até nós” (Contra as Heresias 3,3,3).
Em 325 d.C., Eusébio de Cesareia, escreve a “História Eclesiástica” e cita a lista de Santo Irineu (cf. 5,6). Eusébio também cita 1Pedro 5,13 como prova de que São Pedro esteve em Roma, também conhecida como “Babilônia” (cf. 2,15).
A primazia de Pedro é evidente a partir da Bíblia: seu nome é sempre o primeiro nas listas dos apóstolos (cf. Mateus 10,1-4; Marcos 3,16-19Lucas 6,14-16; Atos 1,13). A Sucessão Apostólica era um fato na vida da Igreja primitiva, como testemunhado pelos primeiros escritos cristãos. A primazia do atual Papa baseia-se na fé na promessa de Cristo, de que a Sua Igreja edificada sobre Pedro não será vencida pelo poder da morte (cf. Mateus 16,18; 7,25).
Veritatis Splendor

domingo, 10 de maio de 2020

MÃE, VOCÊ MERECE!

Mãezinha querida, o dia das mães deste ano vai ser diferente, pois não poderemos ir às compras para garantir o seu presente, mas nós iremos lhe oferecer o que temos de melhor, mesmo que seja a distância.
Mãe, o fechamento das lojas é uma necessidade nesses dias, mas a ausência de um presente material é uma grande oportunidade para refletirmos em todas as coisas boas que você merece, pois, a vida tem nos demonstrado, minha mãe, que o seu colo é a nossa proteção, sua vida é a nossa inspiração e o seu amor é o nosso porto seguro.
Mãezinha, você é dez, você é demais, você é uma presença determinante e renovadora e, por isso, nós gostamos de imaginar que você é à terra que se submete à exigência da semente em prol dos frutos. Mãe, você é, de um modo singular, a rosa que Deus plantou em nossas vidas a fim de nos ensinar a absorver da terra e da atmosfera as forças nutritivas que nós precisamos para crescer nos valores humanos e cristãos.
Mãe, você é muito mais do que uma pessoa, você é uma comunidade, uma fortaleza de afetos e de proteção, pois quando se refere aos cuidados necessários a nós, seus filhos, você, mãe, não se cansa, não descansa, não adormece, não adoece, não anoitece e não esmorece.
Mãe, você é o outono em uma eterna primavera, é a cooperadora de Deus no mistério fecundo da vida. Mãe, você não é um livro, mas é, certamente, um tratado do amor de Cristo, uma obra-prima, um clássico do amor que não perde a sua atualidade e nem mesmo a sua essência.
Mãe, você é sinônimo de carinho, zelo, proteção, cuidado e segurança. Desse modo, em qualquer situação, você é a nossa melhor lembrança, o nosso melhor pensamento, o nosso melhor apoio.
Mãe, nada pode abalar os laços que nós construímos. Se hoje nós não estamos juntos fisicamente é porque nós precisamos proteger a quem amamos. Mãe, nesse isolamento, parece que temos diante de nós um espelho que reflete quem realmente nós somos: pessoas fortes, mas, ao mesmo tempo, surpreendentemente frágeis. Mãe, nós já somos adultos, mas não perderemos jamais a magia e o encanto das crianças em nosso relacionamento materno. Mãe, você sempre será a mulher mais linda do mundo e a melhor pessoa que conhecemos.
Mãe, nós cremos que não seríamos seres humanos completos se nos faltasse a correspondência do seu amor. Mãe, por tudo aquilo que você representa em nossas vidas, nesse dia das mães, e em todos os dias da nossa história, você merece as estrelas, a lua, as flores, o cantar dos pássaros e a beleza da alvorada. Mãe, você merece não apenas um dia, mas uma semana, um ano, uma vida de homenagens.
Mãe, nessa homenagem, nós queremos lhe ofertar, mesmo que em pensamento, todas as rosas, as margaridas, as orquídeas e os girassóis. Queremos lhe ofertar também todo o amor que você sempre oferece aos outros, o mesmo afeto sincero, desinteressado e verdadeiro.
Mãe, você merece muito mais do que belas palavras. Você merece o nosso amor, o nosso agradecimento e a nossa estima por ter dito sim ao projeto de Deus que se realiza na família por meio da maternidade responsável.
Mãe, antes de terminar, nós queremos lhe contar um segredo. Uns dias atrás, nós recebemos um elogio que não merecemos, mas, ao ouvi-lo, nós ficamos extremamente felizes. Uma pessoa próxima a nós, uma amiga sua nos disse: “Vocês se parecem com a sua mãe! ”
Mãe, conte conosco em todos os momentos da vida e saiba que, em breve, estaremos juntos novamente, para saborearmos a riqueza dos relacionamentos familiares, redescobrindo a força transformadora do amor. Mãe, sinta-se abraçada, beijada e envolvida pelas manifestações do nosso carinho e saiba que com você nós aprendemos a bater à porta do coração de Deus. Minha mãe, nós acreditamos que esse mundo tem jeito; afinal, nós somos beneficiados com o testemunho incansável das mulheres que exercem, em plenitude, a vocação de ser mãe.
Hoje, mãezinha querida, nós estamos batendo à porta do coração de Deus, apresentando a nosso Senhor Jesus Cristo a nossa prece em agradecimento pelo privilégio de lhe ter como nossa bondosa e amada mãe. Obrigado por tudo, minha mãe. Que Deus lhe pague por tamanha entrega, generosidade e serviço. Feliz dia das mães!

Aloísio Parreiras
Arquidiocese de Brasília

V Domingo da Páscoa - ANO "A": O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA

Dom Sérgio da Rocha
Adm. Apost. da Arquidiocese de Brasília
O Evangelho proclamado, neste domingo, situa-se no contexto da última ceia, véspera da morte de Jesus na cruz. O clima de despedida, com os discípulos inquietos e preocupados, se transforma com as palavras de Jesus portadoras de serenidade e de esperança: “não se perturbe o vosso coração”; “vou preparar um lugar para vós” (Jo 14,1.2). Contudo, não se trata de uma atitude passiva, de comodismo, conforme a resposta de Jesus a Tomé. O discípulo demonstra não saber qual caminho seguir para chegar à morada preparada por Jesus na casa do Pai, ao perguntar-lhe: “como podemos conhecer o caminho?” (Jo 14,5). A resposta de Jesus está no centro da passagem meditada: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Não se trata apenas de uma bela afirmação, mas de um anúncio de validade permanente na vida e missão da Igreja. Os cristãos de hoje, assim como nos primórdios, necessitam fazer a experiência desta Palavra de Jesus. Hoje, há muita gente buscando o caminho a seguir, a verdade que dá sentido ao caminhar e a vida plena. Jesus é a resposta!
Os primeiros cristãos acreditaram na Palavra de Jesus, vivendo-a em comunidade, como devemos fazer, hoje. A comunidade cristã deve ser sinal e anúncio de Jesus, “o Caminho, a Verdade e a Vida”, no seu modo de viver e de se organizar. Por isso, os apóstolos organizaram melhor o serviço da caridade, para atender os mais pobres, representados pelas viúvas (At 6,1).
Por melhor que uma comunidade deva se organizar, ela jamais poderá ser equiparada a uma simples instituição. Permanecerá sempre uma comunidade de fé, um “edifício espiritual”, alicerçado em Cristo, a “pedra viva” ou a “pedra angular”, segundo os termos empregados pela Primeira Carta de Pedro (1Pd 2,4-6). A imagem da “pedra viva” é aplicada primeiramente a Cristo, a “pedra angular”, mas também aos seguidores de Jesus. Nós somos “pedras vivas” do templo espiritual que é a Igreja. Por isso, somos chamados a ser “sacerdócio santo” e “nação santa”. Ao invés de oferecer sacrifícios de animais, como ocorria no templo de Jerusalém, devemos “oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus”, através de uma vida santa. Entretanto, é preciso crescer e permanecer firmes na fé, pois a rejeição da “pedra angular”, que é Cristo, pode ser sofrida também pelas “pedras vivas” que são os cristãos.
Neste domingo, nós somos convidados a rezar pelas mães, demonstrando-lhes o nosso amor e gratidão por meio de gestos concretos. Obrigado às mães por tanto amor dedicado aos seus filhos. Rezemos pelas mães que mais sofrem, especialmente por causa da pandemia. Continuemos a cuidar, com amor e responsabilidade, da vida que é dom de Deus, recebida através de nossas mães.
Folheto: O Povo de Deus/Arquidiocese de Brasília

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF