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quinta-feira, 14 de maio de 2020

Cinquenta dias de Igrejas de portas fechadas em uma sociedade doente

Dom Pedro Brito GuimarãesArcebispo de Palmas – TO
Já se passaram cinquenta dias, desde que as nossas Igrejas estão vazias e de portas fechadas. Nem mesmo os mais negativistas poderiam imaginar tanto tempo assim. Parece fantasia, mas não é. É a pura e a dura realidade. O mundo está doente, de uma doença mortal. O novo coronavírus, a convid-19, veio ao improviso, como um tsunami; derrubando certezas científicas, políticas, sociais, econômicas e eclesiais. Por causa disto, estamos em estado de emergência. “Até o profeta e o sacerdote vagueiam sem rumo pela terra” (Jer 14,18). Não é brincadeira, não é uma “gripezinha”, é uma pandemia. Lembro-me que no momento em que assinei aquele Decreto, algumas lágrimas caíram dos meus olhos. Espero que neste “vale de lágrimas”, as minhas lágrimas tenham se juntado as de todos que choram as perdas de seus entes queridos. Espero também que todo este sacrifício não seja em vão, mas tenha ajudado a salvar vidas e a acordar a Igreja de pedras vivas que pode estar dormindo dentro de nós.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a conid-19 é uma “pandemia”. A palavra “pan-demia” é formada por duas palavras gregas: “pan” significa tudo, todo e em todo lugar; e “demia” significa povo. Pandemia é, portanto, uma doença infectocontagiosa que atinge todos os povos, em todos os lugares. Esta pandemia concretamente desconsertou o mundo, embora haja pessoas que acham exagerada esta compreensão e a vê como algo sem ação e reação, sem causa e efeito. A cosmovisão de muitos brasileiros só chega a estes dois pontos mortos: maximalismo (pandemia) x minimalismo (gripezinha). E daí não sai e nem passa. Este embate ideológico é gerador de muitos conflitos e polarizações que se transformou em intermináveis controvérsias e inimizades.
Diante desta triste realidade, causadora de tantas dores, sofrimentos e mortes, a atitude primeira do cristão, seguidor de Jesus, deve ser a de solidariedade, de compaixão, de cuidado, de amor pela vida, de comunhão e fraternidade. Graças a Deus, são muitos os samaritanos que estão cuidando, com amor sincero e ternura fraterna, do nosso povo sofredor. Basta pensar nos médicos e nos apoiadores dos diversos serviços hospitalares, nos motoristas de ambulâncias, nos gestores e políticos sérios, empenhados na luta para vencer esta batalha; nos padres, diáconos, consagrados e nos diversos serviços eclesiais, de muitos homens e mulheres que rezam e atuam na caridade discreta para com os necessitados. Mas, infelizmente, uma parcela significativa do nosso povo não se compadece de quem sofre, vive na indiferença, pensa apenas no lucro e no proveito político, colocando o dinheiro e o poder acima da vida e da dignidade das pessoas. Neste estado de coisas, vem-me à memória a parábola, na qual Jesus do Bom Pastor que, porque dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10,10), dá amor, atenção, cuidado, ternura, consolo e esperança. E nós? Será que, a exemplo de Jesus, estamos sendo bons pastores ou, ao contrário, mercenários, ladrões e assaltantes? Somos desafiados a lançar em nossa sociedade as sementes do amor e da fraternidade. Diante de tantos gestos e sinais de indiferença, de perda do senso de humanidade, da busca de proveito próprio, encima da dor e da morte alheias, não podemos ficar indiferentes. Que o Senhor nos livre de um coração fechado ao bem e ao amor!
Passados cinquenta dias da publicação do Decreto, com o qual decretamos o fechamento das nossas Igrejas para celebrações presenciais, evitando, assim, a aglomeração de pessoas e o aumento do número de contaminados, me vem à mente a pergunta que muitos estão se fazendo: esta situação é passageira, é algo para ficar no passado, nos registros de nossos livros de memórias, ou é um fenômeno que nos assusta e nos preocupa para o futuro? Quando as portas de nossas Igrejas estiverem abertas, entraram homens e mulheres de corações abertos? A alerta sobre a possibilidade de esta situação se tornar uma realidade frequente, num futuro não muito longínquo, está dada. O coronavírus mandou seus avisos prévios. É preciso saber lê-los.
Concretamente, o que fazer? Não estamos e não podemos nos calar. Mas palavras bonitas não salvam vida e nem enchem barrigas. Discursos inflamados também não. Em meio a esta pandemia, aprendamos a escutar mais a ciência, a promover e defender a vida, a sermos mais abertos ao diálogo e à vida fraterna. Sejamos uma Igreja viva, que ergue o cálice da vida, que bebe o cálice da vida e que compartilha este mesmo cálice da vida com quem o deseja receber e comungar. Faz-me pensar o que disse o padre Tomás Halík, refletindo sobre a imagem de Igreja do Papa Francisco, como um “Hospital de Campanha”. Ele sugere três atitudes para a Igreja que podemos fazê-las nossas: primeiro, fazer o diagnóstico (identificar os sinais dos tempos, o que todo esse sofrimento nos pode ensinar); segundo, fazer a imunização (oferecer remédios preventivos, investir mais na qualificação de profissionais de primeiros socorros da vida); e terceiro, ajudar na convalescença e na reabilitação (curando as feridas e os traumas de quem está doente e incidindo nos corações dos que se dizem sadios o Evangelho da misericórdia, do perdão e da reconciliação). Não basta abrimos as Igrejas e fecharmos os corações. Somente assim, poderemos continuar tendo Igrejas abertas e um povo cheio de vida e solidário, e não Igrejas fechadas em uma sociedade doente. Término, citando o nosso mártir tocantinense, padre Josimo: “se eu me calar, quem os defenderá”?
CNBB

Neste dia 14 de maio o mundo em oração para debelar o coronavírus



Será um dia de oração, jejum e invocação a Deus Criador pela humanidade atingida pela pandemia. A iniciativa, à qual aderiu o Papa Francisco, é promovida pelo Alto Comitê para a Fraternidade Humana.

Giancarlo La Vella - Cidade do Vaticano

Em um vídeo distribuído em várias línguas, o Alto Comitê para a Fraternidade Humana, presidido pelo cardeal Miguel Angel Ayuso Guixot, exorta os irmãos que creem em Deus Criador a dedicar neste dia 14 de maio um momento de recolhimento, para que o Altíssimo olhe para o mundo que enfrenta o grave perigo da Covid-19 e para que preserve a humanidade, ajude-a a superar a pandemia, restaure a segurança, a estabilidade, a saúde e a prosperidade, e torne nosso mundo, uma vez eliminada essa pandemia, mais humano e mais fraterno.


Por ocasião da oração do Regina Coeli, no último dia 3 de maio, o Papa Francisco deu o seu apoio à iniciativa, pronunciando estas palavras:
"Sendo a oração um valor universal, acolhi a proposta do Alto Comitê para a Fraternidade Humana para que no próximo dia 14 de maio, os crentes de todas as religiões se unam espiritualmente em um dia de oração e jejum e obras de caridade, para implorar a Deus que ajude a humanidade a superar a pandemia do coronavírus. Lembrem-se: no dia 14 de maio, todos os crentes juntos, crentes de diversas tradições, para rezar, jejuar e fazer obras de caridade".

Por sua vez, o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, cardeal Miguel Angel Ayuso Guixot, comentando a vontade do Papa de acolher a proposta do Alto Comitê, notou como esta pandemia seja uma oportunidade para enraizar no nosso futuro o valor da fraternidade e da coexistência comum. E sobre a adesão de inúmeras personalidades a esse chamado, primeiro entre todos o secretário-geral das Nações Unidas, quis ressaltar que como seres humanos somos uma única grande família e por isso - disse - "é bom que a partir da fé dos líderes religiosos, através de grupos e responsáveis pela vida social e política, haja um momento de oração e solidariedade para invocar o fim dessa pandemia". 

Vatican News

14 de maio: “A nossa fragilidade nos leva à oração e ao jejum”

Mural de grafite do artista Eduardo Kobra em homenagem às vítimas do coronavírus, Itu, São Paulo
Mural de grafite do artista Eduardo Kobra
em homenagem às vítimas do coronavírus, Itu, São Paulo  (AFP or licensors)
“Neste momento da história há muitos pontos que são comuns à família humana, porém há um em particular: o sofrimento, que não conhece nacionalidade, religião, etnia”. Entrevista com o estudioso islâmico Cenap Aydin, fundador do Instituto Tevere para o Diálogo Inter-religioso.

Francesca Sabatinelli – Cidade do Vaticano

Neste momento de crise pela pandemia, chegou o momento de se dedicar à contemplação e à reflexão. Dia 14 de maio, será dedicado à oração e ao jejum e à invocação a Deus pela humanidade atingida pela pandemia, com a participação do Papa Francisco. A iniciativa nasceu do Alto Comitê para a Fraternidade Humana, formado por líderes religiosos que se inspiram no documento assinado em Abu Dhabi pelo Papa Francisco e o Grão-Imame de Al-Azhar, Al Tayyeb.

Entrevistamos Denap Aysin, de nacionalidade turca, diretor fundador do Instituto Tevere, Centro de diálogo intercultural e inter-religioso e especialista em islamismo para nos falar desta importante iniciativa.

Recordamos os pedidos de jejum e oração de São João Paulo II
“Esta iniciativa – explica Aydin – não é apenas para as pessoas de fé, mas para todos os seres humanos”. A atitude de Francisco, é uma “atitude muito inspirada. Sempre pediu aos fiéis, e não só aos fiéis, para rezarem principalmente pela paz, convida a todos para sentirem necessidade de paz, paz pelo bem-estar, pelo bem comum”. O dia de oração de 14 de maio cai em pleno Ramadã, o mês sagrado e de jejum para o Islã, um jejum que será de todos. Aydin recorda e não é a primeira vez, do convite de São João Paulo II pela paz na Bósnia massacrada pela guerra nos anos 1993 e 1994. E depois, cita o Angelus de 18 de novembro de 2001, quando o Papa Wojtyla convidava para um dia de jejum e oração, eram os dramáticos meses logo depois do atentado às Torres Gêmeas em Nova York, e também na época era tempo de Ramadã, explica, muçulmanos e católicos foram convidados a fazer um dia de jejum e oração juntos.

O estudioso continua: “Também agora, para o dia 14 de maio, estamos no Ramadã, mas o convite é mais alargado, dirigido a todos. Desta vez fazemos um passo adiante e o papel das religiões é muito claro porque agora os fiéis, mas principalmente os líderes religiosos, testemunham a unidade para que o mundo saiba que as religiões, fazendo parte da família humana, são diretamente envolvidas para encontrar soluções a esta crise e aos muitos problemas que afligem nossa humanidade”.

No Alcorão, Maria enfrenta o jejum da palavra
Para Cenap Aydin neste momento da história há muitos pontos que são comuns à família humana, porém há um em particular: o sofrimento, que não conhece nacionalidade, religião, etnia. As más notícias deste período nos fazem aproximar uns dos outros, nos fazem unir os esforços para uma solução imediata. O diretor do Instituto Tevere conclui seu pensamento dirigindo-se à Maria da história, a Maria deste mês mariano. “No Alcorão, capítulo 19, Maria, Maryam é convidada por Deus, segundo a tradição islâmica a observar o jejum, um jejum muito particular, o da palavra, ficar em silêncio quando nasce Jesus. Maria estava muito preocupada com a resposta que deveria dar ao seu povo, portanto vemos uma Maria, Maryam, que não fala, fica em silêncio, fazendo jejum, em oração, em contemplação, esperando uma resposta de Deus. Hoje, em uma outra situação, podemos recordar desta cena no Alcorão. Redescobrimos a nossa debilidade, descobrimos que somos tão frágeis, porém agora é nossa fragilidade que nos leva a estar reunidos de novo em oração, no jejum, no amor que nos abraça e, através da oração, ao amor de Deus”.

Vatican News

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Estátuas ortodoxas?

Estátuas ortodoxas?
Uma página de apologética ortodoxa reconheceu que não é errado que um católico venere estátuas que representem a Virgem Maria:
  • “Um católico que venera uma estátua de Santa Maria não está fazendo nada de errado segundo a Igreja Ortodoxa [enquanto a delgada linha entre veneração e adoração não seja rompida]. Se você [ortodoxo] encontrasse uma estátua da sua mãe falecida, não sentiria amor por ela?” (“Por qué mirar hacia el este para adorar?”, Orthodox Christian Resource Center).
Para complementar, quero compartilhar o que diz o Pe. Le Bundy, sacerdote ortodoxo, no artigo intitulado “Estátuas ortodoxas?”:
ESTÁTUAS ORTODOXAS?
Os inúmeros e belos ícones antigos que inundaram o Ocidente desde a 1ª Guerra Mundial e o crescente interesse por eles demonstrado por artistas, estudiosos e amantes comuns do belo são um dos fenômenos brilhantes das últimas duas gerações. Uma enorme literatura se desenvolveu em torno do ícone (tanto acadêmica quanto popular), e centros de reprodução de ícones antigos e de pintura de novos se tornaram especialmente difundidos a partir da 2ª Guerra Mundial.
Para muitas pessoas, o ícone é o símbolo supremo da Igreja Ortodoxa. Isso é especialmente verdade em nível popular desde que o mundo ocidental foi inundado, após a 1ª Guerra Mundial, por emigrantes russos e por artefatos religiosos. Pouco depois, o renascimento dos estudos bizantinos ganhou força e ícones começaram a ser estudados seriamente, enquanto que antiquários passaram a oferecer exemplos de tudo, desde espécimes raras até grandes imitações românticas ocidentais do século XIX, com olhos líquidos, que no século XVIII tinham suplantado os tipos tradicionais em terras ortodoxas.
Para muitos ocidentais (e no folclore ortodoxo), os ícones são os substitutos orientais das estátuas, errônea e comumente consideradas proibidas pela Igreja Ortodoxa. Na verdade, as estátuas não são de forma nenhuma proibidas pela Ortodoxia e sempre fizeram parte do mobiliário decorativo e devocional do espaço sagrado [ortodoxo], no interior dos templos.
[A palavra] “ícone”, geralmente empregada como termo técnico para designar as imagens planas devocionais da Ortodoxia oriental, é tão somente uma palavra grega para designar “imagem”. Os decretos dogmáticos do Concílio Ecumênico [de Niceia II] sobre “ícones” referem-se, na verdade, a todas as imagens religiosas, inclusive as estátuas tridimensionais.
O professor Sergios Verkhovskoi, professor conservador de dogmática do Seminário de São Vladimir, condena categoricamente como herege qualquer pessoa que declare as estátuas como contrárias à ortodoxia ou canonicamente inferiores às pinturas (no século XIX, as pinturas planas tradicionais, derivadas dos retratos funerários egípcios helenísticos e atualmente reivindicadas como “autênticos” ícones, tinham sido suplantadas na Igreja Ortodoxa pela pintura naturalista ocidental, mais ou menos habilidosa).
Como, então, surgiu a opinião ordinária de que as estátuas são “ocidentais”, “heterodoxas” e “heréticas”? A resposta é bem simples e deriva de fundamentos de teor sócio-cultural.
As estátuas eram comuns em Bizâncio. A figura acima ilustra uma estatueta tridimensional de marfim da Virgem e do Menino, a “Hodegetria”, do século X, oriunda de Constantinopla. Atualmente exposta no Museu “Victoria and Albert” [de Londres, Inglaterra], difere de outros exemplos semelhantes existentes em Hamburgo e Nova York por não ter sido cortada de uma chapa de marfim, de modo que a parte de trás [da estatueta] foi esculpida com tanto cuidado e habilidade quanto a parte da frente.
Constantinopla era repleta de estátuas, dentro e fora dos templos. Certo autor afirma que mais de 300 estátuas clássicas adornavam a praça diante da Igreja de Santa Sofia. A famosa “Madona Espanhola”, Nossa Senhora de Montserrat, é uma estátua bizantina, assim como o são muitos exemplares antigos do sul da França, mas foi na Rússia que sobreviveu a liberdade cristã ortodoxa do uso de imagens.
Consideremos [agora] as razões pelas quais as estátuas se tornaram impopulares na Ortodoxia:
A principal causa, obviamente, foi o iconoclasmo (destruição de imagens). Desde a arte das catacumbas romanas, os cristãos usavam imagens sagradas, tanto para a instrução quanto, evidentemente, como meio de venerar a pessoa ou o evento retratado. A maioria são pinturas, mas há pelo menos duas estátuas do Bom Pastor bem anteriores a Constantino, e a Veneração da Cruz é tão antiga que nenhuma data de início pode ser fixada para ela. Em 576, temos evidências, no Ocidente, de que uma imagem de São Martinho era honrada com uma lâmpada constantemente acesa diante dela e que Fortunato foi curado de uma doença através do óleo retirado dessa lâmpada.
No início do século VIII, os judeus, baseando-se na proscrição de imagens do Antigo Testamento; os hereges paulianistas, um ramo dos maniqueus, que era uma seita que desprezava a “matéria” como sendo inferior ao “espírito”; e os monofisitas, se opunham todos eles contra as imagens. Estes últimos eram hereges que declaravam que Jesus era [apenas] Deus e, portanto, Sua natureza humana fôra absorvida pela Sua divindade; como resultado, sua inexpressiva humanidade não podia ser retratada. Além disso, em alguns lugares como Síria, Egito e entre as tribos germânicas, havia uma grande desconfiança da estima grega pela beleza humana, tal como era manifestada especialmente na arte.
Todas essas influências parecem terem confluído no imperador Leão o Isáurico que, em 726, emitiu o seu primeiro edito determinando a destruição das imagens. Houve oposição popular, os bispos romanos protestaram e São João Damasceno resumiu o testemunho dos Santos Padres em três famosos ensaios. Leão morreu em 740 e foi sucedido por seu filho Constantino V Coprônimo, que seguiu o programa do seu pai com um vigor bárbaro. Mas quando ele morreu, em 780, sua esposa Irene, iniciou o trabalho de restauração e, sete anos depois, convocou o Sétimo Concílio Ecumênico em Niceia, o qual restaurou totalmente a veneração das imagens. Após um período subsequente de perseguição – pois o movimento iconoclasta sobreviveu com alguma força de 726 a 842 -, a restauração [da veneração] das imagens foi finalmente estabelecida em 842.
Em Constantinopla, a influência contra as imagens veio de sírios e armênios, manchados pelo monofisismo; no Ocidente, veio do imperador Carlos Magno e persistiu em terras francas até o século IX, muito embora Roma e Itália adotassem a posição ortodoxa desde o princípio. Resta evidente nesta pesquisa que as heranças de cunho racial-cultural foram extremamente influentes.
O mesmo se pode dizer do desaparecimento prático das estátuas em oposição aos ícones em grandes setores da Igreja Ortodoxa. A memória remanescente dos iconoclastas incentivou a reticência; e a conquista muçulmana congelou a arte ortodoxa na sua forma mais limitada. Nas áreas conquistadas [pelos muçulmanos], a Igreja era levada “para dentro de casa”, os sinos eram proscritos e os aspectos externos do culto cristão eram proibidos em público. Enquanto todas as representações de criaturas eram proibidas pelos muçulmanos e exercia-se pressão sobre os cristãos para que se conformassem o máximo possível, o ícone sobreviveu mas não a estátua. Somente na Rússia a Igreja foi livre o suficiente para manter toda sua tradição devocional estética.
No norte da Rússia, o entalhe em madeira era altamente desenvolvido antes da chegada dos missionários ortodoxos e sobreviveu sendo “batizado” a serviço da Igreja. Todas as imagens – estátuas e ícones – eram cuidadosamente observadas pelas autoridades eclesiásticas, como numa reunião do Santo Sínodo em 15 de março de 1722. Da Revolução de 1918 até [pouco] depois da 2ª Guerra Mundial, as estátuas de valor histórico sofreram da destruição que se dirigiu a todos os monumentos religiosos mas, atualmente, a preocupação com as realizações do passado russo vem concentrando dinheiro, atenção e pesquisa em todas as artes antigas, e assim estátuas ortodoxas são especialmente valorizadas.
Centenas de exemplos desses objetos devocionais foram destruídos na primeira fase da campanha antirreligiosa revolucionária. No entanto, muitas estátuas e crucifixos tridimensionais são abundantes e ainda permanecem em uso.
A década de 1920 descobriu o ícone pintado ortodoxo; a década de 1970, as estátuas ortodoxas.
Parece que o argumento às vezes fervoroso de “imagem bidimensional X imagem tridimensional” é um outro exemplo de cultura que se intromete na fé.”
Veritatis Splendor

Vidente de Fátima: O Rosário é a arma dos últimos tempos

Imagem da Virgem de Fátima e de Irmã Lúcia /
Arquidiocese de Los Angeles
REDAÇÃO CENTRAL, 11 Mai. 20 / 05:00 am (ACI).- Em 26 de dezembro de 1957, Padre Agostinho Fuentes, que foi postulador da causa de beatificação de Francisco e Jacinta Marto, entrevistou a vidente das aparições de Fátima, Irmã Lúcia dos Santos, que assegurou que “o Rosário é a arma de combate das batalhas espirituais dos últimos tempos”.
Esta entrevista, à qual também assistiram alguns membros do alto clero, aconteceu no Convento das Religiosas Carmelitas Descalças de Santa Teresa, em Coimbra (Portugal).
Ali Irmã Lúcia manifestou que a Santíssima Virgem disse, tanto a seus primos como a ela, que dois eram os últimos remédios que deus dava ao mundo: o Santo Rosário e o Imaculado Coração de Maria.
A religiosa, que faleceu em 2005, destacou que com o Santo Rosário nos salvaremos, nos santificaremos, consolaremos Nosso Senhor e obteremos a salvação de muitas almas.
“Por isso, o demônio fará todo o possível para nos distrair desta devoção; nos colocará muitos pretextos: cansaço, ocupações etc., para que não rezemos o Santo Rosário”, advertiu.
Neste sentido, ressaltou que o programa de salvação é brevíssimo e fácil, porque com o Santo Rosário “praticaremos os Santos Mandamentos, aproveitaremos a frequência dos Sacramentos, procuraremos cumprir perfeitamente nossos deveres de estado e fazer o que Deus quer de cada um de nós”.
“Não há problema por mais difícil que seja: seja temporal e, sobretudo, espiritual; seja referente à vida pessoal de cada um de nós ou à vida de nossas famílias, do mundo ou comunidades religiosas, ou à vida dos povos e nações; não há problema, repito, por mais difícil que seja, que não possamos resolver agora com a oração do Santo Rosário”, enfatizou a religiosa.
ACI Digital

5 orações para rezar neste 13 de maio

Virgem de Fátima /
Crédito: Flickr Our Lady of Fatima International Pilgrim Statue (CC BY-SA 2.0)
REDAÇÃO CENTRAL, 13 Mai. 20 / 06:00 am (ACI).- Neste dia 13 de maio, ao recordar as aparições da Virgem Maria aos três pastorinhos na Cova da Iria, e o segundo ano da canonização de dois deles, Francisco e Jacinta Marto, pelo Papa Francisco, apresentamos 5 orações disponibilizadas pelos Servitas de Nossa Senhora de Fátima:
Nossa Senhora do Rosário
Frases de Nossa Senhora aos pastorinhos em 13 de julho de 1917:
"Ó Jesus, é por Vosso amor, pela conversão dos pecadores e em reparação pelos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!"
"Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem".
Francisco e Jacinta
Jacinta e Francisco, Pastorinhos de Fátima, queremos aprender convosco o caminho que nos leva a uma vida de verdadeira união com Jesus.
Ensina-nos Jacinta, a amar os outros com todo o nosso coração,
a reconhecer neles o Amor de Deus e a dar a vida para que nenhum se perca.
Ensina-nos a desejar tão intensamente como tu a conversão dos pecadores,
a começar por cada um de nós.
Ensina-nos, Francisco, o teu enorme amor, fiel e silencioso, por Jesus.
Faz-nos desejar cada vez mais a sua companhia na oração e identificar-nos
com a dor do seu Coração ferido pela ingratidão dos homens.
Pastorinhos de Fátima, pela vossa mão queremos entrar cada vez mais no coração de Maria, nosso refúgio, que nos há de conduzir até Deus. Amém.
Anjo
 "Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-Vos. Peço-Vos perdão para os que não creem, não adoram, não esperam e não Vos amam".
"Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-vos profundamente e ofereço-vos o preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Santíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores".
Consagração a Nossa Senhora
Ó Senhora minha, ó minha Mãe, eu me ofereço todo a Vós, e em prova da minha devoção para convosco, Vos consagro neste dia e para sempre, os meus olhos, os meus ouvidos, a minha boca, o meu coração e inteiramente todo o meu ser.
E porque assim sou Vosso, ó incomparável Mãe, guardai-me e defendei-me como propriedade vossa.
Lembrai-Vos que Vos pertenço, terna Mãe, Senhora Nossa.
Ah, guardai-me e defendei-me como coisa própria Vossa.
Consagração ao Imaculado Coração de Maria
Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, ao Vosso Coração Imaculado nos consagramos, em ato de entrega total ao Senhor. Por Vós seremos levados a Cristo. Por Ele e com Ele seremos levados ao Pai. Caminharemos à luz da fé e faremos tudo para que o mundo creia que Jesus Cristo é o Enviado do Pai. Com Ele queremos levar o Amor e a Salvação até aos confins do mundo. Sob a proteção do Vosso Coração Imaculado seremos um só povo com Cristo. Seremos testemunhas da Sua ressurreição. Por Ele seremos levados ao Pai, para glória da Santíssima Trindade, a Quem adoramos, louvamos e bendizemos. Amém.
ACI Digital


7 coisas que precisa saber sobre Nossa Senhora de Fátima

REDAÇÃO CENTRAL, 13 Mai. 20 / 08:00 am (ACI).- A aparição de Nossa Senhora de Fátima, aprovada pela Santa Sé, é a mais conhecida do século XX, particularmente pelo terceiro segredo que Maria revelou aos três pastorinhos na Cova da Iria (Portugal) e transcrito pela Irmã Lúcia em 3 de janeiro de 1944.

A seguir, apresentamos 7 coisas que todo católico deve saber sobre esta aparição.
1. A Virgem apareceu 6 vezes em Fátima
Nos tempos da Primeira Guerra Mundial, a pastorinha Lúcia dos Santos disse ter experimentado visitas sobrenaturais da Virgem Maria em 1915, dois anos antes das conhecidas aparições.
Em 1917, ela e seus primos Francisco e Jacinta Marto, estavam trabalhando como pastores nos rebanhos de suas famílias. Em 13 de maio daquele ano, as três crianças presenciaram uma aparição da Virgem Maria que lhes disse, entre outras coisas, que regressaria durante os próximos seis meses todos os dias 13 na mesma hora.
Maria também revelou às crianças, na segunda aparição, que Francisco e Jacinta morreriam cedo e que Lúcia sobreviveria para dar testemunho das aparições.
Na terceira aparição, no dia 13 de julho, a Virgem revela a Lúcia o segredo de Fátima. Conforme os relatos, ela ficou pálida e gritou de medo chamando a Virgem pelo seu nome. Houve um trovão e a visão terminou. As crianças viram novamente a Virgem em 13 de setembro.
Na sexta e última aparição, no dia 13 de outubro, diante de milhares de peregrinos que chegaram à Fátima (Portugal), aconteceu o chamado “Milagre do sol”, no qual, após a aparição da Virgem Maria aos pastorinhos Jacinta, Francisco e Lúcia, pôde-se ver o sol tremer, em uma espécie de “dança”, conforme relataram os que estavam lá.
2. Francisco e Jacinta morreram jovens, Lúcia se tornou religiosa
Uma epidemia de gripe espanhola atingiu a Europa em 1918 e matou cerca de 20 milhões de pessoas. Entre eles, estavam Francisco e Jacinta, que contraíram a doença naquele ano e faleceram em 1919 e 1920, respectivamente. Por sua parte, Lúcia entrou no convento das Irmãs Doroteias.
Em 13 de junho de 1929, na capela do convento em Tuy, na Espanha, Lúcia teve outra experiência mística na qual viu a Santíssima Trindade e a Virgem Maria. Esta última lhe disse: “Chegou o momento em que Deus pede ao Santo Padre, em união com todos os bispos do mundo, fazer a consagração da Rússia ao meu Imaculado Coração, prometendo salvá-la por este meio” (S. Zimdars-Schwartz, Encontro com a Maria, 197).
No dia 13 de outubro de 1930, o Bispo de Leiria (agora Leiria-Fátima) proclamou as aparições de Fátima autênticas.
3. Irmã Lúcia escreveu o segredo de Fátima 18 anos depois das aparições
Entre 1935 e 1941, sob as ordens de seus superiores, Irmã Lúcia escreveu quatro memórias dos acontecimentos de Fátima.
Na terceira memória – publicada em 1941 – escreveu as duas primeiras partes do segredo e explicou que havia uma terceira parte que o céu ainda não lhe permitia revelar.
Na quarta memória acrescentou uma frase ao final da segunda parte do segredo: “Em Portugal, se conservará sempre o dogma da fé, etc.”.
Esta frase foi a base de muita especulação, disseram que a terceira parte do segredo se referia a uma grande apostasia.
Depois da publicação da terceira e quarta memória, o mundo colocou a atenção no segredo de Fátima e nas três partes da mensagem, inclusive no pedido da Virgem para que a Rússia fosse consagrada ao seu Imaculado Coração através do Papa e dos bispos do mundo.
No dia 31 de outubro de 1942, Pio XII consagrou não só a Rússia, mas também todo o mundo ao Imaculado Coração de Maria. O que faltou, entretanto, foi a participação dos bispos do mundo.
Em 1943, o Bispo de Leiria ordenou que Irmã Lúcia escrevesse o terceiro segredo de Fátima, mas ela não se sentia em liberdade de fazê-lo até 1944. Foi colocado em um envelope fechado no qual a Irmã Lúcia escreveu que não deveria ser aberto até 1960.
4. A terceira parte do segredo de Fátima foi lida por vários Papas
O segredo se manteve com o Bispo de Leiria até 1957, quando foi solicitado (junto com cópias de outros escritos da Irmã Lúcia) pela Congregação para a Doutrina da Fé. Segundo o Cardeal Tarcísio Bertone, o segredo foi lido por João XXIII e Paulo VI.
“João Paulo II, por sua parte, pediu o envelope que contém a terceira parte do ‘segredo’ após a tentativa de assassinato que sofreu no dia 13 de maio 1981”.
Depois de ler o segredo, o Santo Padre percebeu a ligação entre a tentativa de assassinato e Fátima: “Foi a mão de uma mãe que guiou a trajetória da bala”, detalhou. Foi este Papa quem decidiu publicar o terceiro segredo no ano 2000.
5. As chaves do segredo: arrependimento e conversão
O então Cardeal Joseph Ratzinger (Papa Emérito Bento XVI), Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, assinalou que a chave da aparição de Fátima é seu chamado ao arrependimento e à conversão. (Comentário Teológico)
As três partes do segredo servem para motivar o indivíduo ao arrependimento e o fazem de uma maneira contundente.
6. A primeira parte do segredo é uma visão do inferno
A primeira parte do segredo – a visão do inferno – é para muitos a mais importante, porque revela aos indivíduos as trágicas consequências da falta de arrependimento e o que lhes espera no mundo invisível se não se converterem.
7. A segunda parte do segredo é sobre a devoção ao Imaculado Coração
Na segunda parte do segredo Maria diz:
“Você viu o inferno para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para salvá-las, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”.
Depois de explicar a visão do inferno, Maria falou de uma guerra que “iniciará durante o pontificado de Pio XI”.
Esta última foi a Segunda Guerra Mundial, ocasionada, segundo as considerações da Irmã Lúcia, pela incorporação da Áustria à Alemanha durante o pontificado de Pio XI (J. do Marchi, Temoignages sur les apparitions de Fatima, 346).
ACI Digital

terça-feira, 12 de maio de 2020

Quinta Catequese Mistagógica

Quinta Catequese Mistagógica e leitura da epístola católica de Pedra: «Despojai-vos, pois, de toda malícia e falsidade e maledicência» , etc.
A Celebração Eucarística
1 Pela benignidade de Deus, ouvistes de maneira suficiente, nas reuniões precedentes, sobre a batismo, a crisma e a participação do corpo e sangue de Cristo. Mas agora é necessário ir adiante, para coroar o edifício espiritual de vossa instrução.
2 Vistes o diácono oferecer água ao pontífice e aos presbíteros que rodeiam o altar de Deus para lavarem-se. Não a deu, absolutamente, por causa da sujeira corporal. Não é isso. Pois com o corpo sujo nem sequer teríamos entrado na igreja. Mas lavar as mãos é símbolo de que nos devemos purificar de todos os pecados e de todas as faltas. Já que as mãos são símbolo das obras, lavamo-las, indicando evidentemente a pureza e a irrepreensibilidade das obras. Não ouviste como o bem-aventurado Davi te introduziu neste mistério ao dizer: «Lavarei as mãos entre os inocentes e andarei ao redor do teu altar, Senhor»? Então, lavar as mãos é estar limpo de pecado.
3 Depois o diácono proclama: «Acolhei-vos mutuamente e dai-vos o ósculo da paz». Não suponhas que este ósculo seja como os que os amigos íntimos se dão na praça pública. Este ósculo não é assim. Mas este ósculo une as almas entre si e é para elas penhor de esquecimento de todos os ressentimentos. É sinal de que as almas se unem e afastam toda lembrança de toda injúria. Por isso Cristo disse: «Quando fores apresentar uma oferta perante o altar, e ali te lembrares de que teu irmão tem algo contra ti, deixa ali a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, depois volta para apresentar a tua oferta». Então, o ósculo é reconciliação, e é por esta razão que é santo, como o bem-aventurado Paulo o proclama alhures: «Saudai-vos uns aos outros no ósculo santo». E Pedro: «Saudai-vos uns aos outros no ósculo de caridade».
Introdução à anáfora
4 Depois disso o sacerdote proclama: «Corações ao alto!» Verdadeiramente, nesta hora mui tremenda, é preciso ter o coração no alto, junto de Deus, e não embaixo, na terra, nas coisas terrenas. Com autoridade, pois, o sacerdote ordena que nesta hora se abandonem todas as preocupações da vida e os cuidados do-mésticos e que se tenha o coração no céu, junto ao Deus benevolente. Vós então respondeis: «Já os temos no Senhor!» assentindo à ordem por causa do que confessais. Ninguém esteja presente dizendo apenas com a boca: «Nós os temos no Senhor», tendo a mente voltada para as preocupações da vida. Sempre devemos estar lembrados de Deus. Se isso é impossível pela fraqueza humana, naquela hora isto é o que mais deve ser procurado.
5 Depois diz o sacerdote: «Demos graças ao Senhor». Deveras, devemos agradecer-lhe, porque sendo indignos chamou-nos a tamanha graça que nos reconciliou, sendo seus inimigos, e nos fez dignos da adoção do Espírito.6 E vós dizeis: «É digno e justo». Pois quando damos graças nós fazemos algo digno e justo. Ele nos beneficiou não com a justiça, mas além de toda justiça, fazendo-nos dignos de grandes bens.
Anáfora, prece de louvor
6 Depois disso mencionamos o céu, a terra e o mar, o sol e a lua, os astros, toda criatura racional e irracional, visível e invisível, os anjos e arcanjos, as virtudes, dominações, principados, potestades, tronos, os querubins de muitas faces e, com vigor, dizemos com Davi: «Celebrai comigo o Senhor». Lembramo-nos ainda dos serafins, que Isaías, no Espírito Santo, contemplava. Estavam colocados em círculo ao redor do trono de Deus. Com duas asas cobriam o rosto, com outras duas os pés, e com mais duas voavam e diziam: «Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos».9 Por isso recitamos essa doxologia que nos foi transmitida pelos serafins, para que neste canto nos associemos aos exércitos celestes.
Epiclese
7 Depois de santificados por esses hinos espirituais, suplicamos ao Deus benigno que envie o Espírito Santo sobre os dons colocados, para fazer do pão corpo de Cristo e do vinho sangue de Cristo. Pois tudo o que o Espírito Santo toca é santificado e transformado.
Intercessões
8 Em seguida, realizado o sacrifício espiritual, o culto incruento, em presença dessa vítima de propiciação, invocamos a Deus pela paz comum das igrejas, pelo bem-estar do mundo, pelos imperadores, pelos exércitos e aliados, pelos doentes, pelos aflitos e, em geral, todos nós rezamos por todos aqueles que têm necessidade de socorro e oferecemos essa vítima.
9 Depois fazemos menção dos que adormeceram, primeiro dos patriarcas, profetas, apóstolos, mártires, para que Deus, por suas preces e intercessão, aceite nossa súplica. Depois ainda rezamos pelos santos padres, bispos adormecidos e, enfim, por todos os que nos precederam, persuadidos de que será de máximo proveito para as almas, pelas quais a súplica é elevada ante a santa e tremenda vítima.
10 E quero persuadir-vos com um exemplo. Sei que muitos dizem: Que aproveita à alma que parte deste mundo com faltas ou sem elas, se é mencionada na oferenda [eucarística]? Porventura, se um rei banisse aos que se rebelaram contra ele, e se em seguida seus companheiros, trançando uma coroa, a presenteiam ao rei em favor dos condenados, não lhes concederá a remissão dos castigos? Do mesmo modo nós também, apresentando a Deus as súplicas pelos adormecidos, embora tenham sido pecadores, nós não trançamos uma coroa, mas apresentamos o Cristo imolado por nossos pecados, tornando propício em favor deles e em nosso o Deus benigno.
O “Pater”
11 Depois disso, tu dizes aquela oração que o Salvador transmitiu aos discípulos, atribuindo a Deus, com pura consciência, o nome de Pai e dizes: «Pai nosso, que estás nos céus». Ó incomen-surável benignidade de Deus! Aos que o tinham abandonado e jaziam em extremos males, é concedido o perdão dos males e a participação da graça, a ponto de ser invocado como Pai. Pai nosso que estás nos céus. Os céus poderiam bem ser os que portam a imagem do celestial, nos quais Deus habita e vive.
12 «Santificado seja teu nome». Santo é por natureza o nome de Deus, quer o digamos ou não. Mas uma vez que naqueles que pecam por vezes é profanado, segundo o que se diz: «Por vós meu nome é continuamente blasfemado entre as nações», oramos que em nós o nome de Deus seja santificado. Não que por não ser santo chegue a sê-lo, mas porque em nós ele se torna santo quando nos santificamos e praticamos obras dignas de santificação.
13 «Venha o teu reino». É próprio de uma alma pura dizer com confiança: «Venha o teu reino». Quem ouviu Paulo dizer: «Que o pecado não reine em vosso corpo mortal» e se purificar em obra, pensamento e palavra, dirá a Deus: «Venha o teu reino».
14 «Seja feita a tua vontade, assim no céu como na terra». Os divinos e bem-aventurados anjos de Deus fazem a vontade de Deus, como Davi dizia no salmo: «Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, heróis poderosos, que executais sua palavra». Rezando, pois, com vigor, dize isto: como nos anjos se faz a tua vontade, Senhor, assim na terra se faça em mim.
15 «Nosso pão substancial dá-nos hoje». O pão comum não é substancial. Mas este pão é substancial, pois se ordena à substância da alma. Este pão não vai ao ventre nem é lançado em lugar escuso mas se distribui sobre todo o organismo, em proveito da alma e do corpo. O «hoje» equivale a dizer de «cada dia» , como também dizia Paulo: «Enquanto perdura o hoje».
16 «E perdoa-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores». Temos muitos pecados. Caímos, pois, em palavra e em pensamento e fazemos muitas coisas dignas de condenação. «E se dissermos que não temos pecado, mentimos», como diz João. Fazemos com Deus um pacto pedindo-lhe nos perdoe nossos pecados como também nós perdoamos ao próximo suas dívidas. Tendo presente, portanto, o que recebemos em troca do que damos, não sejamos negligentes, nem deixemos de perdoar uns aos outros. As ofensas que se nos fazem são pequenas, simples, fáceis de reconciliar. As que nós fazemos a Deus são enormes e temos necessidade só de sua benignidade. Cuida, então, que por faltas pequenas e simples contra ti não te excluas do perdão, por parte de Deus, dos pecados gravíssimos.
17 «E não nos induzas em tentação», Senhor. Porventura com isto o Senhor nos ensina a pedir que de modo algum sejamos tentados? Como se encontra em outro lugar: «Aquele que foi tentado não tem experiência» e ainda: «Tende por suma alegria, meus irmãos, se cairdes em diversas provações»? Mas jamais entrar em tentação é o mesmo que ser submerso por ela. A tentação, pois, se assemelha a uma torrente difícil de atravessar. Os que, então, não são submersos nas tentações, atravessam, como bons nadadores, sem serem arrastados pela corrente. Os que não são assim, uma vez que entram, são submersos. Assim, por exemplo, Judas, entrando na tentação da avareza, não passou a nado, mas, submergindo, afogou-se corporal e espiritualmente. Pedro entrou na tentação de negação, mas, tendo entrado, não submergiu; antes, nadando com vigor, se salvou da tentação,
Escuta novamente, em outro lugar, o coro dos santos todos rendendo graças por terem sido subtraídos à tentação: «Tu nos provaste, ó Deus, acrisolaste-nos como se faz com a prata. Dei-xaste-nos cair no laço; carga pesada puseste em nossas costas; submeteste-nos ao jugo dos tiranos. Passamos pelo fogo e pela água, mas tu nos conduziste ao refrigério». Tu os vês falar abertamente de sua travessia sem serem vencidos? «Tu nos conduziste ao refrigério». Chegar ao refrigério é ser livrado da tentação.
18 «Mas livra-nos do Mal». Se a expressão «não nos induzas em tentação» significasse não sermos de modo algum tentados, não se diria: «Mas livra-nos do Mal». O Mal é o demônio, nosso adversário, do qual pedimos ser libertos.
Depois, terminada a prece, dizes: «amém», selando com este amém ? que significa «faça-se» ? o que se contém na oração ensinada por Deus.
Comunhão
19 Depois disso, diz o sacerdote: «As coisas santas aos santos». As coisas são as oferendas aí colocadas, pois receberam a vinda do Espírito Santo. Santos sois também vós, julgados dignos do Espírito Santo. As coisas santas, então, convêm aos santos. Em seguida vós dizeis: «Um é o santo, um o Senhor, Jesus Cristo». Verdadeiramente um é o santo, santo por natureza. Nós, porém, se santos, o somos não pela natureza, mas pela participação, ascese e prece.
20 Depois dessas coisas, ouvis o cantor que, com uma melodia divina, vos convida à comunhão dos santos mistérios, dizendo: «Provai e vede como o Senhor é bom». Não confieis o julgamento ao gosto corporal, mas à fé inabalável. Pois provando não provais pão e vinho, mas o corpo e sangue de Cristo que aqueles significam.
21 Ao te aproximares [da comunhão], não vás com as palmas das mãos estendidas, nem com os dedos separados; mas faze com a mão esquerda um trono para a direita como quem deve receber um Rei e no côncavo da mão espalmada recebe o corpo de Cristo, dizendo: «Amém». Com segurança, então, santificando teus olhos pelo contato do corpo sagrado, toma-o e cuida de nada se perder. Pois se algo perderes é como se tivesses perdido um dos próprios membros. Dize-me, se alguém te oferecesse lâminas de ouro, não as guardarias com toda segurança, cuidando que nada delas se perdesse e fosses prejudicado? Não cuidarás, pois, com muito mais segurança de um objeto mais precioso que ouro e pedras preciosas, para dele não perderes uma migalha sequer?
22 Depois de teres comungado o corpo de Cristo, aproxima-te também do cálice do seu sangue. Não estendas as mãos, mas inclinando-te, e num gesto de adoração e respeito, dize «amém». Santifica-te também tomando o sangue de Cristo. E enquanto teus lábios ainda estão úmidos, roça-os de leve com tuas mãos e santifica teus olhos, tua fronte e teus outros sentidos. Depois, ao esperares as orações [finais], rende graças a Deus que te julgou digno de tamanhos mistérios.
23 Conservai inviolavelmente essas tradições e vós mesmos guardai-vos sem ofensa. Não vos separeis da comunhão nem pela mancha do pecado vos priveis desses santos e espirituais mistérios. «O Deus da paz santifique-vos completamente. Conserve-se inteiro o vosso espírito, e a vossa alma e o vosso corpo sem mancha, para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo», a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF