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quarta-feira, 10 de junho de 2020

Anthony Hopkins sobre o ateísmo: “Quem sou eu para refutar tantos mártires?”

ANTHONY HOPKINS
Peter Mountain/Photoshot/East News

O intérprete do Papa Bento XVI em “Dois Papas” declarou que o ateísmo “é como uma cela sem janelas”
Anthony Hopkins é frequentemente aplaudido como um dos maiores atores vivos deste planeta. No ano passado, ele interpretou o Papa Bento XVI no filme “Dois Papas”, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles e veiculado mundialmente pela Netflix. Independentemente da veracidade do filme, cujos fatos e ficções você pode conferir neste artigo, Hopkins foi bastante elogiado pela sua atuação.

Marcado para sempre como o inesquecível psicopata Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes” (The Silence of the Lambs) e de mais quatro filmes em que vive este mesmo assassino, Hopkins não teve no Papa Emérito o seu primeiro grande papel religioso: ele já havia literalmente vestido a batina do padre exorcista Lucas Trevant em “O Ritual” (The Rite), de 2011, inspirado em uma história real de fé e dúvidas radicais diante do sobrenatural.
Entre idas e vindas reais e fictícias por cenários ligados à religião, o que pensa Anthony Hopkins sobre a fé religiosa?

O reencontro com Deus na luta contra o álcool

O próprio ator deu declarações poderosas sobre fé e perspectivas de vida em diversas ocasiões.
Uma delas foi em 2018, quando o veterano palestrou a cerca de 500 estudantes aos quais relatou a sua luta contra o alcoolismo, vício que o fazia sentir-se “entediado, preso e não confiável”. Ele contou que, em 1975, aos 37 anos, procurou os Alcoólicos Anônimos porque estava começando a entender que o vício o transformava num perigo para si próprio e para os outros. Aliás, em entrevista sobre este mesmo assunto ao apresentador britânico Piers Morgan, Hopkins já tinha chegado a descrever o alcoolismo como “estar possuído por um demônio, um vício que eu não conseguia parar”. Nesse contexto de luta por derrotar a dependência do álcool, uma mulher lhe fez uma pergunta, durante um encontro dos AA, que seria decisiva para a sua mudança de vida:
“Por que você não confia em Deus?”

Anthony Hopkins se considerava ateu naquela época. Seja por estar no fundo do poço ou realmente porque se deixou tocar pela graça de Deus, ele aceitou aquele conselho e, conforme ele próprio relata, o desejo de beber foi arrancado dele e “nunca mais voltará”.

Uma “cela fechada sem janelas”

Hopkins já se manifestou também sobre o ateísmo. Em 2011, pouco antes do lançamento de “O Ritual”, ele deu uma entrevista ao Catholic Herald em que comparou o ateísmo com “viver numa cela fechada sem janelas”. E acrescentou:
“Eu detestaria viver assim. Hoje nós vemos na televisão muita gente brilhante que é ateia profissional e que diz que é insanidade ter um Deus ou acreditar em religião. Bom, que Deus os abençoe por se sentirem assim. Eu espero que eles sejam felizes. Eu não conseguiria viver com essa ‘certeza’ e me pergunto sobre alguns deles: por que eles protestam tanto? Como é que eles têm tanta certeza do que existe lá fora? E quem sou eu para refutar as crenças de tantos grandes filósofos e mártires ao longo dos séculos?”


Aleteia

Racismo: “As palavras não bastam, precisamos agir”

Obra de Nathan Murdoch contra o racismo
Vatican News

Palavras de Dom Daniel DiNardo Arcebispo de Galveston-Houston, em uma mensagem em vídeo no dia do funeral de George Floyd. No vídeo o prelado fala do racismo e a história americana: reconhecer o problema e enfrentá-lo.

Anna Poce – Vatican News

"É claro que nós, nos Estados Unidos, temos uma trave nos olhos quando se trata de racismo. Esta é uma realidade difícil, mas é preciso enfrentá-la. Não podemos resolver um problema enquanto não o reconhecermos. Isto inclui também nós como membros da Igreja Católica". Estas são as palavras do cardeal Daniel DiNardo, arcebispo de Galveston-Houston (Texas) em uma mensagem em vídeo apresentada no dia do funeral de George Floyd.

Chega de silêncio
"No passado, os líderes da Igreja muitas vezes se abstiveram de falar quando vieram à tona atos de violência racial ou outras injustiças. Agora não mais". “Nem sempre a Igreja conseguiu viver como Cristo nos ensinou, ou seja, amar nossos irmãos e irmãs", continua Dom DiNardo, citando a carta pastoral contra o racismo "Abramos nossos corações" da Conferência Episcopal dos Estados Unidos (USCCB).

“Líderes e membros da Igreja Católica - bispos, clérigos, religiosos e leigos - e suas instituições cometeram atos de racismo. Consequentemente", continua ele, "todos nós devemos assumir a responsabilidade de corrigir as injustiças do racismo e curar os danos que ele tem causado".

Por esta razão, recorda que desde 2018, a USCCB realiza sessões de escuta e fornece material sobre racismo às dioceses e paróquias para que possam enfrentar este grave problema. Sua própria arquidiocese, conta Dom DiNardo, está comprometida e trabalhando em objetivos e metas, que incluem essencialmente a superação do racismo.

Devemos agir, palavras não bastam
Os que se exaltam serão humilhados e os que se consideram superiores aos outros substituem o seu próprio julgamento pelo do Senhor, escreve o cardeal. Este é um pecado contra Deus e contra a humanidade e deve terminar. “Mas", continua, "as palavras não são suficientes, devemos agir e todos temos a responsabilidade de corrigir as injustiças e os danos que o racismo tem causado, sem usar a violência, como aconteceu nos últimos dias com uma minoria, que ao fazê-lo desviou o foco da urgência das reformas".

"Não consigo respirar" foram as palavras de George Floyd antes de morrer, e Eric Garner antes dele. "Só podemos respirar corretamente de novo - concluiu o Arcebispo de Galveston-Houston - com a ajuda do Espírito Santo, somente quando o nosso trabalho constante for o de eliminar o pecado do racismo da nossa sociedade".

Vatican News

terça-feira, 9 de junho de 2020

É eleito o novo Administrador da Arquidiocese de Brasília

Dom José Aparecido
O Colégio dos Consultores se reuniu nesta manhã de  segunda-feira, dia 8 de junho, na Cúria Metropolitana, para escolher o Administrador Diocesano em sua vacância.
Após votação, foi eleito sua Excelência Dom José Aparecido que assumirá a missão do governo pastoral da Arquidiocese de Brasília  até à posse do novo Arcebispo.
 Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida nasceu em 21 de julho de 1960, na cidade de Ourinhos (São Paulo).  É o Primogênito de quatro irmãos. Já desde pequeno acompanhava o falecido pai, Sr. Orlando, vicentino, nas visitas às famílias mais pobres de Ourinhos. Após os 15 anos foi aprendiz bancário. Aos 19 anos entrou no Seminário. Frequentou o curso de filosofia no Seminário Arquidiocesano de Londrina por um ano, completando-o nas Faculdades Associadas do Ipiranga (FAI), em São Paulo (1980-1982), onde também fez os estudos teológicos, na Faculdade Nossa Senhora da Assunção (1983-1986).
Ordenado presbítero na Arquidiocese de São Paulo, no dia 21 de dezembro de 1986,e sucessivamente incardinado na Diocese de Santo Amaro, aos 15 de março de 1989. Conseguiu o doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Santa Cruz, em Roma. Aos 8 de maio de 2013 foi nomeado Bispo Auxiliar de Brasília.
Nos primeiros anos do ministério sacerdotal, foi administrador paroquial da Paróquia Santa Cruz de Parelheiros – Diocese de Santo Amaro (1987-1988) e pároco da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Jardim Prudência – Diocese Santo Amaro (1988-1990). Em 1990 foi enviado a Roma para uma especialização em Direito Canônico. Em 1994 foi convidado para trabalhar no Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, exercendo a função de Adido de Secretaria até 2010. Em 2010 o Papa Bento XVI o nomeou Prelado de Honra de Sua Santidade e Subsecretário do mesmo Discatério, função que exerceu até à nomeação episcopal.
Durante a sua permanência em Roma, prestou colaboração pastoral em várias atividades da Diocese de Roma: foi capelão da Clínica Sacra Famiglia, foi confessor extraordinário da Basílica de São Pedro durante o Grande Jubileu do ano 2000. Também prestou auxílio pastoral a algumas paróquias em Roma e na Diocese de Netuno e confessor externo no Pré Seminário São Pio X, no Vaticano.
Na Santa Sé, foi também nomeado também Comissário para a defesa do vínculo das causas de Matrimônio ratificado e não consumado (pela Congregação para o Culto divino e a Disciplina dos Sacramentos, competência que passou a seguir para a Rota Romana); membro da Comissão de Arbitragem e Conciliação do Oficio do Trabalho da Sé Apostólica (ULSA). Foi convidado a trabalhar também em diversas comissões interdicasteriais para estudar questões de governo da Igreja que envolviam a competência de vários Dicastérios, além de várias colaborações ocasionais com outros Dicastérios. De 2010 a 2015, por nomeação do Papa Bento XVI, foi Consultor da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Atualmente, colabora  com a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica como auxiliar de comissariamento de alguns institutos.
Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil colabora com a CETEL Comissão Episcopal que cuida das versões dos textos litúrgicos, e de algumas outras comissões relacionadas com a Justiça Eclesiástica. No Regional Centro Oeste, acompanha também os Presbíteros e a Pastoral Vocacional.
Atualmente, na Arquidiocese de Brasilia é bispo referencial para os Vicariatos Sul e Leste, acompanha os seminários e a formação permanente do clero, a Comissão de Bioética, alguns movimentos eclesiais, as chamadas novas comunidades e as comunidades religiosas.
Leia também:
Arquidiocese de Brasília

Filme sobre beata brasileira Albertina Berkenbrock deve estrear no Corpus Christi

Beata Albertina Berkenbrock (InstitutoHesed)
A menina catarinense é chamada de “Santa Maria Goretti brasileira” por ter resistido a uma tentativa de estupro: ela foi morta defendendo sua pureza
Está prestes a estrear mais um filme que promete inspirar famílias e jovens: “Albertina”, da Boanova Films, de Luiz Fernando F. Machado, Fernando Keller e Chico Caprario.
Trata-se da história da jovem Albertina Berkenbrock, beatificada em 2007 pelo Papa Bento XVI e hoje em processo de canonização.
A menina catarinense foi martirizada aos 12 anos de idade por defender a sua virgindade durante uma covarde tentativa de estupro, e, pela semelhança entre as suas histórias, é chamada por muitos de “a Maria Goretti brasileira”, em referência à jovem santa italiana que sofreu o martírio pelo mesmo propósito.
O filme, do qual participam parentes diretos de Albertina, tem previsão de estreia em 11 de junho, dia de Corpus Christi.

Uma história real

Albertina nasceu em 11 de abril de 1919 em Imaruí, SC. Filha de imigrantes alemães que construíam a vida na nova pátria como agricultores, ela recebeu desde cedo a formação católica e aprendeu ainda pequena as orações, que fazia com alegria. Participava ativamente da vida religiosa da comunidade e se preparava com entusiasmo para receber a Primeira Comunhão. Albertina dizia que aquele seria o dia mais belo de sua vida.
Confessava-se com frequência e comungava sempre. Além de gostar muito de falar da Eucaristia, cultivava especial devoção a Nossa Senhora, rezando o rosário com fervor. Também era devota do padroeiro da comunidade, São Luís, que, providencialmente, é considerado modelo de juventude vivida na pureza do corpo e da alma.
Foi no dia 15 de junho de 1931 que Albertina, aos 12 anos, deu o seu grande testemunho, perdendo a vida para preservar a sua pureza espiritual e corporal.

A violência

Naquele dia, obedecendo a um pedido de seu pai, a menina foi procurar um boi que tinha se perdido. No caminho, encontrou seu malfeitor: um homem chamado Idalício Cipriano Martins, que, por alguma razão, também usava o nome de Manuel Martins da Silva. Apelidado de “Maneco Palhoça”, ele já tinha chegado a ajudar a família nos trabalhos do campo. Quando a jovem lhe perguntou se tinha visto o animal que procurava, o homem lhe deu uma pista falsa e a mandou para o local em que tentou violentá-la.
Albertina resistiu bravamente e não cedeu.

O martírio

Derrubada ao chão, ela cobriu-se o máximo que pôde com seu vestido. Sem conseguir derrotá-la, Maneco lhe afundou um canivete no pescoço, degolando-a. Conforme ressalta o site dedicado à beata, nesse momento o “seu corpo está manchado de sangue; sua pureza e virgindade, porém, estão intactas”.
O assassino ainda escondeu o canivete e foi avisar aos familiares da menina que ela tinha sido morta, afirmando que outro indivíduo era o culpado: um homem chamado João Cândido, que chegou a ser preso, injustamente acusado.
Maneco, entretanto, não conseguiu esconder o seu crime por muito tempo. Consta que o assassino não parava de ir e vir dentro da sala do velório, nervoso, e, ao aproximar-se do caixão, a ferida no pescoço de Albertina começou a sangrar novamente.
Foi quando o prefeito da cidade mandou soltar João Cândido e, com ele, pegou um crucifixo na capela. Os dois seguiram até o velório. Quando a cruz foi colocada sobre o peito da mártir, João se ajoelhou e, com as mãos no crucifixo, jurou inocência. Naquele momento, conforme os relatos, a ferida parou de sangrar.
A essa altura, Maneco Palhoça tinha fugido, mas foi preso posteriormente. Ele confessou o crime e testemunhou que Albertina não havia cedido às suas pressões porque ela não queria pecar.
A fama de Albertina começou a circular rapidamente entre a população local, que conhecia a jovem, a sua educação cristã, o seu amor pela família e pelo próximo e o seu bom comportamento, piedade e caridade.
Albertina Berkenbrock foi proclamada Bem-Aventurada em 20 de outubro de 2007 pelo Papa Bento XVI.
Fonte: Aleteia Brasil

São José de Anchieta era devoto da Virgem Maria e dedicou a ela milhares de versos

São José de Anchieta. Foto: Divulgação / Museu de Anchieta
REDAÇÃO CENTRAL, 09 Jun. 20 / 06:00 am (ACI).- São José de Anchieta, cuja memória litúrgica é recordada neste dia 9 de junho, além de Apóstolo do Brasil, ficou conhecido como o Poeta da Virgem Maria, por sua devoção mariana e obras dedicadas à Mãe de Deus.
Nascido em 19 de março de 1534 em San Cristóbal de La Laguna (Tenerife), José de Anchieta cultivou a devoção mariana desde jovem. Com apenas 16 anos, fez um voto de castidade diante da imagem de Nossa Senhora do Bom Conselho, consagrando sua virgindade à Maria.
Mais tarde, ingressou na Companhia de Jesus e viajou como missionário para o Brasil, onde colaborou na fundação de importantes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, além de seu trabalho incansável na catequese dos índios.
Autor de inúmeras obras, dedicou algumas delas à Nossa Senhora, como “Na aldeia de Guaraparim”, “Dia da Assunção em Reretiba” e “Na visitação de Santa Isabel”. Mas, de todas, a que se tornou mais conhecida é o “Poema à Virgem Maria”, o qual está ligado a um importante momento de sua vida em que renovou aquele voto feito ainda jovem diante da Virgem Maria.
Ao narrar a história deste santo, Padre Paulo Ricardo recorda em artigo publicado em seu site que, entre 1555 e 1560, franceses tentaram estabelecer uma colônia no Brasil e aproveitaram da rivalidade entre os índios para cooptar algumas tribos, que integraram a “Confederação dos Tamoios”.
“Para apaziguar o conflito eminente – que também se revestia de oposição religiosa, já que uma vitória dos franceses significaria um triunfo do protestantismo –, o padre [Manuel] da Nóbrega e o irmão Anchieta dirigiram-se à região de Iperoig – hoje, Ubatuba – e estabeleceram negociações com os indígenas”.
Embora as negociações não avançassem, “o impulso missionário de Anchieta não cessava de engendrar novos cristãos”. Até que Pe. Manuel da Nóbrega teve que deixar Anchieta sozinho entre os tupinambás.
“Ali, cercado por uma cultura completamente avessa à cristã e rodeado por índias que andavam nuas à beira do mar, São José de Anchieta fez resplandecer o brilho da castidade: em voto a Nossa Senhora, prometeu que contaria a Sua vida em versos, caso ela guardasse intacta a sua pureza”, narra o artigo de Pe. Paulo Ricardo.
Foi então que Anchieta escreveu nas areias da praia 5786 versos em honra à Mãe de Deus e decorou-os antes de passá-los para o papel.
A seguir, confira um dos trechos do “Poema à Virgem Maria”, no qual São José de Anchieta recorda o sofrimento vivido pela Mãe de Deus ao viver os momentos da Paixão de seu Filho.
Ó doce chaga, que repara os corações feridos,
Abrindo larga estrada para o Coração de Cristo.
Prova do novo amor que nos conduz a união! (Amai uns aos outros como EU vos amo)
Porto do mar que protege o barco de afundar!
Em Ti todos se refugiam dos inimigos que ameaçam:
Tu, Senhor, és medicina presente a todo mal!
Quem se acabrunha em tristeza, em consolo se alegra:
A dor da tristeza coloca um fardo no coração!
Por Ti Mãe, o pecador está firme na esperança,
Caminhar para o Céu, lar da bem-aventurança!
Ó Morada de Paz! Canal de água sempre vivo,
Jorrando água para a vida eterna!
Esta ferida do peito, ó Mãe, é só Tua,
Somente Tu sofres com ela, só Tu a podes dar.
Dá-me acalentar neste peito aberto pela lança,
Para que possa viver no Coração do meu Senhor!
Entrando no âmago amoroso da piedade Divina,
Este será meu repouso, a minha casa preferida.
No sangue jorrado redimi meus delitos,
E purifique com água a sujeira espiritual!
Embaixo deste teto (Céu) que é morada de todos,
Viver e morrer com prazer, este é o meu grande desejo.
ACI Digital

S. EFRÉM, DIÁCONO E DOUTOR DA IGREJA

S. Efrém
S. Efrém
“As árvores do Éden / foram dadas como alimento ao primeiro Adão. / Para nós, o jardineiro do Jardim / tornou-se pessoalmente comida / para as nossas almas”. Estes versos vêm do alvorecer da Igreja, precisamente do século IV, criados e escritos por um diácono do Oriente, chamado Efrém, natural de Nísibis, uma cidade da antiga Mesopotâmia, onde nasceu em 306. A tradição da Igreja o recorda como "Efrém da Síria" e o venera como Doutor da Igreja.
Uma das suas características é a de ser um profundo pensador cristão - um dos mais famosos do seu tempo – como também um poeta fino. Efrém era capaz de revestir suas intuições sobre a fé com a harmonia de versos, que tocavam o coração. O que ele escreveu, para nós, é uma lição.


Gênio e coração
A inteligência e erudição de Efrém combinam com seu notável temperamento humano.
Aos 15 anos, defrontou-se com o Evangelho e o estudou com paixão. Porém, isto lhe custou a perseguição do seu pai, sacerdote pagão. Aos 18 anos, recebeu o batismo e seguiu o bispo Tiago no Concílio de Nicéia (325). Depois, retornou a Nísibis, onde abriu uma escola bíblica.
Quando a cidade foi invadida, várias vezes, pelos persas, Efrém foi obrigado a deixar sua cátedra, tornando-se herói da resistência. Logo, foi um teólogo de pulso, combatente e homem de caridade.
Para diminuir o impacto da escassez, que em certo momento atingiu Edessa, ele arregaçou as mangas para garantir ajuda humanitária à população.

Fé nos paradoxos
O pensamento e os escritos de Efrém foram, portanto, seus melhores talentos, além da música. Ele escreveu muito e de tudo com grande qualidade espiritual e estilo. Seus poemas e sermões em versos, seus hinos (as obras mais abundantes), e comentários bíblicos em prosa abordavam, com inteligência e beleza, os pilares da fé que o fascinavam: Deus, Criador, a virgindade de Maria, a redenção do Cristo... Ele afirmava que nada na criação era isolado; no entanto, o mundo, além da Escritura, era a Bíblia de Deus.

Enfim, a poesia foi o instrumento que lhe permitiu se aprofundar na reflexão teológica "através de paradoxos e imagens", como, há alguns anos, Bento XVI observou ao comentar sobre a vida de Efrém.

Um santo em Edessa
Edessa, ajudada por Efrém durante o drama da escassez, foi a cidade para aonde o Santo se transferiu e se estabeleceu após uma peregrinação em 362. Ali prosseguiu seu trabalho como teólogo e pregador, continuando a ajudar as pessoas, em primeira linha, quando, mais do que a caneta, sentiu a necessidade urgente de se curvar para os que sofriam.

O cuidado dos doentes de peste foi a última obra-prima, que Efrém da Síria escreveu com a tinta da caridade.

Santo Efrém faleceu em Edessa, acometido pela pestilência, em 373. As crônicas não narram, com certeza, se ele foi ou não um monge. Certo é que sempre foi um diácono exemplar, um servo de todos, por amor a Deus, um seu cantor e "Harpa do Espírito Santo".

Vatican News

SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, APÓSTOLO E PADROEIRO DO BRASIL

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Os primeiros anos de um apóstolo
Próxima a um vulcão, na ilha canária de Tenerife, a ternura de Deus tece, através dos afetos de Mência Dias e Juan López o menino José que nasce em 19 de março de 1534 na cidade de São Cristobal de la Laguna. Durante sua infância, recebe dos seus pais uma educação profundamente cristã. Também foram eles quem o instruíram em suas primeiras letras. Aos 12 anos, seus pais o enviam a Portugal para estudar no Colégio das Artes.

Em Coimbra, o jovem conhece de perto a vida agitada de uma cidade europeia com sua beleza e dificuldades, oportunidades e riscos. Ainda adolescente consagra-se inteiramente aos cuidados da Virgem Maria. Na Igreja dos jesuítas, José de Anchieta serve como coroinha em todas as Missas que pode, chegando a frequentar até 8 missas diárias.

A fama da nova Ordem religiosa chamada Companhia de Jesus, fundada por Santo Inácio de Loyola, se espalha por toda a Europa através do testemunho de seus primeiros missionários, como Francisco Xavier e tantos outros, que partem com o alforje repleto de sementes do Evangelho para semeá-las nos novos mundos. Deste modo a Companhia de Jesus faz arder o coração do jovem José e este não atrasa sua resposta. Aos 17 anos, Anchieta abraça com todo entusiasmo aquele novo carisma que despontava na Igreja e no mundo. O jovem José torna-se jesuíta.

Enfermidade ou oportunidade de evangelizar?
José anda triste e com fortes dores pelos corredores do Noviciado. Uma espécie de tuberculose óssea toma o seu corpo. O Pe. Simão Rodrigues, provincial de Portugal, percebendo a tristeza do jovem noviço lhe pergunta: “Como estás meu querido José?” – “Muito mal querido padre!” responde o noviço. O padre Rodrigues observa a tamanha tristeza evidente no olhar do noviço e lhe faz outra pergunta: “Se o Senhor o quiser deste modo, você vai aceitar viver desta maneira com alegria?” Essas palavras consolam o coração do jovem jesuíta.

Deste modo, inspirado pelas cartas dos missionários Francisco Xavier e Manuel da Nóbrega, parte para o Brasil, aos 19 anos, na terceira leva de jesuítas destinados ao Brasil, o jovem José de Anchieta.
No dia 13 de julho de 1553, após dois meses de viagem, chega a salvador aquele jovem enfermo que se tornará o Apóstolo do Brasil. Daqui para a frente, sua vida é devotada totalmente ao serviço dos nativos chamados indígenas. Aprende velozmente sua língua, o Tupi. Escreve uma gramática para que outros também possam aprendê-la. Assim, Anchieta não mede esforços para que sua vida na Terra de Santa Cruz seja a cada instante vivida para a maior glória de Deus.

Poeta da Virgem Maria
Ao largo dos 44 anos de Anchieta no Brasil, não faltaram dificuldades na vida do missionário. Em Iperuí, atual cidade de Ubatuba/SP, o missionário, já com 29 anos, se oferece como refém em nome de um tratado de paz. Naquele local, Anchieta experimenta um dos momentos mais difíceis de sua vida. Recebe frequentes ameaças de morte, tentações contra a castidade e sente imensa solidão. Através de sua alma artística, promete compor um poema com quase seis mil versos para narrar a história da Virgem Maria.

Anchieta amava a arte, com sua sensibilidade e gosto também pelo teatro, o apóstolo compôs inúmeras peças que passaram a ser apresentadas em diversos lugares para evangelizar. Escreveu cartas que se tornaram relevantes para a História do Brasil. Por todos esses portentos, Anchieta, além de ser considerado o pai do teatro e da literatura brasileira, é ainda estimado como o primeiro promotor da cultura no Brasil. Foi professor, poeta, teatrólogo, gramático, botânico, fundador de cidades e muito mais porque sempre conservou a oração constante, a devoção, a caridade, a mansidão, a obediência, a humildade, a pobreza, a ordem, a disciplina, a castidade, a paciência e principalmente a confiança em Deus.

Fidelidade até os últimos dias
Os últimos momentos da vida de Anchieta foram vividos em Reritiba (Atual cidade de Anchieta-ES). Alí, mesmo com a enfermidade bastante avançada, não permitia que esta o impedisse de servir. Nas suas últimas horas, ainda se levantou do seu leito para preparar um remédio a um companheiro que estava enfermo. E quando dava seus lentos passos para servir seu irmão, sofreu um ataque que pôs fim à sua vida. Estava com 63 anos. Era o dia 9 de junho de 1597.

Ao receber esta triste notícia, aqueles a quem o Pe. Anchieta havia, por toda sua vida, servido, protegido e defendido, aclamavam: «Morreu o nosso pai. O que nos amava como filhos. O que deu a vida por nós!»

O corpo de Anchieta foi levado até Vitória, onde foi sepultado. Durante a Missa de corpo presente, foi aclamado pelo Bispo Dom Bartolomeu, «Apóstolo do Brasil». No dia 22 de junho de 1980, o Papa João Paulo II o declarou Bem Aventurado. Em 3 de abril de 2014, após mais de 4 séculos de espera, Francisco, o primeiro papa jesuíta da História, canonizou o jovem canário que veio ao Brasil aos 19 anos e plantou o nome de Cristo no coração da nossa Nação.

Milagres de ontem e de hoje
Deus favoreceu José de Anchieta com inúmeros dons e através da sua oração muitos alcançaram milagres.

São incontáveis os testemunhos de pessoas que presenciaram fenômenos de levitação, luzes e músicas celestiais enquanto orava e celebrava a Missa. Os índios até o apelidaram de "caraibebé" que em Tupi significa "homem de asas" porque andava quilômetros em apenas alguns segundos. Outro notável prodígio era a obediência que os animais selvagens lhes tinham. Os índios se maravilhavam tanto com tais portentos que o chamavam também de "pagé guaçu" que significa pagé maior, o mais poderoso.

As curas milagrosas de doentes eram constantes em sua vida como, por exemplo, aconteceu em 1588 na cidade de Carapina/ES a cura do menino Estevão Machado, mudo de nascença. E em 1591, aconteceu a cura do índio Suaçú que tinha uma deficiência motora e passou a caminhar normalmente depois do clamor infalível de Anchieta aos Céus.

Durante mais de quatro séculos, desde a morte de Anchieta, inúmeras pessoas recorrem a São José de Anchieta para pedir e agradecer por graças alcançadas. Hoje, ao lado de Deus e de sua tão amada Virgem Maria, São José de Anchieta continua a pedir por todos os que o invocam com fé, especialmente por seus filhos brasileiros que ele tanto amou.
Vatican News

segunda-feira, 8 de junho de 2020

A "Manopla do Infinito" e sua verdadeira história.

Relíquia da mão de Santa Teresa de Ávila à esquerda, a Manopla Infinito à direita.

Saiba mais sobre a Relíquia da Mão esquerda de Santa Teresa D’Ávila
A Ordem dos Carmelitas Descalços nasceu da reforma da Ordem do Carmo, em meados do séc. XVI, impulsionada por Santa Teresa de Jesus, inspirada pela austeridade vivida nos primeiros conventos dos eremitas do Monte Carmelo, em Jerusalém (séc. XII). Reformado o ramo feminino a partir do Convento de Ávila, Teresa de Jesus empreendeu a reforma do masculino. O projecto foi aprovado pelo Papa Pio V e confirmado por Gregório XIII, dando-se a separação completa dos Carmelitas Descalços em relação aos Calçados em 1593.
Enviado por Santa Teresa a Portugal, Frei Ambrósio Mariano funda o primeiro convento de Carmelitas Descalços, em Lisboa, a 15 de Outubro de 1581, com apoio de Filipe II, e três anos depois o primeiro feminino, o Convento de Santo Alberto, também em Lisboa, este último, no local onde hoje se situa o Museu Nacional de Arte Antiga às Janelas Verdes, anexo ao Palácio Alvor/Távora .
Em terras portuguesas, a descalcez carmelitana (também designada por Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo e Ordem Carmelitana Descalça) remonta a 1581, ano em que se funda em Lisboa, sob a invocação de S. Filipe, o primeiro convento masculino de Carmelitas Descalços, beneficiando do clima de favorecimento que, em contexto pós tridentino, se dispensava às ordens reformadas.
«A famosa cidade de Lisboa, afeiçoada do trato dos filhos de Sta. Teresa, desejava casa das filhas, não se prometendo menos delas do que via neles». É nestes termos que a Crónica de Carmelitas Descalços redigida pelo portugûes Fr. Belchior de Santa Ana apresenta o contexto da primeira fundação de descalças femininas em Portugal. Vários nobres se organizaram para pedir ao Prior de S. Filipe, Fr. Ambrósio Mariano, «procurasse trazer religiosas àquela cidade, que mais que qualquer outra de Espanha era acomodada para elas». Os mais activos em todo este processo foram D. Duarte de Castel-Branco, Conde do Sabugal, com especial referência à nora, D. Luísa Coutinho, D. Luís de Lencastre, Comendador-Mor de Avis e D. João Lobo, Barão de Alvito. Nesse sentido, a 16 de Outubro de 1584, parte para Sevilha Fr. Ambrósio Mariano, e a 19 de Janeiro de 1585 fundava-se em Lisboa o primeiro convento de carmelitas descalças, tendo como fundadora a Madre Maria de San José Salazar, uma discípula de Santa Teresa e talvez uma das suas religiosas mais emblemáticas.
Este projecto fundacional estivera desde muito cedo nos desejos da Santa, a quem o contexto da fundação portuguesa fora apresentado em revelação, associado justamente à figura de Maria de San José, então prioresa do convento de descalças de Sevilha.
Santa Teresa de Jesus morreu na noite de 04 de Outubro de 1582, curiosamente no mesmo dia em que o calendário juliano foi substituído pelo calendário gregoriano, de modo que o dia passou a ser sexta-feira 15 Outubro. Seu corpo, enterrado no convento da Anunciação, em Alba de Tormes, Espanha, foi exumado em 25 de Novembro de 1585 (a 04 de Julho de 1583 de acordo com outras fontes). Segundo a lenda, ao abrir o caixão, o corpo estava inteiro e incorrupto. O Padre Carmelita Jerónimo Gracián, cortou-lhe então a mão esquerda entregando-a como relíquia sagrada às Madres Carmelitas do Convento de San José de Ávila, em Espanha, não sem antes guardar para si o dedo mindinho da Santa.
Começa aqui, em 1599, a história da relíquia da Mão esquerda de Santa Teresa de Jesus (ou D’Ávila) em Portugal, altura em que foi trazida e mantida no primeiro Convento Carmelita feminino fundado em Lisboa, Convento de Sto.Alberto.
Com a extinção das Ordens Religiosas em 1834 e após a morte da última freira em 1890 o convento é definitivamente encerrado. Vão por essa altura lentamente desaparecendo os dez mosteiros que Portugal contava à época, à excepção do de Coimbra que é encerrado com o advento da República.

A mão permaneceu em Portugal de 1599 até 1920. Nesta data, as freiras que a guardavam, fugindo da revolução que depôs a monarquia em 1910, levaram-na de volta para a Espanha. Em 1924, foi transferida para o convento recentemente aberto dos Carmelitas Descalços de Ronda. No início da Guerra Civil em Espanha, a 29 de Agosto de 1936, a mão foi requisitada pelos republicanos. Em Fevereiro de 1937, quando as tropas golpistas tomaram Málaga, encontraram “uma relíquia esquecida” na mala do republicano Coronel José Villalba Riquelm, e em vez de a devolverem aos seus proprietários, levaram-na para Burgos, onde Franco não hesitou em se apropriar dela. O Capelão do asilo, Padre Rendon, tentando justificar a apropriação indevida da Relíquia, consolou os Carmelitas com a seguinte frase:
“La mano no se pierde, se va con el Caudillo para guiarle en la conducción de la Patria”.
Franco, enquanto viveu, nunca se separou da Relíquia, incorporando-a mesmo na sua comitiva oficial, incluindo-a durante as viagens oficiais, e nas férias de Verão em San Sebastian ou em Pazo de Meiras.
Depois da sua morte, a mão de Santa Teresa foi devolvida à congregação religiosa, e está actualmente no convento da cidade Merced de Ronda, Málaga, não tendo nunca mais regressado a Portugal, onde tinha permanecido durante mais de três séculos.
Não se pense no entanto que é a única relíquia preservada de Santa Teresa D’Ávila: o mesmo convento também tem o seu olho esquerdo. O pé direito e parte da mandíbula superior está em Roma, o braço esquerdo e coração, na Igreja da Anunciação, em Alba de Tormes. No altar-mor da mesma igreja, é preservado o que resta de seu corpo numa arca de mármore. Dedos e pedaços de carne estão espalhados por Espanha e outros países.
Conta o jornal “El Mundo” uma anedota curiosa sobre o outro braço da Santa, não corrompido: numa peregrinação carmelita que viajou para o Estados Unidos em visita aos frades Carmelitas daquele país, resolveram levar consigo o Relicário contendo o Braço de Santa Teresa D’Ávila. Quando o navio chegou a Nova York, tiveram que preencher um questionário na alfândega, e não existindo nenhuma clausula onde se pudesse incluir a designação de “Relíquias Religiosas”, fez com que o zeloso funcionário da alfândega, assinalasse com uma cruz a alínea correspondente a “enlatados e salgados”.
Bíblia Católica News

A grande preocupação do Papa (da qual a mídia não fala)

O Papa Francisco diz que a Igreja deve estar “ao lado  daqueles  que sofrem”.

Hoje no mundo parece haver um único tema de conversa: o coronavírus. A mídia e a opinião pública ignoram conflitos e guerras, problemas internacionais e crises que continuam afetando certos países como Turquia, Síria e Grécia, para citar alguns poucos exemplos.
É verdade que o vírus que surgiu na China causa grande preocupação entre as populações, às vezes até pânico. Há muitas pessoas que sofrem.
Mas e aqueles que, nas periferias do mundo, sofrem calamidade, abandono, fome, desamparo, desumanidade? O sofrimento vai além do coronavírus hoje no mundo.
Por essa razão, o Papa Francisco, no dia 11 de março, lançou um grito em favor de quem padece de outros sofrimentos:
Não gostaria que esta dor (o coronavírus), esta epidemia tão forte nos faça esquecer os pobres sírios que estão sofrendo na fronteira da Grécia e da Turquia: um povo há anos sofredor. Devem fugir da guerra, da fome, das doenças. Não esqueçamos os irmãos, irmãs e tantas crianças que estão sofrendo ali.
O Papa recebe diariamente informações sobre o drama existente na fronteira entre a Turquia e a Grécia: os turcos, a despeito da Europa (que não apoia sua atuação na Síria), abriram as fronteiras para os refugiados partirem rumo à União Europeia, passando pela Grécia, fronteira com a Turquia.
A Grécia tem recusado com veemência os refugiados.
A Igreja, diz o Papa, “deve estar ao lado daqueles que sofrem”.
A situação dos migrantes e exilados sírios na Turquia é gravíssima: eles vivem quase na miséria, sem escolas, alojados em campos de refugiados, sem trabalho e, quando o têm, são empregos servis.
E agora que a Turquia abriu a fronteira para eles passarem, eles não podem regressar ao cenário de guerra em seu país, a Síria. Eles buscam atravessar a fronteira com a Grécia, mesmo correndo risco de morte. Um forte drama humano.
Parece uma multidão abandonada por todos, sem país, sem futuro, sem comida: ninguém os quer. E o direito humano de asilo? A Europa olha para o lado e só permite a passagem de algumas crianças e jovens, quando há dezenas de milhares de pessoas na fronteira.

Por que esse conflito ocorre?

A União Europeia, com sede em Bruxelas, chegou a um acordo com a Turquia para fazer com que este país atue como barreira para refugiados que se dirigem à Europa. Em troca, a Europa paga 6 bilhões de euros (cerca de US$ 6,3 bilhões) ao governo turco de Recep Tayyip Erdogan. Foi um acordo bastante embaraçoso.
A guerra civil na Síria começou em 2011, entre o governo de Damasco, presidido por Bashar al-Asad, e seus oponentes que queriam derrubá-lo, na chamada “Primavera Árabe”.
Desde então milhões de sírios fugiram das bombas, das perseguições, da guerra que varre tudo. E eles fugiram principalmente para Turquia, Líbano, Jordânia e, acima de tudo, Europa.
Os Estados Unidos apoiaram a oposição contra Bashar al Asad, que foi diretamente apoiado pelo Irã e pela Rússia. Contra o governo sírio estava também uma parte dos curdos, um povo indo-iraniano que vivia entre a Turquia, o Iraque, o Irã e a Síria.
Os curdos, aliados dos Estados Unidos, realizaram boa parte da luta contra os terroristas do Estado Islâmico que se fortaleceram em algumas regiões da Síria, como a bela Aleppo. Mas o regime de Erdogan considera os curdos terroristas contra seu país.
Quando os Estados Unidos deixaram a área, em 2019, os curdos ficaram sozinhos em uma luta não apenas contra o governo sírio de Damasco, mas também em sua luta contra a Turquia e o Estado Islâmico. Erdogan decidiu penetrar 30 quilômetros no território sírio para controlar o terrorismo.
Esta situação não agradou nem a Rússia nem o Irã, que faz fronteira com a Turquia, aliados de Damasco. Então a guerra na Síria reacendeu: bombardeios, destruição e refugiados em direção à Turquia. A ação turca passou a ser aceita pelos Estados Unidos, desde que a guerra causasse poucas mortes. Não foi assim. Era o ano de 2019.
Erdogan continuava irritado com a União Europeia porque ela não o apoiou nem na guerra na Síria nem em suas aspirações de se tornar parte da UE. Ele cobra o estabelecimento de uma unidade aduaneira com a Europa. Ele ameaçou – e cumpriu – abrir as fronteiras para os refugiados sírios seguirem para a Europa, através da fronteira com a Grécia, uma eterna adversária da Turquia, apesar de serem ambos membros da OTAN.
Erdogan não agiu assim com a Bulgária – outro país membro da UE que também tem fronteira com a Turquia -, pois fez um acordo estratégico com o presidente búlgaro, em março deste ano no palácio presidencial de Ancara, capital da Turquia.
Um acordo da semana passada entre a Rússia e a Turquia, entre Vladimir Putin e Erdogan, terminou com um cessar-fogo na cidade de Idlib. Mas até quando vai durar?
O fato é que o mundo – mesmo atravessando a emergência sanitária do coronavírus – não pode esquecer o drama dos refugiados sírios.
Aleteia Brasil

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF