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segunda-feira, 18 de maio de 2020

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (5/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio

TERCEIRA SESSÃO DE DISCURSOS (22,1–27,23)

As duas primeiras sessões discursos transcorre de modo ordenado: os amigos falam e Jó responde a cada um deles. A terceira, no entanto, aparece desordenada e confusa. Elifaz fala e Jó responde. O discurso de Bildad, de apenas cinco versículos, está provavelmente truncado; Sofar permanece em silêncio. E mais: parte do que diz Jó parece mais apropriado na boca de seus amigos. Os peritos ainda estão tentando chegar a uma conclusão coerente, mas dá a impressão de que Jó e seus amigos estão gritando, todos ao mesmo tempo, o que poderia ser muito provável no final de um «diálogo entre surdos» sobre a ordem cósmica e moral.

TERCEIRO DISCURSO DE ELIFAZ (22,1-30)

Elifaz reage à refutação de Jó e lhe acusa de uma série de pecados graves (6,11), justamente o que costumam fazer os poderosos contra os pobres e desamparados (8). No antigo Oriente Médio, as viúvas e os órfãos eram considerados os mais desvalidos e necessitados da sociedade, já que não tinham quem os defendesse diante de um tribunal. Ao longo do Antigo Testamento, o dever dos poderosos era o de estar do lado dos fracos e desamparados e estabelecer a justiça, não perverte-la. Elifaz persiste em seu discurso e, por último, convida Jó a que acerte ele mesmo as suas pendências com Deus (21-30). Se se arrepender, poderá novamente desfrutar da luz e do cuidado de Deus (28), e encerra assim a sua argumentação. Elifaz nos revela o triste retrato da degeneração a que pode chegar uma «pessoa religiosa», quando confunde seus pobres intentos de conhecer a Deus com a revelação mesma. É o que acontece frequentemente também em nossos dias. Seria demasiado ingênuo considerar que este seja apenas um problema do passado.

RESPOSTA DE JÓ A ELIFAZ (24,25)

Jó anseia de novo poder levar seu caso a um tribunal. Os versículos 23,3-7 abundam em terminologia jurídica. Curiosamente, parece que dispensa a ajuda de um mediador (árbitro, testemunha ou advogado), mas está disposto a conduzir ele mesmo o seu caso, convencido de que pode provar a sua inocência. Mas as coisas não são tão fáceis. Deus desapareceu (23,8s). A ironia de 23,10b chama a atenção: nós, os leitores, sabemos que Jó está sendo provado e que, finalmente, a justiça será feita; contudo, Jó atravessa a noite escura da alma. Ele se manteve completamente fiel, mas Deus tem seus caminhos misteriosos (23,11-14). Jó se pergunta porque Deus ainda não fixou uma data para se sentar no tribunal e tomar suas decisões (24,1). Retomando o tema da injustiça social, Jó descreve o comportamento dos malvados que oprimem os fracos e desvalidos (24,2-4); segue-se uma longa descrição da luta dos pobres pela própria sobrevivência. Novamente estamos diante de um problema de então que se repete diariamente em nossas ruas nos dias de hoje. A próxima unidade (24,13-17) é uma espécie de reflexão sapiencial sobre os dois caminhos, o da luz e o das trevas, focando melhor aqueles que amam as trevas. Dia e noite simbolizam as duas opções de vida. O assassino, o adúltero e o ladrão se protegem na escuridão para cometer seus crimes. Transtornando a ordem natural das coisas, o anoitecer é para eles como o amanhecer, quando despertam para realizar as obras do mal.

TERCEIRO DISCURSO DE BILDAD (25,1-6)

Bildade inicia suas alegações finais louvando a Deus Criador que estabelece a paz no céu. Os versículos seguintes (4-6) retornam ao tema familiar: todos os seres humanos estão corrompidos e cheios de iniquidade (4,17-21; 11,11; 15,14-16). A pretensa inocência de Jó é simplesmente impossível. Um ser humano inocente? Não existe tal coisa. Estas reflexões sobre a condição humana são as últimas palavras registradas dos amigos de Jó.

RESPOSTA FINAL DE JÓ (26,1–27,23)

Os dois capítulos seguintes são problemáticos; parecem mais o resultado de fragmentos posteriormente recolhidos e justapostos. Jó começa respondendo as provocações habituais de seus amigos e repreende-os valendo-se da abundância da clássica terminologia sapiencial, ou seja, conselhos, avisos e reflexões (26,2s). Eles se afastaram do autêntico caminho da sabedoria por não levar em consideração um fato fundamental: a experiência pela qual Jó está passando. A magnífica descrição da criação, que vem logo a seguir (26,5-14), poderia muito bem ser a continuação do hino ao Criador de Bildad (25,2-6). Tal como está o texto, dá a impressão que Jó tenha interrompido Bildad para concluir, ele mesmo, o hino iniciado por seu amigo, descrevendo a atividade criadora de Deus em termos que lembram Gn 1. Com um juramento solene, Jó continua, uma vez mais a insistir em sua inocência. É Deus quem lhe faz injustiça, mas, ao contrário de seus amigos, Jó não servirá a Deus com mentiras e falsidades (27,4;. Cf. 13,7-9). O fato de Jó insistir no que diz ser «minha justiça» não significa que não se reconheça pecador, mas que a sua posição é justa enquanto a de seus amigos é falsa (27,6). Os versículos seguintes (27,7-21) soam curiosamente como fora de lugar na boca de Jó. Eles parecem ser mais o eco daquilo que os amigos reprovam nele. Alguns especialistas tentaram reconstruir a partir deles um terceiro discurso perdido de Zofar. Buscando, no entanto, um sentido para este texto, tal como ele está, bem que poderia ser este: segundo a lei do antigo Israel, aquele que se reconhecesse culpado de falso testemunho contra um inocente, lhe seria imposta a mesma punição recebida pela parte inocente. É isso que Jó deseja aos seus pretensos amigos (27,7), explicitando depois os castigos com os quais eles o ameaçaram (27,8-23).

POEMA SOBRE A SABEDORIA (28,1-28)

Este capítulo não se encaixa muito bem no livro. A maioria dos especialistas concorda que se trata de uma composição independente. Sua função no texto seria a de uma interrupção, ou melhor ainda, um comentário editorial do narrador. O tema é tomado do refrão que se encontra em 12,20: «Onde se acha a sabedoria?». Às vezes, o texto hebraico é difícil. Em 28,1-12, a sabedoria não pode ser extraída da terra e muito menos ser comprada. Os seres humanos usam a imaginação e destreza para escavar e retirar da terra minerais valiosos: ouro, prata, cobre, ferro, pedras preciosas. No entanto, nessa busca toda por coisas preciosas, onde se pode encontrar a sabedoria? Nem os pássaros com vista penetrante, nem os animais que vagueiam pela terra, jamais a viram.

NADA NEM NINGUÉM NA CRIAÇÃO CONHECE O CAMINHO PARA A SABEDORIA (28,13-23)

Todo o esforço humano é inútil, e nada na criação pode servir de ajuda. A sabedoria é mais preciosa do que o ouro e a prata (cf. Pr 3, 14s) e de tudo o que possa ser encontrado em uma amostra de jóias (15-19). A busca por sabedoria se revela como uma tarefa impossível, porém, é assim realmente? 28,24-28 32 Deus faz conhecer o caminho. Só Deus, na plenitude do seu conhecimento e poder criativo, conhece o caminho da sabedoria. A atividade criadora de Deus é descrita pela primeira vez (28,3; 9,11). A associação entre a criação de conhecimento e sabedoria tradição percorre todo o Antigo Testamento (cf. Prov 3,18-20;. 8,22-31). É através da criação que Deus provê e nos abre o caminho para a sabedoria. Da mesma forma que a sabedoria humana se manifesta no comportamento dos seres humanos e da sabedoria de Deus é revelada em Sua atividade divina.

SÓ DEUS CONHECE O CAMINHO (28,24-28)

Só Deus, na plenitude de seu conhecimento e poder criador, conhece o caminho para a sabedoria. A atividade criadora de Deus é descrita por primeiro (28,3; 9,11). A relação entre criação e sabedoria percorre toda a tradição sapiencial do Antigo Testamento (cf. Pr 3,18-20;. 8,22-31). É por meio da criação que Deus estabelece, abre e revela o caminho para a sabedoria. Da mesma forma que a sabedoria humana se manifesta através do comportamento humano, assim também a sabedoria de Deus se revela em sua divina atividade. Se antes foi dito que a busca da sabedoria pelos seres humanos era uma empresa inútil, agora se diz que há um caminho que nos leva a ela: o temor de Deus e afastamento do mal (e Jó possui essas virtudes, cf. 1,1-8) é o princípio da sabedoria. Em outras palavras, a busca pela sabedoria deve começar por estabelecer um bom relacionamento com Deus. O capítulo 28 volta-se para o debate precedente e sugere que a busca apontada alí era uma pretensão demasiado ambicosa. Em seguida, volta-se para as palavras do Senhor e para o final do livro onde se afirma que a sabedoria está em Deus, revelada sim, na criação, mas para além do alcance dos seres humanos.

MONÓLOGO DE JÓ: FIM DE SUA DEFESA (29,1–31,40)

Jó esgota todos os seus recursos. Sua tentativa de arbitrar em causa própria não encontra ouvidos. Já não pode citar a Deus, pois este se foi. Além disso, as testemunhas são falsas e se declaram contra ele diante do tribunal. Seu longo discurso se estende sobre os capítulos 29-31. Tem início a descrição de uma feliz relação que teve com Deus (29) e, com doloroso lamento, contrasta depois com a situação presente (30), e conclui suspirando por sua futura reivindicação com um vibrante juramento de inocência, corroborada pela longa série de seus comportamentos morais.

QUE TEMPO BOM, AQUELE! (34 29,1-25)

Jó começa por recordar a proximidade e as bênçãos de Deus que experimentou naqueles dias felizes em que era honrado por todos. Às portas da cidade, onde o povo se reunia para discutir negócios e tratar de questões sociais e legais, Jó era considerado um sábio, especialmente pelo respeito com que suas palavras eram acolhidas (21-23). No contexto de todo o livro, essas recordações estão repletas de amarga ironia. Seu comportamento honrável se manifestava na forma como tratava com justiça todos os demais, em especial os pobres, as viúvas, os órfãos, os cegos, os coxos, os necessitados, os estrangeiros, todos vítimas dos malvados (12-17). Por conseguinte, teria o direito de esperar as bênçãos correspondentes que lhe asseguravam uma feliz velhice.

AGORA AS MESAS VIRARAM (30,1-31)

Agora, em vez de honra, desonra e vergonha!, desprezado até mesmo pela escória da sociedade. O lamento de Jó se volta para Deus (20-26). Agora, na necessidade, quem está do seu lado (24-26)? Jó falou de seus inimigos e Deus, agora descreve sua própria situação (16.17,28-31). Sua vida se desvanece; até os ossos lhe doem; sente-se só e abandonado. Durante todo este tempo, suspeirou por um amigo que lhe fizesse companhia. E agora, seus únicos amigos tornaram-se chacais e avestruzes - animais do deserto conhecidas por sua «linguagem» ofensiva (29) .

S. JOÃO I, PAPA E MÁRTIR

S. João I, papa e mártir, Basílica de São Paulo fora dos muros
S. João I, papa e mártir/VaticanNews
João nasceu na região italiana da Toscana, talvez na localidade de Sena ou Arezzo, filho de um cavalheiro chamado Constâncio. Tornou-se Papa, em 523, mas pouco se sabe sobre o seu Pontificado. Parece que contribuiu para ampliar e ornar algumas basílicas romanas ao longo das Vias Ardeatina e Ostiense, graças à magnanimidade do imperador Justino I. João I manteve muitos laços de amizade com as Igrejas Orientais.

Contexto histórico
João I foi sucessor do Papa Ormisda, que teve a capacidade de pôr fim ao Cisma entre Roma e Constantinopla, graças à colaboração do imperador romano do Oriente, Justino I, tio de Justiniano.

O Cisma eclodiu, em 484, por culpa de Henotikon: uma nova elaboração da fé, por obra do imperador Zenão e do Patriarca de Constantinopla Acácio, que tentaram um compromisso impossível entre a fé católica e a heresia monofisista, que defendia uma única natureza de Jesus Cristo: a divina.
O novo Papa, no entanto, teve que se deparar mais com o Arianismo, que defendia a natureza divina do Filho inferior à do Pai. Os Godos, que reinavam na Itália, e seu rei Teodorico, eram de fé ariana.

O drama de Teodorico
Na realidade, a questão religiosa estava fortemente entrelaçada com a política. Em 523, o Imperador do Oriente, Justino I, que tinha grande consideração pelos católicos, promulgou um decreto muito severo contra os Arianos do Oriente, que os obrigava a se retratar e a devolver aos católicos as igrejas ocupadas e os bens confiscados durante as invasões. Ele os proibia também a ocuparem qualquer cargo civil ou militar.

Teodorico estava disposto a aceitar tais disposições: era verdade que ele reinava em outro lugar, mas não podia ignorar o fato de que os seguidores da sua própria fé tivessem semelhante tratamento, onde quer que seja. Sua irritação aumentou ainda mais porque, pelo contrário, em seu reino, havia feito muitas concessões aos católicos. Além disso, a aproximação entre Constantinopla e a Santa Sé lhe causava medo.

Então, em 524, compôs uma delegação para ser enviada a Constantinopla, da qual tomavam parte legados romanos, mas também alguns Bispos, como o de Fano, Ravena e Cápua, obrigando o Papa João I a guiá-la. O objetivo, naturalmente, era iniciar uma negociação.

A viagem a Constantinopla
João I já era idoso e a viagem ao Oriente era longa, mas se era esta a vontade do Senhor, aceitou sem hesitar. O Pontífice, de fato, temia que sua recusa pudesse representar uma represália contra os católicos de Roma. Era verdade que Teodorico havia concedido liberdade de culto, mas impôs também pesadas taxas ao clero, privando-o de muitas imunidades que tinha anteriormente. Porém, João sabia também que Teodorico esperava que ele conseguisse obter a revogação do decreto, que impedia aos convertidos ao catolicismo retornar ao arianismo.

Ao chegar a Constantinopla, João I foi recebido com as maiores honras: presidiu às celebrações do Natal e da Páscoa e obteve algumas concessões para os arianos, mas não todas aquelas que o rei dos Godos lhe havia pedido. Na volta para Roma, enfurecido, Teodorico mandou prendê-lo no cárcere de Ravena, onde morreu pouco tempo depois no ano 526. A seguir, suas relíquias foram trasladadas para a Basílica de São Pietro, onde São João I é venerado como mártir da fé.

Vatican News

Papa Francisco celebrará centenário do nascimento de São João Paulo II

Papa Francisco e São João Paulo II / Crédito: Daniel Ibañez (ACI Prensa)
e Rob Croes - Wikimedia Commons (CC BY 4.0)
Vaticano, 17 Mai. 20 / 02:00 pm (ACI).- Após a oração do Regina Coeli deste Domingo, o Papa Francisco anunciou que, na segunda-feira, 18 de maio, celebrará uma Missa especial para recordar São João Paulo II, quando se comemora 100 anos do nascimento de Karol Wojtyla, em Wadovice, Polônia.
Lembramo-nos dele "com muito carinho e gratidão", assinalou Francisco, referindo-se a São João Paulo II, acrescentando que às 7h (hora local) celebrará uma Eucaristia em uma capela lateral da Basílica de São Pedro, onde estão os restos mortais do Papa polonês.
"Amanhã de manhã, às 7 da manhã, celebrarei a Santa Missa, que será transmitida para todo o mundo, no altar onde repousam seus restos mortais. Do Céu ele continua a interceder pelo Povo de Deus e pela paz no mundo", indicou o Papa Francisco.
Além disso, o Pontífice recordou que "as celebrações litúrgicas com os fiéis foram retomadas em alguns países" e que "em outros se avalia a possibilidade".
Em concreto, o Santo Padre explicou que na Itália "a partir de amanhã será possível celebrar a Santa Missa com o povo", mas pediu: "Por favor, continuemos com as normas, as prescrições que nos dão para proteger a saúde de cada um e do povo".
O Santo Padre recordou ainda que no mês de maio, “é tradição em muitas paróquias celebrar as Missas da Primeira Comunhão”, mas reconheceu que “claramente, por causa da pandemia, este belo momento de fé e celebração foi adiada".
Catecismo para crianças
Por isso, o Santo Padre dirigiu “um pensamento afetuoso aos meninos e meninas” que “deveriam ter recebido a Eucaristia pela primeira vez”, mas os convidou a “viverem este tempo de espera como uma oportunidade para se prepararem melhor: rezando, lendo o livro do catecismo para aprofundar o conhecimento de Jesus, crescer na bondade e no serviço aos outros”.
Por fim, o Pontífice observou que "começa hoje a Semana Laudato Si’, que terminará no próximo domingo, no qual se recorda o quinto aniversário da publicação da Encíclica".
"Nestes tempos de pandemia em que estamos mais conscientes da importância do cuidado da nossa casa comum, faço votos de que toda a nossa reflexão e compromisso comuns ajudem a criar e fortalecer atitudes construtivas para o cuidado da Criação", concluiu o Papa Francisco.
ACI Digital

domingo, 17 de maio de 2020

Francisco no Regina Coeli: o Espírito Santo ilumina e sustenta nossos passos

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Papa Francisco/VaticanNews

"A observância dos mandamentos e a promessa do Espírito Santo". O Papa Francisco colocou-as no centro da reflexão que precedeu a recitação da oração do Regina Coeli, também neste domingo, na Biblioteca do Palácio Apostólico.

Silvonei José - Cidade do Vaticano

É o sexto domingo da Páscoa, o Evangelho de João fala no capítulo 14, 15-21 do amor de Deus. É um amor "gratuito" que Jesus quer que se torne também a "forma concreta de vida entre nós", um amor que dá "ao coração do cristão" o Espírito Santo, para que Ele nos ajude a cumprir a Sua vontade.

O amor recíproco é o mandamento de Jesus

Aqui estão as duas mensagens fundamentais que a liturgia de hoje contém: "a observância dos mandamentos e a promessa do Espírito Santo". O Papa Francisco colocou-as no centro da reflexão que precedeu a recitação da oração do Regina Coeli, também neste domingo, na Biblioteca do Palácio Apostólico:

Jesus nos pede para amá-lo, mas explica: esse amor não termina num desejo por Ele, ou num sentimento, não, requer a disponibilidade para seguir Seu caminho, ou seja, a vontade do Pai. E isto se resume no mandamento do amor recíproco, dado pelo próprio Jesus: "Como eu vos amei, assim também vos ameis uns aos outros" (Jo 13:34). Ele não disse: "Amai-me como eu vos amei", mas "amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Ele nos ama sem nos pedir nada em troca, e quer que esse seu amor gratuito se torne a forma concreta da vida entre nós: essa é a sua vontade.

O Espírito Santo nos ajuda a permanecer no caminho de Jesus


"Se me amardes, guardareis os meus mandamentos; e eu rezarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito": nas palavras de João, há a promessa que Jesus faz, na sua despedida, aos discípulos para ajudá-los a caminhar na estrada do amor: promete não deixá-los sozinhos e enviar em Seu lugar um "Consolador", um "Defensor" que infunde neles "inteligência para escutar" e "coragem para observar Suas palavras". Este dom, que desce ao coração dos cristãos batizados, é o Espírito Santo:

O próprio Espírito os guias, os ilumina, os fortalece, para que cada um caminhe na vida, mesmo através das adversidades e dificuldades, nas alegrias e tristezas, permanecendo na estrada de Jesus. Isto é possível precisamente permanecendo dóceis ao Espírito Santo, para que, através de Sua presença operante, Ele possa não só consolar, mas transformar os corações, abrindo-os à verdade e ao amor.

A Palavra de Deus é vida


O Espírito Santo que consola, que transforma, que "nos ajuda a não sucumbir" diante da experiência do erro e do pecado que "todos nós fazemos", que nos faz "viver plenamente" a Palavra de Deus que é "luz para os nossos passos" e "vida":

A Palavra de Deus nos é dada como a Palavra de vida, que transforma, que renova, que não julga para condenar, mas cura e tem como finalidade o perdão. Uma Palavra que é luz para os nossos passos. E tudo isso é obra do Espírito Santo! Ele é o Dom de Deus, é o próprio Deus, que nos ajuda a sermos pessoas livres, pessoas que querem e sabem amar, pessoas que compreenderam que a vida é uma missão para proclamar as maravilhas que o Senhor realiza naqueles que confiam n’Ele.

A entrega final do Papa é à Virgem Maria, "modelo da Igreja que sabe escutar a Palavra de Deus e acolher o dom do Espírito Santo": para que ela nos ajude, pede Francisco, a viver com alegria o Evangelho, sabendo que o Espírito Santo nos sustenta e nos guia.

Vatican News

Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade” (Parte 4/5): ponto 4


Apologética

4. A INFALIBILIDADE E AUTORIDADE DA IGREJA NO CRISTIANISMO PRIMITIVO
Como último ponto, quero dar a conhecer o pensamento que os primeiros cristãos tinham sobre a Igreja, para constatar que é o mesmo que nós, católicos, temos ainda hoje. Não inventamos nada, simplesmente iremos expor a fé que um dia eles tiveram. Eis alguns poucos testemunhos:
  • “Existe um Deus e um Cristo, e uma Igreja, e uma cátedra edificada na Sé de Pedro pela palavra do Senhor. Não é possível estabelecer outro altar ou que haja outro sacerdócio além deste único altar e único sacerdócio. Quem reúne em outro lugar está espalhando” (São Cipriano Carta pastoral 43,40,5; ano 251).
  • “De minha parte, eu não creria no Evangelho se não fosse levado a isso pela autoridade da Igreja Católica” (Santo Agostinho, Contra a Epístola de Manes intitulada “O Fundamento” 4,5-6; ano 397).
  • “Porém, no que diz respeito àquelas observâncias que cuidadosamente atendemos e que todos guardam, as quais derivam não das Escrituras mas da Tradição, nos é dado a entender, seja pelos próprios Apóstolos, seja pelos Concílios plenários – cuja autoridade é bastante vital para a Igreja -, que elas são recomendadas e ordenadas para serem guardadas” (Santo Agostinho, Carta a Januário 54,1,1; ano 400).
  • “A Igreja Católica é obra da Divina Providência, realizada pelas profecias dos Profetas, pela encarnação e ensinamentos de Cristo, pelas viagens dos Apóstolos, pelo sofrimento, as cruzes, o sangue e a morte dos Mártires, pelas vidas admiráveis dos Santos. Então, quando vemos tanto auxílio da parte de Deus, tanto progresso e tanto fruto, vacilaremos em nos enterrar no seio dessa Igreja? Pois ela possui a coroa da autoridade que instrui, começando pela Sé Apostólica e descendo pela sucessão dos Bispos, e ainda na aberta confissão de toda a humanidade” (Santo Agostinho, Da Vantagem de Crer; ano 391).
  • “Sendo os nossos argumentos de tanto peso, não há por que ir buscar em outros a verdade que tão facilmente se encontra na Igreja, já que os Apóstolos depositaram nela (…) tudo o que pertence à Verdade, a fim de que todo aquele que quiser possa beber nela a bebida da vida. Esta é a entrada para a vida. Todos os demais são ladrões e salteadores. Por isso, é necessário evitá-los e, ao contrário, amar com todo afeto tudo o que pertente à Igreja e manter a Tradição da verdade. Então, se se encontra alguma divergência, ainda que mínima, não seria conveniente olhar para as igrejas mais antigas, nas quais viveram os Apóstolos, a fim de receber delas a doutrina para solucionar esse problema? O que é mais claro e seguro? Inclusive, se os Apóstolos não nos tivessem deixado seus escritos, não seria necessário [se fosse o caso] seguir a ordem da Tradição que eles legaram a aqueles a quem confiaram as igrejas?” (Santo Ireneu, Contra as Heresias 3,4,1, cf. Jurgens 213; ano 180).
  • “A esposa de Cristo não pode ser adúltera; ela é incorrupta e pura (…) Ela nos mantém em Deus. Ela nomeia para o Reino os filhos que dela nasceram. Quem está separado da Igreja e se encontra unido a uma adúltera, está separado das promessas da Igreja. Quem abandona a Igreja de Cristo não pode alcançar as recompensas de Cristo; é um estranho, um profano, um inimigo. Não pode ter a Deus por Pai quem não tem a Igreja por mãe. Se alguém que estava fora da arca de Noé podia escapar, então também pode escapar quem está fora da Igreja (…) Quem não é titular desta unidade não pode se manter na Lei de Deus, não tem a fé do Pai e do Filho, nem possui vida e salvação” (São Cipriano, Da Unidade da Igreja 5, cf. ANF 5,423; ano 256).
  • “Porém, a palavra do Senhor, que nos veio através do Sínodo Ecumênico de Niceia, permanece para sempre” (Santo Atanásio, Epístola aos Bispos da África 2, cf. NPNF2 4,489; ano 372).
  • “Deve-se confessar a fé apresentada por nossos Pais reunidos em Niceia; não se deve omitir qualquer uma das suas proposições, mas considerar que os 318 Pais, que se reuniram na paz, não falaram sem a ação do Espírito Santo; e não também para acrescentar a esse Credo a afirmação de que o Espírito Santo é uma criatura; nem que estão em comunhão com aqueles que isto o afirmam, para que a Igreja de Deus seja pura e sem contaminação de tal mal” (São Basílio, Epístola 114 a Ciríaco, cf. NPNF2 8,190; ano 372).
  • “Não é então cometimento de um crime contradizer, em seu próprio pensamento, tão tremendo Concílio Ecumênico? Não estão em transgressão quando se atrevem a enfrentar essa clara definição contra o Arianismo (…)?” (Santo Atanásio, Defesa da Definição de Niceia 2, cf. NPNF2 4,489; ano 351).
Veritatis Splendor

ESTUDOS BÍBLICOS: O LIVRO DE JÓ (4/6)

Tradução do espanhol por: Pe. André Sperandio
SEGUNDA SESSÃO DE DISCURSOS (15,1–21,34)

SEGUNDO DISCURSO DE ELIFAZ (15,1-35)

No início (4S), Elifaz mostrava-se mais respeitoso, agora, no entanto, muda de tom. Jó não fala com prudência, pior, está completamente alucinado. Sua própria boca, língua e lábios, todos os órgãos da fala (5s) o condenam. Continuando seu ataque contra a pretensa sabedoria de Jó, Elifaz sarcasticamente lhe pergunta se ele é um místico ou um antigo sábio (cf. Ez 28,11-19), engendrado de uma maneira especial antes da criação (7). A mesma imagem, com palavras quase idênticas, é aplicada em Pr 8,25b à figura personificada da sabedoria de Deus. Será que Jó teria tido acesso ao Conselho de Deus? (8). A ironia está em que justamente aí, no Conselho de Deus, é que os problemas começam para Jó. Elifaz inclui-se a si próprio entre os sábios e anciãos (10). O versículo 10b sugere que Jó talvez não fosse tão avançado em idade, como comumente é retratado. Se depois irá gerar filhos e filhas, pode-se deduzir que agora conte meia idade. Elifaz apela para a tradição antiga (17s;. Cf. 8.8), e lança uma série de advertências sobre o destino dos malvados (17-35), concluindo com um proverbial comentário sobre a futilidade da insensatez (30-35).

RESPOSTA DE JÓ A ELIFAZ (16,1–17,16)

Jó fica impaciente. Queria que seus amigos estivessem em seu lugar para lhes administrar o mesmo «remédio». Em linguagem típica de Lamentações (cf. Sl 22,7-9,13s;. 17,22) fala de perseguição por parte de seus inimigos. Às vezes seus pensamentos divagam entre o céu e a terra, ora dirigindo-se a Deus, ora a seus amigos. Jó não reage com expressões de arrependimento, mas com gestos de dor e tristeza (16,15;. Cf. 1,20) daqueles que sentem a morte se aproximando (16,18-17,2). Existia uma crença no Antigo Testamento de que o sangue de uma vítima inocente clamava aos céus por justiça – como por exemplo, o sangue do justo Abel (Gn 4,10) -. Jó espera que depois que a morte tenha fechado seus lábios, o seu sangue siga clamando. Antes, esquecido por seus amigos, buscava um árbitro entre ele e Deus; agora espera por uma testemunha, um intercessor lá de cima (16, 19), provavelmente um membro da Corte Celestial que, ao contrário do que fez Satanás, interceda em seu favor. O texto hebraico de 17,3-10, não está bem claro; Parece que Jó pede a Deus que permita a algum dos seus conselheiros ocupe-se de sua defesa, como se dá nos tribunais (Gn 38,17;. Dt 24,6-17). Mas não há nenhum. Definitivamente ele se tornou o escárnio de todos; seu destino é a vergonha. Abandonado, sozinho, achincalhado, seus pensamentos se voltam para a morte (17,11-16), apresentada com uma série de imagens negativas: região dos mortos (17,13-16), trevas (17,13), corrupção e vermes (17,14), pó (17,16).

SEGUNDO DISCURSO DE BILDAD (18,1-21)

Depois de algumas breves palavras de reprovação, Bildad começa uma longa descrição sobre o destino dos ímpios (cfr. 15, 20-35). Usa seis termos, ao que parece, de gíria com significados meio obscuros. Alusões à tenda destruída (14b-15) ou a morte sem descendência (16-19) provavelmente repercute as aflições de Jó do primeiro capítulo. Naquele tempo, não havia nenhuma esperança de vida após a morte; a sobrevivência que se poderia aspirar era o nome preservado na memória dos descendentes. Sem eles, era como se a pessoa nunca tivesse existido e não podia imaginar destino pior (18s).

RESPOSTA DE JÓ A BILDAD (19,1-29)

Jó começa com uma pergunta típica das lamentações: «Até quando?». As «dez vezes» do versículo 3 deve ser tomado no sentido de «frequentemente, repetidamente». Embora textualmente não fique muito claro, os versículos 4s. implicam: «mesmo que eu seja culpado, este é um problema meu, e tu não tens o direito de te alegrar às custas do sofrimento alheio». Como para manifestar persistência, Jó novamente afirma que Deus está lhe tratando injustamente (6), fazendo notal às vezes a sua boa conduta para com Deus(7-14). Não apenas Deus o abandonou, mas também os seus amigos e familiares (13-22). Ele está sozinho e envergonhado. O sentido preciso do versículo 10 não é tão claro, mas deve significar algo como «fui reduzido a tal extremo que apenas sigo vivendo». Solitário e já beirando a morte, Jó se agarra à última esperança que lhe resta para reivindicar a sua causa (23-29). Quer que sua confissão de inocência seja esculpida em pedra para que fale por ele depois de sua morte (23s). Logo depois (25-27) quer tentar outro tipo de reclamação, mas qual?, como? Estamos diante de um dos versículos mais famosos e difíceis do livro (25). O «Defensor», algo como o nosso «promotor de Justiça» - era um ofício da sociedade tribal que trazia consigo a obrigação de defender e proteger os membros mais fracos da família. Embora suas funções fossem várias (cf. Lv 25,23s;. 47-55; Dt 25,5-10; Rt 4,1-6), a primeira era manter a unidade vital da família ou da tribo. Jó havia acabado de dizer que todos os seus amigos e aliados lhe haviam esquecido; agora se agarra ao último fio de esperança: quem sabe não tenha restado ainda algum familiar por aí que apareça agora, apresente-se ao tribunal e ateste a sua inocência. Quem é esse Defensor? Alguns comentaristas opinam que é Deus; outros, de forma mais convincente, afirmam que se trata de uma terceira pessoa que, com Jó, enfrenta aquele que é, ao mesmo tempo, juiz, promotor e carrasco, isto é, Deus. Mas quando isso aconteceria? São Jerônimo em sua tradução da Vulgata – de onde Hendel tomou inspiração para o seu Messiah – afirma que isso acontecerá no dia da ressurreição, mas esta versão é contrária a posição mantida ao longo do livro: não há vida após a morte (cfr. 14,10-22). Jó parece se agarrar a um possível resgate de última hora, enquanto ainda está vivo. Este é, pelo menos, o seu maior desejo (26b). Dado a natureza confuso do texto, qualquer interpretação é uma tentativa. Jó termina com uma advertência – e previsão: os que persistem em condená-lo acabarão finalmente por serem submetidos, eles próprios, a juízo (28s;. Cf. 42,7-9).

SEGUNDO DISCURSO DE SOFAR (20,1-29)

Como Elifaz (15,17-35), e Bildad (18,5-21), Sofar se apressa a descrever o destino dos malvados. Para responder a Jó, Sofar se apoia, seguindo o estilo sapiencial, tanto em sua reflexão pessoal (2) como na tradição transmitida pelos antepassados ​​(4). Os malvados ignoram a Deus e aos seus mandamentos, e se colocam eles mesmos no lugar de Deus. São orgulhosos e arrogantes (6), mas perecerão para sempre com seu próprio esterco (7). Falando de injustiça social (15-19), diz que a avareza os leva a oprimir aos pobres e necessitados (17-22). Mas a alegria da riqueza ilícita não é duradoura, pois Deus, qual terrível guerreiro, acometerá contra o malvado com toda a extensão de suas armas cósmicas (23-28). Se, de fato, Jó está experimentando a ira de Deus, o que mais se pode esperar? Este é o destino dos ímpios (29).

RESPOSTA DE JÓ A SOFAR (21,1-34)

Este discurso de Jó constitui, de fato, uma resposta aos argumentos dos seus amigos, entrando assim num autêntico diálogo com eles. Contém numerosas referências (demais para se refletir sobre todas aqui) ao que foi dito acima. Se os seus amigos não podem lhe oferecer o benefício do silêncio (13,5), que pelo menos prestem ouvidos ao que está dizendo, pois não rdt´s falando de generalidades, mas de seu próprio sofrimento pessoal (5s). Os últimos argumentos dos amigos focam o destino dos malvados. Jó os retoma e os rebate: os malvados não sofrem, mas pelo contrário, a maior parte deles prospera e morre feliz. Além disso, zombam de Deus! (14). Era crença comum daquela época que os efeitos do pecado eram prolongados através de suas famílias a descendentes. Isso pode até ser verdade, diz Jó, mas é injusto. O que peca deve sofrer ele mesmo o seu castigo. O que vai acontecer depois que morrer já não lhe importa muito (18-21). Mas não, os maus não sofrem, pelo contrário, prosperam e morrem felizes. É assim que tem sido sempre as coisas e assim é que serão. Os inúteis conselhos dos seus amigos não são nada mais que mentiras (34). Assim termina a segunda rodada de discursos.

VI Domingo da Páscoa - Ano "A": O ESPÍRITO DA VERDADE E DEFENSOR

Dom Sérgio da Rocha
Adm. Apost. Arquidiocese de Brasília
Estamos para celebrar as solenidades da Ascensão do Senhor e de Pentecostes nos próximos domingos do Tempo Pascal. O Evangelho, hoje proclamado, nos prepara para essas grandes celebrações pascais, recordando-nos a promessa de Jesus de não deixar “órfãos” os seus discípulos, ao retornar para o Pai, enviando-lhes o Espírito Santo, o “defensor” que permanece sempre com os discípulos, o “Espírito da verdade”, que estará “junto” dos discípulos e “dentro” deles (Jo 14,16-17). Para receber a manifestação de Jesus e acolher o dom do Espírito, somos convidados a acolher e observar os seus mandamentos.
Desde o início deste tempo litúrgico, temos sido motivados não apenas a celebrar, mas também a viver a Páscoa que celebramos. Por isso, a promessa de Jesus, já cumprida, se dirige também a nós. A nós, hoje, o Senhor promete não nos deixar sozinhos e nos oferece o dom do Espírito da verdade, o defensor. Nós somos agraciados com a presença do Ressuscitado e com o dom do seu Espírito. A esses dons respondemos com o louvor e com o cumprimento de sua Palavra.
Contudo, os mistérios pascais que celebramos não ficam apenas no interior dos templos ou da comunidade cristã. Toda a terra deve aclamar a Deus e cantar salmos a seu nome glorioso, conforme o Salmo 65. Para tanto, é preciso testemunhar o Evangelho a todos, como fez corajosamente Filipe, na Samaria (At 8,5).
A primeira carta de São Pedro nos alerta: “estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que pedir” (1Pd 3,15). A fé celebrada se transforma em fé vivida e testemunhada no mundo, também entre aqueles que não creem em Cristo. Entretanto, isso deve ser feito “com mansidão e respeito e com boa consciência”. Para que a missão evangelizadora da Igreja continue a se cumprir, no mundo de hoje, necessitamos de cristãos com o coração missionário e, acima de tudo, precisamos do Espírito de Deus para nos iluminar e tornar fecundo o trabalho evangelizador.
Neste tempo difícil de pandemia, nós somos convidados a testemunhar a fé, através do amor e da solidariedade com os que mais sofrem, sendo portadores da esperança que tem sua razão de ser em Cristo Ressuscitado.  A oração e a meditação da Palavra de Deus, tão necessárias o ano todo, tornam-se ainda mais importantes, neste momento. Por isso, organize a sua vida cotidiana para poder rezar mais e melhor.
Folheto: O Povo de Deus/Arquidiocese de Brasília

sábado, 16 de maio de 2020

Como se colocar efetivamente na presença de Deus durante o Terço

ROSARY
Fred de Noyelle | Godong

Quanto mais estivermos perto de Maria, mais ela nos levará a seu Filho

Quando pensamos no Terço, geralmente vem em nossa mente a ideia de que essa é uma oração dirigida à Virgem Maria. É verdade! Mas estamos falando, de fato, de uma oração a Jesus, através de Maria. O objetivo final é sempre ter um relacionamento com Jesus, embora grande parte da ênfase esteja em sua mãe, Maria. Como muitos santos disseram ao longo dos séculos, quanto mais estivermos perto de Maria, mais ela nos levará a seu Filho.
Um exercício de meditação que pode ajudar nessa aproximação é lembrar-se da presença de Jesus enquanto você reza o Terço.
O Pe. John Procter ensina como fazer:
“Quando rezamos nosso Terço no espírito de fé, estamos na presença de Jesus Cristo, não tocando a bainha de suas vestes, não nos deliciando com a sombra de seus apóstolos, mas falando com ele, pensando nele, ouvindo-o, aprendendo dele, amando-o e sendo amados por ele em troca (…)Como pensar nele e falar com ele, como fazemos ao rezar nossas contas, sem nos tornarmos melhores e mais sagrados com esse contato espiritual?”
A passagem acima não é o que normalmente imaginamos quando rezamos o Terço, mas tem muita verdade por trás. Por exemplo, ao rezarmos o Terço costumamos refletir sobre vários “mistérios” da vida de Jesus Cristo. Esses episódios são tirados diretamente dos Evangelhos e nos envolvem nos altos e baixos do ministério de Jesus na Terra.
É por isso que tantos cristãos usam o Terço para aprofundar seu amor a Jesus Cristo, refletindo sobre os muitos acontecimentos de sua vida.
Então, na próxima vez em que você rezar o Terço, tente se concentrar mais na presença de Jesus, que está bem ali na sala com você, junto com sua Mãe. Ambos o confortarão com a presença deles e lhe concederão paz quando você rezar com fé e amor.
Aleteia

Pais da Igreja: Nicolas Cabasilas

Ecclesia

ANTOLOGIA

A vida de Jesus Cristo, livro 6
«Um paralítico trazido por quatro homens»
Invoquemos Cristo a toda a hora, Ele, o princípio de todos os nossos pensamentos. Para o invocar, não é preciso nenhuma preparação da oração, nem lugar especial, nem clamor. Com efeito, Ele não está ausente de nenhum lugar. É impossível que não esteja em nós, pois Ele está mais próximo daqueles que o buscam do que o seu próprio coração. Em consequência, devemos acreditar que Ele nos atenderá para lá das nossas preces, e não duvidarmos disso, apesar dos nossos defeitos. Tenhamos antes confiança, pois Ele é bom para os ingratos e para os pecadores que o invocam. Longe de menosprezar as preces dos ses servos rebeldes, desceu à terra e, em primeiro lugar, chamou aqueles que ainda O não tinham chamado, e nem sequer tinham nunca pensado nEle: «Eu vim, disse Ele, chamar os pecadores» (Mt 9,13). Se Ele procurou os que não O desejavam, o que não fará se o invocam? Se Ele amou os que O odiavam, como iria afastar aqueles que O amam? «Se, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de Seu Filho, com mais razão, depois desta reconciliação, seremos salvos pela sua vida.» (Rm 5,10)
«Batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo»
Sobre a vida em Cristo
Apesar de a Santíssima Trindade ter dado a Salvação ao gênero humano por um único e mesmo amor aos homens, a Fé diz-nos que cada uma das Pessoas Divinas dá a sua contribuição particular para a Salvação. O Pai reconciliou-se conosco, o Filho foi o instrumento da reconciliação e o Espírito Santo foi o dom concedido àqueles que se tornavam os amigos de Deus. O Pai libertou-nos, o Filho foi o resgate da nossa libertação; quanto ao Espírito, Ele é a liberdade em pessoa... (cf. 2Co 3,17). Se o Pai nos criou, o Filho re-criou-nos e é o Espírito que nos dá a vida(Jo 6,63). Na verdade, na criação inicial, a Trindade inscrevia-se em filigrana. O Pai era o modelador, o Filho era a Sua mão, o Espírito Defensor insuflava a vida. Mas... foi só na nova criação que nos foram reveladas as distinções que existem em Deus...
No plano da Salvação pelo qual foi restaurado o nosso gênero humano, foi a Trindade toda una que quis a minha salvação e que viu desde toda a eternidade como ela se realizaria. Mas não foi a Trindade toda una que a realizou.O seu autor é só o Verbo, só o Filho único... Foi por Ele que a natureza recebeu uma vida nova e que o Batismo foi instituído como um novo nascimento e uma nova criação. É por isso que, quando se batiza alguém, é preciso invocar Deus, distinguindo as três pessoas: o Pai, o Filho, o Espírito Santo, o qual apenas nos foi revelado por esta nova criação.
«O Esposo está com eles»
A Vida em Cristo, II, 75ss
Para nós há duas maneiras de conhecer os objectos: o conhecimento que se pode receber por nos ser contado, e aquele que se pode adquirir por nós próprios. Pelo primeiro, não alcançamos o objecto em si, apenas o percebemos através de palavras, como numa imagem […]; de modo diverso, fazer a experiência dos objectos é encontrá-los realmente em si próprios. Neste segundo tipo de conhecimento, a forma do objecto prende a alma e desperta o desejo como um sinal à medida da sua beleza […].
Da mesma forma, se o nosso amor pelo Salvador nada produz de novo nem de extraordinário, é evidente que o nosso empenhamento em amá-Lo deriva de apenas termos ouvido falar a seu respeito. Como poderíamos nós, apenas por ouvir falar d’Ele, conhecê-Lo como merece, Esse a quem nada se assemelha […], Esse a quem nada pode ser comparado e que não pode ser comparado a nada? Como poderíamos conhecer a sua beleza e amá-Lo à medida da sua beleza? Mas, sempre que os homens experimentam um intenso desejo de amar, um desejo de fazer por Ele coisas que ultrapassam a natureza humana, é porque foi o próprio Esposo a tê-los tocado e ferido. Ele abriu-lhes os olhos à beleza divina. A profundidade da ferida testemunha o quanto a seta de facto penetrou; e o ardor do desejo revela Quem os feriu.
Eis como a nova Aliança é diferente da Antiga; antigamente era a palavra o que educava os homens; hoje, é Cristo em pessoa quem, de uma maneira indizível, prepara e modela as almas dos homens. Se o ensinamento da Lei bastasse para os conduzir, então não teriam sido necessários os actos extraordinários de um Deus tornado homem, que foi crucificado e depois morto. Isto é verdade também para os apóstolos, nossos pais na fé. Eles tinham ouvido os ensinamentos do Salvador, as palavras da sua boca; tinham visto os seus milagres e assistido a todas as provações que suportou pelos homens, viram-No morrer, ressuscitar e em seguida elevar-Se nos céus. Tudo isto eles o sabiam, mas nada mostraram de novo, de generoso, de verdadeiramente espiritual, até se terem baptizado no Espírito Santo […]. Só então, somente, o verdadeiro desejo por Cristo neles se acendeu, e através deles, se acendeu em outros.
«Cristo, o médico, vem curar os doentes»
A Vida em Jesus Cristo, Livro 6
Cristo desceu à terra, e começou por chamar aqueles que ainda não tinham chamado por Ele, e que nunca tinham sequer pensado Nele: «Eu vim chamar os pecadores», diz. Se veio à procura daqueles que não O desejavam, o que fará àqueles que Lhe rezam? Se amou aqueles que O odiavam, como poderá afastar aqueles que O amam? Como dizia São Paulo: «Se, de facto, sendo nós inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte de Seu Filho, com muito mais razão, depois de reconciliados, seremos salvos pela Sua vida» (Rom 5, 10).
Consideremos, pois, em que consiste a nossa oração. É certo que não somos dignos de obter aquilo que convém aos amigos pedir e receber, mas antes aquilo que é dado a servos rebeldes, a devedores faltosos. Não invocamos o nosso Mestre para que Ele nos dê uma recompensa, ou um favor, mas para que Ele tenha misericórdia de nós. Pedir a Cristo, amigo dos homens, a misericórdia, o perdão ou a remissão dos pecados, e não partir de mãos vazias após esta oração – a quem convém tal coisa, senão a devedores, dado que «não são os que têm saúde que precisam de médico»? Em suma, se convém aos homens elevarem a voz para Deus, implorando a Sua piedade, só poderão fazê-lo os que têm necessidade de misericórdia, os pecadores.
Invoquemos, pois, a Deus, não somente com a boca, mas também com os desejos e os pensamentos, a fim de aplicarmos a tudo aquilo por meio do qual pecámos o único remédio que pode salvar-nos, porque «não há debaixo do céu qualquer outro nome dado aos homens que nos possa salvar» (Act 4, 12).
«Se alguém me ama..., meu Pai amá-lo-á,
e habitaremos nele»
A Vida em Cristo, IV, 6-8
A promessa vinculada à mesa eucarística faz-nos habitar em Cristo e Cristo em nós, porque está escrito: «Permanece em Mim e Eu nele» (Jo 6,56). Se Cristo habita em nós, de que necessitaremos? O que nos poderá faltar? Se permanecemos em Cristo, que mais poderemos desejar? Ele é ao mesmo tempo nosso hóspede e nossa morada. Nós somos felizes por sermos sua habitação! Que alegria em sermos nós próprios a morada de um tal hóspede! Que bem poderia faltar aos que ele trata deste modo? Que teriam eles de comum com o mal, os que resplandecem numa tal luz? Que mal poderia resistir a tanto bem? Mais ninguém pode morar em nós ou vir assaltar-nos quando Cristo se une a nós deste modo. Ele rodeia-nos e penetra o mais profundo de nós mesmos; ele é a nossa protecção, o nosso refúgio; ele encerra-nos de todos os lados. Ele é nossa morada, e é o hóspede que enche toda a sua casa.
Porque nós não recebemos uma parte dele mas ele próprio, não um raio de luz mas o sol..., a ponto de formar com ele um só espírito (1Cor 6,17) ... A nossa alma está unida à sua alma, o nosso corpo ao seu corpo e o nosso sangue ao seu sangue... Como disse S. Paulo: «O nosso ser mortal é absorvido pela vida» (2Cor 5,4) e «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2,20).
«Exalta os humildes»
Homilia sobre a Dormição da Mãe de Deus
Era preciso que a Virgem fosse associada a seu Filho em tudo o que respeita à nossa salvação. Tal como ela o fez partilhar a sua carne e o seu sangue..., assim ela tomou parte em todos os seus sofrimentos e em todas as suas dores... Foi ela quem primeiro se tornou conforme à morte do Salvador por uma morte semelhante à dele (Rm 6,5). Foi por isso que, antes de qualquer outro, ela participou da ressurreição. Com efeito, depois de o Filho ter quebrado a tirania do inferno, ela teve a felicidade de o ver ressuscitado e de receber a sua saudação e de o acompanhar tanto quanto pôde até à sua partida para o céu. Depois da ascensão, ela tomou o lugar que o Salvador tinha deixado livre entre os apóstolos e os outros discípulos... Não convinha isso a uma mãe, mais do que a qualquer outra pessoa?
Mas era preciso que aquela alma santíssima se separasse daquele corpo sacratíssimo. Deixou-o e uniu-se à alma de seu Filho, ela que era uma luz criada uniu-se à luz que não teve princípio. E o seu corpo, depois de ter ficado algum tempo debaixo da terra, também ele foi levado ao céu. Era preciso, com efeito, que ele passasse por todos os caminhos que o Salvador tinha percorrido, que resplandecesse para os vivos e para os mortos, que santificasse a natureza em todos os aspectos e que, em seguida, recebesse o lugar que lhe convinha. Por isso, o túmulo o abrigou durante algum tempo; depois, o céu acolheu aquela terra nova, aquele corpo espiritual, mais digno do que os anjos, mais santo do que os arcanjos. E o trono foi entregue ao rei, o paraiso à árvore da vida, o mundo à luz, a árvore ao seu fruto, a Mãe ao Filho; ela era perfeitamente digna pois que ela o tinha gerado. 
O bem-aventurada! Quem encontrará as palavras capazes de exprimir os benefícios que recebeste do Senhor e os que prodigalizaste a toda a humanidade?... Só lá em cima podem resplandecer as tuas maravilhas, nesse "novo céu" e nessa "nova terra" (Ap 21,1), onde brilha o Sol da Justiça (Ma 3,20) que as trevam nem seguem nem precedem. O próprio Senhor proclama as tuas maravilhas, enquanto os anjos te aclamam.

NOTAS:
1 PG 150,368-492; Fontes chrétiennes, 4a, Paris, 1967; trad Salaville S. French, Paris-Lyon 1943, 2 ed Paris 1967; .. Trad romeno E. Braniste, Bucareste, 1943 .; trad. Inglês JM Mc Nulty, Londres 1960.
2 Editado por W. Gass, Greifswald 1848, 2ª ed 1899 e reimpresso em PG 150,493-725; tradução francesa de S. Broussaleux, Amay 1932 e Chevetogne 1960. Trad alemaria de G. Koch-E.
3A edição espanhola (3 ed. Rialp, Madrid 1957) é acompanhada por um amplo estudo preliminar dos PP. L. Gutiérrez Vega e B. García Rodríguez.
BIBLIOGRAFIA:
W. GASS, Die Mystik des Nikolaus Cabasilas vom Leben in Christo, Griefswald 1849 y 1899; T. FERNET, Cabasilas Nicolas, en DTC II, col. 1292-1295; S. SALAVILLE, Cabasilas Nicolas, en DSAM II, col. 1-9; E. TONIOLO, La mariologia di Nico- la Cabasila, Vicenza 1955; I. SEVCENKO, Nicolas Cabasilas "Anti-Zealot" Discourse: A Reinterpretation, «Dumbarton Oaks Papers», XI (1957) 79-171; M. LOT-BORDINE, Un ma!tre de spiritualité bizantine au XIVe siecle. Nicolas Cabasilas, París 1958; G. GHARIB, Nicolas Cabasilas et l'explication symbolique de la liturgie, "Le Proche-Orient chrétien" 10 (1960) 114-133; P. NELLAS, Prolegomata eis ten meleten Nikolaou tou Kabasila, Atenas 1968.
TOMAS SPIDLIK.
Cortesía de Editorial Rialp. Gran Enciclopedia Rialp, 1991

Maria entre os Santos Padres

A Virgem Maria e os Testemunhos Primitivos da Igreja | Rumo à ...



Por Pe. Chrystian Shankar.

Designamos com o nome de “Santos Padres”, Padres da Igreja” ou “Pais da Igreja”, aqueles escritores cristãos dos primeiros séculos, que se distinguiram pela exposição da doutrina cristã. Eles defenderam as verdades do Cristianismo contra as heresias que surgiram e que procuravam se infiltrar no mundo cristão do seu tempo. Na Igreja Latina, como na Oriental, apareceram nomes preeminentes, em cujos escritos se encontram os fundamentos das pregação da Igreja Primitiva. Ambrósio, Agostinho, Jerônimo, Atanásio, João Crisóstomo, etc. – são alguns desses Santos Padres que nos transmitem a fé e a vivência das primeiras gerações cristãs.
No Brasil, D. Antonio Figueiredo publicou um Curso de Teologia Patrística, em que focaliza a contribuição dos Padres da Igreja para a vida do Cristianismo primitivo. Das obras desses escritores, o autor faz emergir a Igreja, em suas estruturas e funções. A maior parte dos escritos patrísticos é formada de comentários à Sagrada Escritura.
A veneração a Nossa Senhora foi se manifestando paulatinamente. Ela foi tomando formas diferentes e crescendo na vida dos cristãos, através dos séculos. Nós não a encontramos, por exemplo, nos escritores do 2° e 3° séculos, como apareceu no século 5°, no tempo de S. Bernardo (século XII), ou em nossos dias. Mas, desde as primeiras gerações cristãs, vão surgindo depoimentos, reflexões sobre o papel de Maria na Economia da Salvação, que levaram os cristãos a prestar uma homenagem especial Àquela que foi escolhida por Deus para ser a Mãe do Verbo Encarnado.
Em dois grossos volumes, J.B. Terrien agrupou dezenas e dezenas de textos dos Santos Padres sobre “A MÃE DE DEUS E A MÃE DOS HOMENS”. Os primeiros escritores cristãos gostavam de focalizar, de modo especial, a fé e a obediência da Santíssima Virgem. Estes eram, certamente, os pontos da vida de Maria, que mais estimulavam os cristãos. Vejamos como a Virgem aparece nos escritos de alguns Padres, anteriores ao Concílio de Éfeso.
Irineu, bispo de Lião na França, morreu por volta do ano 202. Foi discípulo de Policarpo que, por sua vez, o fora do apóstolo S. João. Irineu é um escritor muito importante. Nos seus escritos, são muitos os artigos do símbolo católico, cuja apostolicidade se encontra atestada. Contra alguns hereges de sua época, levanta-se o bispo de Lião, afirmando a maternidade divina de Maria e a sua virgindade, e mostrando o plano divino, por ele chamado de “recirculatio”, em que a nova Eva, MARIA, se apresenta digna e merecedora da nossa veneração e amor. Diz Irineu: “Consequentemente a este plano, Maria Virgem nos aparece obediente, ao dizer: Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra. Eva, porém, foi desobediente, embora ainda fosse virgem. Do mesmo modo que Eva, tendo Adão por esposo, desobedeceu e tornou-se causa de morte para si e para todo o gênero humano, assim também Maria, tendo um varão predestinado e, contudo, permanecendo virgem, obedeceu e tornou-se para todo o mundo causa de salvação.” (ENCHIRIDION PATRISTICUM, N° 224). São de Irineu também estas palavras: “Assim como Eva, seduzida pela palavra do maligno, para que se afastasse de Deus, pecou contra a palavra d’Este, assim Maria, evangelizada pela palavra, mereceu trazer a Deus. E se aquela desobedeceu a Deus, esta foi obediente a Ele, para que a Virgem Maria se tornasse advogada de Eva.” (ADVERSUS HAERESES L. 5, cap. 19).
Percebemos como Irineu gostava de comparar Eva com Maria, para salientar o papel de Mãe de Deus, no plano da salvação. Maria é a advogada de Eva e de todos os seus filhos. Há, nas palavras de Irineu, um certo reconhecimento a Maria, pela sua obediência, pela sua fé, pela sua fidelidade ao Senhor. Esse reconhecimento iria levar muitos a manifestá-lo em gestos e palavras de louvor e veneração.
Com expressões semelhantes, Tertuliano, no século 3, também escreveu: “Deus recuperou, por um desejo de emulação, a sua imagem e semelhança, arrebatadas pelo demônio. Em Eva, virgem, insinuou-se a palavra que gerou a morte. É também numa virgem que devia nascer o Verbo que gerasse a vida, a fim de que a humanidade, perdida pelo sexo feminino, recebesse a salvação por esse mesmo sexo. Eva creu na serpente, Maria acreditou em Gabriel. A falta cometida pela credulidade de uma foi destruída pela fé da outra.” (ENCHIRIDION, N° 358). A fé de Nossa Senhora é exaltada. Tertuliano, por assim dizer, repete o louvor que Isabel havia feito. Maria é a Mãe do Senhor da vida. Sua fé, sua plena adesão à vontade de Deus, fez dela um modelo perfeito para cristão.
Justino, apologista do século 2, no seu “Dialogus cum Tryphone”, faz este comentário: “A Virgem estremeceu de fé e de alegria, ao receber da boca do anjo a boa nova de que o Espírito de Deus desceria ao seu seio, de que a virtude do Altíssimo a cobriria com a sua sombra, e que, em conseqüência, o Santo que nasceria dela seria o Filho de Deus. Sua resposta foi: “Faça-se em mim segundo a tua palavra.” Dela nasceu Aquele que foi predito pelas Escrituras, Aquele por meio do qual Deus esmagou a serpente com os anjos e os homens degradados, e livrou da morte os pecadores que, crendo n’Ele, fizeram penitência de seus crimes.” (D. Ruiz Bueno – PADRES APOLOGISTAS GREGOS, séc. II, pág.479).
Como Mãe do Salvador do mundo é que Maria merece um destaque todo especial, na Igreja de Cristo. Sendo a Mãe de Jesus, ela se tornou a fonte de alegria para toda a humanidade. “Eis que vos anuncio uma grande alegria: nasceu-vos hoje um Salvador que ó Cristo Senhor.” (Lc. 2, 10-11).
Orígenes, outro escritor do século 3 da era cristã, considerado o “engenho mais universal e o varão mais douto da época ante-nicena”, comentando o primeiro capítulo de Mateus, escreveu: “Esta virgem Maria é chamada mãe do Filho único de Deus. Digna mãe de um digno Filho; mãe imaculada de um Filho santo e imaculado; mãe única de um Filho único. Tomai a Maria como um trono celeste que se vos dá a guardar, diz o anjo a José, como todas as riquezas da divindade, como a plenitude da santidade, como uma justiça perfeita. Tomai-a e guardai-a, como residência do Filho único de Deus, como seu templo honorável, como o dom de Deus, como a morada imaculada do rea1 e celeste esposo.” (Apud. A. Nicolas – LA VIERGE MARIE ET LE PLAN DIVIN, tomo 4° págs.l03-104).
A partir do quarto século, os pronunciamentos e sermões dos Santos Padres sobre Nossa Senhora se multiplicam. Ela foi proclamada “BEM-AVENTURADA”, em todos os recantos do mundo cristão. 0 entusiasmo por aquela que é o modelo fiel do verdadeiro discípulo de Jesus Cristo cresceu de modo impressionante. Nas catacumbas, nas artes, nos templos, na liturgia, na pregação, foi sempre mencionada com muito amor e com muita gratidão, pois, afinal, ela é a Mãe de Nosso Senhor. (Lc. 1, 43). 0 culto Mariano foi tomando dimensões sempre maiores e bem expressivas. Se abusos houve ou aparecem ainda hoje, a Igreja procurou sempre corrigi-los. A atitude de alguns fiéis menos esclarecidos e afastados da orientação da Igreja não significa a ilegitimidade da devoção à Virgem Santíssima. A profecia bíblica “Todas as gerações me chamar-se-ão Bem-aventurada” vem se realizando através dos séculos.
As coletâneas de Barbier (4 volumes), de Terrien (2 volumes) e outros estudos que reuniram tópicos dos Santos Padres sobre a Mãe de Jesus, são mananciais onde encontramos o pensamento e o afeto das primeiras gerações cristãs para com a Mãe do Senhor.
Tudo por Jesus! Nada sem Maria! Que alegria!
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF