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sexta-feira, 22 de maio de 2020

Autor e biógrafo George Weigel: João Paulo II mudou o rumo da história

João Paulo II. Foto: L´Osservatore Romano
WASHINGTON DC, 21 Mai. 20 / 06:00 pm (ACI).- O autor e biógrafo papal, George Weigel, assinalou que a vida de São João Paulo II é uma prova de que a crença religiosa e a convicção moral podem mudar o rumo da história.
Na segunda-feira 18 de maio Weigel realizou um seminário online pelo centenário do nascimento do Papa peregrino, apresentado pelo Santuário Nacional de São João Paulo II.
Karol Wojtyla nasceu em 18 de maio de 1920, foi eleito Papa em 16 de outubro de 1978, morreu em 2 de abril de 2005 e foi canonizado em 27 de abril de 2014. Sua festa é 22 de outubro, o dia que foi eleito Papa.
Weigel assinalou que São João Paulo II foi “a grande testemunha cristã de nosso tempo, o homem que fez que Jesus Cristo ganhasse vida para muitos” e que “seu próprio apostolado convidou outros a serem discípulos cristãos”.
A apresentação de Weigel durante o seminário Web foi um dos muitos eventos organizados pelo santuário para comemorar o centenário do nascimento de João Paulo II. Originalmente, estes eventos seriam presenciais e incluiriam um “simpósio acadêmico”, mas os planos mudaram devido ao surto de COVID-19.
Weigel indicou que João Paulo II foi o “Papa do Catecismo e da devoção à Divina Misericórdia” e explicou como “essas duas realidades - verdade e misericórdia - encontraram-se em sua própria vida”, e o inspiraram às conduzir a vida da Igreja.
Em outubro de 1992, o Papa João Paulo II promulgou a nova edição do Catecismo da Igreja Católica; e no 2000 designou o domingo depois de Páscoa como “Domingo da Divina Misericórdia”.
Weigel assinalou que São João Paulo II como Papa demonstrou que “o poder da convicção religiosa e moral” é melhor que as disciplinas seculares como a economia ou o direito “para mudar a história”, e assim dar-lhe “uma direção mais humana”.
O escritor assinalou que o legado que São João Paulo II deixou sobre a Divina Misericórdia se sente mesmo anos depois de sua morte, com a inscrição da festa da Santa polonesa Faustina Kowalska no Calendário Romano pelo Papa Francisco.
George Weigel declarou que os efeitos da Primeira e da Segunda Guerra Mundial haviam “destroçado a malha moral do mundo ocidental”, sendo causadores de todo tipo de dor e danos pessoais, mas que a aparição da Divina Misericórdia tinha a intenção de sanar estas feridas.
São João Paulo II interpretou a “mensagem da Divina Misericórdia que irradia do coração do Senhor ressuscitado”, “como a resposta a essa destruição da malha moral da humanidade”, indicou o autor.
“A humanidade precisava escutar a mensagem da misericórdia de Deus, que é o suficientemente forte para sanar as feridas que nos infligimos”, disse.
O Santuário Nacional de São João Paulo II está localizado em Washington, D.C., perto do campus da Universidade Católica da América. Originalmente chamado Centro Cultural João Paulo II, o santuário nacional se estabeleceu em 2011, depois de que foi adquirido pelos Cavaleiros do Colombo. A Conferência de Bispos Católicos dos Estados Unidos designou o edifício como “santuário nacional” para o então beato João Paulo II em 14 de março de 2014.
O santuário alberga uma exposição sobre a vida e o papado do santo polonês, e uma de suas capelas contém uma relíquia de primeira classe que está disponível para veneração.
ACI Digital

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Qual a importância de rezar a Ave Maria?


Todas as vezes que rezamos a Ave Maria, saudamos Maria com aquela mesma saudação que Santa Isabel, “cheia do Espírito Santo”, saudou sua prima, “em alta voz”: “Bendita és tu entre as mulheres” (Lc 1,42).

Maria é “a filha predileta de Deus”, diz o Concílio Vaticano II (LG n. 53), “aquela que na Santa Igreja ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós” (LG, n. 54).
O mesmo Concílio afirma que “por graça de Deus exaltada depois do Filho acima de todos os anjos e homens, como Mãe santíssima de Deus, Maria esteve presente nos mistérios de Cristo e é merecidamente honrada com culto especial pela Igreja” (LG n. 66).
São Bernardo, o apaixonado cantor da Virgem Maria, no Sermão 47 diz:
“Ave Maria, cheia de graça, porque agradável a Deus, aos anjos e aos homens. Aos homens, por causa de sua fecundidade; aos anjos, por causa de sua virgindade; a Deus, por sua humildade. Ela mesma atesta que Deus olhou para ela porque viu sua humildade” (MM, p. 29).
O Livro dos Provérbios diz: “A Sabedoria construiu para si uma Casa, nela esculpiu sete colunas” (Pr. 9,1). S. Bernardo, comentando este texto no “Sermão de Assumptione B. Mariae”, aplicou-o à Virgem Maria: Casa Virginal, sustentada por sete colunas, porque enriquecida com os sete dons do Espírito Santo: o dom da sabedoria, o da inteligência, o do conselho, o da fortaleza, o da ciência, o da piedade e o do temor de Deus” (MM, p. 69).
Se ela é aquela criatura única “cheia de graça” e da presença do Senhor – “o Senhor é contigo” -, então Maria está repleta de todos os dons e graças de Deus.
São Tomas de Aquino afirmou:
“…a bem-aventurada Virgem Maria, pelo fato de ser Mãe de Deus, tem uma espécie de dignidade infinita por causa do bem infinito que é Deus” (MM, p. 100).
E, na mesma linha, Santo Epifânio escreveu: “Com exceção de Deus, Tu és, ó Virgem, superior a todas as coisas” (idem).
Ensina Santo Afonso que “Maria é a filha primogênita do Pai Eterno”, e diz que os sagrados intérpretes e os Santos Padres aplicam-lhe este texto da Escritura: “Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de todas as criaturas” (Eclo 24,5). Segundo o santo doutor, “Maria é a primogênita de Deus por ter sido predestinada juntamente com o Filho nos decretos divinos, antes de todas as criaturas. Ou então é a primogênita da graça como predestinada para Mãe do Redentor, depois da previsão do pecado” (GM,  p. 208).
E também diz São Bernardo à Senhora: “Antes de toda a criatura fostes destinada na mente de Deus para Mãe do Homem-Deus” (GM p. 228).
“A graça que adornou a Santíssima Virgem sobrepujou não só a de cada um em particular, mas a de todos os santos reunidos”, afirma Santo Afonso. E mais: “Não se pode pôr em dúvida que, simultaneamente com o decreto divino da Encarnação, ao Verbo de Deus foi também destinada a Mãe da qual devia tomar o ser humano. E essa foi Maria” (GM, p. 229).
Segundo ensina S. Tomas, “a cada um o Senhor dá graça proporcionada à dignidade a que o destina. A Santíssima Virgem foi escolhida para ser Mãe de Deus, e portanto o Altíssimo capacitou-a certamente com Sua graça. Antes de ser Mãe foi Maria, por conseguinte, adornada de uma santidade tão perfeita que a pôs à altura dessa dignidade” (GM, p. 230),
Entre todas as mulheres de todos os tempos e de todos os lugares. Deus escolheu Maria para ser Sua Mãe. Esta glória de Maria a fez cantar perante S. Isabel:
“Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva”.
“Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo…” (Lc 1,42ss).
O Magnificat é o canto de glória de Maria, por ter sido a eleita de Deus. Em sua qualidade de Mãe, tem a Virgem um certo direito singular a todos os dons de seu Filho, afirmam os santos e teólogos.
Todas as criaturas revelam Deus de algum modo, são como espelhos da divindade. Alguém já disse que “Deus não fala, mas tudo fala de Deus”. Maria é um espelho especialíssimo de Deus, diz São Tomás de Aquino. “Os outros santos”, ele diz, “são exemplos de virtudes particulares: um foi humilde, outro casto, outro misericordioso, e assim nos são oferecidos como exemplos de uma virtude. Mas a bem-aventurada Virgem é exemplo de todas as virtudes” (MM, p. 51).
É por isso que a Ladainha lhe chama de “Espelho de Justiça”.
Diz Santo Afonso que Nossa Senhora revelou a Santa Isabel de Turíngia quem quando era ainda menina, no Templo de Jerusalém foi consagrada a Deus: “Levantava-me à meia-noite e ia ao Templo orar ao Senhor diante do altar para que me concedesse a graça de observar os preceitos e contemplar a mãe do Redentor. Roguei-lhe que me conservasse os olhos para vê-la, a língua para louvá-la, as mãos e os pés para servi-la, e os joelhos para adorar em seu seio o Divino Filho”. Então a santa ao ouvir isto perguntou à Virgem: “Mas, Senhora, vós não éreis cheia de graça e de virtudes?” Ao que Maria respondeu: “Sabe que eu me tinha como a mais vil entre as criaturas, e a mais indigna das graças do céu. Por isso pedia continuamente a graça e as virtudes… Pensas tu que eu tenha possuído a graça e as virtudes sem fadiga? Sabe que graça alguma recebi de Deus sem grande fadiga, oração contínua, desejo ardente, e muitas lágrimas e penitências” (GM, p. 246).
Nossa Senhora revelou a Santa Brígida que desde pequenina foi cheia de Espírito Santo e, à medida que crescia em idade, aumentava também em graça. “Ciente, pela Sagrada Escritura, de que Deus devia nascer de uma virgem para salvar o mundo, abrasou-se de tal forma seu espírito no amor divino, que não pensava senão em Deus, não desejava senão a Deus e só em Deus se comprazia Sobretudo desejava alcançar a vinda do Messias, na esperança de ser a serva daquela feliz Virgem, que merecesse ser sua Mãe” (GM, p. 247).
Afirma Santo Afonso “que certamente por amor dessa excelsa menina acelerou o Redentor sua vinda ao mundo”. Enquanto Maria em sua humildade não se julgava digna nem mesmo de ser a serva da Divina Mãe, foi ela mesma a eleita para essa sublime dignidade. Com a fragrância de suas virtudes e poderosas súplicas atraiu a seu seio virginal o Filho de Deus. (Como a rola que vai pelos campos, Maria sempre gemia no templo) lamentando as misérias do mundo perdido e pedindo a Deus a comum redenção.
“Oh! Com afeto e fervor repetia diante de Deus as súplicas dos profetas, para que mandasse o Redentor” (GM, p. 247).
Foi por isto, afirma S. João Crisóstomo, que “Deus escolheu Maria para Sua Mãe na terra, porque aqui não achou virgem mais santa e perfeita que ela, nem lugar mais digno para Sua morada ao que seu sacrossanto seio”.
E também S. Bernardo e S. Antonio afirmam que, “para ser eleita e destinada à dignidade de Mãe de Deus, devia a Santíssima Virgem possuir uma perfeição tão grande e consumada que nela excedesse todas as outras criaturas” (GM, p. 248).
Assim como Nossa Senhora, ainda menina, apresentou-se no Templo e se ofereceu totalmente a Deus, apresentemo-nos também a ela, sem reservas, e peçamos-lhe que nos ofereça a Deus. Certamente Deus não rejeitará sua oferta, já que vem pelas mãos daquela que foi templo vivo do Espírito Santo, as delícias de seu Senhor e a Mãe eleita do Verbo Eterno.
“Quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Mt 23,12), repetiu várias vezes o Senhor. Logo que Deus determinou fazer-se homem para redimir o homem decaído e assim manifestar ao mundo sua misericórdia infinita, certamente buscava entre todas as mulheres aquela que fosse a mais santa e humilde para ser Sua Mãe. Como diz o Livro dos Cânticos: “Há um sem número de virgens (a meu serviço), mas uma só é a minha pomba, a minha eleita” (Ct 6, 8-9).
Foi por sua imensa humildade que Deus tanto exaltou Maria. E a própria Virgem e diz no seu canto: “porque olhou para a humildade de sua serva” (Lc 1,48).
Foi essa “humildade”, profunda e real, que tanto encantou o coração de Deus que fez com que a elegesse a “bendita entre as mulheres”.
Quanto mais reconhecemos nosso “nada”, mais Deus se faz “tudo” em nós.
São Bernardo assim se expressa:
“A virgindade é certamente uma virtude louvável, mas a humildade é mais necessária. Aquela é objeto de conselho; esta de preceito. Podes salvar-te sem a virgindade; não sem a humildade. Eu diria: se perderes a virgindade, a humildade que deplora essa perda, pode agradar a Deus; mas se a humildade ouso dizer que nem a virgindade de Maria teria agradado ao Senhor” (MM, p. 29).
Também Santo Alberto Magno (1206-1280), bispo e doutor da Igreja, o grande mestre de São Tomás de Aquino, comentando a palavra de Maria diz: “Ela não disse: ‘Olhou para a castidade de sua serva’, porque, como lembrou Santo Agostinho, a humildade da Virgem agradou mais a Deus que a castidade. Às vezes, com humildade, mesmo aquele que não foi casto até então, pode agradar, como aconteceu com aquela mulher que era pecadora pública na cidade (Lc 7,37ss.). Mas nunca a castidade poderá agradar sem a humildade. Por isso, as virgens insensatas, enfatuadas pelo vazio de sua soberba, desagradaram” (MM, p. 30).
Há uma frase célebre que aparece pelo menos três vezes na Bíblia:
“Deus resiste aos soberbos mas dá Sua graça aos humildes” (1Pd 5,6Tg 4,6; Pr. 3,34).
Enquanto nosso coração não for totalmente despojado de nós mesmos, de nossa soberba e orgulho, vaidade e vanglória, auto-suficiência e arrogância, prepotência e presunção, amor próprio e reputação, desejo de aparecer e de ser elogiado, etc., Deus não terá espaço em nossa alma para fazer “Sua obra”, isto é, tornar-nos à imagem e semelhança de seu Filho (Rm 8,29) e gerá-Lo em nós como o pôde fazer em Maria.
Diz Santo Antônio que “o perfume da humildade de Maria subiu ao céu e atraiu o Verbo do seio Eterno do Pai a seu seio virginal. De modo que o Senhor, atraído pela fragrância dessa humilde virgenzinha, a escolheu para Sua Mãe. Mas, para maior glória e merecimento desta Mãe, não se quis fazer seu Filho sem o seu consentimento” (MM, p. 253).
Maria é ainda “bendita entre todas as mulheres”, porque as outras herdaram o pecado original e ela foi sempre isenta de toda a mácula.
A humildade de Maria é tal que ela se perturbou quando o anjo Gabriel a louvou com a saudação: “Ave, cheia de graça; o Senhor é convosco” (Lc 1,28). Sobre isto disse S. Bernardino de Sena:
“Houvesse um anjo declarado que ela era a maior pecadora do mundo, e não teria a Virgem se admirado tanto; mas, ouvindo aqueles louvores tão sublimes, toda se perturbou. E isso porque, sendo tão cheia de humildade, aborrecia todo elogio e desejava que apenas seu Criador, fonte e origem de todo bem, fossem louvados e benditos”. “Assim também o disse Maria a Santa Brígida, falando do tempo em que foi eleita Mãe de Deus” (GM, p. 253).
E a resposta de Maria ao anjo Gabriel foi a mais bela, a mais humilde e prudente que poderia dar: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra”.
“Poderosa, ó eficaz, augustíssima palavra!” exclama S. Tomás de Villanova. “Com um Fiat” (faça-se) criou Deus a luz, o céu, a terra, mas com este “fiat” de Maria um Deus se tornou homem como nós” (GM,  p.255).
Diz São Bernardo que “quanto mais Maria se viu exaltada tanto mais se humilhou. Ah! Senhora, por esta tão bela humildade, vós vos fizestes digna de ser olhada por Deus com amor singular; digna de enamorar nosso Rei com vossa beleza; digna de atrair, com a suave fragrância de vossa humildade, o eterno Filho, de seu repouso no seio de Deus, a vosso puríssimo ventre” (GM, p. 256).
Essa inocente Virgem tornou-se cara a Deus por sua pureza, mas por sua humildade fez-se digna, tanto quanto possível a uma criatura, de ser Mãe de seu Criador. A própria Virgem assim o disse a Santa Brígida: “Como mereci eu a graça insigne de me tornar Mãe de meu Senhor, senão porque conheci meu nada e me humilhei?” (GM,  p. 256).
A humildade de Maria foi a sua disposição mais perfeita para ser Mãe de Deus. Foi como uma escada pela qual o Senhor desceu à terra para se fazer homem em seu seio, afirmam os santos.
Enfim, diz Santo Afonso, “não pôde Maria humilhar-se mais do que se humilhou. Tendo-a feito Sua Mãe, Deus não pôde exaltá-la mais que a exaltou” (GM  p. 258). Assim, Deus a colocou em uma altura superior aos anjos e santos, dizem Santo Efrém e S. André de Creta.
Só Deus é superior a Maria, todos os demais seres vivos lhe são inferiores. É tão grande, em suma, a grandeza da Virgem, conclui S. Bernardo, que “só Deus pode e sabe compreendê-la” (GM,  p. 258).
Sendo Maria Mãe de Deus, excede com isso a toda grandeza e dignidade que se possa exprimir ou imaginar depois de Deus. Nenhum de seus outros títulos: Rainha do Céu, Soberana dos Anjos, Rainha dos Apóstolos, etc., é mais honroso que o de “Mãe de Deus”.
Diz Santo Alberto Magno quer “ser Mãe de Deus é a dignidade imediata depois da dignidade de ser Deus”, pois São Tomás de Aquino ensina que “quanto mais uma coisa se avizinha ao seu princípio tanto mais de sua perfeição”.
São Pedro Damião afirma que, “se Deus habita em diversos modos nas criaturas, em Maria habitou de modo especial, fazendo-se a mesma coisa com Maria” (GM, p. 259).
São Tomás ensina que, “tendo sido feita Mãe de Deus, em razão dessa união tão estreita com o Bem infinito Maria recebeu uma certa dignidade infinita”.
Afirma São Tomás de Vilanova que “os santos evangelistas calam-se sobre os louvores de Maria porque sua grandeza é indizível. Foi suficiente escrever: ‘dela nasceu Jesus, que se chama o Cristo” (MM, p. 44).
Afirmam os santos que Deus pode fazer um mundo maior, um céu mais extenso, mas não pode fazer uma criatura mais excelsa que fazendo-a Sua Mãe” (GM,  p. 260). Por isso Maria cantou bem alto: “Realizou maravilhas em mim, Aquele que é poderoso e cujo nome é Santo” (Lc 1,49).
Segundo S. Bernardino, “por amor de Maria, Deus não destruiu o homem depois do pecado de Adão” (GM, p. 261).
Afirma Santo Afonso que Maria, “mesmo na infância, desse estado teve unicamente a inocência, mas não o defeito de incapacidade. Pois desde o primeiro instante de sua vida teve o uso perfeito da razão.”
O Senhor revelou a Santa Brígida que a beleza de Sua Mãe excedeu a de todos os anjos e santos. Sua beleza afugenta os pensamentos impuros afirmam Santo Ambrósio e S. Tomás.
E concluí Santo Afonso: “Esta Divina Mãe é infinitamente inferior a Deus, mas é imensamente superior a todas as criaturas” (GM, p. 261).
Se for impossível achar um Filho mais nobre que Jesus, é impossível também encontrar uma Mãe mais nobre que Maria.
S. João Damasceno, resumindo o pensamento da Tradição, disse: “Convinha que as honras rendidas ao Filho se rendessem também à Sua Mãe” (MM, p. 42).
E para mostrar que não são apenas os anjos que veneram a Virgem Maria, mas também o Pai, o Filho e o Espírito Santo, Santo Hipólito, mártir do século III, e Santo Agostinho diziam:
“O que mandou que se honrasse o pai e a mãe, não iria deixar de honrar aquela que era Sua mãe, Sua esposa, Sua filha” (MM, p. 42).
Que todos esses argumentos substanciais, colhidos na fértil e rica Tradição da Igreja, sirvam não só para os devotos de Maria se alegrarem com suas glórias, mas também para aumentar-lhes a confiança em sua poderosíssima proteção. Pois Maria, sendo Mãe de Deus, tem um certo direito sobre seus dons, em benefício dos que servem.
Na opinião de S. Germano, “Deus não pode deixar de ouvir as súplicas de Maria, porquanto precisa reconhecê-la como Sua verdadeira e Imaculada Mãe” (GM, p. 262).
Assim, não falta a nossa Mãe nem o poder nem a vontade de nos socorrer.
Um dia Nossa Senhora disse a Santa Matilde que ninguém podia honrá-la melhor do que com a saudação da Ave-Maria. Se assim o fizermos, especialmente rezando o Terço diariamente, e até mesmo o Rosário, receberemos de Maria graças sobre graças. Na súplica de cada Ave Maria, nós lhe dizemos: “Santa Maria, Mãe de Deus…” É esta majestade que lhe dá poder de rogar por nós pecadores, agora, e na hora de nossa morte. Roguemos então a ela, que é “cheia de graça”, que nos conceda sermos, também nós, por sua intercessão, repletos da graça de Deus, em todo tempo e lugar, sem o que pereceremos.
Prof. Felipe Aquino
 Bíblia Católica News

De onde vem a Oração da "Salve Rainha"?

A “Salve Rainha” é uma das orações mais populares entre os católicos. Ela é atribuída ao monge Hermannus Contractus que a teria escrito por volta de 1050, no mosteiro de Reichenan, na Alemanha. Eram tempos terríveis aqueles na Europa central, com muitas calamidades naturais, destruindo as colheitas, epidemias, miséria, fome e a ameaça contínua dos povos bárbaros normandos, magiares e muçulmnaos que invadiam os povoados, saqueando e matando.


Certamente o monge Hermannus experimentava as piores  misérias da vida humana neste “vale de lágrimas”, como disse. Nesta prece “bradamos” como “degredados”, “suspiramos gemendo e chorando”, vemos o mundo como “um vale de lágrimas”, como um “desterro”. Entretanto, essa visão da vida acaba num sentimento de esperança que a ultrapassa e domina com a confiança em Nossa Senhora.
Ao considerar a condição humana, o monge Hermannus via  muitos motivos de tristeza, mas, ao fixar sua atenção na Virgem Maria, Rainha do céu de da terra, a quem se dirige, mostra-se animado por um horizonte de expectativas reconfortantes e consoladoras, pois ela, a Virgem Maria, é “Mãe de misericórdia”, “Vida, doçura, esperança nossa salve”, “Advogada nossa”,  de “olhos misericordiosos”.
Frei Contractus tinha  consciência da triste época em que vivia, mas tinha outras razões, além disso tudo. Conta a sua históira que ele nasceu raquítico e disforme; adulto, mal conseguia andar e escrevia com dificuldade, de mirrados que eram os dedos das suas mãos. Nasceu em 18 de fevereiro de 1013 em Altshausen, na Swabia hoje Alemanha.
Nasceu com uma fenda no palato, e um problema de espinha bífida (dividida em lóbulos iguais). Seus pais não tinham condição de cuidarem da criança e em 1020 (com sete anos) o entregaram para a Abadia de Reichenau, onde ele ficou o resto de sua vida. Contam que, no dia do seu nascimento, ao constatarem o raquitismo e má formação do bebê, seus pais caíram em prantos. Sua mãe Miltreed, mulher muito piedosa, ergueu-se então do leito e, lá mesmo, consagrou o menino à Mãe de Deus. Consagrado a Ela, foi educado no amor e na confiança em relação a Ela. E, anos mais tarde, foi levado de maca, por ser deficiente físico, até o mosteiro de Reichenan, aonde com o tempo chegou a ser mestre dos noviços, pois o que tinha de inapto seu corpo, tinha de perspicaz seu espírito.
Muito inteligente se tornou monge beneditino com a idade de 20 anos. Era um gênio, estudou e escreveu vários livros sobre astronomia, teologia, matemática, história e poesias em latim, grego e árabe. Professor aos 20 anos ficou conhecido pelos seus colegas na Europa.  Construiu alguns instrumentos musicais e equipamentos de astronomia. Ficou cego e com isso parou de escrever. É o mais notável poeta de seu tempo e ainda ficou  famoso ao escrever a oração da “Salve Rainha”e ainda o “Alma Redemporis Mater”. Faleceu em 21 de setembro de 1054 em Reichenau de causas naturais. Beatificado e culto confirmado em 1863. Sua festa é celebrada no dia 25 de setembro.
Foi no fundo de todas essas misérias, que a alma de Frei Contractus elevou à “Rainha dos Céus” esta prece, mescla de sofrimento e esperança, que é a “Salve Rainha”.
Quando veio a ser conhecida pelos fiéis, a “Salve Rainha” teve um sucesso enorme, e logo era rezada e cantada por toda parte. Um século mais tarde, ela foi cantada também na catedral de Espira, por ocasião de um encontro de personalidades importantes, entre elas, a do imperador Conrado e a do famoso São Bernardo, conhecido como o “cantor da Virgem Maria”, pelos incendidos louvores que lhe dedicava nos seus sermões e escritos, ele que foi um dos primeiros a chamá-la de “Nossa Senhora”.
Dizem que foi nesse dia e lugar que, ao concluir o canto da “Salve Rainha”, cujas últimas palavras eram “mostrai-nos Jesus, o bendito fruto do vosso ventre”, no silêncio que se seguiu, ouviu-se a voz potente de São Bernardo que, num arrebato de entusiasmo pela mãe do Senhor, gritou, sozinho, no meio da catedral: “Ó clemente, ó piedosa, ó doce e sempre Virgem Maria”… E a partir dessa data estas palavras foram incorporadas à “Salve Rainha” original.
Nos quase mil anos que se passaram desde que Herman Contractus compôs a “Salve Rainha” uma multidão incontável de fiéis tem se identificado como os sentimentos que ela expressa, vivendo desde sua aflição à doce esperança que inspira sempre a amável Mãe do Nosso Salvador.
Fonte: 
http://www.newadvent.org/cathen/07266a.htm;  http://www.cademeusanto.com.br/beato_hermancontractus.htm
Bíblia Católica News

Identificando a Igreja que é “coluna e fundamento da Verdade” (Parte 5/5): anexo


Apologética

5. COMENTÁRIO DE JOÃO CALVINO SOBRE A COLUNA DA VERDADE
Quando postei este artigo em um Fórum [de Discussão], um irmão acrescentou este outro ponto, que considero muito importante. Transcreverei aqui, não sem antes agradecer a Lancelot pela contribuição:
  • Comentário de João Calvino à 1ª Epístola de São Paulo a Timóteo:[*] 15. ‘Como os homens devem portar-se na casa de Deus’: Nessas palavras, ele enaltece a importância e a dignidade do ofício pastoral, pois os pastores são como que despenseiros a quem Deus tem confiado a incumbência de governar sua casa. Se um homem é responsável por uma grande família, então deve ele trabalhar dia e noite com grande diligência para que nada saia errado em função de algum descuido, inexperiência ou negligência. Se tal cuidado é indispensável em relação a meros seres humanos, quanto mais em relação ao Criador deles.”
Partimos do grande amor com que São Paulo fala do Ministério Eclesial. Segundo Calvino, o pastor é o “despenseiro” (gr., “episcopos”) que governa sua Casa (a de Deus). “Superintendência” é outro termo para descrever o grego “episcopos”. Mas esclareço: Calvino odeia os Bispos por serem “papistas”.
  • “‘Na casa de Deus’: há boas razões para Deus chamar a Igreja de sua casa, pois Ele não só nos tem recebido como seus filhos mediante a graça da adoção, mas também, Ele mesmo, habita pessoalmente entre nós”.
Uma simples e breve, porém bela forma de descrever a Igreja como Casa de Deus: somos seus filhos; portanto, sua Casa é a nossa Casa, e Ele habita em nós e entre nós. Com efeito, Deus habita na Igreja (nós) assim como nós habitamos na Casa de Deus. Em linguagem católica, diríamos: uma família pela Aliança de Deus conosco.
Mas é aqui que de fato inicia o nosso tema:
  • “[Coluna e fundamento da verdade]: Ao ser denominada ‘coluna e fundamento da verdade’, tal dignidade atribuída à Igreja não é algo ordinário. Ora, que termos mais sublimes poderia ele ter usado para descrevê-la? Porquanto não existe nada mais venerável e santo do que aquela verdade que abrange tanto a glória de Deus quanto a salvação do homem. Fossem todos os louvores que os admiradores esbanjam em referência à filosofia pagã, reunidos num montão, o que seria isso comparado com a excelência dessa sabedoria celestial, a única que leva o título de ‘a luz e a verdade’ e ‘a instrução para a vida’ e ‘o caminho’ e ‘o reino de Deus’? Esta verdade, porém, só é preservada no mundo através do ministério da Igreja. Daí, que peso de responsabilidade repousa sobre os pastores, a quem se tem confiado o encargo de um tesouro tão inestimável!”
Primeiramente, é um título que São Paulo dá à Igreja: “coluna e fundamento da Verdade”, dotando (a Igreja) de uma grandeza fora do natural. Calvino elogia este título com que São Paulo fala da Igreja como algo bastante santo e venerável, porque a Verdade eterna, da glória de Deus até a salvação do homem, é sustentada na Igreja.
E mais! Calvino afirma que a Verdade eterna é preservada na terra somente pelo ministério da Igreja, exigindo uma grande responsabilidade especialmente dos pastores (observe que ele fala aqui de “pastores”, evitando com o máximo cuidado empregar a palavra “episcopos”, “Bispo”).
Aqui o ódio sai à luz: Calvino – que começa falando maravilhas do ministério da Igreja, Casa de Deus e real fundamento da Verdade sob a responsabilidade dos Bispos – percebe que está fora deste maravilho edifício e que atentou contra o Corpo de Cristo! Então, contradiz a si mesmo, numa tentativa desesperada de justificar o seu comportamento sectário (de dividir e destroçar o Corpo de Cristo), começando assim a cuspir veneno:
  • “Quão cínicas são as bagatelas que os papistas inferem das palavras de Paulo, de que todos os seus absurdos devam ser considerados oráculos de Deus, visto que são colunas da verdade e, portanto, infalíveis!”
Começa por levantar um muro entre ele e a Igreja, chamando-a de “papistas”; e, depois de ter assegurado que o ministério da Igreja sustenta a Verdade, rejeita que a mesma possa falar em nome de Deus, contradizendo a própria Escritura. E atira uma falácia: a igreja é “infalível”. É claro que nós podemos nos equivocar: nós somos a Igreja; ela é composta por homens pecadores, que procuram superar suas limitações com a graça de Deus! Quem é infalível é o Espírito Santo! Por isso, quando os pastores (como menciona Calvino, que não os quer chamar de “episcopos” porque sabe que os verdadeiros Bispos possuem ministério apostólico e magisterial) falam como Igreja com o poder do Espírito Santo (ex cathedra), são infalíveis, porque assim o decidiram o Espírito Santo e a Igreja (cf. Atos 15,28).
  • “Em primeiro lugar, porém, temos de examinar por que Paulo honra a Igreja com um título tão proeminente. Evidentemente, ele desejava, ao realçar aos pastores a grandeza de seu ofício, lembrá-los com que fidelidade, diligência e reverência devem desempenhá-lo, e ao mesmo tempo quão terrível é a retribuição que os aguarda, caso, por sua culpa, esta verdade, que é a imagem da glória de Deus, a luz do mundo e a salvação dos homens, seja prejudicada. Certamente, esse pensamento deve imbuir os pastores da gradiosidade de sua tarefa; não para desencorajá-los, mas para compeli-los a uma vigilância mais intensa”.
Depois do ódio com que chama a Igreja de “papistas”, reduz bastante o sentido bíblico. Não é que seja mentira, mas é isso e muito mais. Lógico! Se a Igreja é “a coluna e o fundamento da Verdade”, seus responsáveis / despenseiros / superintendentes / sucessores dos Apóstolos / pastores / BISPOS devem ter em mente com que fidelidade e reverência devem desempenhar seus ministérios! Não é qualquer coisa! É a Casa de Deus! Não proclamam uma ideologia, mas a Verdade eterna! Por isso mesmo, serão julgados com maior rigor “porque a quem muito se deu, muito se lhe exigirá” (Lucas 12,48), se culposamente distorceram a Imagem de Cristo. Com efeito, devemos trabalhar com temor e tremor para a nossa salvação (cf. Filipenses 2,12), e com a máxima vigilância em sustentar a Verdade no Magistério da Igreja.
Ninguém afirma o contrário! A seguir, Calvino ensina:
  • “Daqui se torna fácil deduzir o sentido que tinham as palavras de Paulo. A Igreja é a coluna da verdade porque, através de seu ministério, a verdade é preservada e difundida. Deus mesmo não desce do céu para nós, nem diariamente nos envia mensageiros angelicais para que publiquem sua verdade, senão que usa as atividades dos pastores, a quem destinou para esse propósito. Ou, expondo-o de maneira mais simples: não é a Igreja a mãe de todos os crentes, visto que ela os conduz ao novo nascimento pela Palavra de Deus, educa e nutre toda a sua vida, os fortalece e finalmente os guia à plenitude de sua perfeição? A Igreja é chamada coluna da verdade pela mesma razão, pois o ofício de ministrar a doutrina que Deus pôs em suas mãos é o único meio para a preservação da verdade, a qual não pode desaparecer da memória dos homens”.
Em todo este parágrafo, a única coisa que não estaria em consonância com as Escrituras seria absolutizar a expressão, passando para “único sentido que tinham as palavras de Paulo”. É sim neste sentido e no sentido pleno de ser Magistério inspirado pelo Espírito Santo.
A Igreja não apenas defende e espalha a Verdade, como também a proclama e é conduzida pelo Espírito Santo à verdade plena (cf. João 16,13), isto é, vai cada vez mais compreendendo o Mistério de Deus (o que os teólogos chamam de “desenvolvimento”). A verdade já foi dita em Jesus Cristo, Palavra Eterna do Pai, mas a nossa compreensão dessa verdade, desse Mistério de Deus, dessa Palavra de Deus, ou seja, desse Cristo, é guiada pelo Espírito Santo.
A Igreja não só é Mestra, Mãe que regenera pela Palavra de Deus mediante o Batismo (cf. 1Pedro 3,21), que nos alimenta através dos Sacramentos, que nos leva por esta graça e penitência a procurar a perfeição. Ela não apenas nos compartilha a Sã Doutrina Apostólica e Bíblica, como também é a Esposa de Cristo, que brotou do lado de Cristo assim como Eva brotou do lado de Adão, e brotou como Sangue e Água, símbolo dos Sacramentos!
E não é apenas isso; é ainda o Corpo de Cristo e, por isso, Ele é a Cabeça, move os Seus membros e os dirige. Não podemos mutilar tão precioso Corpo através de divisões! “Que todos sejam um, Pai” (João 17,21).
É ainda a responsável por perpetuar o Sacrifício de Cristo na Eucaristia e anunciar o Evangelho a todas as nações. Sem a Igreja, a Salvação de Cristo não se perpetua no tempo.
  • “Em consequência, essa recomendação se aplica ao ministério da Palavra, pois se ela for removida, a verdade de Deus desvanecerá. Não é que ela seja menos infalível se os homens não lhe prestam seu apoio, como alguns papistas ociosamente alegam. É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada. O sentido que Paulo dá é o mesmo de Romanos 10.17: ‘E assim, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir, pela palavra de Deus’. Sem ouvir a pregação não pode haver fé. Portanto, em relação aos homens, a Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja a proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade. Se não houver ensino público do evangelho, se não houver ministros piedosos que, por sua pregação, resgatem a verdade das trevas e do esquecimento, as falsidades, os erros, as imposturas, as superstições e a corrupção de toda sorte assumirão imediatamente o controle. Em suma, o silêncio da Igreja significa o afastamento e a supressão da verdade. Não há nada absolutamente forçado nesta exposição da passagem”.
Calvino faz aqui uma apologia à pregação da Igreja baseada nas Escrituras. E afirma: “Não há nada absolutamente forçado nesta exposição da passagem”. Mas há! Isto porque afirma: “É chocante blasfêmia afirmar que a Palavra de Deus é falível até que obtenha da parte dos homens uma certeza emprestada”. É exatamente o mesmo erro dos filhos de Calvino (os “evangélicos”) que imaginam que a inspiração depende dos homens porque a Igreja, com a sua autoridade provinda do Espírito Santo, discerniu as Sagradas Escrituras.
Erro garrafal! O que a Igreja fez foi discernir sobre quais são os Livros Sagrados; e ao discerni-lo, proclamá-los como Palavra de Deus com a autoridade do Espírito Santo.
O Espírito Santo guiou a Igreja na tarefa de discernir quais Livros eram totalmente inspirados e, com essa autoridade de ser a Igreja que fala com o poder do Espírito Santo, afirmou: estes Livros sim; estes, não! Quem mais teria tal autoridade? Como irão crer nos livros que a Igreja Católica discerniu aqueles que não creem na autoridade da Igreja Católica?
Calvino julgou mal a autoridade da Igreja porque imaginou que a Igreja dizia que a Palavra de Deus era incerta até que a própria Igreja o afirmasse! A Palavra de Deus não é incerta: acusação falsa! O que era incerto era saber quais Livros eram Palavra de Deus e quais não eram. Nunca foi dito que foi a Igreja quem converteu os Livros da Bíblia em Palavra de Deus, como se possuísse algum poder mágico, mas que pôde discernir em quais Livros Deus havia falado para todas as gentes de todos os tempos.
Em outras palavras: a Igreja não dizia que conferiu poder à Bíblia para ser Palavra de Deus; a Igreja discerniu quais Livros eram Palavra de Deus e, com sua a autoridade, fixou o Cânon. Logo, Calvino erra nessa acusação. Mas não erra nisto: “O silêncio da Igreja significa o afastamento e a supressão da verdade”.
A seguir, Calvino põe foco na Igreja à qual chama “papistas”:
  • “Agora que descobrimos a intenção de Paulo, voltemo-nos para os papistas. Seu primeiro erro é o de transferir este enaltecimento da Igreja para si mesmos, porquanto eles se cobrem com plumas emprestadas. Presumindo que a Igreja fosse exaltada acima do terceiro céu, tal coisa não tem nada a ver com eles”.
1º) Calvino “determina” o que São Paulo quis dizer, reduzindo-o. Isto é desonestidade contra as Escrituras, já que focaliza as palavras de São Paulo e as absolutiza.
2º) A Igreja não aplica esse elogio a si mesma; é Deus quem o aplica através das palavras de São Paulo! A Única Igreja não precisa se apropriar de nada como fazem as seitas (divisões) que, ao se separarem do tronco, precisam se autonomear, se auto-elogiar, se autodeterminar e se auto-salvar. A Igreja que foi instituída por Deus (cf. Mateus 16,18), não se autoproclama em nada; recebe tudo como dom e graça de Deus. A Igreja nunca afirmou: “eu me autoproclamo a partir de agora ministradora das graças de Deus”; foi Deus quem o fez! A Igreja nunca afirmou: “eu me autoproclamo a partir de agora edificada sobre Pedro”; foi Deus quem o fez! A Igreja nunca afirmou “eu sou a partir de agora a coluna e o fundamento da Verdade”; foi Deus quem o fez! Os que se separam desta únida Igreja (una, santa, católica e apostólica) são os que a partir de agora precisam se autodenominar como bem lhes pareça. Quem é então que “se cobre com plumas emprestadas”?
3º) Trata-se de uma opinião pessoal sem fundamento bíblico nem teológico. Simplesmente Calvino quis sustentar isso gratuitamente: “Não tem nada a ver com os católicos porque eu assim o afirmo e ponto final”.
Mais ainda! É possível inverter totalmente a passagem contra eles, porque se a Igreja “é a coluna da Verdade”, logo a Igreja não está com eles, pois a verdade não só “estaria sepultada, como ainda horrivelmente destroçada e lançada sob os seus pés”.
Qualquer pessoa pode pinçar trechos da Escritura e fazer acusações. Mas a proposição será falsa:
-> Se a Igreja é a coluna e o fundamento da verdade, logo não pode sustentar mentira;
–> Se a Igreja sustenta mentira, deixa de ser coluna e fundamento da verdade;
—> Se a Igreja deixa de ser coluna e fundamento da verdade, não pode se sustentar com forças humanas;
—-> Se a Igreja não pode se sustentar com forças humanas, se sustenta porque é Deus quem a edifica: Deus a sustenta!
—–> Se Deus sustenta a Igreja, o Inferno não poderá vencê-la (cf. Mateus 16,18);
—–> Se Deus sustenta a Igreja, é porque assim o prometeu (v. toda a Escritura).
Até aqui, concluímos que se a Verdade foi sepultada e destruída pela Igreja, então Deus não cumpriu a sua promessa de sustentá-la e preservá-la até o fim. E disto se segue:
—–> Se Deus deixa de sustentar a Igreja, então o Deus da Bíblia pode mentir;
—-> Se Deus mente, então Ele não é Deus;
—> Se não é Deus, a Bíblia não é Palavra de Deus, porque mente sobre Deus.
No entanto, o problema aqui é: a Igreja realmente sustentaria a mentira, destruiria a verdade? Ou o pecado humano teria ganho espaço na Igreja? Porém, afirma São Paulo: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” [Romanos 5,20]. A Igreja, apesar de ter em seu seio homens perversos (o trigo e o joio crescem juntos, cf. Mateus 13,30), JAMAIS ensinou doutrinas falsas. Apesar do pecado dos homens, a Igreja (por pura graça de Deus) manteve a Sã Doutrina. O fato de muitos homens não a terem acolhido em seus corações, é outra história! Mas desta experiência brotou a magnânima graça de Deus que superabundou: São Carlos Borromeo, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Jesus, entre muitos outros Santos [no período da Reforma Protestante].
Quando o pecado do homem obscurece o Corpo de Cristo, o Espírito Santo preserva a Igreja do próprio Inferno; a Igreja ainda é sustentada apesar de nós, que a conformamos.
Pois bem: talvez Calvino não fizesse a mínima ideia do que o seu movimento – a Reforma – iria produzir: divisão após divisão, distorção da verdade após distorção da verdade, heresia após heresia. Por exemplo: relata-se que Lutero, já idoso e doente, ao ver os efeitos do seu movimento (divisão entre eles mesmos, etc.), afirmou que NÃO era isso o que ele buscava, o que ele queria, o que ele acreditava.
Por isso, estas palavras, este pequeno enunciado que ele lançou contra o que considerava uma sociedade demoníaca, eu agora as dirijo ao Protestantismo, como uma exortação de seu próprio pai:
  • “Isto é um enigma ou uma sutileza? Paulo não quer que nenhuma sociedade em que a verdade de Deus não mantenha um lugar elevado e conspícuo, seja reconhecida como Igreja”.
Entre todas as denominações protestantes, qual delas possui a Verdade? Não podem ser muitas: deve ser apenas uma ou já não seria Verdade.
Aqui não cabe “minha verdade” e “sua verdade”. Falamos da Verdade!
Dividiram e destroçaram a verdade; cada um levou “um pedacinho”; e, como Calvino mesmo diz, a “sepultaram, horrivelmente destroçada e lançada sob os seus pés”.
O erro de Calvino pode ser um erro de projeção psicológica (enxergou na Igreja Católica a projeção do seu próprio movimento). Por isso afirma:
  • “No Papado não há qualquer evidência de tal procedimento, senão unicamente desolação e ruína. Não se encontra entre eles a genuína marca da Igreja”.
Temos aí vários erros. Por exemplo:
  • O Papado não é a Igreja Católica, mas parte dela, membro do Corpo único.
  • Desolação e ruína havia em grande parte da Igreja, mas aí mesmo superabundou a graça (os Santos, o Concílio de Trento, a verdadeira Reforma da Igreja).
  • A marca da Igreja, porém, encontra-se aí sim, pois ela não é um “Clube de Santos” (pois se fossem Santos não precisariam da Igreja que conduz à salvação de Cristo), mas sim um “Hospital de Pecadores” (de todos os chamados a serem Santos ou Santos por vocação). Daqui talvez proceda uma curiosa consciência tradicional protestante: de que os católicos são pecadores asquerosos e eles, pelo contrário, são perfeitos e santos impecáveis!
Calvino encerra o seu comentário ao versículo 15 de 1Timóteo com esta conclusão:
  • “A fonte de sua ilusão consiste em que não ponderam que o essencial é que a verdade de Deus seja mantida pela pura proclamação do evangelho, e que seu apoio não depende das faculdades e emoções humanas, e, sim, em algo muito mais exaltado, o qual não deve dissociar-se da Palavra de Deus em sua pureza”.
A Verdade de Deus não é mantida pela mera pregação do Evangelho. Isto é dar ao homem um poder que é apenas de Deus. Pela pregação do Evangelho se espalha a Verdade, mas não só por essa pregação ela se mantém; é o próprio Deus quem a mantém NA IGREJA. Dizer o inverso é contradizer o que ele mesmo diz: que não depende das faculdades e emoções humanas. Por isso, a Igreja encontra-se muito mais elevada, porque brota do lado de Cristo e proclama a Palavra de Deus.
Manter a Verdade não depende da Bíblia, mas de Deus agindo na Sua Igreja, pela qual proclama a Sua Palavra. Para demonstrá-lo, basta uma simples menção: a doutrina da “Sola Spcriptura” [=somente a Bíblia] despedaçou o Corpo de Cristo.
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REFERÊNCIAS
Livros:
– COLUNGA, Alberto. “Comentario Bíblico”.
– STRAUBINGER, Juan. “Nuevo Testamento Comentado”.
– SHOKEL, Luis Alonso. “Nuevo Testamento Comentado”.
– La Casa de la Biblia. “Comentario al Nuevo Testamento”.
– [*] CALVINO, João. “Comentário às Cartas Pastorais”. Ed. Fiel, 2009 (N.doT.).
Sites:
– http://foro.catholic.net/
– http://socrates58.blogspot.com.es/
– http://www.cin.org/users/jgallegos/contents.htm
– http://www.davidcox.com.mx/libros/c/Calvino%20-%20Comentario%201%20Timoteo%2099p%20(b).pdf
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF