O padre Sérgio Torres, Secretário Pastoral na Arquidiocese de Braga, reflete sobre os desafios vividos em tempo de pandemia. Assinala a importância dos pequenos passos numa realidade que inclui cada vez mais o ambiente digital.
Rui Saraiva
A pandemia do novo coronavírus obrigou a uma mudança profunda dos nossos hábitos pessoais, profissionais e sociais. As comunidades paroquiais e as dioceses ressentem-se de tudo isso. Depois do confinamento obrigatório e a reabertura das igrejas, o grande desafio é o da dinamização pastoral.
Destacamos nesta edição a Arquidiocese de Braga em Portugal na reportagem do jornalista João Pedro Quesado para a publicação Igreja Viva, distribuída semanalmente no jornal Diário do Minho. O entrevistado é o padre Sérgio Torres, Secretário da Pastoral da Arquidiocese de Braga que refere as dificuldades sentidas logo no início da pandemia e após a declaração do estado de emergência. Um tempo que se passou das igrejas para as redes sociais. E sem a presença física das pessoas.
“Estamos mais focados naquilo que é o nosso normal, que é estar dentro de um templo e ter a presença das pessoas. Creio que tivemos mais dificuldade, naturalmente. No imediato, aquilo que fizemos foi socorrermo-nos daquilo que tínhamos, ou seja, com o desejo de estarmos próximos das pessoas, de as vermos, de falarmos com elas e delas falarem connosco, fizemos uma transposição daquilo que tínhamos no templo. Aliás, a própria Diocese fez isso e pediu-nos que fizessemos unidade à volta dessa proposta que o senhor arcebispo, durante aquelas semanas todas, também fez. Como se percebeu, ao princípio foi isso que aconteceu de imediato e depois começaram a aparecer as outras coisas todas. Por exemplo, a catequese dada pelo bispo D. Nuno. Que há aqui um campo muito grande a trabalhar – não propriamente para transpor aquilo que fazemos no templo para as redes sociais, para esta cultura digital, mas outros conteúdos, outra forma de trabalhar, creio que ainda temos muito caminho para fazer.”
Não devemos apenas transpor para o ambiente digital o que fazemos, normalmente, nas paróquias, mas criar conteúdos – diz o padre Sérgio Torres que recorda as principais dificuldades que teve em articular os vários setores pastorais, ele que também é pároco em Braga.
“Como nós temos essencialmente um trabalho muito dedicado às crianças e aos jovens – seja por causa da preparação dos sacramentos, independentemente se essa expressão é correta ou não com o novo diretório da catequese, estamos muito voltados para isso... Por isso eu creio que foi, do ponto de vista da evangelização, essa parte a mais afetada. Não tivemos a oportunidade de estar com as crianças, não houve festas – aliás, a paragem apanhou o período das festas, apanhou-nos praticamente a Quaresma toda, que costuma ser um período muito intenso de oração, de via sacra, de propostas quaresmais, já para não falar das procissões na cidade de Braga e de toda a vivência na Sé Catedral...”
“Eu creio que, nas paróquias, aquilo que teve mesmo mais impacto foi esta relação com as crianças, com os jovens e com as famílias, pelo menos do ponto de vista da evangelização. Da parte dos sacramentos, é aquilo que eu referi há pouco da impossibilidade de nos encontrarmos. Aliás, eu dizia na brincadeira que, quando nos voltássemos a reunir – e por acaso não o fiz –, o cântico que nós deveríamos cantar logo na primeira celebração seria ‘Formamos um só corpo em Cristo Jesus’, que é um cântico muito antigo mas que diz bem daquilo que nós sentimos falta, não é? De formarmos um corpo. Nós somos batizados para fazermos parte de uma comunidade, para fazermos corpo. E a realidade virtual, com todas as coisas que tem de bom e de positivo... Sei que houve imensos grupos que quiseram manter a relação e foram lentamente descobrindo o caminho. Portanto, a resposta não foi imediata.”
“Eu acho que este caminho se vai fazendo caminhando, descobrindo de que forma é que nos podemos manter fiéis à nossa missão, porque ela não mudou. É importante perceber isto. Temos que estar conscientes do nosso porquê, de porque é que existimos como Igreja. Nós temos uma missão e Jesus deixou-a de forma muito clara quando disse que seríamos “pescadores de homens” e quando disse a Pedro para “apascentar o rebanho”. A nossa missão, na linguagem bíblica, está nessas duas expressões. O modelo que usamos para fazer isso é que pode variar.”
Neste tempo de pandemia é quase como se estivéssemos “no meio do nevoeiro” – afirma o padre Sérgio sublinhando a importância de serem dados passos pequeninos, mas continuando sempre, pois serão encontradas potencialidades. O importante é que “não devemos desanimar” – afirma.
“Eu creio que não devemos desanimar porque a situação é diferente. Eu tenho dito que estamos no meio do nevoeiro. E quando estamos no meio do nevoeiro, damos passos mais pequeninos porque não sabemos se o caminho é para a direita, para a esquerda, em frente ou até se é necessário recuar um pouco, eventualmente. Daremos passos mais pequeninos. Eu acho que muitas coisas vão ser feitas, à medida que vamos descobrindo potencialidades, à medida que vemos outros a fazerem coisas...”
“Acredito que há coisas que vieram para ficar, como estas reuniões online, que podem facilitar bastante a vida em vez de obrigar a pessoa a deslocar-se. Não sei é se nós estaremos já preparados para tudo. Por isso é que digo que é um caminho que se vai fazendo devagarinho. Como se diz em inglês, baby steps, serão provavelmente passos de bebé aqueles que vamos dar para que possamos ir mais longe. Não sei se aqui se os nossos bispos, como um todo, não poderiam encontrar aqui um potencial enorme para, em vez de cada diocese estar a trabalhar para si, ser a Conferência Episcopal a ter um plano mais abrangente. Repara, nós podemos estar a produzir conteúdos. Que tipo de qualidade é que eles podem ter? Que tipo de produção é que somos capazes de fazer? Que tipo de equipa é que podemos juntar? Os recursos são muito mais limitados numa diocese. Do ponto de vista da Conferência Episcopal, a produção de alguns conteúdos para as redes sociais, que permitam às pessoas interagir... Uma pessoa que pode participar num pequeno grupo de reflexão da fé mas que até está longe e num fim-de-semana não pode ir à sua igreja pode começar a encontrar aqui uma forma diferente de caminhar na fé sem frequentar muitas vezes o espaço físico, mas permitindo-lhe dar na mesma passos.”
“Estou convencido que, se isto se mantiver, e acho que se vai manter muito tempo, o andar da carruagem nos vai fazer descobrir novas formas. Pode ser que, neste sentido, este seja para nós um bom tempo, já que olhamos para este como um mau tempo porque estamos restringidos. Pode ser uma oportunidade.”
A pastoral na pandemia é um grande desafio para as paroquias e dioceses e as plataformas de comunicação têm sido um porto seguro no acompanhamento das comunidades. Voltaremos ao assunto no contributo do padre Sérgio Torres e da Arquidiocese de Braga na reportagem do jornalista João Pedro Quesado.
Laudetur Iesus Christus
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