Dom Vital Corbellini Bispo de Marabá – PA |
A igreja é um dos temas importantes na teologia e na vida eclesial. Os primeiros teólogos e escritores cristãos desenvolveram uma eclesiologia bíblica, cristológica, trinitária, bem encarnada junto ao povo de Deus. A Igreja é a comunidade de fé, de esperança e de caridade que em Cristo Jesus se encontra para ouvir a Palavra de Deus, vive da eucaristia, e é chamada a testemunhar o amor de Deus no mundo de hoje, em unidade com os seus pastores. A seguir, vejamos pontos da visão eclesial em alguns padres da Igreja.
Tertuliano, padre dos séculos II e III afirmou o valor do batismo na vida eclesial, pois sob as mãos do bispo renunciamos ao demônio e aos seus anjos para viver os compromissos batismais. Depois os catecúmenos eram imersos três vezes na água sendo batizados, recebendo, sem dúvida os outros sacramentais, a unção. Em seguida as pessoas recebiam a eucaristia do ministro no caso era o bispo quem presidia a assembléia. Em muitas ocasiões, afirmou Tertuliano, fazemos sempre o sinal sobre a fronte, no caso o sinal da cruz. Portanto esse costume veio da tradição e foi aprovada pela fé do povo de Deus, da Igreja de Cristo[1].
Orígenes, padre dos séculos II e III falou que a encarnação do Verbo de Deus possibilitou a divulgação do evangelho para o mundo e conseqüentemente a construção de igrejas. As Igrejas de Deus, instruídas por Cristo, brilham como astros no mundo (cfr. Fl 2,15), assim como nos falou o Apóstolo Paulo. O que diferencia a Igreja de outras assembléias é a questão do serviço[2], os sacramentos dados para as pessoas e o anúncio da Palavra de Deus.
Santo Ireneu, bispo de Lião, nos séculos II e III, afirmou que a verdadeira gnose é a doutrina dos apóstolos; é a antiga difusão da Igreja em todo o mundo, sendo este o caráter distintivo do Corpo de Cristo Jesus, consistindo na sucessão dos bispos aos quais foi confiada a Igreja em qualquer lugar onde ela esteja. Existe também a conservação das Escrituras que chegou até nós, a sua explicação correta e do dom da caridade, mais precioso do que a gnose, mais glorioso do que a profecia, superior a todos os outros carismas[3].
São Fulgêncio de Ruspe, bispo africano dos séculos V e VI, afirmou que na Igreja católica é a recepção de Deus e nesta até o fim dos séculos há uma mistura de joio com a boa semente, que isto é os maus se confundem com os bons na comunhão dos sacramentos e que em cada estado de vida existem os bons e os ruins, seja vida sacerdotal, seja na vida monacal, seja na vida laical. Esse autor afirmou que não se devem abandonar os bons pelos ruins, mas de suportar os maus pelos bons, pela fé e pela caridade. Na Igreja é fundamental a conversão de todas as pessoas para Cristo de modo que ninguém é excluído da salvação. Só no final haverá a separação dos justos dos injustos, os bons dos ruins, os retos dos perversos[4].
São Leão Magno, Papa no século V, afirmou a importância da concórdia, da unidade entre todos os membros do Senhor. Como é bonito e muito precioso aos olhos do Senhor o povo de Deus que caminha unido, colabore com o mesmo espírito, quando todos lutam contra os males da sociedade e de estar no bem; quando Deus é glorificado nas obras dos seus servos e a fonte de todo o amor é bendita com o reconhecimento de muitas pessoas. Então se nutrem os famintos, se vestem os nus, se visitam os enfermos, e as pessoas buscam os interesses dos outros. Por este dom gratuito de Deus, comum é o fruto de boas obras dos fiéis, comum é o seu merecimento. Assim todos cooperem pelo crescimento do amor na vida cristã[5].
Santo Agostinho, bispo dos séculos IV e V exortou o seu povo para unidade na Igreja. Ainda que tenha a má semente, ele afirmou a importância de ser boa semente em vista da unidade com o Senhor. Pode haver diferenças nas coisas, mas não se pode estar divididos no altar de Deus. É ali mesmo que se deve ter a reconciliação com os irmãos, para assim oferecer juntos os dons ao altar de Cristo. Reconhecemos a paz de Cristo, aprofundando a importância de sermos bons reconduzindo também sobre o reto caminho, os errantes e vivermos por amor a unidade em Cristo Jesus[6].
[1] Cfr. Tertulliano, La Corona, 3-4. In: La teologia dei Padri. Città nuova editrice, Roma, 1984, Vol. 04, pg. 41-42.
[2] Cfr. Orígenes, Contra Celso, 3,29-30. São Paulo, Paulus, 2004, pgs. 228-230.
[3] Cfr. Ireneu de Lião, IV, 33,8, Paulus, SP, 1995, pg. 475.
[4] Cfr. Fulgenzio di Ruspe, Regola della vera fede, 43. In: La Teologia dei Padri, pg. 34.
[5] Cfr. Leone Magno, Sermoni, 88, 4-5. Idem, pg. 27.
[6] Cfr. Agostino, Le Lettere, I, 108, 17,20. Idem, Pg. 26.
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