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Um rico manual de teologia ascética e mística pela profundidade dos temas que aborda sob a ótica de vários autores.
A Cultor de Livros, benemérita editora de inspiração católica, acaba de presentear o público de língua portuguesa com o livro de título acima.
Trata-se de uma alentada obra de 508 páginas que tem por subtítulo: Um itinerário de contemplação. Divide-se em doze capítulos que perfazem um rico caminho de progresso espiritual a culminar na união com Deus já nesta terra. Eis o roteiro traçado pelo autor: “Serve como introdução a ‘Scala claustrarum’ ou ‘Scala Paradisi’, de Guigo II, um escrito que teve a honra de ser atribuído a São Bernardo ou até mesmo a Santo Agostinho. Essa obra apresenta, de forma clara e sintética, os quatro degraus espirituais que ‘elevam a alma contemplativa da terra ao céu’”.
“Começa, então, o verdadeiro e próprio ‘itinerário’: O princípio da contemplação é o próprio Deus, porque provimos d’Ele, à sua caridade devemos tudo (capítulo I) e a Ele devemos retornar, convertendo-nos ao seu amor com o dom do nosso coração (II). Entretanto, a esse movimento de doação se opõe o pecado que feriu profundamente a nossa alma e por essa razão buscamos a alegria na posse das criaturas: esse é o principal obstáculo à contemplação (III)”.
“Para superá-lo, precisamos nos colocar em condições de liberdade interior de nós mesmos e das coisas; quer dizer, é necessária uma purificação do coração (IV) que introduza a alma numa solidão e silêncio profundos (V) cujo fruto é a humildade e o abandono à ação de Deus (VI).”
“Chegados a este ponto, estamos em condições de usar os meios que o próprio Deus nos dá para podermos ‘voltar’ a Ele. Antes de tudo, da oração que brota da humildade (VII) e faz o Espírito agir em nós, ‘porque ele intercede pelos fiéis segundo os desígnios de Deus’ (Rm 8,27). Com sua ação, o Espírito nos conforma à imagem do Filho. Instrumento privilegiado para essa transformação é Maria (VIII), a Serva do Espírito, porque a sua vocação fundamental é gerar, por obra do Espírito Santo, os membros do Verbo encarnado, que é o único caminho pelo qual se vai ao Pai (IX). Contudo, nossa união com Jesus não deve se limitar apenas à imitação, mas precisa tornar-se uma comunhão de vida, e isso se realiza nos sacramentos, de modo especialíssimo na Eucaristia (X).”
“Na Eucaristia, memorial da Páscoa de Cristo, somos assumidos pelo Amor, e nos tornamos capazes de amar, atingindo, assim, o fim, ou seja, a união na caridade com os irmãos (XI) e com Deus (XII) porque ‘Deus é amor; quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele’ (1Jo 4,16)” (p. 39-40).
Podemos dizer, com segurança, que a Antologia de Autores Cartuxos é um rico manual de teologia ascética e mística pela profundidade dos temas que aborda sob a ótica de vários autores, desde São Bruno de Reims († 1101) até Dom João Batista Porión († 1987). Cada um dos autores citados vem apresentado nas páginas finais (cf. p. 427-487) dessa obra que traz, com esmero, 900 anos de espiritualidade, teologia e história. Convida, assim, cada cristão a ser contemplativo, ainda que no meio do mundo, pois para ser íntimo de Deus “não há necessidade de nenhum dom especial, nem de nenhum favor excepcional da graça; nenhum estado físico ou espiritual se lhe opõe, quando existe uma vontade séria de se aproximar de Deus e de unir-se a Ele” (p. 405).
O autor, embora venha apresentado no prefácio à edição brasileira como sendo Dom Gabriele Maria Lorenzi (1914-2004), monge cartuxo italiano, aparece na capa apenas como “Um Cartuxo”, costume tradicional da Ordem de, salvo raríssimas exceções, nunca revelar o nome do religioso cartusiano, a não ser muito depois de sua morte.
Eis, portanto, um rico material colocado à disposição de cada fiel desejoso de, verdadeiramente, progredir na vida espiritual. Ao original, que fez muito sucesso na Europa, acrescentou-se, nesta edição brasileira, um oportuno apêndice a sintetizar a vida monástica cartusiana: O ideal do verdadeiro cartuxo, de autoria do Anônimo de Porta Coeli, datado do ano de 1758 (cf. p. 493-507), além de elucidativas notas de rodapé.
Beneficie-se, pois, dessa obra útil a todos os fiéis: clérigos, religiosos e leigos!
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