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sábado, 16 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (3/6)


Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio

PRIMEIRA SESSÃO DE DISCURSOS (4,1–14,22)

Horrorizados pelos lamentos de Jó e seus repetidos «Por que?», os três amigos abandonam seu sábio silêncio e se sentem no dever de responder. Os discursos que se desenvolvem em três sessões: 4,1-14,22; 15,1-21,34; 22,1-27,23. Nos dois primeiros falam cada um dos amigos, e Jó responde longamente. A terceira sessão aparece um pouco mais desordenada, devido, quem sabe, à confusão do texto.

PRIMEIRO DISCURSO DE ELIFAZ (4,1–5,27)

Elifaz começa educadamente, em típico estilo sapiencial, apela à sua experiência e reflete a partir dela (4,7-8; 5,27), mas, curiosamente, recorre também uma revelação especial recebida durante a noite (4,13-21). No desenvolvimento de seu discurso destaca quatro pontos básicos:
1. Quem é o inocente que perece, o malvado ou o que sofre? (4,7).
2. Que ser humano pode apresentar-se irrepreensível ante o Criador? (4,17-21; cf. 11, 11,. 15,14-16, 25,4).
3. Os seres humanos geram eles mesmos as suas desgraças (5.7).
4. O sofrimento pode ser o corretivo que Deus impõe como convém a um bom pai (5,17); a fidelidade a Deus traz a abundância de vida (5,23-26).
Elifaz conclui seu discurso com um apelo sincero à experiência (5,27). Desgraçadamente, Jó não o sabe.

RESPOSTA DE JÓ A ELIFAZ

Job reage numa forte explosão de emoções. Sua angústia e sofrimento são grandes demais para se expressar com palavras comedidas (6,1s), mas pode falar, e mais, deve falar. Jó, então, volta-se para a oração. Como no Capítulo 3, ainda anseia pela morte, mas esse desejo nunca o levou a pensar em suicídio. Jó não é como uma estátua de pedra ou bronze (6,12), insensível, mas uma pessoa de carne e osso que chegou às profundezas. Reconhecendo por fim a presença de seus amigos, lhes dá uma lição sobre o que significa para ele a amizade. De um amigo se espera a lealdade e a bondade, sobretudo em momentos de aflição. Em vez disso, esses amigos são como córregos da Palestina, que depois de ficarem cheios pelo efeito da chuva, logo se tornam secos. Não se pode confiar neles (6,14-21): vieram, viram e retornarão (6,21). Jó os desafia para apontarem seu pecado que justifique tal tratamento (6,24). A vida é como uma carga pesada e os seres humanos como escravos. Logo desaparecerão para nunca mais voltar, tragados pelo abismo. Esta e outras declarações indicam claramente a ausência no livro de Jó, de esperança na ressurreição ou na vida pós-morte (cf. 10,21; 14,10-12; 16,22). Jó não se cala. No contexto de todo o livro, o versículo 7,11 é verdadeiramente importante. O propósito da aposta sugerida por Satanás era ver como Jó reagiria, o que diria. E agora, sim, ele diz: por que Deus não o deixa em paz, ao menos o tempo suficiente para recobrar o fôlego? (7,19). Mesmo que tenha cometido pecado (a questão do pecado novamente!), não poderia Deus simplesmente perdoa-lo? Um abismo separa toda a possível culpa de Jó de seus sofrimentos. Logo estará morto e então já será tarde demais (7, 20s).

PRIMEIRO DISCURSO DE BILDAD (8,1-22)

Com uma observação ofensiva, o segundo amigo de Jó entra na discussão e, de imediato, passa a fazer a defender a justiça de Deus. Ainda que já tivesse implícito antes, agora é que a questão se mostra mais clara (3). De acordo com a melhor tradição sapiencial, Bildad apela para a sabedoria acumulada ao longo dos tempos, transmitida pelos antepassados ​​(8-10). Repete um provérbio do colorido Egito: «Como as plantas precisam de água para crescer e florescer, assim os seres humanos precisam de Deus para crescer e prosperar (11s). Em seguida, Bildad desenvolve o exemplo da pessoa que se esquece de Deus. Semelhante amnésia espiritual só pode trazer consequências tristes; mais ainda no caso em que essa pessoa alcance certa prosperidade, estará sempre pendente na balança (13-19). Pelo contrário, Deus não se esquece do justo(20-22). Se Jó se mostrasse arrependido, mais uma vez a sua vida se encheria de risos e alegria. Ironicamente, Bildad nos faz entrever o que realmente ocorrerá no final do livro (42,7-17).

RESPOSTA DE JÓ A BILDAD (9,1–10,22)

Embora estes capítulos apresentem muitos problemas de texto e tradução, superabundam imagens tomadas da justiça legal. Jó se parece, às vezes, com um demandante que quer levar Deus ao tribunal (9,3), mas, infelizmente, sendo o acusado e o juiz a mesma pessoa, quais poderiam ser suas chances de obter justiça? Outras vezes, o próprio Jó toma o lugar de acusado e tem de responder, pois isso pode custar-lhe a vida (9,14). A impotência de nosso herói está se tornando cada vez mais evidente, sobretudo, contra o poder esmagador do Deus criador. Mesmo assim, a linguagem de Jó vai se tornando cada vez mais ousada e franca. Não pode ser justificado (declarado inocente), nesta situação em que réu e juiz são a mesma e poderosa pessoa. Não sabe o que fazer nem o que dizer, pois o que quer que diga não ajudará em nada. Ao longo dos versículos que seguem, a abundância de perguntas condicionais revela a perplexidade de Jó, tateando por entre uma ou outra saída possível. Sua vida vai se consumindo rapidamente, com a velocidade de um corredor ou de um barco no Nilo, ou de uma águia em sua trajetória de voo. Ele não tem chances de sair vitorioso dessa guerra. E mesmo que consiga restabelecer sua reputação, Deus simplesmente voltaria a manchá-la novamente (9,25-31). Esquecido por seus amigos, Jó desejaria encontrar uma terceira pessoa, um juiz imparcial (cf. 16,19;. 19,25) que restabelecesse a justiça entre Deus e ele, mas sabe que isso é impossível. Desesperado, começa de novo a odiar a vida (9,33-35b), recorrendo uma vez mais às lamentações. Na falta de qualquer outra coisa para dizer, quer ao menos desabafar suas queixas (como em 7,10): «Por que me tratas assim?» (10,2). Jó apela para a memória de Deus, recordando-lhe os dias felizes em que o criador o formou, como um oleiro ou um alfaiate que faz seu trabalho com cuidado e maestria (10,9-12). Por que Deus o persegue agora, encurralando-o como um animal selvagem? (10,16). Como em 3,11 e 7,15, invoca novamente a morte da qual sabe que não há retorno (10,18-22).

PRIMEIRO DISCURSO DE SOFAR (11,1-20)

O discurso de Sofar se parece com o de Bildad, comedido e cordial (8,2). Como é possível que o que mais fala seja declarado inocente? Ao contrário de 11,4, Jó não teve a intenção de ensinar nada a ninguém, mas quis apenas dar voz aos seus conflitos e a sua dor, ante os ouvidos surdos de seus amigos. Censurando Jó por ser se mostrar tão seguro de si mesmo, sem respeitar o mistério da sabedoria (7-17), Sofar revela pretensa segurança e ignorância dos limites de sua própria sabedoria. Seu conselho poderia ser assim resumido: esquece essas ideias radicais, faça tuas orações e corrige tua vida (13s). Se Jó agisse de acordo com a doutrina da retribuição de seu amigo, desfrutaria de uma existência próspera e encontraria, finalmente, a paz. Também recuperaria sua honra, suas virtudes seriam reconhecidas e muitos viriam a ele pedindo sua intercessão (19b). A ironia do conselho está em que, no final (42,8s) serão seus amigos que irão implorar por sua intercessão.

RESPOSTA DE JÓ A SOFAR (12,1–14-22)

Indiferente à acusação de Sofar, Jó inicia aquele que será o seu mais longo discurso, com exceção de capítulos 29-31. O capítulo 12 está cheio de ideias e terminologias sapienciais; o 13, de expressões legais; e o 14 de lamentações. Numa cultura de honra e vergonha «o que dizem as pessoas» é muito importante; assim em 12,4-6, Jó manifesta como as suas desventuras só lhe trouxeram desonra e vergonha, transformando-se em escárnio e desprezo dos vizinhos e amigos. Em 8,8-10 Bildad tinha apelado à autoridade da Tradição, transmitida pelos antepassados​​. Aqui Jó faz paródia desta tradição, dizendo que os animais, em sua estupidez, sabem muito bem o que seus amigos, pelo visto, desconhecem: ou seja, que a desgraça não está necessariamente associada ao mau comportamento. O provérbio citado, em 12,11, enfatiza que a sabedoria tradicional deve ser submetida ao exame da experiência, do mesmo modo «como o paladar discerne antes o sabor das iguarias». Elifaz falou antes (5,10-13) do Deus que cria. Aqui (12,13-25), Jó fala de Deus que introduz o caos no mundo natural (12,15; 19,21s), ecoando a história do dilúvio universal (Gn 6-8). Também na sociedade humana, a ordem social (ou seja, a justiça) depende do sábio governo dos reis, conselheiros e juízes (12,17; 18,20). O poder e a força de Deus são conjugados com a sabedoria e a prudência (12,13-16); o problema está em que, por esta razão, não se pode compreender como, nós pobres mortais, nos movemos tateando no escuro (12,24s). Mais uma vez, Jó quer levar Deus ante um tribunal (13,3). Numa cultura da oralidade, as palavras constituem o verdadeiro tecido da sociedade, e isso alcança a sua máxima expressão na formalidade de um tribunal de justiça. Esta é a razão pela qual o Antigo Testamento enfatiza a obrigação de dar testemunho fidedigno (Ex 20,16) e da necessidade de duas ou três testemunhas para se estabelecer legalmente uma acusação (Dt 19,15). Jó tem três testemunhas, mas seu testemunho é falso! Pensam, por acaso, estar servindo a Deus com a falsidade? Mentem pensando fazer um favor a Deus ou buscando sua própria defesa ou a defesa de sua teologia? – Eis aqui uma boa pergunta aos que se ocupam de ministérios pastorais. Os versículos 13,9-11 antecipam o que vai acontecer em 42,7-9. Para mostrar que as palavras de seu amigo não o intimidaram e, tão pouco silenciaram, Jó diz que está pronto e disposto a defender, ele mesmo, seu caso diante de Deus e de sair com vida! Isso mostra que está com a razão, pois os pecadores não podem viver em sua presença (13,16). Jó se dirige a Deus (13,20-27) e diz com ousadia que, sem condições, um debate com ele (Deus) já o considerava de antemão perdido. Deus deve prometer que Jó não será sobrecarregado com o seu divino poder («mão») que deixa desarmado e impotente todo aquele que o toca (cf. Ex 23,27). Com esta condição Jó aceitaria comparecer diante de Deus como acusado. (13,22a), ou como demandante (13,22b). Jó se dá conta de sua insensata confiança e rapidamente volta a se lamentar. Sente-se num beco sem saída: Deus está longe demais (13,24a) ou muito próximo (13,24b). Sua situação vem graficamente expressa (em hebraico), com um jogo de palavras: Deus está tratando Jó (´ivyob) como um inimigo (óyeb), e esta é a fonte de sua constante aflição. Certamente que Jó não pode se considerar sem pecado (13, 26), mas, qualquer que seja a sua culpa, seu sofrimento é desproporcional em relação a ela. Seu lamento desvela o lado escuro da existência detendo-se em dois aspectos: a vida humana é frágil e transitória (14,1-6) e não há qualquer esperança de vida após a morte (14,7-22). Morremos, e aí tudo termina. Apenas dor e agitação interna acompanham o aflito em sua solidão (14,18-22). Com esta funesta nota de desespero chega ao fim essa primeira série de discursos. Para os amigos, é a justiça de Deus que está em jogo; para Jó é a integridade de sua experiência. Aqueles tomaram o partido de Deus, ou melhor, das ideias que fazem a respeito de Deus, que são as que, frequentemente, as «pessoas piedosas» confundem com o verdadeiro Deus. Jó se aferra à sua experiência e, o que é pior, se nega a ficar em silêncio.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Dia Internacional da Família recorda ao mundo a importância dessa instituição sagrada

REDAÇÃO CENTRAL, 15 Mai. 20 / 02:20 pm (ACI).- A família é a célula mãe da sociedade e a instituição sagrada “que garante uma sociedade justa, equilibrada e acima de tudo voltada para o amor”, afirmou o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Ricardo Hoepers, nesta sexta-feira, 15, pela ocasião do Dia Internacional da Família.
Em entrevista a ACI Digital Dom Ricardo destacou a importância de que os católicos recordem esta data instituída pela ONU, lembrando os últimos documentos da Igreja sobre a questão da família.
“São João Paulo II inclusive fez um Instituto da Família, com todos os cursos voltados para a pesquisa e para o aprofundamento das questões da família no mundo inteiro, tanto no ponto de vista teológico quanto social. Pela família perpassa todas as outras questões, tamanha é a força da família como célula da sociedade”, afirma o prelado.
“É na família que acontece o amor verdadeiro, gratuito e total do homem para com a mulher e de pais para com os filhos”, disse o bispo.
“A família para nós é um dom de Deus, é o núcleo onde a própria Santíssima Trindade quis se encarnar. Sempre invocamos a Sagrada Família com a oração: ‘Jesus, Maria e José, a nossa família vossa é’, tentando nos identificar plenamente com essa família. Deus, sendo Deus, se fez carne no seio de uma família e nos mostra a dignidade e a importância desse núcleo fundamental”, disse ainda Dom Ricardo.
O prelado reforçou que a família na Igreja é uma instituição sagrada e que somente através da família “a sociedade como um todo pode garantir o seu equilíbrio, a justiça, a solidariedade e a gratuidade”.
“Na família esses valores são intrínsecos. É nela que se aprende os maiores e mais importantes valores da vida e crescemos como seres humanos”, garantiu.
Assinalando também a importância da data e a família como lugar privilegiado da formação humana, a psicóloga clínica Sonia Nascimento, coordenadora do Grupo dos Psicólogos Católicos da Arquidiocese do Rio de Janeiro (GPC ArqRio), destacou que é no ambiente familiar que “o caráter de uma pessoa é formado”. 
Segundo a psicóloga, é a falta de estrutura e cuidado familiar que leva as pessoas a se envolverem com o que é supérfluo e raso, causando ainda inúmeros problemas sociais.
A psicóloga criticou particularmente a atitude permissiva de pais para com os filhos no contexto do consumismo e da busca exacerbada de conforto material que marca nossa época. “Nessa sociedade do espetáculo e do descartável, os pais que dão tudo para um filho, só para que ele não sofra, estão gerando que tipo de adulto no futuro? O ser humano precisa passar por dificuldades, receber ‘não’ de pai e mãe serve para valorizar o que vai além do que é material”, salientou.
Sonia Nascimento destacou que a responsabilidade de formar e educar um ser humano para o mundo não é tarefa fácil. Segundo ela, “os pais devem transmitir valores para os filhos” e enfatizou que “ter autoridade que é diferente de autoritarismo”.
“Eu e meu marido educamos nossa filha dando limites. É possível ser firme, ter autoridade sem precisar gritar. Os valores transmitidos são raízes que depois germinam”, concluiu a psicóloga.
O Dia Internacional da Família foi proposto em 1993 pela Organização das Nações Unidas (ONU) para celebrar as famílias no mundo inteiro, valorizando a importância e o papel da família na construção da sociedade. 
ACI Digital

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (2/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio

PRÓLOGO (1,1–2,13)

Um prólogo em prosa composto de cinco cenas alternadas entre o céu e a terra abre o livro apresentando o cenário e seus personagens. De um começo tranquilo e feliz passa rapidamente para o sofrimento e a confusão.

PRIMEIRA CENA – NA TERRA (1,1-5)

A figura de Jó parece ser a de um velho e lendário herói da fé (cfr. Ez 14,14-20). Uz está, certamente, localizada no vasto território que se desenrola a oeste do rio Jordão, mas é difícil precisar sua localização. Embora nosso herói não pertença ao povo de Israel é, no entanto, um modelo de vida virtuosa. O seu «temor de Deus» não é mera emoção servil, mas o fruto de uma fé obediente. No contexto teológico dos livros sapienciais, o temor de Deus é o princípio da sabedoria (cf. Jó 28, 28; Pr 1, 7, 9,10.) É a garantia de uma vida longa e feliz (Pr 3, 13-18). Assim, Jó é abençoado, bem como os seus filhos, gado e servos.

SEGUNDA CENA: NO CÉU (1,6-12)

O Senhor, como um rei que preside a sua corte, aparece rodeado pelos «filhos de Deus», os seus servos e cortesãos, entre os quais se encontra Satanás. Nem aqueles são os anjos da nossa teologia cristã, nem este é o diabo. Satanás, «o adversário» é o nome do ofício que desempenha, ou seja, de vagar pela terra em missão de espionagem. Deus está orgulhoso da integridade de Jó, mas Satanás mostra-se cético, e diante de toda a corte celestial sugere que Jó é um homem virtuoso e justo simplesmente por conta do que tem. Se viesse a perder tudo permaneceria ele o mesmo? No contexto de uma cultura de honra e vergonha, Deus, que estava sendo julgado em seu prestígio, permite que Satanás submeta Jó à prova.

TERCEIRA CENA: NA TERRA (1,13-22)

Em rápida sucessão vão chegando mensageiros que anunciam desastres. Forças destruidoras, naturais e humanas, que se aliam e se lançam sobre Jó, despojando-o de todos os seus bens. Com gestos dramáticos típicos de desespero e arrependimento, Jó rasga suas vestes, raspa sua cabeça (Is 15,2; Jr 7,29) é se lança ao chão. Porém, quando abre seus lábios é sempre para bendizer a Deus. A honra do Senhor está a salvo e Satanás vai sendo derrotado em sua insinuação.

QUARTA CENA: NO CÉU (2,1-6)

O Corte Celestial entra de novo em cena. O que Jó defende, ao longo de todo o livro, é claro para todos: não há nenhuma conexão entre a sua vida virtuosa e os seus sofrimentos. Satanás replica com um provérbio tão enigmático que não nos deixa saber o que ele quer propor. Parece insinuar uma aposta: se Jó for atacado em seu próprio corpo, certamente que irá proferir blasfêmias contra Deus.

QUINTA CENA: NA TERRA (2,7-13)

Jó é atacado por uma terrível e repulsiva enfermidade cuja descrição é demasiado genérica para ser diagnosticada. A tradição bíblica sapiencial reconhece e elogia a mulher sábia (Pr 31,10-31), mas a mulher de Jó só lhe dá conselhos estúpido. Não obstante, Jó não será levado a proferir blasfêmias, «apesar de tudo isso Jó não pecou com seus lábios» (10). Três amigos recebem a notícia da situação de Jó e, movidos de compaixão, reúnem-se lá em suas terras distantes – que não é possível localizar com precisão – e partem para levar conforto ao amigo. Ao chegar, vendo o estado de Jó, também eles explodem em lamentações e, juntando-se a ele, sentam-se ao seu lado na poeira em silêncio. E assim chega ao seu final o prólogo. O cenário está completo: Jó, sentado na poeira; Deus do céu, olha atentamente. Façam suas apostas! O que dirá Jó? A audiência: Deus, os amigos e nós, e nós, os leitores, esperamos ansiosamente.

MONÓLOGO DE JÓ: LAMENTAÇÃO (3,1-26)

A proverbial «paciência de Jó» termina dramaticamente aqui para não reaparecer mais; numa onda de lamentos lançados sobre todos e sobre ninguém (3,1-10) Jó amaldiçoa o dia e a noite. Não amaldiçoa Deus, mas o dia em que nasceu e a noite em que foi concebido, desejando que esse dia se tornasse noite e aquela noite que fosse apagada do calendário. A tradução e significado do versículo 8 são incertos.

DESEJO DE MORRER (3,11-19)

Jó invocou as trevas; agora invoca também a morte. Aparecem aqui as duas características das lamentações: o «por quê» (Cf Sl 22,2), que implica «não compreendo que seja assim»; e a fixação no «eu» (cfr. Sl 77,1-6). Diante de sofrimento tão intenso é difícil olhar para fora de si mesmo. Jó anseia pela morte, a que torna todos iguais, para encontrar repouso.

LIVRA-ME DEUS! (3,20-26)

O grito de «Por quê?» aparece novamente no verso 23b, mas desta vez com um forte acento irônico. Em 1,10, Satanás havia reprovado a Deus por ter «cercado» Jó, sua casa e seu trabalho de bênçãos; Aqui, Jó usa a mesma palavra para lamentar-se por estar sendo agora encurralado por Deus.

Santo Isidoro Lavrador

Isidoro nasceu em Madri, na Espanha, em 1070, filho de pais camponeses, simples e seguidores de Cristo. O menino cresceu sereno, bondoso e muito caridoso, trabalhando com os familiares numa propriedade arrendada. Levantava muito cedo para assistir a missa antes de seguir para o campo. Quando seus atos de fé começaram a se destacar, já era casado com Maria Toríbia e pai de um filho.

Sua notoriedade começou quando foi acusado de ficar rezando pela manhã, na igreja, em vez de trabalhar. De fato, tinha o hábito de parar o trabalho uma vez ao dia para rezar, de joelhos, o terço. Mas isso não atrapalhava a produção, porque depois trabalhava com vontade e vigor, recuperando o tempo das preces. Sua bondade era tanta que o patrão nada lhe fez.
Não era só na oração que Isidoro se destacava. Era tão solidário que dividia com os mais pobres tudo o que ganhava com seu trabalho, ficando apenas com o mínimo necessário para alimentar os seus. Quando seu filho morreu, ainda criança, Isidoro e Maria não se revoltaram, ao contrário, passaram a se dedicar ainda mais aos necessitados.
Isidoro Lavrador morreu pobre e desconhecido, no dia 15 de maio de 1130, em Madri, sendo enterrado sem nenhuma distinção. A partir de então começou a devoção popular. Muitos milagres, atribuídos à sua intercessão, são narrados pela tradição do povo espanhol. Quarenta anos depois, seu corpo foi trasladado para uma igreja.
Humilde e incansável foi esse homem do campo, e somente depois de sua morte, e com a devoção de todo o povo de sua cidade, as autoridades religiosas começaram a reconhecer o seu valor inestimável: a devoção a Deus e o cumprimento de seus mandamentos, numa vida reta e justa, no seguimento de Jesus.
Foi o rei da Espanha, Filipe II, que formalizou o pedido de canonização do santo lavrador, ao qual ele próprio atribuía a intercessão para a cura de uma grave enfermidade. Em 1622, o papa Gregório XV canonizou santo Isidoro Lavrador, no mesmo dia em que santificou Inácio de Loyola, Francisco Xavier, Teresa d’Ávila e Filipe Néri.
Hoje, ele é comemorado como protetor dos trabalhadores do campo, dos desempregados e dos índios. Enfim, de todos aqueles que acabam sendo marginalizados pela sociedade em nome do progresso. Santo Isidoro Lavrador é o padroeiro de Madri.
A Igreja também celebra hoje a memória dos santos: Cássia, Dionísia e Torquato.

Papa Francisco adverte sobre as pandemias da fome a da guerra

Papa Francisco na Missa da casa Santa Marta. Foto: Vatican Media
Vaticano, 14 Mai. 20 / 12:36 pm (ACI).- Nesta quinta-feira, 14 de maio, dia de oração, jejum e misericórdia para rezar pelo fim do coronavírus, o Papa Francisco destacou que, além da pandemia de saúde, existem outras pandemias no mundo.
Tanto na intenção de oração da Missa da manhã como durante a sua homilia, o Pontífice pediu orações pelo fim da pandemia e pediu as orações dos católicos por isso.  
No entanto, o Papa Francisco assinalou que existem outras pandemias no mundo, como a da guerra, a da fome e, inclusive, a pandemia "moral".
Em sua homilia, o Santo Padre refletiu sobre a primeira leitura da Missa, do Livro de Jonas, na qual o profeta convida o povo de Nínive a se converter para não sofrer a destruição da cidade. Nínive se converteu e a cidade foi salva de uma pandemia, talvez "uma pandemia moral", afirmou o Papa.
"Isso deveria nos levar a pensar nas outras pandemias do mundo. Há muitas pandemias! A pandemia das guerras, da fome e muitas outras”, advertiu Francisco, que quis citar "uma estatística oficial dos primeiros quatro meses deste ano, que não fala da pandemia do coronavírus, fala de outra. Nos primeiros quatro meses deste ano morreram de fome 3 milhões e 700 mil pessoas. Existe a pandemia da fome. Em quatro meses, quase 4 milhões de pessoas”, afirmou o Santo Padre.
Nesta linha, o Pontífice explicou que “esta oração de hoje para pedir que o Senhor detenha esta pandemia nos deve levar a pensar nas outras pandemias do mundo. Há muitas pandemias! A pandemia das guerras, da fome e muitas outras".
“Mas o importante é que, hoje - juntos e graças à coragem que o Alto Comitê para a Fraternidade Humana teve, juntos fomos convidados a rezar cada um segundo a própria tradição e a fazer um dia de penitência de jejum e também de caridade, de ajuda aos outros. Isso é importante!”, frisou.
A fé e a oração movem montanhas
Da mesma forma, o Santo Padre descreveu que, no livro de Jonas, “ouvimos que o Senhor, quando viu como o povo tinha reagido – que tinha se convertido –, o Senhor cessou, desistiu daquilo que Ele queria fazer. Que Deus detenha esta tragédia, que detenha esta pandemia".
Nesse sentido, o Papa Francisco reconheceu que “nós não esperávamos esta pandemia, veio sem que nós a esperássemos, mas agora está aí. E muitas pessoas morrem. E muitas pessoas morrem sozinhas e muita gente morre sem poder fazer nada".
Mas advertiu sobre o pensamento de "mas não me diz respeito, graças a Deus me salvei”. Mas pense nos outros! Pense na tragédia e também nas consequências econômicas, nas consequências sobre a educação, as consequências... naquilo que virá depois ”
"Por esta razão, hoje, todos nós, irmãos e irmãs de todas as tradições religiosas, rezamos a Deus", pedindo para que "Deus detenha esta tragédia, que detenha esta pandemia. Que Deus tenha piedade de nós e que cesse também as outras pandemias tão ruins: a da fome, a da guerra, a das crianças sem instrução. E peçamos isso como irmãos, todos juntos. Que Deus nos abençoe a todos e tenha piedade de nós”.
ACI Digital

106ª Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado: Mensagem do Papa Francisco

O Papa Francisco. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa
Vaticano, 15 Mai. 20 / 08:30 am (ACI).- O Vaticano divulgou nesta sexta-feira 15 de maio a Mensagem do Papa Francisco para a 106ª Jornada Mundial do Migrante e do Refugiado que se celebrará o próximo 27 de setembro com o lema “Como Jesus Cristo, obrigados a fugir. Acolher, proteger, promover e integrar aos deslocados internos”.
Confira na Íntegra a Mensagem do Santo Padre para o 106º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado:
27 de setembro de 2020
Forçados, como Jesus Cristo, a fugir. Acolher, proteger, promover e integrar os deslocados internos.
No discurso que dirigi, nos primeiros dias deste ano, aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, mencionei entre os desafios do mundo contemporâneo o drama dos deslocados dentro da própria nação: «Os conflitos e as emergências humanitárias, agravadas pelas convulsões climáticas, aumentam o número dos deslocados e repercutem-se sobre as pessoas que já vivem em grave estado de pobreza. Muitos dos países atingidos por estas situações carecem de estruturas adequadas que permitam atender às necessidades daqueles que foram deslocados» (9/I/2020).
A Secção «Migrantes e Refugiados» do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral publicou as Orientações Pastorais sobre as Pessoas Deslocadas Internamente (5/V/2020), um documento que visa inspirar e animar as ações pastorais da Igreja nesta área em particular.
Por tais razões, decidi dedicar esta Mensagem ao drama dos deslocados dentro da nação, um drama – muitas vezes invisível – que a crise mundial causada pela pandemia do Covid-19 exacerbou. De facto, esta crise, devido à sua veemência, gravidade e extensão geográfica, redimensionou tantas outras emergências humanitárias que afligem milhões de pessoas, relegando para um plano secundário, nas Agendas políticas nacionais, iniciativas e ajudas internacionais, essenciais e urgentes para salvar vidas. Mas, «este não é tempo para o esquecimento. A crise que estamos a enfrentar não nos faça esquecer muitas outras emergências que acarretam sofrimentos a tantas pessoas» (FRANCISCO, Mensagem Urbi et Orbi, 12/IV/2020).
À luz dos acontecimentos dramáticos que têm marcado o ano de 2020 quero, nesta Mensagem dedicada às pessoas deslocadas internamente, englobar todos aqueles que atravessaram e ainda vivem experiências de precariedade, abandono, marginalização e rejeição por causa do vírus Covid-19.
E, como ponto de partida, gostaria de tomar o mesmo ícone que inspirou o Papa Pio XII ao redigir a constituição apostólica Exsul Familia (1/VIII/1952): na sua fuga para o Egito, o menino Jesus experimenta, juntamente com seus pais, a dramática condição de deslocado e refugiado «marcada por medo, incerteza e dificuldades (cf. Mt 2, 13-15.19-23). Infelizmente, nos nossos dias, há milhões de famílias que se podem reconhecer nesta triste realidade. Quase todos os dias, a televisão e os jornais dão notícias de refugiados que fogem da fome, da guerra e doutros perigos graves, em busca de segurança e duma vida digna para si e para as suas famílias» (FRANCISCO, Angelus, 29/XII/2013).
Em cada um deles, está presente Jesus, forçado – como no tempo de Herodes – a fugir para Se salvar. Nos seus rostos, somos chamados a reconhecer o rosto de Cristo faminto, sedento, nu, doente, forasteiro e encarcerado que nos interpela (cf. Mt 25, 31-46). Se O reconhecermos, seremos nós a agradecer-Lhe por O termos podido encontrar, amar e servir.
As pessoas deslocadas proporcionam-nos esta oportunidade de encontrar o Senhor, «mesmo que os nossos olhos sintam dificuldade em O reconhecer: com as vestes rasgadas, com os pés sujos, com o rosto desfigurado, o corpo chagado, incapaz de falar a nossa língua» (FRANCISCO, Homilia, 15/II/2019). É um desafio pastoral ao qual somos chamados a responder com os quatro verbos que indiquei na Mensagem para este mesmo Dia de 2018: acolher, proteger, promover e integrar. A eles, gostaria agora
de acrescentar seis pares de verbos que traduzem ações muito concretas, interligadas numa relação decausa-efeito. É preciso conhecer para compreender. O conhecimento é um passo necessário para a compreensão do outro. Assim no-lo ensina o próprio Jesus no episódio dos discípulos de Emaús: «Enquanto [estes] conversavam e discutiam, aproximou-Se deles o próprio Jesus e pôs-Se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de O reconhecer» (Lc 24, 15-16).
Frequentemente, quando falamos de migrantes e deslocados, limitamo-nos à questão do seu número. Mas não se trata de números; trata-se de pessoas! Se as  encontrarmos, chegaremos a conhecê-las. E conhecendo as suas
histórias, conseguiremos compreender. Poderemos compreender, por exemplo, que a precariedade, que estamos dolorosamente a experimentar por causa da pandemia, é um elemento constante na vida dos deslocados.
É necessário aproximar-se para servir. Parece óbvio, mas muitas vezes não o é. «Um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele [do homem espancado e deixado meio-morto] e, vendo-o, encheu-se de compaixão. Aproximou-se, ligou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho, colocou-o sobre a sua própria montada, levou-o para uma estalagem e cuidou dele» (Lc 10, 33-34). Os receios e os preconceitos – tantos preconceitos – mantêm-nos afastados dos outros e, muitas vezes, impedem de «nos aproximarmos» deles para os servir com amor. Abeirar-se do próximo frequentemente significa estar dispostos a correr riscos, como muitos médicos e enfermeiros nos ensinaram nos últimos meses.
Aproximar-se para servir vai além do puro sentido do dever; o maior exemplo disto, deixou-no-lo Jesus, quando lavou os pés dos seus discípulos: tirou o manto, ajoelhou-Se e pôs mãos ao humilde serviço (cf. Jo 13, 1-15).
Para reconciliar-se é preciso escutar. No-lo ensina o próprio Deus que quis escutar o gemido da humanidade com ouvidos humanos, enviando o seu Filho ao mundo: «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito, (…) para que o mundo seja salvo por Ele» (Jo 3, 16.17). O amor, que reconcilia e salva, começa pela escuta. No mundo de hoje, multiplicam-se as mensagens, mas vai-se perdendo a atitude de escutar. É somente através da escuta humilde e atenta que podemos chegar verdadeiramente a reconciliar-nos. Durante semanas neste ano de 2020, reinou o silêncio nas nossas ruas; um silêncio dramático e inquietante, mas que nos deu ocasião para ouvir o clamor dos mais vulneráveis, dos deslocados e do nosso planeta gravemente enfermo. E, escutando, temos a oportunidade de nos reconciliar com o próximo, com tantas pessoas descartadas, connosco e com Deus, que nunca Se cansa de nos oferecer a sua misericórdia.
Para crescer é necessário partilhar. A primeira comunidade cristã teve, na partilha, um dos seus elementos basilares: «A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma.
Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum» (At 4, 32). Deus não queria que os recursos do nosso planeta beneficiassem apenas alguns. Não, o Senhor não queria isso!
Devemos aprender a partilhar para crescermos juntos, sem deixar ninguém de fora. A pandemia veio-nos recordar que estamos todos no mesmo barco. O facto de nos depararmos com preocupações e temores comuns demonstrou-nos mais uma vez que ninguém se salva sozinho. Para crescer verdadeiramente, devemos crescer juntos, partilhando o que temos, como aquele rapazito que ofereceu a Jesus cinco pães de cevada e dois peixes (cf. Jo 6, 1-15); e foram suficientes para cinco mil pessoas…
É preciso coenvolver para promover. Efetivamente, assim procedeu Jesus com a mulher samaritana (cf. Jo 4, 1-30). O Senhor aproxima-Se, escuta-a, fala-lhe ao coração, para então a guiar até à verdade e torná-la anunciadora da boa nova: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz! Não será Ele o Messias?» (4, 29). Por vezes, o ímpeto de servir os outros impede-nos de ver a sua riqueza íntima.
Se queremos verdadeiramente promover as pessoas a quem oferecemos ajuda, devemos coenvolvê-las e torná-las protagonistas da sua promoção. A pandemia recordou-nos como é essencial a corresponsabilidade, pois só foi possível enfrentar a crise com a contribuição de todos, mesmo de categorias frequentemente subestimadas. Devemos «encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade» (FRANCISCO, Meditação na Praça de São Pedro, 27/III/2020).
É necessário colaborar para construir. Isto mesmo recomenda o apóstolo Paulo à comunidade de Corinto: «Peço-vos, irmãos, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que estejais todos de acordo e que não haja divisões entre vós; permanecei unidos num mesmo espírito e num mesmo pensamento» (1 Cor 1, 10). A construção do Reino de Deus é um compromisso comum a todos os cristãos e, para isso, é necessário que aprendamos a colaborar, sem nos deixarmos tentar por invejas, discórdias e divisões. No contexto atual, não posso deixar de reiterar que «este não é tempo para egoísmos, pois o desafio que enfrentamos nos une a todos e não faz distinção de pessoas» (FRANCISCO, Mensagem Urbi et Orbi, 12/IV/2020). Para salvaguardar a Casa Comum e torná-la cada vez mais parecida com o plano original de
Deus, devemos empenhar-nos em garantir a cooperação internacional, a solidariedade global e o compromisso local, sem deixar ninguém de fora.
Quero concluir com uma oração inspirada no exemplo de São José, particularmente quando foi forçado a fugir para o Egito a fim de salvar o Menino:
«Pai, confiastes a São José o que tínheis de mais precioso: o Menino Jesus e sua mãe, para os proteger de perigos e ameaças dos malvados. 
Concedei-nos, também a nós, a graça de experimentar a sua proteção e ajuda. Tendo ele provado o sofrimento de quem foge por causa do ódio dos poderosos, fazei que possa confortar e proteger todos os irmãos e irmãs que, forçados por guerras, pobreza e carências, deixam a sua casa e a sua terra a fim de se lançarem ao caminho como refugiados rumo a lugares mais seguros. Ajudai-os, pela sua intercessão, a terem força para prosseguir, conforto na tristeza, coragem na provação.
Dai a quem os recebe um pouco da ternura deste pai justo e sábio, que amou Jesus como um verdadeiro filho e amparou Maria ao longo do caminho. 
Ele, que ganhou o pão com o trabalho das suas mãos, possa prover àqueles a quem a vida tudo levou, dando-lhes a dignidade dum trabalho e a serenidade duma casa.
Nós Vo-lo pedimos por Jesus Cristo, vosso Filho, que São José salvou fugindo para o Egito, e por intercessão da Virgem Maria, a quem ele amou como esposo fiel segundo a vossa vontade. Amen».
Roma, em São João de Latrão, na Memória de Nossa Senhora de Fátima, 13 de maio de 2020.
FRANCISCO
ACI Digital

quinta-feira, 14 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (1/6)


Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio


CONSIDERAÇÕES GERAIS

Jó é um dos livros sapienciais do Antigo Testamento e da Tanak. Vem depois do Livro de Ester e antes do Livro de Salmos. É considerado obra prima da literatura do movimento de Sabedoria, ou Sapiencial. Também é considerada uma das mais belas histórias de prova e fé. Conta a história de Jó, um homem justo e temente a Deus. As inúmeras exegeses presentes neste livro são tentativas clássicas para conciliar a coexistência do mal e de Deus (teodicéia). A época em que se desenrolam os fatos, ou quando este livro foi redigido, é controverso. Existe uma famosa discussão no Talmud a este respeito. A autoria de Jó é incerta. Alguns eruditos atribuem o livro a Moisés. Outros atribuem a um dos antigos sábios, cujos escritos podem ser encontrados em Provérbios ou Eclesiastes. Há ainda os que defendam que o próprio Salomão tenha sido seu autor. Por alguns, o livro de Jó é considerado o livro mais antigo da Bíblia, mais até que o livro de Gênesis. Por outro lado, a Edição Pastoral da Bíblia sustenta que o livro provavelmente tenha sido redigido, em sua maior parte, durante o exílio, no século VI AC. A Bíblia de Jerusalém sustenta que o livro seja posterior a Jeremias e Ezequiel, ou seja, escrito em uma época posterior ao Exílio na Babilônia, considerando provável que sua composição seja no início do séc. V aC.

INTRODUÇÃO

O livro de Jó é um drama com pouquíssima ação, mas com muita paixão. É a paixão que um autor genial, inconformado, infundiu em seu protagonista. Discordando da doutrina tradicional da retribuição, opõe a um princípio, um fato; a uma ideia, um homem. Já o Salmo 73 (72) contrapôs a experiência à teoria da retribuição e encontrou a resposta penetrando no «mistério de Deus». Nosso autor radicaliza o caso: faz sofrer o seu protagonista inocente para que seu grito brote «das profundezas». A paixão e o sofrimento de Jó inflamam o entusiasmo de sua busca e de sua linguagem; diante dela vão se projetando, como em ondas concêntricas, os seus três amigos que repetem incansavelmente e com variações a doutrina tradicional da retribuição: «o sofrimento é a consequência do pecado».
A ação é muito simples: entre um prólogo e um epílogo, cujas cenas se desenrolam entre o céu e a terra, quatro sessões de diálogos se desenvolvem. Por três vezes, cada um dos amigos fala e Jó responde; na quarta vez é Jó quem entra num diálogo solitário com Deus. Nos diálogos com os amigos, mais que um debate intelectual, se produz uma tensão de planos ou direções: os amigos defendem a justiça de Deus, como juiz imparcial que recompensa o bem e pune o mal. Mas Jó não está interessado na justiça de Deus, que sua própria experiência desmente, e apela para um pleito ou disputa com o próprio Deus no qual se manifestará a justiça do homem. Nesse embate para provar a sua inocência diante de Deus, Jó arrisca sua própria vida. Deus, como instância suprema, decide a disputa entre Jó e seus amigos como parte interpelada, responde e pergunta a Jó para conduzi-lo ao seu «Mistério».

DEUS E O SER HUMANO NO LIVRO DE JÓ

Através dos diálogos do homem bom, convencional, que dá graças a Deus porque tudo vai bem, surge um homem profundo, capaz de assumir e representar a humanidade sofredora, que busca audaciosamente a Deus. No lugar de um Deus sábio e até mesmo compreensível, surge um Deus imprevisível, difícil e misterioso. No espaço de um só livro, o nosso conhecimento de Deus, do ser humano e de suas relações, assume novas proporções. Porque Jó, como um outro Jacó em sua visão noturna, também lutou com Deus; porque o autor empenhou seu gênio literário e religioso para sacudir com os velhos esquemas, explorando o tema em profundidade. O livro de Jó é um livro singularmente atual e provocativo, que causa desconforto aos instalados e conformistas. É quase impossível não ser interpelado por sua leitura, e difícil de compreendê-lo se não se toma um partido.
O autor é um gênio anônimo que viveu provavelmente depois do Exílio, alimentou sua espiritualidade na recitação de Salmos e conheceu a obra de Jeremias e Ezequiel. A representação sacra de Jó é demasiado poderosa para admitir leitores indiferentes, ontem como hoje. Os que em sua leitura não interagem com suas perguntas e respostas internas, os que não tomem partido com paixão, não vão entender o drama; porém, os que se embrenharem na trama da narrativa e tomarem partido, se sentirão sob o olhar de Deus, submetidos à prova pela representação do drama eterno do homem Jó.

SIGNIFICADO DO LIVRO DE JÓ: O PROBLEMA DO SOFRIMENTO DO INOCENTE

Este importante tema constitui a substância do debate entre Jó e seus amigos. O sofrimento, dizem eles, é o castigo que o pecado produz (4,7; 8,20; 11,4-6; 22,4s). Quando Jó, com base em sua própria experiência, rejeita essa afirmação, os amigos respondem que todos os seres humanos são pecadores (14,1-4; 15, 14; 25,4-6). Eles negam a possibilidade de existir alguém que sofra inocentemente. A situação, no entanto, é mais complicada e encaminha a outras respostas. O sofrimento é um mistério e nós não podemos compreender os caminhos de Deus (11,7-10; 15,8s.28; 42,3). O sofrimento é permitido por Deus para nos impor disciplina e tornar-nos melhores (5,17s; 36,15). O sofrimento é permitido por Deus para provar a virtude dos justos (1-2). Todas estas respostas nos permitem salvaguardar tanto a justiça divina como a inocência humana. No entanto, por mais que este aspecto se mostre predominante, não parece que seja este o principal propósito do livro. Se por um lado parece evidente a resposta para o caso que Jó coloca - seus sofrimentos são uma prova (1,9)-, por outro, não há qualquer resposta para o problema no contexto do livro. Se a finalidade da obra fosse apenas essa, poderíamos considera-la como um fracasso.

O MISTÉRIO DO SOFRIMENTO E A RELAÇÃO COM DEUS

Um primeiro enfoque nos leva a ver o sofrimento como um problema que deve ser tratado em um nível intelectual. Um problema é algo que está aí, diante de nós, na nossa frente. Podemos ver todos os seus componentes, todas as suas dimensões. A questão consiste em colocar todas as peças juntas para dar sentido a esse quebra-cabeça. Pelo contrário, o mistério é uma situação em que «eu», enquanto pessoa humana irrepetível e única, encontro-me tão imerso que não posso distanciar-me dele o suficiente para contempla-lo «lá, além de mim». O amor é um mistério, assim como a morte e o sofrimento. Os problemas estão aí para serem resolvidos enquanto que os mistérios são para serem vividos, e vividos na relação com os outros. A maior angústia de Jó emerge da confusão sobre a sua relação com Deus. Deus é realmente seu inimigo? (13,24). A partir desta perspectiva, os discursos do Senhor oferecem realmente uma resposta. A simples resposta do Senhor mostra claramente que ele estava aí o tempo todo, presente, ouvindo; isto é, mantendo e afirmando uma relação. Ainda que Jó não entenda jamais os motivos de seu sofrimento, sabe agora que não está sozinho, e isso lhe dá força para suportar a luta. E assim, o ponto de vista do livro é menos uma questão de teologia e mais um mistério da fé: a nossa relação existencial com Deus.

JÓ COM RETIDÃO A MEU RESPEITO

Esta poderosa e irônica afirmação do Senhor (42,7s) nos coloca diante de outro aspecto. Ao longo de todo o livro, a chave era o que Jó diria em meio às adversidades. Irá blasfemar flagrantemente contra Deus como Satanás havia predito duas vezes? (1.11, 2.5). Não! Jó acusa seus amigos de falarem falsamente de Deus (13,7-9), enquanto ele recusa ser silenciado (7,11; 10,1; 13,13; 27,4) até que tenha dito tudo o que tinha a dizer (31,35). Para neutralizar os desafios de Satanás no prólogo, o Senhor afirma duas vezes, no epílogo, que Jó havia falado corretamente a seu respeito (42,7s). O que se pode entender por «corretamente»? Gramaticalmente, a palavra pode ser usada como advérbio (de maneira correta) ou como substantivo (coisas justas). O sentido do texto se estende aos dois significados. Em primeiro lugar, Jó falou de maneira adequada. Ele lamentou, discutiu, chegou mesmo a desafiar a Deus. Apesar da constante pressão contrária, manteve firmemente a integridade de sua experiência, pois era tudo o que lhe restava. A Deus não se serve com mentiras, por mais bem intencionadas (13,7-9). Jó sabe instintivamente que toda a sã relação com Deus só pode ser baseada na verdade. Porém, em segundo lugar, Jó também falou «coisas justas»", isto é, foi capaz de intuir e afirmar a presença de um mistério. Deus e nossa relação com ele são realidades por demasiado grandes e profundas para serem reduzidas ou abarcadas pela razão humana. Os discursos do Senhor (38-41) deixaram isso bem claro. E Jó, envolto na experiência do mistério, deixou espaço para a liberdade de Deus. Os amigos, pelo contrário, não acolheram o mistério, por isso falsearam a Deus e a Jó. Caíram no permanente perigo de muitos pseudo-religiosos, de ontem e de hoje: buscar no passado todas as referências sobre Deus, sem perceber que o Deus bíblico está sempre nos surpreendendo e impulsionando para a novidade do futuro (cf. Gn 12 1-3). É nessa fronteira misteriosa da novidade e da surpresa o lugar onde Deus esperava por seu amigo, e seu amigo não falhou. Jó falou de sua experiência pessoal (Mistério) com honestidade e justiça, e por causa disso foi capaz de falar de Deus da mesma forma. Em suma, Jó se comportou como um homem de fé. Seus amigos se revelaram pessoas apenas superficialmente piedosas.

O SIGNIFICADO DA AMIZADE

Uma dimensão final do livro é o papel e a valor da amizade. Em primeiro lugar, está o exemplo negativo dos amigos. Movidos por uma genuína simpatia, deixam suas terras distantes e vem para estar junto de Jó. Vendo o amigo naquelas condições, sentam-se ao seu lado e compartilham do atormentado (e sábio, 13.5) silêncio. Mas, tão logo Jó começa a falar, suas palavras soam tão ofensivas que seus amigos mostram-se prontos a sair em defesa de Deus. Cabe a pergunta: seria mesmo em defesa de Deus ou de suas ideias preconcebidas a respeito de Deus? Mesmo nas condições mais extremas, um amigo deve lealdade a seus amigos (6,14). Jó lamenta não encontra-la nos seus (6,13-27), e, por isso, anseia por alguém em quem se apoiar; primeiro, um juiz imparcial (9.33); depois, um mediador (16,19); finalmente um defensor (19,25). Mas não pode contar com ninguém. «Tornei-me irmão dos chacais e companheiro dos avestruzes. (30,29). Pelo contrário, Jó sempre se comportou como um amigo para os necessitados e oprimidos e perdoou as penas dos outros (30,24s). Sofar de Naamã havia dito anteriormente que se arrependera; e assim alcançaria a prosperidade, e os outros viriam a ele pedindo-lhe sua intercessão (11,19). No final (42,7-9) são os três amigos que vêm a Jó pedindo-lhe que interceda por eles. E Jó o faz em fidelidade à verdadeira amizade, evitando assim o castigo que tinham merecido. A importante mensagem que o livro de Jó nos traz diz respeito a experiência humana desses tempos remotos. Na pessoa de Jó vemos refletidos nossas próprias experiências de sofrimento, dúvidas e conflitos. Mas a vantagem que temos sobre o nosso herói é que nós podemos contar com um amigo: o autor do livro, por cuja boca fala-nos o verdadeiro amigo que está sempre do nosso lado e cuja lealdade nunca falha: Deus. A voz do autor, eco da voz de Deus, constitui parte da sabedoria que temos recebido das «gerações passadas» (8,8). Se nos rendemos à «ortodoxia» dos nossos tempos, falseamos nossa experiência e, por conseguinte, também a Deus; e «a Deus não se serve com mentiras» (13,6-9).

Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade” (Parte 3/5): ponto 3


Apologética

3. TEXTOS PARALELOS RELACIONADOS COM 1TIMÓTEO 3,15
Uma vez vistos os dois pontos anteriores, creio ser necessário ver esse mesmo ensinamento contido em passagens paralelas, as quais reforçarão ainda mais tudo o que dissemos até agora.
  • “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos Apóstolos e dos Profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra angular; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor” (Efésios 2,19-21).
1Timóteo 3,15 define diretamente “Casa de Deus” como “a Igreja do Deus vivo”. Portanto, sabemos que Efésios 2,19-21 se refere também à Igreja, ainda que esta palavra não esteja presente. Em 1Timóteo, a Igreja é “a coluna e o fundamento da Verdade”; aqui, próprio do “fundamento” da Igreja são “os Apóstolos e os Profetas, sendo Jesus Cristo a principal pedra angular”. Considere, então, que temos conceitos estreitamente relacionados, embora não idênticos. O fundamento da mesma Igreja é Jesus, os Apóstolos e os Profetas.
Jesus é a [principal] pedra angular da Igreja. A Igreja é também identificada com o próprio Jesus, ao ser chamada de “seu Corpo” (cf. Atos 9,5; 22,4; 26,11; 1Coríntios 12,27; Efésios 1,22-23; 4,14;5,23.30; Colossenses 1,24). Logo, se a Igreja está intimamente relacionada com Jesus, este é um forte argumento em si mesmo de que é infalível e sem erro, já que este também é o caso de Jesus.
Em segundo lugar, os Apóstolos e os Profetas (sobre os quais a Igreja também está edificada, cf. Efésios 2,20) não erraram: eles também eram infalíveis ao proclamarem sua autoridade de maneira oral (os Profetas) ou escrevendo a Revelação inspirada (o Novo Testamento, escrito pelos Apóstolos), ou quando infalivelmente proclamaram o Evangelho e outros ensinamentos da Tradição cristã.
Portanto, é indiscutível que devemos concluir que se a Igreja é o fundamento da Verdade, a Igreja deve ser infalível, visto que a Verdade é infalível e o fundamento não pode ser menor e menos forte do que aquilo que se edifica sobre ele. Se a Verdade é infalível (como de fato é), seu “fundamento” também deve ser. A verdade não pode ser edificada sobre qualquer espécie de erro, porque tornaria a base mais frágil do que a super-estrutura que se ergue acima dela, o que constituiria uma antítese.
Pois bem: não apenas se deduz esta ideia do texto de 1Timóteo como temos ainda outros textos que nos ensinam a mesma coisa:
  • “Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela; e eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mateus 16,18-19).
  • “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, ganhaste a teu irmão; mas, se não te ouvir, leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda a palavra seja confirmada. E, se não as escutar, dize-o à Igreja. E, se também não escutar a Igreja, considera-o como um gentio e publicano” (Mateus 18,15-17).
  • “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido” (2Timóteo 3,14).
  • “Na verdade pareceu bem ao Espírito Santo e a nós, não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias” (Atos 15,28).
  • “Pareceu-nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns homens e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que já expuseram as suas vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Atos 15,25-26).
  • “Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos, com toda a Igreja, eleger homens dentre eles e enviá-los com Paulo e Barnabé a Antioquia, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, homens distintos entre os irmãos” (Atos 15,22).
  • “E, quando iam passando pelas cidades, lhes entregavam, para serem observados, os decretos que haviam sido estabelecidos pelos apóstolos e anciãos em Jerusalém” (Atos 16,4).
  • “Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lucas 10,16).
  • “Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mateus 10,20).
  • “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14,16-18).
  • “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” (João 14,26).
Todas estas citações nos ensinam o mesmo que defendemos até agora: a Igreja é infalível! Creio ser conveniente enumerar as doutrinas expostas nessas passagens:
  1. A Igreja tem a autoridade suprema conferida por Deus para guiar, ligar, desligar e estabelecer sentenças e juízos definitivos sobre temas de fé e moral (cf. Mateus 16,18;18,15-17);
  2. A Igreja é infalível quanto aos seus ensimentos, já que os seus líderes também o são (cf. 1Timóteo 3,14; Lucas 10,16; Mateus 10,20);
  3. A Igreja é infalível porque nela encontra-se o Espírito da Verdade, que a sempre guia e protege de todo erro (cf. João 14,16-18; 14,26);
  4. A autoridade da Igreja resta refletida nos Concílios: o caso mais claro é o de Jerusalém, onde vemos como há unidade entre a Igreja e o Espírito Santo e, além disso, ordena-se observar as matérias nele estabelecidas (cf. Atos 15,22.25-26; 16,4).
Assim, vemos que não é errado interpretar 1Timóteo 3,15 como a infalibilidade da Igreja porque ela é o fundamento da Verdade de todo cristão. Esta interpretação está intimamente relacionada com os quatro pontos anteriormente expostos, já que nela há autoridade por ser a Casa de Deus, o Corpo de Cristo, e também porque Jesus concedeu a Pedro as chaves, de modo que seus líderes, Bispos e Cardeais unidos ao Papa, [bem como este último por si] são infalíveis uma vez que o Espírito Santo guia a Igreja e os mantém livres do erro. Ademais, como declara Mateus 10,20, o Espírito Santo fala através deles.
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF