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terça-feira, 8 de setembro de 2020

Ordenação Episcopal Dom Giovani Carlos

Na manhã de sábado,5 de setembro de 2020, às 10 h, na Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida, o céu se abriu para derramar o Espírito Santo sobre o Monsenhor Giovani Carlos Caldas Barroca, capital do Brasil de onde partirá para servir na Diocese de Uruaçu-Go, da qual ele será o quarto bispo eleito.

O monsenhor demonstrou-se tranquilo e alegre nos momentos que antecederam a sua ordenação episcopal, conversando com os jornalistas presentes, bispos e amigos.

A celebração contou com a presença dos bispos: Dom Antônio Fernando Brochini Itumbiara – GO; Dom Alberto Taveira; Dom Adair;  Dom Darci José Nicioli  Dom Dilmo Franco Campos Anápolis – GO;  Dom Joel Portella Amado (CNBB);  Dom José Aparecido Administrador Apostólico de Brasília;  Dom Leonardo Steiner (Manaus);  Dom Levi Goiânia – GO;  Dom Jeová Elias (ordenado dia 22 de agosto);  Dom José Carlos Brandão;  Dom Marcony Vinicius (Brasília);  Dom Moacir Silva -Goiânia – GO;  Dom Raimundo Damasceno de Assis – Emérito de Aparecida;  Cardeal Dom Sérgio da Rocha (Arcebispo de São  Salvador -BA); Dom Valdir Mamede (Catanduva – SP);  Dom Washington Cruz (Goiânia – GO);  Dom Waldemar Passini Dalbelo (Luziânia – GO); Além dos bispos citados, também participaram da celebração episcopal, vários padres, dentre outros, estavam presentes também: Pe. Caio; Pe. João Firmino (Pároco da Catedral e presidente do setor de comunicação da Arquidiocese de Brasília), Pe. Rafael (leitor da Bula Papal), seminaristas do Seminário Maior Nossa Senhora de Fátima, os quais foram os animadores da celebração Episcopal.

A Cerimônia foi presidida por Dom Sérgio, embora a saudação ao quinto bispo da igreja em Brasília foi feita pelo Administrador Apostólico Dom José Aparecido, como também fez os agradecimentos aos parentes, amigos, autoridades e em especial agradeceu a presença do Administrador Regional  do Recanto das Emas, senhor Carlos Galvão.

A Celebração foi transmitida pelas mídias sociais da Arquidiocese de Brasília; TV Rede Vida; Canção Nova; TV Pai Eterno, Radio Nova Aliança e mídias sociais da Diocese de Uruaçu.

Logo após ser ungido com o bálsamo e receber os paramentos episcopais (anel, livro do Evangelho, mitra, báculo) foi saudado pelos bispos presentes e aplaudido pelos fieis presentes. Já como bispo, Dom Giovani foi conduzido em procissão para saudar o povo e dar a sua primeira benção episcopal.

Por Alessandra Gomes

Arquidiocese de Brasília

O Ateísmo é uma escolha racional? Três famosos ateus respondem

El País

A pergunta que colocamos aqui deve ser bem entendida: não perguntamos se os ateus são racionais, coisa que seria absurda; nem mesmo perguntamos se os ateus são inferiores aos teístas, ou se a crença em Deus “não necessariamente torna uma pessoa melhor”, como apareceu numa recente pesquisa no Brasil[1]. O que questionamos agora é se o ateísmo, enquanto sistema de pensamento seja coerente. Mais precisamente, nos perguntamos se é sensato afirmar a não existência de Deus e contemporaneamente o relativismo. Poderia ser verdade que não há nenhuma verdade e, ao mesmo tempo, ser verdade que Deus não existe?

Talvez haja quem pense que a questão aqui proposta seja absurda. E pode vir à mente do leitor a recordação do jovem Ivan, personagem de Irmãos Karamázov, que defendia que se Deus e as religiões não existissem, tudo passaria a estar permitido. Aquele personagem manifestava assim o desejo de uma liberação: ao livrar-se da crença em Deus, o homem ficaria livre de todo dogmatismo, tanto teórico, quanto moral. A negação de Deus traria o fim da “lei natural” e do dever de amar o mundo e ao próximo. A mesma liberação quis experimentar F. Nietzsche ao declarar a morte de Deus, ou melhor, ao dizer que os homens o haviam assassinado. De modo que para eles a negação ou “morte” de Deus não estaria fundamentada no relativismo, mas seria a origem mesma do relativismo. A afirmação da não existência de Deus seria uma escolha, algo indiscutível e impossível de ser demonstrado a partir de verdades anteriores. E aceitá-lo seria assumir a crença num novo dogma que faria desmoronar todos os demais dogmas. O ateísmo fundaria assim o relativismo na moral e no conhecimento humano.

Embora isso seja claro, é comum pensar que o relativismo funde o ateísmo; que as pessoas que não aceitam Deus, fazem-no porque não querem aceitar a existência da verdade, à qual deveriam se submeter. Isso é um absurdo. O ateísmo parte de uma afirmação que tem valor de verdade absoluto: Deus não existe. Se essa afirmação não fosse tomada pelos ateus como verdade, eles simplesmente deixariam de ser ateus. O relativismo para eles se dá somente nas “verdades” inferiores e todos deveriam se submeter ao imperativo único da nova moral: é proibido estabelecer regras morais.

O interessante é que F. Nietzsche e outros conhecidos filósofos ateus reconheceram que afirmar o relativismo cognoscitivo e o ateísmo é em si mesmo contraditório. O motivo seria que o relativismo implica a afirmação da não existência de verdades absolutas; mas isso se funda, por sua vez, numa verdade absoluta: a não existência de Deus.

Sendo assim, a afirmação da não existência de Deus implica a afirmação da sua existência. Outros pensadores ateus que perceberam bem as contradições do ateísmo contemporâneo foram M. Horkheimer e Th. Adorno. De fato, eles diziam numa obra conjunta, A Dialética do Iluminismo, citando a Nietzsche: «Percebemos “que também os não conhecedores de hoje, nós, ateus e antimetafísicos, alimentamos ainda o nosso fogo no incêndio de uma fé antiga dois milênios, aquela fé cristã que era já a fé de Platão: ser Deus a verdade e a verdade divina”. Sendo assim, a ciência cai na crítica feita à metafísica. A negação de Deus implica em si uma contradição insuperável, enquanto nega o saber mesmo»[2].

Esses autores, ateus e relativistas, que se reconhecem como “não conhecedores e antimetafísicos” alimentam a verdade de sua fé ateia naquela cristã, já presente em Platão: a fé na existência da verdade divina. De modo que só pode afirmar a não existência de Deus, quem aceita que há uma verdade absoluta, divina. Em outras, palavras, só pode negar a Deus que previamente o afirma. Por isso, o ateísmo, ao negar Deus e a verdade das coisas (que é sempre relativa ao sujeito que a conhece e é progressiva), reinvindica para si mesmo o caráter absoluto, próprio do mesmo Deus[3], estabelecendo assim um novo dogmatismo. Portanto, o ateísmo não existe; nada mais é do que uma espécie de idolatria que consiste no colocar-se a si mesmo e as próprias convicções pessoais, por mais contraditórias que possam ser, no lugar de Deus, o único que garante toda a verdade.

Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.

Publicação original em: http://beta.zenit.org/pt/articles/o-ateismo-e-uma-escolha-racional



[2] Cfr. F. NIETZSCHE, La gaia scienza, Mondadori, Milano 1971, p. 197; M. HORKHEIMER e Th. ADORNO, Dialettica dell’illuminismo, Einaudi, Torino 1966, p. 125.

[3] Para a elaboração do presente texto me foram úteis as reflexões presentes em: U. GALEAZZI, Il coraggio della ragione. Tommaso d’Aquino e l’odierno dibatitto filosofico, Armando, Roma 2012, pp. 22-38.

https://www.presbiteros.org.br/

Oração para os momentos em que você não sente Deus

Eric Tornlov

Quando a vida espiritual está difícil e seca como o deserto, o melhor caminho ainda é dirigir-se a Deus.

Abbà, meu Pai,
Vós vos escondestes
na escuridão que há após a luz.
O sorriso do vosso Filho
se desvanece da minha memória
e o vento do vosso Espírito
é agora uma leve brisa que mal sinto.
Tudo o que me resta é matéria e forma,
ícones e palavras.
Sinto-me como o inverno
que vejo pela janela do meu coração.
Minha alma passa por este inverno.

Abbà, meu Pai,
eu ainda creio em Vós.
Ainda combato convosco,
mesmo sabendo que perderei a batalha.
Mas batalharei até entrar no vosso reino,
segundo seu Filho nos disse.
Enviai o vosso Espírito
e derretei o inverno da minha alma
rumo a uma nova primavera.

Eu vos peço esta graça, Abbà,
no doce nome do vosso Filho Jesus.
Amém.

(Vivificat)

Aleteia

Em que momento a pessoa perde a alma?

WOMAN,CEMETERY
Mongkol_Chuewong | Shutterstock
por Pe. Henry Vargas Holguín

A história da mulher que encontrou uma caverna cheia de tesouros e uma reflexão sobre a salvação eterna.

Esta pergunta pode ter dois sentidos: não sei se o leitor pergunta pela perda ou morte da alma, da vida espiritual, ou se pergunta pelo momento da morte corporal ou biológica.

No caso da morte corporal ou biológica, o que se verifica é somente o cessar da atividade cerebral (fundamento da alma racional), causada muitas vezes pela interrupção do funcionamento dos órgãos vitais.

Em que momento exato isso acontece? Como verificar os sinais? A morte biológica é uma dissolução. E o momento de tal dissolução não é diretamente perceptível; então, a questão é identificar os sinais.

A constatação e interpretação destes sinais não compete à fé nem à moral, mas sim à ciência médica. Corresponde ao médico dar uma definição clara e precisa da morte e do momento em que ela ocorreu.

De qualquer maneira, a fé cristã afirma a persistência, para além da morte, do princípio espiritual do ser humano. A fé alimenta no cristão a esperança de “reencontrar” sua integridade pessoal (espírito, alma, corpo) transfigurada e definitivamente possuída em Cristo (cf. 1 Cor 15, 22).

No caso da morte da alma, uma coisa é certa: a única maneira pela qual se pode perder a alma é o distanciamento pleno e definitivo de Deus devido ao pecado grave ou mortal, o que se conhece como morte espiritual ou, o que é a mesma coisa, a perda da vida de Deus em nós, a perda da graça santificante.

Jesus disse: “Pois que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua vida? Ou que dará o homem em troca da sua vida?” (Mc 8, 36-37). Com estas palavras, o Senhor nos adverte sobre o objetivo central da nossa existência: a salvação.

O mundo e os bens materiais nunca são um fim último para o homem, nem sequer o bem temporal – que os cristãos têm a obrigação de buscar.

“O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, tal como o próprio amor. Tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no inferno, uma vez que a nossa liberdade tem capacidade para fazer escolhas definitivas, irreversíveis.” (Catecismo da Igreja Católica, 1861)

Recordemos que “Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva” (Ez 18, 23).

Existe um conto interessante a propósito disso: uma mulher pobre, com seu filho pequeno no colo, passava na frente de uma caverna quando escutou uma voz misteriosa que lhe dizia lá de dentro: “Entre e pegue tudo o que você quiser, mas não se esqueça do principal. Depois que você sair, a porta se fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se esqueça do mais importante”.

A mulher entrou toda trêmula na caverna e lá encontrou muito ouro e pedras preciosas. Então, fascinada pelas joias, colocou seu filho no chão por um instante e começou a pegar, ansiosamente, tudo o que coube no seu avental.

De repente, a voz falou outra vez: “Restam-lhe apenas cinco minutos”. A mulher, apressada, continuou pegando tudo o que podia. Finalmente, carregada de ouro e pedras preciosas, correu e chegou à entrada da caverna, quando a porta já estava se fechando. E então a porta se fechou.

Nesse momento, a mulher se lembrou de que seu filho havia ficado dentro da caverna. Mas a porta já estava fechada para sempre! A alegria da riqueza desapareceu imediatamente, e a angústia e o desespero a fizeram chorar amargamente.

Temos alguns anos para viver neste mundo e quase sempre deixamos de lado o principal! O que é essencial nesta vida? Deus, sua vida de graça, seus valores morais e espirituais, a família, os filhos, a harmonia com Deus e com o próximo.

É triste ver que muitos arriscam sua salvação eterna e sua própria felicidade aqui na terra por coisas que não têm valor algum. De que adianta viver somente para satisfazer todas as ambições humanas? De que adianta ter tudo e esquecer de Deus, se tudo vai acabar, se tudo vai afundar e pode levar à perda de Deus para sempre?

Enquanto peregrinamos nesta vida, temos a esperança de recuperar a vida de Deus em nós. Cada um sabe se perdeu ou não sua vida ou alma espiritual. Se a perdeu, sabe também quando isso aconteceu. Mas é Deus, no juízo final, quem confirmará isso.

Recordemos que a vida passa rápido demais e a morte biológica chega de surpresa, inesperadamente. Quando a porta desta vida se fechar para nós, não adiantará nada lamentar-se. Pensemos nisso por um momento e não desperdicemos este convite de Deus.

Aleteia

 

Qual é a diferença entre vida espiritual e vida racional?

Korawat photo shoot | Shutterstock
por Pe. Henry Vargas Holguín

O espírito é imortal, mas a vida racional acaba com a morte cerebral, ainda que os órgãos vitais possam continuar funcionando mecanicamente.

(Este texto complementa a resposta dada no artigo “Em que momento a pessoa perde a alma?“)

Jesus disse: “Eu vim para que as tenham vida, e vida em abundância” (cf. Jo 10, 10) e “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (cf. Jo 14, 6). Em outras palavras, Jesus é vida e dá a vida. Mas que tipo de vida? A vida espiritual, a vida sobrenatural, que é a riqueza, força e vida do nosso espírito.

Quem não recebe Jesus ou a graça santificante (a vida sobrenatural), não tem vida espiritual; só tem vida física, sustentada pela vida ou alma racional.

Nosso espírito ou vida espiritual, que é imortal, é algo muito diferente da nossa vida racional, que termina com a morte cerebral, ainda que os órgãos vitais possam continuar funcionando mecanicamente.

São Paulo nomeia os três elementos do ser humano em 1 Tessalonicenses 5, 23: espírito, alma e corpo.

A Bíblia utiliza o termo “psyché”, “alma”, como a condição vivente do corpo. Alguns traduzem a ‘”psyché” bíblica simplesmente como “vida”.

Recordemos que todos os seres vivos, pelo fato de estarem vivos, têm algo que os anima: são seres animados. Os animais têm vida irracional, as plantas têm vida vegetal e os seres humanos têm vida racional.

Aleteia

Questões sobre o Batismo (Parte 9/12): Pode o Batismo ser reiterado?

Apologética
Veritatis Splendor
 
  • Autor: São Tomás de Aquino
  • Fonte: Suma Teológica, Parte III, Questão 66
  • Tradução: Dercio Antonio Paganini

Objeção 1: Parece que o Batismo pode ser reiterado. O Batismo foi instituído para lavar os pecados, mas os pecados são reiterados, assim sendo, muito mais precisa o Batismo ser reiterado, pois a benevolência de Cristo supera a ganância humana.

Réplica à Objeção 1: O Batismo obtém sua eficácia da Paixão de Cristo como ficou estabelecido antes (arts. 2 e 1). Todavia, os pecados subsequentes não invalidam a Paixão de Cristo, então também não cancelam o Batismo para que seja feita sua repetição. Por outro lado, o pecado que impedisse o efeito do Batismo poderia ser eliminado pela Penitência.

Objeção 2: Efetivamente João Batista recebeu uma recomendação especial de Cristo, O Qual disse a ele em Mt 11,11: “Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher, não surgiu outro maior que João, o Batista; mas aquele que é o menor no reino dos céus é maior do que ele”. Mas aqueles que foram batizados por João, foram batizados novamente, conforme Atos, 19,1-7: “E sucedeu que, enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo tendo atravessado as regiões mais altas, chegou a Éfeso e, achando ali alguns discípulos, perguntou-lhes: ‘Recebestes vós o Espírito Santo quando crestes?’ Responderam-lhe eles: ‘Não, nem sequer ouvimos que haja Espírito Santo’. Tornou-lhes ele: ‘Em que fostes batizados então?’ E eles disseram: ‘No batismo de João’. Mas Paulo respondeu: ‘João administrou o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse naquele que após ele havia de vir, isto é, em Jesus’. Quando ouviram isso, foram batizados em nome do Senhor Jesus. Havendo-lhes Paulo imposto as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo, e falavam em línguas e profetizavam. E eram ao todo uns doze homens.” Muitos mais, como esses foram rebatizados pois haviam sido batizados por hereges ou pecadores.

Replica à Objeção 2: Como diz Agostinho baseado em João 1,33: “‘Eu não o conhecia; mas o que me enviou a batizar em água, esse me disse: Aquele sobre quem vires descer o Espírito, e sobre ele permanecer, esse é o que batiza no Espírito Santo’ – Estejam certos de que, quando João administrava o seu Batismo, esse Batismo era válido, mas se um criminoso administrasse o Batismo de João, esse Batismo não seria válido, porque João dava seu próprio Batismo; Depois da morte de Cristo, e por isso mesmo, o sacramento é tão sacro que nem mesmo a administração por um assassino pode contaminá-lo.”

Objeção 3: No Concílio de Nicéia (Cânon XIX) foi dito que se “Qualquer dos Paulianistas ou Catafígios for convertido à Igreja Católica, eles precisarão ser batizados”, e a mesma coisa se pode dizer em relação a outros hereges. Assim sendo, aqueles a quem os hereges batizaram, precisarão ser batizados novamente.

Réplica à Objeção 3: Os Paulianistas e os Catafrígios não usam batizar em nome da Trindade. Todavia, Gregório escreveu ao Bispo Quírico dizendo: “Aqueles hereges que não são batizados em nome da Trindade, como os Bonosianos e Catafrígios” (que são do mesmo pensamento dos Paulianistas), “então o autor não acredita que Cristo é Deus” (afirmando que Ele é um mero homem) “além de que os últimos (Catafrígios), são tão perversos que, como diz Montano, confundem um mero homem com o Espírito Santo; portanto, todos eles deverão ser batizados caso venham para a Santa Igreja, pois o batismo que receberam naquele estado de erros não foi um Batismo verdadeiro, pois não foi conferido em nome da Trindade.” Por outro lado, como ficou determinado em De Eclesiam, Dogma XXII: “Aqueles hereges que foram batizados confessadamente em nome da Trindade, poderão ser recebidos na Fé Católica como realmente batizados.”

Objeção 4: O Batismo é necessário para a salvação, mas algumas vezes existe dúvida a respeito do batismo de algumas pessoas; então, parece necessário batizá-las novamente.

Replica à Objeção 4: De acordo com o Decreto de Alexandre III: “Aqueles cujo Batismo seja duvidoso, deverão ser batizados com estas palavras prefixadas à fórmula: ‘Se você é batizado, eu não o rebatizo, porém, caso você não seja batizado, então eu te batizo em nome do Pai etc.’ e assim jamais ficará repetido o Batismo.”.

Objeção 5: A Eucaristia é um sacramento mais perfeito que o Batismo, como estabelecido acima (perg. 65, art. 3), e mesmo assim, a Eucaristia é muitas vezes repetida; então, com muito maior razão o Batismo pode ser reiterado.

Replica à Objeção 5: Ambos os sacramentos, tanto Batismo como Eucaristia são uma representação da Paixão e Morte de nosso Senhor, mas não da mesma forma. Enquanto o Batismo é uma comemoração da morte de Cristo na qual um homem morre com Cristo, e pode nascer novamente em uma vida nova, a Eucaristia é uma comemoração da morte de Cristo, a qual sofrida por Ele Mesmo é oferecida a nós como o banquete Pascal, de acordo com 1Cor 5,7-8: “Expurgai o fermento velho, para que sejais massa nova, assim como sois sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, já foi sacrificado. Pelo que celebremos a festa, não com o fermento velho, nem com o fermento da malícia e da corrupção, mas com os ázimos da sinceridade e da verdade.” E enquanto o homem nasce novamente quando ele come muitas vezes, assim o batismo lhe é dado uma vez, mas a Eucaristia lhe é dada freqüentemente.

Pelo contrário, está escrito (Ef 4:5): “uma fé, um Batismo”.

Eu respondo que o Batismo não pode ser reiterado: Primeiro: porque o Batismo é uma regeneração espiritual, pela qual a pessoa morre para uma antiga vida e começa a viver uma nova. Também está escrito em João 3,5: “Se a pessoa não renascer pela água e pelo espirito Santo, ela não poderá entrar no reino do Deus”; e, uma pessoa pode renascer apenas uma vez. Assim sendo, o Batismo não pode ser reiterado, da mesma forma que a geração carnal. Todavia, Agostinho, baseado em João 3,4: “como pode uma pessoa entrar no ventre de sua mãe e nascer novamente”, diz: “precisa ser entendido o nascimento do Espírito, como Nicodemos entendeu o nascimento da carne… então, como na carne não haverá o retorno ao ventre da mãe, da mesma forma, não pode haver um segundo Batismo.”

Segundo: porque “nós somos batizados na morte de Cristo”, pela qual, morremos para o pecado e vivemos novamente em “novidade de vida” (Rm 6,3-4: “Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.”). Então, “Cristo morreu”, mas “apenas uma vez” (Rm 6,10: “Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus.”). Assim sendo, o Batismo não pode ser reiterado. Por esta razão, (Hb 6,4-6: “Porque é impossível que os que uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e os poderes do mundo vindouro, e depois caíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; visto que, quanto a eles, estão crucificando de novo o Filho de Deus, e o expondo ao vitupério.”) é dito que os que desejam batizar-se novamente estarão “crucificando novamente o Filho de Deus”, e portanto, “uma morte de Cristo significa um só Batismo”.

Terceiro: porque o Batismo imprime um caráter indelével, e é conferido com uma certa consagração. Portanto, como outras consagrações, não são reiteradas na Igreja, assim também não o é o batismo. Esta é a visão expressa por Agostinho que diz (Contra Epist. Parmen. II) que “o posto militar não é renovado”, e que “o sacramento de Cristo não é menos duradouro que esta condecoração corporal, então podemos ver que nem mesmo os apóstatas serão desprovidos do Batismo, e portanto, se eles se arrependerem e voltarem à Igreja, não serão batizados novamente”.

Quarto: porque o Batismo é conferido principalmente como um remédio contra o pecado original, e portanto, como o pecado original não pode ser renovado, então o Batismo também não pode, e também está escrito em Rm 5,18: “Portanto, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação e vida”.

Veritatis Splendor

Papa: Maria, cuida com carinho deste mundo ferido

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Papa Francisco/Vatican News

Através de um tuíte, o Papa Francisco confia a Nossa Senhora "este mundo ferido", no dia em que a Igreja celebra a Natividade de Maria.

Vatican News

“Maria, a mãe que cuidou de Jesus, cuida com carinho e preocupação materna também deste mundo ferido.”

Com uma mensagem no Twitter, o Papa Francisco recorda hoje a Natividade de Nossa Senhora.

A festa da Natividade de Maria projeta a sua luz sobre nós, disse o Pontífice numa homilia de 8 de setembro de 2017.

“Maria é o primeiro esplendor que anuncia o fim da noite e, sobretudo, a proximidade do dia. O seu nascimento faz-nos intuir a iniciativa amorosa, terna e compassiva do amor com que Deus Se inclina sobre nós e nos chama para uma aliança maravilhosa com Ele, que nada e ninguém poderá romper.

Maria soube ser transparência da luz de Deus e refletiu os fulgores desta luz na sua casa, que partilhou com José e Jesus, e também no seu povo, na sua nação e na casa comum de toda a humanidade que é a criação.

No Evangelho, ouvimos a genealogia de Jesus (cf. Mt 1, 1-17), que não é uma mera lista de nomes, mas história viva, história dum povo com o qual Deus caminhou e, ao fazer-Se um de nós, quis anunciar que, no seu sangue, corre a história de justos e pecadores, que a nossa salvação não é uma salvação assética, de laboratório, mas concreta, uma salvação de vida que caminha.

Esta longa lista diz-nos que somos uma pequena parte duma longa história e ajuda-nos a não pretender protagonismos excessivos, ajuda-nos a fugir da tentação de espiritualismos evasivos, a não abstrair das coordenadas históricas concretas em que nos cabe viver. E também integra, na nossa história de salvação, aquelas páginas mais obscuras ou tristes, os momentos de desolação e abandono comparáveis ao exílio.”

Os momentos de desolação que hoje ferem o mundo são inúmeros, como denuncia o Pontífice. A pandemia acirrou as consequências das desigualdades sociais, somando-se aos problemas já existentes, como migração forçada, desnutrição, analfabetismo, conflitos, guerras e destruição do meio ambiente.

Maria, com o seu «sim» generoso, permitiu que Deus cuidasse desta história. E hoje pedimos a Nossa Senhora que cuide “deste mundo ferido”.

Vatican News

Frederico Ozanam

Beato Antônio Frederico Ozanam - SSVP CMBH-Sociedade de São Vicente de Paulo
SSVP-CMBH

Nascido na Itália, em 23 de abril de 1813, Antonio Frederico Ozanam viveu na França. Muito de sua vida de caridade e serviço aos pobres se deve ao pai, João Antônio, um exemplo de caridade cristã.

Frederico estudou na Sorbone, uma importante universidade francesa. Neste período envolveu-se com intelectuais cristãos, fazendo do cristianismo um ideal de vida. Entendia que era necessário fundamentar a fé no exercício de uma obra de caridade. Voltou-se para os pobres e norteou a sua vida no sentido de servi-los, a exemplo de seu pai e dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Junto de outros jovens cristãos, com o mesmo objetivo, fundou a Sociedade de São Vicente de Paulo, em 1833, uma instituição católica de leigos, direcionada para dar abrigo e assistência aos pobres e aos excluídos. Junto com o acompanhamento caritativo, Frederico pedia que fosse administrado o conforto e a formação religiosa. Por esta visão humanitária e democrática da fé cristã ele é considerado precursor da doutrina social da Igreja.

Frederico Ozanam se casou em 1841 e teve uma filha. Sua vida matrimonial continuou a testemunhar a amor a Cristo. Difundiu sua obra por toda a Europa até o dia em que tomado pela doença passou a residir numa das casas vicentinas, levando vida simples e humilde.

Morreu em 08 de setembro de 1853, em Marselha, França.


Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão
Em nosso mundo, onde a publicidade toma conta de muros e telas, os vicentinos são os artesãos da caridade discreta. Uma caridade que é antes de tudo uma partilha. Partilha do que se é e do que se tem, buscando um autêntico desenvolvimento de todo homem e de todos os homens. Partilha não somente do supérfluo, mas do necessário. Esta partilha é bem diferente de uma esmola. Ela é amor e serviço, troca e enriquecimento recíproco.
Oração
Deus fiel Te agradecemos por ter inspirado o Beato Frederico Ozanam e seus companheiros na criação da Sociedade de São Vicente de Paulo. Deus de amor Te pedimos que nos ajudes a preservar e perpetuar, em sua autenticidade original, o espírito e a visão do Beato Frederico para nos guiar na busca de seu sonho: "abraçar o mundo em uma rede de Caridade". Por Cristo Nosso Senhor. Amém!

https://www.a12.com/

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

EM MENSAGEM PARA O DIA DA PÁTRIA, DOM WALMOR PEDE QUE A SOLIDARIEDADE ORIENTE OS RUMOS DO BRASIL

EM MENSAGEM PARA O DIA DA PÁTRIA

Em um vídeo, que gravou especialmente como uma mensagem para o Dia da Pátria, celebrado no Brasil no 7 de Setembro, o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, reforçou a importância da democracia e da participação cidadã como caminhos que permitem que as diferenças se articulem e se tornem riqueza na construção do presente e também do futuro do Brasil como resposta aos desafios colocados pelo contexto do novo Coronavírus.

Veja abaixo a íntegra da mensagem do Presidente pelo Dia da Pátria:

https://youtu.be/o1Uxt6FjHgM

Solidariedade às vítimas pela Covid-19

“Celebramos um Dia da Pátria marcado por luto e por muitos adoecimentos”, afirmou o presidente da CNBB em referência aos brasileiros e famílias atingidas pela Covid-19. Contudo, dom Walmor reforça a necessidade de não se perder a esperança. Para ele a solidariedade é um princípio que deve integrar a todos os brasileiros num sentimento de dor quando muitos estão vivendo o luto da perda de familiares e amigos para a Covid-19 e na construção de um novo tempo para o Brasil.

“Esse momento desafiador que enfrentamos não vencerá a sociedade brasileira que é forte, que sabe lutar e já superou tantas outras adversidades. No fim, a vida sempre vence é o que nos mostra o mestre Jesus que superou a humilhação e a tortura, encontrou a morte mas Ressuscitou. Juntos construiremos um novo tempo a partir da força da solidariedade. Recordemos do Papa Francisco para nos fortalecer: “Não deixemos que nos roubem a esperança”, disse.

Dom Walmor recordou que o Dia da Pátria é celebrado no contexto do Tempo da Criação, marcado na Igreja no mundo, com o início no dia 1º de setembro até o dia próximo 4 de outubro, Dia de São Francisco de Assis. “É Tempo de Cuidar. Por isso, um convite para cuidarmos mais da nossa Casa Comum. Peço a você ‘Amazoniza-Te’. É dever de cada brasileiro proteger a Amazônia e lutar pelos direitos dos povos tradicionais do território amazônico”, disse.

Participação cidadã e Democracia

Em sua mensagem, dom Walmor falou do clima hostil no Brasil criado pela propagação de agressões, via redes sociais, que geram adoecimentos e um contexto que distancia a todos da fraternidade. “Sem a respeito às diferenças, com a tarefa de torná-las riqueza e força, compromete-se a Democracia. Respeito e diálogo inscrevem o cidadão no coro dos lúcidos, os que superarão a estupidez do autoritarismo e a indiferença para com os pobres da terra”, afirmou.

“Que a cultura da participação responsável e cidadã permaneça ante manifestações anti-democráticas e o princípio da solidariedade prevaleça em todos os debates sofre o futuro do país”, afirmou em sua mensagem.

Para dom Walmor, a Independência do Brasil conquistada no dia 7 de setembro deve ser construída e fortalecida a cada dia. Um país se torna independente, segundo ele, quando o seu povo unido escolhe seus próprios caminhos nos parâmetros da Democracia.  “A democracia e as suas instituições precisam ser preservadas e fortalecidas”, disse o arcebispo ao cobrar respeito irrestrito à Constituição Federal de 1988.

“O Dia da Pátria não deve ser vivido como um simples feriado, mas um momento para celebrarmos a convicção de que todos os brasileiros e brasileiras, cada um com a sua diferença, depende um dos outros. Não se constrói um país melhor,  mais justo e mais fraterno a partir da hostilidade, de ações que buscam destruir o próximo”, afirmou.

Pacto pela Vida e pelo Brasil

Na mensagem, o arcebispo de Belo Horizonte convida a pensar nos brasileiros que estão sem trabalho ou sub-empregados. Para ele, a desigualdade social é uma chaga vergonhosa da sociedade brasileira. “É preciso exigir dos governantes e dos servidores do povo envolver a sociedade nas instâncias do poder que se dedicam mais aos empobrecidos, com projetos capazes de gerar emprego e renda, priorizando audaciosas políticas públicas para superar a desigualdade”, apontou.

Para o presidente da CNBB, o Dia da Pátria é um dia de clamor da escuta dos mais pobres para “nos desassossegar e nos engajarmos numa construção nova, um novo Pacto pela Vida e pelo Brasil. “O grito dos excluídos sinaliza direções importantes e pedem-nos novas respostas”, apontou. Estas ideias estão reafirmadas no Pacto pela Vida e pelo Brasil do qual a CNBB é signatária junto a um conjunto de organizações da sociedade brasileira. O Pacto é a resposta que a CNBB, junto à Igreja do Brasil, está dando como instituição para a superação das dificuldades impostas pela pandemia.

Dom Walmor fala também da importância do Sistema Único de Saúde (SUS) e da necessidade de valorizá-lo e ampliá-lo. Para ele, se não houvesse o SUS, as consequências da pandemia seriam ainda mais devastadoras em nosso país. No caminho de fortalecimento de uma perspectiva de saúde pública frente ao desafio do novo coronavírus, ele desejou que o Dia da Pátria inspire mais integração e sinergia entre as diferentes instâncias governamentais, nos âmbitos federal, estadual e municipal para vencer a Covid-19.

Ele afirmou ainda ser necessário que as autoridades encontrem um caminho para manter a renda emergencial dedicada aos mais pobres até 2021 e para ajudar pequenos empreendedores e investir na agricultura familiar. “A prioridade deve ser a proteção dos mais vulneráveis”, disse.

“Há uma convocação bonita e interpelante neste 7 de Setembro, Dia da Pátria. Cada um de nós, brasileiros, precisamos enxergar as muitas riquezas que residem nas nossas diferenças. É fundamental reconhecer, acima de tudo, que cada pessoa é um semelhante,  um irmão, uma irmã. Quando se reconhece a dignidade da vida humana, que todos são filhos e filhas de Deus, torna-se mais forte a fidelidade a princípios éticos que garantem a convivialidade”, finaliza.

CNBB 

Dois Brasis, até quando?

Dois Brasis, até quando?
por Francisco Borba Ribeiro Neto

Diferenças sempre haverá entre os brasileiros, mas a fraternidade e o amor cristão deveriam ajudar esse, que se orgulha de ser o maior país católico do mundo, a caminhar sempre mais para uma sadia unidade na diversidade.

A universalidade (catolicidade) e a integração estão, por assim dizer, no DNA da Igreja Católica. Desde seus primórdios, os cristãos foram enviados por todo o mundo, anunciando o Evangelho (cf. Mc 16,15), reconhecendo que “não há mais grego nem judeu, serve ou livre” e que devem agir com justiça e amor uns para com os outros (cf. Cl 3, 8-25). Hoje em dia, o conhecimento etnológico, a sensibilidade moderna e uma certa ideologia anticatólica tentam apagar essa imagem, mas – no contexto de seu tempo e com as contradições inerentes a todo ser humano – os missionários católicos foram e continuam sendo agentes de um processo de integração cultural e de valorização de todos os povos. 

Esse fato inegável da história do cristianismo é particularmente relevante para os brasileiros, quando celebramos mais um Dia da Pátria, no 7 de setembro, pois – apesar de tudo – sempre fomos uma nação dualista. São dois países que coexistem, na mesma nação, sob vários aspectos, o socioeconômico, o sociocultural, o político-ideológico.

Na terra da desigualdade

Nossa disparidade socioeconômica é bem conhecida. A renda média do 1% mais rico da população é 33,7% maior que a dos 50% mais pobres, segundo dados do IBGE. A riqueza e a pobreza, com suas consequências humanas e sociais, se distribuem também de forma desigual no território. Cidades como Florianópolis ou São Paulo têm Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) muito altos, semelhantes ao de Portugal, por exemplo, enquanto várias outras, pequenas e situadas geralmente no Norte e Nordeste, têm índices muito baixos, semelhantes aos dos países pobres da África. Apesar dos pesares, nosso desenvolvimento social e econômico nas últimas décadas foi significativo, mas permanece a desigualdade elevada.

Convivemos sem nos apercebermos com outra divisão, de caráter político-cultural. A mentalidade, de cunho iluminista, de nossas elites, historicamente desvalorizou o povo – considerado ignorante – e suas tradições culturais – consideradas retrogradas. Essa visão elitista permanece, no imaginário social, até hoje. Quem duvidar, veja a simpática, mas estereotipada, figura do Chico Bento, de Maurício de Souza. Por mais que ele seja o personagem principal da estória, permanece sonolento, com dificuldades de aprendizado e de adequação ao mundo moderno. No plano político, essa ideia se repete quando se diz que “o povo não sabe votar” ou que políticas sociais fazem com que os pobres não queiram trabalhar, por exemplo.

Como toda ação tem a sua devida reação, essa mentalidade se reflete – entre a maioria da população – nas ideias de que “todos os políticos são corruptos” e o bem comum é responsabilidade exclusiva do Estado. Além disso, é uma grande propulsora do populismo… Se as elites não se preocupam com o povo, consideram-no incapaz e o mantém longe do poder, só resta apelar para algum líder popular carismático, dotado de uma força superior, capaz de opor-se às elites.

A maioria dos países com elevado desenvolvimento econômico e boa qualidade de vida da população tiveram uma história bem diferente dessa divisão entre povo e elite. São países onde políticos e empresários perceberam que não haveria prosperidade sem inclusão e justiça social. Assim, bem ou mal, aconteceram grandes investimentos buscando igualdade de oportunidades e valorização dos trabalhadores mais pobres. Com isso, o perigo do populismo foi minimizado e o voto popular expressa muito melhor tanto as necessidades sociais quanto as perspectivas de desenvolvimento nacional.

Mais recentemente, uma nova divisão – essa político-ideológica – tem cindido o Brasil. Uma parcela, dita conservadora de direita, se opõe a outra, dita progressista de esquerda, numa espiral ascendente de polarização. Com isso, torna-se quase impossível pensar no que se convencionou chamar de um “projeto de Nação”, isso é, um consenso mínimo que orientasse governos, organizações sociais e lideranças políticas. Esses consensos distinguiriam as chamadas “políticas de Estado”, que se mantém independentemente do partido que está no poder, das “políticas de governo”, que mudam em função de quem vence as eleições.

Um exemplo dessa diferença entre as duas políticas – e das consequências maléficas de uma divisão político-ideológica que se sobrepõe aos interesses do bem comum – acontece na educação. Todos no Brasil, famílias, trabalhadores, empresários, políticos, reconhecem que a instrução escolar é fundamental para a melhoria de vida das pessoas e para o desenvolvimento do País. O Plano Nacional da Educação (PNE) seria o instrumento normativo que transformaria essa percepção generalizada em ações bem definidas, integrando as esferas federal, estadual e municipal. Apesar da universalização do acesso à escola, ao menos nos primeiros anos do aprendizado, vir se consolidando, se mantém a baixa qualidade e a evasão escolar elevada. O trabalho efetivo para superar as dificuldades, contudo, esbarra em tentativas de doutrinação, à esquerda e à direita, polêmicas ideológicas infrutíferas e falta de diálogo construtivo.

A pergunta que permanece…

Até quando seremos esses muitos dois Brasis? Diferenças sempre haverá entre os brasileiros, mas a fraternidade e o amor cristão deveriam ajudar esse, que se orgulha de ser o maior país católico do mundo, a caminhar sempre mais para uma sadia unidade na diversidade.

Fonte: Aleteia 

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF