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sábado, 30 de maio de 2020

Da Providência Divina (4/10)

Gotas de Paz
DA  PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 4º – SE TODOS OS MOVIMENTOS E AÇÕES DOS CORPOS INFERIORES ESTÃO SUBMETIDOS À PROVIDÊNCIA DIVINA.
Respondo dizendo que sendo o mesmo o primeiro princípio das coisas e o seu fim último, é do mesmo modo que as coisas provém do primeiro princípio e se ordenam ao fim último.
No provir das coisas a partir do princípio encontramos que aquelas que são próximas ao primeiro princípio possuem um ser indeficiente; as coisas, porém, que dele distam, possuem um ser corruptível, conforme está escrito no II De Generatione; de onde que, na ordenação das coisas ao fim, aquelas que são proximíssimas ao fim último indeclinavelmente possuem ordenação ao fim; aquelas que, porém, são remotas, às vezes declinam daquela ordem.
Ora, as mesmas coisas são próximas e remotas em relação ao princípio e ao fim. Os incorruptíveis, deste modo, assim como possuem um ser indeficiente, assim também nunca declinam da ordem para com o fim em seus atos. São assim os corpos celestes, cujos movimentos nunca se desviam do curso natural. Nos corpos corruptíveis, porém, muitos movimentos, por defeito da natureza, ocorrem além da reta ordem. É por isto que o Filósofo, no XII da Metafísica, diz que na ordem do universo as substâncias incorruptíveis assemelham-se às pessoas livres em uma casa, os quais sempre operam para o bem da casa, mas os corpos corruptíveis assemelham-se aos servos e aos animais da casa, cujas ações freqüentemente saem da ordem do governante da casa. E é também por causa disso que Avicenna diz que além da órbita da Lua não existe o mal, mas somente nos seres que lhe são inferiores.
Todavia, nem por isto nas coisas inferiores os atos deficientes da reta ordem estão inteiramente fora da ordem da providência. De fato, de duas maneiras algo pode submeter-se à ordem da providência: de um modo, como algo a que outro é ordenado; de outro modo, como algo que se ordena a outro.
Ora, na ordem das coisas que existem para um determinado fim todos os intermediários são eles próprios fins e meios para o fim, assim como está dito no II da Metafísica. Por este motivo, tudo o que está dentro da reta ordem da providência está sob esta providência não somente como ordenado a outros, mas também como algo a que outros estão ordenados. O que sai, porém, da reta ordem, cai sob a providência apenas segundo que se ordena a outro, não segundo que algo é ordenado ao mesmo. Ocorre assim com o ato da natureza generativa, pelo qual na natureza o homem gera outro homem perfeito, o qual é ordenado por Deus a algo, isto é, à forma humana, e a este mesmo ato generativo outra coisa é por sua vez ordenada, a potência do homem que irá gerar; mas no ato deficiente, pelo qual às vezes são gerados monstros na natureza, embora seja ordenado por Deus a alguma utilidade, nada mais se ordena ao ato generativo deficiente pois ele acontece justamente pelo defeito ou ausência de alguma coisa. E assim em relação ao primeiro caso existe a providência de aprovação, enquanto que a respeito do segundo existe a providência de concessão, estes dois modos de providência tendo sido colocados pelo Damasceno no II De Fide Ortodoxa.
Deve-se saber, todavia, que alguns filósofos referiram este modo de providência somente às espécies das coisas naturais, estendendo-a às coisas singulares apenas na medida em que estas coisas participavam na natureza comum, pois não julgavam que Deus conhecesse os seres em sua singularidade. Diziam, de fato, que Deus de tal ou qual modo havia ordenado a natureza de alguma espécie, de maneira que pela virtude que se seguiria à espécie tal ou qual ação deveria seguir-se. E que se alguma vez houvesse alguma deficiência, esta se ordenaria a tal ou qual utilidade, assim como a corrupção de um ente se ordena à geração de outro. Deus, todavia, não teria ordenado esta virtude particular a este ato particular, nem este defeito particular a esta utilidade particular.
Nós, porém, dizemos que Deus conhece perfeitamente todos os seres particulares, e por isso colocamos a mencionada ordem da providência nos seres singulares mesmo enquanto singulares.

Veritatis Splendor

Fundamento Bíblico da Teologia Católica: Mariologia (Parte 5/6)

Ecclesia
Tradução: Carlos Martins Nabeto

V. DA ASSUNÇÃO À COROAÇÃO
Em suma:
1. Foi levada ao céu terminado o curso de sua vida.
2. Em corpo e alma.
3. Foi coroada nos céus.
1. A VIRGEM MARIA FOI ASSUMPTA AO CÉU TERMINADO O CURSO DE SUA VIDA TERRESTRE
Alusões do Cântico dos Cânticos:
“Que é aquilo que sobe do deserto,
como colunas de fumaça
perfumada com incenso e mirra,
e perfume dos mercadores?” (Cântico 3,6)
“Quem é esta que desponta como a aurora,
bela como a lua,
fulgurante como o sol,
terrível como esquadrão?” (Cântico 6,10).
“Quem é esta que sobe do deserto,
apoiada em seu Amado?” (Cântico 8,5).
2. A VIRGEM MARIA FOI LEVADA AO CÉU EM CORPO E ALMA
Alguns Santos Padres e Teólogos fazem referência aos seguintes textos:
“Levanta-te, Iahweh, para o teu repouso, tu e a arca da tua força” (Salmo 132,8).
“Quem é esta que sobe do deserto, apoiada em seu Amado?” (Cântico 8,5).
“E o Santuário de Deus se abriu no céu e apareceu a arca da sua aliança no Santuário; houve relâmpagos, vozes, trovões, terremotos e uma grande tempestade de granizo” (Apocalipse 11,19).
“Porei hostilidade entre ti e a mulher, entre tua linhagem e a linhagem dela. Ela te esmagará a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênese 3,15).
Esclarecimentos: O triunfo de Cristo sobre a serpente é integrado por uma tríplice vitória: sobre o pecado, sobre a concupiscência e sobre a morte. Porém, Maria está associada à sua linhagem, isto é, a Cristo, neste triplo triunfo; portanto, Maria triunfou sobre o pecado por sua imaculada conceição, sobre a concupiscência por sua maternidade virginal e sobre a morte por sua assumpção ao céu em corpo e alma. Além disso, a imunidade de Maria quanto ao pecado original supõe a imunidade das conseqüências do mesmo pecado; uma dessas conseqüências é a corrupção do corpo e sua separação da alma; com efeito, o corpo e a alma perduram na glória.
3. A VIRGEM MARIA FOI COROADA NOS CÉUS COMO RAINHA DE TODA A CRIAÇÃO
Os textos da Sagrada Escritura são apenas alusivos:

“Filhas de reis estão entre as tuas favoriras; à tua direita, uma rainha, com o ouro de Ofir” (Salmo 45,10).
“Na eternidade, triunfa – coroada, vitoriosa – numa competição de lutas imaculadas” (Sabedoria 4,2).
“Um grande sinal apareceu no céu: uma Mulher, vestida de sol, com a lua sob os pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça” (Apocalipse 12,1).
Veritatis Splendor 

A humanidade de S. Paulo VI (2/4)

Montini era um papa humano simples, na vida cotidiana e no encontro com a multidão, na solidão cotidiana, em contatos frequentes com colaboradores e nos momentos das escolhas mais exigentes.

Do arcebispo Romeo Panciroli

Paulo VI era um papa simples e humano, na vida cotidiana e no encontro com a multidão, na solidão cotidiana, em contatos frequentes com colaboradores e nos momentos das escolhas mais exigentes; fiel a si mesmo e à sua missão.

Ele queria uma atmosfera de simplicidade ao seu redor. Ele tinha seu apartamento mobiliado em um estilo simples e sem pompa; seu escritório, sua biblioteca, as salas onde ele recebeu as decorações exigidas pelo bom gosto e significado de sua missão. Tudo em nome de um estilo sóbrio, em escala humana, que ele estabeleceu e consolidou.

A humanidade de Paulo VI mostrou-se sobretudo em seu relacionamento com as pessoas: com indivíduos e multidões, com jovens e adultos, com os grandes e poderosos deste mundo, e com seus irmãos no episcopado.

Alguém o chamou de frio e desapegado, e talvez houvesse uma avareza de amor por ele, mesmo por parte de muitos cristãos que não conseguiram descobrir o tesouro contido naquela pessoa aparentemente tão frágil. Seu caráter absorvido certamente não favoreceu o florescimento fácil, mas sua humanidade sempre foi algo desarmante que ele conquistou. Todo encontro com ele, mesmo que breve, foi uma experiência que deixou um rastro.

Apresentou-se discretamente, quase inadvertidamente, mas ao olhar penetrante de seus olhos cinza-azulados, muito móveis e expressivos, nada escapou, com a intenção de penetrar no íntimo de seu interlocutor. Não foi explosivo, mas persuasivo; encorajados com palavras feitas de propósito, palavras que ressoaram dentro de você por um longo tempo.

Sua paternidade e capacidade de falar se originavam de sua capacidade de ouvir e de sua intuição. Tudo nele era sensibilidade e participação: seu modo de ouvir, entender, perceber, ficar quieto, falar. Ele tinha uma propensão a dar as boas-vindas e nada o achava estrangeiro ou despreparado, muitas vezes sobrevoando as formalidades para tornar sua reunião com outras pessoas mais cordial.

As multidões sentiram sua humanidade comunicativa e sempre se reuniam para ele. Basta pensar nas reuniões do Ano Santo de 1975, nas visitas a Roma e viagens fora de Roma, onde ele foi recebido com alegria e aclamado por muitos milhares de pessoas exultantes e ansioso por ouvi-lo.

Ele está à vontade entre os fiéis, busca a reunião e, para recebê-los, criou uma casa espaçosa de propósito, o atual Salão Paulo VI. É o lugar onde ele ora, ouve, ensina, encoraja, chama de volta, onde ele dá sua palavra e gasta suas energias. Todo mundo se sente próximo e entende, mesmo não católicos e não crentes; os mesmos irmãos separados, antes dele frequentemente esquecem o "peso" da primazia, em uma comunhão que não os exclui.

Alguns o acusaram de falar com dificuldade, e ele tentou fazer um esforço, porque nem sempre é fácil explicar o cristianismo; ele fez de tudo para se fazer entender, porque pregar era sua missão: "Veja, eu estou sempre pregando ...". Freqüentemente falando livremente, sem seguir as notas, ele se via usando um pouco de 'eu' e um pouco de 'nós', naturalmente inclinados a sentir-se entre outros, como um deles, para trazer apenas alegria e amor. De fato, João Paulo I disse sobre ele: "Ele é um mestre da fé porque sabe apresentar a revelação de Deus de maneira atraente".

Verdadeiro anunciador da Palavra, totalmente compreendido de seu mandato; mas quanta humildade em seu comportamento diário, em todos os seus gestos. Ele encontrou uma oportunidade de dizer abertamente com grande convicção: "Quem anuncia isso para você?" Um homem pobre, um fenômeno de pequenez. Tremo, irmãos e filhos, tremo ao falar, porque sinto que estou dizendo algo que me supera imensamente, das coisas que não testemunhei e que serviu o suficiente, das coisas que realmente merecem uma voz profética, sinto minha pequenez e a desproporção avassaladora entre elas. a mensagem que anuncio e minha capacidade de expô-la e também de vivê-la".

Em seu governo como pastor universal, ele escolheu o diálogo e a persuasão como o caminho principal, dedicando sua primeira e encíclica programática Ecclesiam Suam a esse tema.: " Nós" lemos lá "sempre temos esse relacionamento dialógico inefável e muito real, oferecido e estabelecido conosco por Deus Pai, por meio de Cristo, no Espírito Santo, para entender que relacionamento nós, isto é, a Igreja, devemos tentar estabelecer e promover com a humanidade".

Ele se importava especialmente com a comunhão com os bispos. Depois de ter vivido a comunhão do Concílio com eles, ele os recebeu em consultas periódicas no Sínodo, e até foi ouvi-los em suas conferências continentais, na América Latina, na Ásia, na Oceania. Até o anel episcopal, doado a muitos bispos, e que muitos de nós ainda carregamos, fez um vínculo de comunhão, oferecendo um modelo com uma estrutura simples, mais símbolo do que decoração. Ele se sente unido a eles e o manifesta em todas as ocasiões, ouvindo-os atentamente e celebrando juntos a Eucaristia, o sinal da unidade. "Unidos para o mundo acreditar", ele dirá aos bispos, ao clero e aos fiéis dos ritos católicos orientais reunidos na Basílica de Sant'Anna em Jerusalém.

Tornou-se animador da comunhão entre todo o povo de Deus e visitou as paróquias de sua diocese romana, sempre encontrando padres, comunidades religiosas e assembleias de seus fiéis "para tornar os católicos", disse "homens verdadeiramente bons". homens sábios, homens livres, homens serenos e fortes.

Revista 30 Dias

S. JOANA D'ARC, VIRGEM

S. Joana d'Arc, 1504
S. Joana d'Arc, 1504
Joana D’Arc é representada sobre um cavalo, com uma enorme armadura de ferro, quase que esmagando a sua figura franzina ou então amarrada em uma coluna, enquanto as chamas e a fumaça a consomem. Há seiscentos anos, são estes seus dois ícones: uma guerreira vitoriosa e uma "bruxa" moribunda. Nestas duas imagens estão condensados seus 19 anos de vida: a menina, nascida em 6 de janeiro de 1412, em Domremy, nordeste da França, que ajuda sua família em casa e nos campos, mal conseguindo rezar, foi aquela que, aos 13 anos de idade, ouviu "vozes" do céu e se sentiu envolvida em um grande projeto.

De “louca” a “donzela”
“Livrar a França” e proclamar Carlos VII, rei da França: esta missão foi-lhe incumbida - disse Joana D’Arc, primeiro, aos pais e, depois, às autoridades - pelas vozes do Arcanjo Miguel, de Catarina de Alexandria e de Margarida de Antioquia... que ela ouviu claramente. Tais vozes foram, logo, criticadas como brincadeiras de uma analfabeta, de olhos esbugalhados.
Porém, quando aquela jovem, de 17 anos, que fugiu de casa, predisse, com exatidão, uma derrota da França contra os invasores britânicos, as suas “fantasias” adquiriram maior valor.
Ao ser examinada por alguns teólogos, que a interrogaram sobre a sua fé, Joana foi posta à frente de um exército, que marchou para Orléans e a circundou. Em apenas oito dias, aconteceu um prodígio, em termos militares: os ingleses foram, várias vezes, derrotados na batalha, onde a audácia da "donzela" foi incomparável. Orléans foi libertada e, em 17 de julho de 1429, atingiu o auge da sua glória: Carlos VII foi coroado em Reims e, ao seu lado, Joana d'Arc, com seu estandarte.

Os dois inimigos
No entanto, duas forças opostas e similares conspiram contra a donzela: de um lado, os ingleses, que não aceitavam ser derrotados por uma jovem; de outro, os próprios franceses, generais e clérigos, que não queriam ser suplantados pelo mesmo motivo.
Por isso, enquanto Joana D’Arc guiava a libertação de Compiègne, a ponte levadiça foi levantada, antes que ela pudesse se livrar. Assim a jovem foi capturada pelos borgonheses.
Era o dia 23 de maio de 1430. Após dois dias, a Universidade de Paris pediu aos membros da Inquisição que a jovem fosse julgada por feitiçaria. Carlos VII fez bem pouco para libertá-la e, no dia 21 de novembro, Joana D’Arc foi entregue aos ingleses.

A alma não queima
O processo começou em Rouen, em 9 de janeiro de 1431. Cerca de cinquenta homens, entre os mais cultos da França e da Inglaterra, julgaram a donzela. Bispos, advogados eclesiásticos, prelados de vários níveis fizeram-lhe uma interrogação pormenorizada sobre as acusações de imputação, idolatria, cisma e apostasia. A sua fé, suas roupas masculinas, as misteriosas “vozes” foram objeto de duras acusações e falsas reconstruções, às quais Joana, quase sem nenhuma instrução, respondeu com coragem e precisão. Perguntaram-lhe, entre outras coisas, se ela estava na graça de Deus e respondeu: “Se eu estiver, Deus me protegerá; se não estiver, que Deus me permita tê-la, pois prefiro morrer a não estar na graça de Deus”.
O julgamento de Joana D’Arc terminou no dia 24 de março: a heroína da França foi considerada uma herege e devia morrer. Assim, em 30 de maio de 1431, ela foi obrigada a subir na fogueira, preparada na praça do Vieux-Marché, em Rouen, onde morreu queimada viva, com os olhos fixos na grande cruz, que o frade Isembard de la Pierre havia trazido para ela.
A Igreja reabilitou, solenemente, Joana d'Arc, em 1456. Pio X a beatificou, em 1910 e, dez anos depois, Bento XV a canonizou.


Vatican News

S. FERNANDO III, REI DE CASTELA

Franciscanos

Da Terceira Ordem (1199-1252). Canonizado por Alexandre VII no dia 31 de maio de 1655.

Fernando nasceu na vila de Valparaíso, em Zamora, Espanha, no dia 1o de agosto de 1199. Era filho do famoso Afonso IX de Leão, que reinou no século XII. Um rei que brilhou pelo poder, mas cujo filho o suplantou pela glória e pela fé. A mãe era Barenguela de Castela, que o educou dentro dos preceitos cristãos de amor incondicional a Deus e obediência total aos mandamentos da Igreja. Assim ele cresceu, respeitando o ser humano e preparando-se para defender sua terra e seu Deus.
Assumiu com dezoito anos o trono de Castela, quando já pertencia à Ordem Terceira Franciscana. Casou-se com Beatriz da Suábia, filha do rei da Alemanha, uma das princesas mais virtuosas de sua época, em 1219. Viúvo, em 1235, contraiu segundo matrimónio com Maria de Ponthieu, bisneta do rei Luís VIII, da França. Ao todo teve treze filhos, o filho mais velho foi seu sucessor e passou para a história como rei Afonso X, o Sábio, e sua filha Eleonor, do segundo casamento, foi esposa do rei Eduardo I da Inglaterra.
Essas uniões serviram para estabilizar a casa real de Leão e Castela com a realeza germânica, francesa e inglesa. Condizente com sua fé, evitou os embates, inclusive os diplomáticos, e aplacou revoltas só com sua presença e palavra, preferindo ceder em alguns pontos a recorrer à guerra. Sob seu reinado foram mudados os códigos civis, ficando mais brandos sob a tutela do Supremo Conselho de Castela, instituiu o castelhano como língua oficial e única, fundou a famosa Universidade de Salamanca e libertou sua nação do domínio dos árabes muçulmanos. Abrindo mão do tempo desperdiçado com novas conquistas, utilizava-o para fundar novas dioceses, erguer novas catedrais, igrejas, conventos e hospitais, sem recorrer a novos impostos, como dizem os registros e a história.
Em 1225, teve que pegar em armas contra os invasores árabes, mas levou em sua companhia o arcebispo de Toledo, para que o ajudasse a perseverar os soldados na fé. Queria, com a campanha militar, apenas reconquistar seus domínios e propagar o catolicismo. Vencida a batalha, com a expulsão dos muçulmanos, os despojos de guerra foram utilizados para a construção da belíssima catedral de Toledo. Durante seu reinado, cidades inteiras foram doadas às ordens religiosas, para que o povo não fosse oprimido pela ganância dos senhores feudais.
Com a morte do pai em 1230, foi coroado também rei de Leão. Em seguida, chefiou um pequeno exército, aos seus moldes, e reconquistou dos árabes ainda Córdoba e Sevilha, onde edificou a catedral de Burgos. Pretendia lutar na África da mesma forma, mas foi acometido de uma grave doença. Morreu aos cinquenta e três anos, depois de despedir-se da família, dos amigos e companheiros, no dia 30 de maio de 1252, em Sevilha.
Imediatamente, o seu culto surgiu e se propagou rapidamente por toda a Europa, com muitas graças atribuídas à sua intercessão. Foi canonizado pelo papa Clemente X, em 1671, após a comprovação de que seu corpo permaneceu incorrupto. São Fernando III é venerado, no dia de sua morte, como padroeiro da Espanha.
Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, de Frei Giuliano Ferrini e Frei José Guillermo Ramírez, OFM, edição Porziuncola.

S. DIMPNA

Santos, Beatos, Veneráveis e Servos de Deus: SANTA DINFNA, VIRGEM ...


Há vários santos padroeiros de pacientes com depressão: Santa Filomena, Santa Margarida de Cortona, Arcanjo Rafael e São Luís Martin, pai de Santa Teresa de Lisieux. Mas a primazia cabe a Santa Dinfna, que viveu no século VII.
Segundo uma lenda, que remonta ao século XIII, Dinfna era filha de um rei pagão irlandês, que, ao perder sua esposa, que era cristã, queria substituí-la por sua filha.


Dinfna tinha 14 anos quando sua mãe morreu e foi batizada secretamente. Para se afastar de seu pai, aconselhada pelo Padre Gerebernus, seu confessor, decidiu fugir, por via marítima, encontrando refúgio na floresta de Geel, território da atual Bélgica. Ainda de acordo com a lenda, seu pai conseguiu alcançar os fugitivos e, diante de uma enésima rejeição de sua filha, mandou decapitar primeiro Gerebernus e depois também Dinfna.

Descobertas arqueológicas
Segundo elementos de antigas lendas folclóricas populares, que chegaram até nossos dias, sabemos que ambos teriam sido sepultados em dois sarcófagos brancos dentro de uma caverna. Os fragmentos dos dois sarcófagos, da época pré-românica, e um tijolo com a inscrição "MA DIPNA" ainda hoje são visíveis em Geel. No século XIII, sempre nesta cidade belga, as possíveis relíquias de Dinfna foram trasladadas para uma igreja, que ainda conserva seus restos mortais, enquanto os de Gerebernus são venerados em Xanten, Alemanha.

Dinfna, padroeira de pessoas com doenças psiquiátricas
Inúmeros milagres ocorreram no lugar do martírio de Dinfna, inclusive a cura de pessoas com doenças mentais ou endemoninhadas. As relíquias de Dinfna também eram milagrosas.
Com efeito, segundo a lenda, seu pai infeliz teria assassinado a jovem filha durante um ataque de loucura, por estar possuído pelo demônio. Por isso, a Santa começou a ser invocada como padroeira dos doentes mentais, endemoninhados, epiléticos e sonâmbulos. Seus símbolos são a espada, que a decapitou, e o demônio acorrentado aos seus pés.

Os habitantes de Geel acolhem os doentes em casa
Na Idade Média, devido às frequentes peregrinações, chegava a Geel numerosas caravanas de pessoas com doenças mentais, tanto que foi construída, em 1286, uma casa de acolhimento.
No entanto, por causa do crescente aumento de doentes, as autoridades eclesiásticas dirigiram-se diretamente aos cidadãos de Geel, pedindo-lhes para compartilhar seus esforços e ajudá-los a dar assistência aos pacientes. Por isso, as famílias da cidadezinha começaram a acolher e a assistir os peregrinos em suas casas. Desta forma, em termos modernos, os doentes eram desinstitucionalizados pela sua participação na vida social do país.
Este tipo de antecipação das "Casas família" modernas constituiu um acontecimento importante para a história das terapias e da caridade cristã. Ali, no século IX, foi fundado um verdadeiro e próprio instituto psiquiátrico. Ainda hoje, em Geel, há uma prática de cuidados avançados, por exemplo, envolvendo os pacientes em atividades manuais, durante o dia. Até hoje, muitas famílias da localidade ainda têm o costume de acolher uma pessoa doente em sua casa, como se fosse um filho a mais, um parente ou um amigo.


Vatican News

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Pais da Igreja: São Clemente de Alexandria

São Clemente de Alexandria (150-cerca de 215)

ANTOLOGIA

«Quem em meu nome acolher este pequenino,
é a mim que acolhe»
O Pedagogo, I, 21-24
«Os seus filhinhos serão levados aos ombros e consolados ao colo, vem nas Escrituras. Como à criança a quem a mãe dá consolo, também eu vos consolarei» (Is 66,12-13).
mãe chega seus filhos a si, e nós, nós procuramos nossa mãe, a Igreja. Todo o ser de pouca idade e frágil é, nessa fragilidade desprotegida, um ser gracioso, doce, encantador; Deus não recusa o seu auxílio a seres tão jovens assim. Todos os pais têm uma ternura peculiar para com seus filhos pequenos… De igual modo, o Pai de toda a criação acolhe aqueles que se refugiam junto de si, regenera-os pelo Espírito e adopta-os como filhos; conhece a sua doçura e só a eles ama, auxilia, defende; por isso lhes chama filhos (cf. Jo 13,33).
O Santo Espírito, falando pela boca de Isaías, aplica ao próprio Senhor o termo filho: «Eis que nos nasceu um menino, foi-nos dado um filho.» (Is 9,5). Quem é então esta pequena criança, este recém-nascido, à imagem de quem também nós somos crianças? Pela boca do mesmo Profeta, o Espírito descreve-nos a sua grandeza: «Conselheiro admirável, Deus poderoso, Pai eterno, Príncipe da paz» (v. 6).
Ó Deus tão grande! Ó menino perfeito! O Filho está no Pai e o Pai está no Filho. Poderia não ser perfeita a educação que nos dá este menino? Ela reúne-nos para nos guiar, a nós, os seus filhos. O menino estendeu-nos as mãos, e nelas pomos toda a nossa fé. Também João Baptista dá testemunho desta criança: «Eis o cordeiro de Deus», diz-nos (Jo 1, 29). Como as Escrituras designam as crianças por cordeiros, chamou “cordeiro de Deus” ao Verbo Deus que por nós se fez homem e que em tudo nos quis ser igual, ele, que é o Filho de Deus, o menino do Pai.
* * * * *
«Pedi e recebereis:
ficareis assim repletos de alegria»
Estrómata 7,7
Venerar e honrar aquele que nós acreditamos ser o Verbo, nosso Salvador e nosso chefe, e, por Ele, o Pai, tal é o nosso dever, não em certos dias especiais (tal como outros fazem) mas continuamente, durante toda a nossa vida e de todas as formas. "Sete vezes por dia cantei o teu louvor" (Sl 118,164), exclama o povo eleito... Por isso, não é num lugar determinado, nem num templo escolhido, nem em certas festas ou em certos dias fixos, mas é durante toda a vida, em todo o lugar, que o homem verdadeiramente espiritual honra a Deus, isto é, proclama a sua acção de graças por conhecer a verdadeira vida.
A presença do homem de bem, pelo respeito que inspira, torna sempre melhor quem com ele convive. Quanto mais aquele que está continuamente em presença de Deus, pelo conhecimento, pela maneira de viver e pela acção de graças, não se irá tornando cada dia melhor em tudo: acções, palavras e disposições!... Vivendo, pois, toda a nossa vida como uma festa, na certeza de que Deus está totalmente presente em toda a parte, trabalhamos cantando, navegamos ao som de hinos, comportamo-nos à maneira dos "cidadãos do céu" (Fl 3,20).
A oração é, se o ouso dizer, uma conversa íntima com Deus. Mesmo se murmuramos suavemente, mesmo se, sem mexer os lábios, falamos em silêncio, nós gritamos interiormente. E Deus volta constantemente o seu ouvido para esta voz interior... Sim, o homem verdadeiramente espiritual ora durante toda a sua vida, porque orar é para ele um esforço de união com Deus, e rejeita tudo o que é inútil porque atingiu aquele estado em que já recebeu, de certa maneira, a perfeição que consiste em agir por amor... Toda a sua vida é uma liturgia sagrada.
* * * * *
«Eu vim para que os homens tenham vida
e a tenham em abundância»
O Pedagogo, 9, 83 ss.
Doentes, precisamos do Salvador; perdidos, daquele que nos conduzirá; sedentos, da fonte de água viva; mortos, precisamos da vida; ovelhas, do pastor; crianças, do educador; e toda a humanidade precisa de Jesus. […]
Se quereis, podemos compreender a sabedoria suprema do santíssimo pastor e educador, que é o Todo-Poderoso e o Verbo do Pai, quando Ele se serve de uma alegoria, dizendo-se pastor das ovelhas; mas Ele é também o educador dos pequeninos. Com efeito, dirige-se longamente aos anciãos, por intermédio de Ezequiel, dando-lhes o exemplo da sua solicitude: “Pensarei na que está ferida e tratarei da que está doente; procurarei a que se tinha perdido. A todas apascentarei com justiça” (Ez 34, 16). Sim, Senhor, conduz-nos aos prados férteis da tua justiça. Sim, Tu, que és o nosso educador, sê o nosso pastor, até à tua montanha santa, até à Igreja que se eleva acima das nuvens, que toca nos céus. “Sou Eu que apascentarei as minhas ovelhas, sou Eu quem as fará descansar” (Ez 34, 15). Ele quer salvar a minha carne, revestindo-a com a túnica da incorruptibilidade. […] “Clamarás e Ele dirá: ‘Eis-Me aqui!’” (Is 58, 9). […]
Assim é o nosso educador, bom com justiça. “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mt 20, 28). É por isso que, no Evangelho, nos aparece fatigado (Jo 4, 5), Ele, que se fatiga por nós, e que promete “dar a sua vida pelo resgate de muitos” (Mt 20, 28). E afirma que só o bom pastor age desta maneira. Que doador magnífico, que dá por nós o que de maior tem: a sua vida! Que benfeitor, amigo dos homens, que preferiu ser irmão a Senhor deles! Que levou a bondade a ponto de morrer por nós.
* * * * *
«Não podeis servir ao mesmo tempo a Deus e ao dinheiro»
Há uma riqueza que semeia a morte em toda a parte em que domina: libertai-vos dela e sereis salvos. Purificai a vossa alma; tornai-a pobre para poder ouvir o apelo do Salvador que vos repete: “Vem e segue-me” (Mc 10,21). Ele é o caminho em que avança aquele que tem o coração puro; a graça de Deus não penetra numa alma ocupada e dividida numa grande quantidade de pertences…
Quem olha para a sua fortuna, para o seu ouro e para a sua prata, para as suas casas, como sendo dons de Deus, esse testemunha a Deus o seu reconhecimento vindo com os seus bens em auxílio dos pobres. Sabe que os possui mais para os seus irmãos do que para si mesmo. Continua dono das suas riquezas em vez de se tornar escravo delas; não as fecha na sua alma, tal como não nelas não encerra a sua vida, mas continua, sem se cansar, uma obra que é divina. E se, um dia, a sua fortuna vier a desaparecer, aceita a sua ruína com um coração livre. Esse homem, Deus o declara “bem-aventurado”; chama-lhe “pobre em espírito”, herdeiro seguro do Reino dos Céus (Mt 5,3)…
Pelo contrário, há quem encerre a sua fortuna no coração, no lugar do Espírito Santo. Esse guarda em si as suas terras, acumula sem fim a fortuna, só se preocupa em acrescentar sempre mais. Não levanta nunca os olhos ao céu; atola-se no material. De facto, ele não é mais do que pó e voltará ao pó (Gn 3,19). Como pode então experimentar o desejo do Reino aquele que, em vez de coração, tem dentro de si um campo ou uma mina, aquele a quem a morte surpreenderá sempre no meio das suas paixões? “Porque onde estiver o teu tesouro, estará também o teu coração” (Mt 6,21).
* * * * *
O Cântico Novo: «Ana proclamava os louvores de Deus»
Protréptico
Quando o Verbo estava nas alturas, Ele era e é o divino começo de todas as coisas. Mas, agora que recebeu como nome "Aquele-que-foi-consagrado", o nome de "Cristo", eu chamo-lhe "um cântico novo" (Sl 33, 144, 149, etc.). O Verbo fazia-nos existir há muito tempo, porque estava em Deus; por Ele a nossa existência é boa. Ora este Verbo acaba de aparecer aos homens, Ele que é Deus e homem; Ele é para nós a causa de todos os bens. Tendo aprendido com Ele a viver bem, somos por Ele introduzidos na vida eterna. Porque, como nos diz o apóstolo do Senhor, "a graça de Deus, fonte de salvação, apareceu a todos os homens; ela ensina-nos a renunciar à impiedade e às cobiças do mundo e a viver no tempo presente com temperança, justiça e piedade, aguardando com jubilosa esperança, a revelação da glória do grande Deus, Jesus Cristo, nosso Salvador" (Tt 2,11-13).
Eis o cântico novo, a aparição do Verbo que existia desde o princípio e que acaba de resplandecer entre nós... Porque Aquele que existia como Salvador desde sempre acaba de aparecer; Aquele que é Deus apareceu como mestre; o Verbo por quem tudo foi criado apareceu. Como criador, Ele dava a vida no princípo; agora, tendo aparecido como mestre, ensina-nos a viver bem, de maneira a que, um dia, nos possa dar, enquanto Deus, a vida eterna. Não foi hoje a primeira vez que Ele teve piedade de nós por andarmos perdidos; foi desde o princípio.
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«Bem-aventurados os pobres em espírito» (Mt 5, 3)
Homilia: «Os ricos salvar-se-ão?»
Não se trata de rejeitar os bens susceptíveis de ajudar o próximo. É da natureza das posses serem possuídas; como é da natureza dos bens difundir o bem; Deus destinou-os ao bem-estar dos homens. Os bens estão nas nossas mãos como ferramentas, como instrumentos dos quais retiramos bom uso, se soubermos manipulá-los. [...] A natureza fez das riquezas escravas, e não senhoras. Não se trata, pois, de as depreciar porque, em si mesmas, não são boas nem más, mas perfeitamente inocentes. Só de nós depende o uso, bom ou mau, que delas fizermos; o nosso espírito, a nossa consciência, são inteiramente livres para disporem à sua vontade dos bens que lhes foram confiados. Destruamos, pois, não os nossos bens, mas a cobiça que lhes perverte o uso. Quando nos tivermos tornado virtuosos, saberemos usá-los com virtude. Compreendamos que esses bens dos quais nos mandam desfazermo-nos são os desejos desregrados da alma. [...] Nada lucrais em largar o dinheiro que tendes, se continuardes a ser ricos em desejos desregrados. [...]
Eis de que forma concebe o Senhor o uso dos bens exteriores: temos de nos desfazer, não de um dinheiro que nos permite viver, mas das forças que nos levam a usá-lo mal, ou seja, das doenças da alma. [...] Temos de purificar a nossa alma, isto é, de a tornar pobre e nua, para nesse estado ouvirmos o chamamento do Salvador: «Vem e segue-Me». Ele é o caminho que percorre aquele que tem o coração puro. [...] Este considera que a fortuna, o ouro, a prata, as casas que possui, que tudo isso são graças de Deus, e mostra-Lhe o seu reconhecimento socorrendo os pobres com os seus próprios fundos. Ele sabe que possui esses bens, mais para os irmãos do que para si mesmo; longe de se tornar escravo das suas riquezas, é mais forte do que elas; não as encerra na sua alma. [...] E, se um dia o dinheiro lhe desaparecesse, aceitaria a ruína com a felicidade dos melhores dias. É esse o homem, afirmo eu, que Deus considera bem-aventurado e a quem chama «pobre em espírito» (Mt 5, 3), herdeiro certo do Reino dos Céus, que está fechado àqueles que não souberam desprender-se da sua opulência.
Mais sobre São Clemente de Alexandria em SOPHIA.

FONTE:
Evangelho Cotidiano

Do Tratado Sobre a Trindade, de Santo Hilário, bispo

S. Hilário  (© BAV, Vat. lat. 8541, f. 102r)
(Lib. 2,1.33.35: PL 10,50-51.73-75)       (Séc. IV)

O Dom do Pai em Cristo
        O Senhor mandou batizar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, quer dizer, professando a fé no Criador, no Filho e no que é chamado Dom de Deus.
        Um só é o Criador de todas as coisas. Pois um só é Deus Pai, de quem tudo procede; um só é o Filho Unigênito, nosso Senhor Jesus Cristo, por quem tudo foi feito; e um só é o Espírito, que foi dado a todos nós.
        Todas as coisas são ordenadas segundo suas capacida­des e méritos: um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita. Nada falta a tão grande per­feição. Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a atividade no Dom.
        Escutemos o que diz a palavra do Senhor sobre a ação do Espírito em nós: Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreendê-las agora (Jo 16,12), É bom para vós que eu parta: se eu me for, vos mandarei o Defensor (cf. Jo 16,7).
        Em outro lugar: Eu rogarei ao Pai, e ele vos dará uni outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade (Jo 14,16-17). Ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anuncia­rá. Ele me glorificará porque receberá do que é meu (Jo 16,13-14).
        Estas palavras, entre muitas outras, foram ditas para nos dar a conhecer a vontade daquele que confere o Dom e a natureza e a perfeição do mesmo Dom. Por conseguinte, já que a nossa fraqueza não nos permite compreender nem o Pai nem o Filho, o Dom que é o Espírito Santo estabelece um certo contato entre nós e Deus, para iluminar a nossa fé nas dificuldades relativas à encarnação de Deus.
        Assim, o Espírito Santo é recebido para nos tornar capazes de compreender. Como o corpo natural do homem permaneceria inativo se lhe faltassem os estímulos necessá­rios para as suas funções - os olhos, se não há luz ou não é dia, nada podem fazer; os ouvidos, caso não haja vozes ou sons, não cumprem seu ofício; o olfato, se não sente nenhum odor, para nada serve; não porque percam a sua capacidade natural por falta de estímulo para agir - assim é a alma humana: se não recebe pela fé o Dom que é o Espírito, tem certamente uma natureza capaz de conhecer a Deus, mas falta-lhe a luz para chegar a esse conhecimento.
        Este Dom de Cristo está inteiramente à disposição de todos e encontra-se em toda parte; mas é dado na medida do desejo e dos méritos de cada um. Ele está conosco até o fim do mundo; ele é o consolador no tempo da nossa espera; ele, pela atividade dos seus dons, é o penhor da nossa esperança futura; ele é a luz do nosso espírito; ele é o esplendor das nossas almas.

Da Providência Divina (3/10)

domvot
DA  PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 3º – SE A DIVINA PROVIDÊNCIA SE ESTENDE AO QUE É CORRUPTÍVEL
Respondo dizendo que:
1. A Providência de Deus, pela qual as coisas são governadas, é semelhante, conforme foi dito no artigo precedente, à providência pela qual o pai de família governa a casa, e o rei a cidade ou o reino, em ambos estes governos partilhando que o bem comum seja mais eminente do que o bem singular, assim como o bem do povo é mais eminente do que o bem da cidade, ou o da família, ou o da pessoa, conforme -se escrito no princípio dos livros de Ética. De onde que qualquer provisor dá mais atenção àquilo que convém à comunidade, se governa sabiamente, do que o que convém a um apenas.
2. Alguns, porém, não percebendo isto, considerando que nas coisas corruptíveis há algumas que poderiam ser melhores se consideradas em si mesmo, e não percebendo a ordem do universo, segundo a qual cada coisa é colocada otimamente em sua ordem, disseram que o corruptível não é governado por Deus, mas somente o que é incorruptível; na pessoa dos quais está dito, no livro de Jó, que Deus “nas nuvens está escondido, e não tem cuidado das nossas coisas, e passeia pelos pólos do Céu” (Jó 22, 14).
Colocaram pois, as coisas corruptíveis existirem e agirem inteiramente sem alguém que as governe, ou serem guiadas por um princípio contrário.
3. A qual opinião o Filósofo, no XII da Metafísica reprova pela semelhança com um exército, no qual encontramos uma dupla ordem, uma pela qual as partes do exército se ordenam entre si, e outra pela qual se ordenam ao bem exterior, isto é, ao bem do comandante. E aquela ordem pela qual as partes do exército se ordenam entre si existe por causa da ordem pela qual todo o exército se ordena ao comandante, de onde que se não houvesse a ordem ao comandante, não haveria ordem das partes do exército entre si. Na medida em que, portanto, encontramos uma multidão ordenada entre si, importa que esta seja ordenada a um princípio exterior.
Ora, as partes do universo, corruptíveis e incorruptíveis, são ordenadas entre si, e não por acidente, mas per se. Vemos, de fato, que dos corpos celestes provém utilidades nos corpos corruptíveis ou sempre ou na maior parte das vezes segundo o mesmo modo, de onde que importa que todos, corruptíveis e incorruptíveis, existam em uma única ordem de providência de um princípio exterior, o qual existe de modo externo ao universo. De onde que o Filósofo conclui ser necessário colocar-se no universo um único dominado, e não diversos.
4. Deve-se saber, todavia, que de dois modos algo pode ser dito objeto de providência. De um modo, por causa de si mesmo, e de outro modo por causa de outros, assim como na casa são provistas por causa de si mesmas aquelas coisas em que essencialmente consiste o bem da casa, isto é, os filhos, as propriedades, e outras tais, todas as demais sendo provistas para a utilidade das anteriores, como os vasos, os animais, e outros tais.
De modo semelhante, no universo são provistos por causa de si mesmo aquelas coisas nas quais consiste essencialmente a perfeição do universo; e estes tem perpetuidade assim como o universo é perpétuo. As que, porém, não são perpétuas, não são provistas senão por causa de outras. E, portanto, as substâncias espirituais e os corpos celestes, que são perpétuos segundo a espécie e segundo o indivíduo, são provistos por causa de si mesmos tanto na espécie como no indivíduo. Mas o que é corruptível não pode ter perpetuidade senão na espécie, de onde que as suas próprias espécies são provistas por causa de si mesmas, mas os seus indivíduos não são provistos senão para a conservação do ser perpétuo da espécie.
E de acordo com isto pode-se salvar a opinião daqueles que dizem que a divina providência não se estende a tais corruptíveis senão na medida em que participam da natureza da espécie. De fato, isto é verdade se for entendido da providência pela qual algumas coisas são provistas por causa de si mesmo.
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF