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domingo, 20 de setembro de 2020

A forma do batismo: somente por imersão? (Parte 1/12) – Introdução

Veritatis Splendor
  • “O Novo Testamento nos diz muito pouco sobre como o batismo era administrado. Não nos diz quais métodos de batismo eram empregados, se por imersão total, ou infusão, ou aspersão. Possivelmente foi cada uma destas formas, dependendo das circunstâncias” (OLIPHANT, Hugues; “Reformed according to Scripture”, p.10).

Pois bem: iniciarei [esta série de artigos] esclarecendo que entre os católicos – os verdadeiros cristãos – prevaleceram três formas de ablução (lavagem) e a Igreja aponta todas como válidas porque cumpre com o requisito necessário para a lavagem batismal. Estas formas são: imersão, infusão e aspersão[*].

Através dos mais de 2000 anos de História da Igreja, a forma de batismo prevaleceu nessas três formas acima mencionadas e não há como negar isso.

Cabe mencionar que inclusive quando nasceu a mal chamada “Reforma Protestante”, o batismo por infusão também era bastante comum entre eles. A maioria dos grupos protestantes empregam o derramamento, com exceção das denominaçõe batistas (foram os batistas ingleses do século XVII a primeira comunidade a declarar a imersão como essencial para a validade do batismo), juntamente com um número de pequenas denominações, para depois serem seguidas por denominações evangélicas e grupos independentes (seitas) como os mórmons, as testemunhas de Jeová e os adventistas do 7º dia. Foi assim que começou-se a limitar a forma do batismo e a se apegar e a se fechar em uma única opção para tão importante sacramento.

Os que costumam negar que o batismo pode ser aplicado por infusão [ou aspersão], argumentam que a palavra “batismo” tem somente o significado de “mergulhar” e nada mais.

Passarei então a citar três fontes neutras sobre a definição da palavra “batismo”; digo “neutras” porque nenhuma dessas fontes é católica.

1º) O teólogo protestante e erudito em grego James W. Dale, nos afirma que a palavra “batismo” deriva da palavra grega “bapto” ou “baptizo”, a qual siginifica “banhar, molhar, pintar, lavar, submergir”. Portanto, “lavar” é a ideia essencial.

James W. Dale escreveu uma obra de 5 volumes investigando o uso da palavra “baptizo” (grego) na Bíblia. Tanto pelo texto grego quanto pelo costume do povo judeu e dos primeiros cristãos, concluiu que o significado da palavra indica que é correto e mais acertado ser batizado por infusão do que por imersão[1].

2ª) Vejamos agora o Dicionário Bíblico Strong’s, que é um dicionário de grego e hebraico, e um dos mais respeitados no ambiente evangélico:

  • βάπτω, bápto; verbo prim., sobrecarregar, inundar, i.e. cobrir completamente com um fluído; no N.T. apenas em um sentido especial e qualificado, i.e. (lit.) molhar (uma parte de uma pessoa), ou (por impl.) manchar (como que com tinta): —tingir, molhar, banhar. (Diccionario bíblico Strong’s)

Como vemos, ensina que a palavra “batismo” não significa apenas mergulhar, mas tem um sentido mais amplo do que este, pois também significa “molhar” (uma parte de uma pessoa) ou “manchar” (como que com tinta), e “banhar”.

Como uma pessoa pode “molhar” outra pessoa? Sem dúvida alguma, uma das opções seria através da infusão.

Também fala em “banhar”. Como é possível “banhar” alguém? Sem dúvida nenhuma, uma das opções seria também pela infusão, pois o dr. William Smith, em seu Dicionário de Antiguidades Gregas e Romanos, mostra que:

  • “A tina usada para banho não continha água; era usada para que o banhista se sentasse nela e a água era-lhe jogada a partir de cima. Alguns mandam que se jogue água fria; outros, quente. Os que viajam pelo Oriente verificam que este costume prevalece, mesmo quando o banhista vai até um rio. Não é por imersão, mas mediante água corrente que se lança, se derrama ou se goteja sobre o banhista. Parece que a água em movimento é o que busca em todas as partes”.

3ª) Pois bem: vejamos agora o que o Dicionário Bíblico Reina-Valera nos explica sobre o batismo:

  • “As palavras comumente empregadas no NT para denotar esta ordenança são o verbo ‘baptizõ’ e os substantivos ‘baptisma’ e ‘baptismos’; porém, nenhum destes termos é empregado apenas neste sentido. O verbo é usado também para significar a purificação cerimonial dos judeus antes de comer, para que se derrame água sobre as mãos (Lucas 11:38Marcos 7:4); figuradamente, para significar os sofrimentos de Cristo (Marcos 10:38-39Lucas 12:50); e, por fim, para denotar a ordenança batisma. ‘Baptizõ’ é a forma intensiva de ‘baptein’, ‘mergulhar’, e tem um sentido mais amplo do que este. Em Hebreus (9:10) ‘baptismos’ se refere às diversas lavagens rituais ordenadas no AT em referência aos ritos do tabernáculo, traduzindo-se como ‘abluções’; sem nenhuma sombra de dúvida, se refere às lavagens ordenadas em Levítico 6:27-28; 8:6; 11; 13; 14; 15; 16; 17; 22:6; Números 8:7.21; 19, etc. As Escrituras não apontam um ensinamento concreto sobre o modo de batismo. O grande tema do batismo é a quem somos batizados (cf. Atos 19:3); porém, a ideia dada pela palavra é a de lavagem, como com os sacerdotes de então (Êxodo 29:4), mais do que como uma aspersão, como com os levitas (Números 8:7)” (Diccionario bíblico Reina Valera).

Como vemos, o Dicionário Bíblico Reina-Valera é bem objetivo e reconhece que a palavra “batismo” possui um sentido mais amplo, pois afirma que o verbo é usado também para significar a “purificação cerimonial” dos judeus, para o “sofrimento de Cristo” em seu Sacrifício e que em Hebreus 9,10 se refere às diversas “lavagens rituais” ordenadas no Antigo Testamento, em referência aos ritos do tabernáculo e que sem sombra de dúvidas se referem às lavagens ordenadas em várias partes do Antigo Testamento (veremos posteriormente esses textos).

Finalmente, este Dicionário nos diz que as Escrituras não possuem um ensino concreto acerca do modo do batismo. Que a ideia dada pela palavra é a de lavagem, como com os sacerdotes de então (cf. Êxodo 29,4), mais do que uma aspersão, como com os levitas (Números 8,7).

Como era a lavagem dos sacerdotes de então? É o que veremos…

—–
NOTAS
[*] Na literatura especializada, especialmente naquela oriunda de países ibéricos, é muito comum inverter o sentido de batismo por infusão pelo batismo por aspersão e vice-versa. Adotaremos nesta tradução o sentido que têm no Brasil: infusão = derramamento da água sobre a cabeça; aspersão = lançamento remoto da água, para que pelo menos algumas gotas atinjam o corpo (N.doT.).
[1] Links para os livros de James W. Dale sobre o tema do Bautismo: https://g.co/kgs/YS1XMb ; https://g.co/kgs/gNvfQ5 ; https://g.co/kgs/vAjE2i ; https://g.co/kgs/zgQUD8

Veritatis Splendor

Igreja em Portugal de luto pelo falecimento de Dom Anacleto Oliveira, bispo de Viana do Castelo

+ Dom Anacleto Oliveira. Foto: Agência Ecclesia

Lisboa, 19 set. 20 / 06:46 am (ACI).- A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) manifestou seu  pesar e “grande tristeza” pela notícia do falecimento do bispo de Viana do Castelo, Dom Anacleto Oliveira, de 74 anos, em um acidente  de automóvel nesta sexta-feira, 18.

“Eram conhecidas as competências de D. Anacleto como biblista e homem de cultura, constantemente atento às realidades concretas da nossa sociedade, extremamente dedicado aos sacerdotes e aos fiéis que servia pastoralmente, sempre solícito nas ações comuns da Igreja em Portugal”, refere uma nota da CEP publicada pela Agência ECCLESIA, do episcopado português.

“O texto recorda que o falecido bispo tinha celebrado recentemente 50 anos de ordenação sacerdotal e 10 anos como pastor da Diocese de Viana do Castelo”, afirma a nota lançada pela agência Ecclesia.

Dom Anacleto sofreu um acidente de automóvel na autoestrada A2, perto da cidade de Almodôvar, quando regressava do seu período de descanso no sul de Portugal.

“Agradecemos ao Senhor por tantos e bons trabalhos que D. Anacleto exerceu entre nós, rezamos para que o acolha na sua comunhão, concedendo-lhe o eterno descanso nos esplendores da luz perpétua, e desejamos que seja nosso intercessor no Coração de Deus Pai, alimentando com fé e esperança todos os que sofrem por esta inesperada partida”, afirma a missa dos bispos enviada a Ecclesia.

Por sua parte, a Diocese de Viana do Castelo noticiou a morte “inesperada” do seu bispo, pedindo aos fiéis orações e serenidade.

“As circunstâncias excecionais que nos envolvem aconselham-nos, por isso, a uma oração reforçada, assim como à serenidade e tranquilidade próprias de quem coloca o seu coração no Senhor”, reforça o texto da diocese de Viana do Castelo, cujo governo passa para a responsabilidade de seu vigário-geral, Monsenhor Sebastião Pires Ferreira, que assume as funções de Administrador Apostólico até que o Santo Padre nomeie um novo bispo.

Biografia

A agência Ecclesia do Episcopado português divulgou também uma breve biografia do falecido prelado:  

“D. Anacleto Oliveira nasceu a 17 de julho de 1946, na freguesia de Cortes, em Leiria, e foi ordenado sacerdote a 15 de agosto de 1970; após a ordenação, estudou Sagrada Escritura em Roma e na Alemanha, onde foi capelão de uma comunidade portuguesa durante 10 anos.

Nomeado bispo para auxiliar de Lisboa em 2005, pelo Papa João Paulo II, a ordenação episcopal de D. Anacleto Oliveira decorreu no Santuário de Fátima no dia 24 de abril desse ano, presidida por D. Serafim Ferreira e Silva, então bispo da Diocese de Leiria-Fátima.

No dia 11 de junho de 2010 D. Anacleto Oliveira foi nomeado por Bento XVI como bispo de Viana do Castelo, o quarto bispo da diocese do Alto Minho, criada pelo Papa Paulo VI em 1977”.

ACI Digital

Santo André Kim Taegon e companheiros

Santo André Kim Taegon (A12)
20 de setembro
País: Coreia do Sul
Santo André Kim Taegon e companheiros

André Kim Taegon foi o primeiro sacerdote mártir da Coreia que morreu em 1846. E com ele, há o testemunho de fé, selado com o supremo sacrifício da vida, de milhares de homens e mulheres varridos pela onda de perseguições que atingiu a Coreia nos séculos XVIII e XIX.

Santo André nasceu em 1821, em uma família convertida e muito fervorosa, tanto que seu pai transformou sua casa em igreja doméstica, onde se reuniam muitos fiéis para ser batizados. Ele respirava a fé, desde criança. Vale ressaltar que a evangelização da Coreia foi feita inicialmente pelos leigos, pois não havia padres naquela época. Os leigos batizados transmitiram a fé e formaram fervorosas comunidades de vida cristã.

Tais episódios, porém, fortaleceram ainda mais a sua fé, a ponto de ir a Macau para receber a ordenação sacerdotal. Ao regressar à Coreia como diácono, em 1844, Santo André procurou corajosamente os membros dispersos do seu rebanho, que foram obrigados a manter em segredo a sua identidade. Ajudou padres missionários estrangeiros que entravam secretamente no país para ministrar ao seu povo.

Santo André suportou grandes dificuldades por causa do Evangelho, incluindo uma longa caminhada pela neve, onde caiu exausto no chão e correu o risco de morrer congelado. Porém, ele ouviu uma voz dizendo: “Levante-te, caminha!” o que lhe deu forças para continuar a sua missão.

Obteve resultados extraordinários em seu apostolado, até quando foi descoberto e preso, por tentar enviar documentações e testemunhos para a Europa. Padre André Kim Taegon foi martirizado em 16 de setembro de 1846.

O Papa João Paulo II em 1984, em Seul, canonizou o Padre André Kim Taegon e os 102 companheiros mártires.

Colaboração: Nathália Lima

Reflexão:

Santo André Kim Taegon é um exemplo da paixão pela evangelização e da disposição de suportar as adversidades por causa do Evangelho. A sua vida inspira-nos a perseverar na vocação de sermos missionários, de evangelizar a família, os amigos, falar de Jesus com o coração cheio de alegria e força.

Oração:

Deus todo-poderoso, que destes ao mártir Santo André Kim Taegon e companheiros a graça de sofrer pelo Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes em nossa fé, como eles não hesitaram em morrer por vosso amor. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 19 de setembro de 2020

Santo Agostinho: Os bens temporais a serviço da realidade eterna

Canção Nova
por Apostolado Spíritus Paraclitus

Provavelmente você já tenha ouvido a famosa expressão: “Os fins justificam os meios”, claro que no contexto atual que vivemos, onde a sociedade está mergulhada em um consumismo desenfreado e em um superficialismo profundo em seu relacionamento com o próximo, demonstra que isto jamais poderia ser aplicado de maneira correta ou de uma forma generalizada como a expressão deixa interpretar a quem queira assim enxergar. Nesta perspectiva, pretendo clarear o uso correto entre uma coisa e outra, bem como sua distinção e a maneira certa a ser mencionada e, com isso, também ajudar a melhorar nossa conduta perante as escolhas que fazemos diariamente em prol de um bem maior como veremos a seguir. Para isso, recorrer-se-á aos ensinamentos do gigante Santo Agostinho que nos mostrará esta síntese.

Primeiramente vamos definir o conceito entre as palavras Fruir e Utilizar:

Fruir: Ter a posse, o gozo de algo que não se pode alienar ou destruir. Gozar, desfrutar.

Ex: O funcionário fruirá ferias em junho.

Utilizar: Fazer uso ou emprego de algo, usar, empregar. Tirar utilidade de algo, aproveitar, servir-se. Tirar proveito de algo.

Ex: Fulano soube utilizar bem a ferramenta nova.

Feito isso, entremos definitivamente no tema a ser discorrido.

Santo Agostinho inicialmente classifica as coisas em duas categorias: as que o homem pode e deve gozar (a serem fruídas) e que asseguram a felicidade; e as que deve usar bem (para serem utilizadas), como instrumentos para atingir a felicidade.

Vos explico:

As que são objeto de fruição fazem-nos felizes. Por exemplo, as Virtudes, vamos supor que eu vá comprar algo em uma mercearia e por descuido o vendedor ou vendedora acaba me dando o troco a mais do que era realmente o correto, logo que percebo retorno e explicando a situação devolvo o dinheiro a mais que recebi. Nisto eu exerci a Virtude da Honestidade, que não pode ser usada para o mau, mas somente para minha felicidade, ou seja, uma pessoa não poderia vir a me dizer que eu havia me prejudicado sendo honesto em devolver o que não era meu, neste caso, o dinheiro que recebi a mais.

As que são de utilização ajudam-nos a tender a felicidade e servem de apoio para chegarmos as que nos tornam felizes e nos permitem aderir melhor a elas. Aqui Santo Agostinho coloca-nos uma diferença em relação a primeira (que não pode ser usufruída de uma maneira maléfica ou errônea), já nesta segunda há uma possibilidade de serem utilizadas de maneira errônea e por conseqüência maleficamente. Por exemplo, as Potências da alma, continuemos com o exemplo da mercearia, suponhamos então que após eu ter tido o conhecimento do que havia acontecido eu utilizasse minhainteligência para esconder tomar para mim a posse que era de outro, ou seja, aquele dinheiro a mais que eu havia recebido. Porém o mesmo Santo Agostinho nos diz de forma clara que as devemos usar para o bem, como foi o caso no primeiro exemplo, ou seja, foi utilizado oconhecimento/inteligência (que é uma das Potências da alma) que serviu de apoio para chegar a um bem maior que foi o alcance da Honestidade e por conseqüência a Felicidade.

Santo Agostinho coloca-nos entre as coisas que são para fruir e as que são para utilizar, nos diz ainda que se nos apegarmos desordenadamente as coisas que simplesmente são para serem utilizadas para um bem maior corremos o grande risco de nos desviarmos do caminho, nos atrasando ou nos alienando da posse das coisas feitas para fruirmos ao possuí-las. Assim, foram citados os pressupostos necessários para agora entendermos o que será explicado.

Fruir e utilizar

Para Santo Agostinho o Fruir é aderir a alguma coisa por amor a ela própria. E o utilizar é orientar o objeto de que se faz uso para obter o objeto ao qual se ama, caso tal objeto mereça ser amado. Ao uso ilícito cabe, para ele, com maior propriedade, o nome de excesso o abuso. Para explicar melhor a esta afirmativa ele usa o seguinte exemplo:

“Suponhamos que somos peregrinos, que não podemos ser felizes a não ser em nossa pátria. Sentido-nos miseráveis na peregrinação, suspiramos para que o infortúnio termine e possamos enfim voltar a pátria. Para isso, seriam necessários meios de condução, terrestre ou marítimo. Usando deles poderíamos chegar a casa, lá onde haveríamos de gozar. Contudo, se a amenidade do caminho, o passeio e a condução nos deleitam, a ponto de nos entregarmos à fruição dessas coisas que deveríamos apenas utilizar, acontecerá que não quereríamos apenas utilizar, acontecerá que não quereríamos terminar a viagem. Envolvidos em enganosa suavidade, estaríamos alienados da pátria, cuja doçura unicamente nos faria felizes de verdade.” – Santo Agostinho, A DOUTRINA CRISTÃ, p.44

E conclui de forma esplêndida sua afirmação com uma maravilhosa analogia:

“É desse modo que peregrinamos para Deus nesta vida mortal (2Cor 5,6). Se queremos voltar à pátria, lá onde poderíamos ser felizes, havemos de usar deste mundo, mas não fruirmos dele. Por meio das coisas criadas, contemplemos as invisíveis de Deus (Rm 1,20), isto é, por meio dos bens corporais e temporais, procuremos conseguir as realidades espirituais e eternas.” – Santo Agostinho, A DOUTRINA CRISTÃ, p.45

Aqui fica claro o alerta que Santo Agostinho nos faz a respeito da única e verdadeira Esperança e Felicidade as quais o homem deve almejar e jamais perder de foco. Ao se utilizar dos meios necessários (financeiro, emprego, alimentação, vestimentas, estudos, amizades, família…) que nos ligam e nos conduzem direta ou indiretamente aos bens terrenos e temporais, que tenhamos o piedoso cuidado de não fazer destes meios o fim de nossas vidas, ou seja, viver em prol de cada uma dessas coisas que um dia passarão. Ao contrário disso, temos que através e juntamente com esses meios caminhar rumo as realidades espirituais e eternas, ou seja, o CÉU e a Nosso Senhor. Por isso devemos sempre ter em mente e muito mais no coração os devidos valores a serem dados a tudo que está ao nosso redor e àquilo que ainda está por vir, o uso e não o abuso, o necessário e não o excesso, somos chamados a uma vida de exercício diário ao desapego, não que isso signifique objetivar tudo, mas que inerente esteja sempre o bem maior:

“[…] por meio dos bens corporais e temporais, procuremos conseguir as realidades espirituais e eternas.”

Fontes de Pesquisa:

1.     Santo Agostinho – A DOUTRINA CRISTÃ

Bíblia Católica News

https://www.bibliacatolica.com.br/

Nas pegadas de Abraão

Kingdomsalvation
VATICANO - JUN/1998

Nas pegadas de Abraão


De Ur dos Caldeus à Palestina. Uma jornada com grandes implicações geopolíticas até agora impedidas pelo embargo a Bagdá e pela crise do processo de paz israelense-palestino. Mas depois da missão Etchegaray no Iraque e do encontro do Papa com Arafat, algo mudou ...


por Marco Politi


João Paulo II está pronto para levar de volta a equipe de peregrinos para um destino fantástico e distante: Ur dos Caldeus, a pátria de Abraão, a antiga cidade dos Sumérios, quatrocentos quilômetros ao sul de Bagdá. Basta evocar o nome do país que ele deve ir - Iraque - para entender as implicações geopolíticas da viagem. Outra missão (como em Cuba) em um país que não quer mais ser banido da comunidade internacional.

O Papa Wojtyla falou repentinamente sobre isso nos últimos dias, pouco antes de partir para a África: "Aquela caminhada nas pegadas de Abraão", disse ele a seus amigos íntimos "seria bom fazê-lo". O pensamento acompanha constantemente o velho Pontífice, que há poucos anos revelou o plano (na verdade, ele falava de um "sonho") de seguir passo a passo a longa jornada de Abraão desde a Mesopotâmia até a terra de Canaã. Uma viagem extraordinária do Iraque à Síria, Líbano, Jordânia, Egito para chegar às terras palestinas e ao Estado de Israel.

“É uma viagem complexa para organizar”, explicou o porta-voz do Vaticano Joaquín Navarro Valls na semana passada em uma conferência de representantes da mídia americana, “mas o projeto não sai da cabeça do Papa”.

O que parecia um sonho até agora, no entanto, está prestes a se tornar realidade. Dois acontecimentos ocorridos com alguns dias de diferença no mês de junho trouxeram a possibilidade de João Paulo II começar a viajar já em 1999: partindo de Bagdá para desembarcar em Belém. De 8 a 10 de junho, o cardeal Roger Etchegaray, presidente do Comitê Internacional para o Jubileu, participou de uma conferência de Igrejas Cristãs, organizada pelo Patriarca Raphael Bidawid para pedir o fim do embargo imposto ao Iraque após a Guerra do Golfo e fortalecer o diálogo cristão-islâmico.

Durante sua estada, o cardeal Etchegaray teve duas conversas com o vice-primeiro-ministro, Tarek Aziz, e o ministro das Relações Exteriores do Iraque, Al Sahaf. Ambos falaram da necessidade de pressionar a ONU para pôr fim ao embargo e da planejada viagem papal. Saddam Hussein já convidou oficialmente o Papa da última vez que Tarek Aziz foi recebido no Vaticano. O Patriarca Bidawid também pede que João Paulo II vá à comunidade cristã iraquiana.

“Os verdadeiros iraquianos somos nós caldeus, porque já estávamos aqui no tempo de Abraão, enquanto os subsequentes soberanos vieram da Arábia e da Turquia”, disse-nos o Patriarca Bidawid com um sorriso em Bagdá, durante os dias da conferência em que participaram de mais de cem igrejas cristãs, incluindo as norte-americanas. Brincadeiras à parte, o Vaticano está muito preocupado com a erosão sistemática da presença cristã no Oriente Próximo. Da Palestina ao Iraque, do Líbano à Síria, as comunidades cristãs estão diminuindo de forma preocupante. Muitas famílias optam pelo caminho da emigração, especialmente para a América, com o efeito de reduzir a vida cristã aos lugares centrais da fé, precisamente aos lugares «de onde começou o mundo inteiro». O cardeal Achille Silvestrini, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, costuma repetir: “Não devemos esquecer que estas são as terras percorridas por Jesus, pelos apóstolos, pelos primeiros evangelizadores”. Sem falar em Abraão, pai e progenitor dos crentes das três grandes religiões monoteístas.

"O Papa quer vir no próximo ano, se a saúde permitir", disse o Patriarca Bidawid, ansioso para fortalecer seu rebanho de 600.000 almas, o maior do Oriente Próximo.

Mas até agora havia dois obstáculos que impediam a implementação do projeto: o embargo decretado contra o Iraque e a crise do processo de paz israelense-palestino. O Papa não pode chegar à Terra Santa, explicou várias vezes o "chanceler" do Vaticano, monsenhor Jean-Louis Tauran, até que a situação seja pacificada. Em outras palavras, contanto que um dos dois lados (o palestino) pudesse conceber a visita como o local para uma injustiça: a ocupação arbitrária da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental por Israel.

No entanto, com relação a esses dois fatores, recentemente houve mudanças significativas. “A viagem papal pode ser feita mesmo que o embargo continue”, declara o Patriarca Bidawid “na verdade, seria útil acelerar o seu fim”. A posição do Vaticano é clara e foi expressa várias vezes pelo Papa e reafirmada em Bagdá pelo Cardeal Etchegaray: quando o bloqueio acaba prejudicando a população, especialmente crianças, idosos e doentes, não é mais moralmente sustentável, "é injusto". Um novo sinal - ainda tímido - veio do chefe da comissão especial da ONU, Richard Butler, que chegara a Bagdá para uma de suas visitas periódicas enquanto Etchegaray terminava sua missão.

A visita papal poderia, portanto, ocorrer em um ambiente positivo e poderia favorecer a plena integração do Iraque na comunidade internacional, tendo em mente que quase todos os países árabes, a maioria das nações europeias, Rússia e China pressionam pela normalização. Por outro lado, mesmo os oponentes mais tenazes de Bagdá no tabuleiro de xadrez do Oriente Próximo estão mudando de atitude. “Com o Kuwait e a Arábia Saudita”, disse-nos um dos assessores de Saddam Hussein, “não temos mais disputas”.

Ninguém tem a ilusão de que ainda pode haver contratempos. O eco das primeiras declarações de Butler acabava de morrer, quando uma nova controvérsia eclodiu entre o governo iraquiano e o inspetor-chefe da ONU, suspeito por Bagdá de estar muito do lado dos Estados Unidos. No último relatório de Butler, apresentado ao Conselho de Segurança, o Iraque é acusado de reticência em questões como gás nervoso vx, com o qual os mísseis iraquianos teriam sido equipados antes da Guerra do Golfo. O efeito imediato foi o prolongamento do bloqueio por mais 60 dias.

E, no entanto, apesar desses apertos, a ideia de que as crises não podem ser regidas por embargos parece estar ganhando espaço em Washington - pelo menos em alguns setores políticos. O governo Clinton já está mudando sua atitude em relação a Cuba e ao Irã e parte do crédito também deve ser dado à Santa Sé que, durante anos, apoiou a necessidade de estabelecer uma nova ordem internacional, garantida coletivamente e não conduzida sozinha pela a única superpotência restante.

Enquanto o cardeal Etchegaray ainda estava em missão especial em Bagdá, o presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, chegou ao Vaticano. O líder da OLP convidou calorosamente João Paulo II a ir a Belém para o Jubileu. Assim, cai a sugestão de adiar uma visita à Terra Santa, avançada nos últimos meses por representantes palestinos em protesto contra a política do governo de Netanyahu.
Perguntamos a Nemer Hammad, representante da OLP na Itália, se havia uma ligação entre a visita do Papa a Belém e um possível acordo definitivo entre Tel Aviv e os palestinos. "Sem conexão", respondeu Hammad. «Esperamos que se chegue a um acordo para essa altura, mas o convite foi dirigido ao pontífice de forma totalmente independente».

João Paulo II é, portanto, bem-vindo nos territórios palestinos (e conseqüentemente em Israel) sem condições. Era a peça que faltava para começar a planejar a jornada de Wojtyla nas pegadas de Abraão. O patriarca Bidawid já indicou as primeiras etapas: Ur e Babilônia. A melhor época - para evitar o calor sufocante - seria a primavera ou o outono de 1999. No dia 11 de junho, o cardeal Etchegaray dirigiu-se a Ur, rezando nas ruínas da "casa de Abraão". Aos cristãos de Bagdá, reunidos na Catedral de São José, ele anunciou: "O Papa está a caminho de seu país!"

Revista 30Dias

Uma sociedade inspirada em Francisco e Clara de Assis

InfoEscola

Jovens, empreendedores e estudiosos das áreas de gestão estão sendo interpelados pelo Papa Francisco para se colocar em pauta, na agenda global, a “Economia de Francisco”. A referência é a Francisco e Clara de Assis, santos da Igreja que oferecem lições adequadas ao mundo contemporâneo. São exemplos no cuidado com os mais frágeis e na adoção de práticas adequadas aos valores de uma ecologia integral. A partir dessas referências, a humanidade pode alcançar modelos econômicos livres de hegemonias excludentes. Incontestavelmente, a atual configuração econômica do mundo, eivada de indiferenças, é perversa, mata e exclui. A humanidade está desafiada a mudar, pois progressos já alcançados em vários campos têm potencial para levar bem-estar a todos. Envergonha e preocupa saber que, diante de tantos avanços, a maioria dos que habitam o planeta está submetida a cenários de exclusão e misérias.

Ecoa nos horizontes da sociedade mundial o clamor surdo, mas inquietante, dos que são vítimas da desigualdade social – uma falta de respeito à dignidade humana. Essa desigualdade é chaga que, para ser curada, exige a adoção de um novo estilo de vida, sustentado na convicção de que tudo está interligado. Desconsiderar a interdependência que une tudo o que existe no planeta gera prejuízos para todos, com peso maior na vida dos mais pobres. A saída para essa realidade complexa pode ser enxergada a partir da luz própria e incomparável irradiada pelo Evangelho, ensina o Papa Francisco. Apontam para essa saída as lógicas adotadas por São Francisco e Santa Clara de Assis.

Precisa-se de lógicas novas inspiradas em Francisco e Clara de Assis

É urgente pautar dinâmicas capazes de superar o atual modelo econômico, que mata, conforme bem diz o Papa. Hoje tudo entra no jogo da competitividade, fermentada por subjetivismos que impulsionam na direção do egoísmo: cada indivíduo considera somente o próprio interesse, sem se importar com as necessidades de seu semelhante. As consequências são desastrosas, com um grande número de pessoas marginalizadas, excluídas do direito ao trabalho, sem perspectivas. O ser humano é tratado como um bem de consumo, substituível, consolidando uma desastrosa cultura do descarte. Essa economia desalmada, perversa, precisa ser vencida e substituída para que se faça frente à idolatria do dinheiro, força diabólica que domina pessoas e sociedades. O dinheiro é um ídolo terrível e sedutor. Ao envolver mentes e corações faz com que seja desconsiderada a primazia do ser humano.

economia mundial é contaminada por seus desequilíbrios e graves lacunas, fazendo valer mais o consumo e a mesquinhez, as atitudes individualistas. Por isso, poucos que acumulam grande fortuna não se incomodam com a triste realidade da grande massa de pobres, e os que se enriquecem permanecem indiferentes à dor das vítimas de empobrecimentos. O dinheiro, ao invés de servir o ser humano, o governa e determina seus rumos, configurando cenários tenebrosos. Precisa-se de vigorosa mudança: profundas reformas presididas por lógicas novas, inspiradas nas lições de São Francisco e Santa Clara de Assis. Essa meta precisa ser cada vez mais compartilhada, com crescente adesão de cada pessoa, para se alcançar dinâmicas capazes de priorizar o que é sustentável, saudável e solidário. O desafio é encontrar caminhos e práticas que possam debelar, com urgência e maior velocidade, a desigualdade social geradora de violências e desumanizações.

O ponto de partida é a sensibilização e o consenso

A pauta é atual e urgente, nos parâmetros da convocação do Papa Francisco, para que se configure nova economia. Todos possam se inteirar, conhecer e participar do pacto que busca reconfigurar o modelo econômico, dando-lhe nova alma. Muitos perguntarão se isso é possível. Trata-se de desafio que exige o aprendizado de uma nova gramática capaz de fomentar modelos inovadores nas práticas da economia. Assim, deve-se priorizar a sustentabilidade, superando modelos de crescimento incapazes de garantir o respeito pelo meio ambiente e a busca por equidade social. O ponto de partida é a sensibilização e o consenso a respeito da gravidade dos problemas que a humanidade enfrenta para intuir respostas a partir de uma cultura da comunhão. Esse pacto a ser consolidado exige compromisso de se cultivar novo humanismo que corresponda, conforme explica o Papa Francisco, às expectativas de humanização e aos desígnios de Deus.

É necessário viver de modo diferente, reconfigurar hábitos de consumo, por uma espiritualidade encarnada e integradora, por um cuidado com a saúde. A solidariedade tem gramática própria como estampa o despojamento de Francisco de Assis, distanciando-se da mundanidade para escolher Deus como estrela polar de sua vida, “fazendo-se pobre com os pobres, irmão universal”, sublinha o Papa Francisco. É hora de investir na sustentabilidade, saúde e na solidariedade. Importante: a solidariedade demanda cooperação com o outro, respeito mútuo e a consciência de que tudo está interligado. Gestos inspirados no exemplo de Francisco e Clara de Assis conduzem à novidade almejada. Configuram nova profecia e revestem de autoridade transformadora quem procura construir o horizonte da humanidade a partir das lógicas de Francisco.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo

O Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, é doutor em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Atual membro da Congregação para a Doutrina da Fé e da Congregação para as Igrejas Orientais. No Brasil, é bispo referencial para os fiéis católicos de Rito Oriental. http://www.arquidiocesebh.org.br

Canção Nova

 


HAGIOGRAFIA: O Profeta Santo Elias (Parte 5/9)

Ecclesia

O Profeta Santo Elias

Tradução do Amado Irmão WILMAR SANTIN

7. A pureza do coração

A pureza do coração é o ideal monástico. Seguindo uma tradição hebraica, desde o princípio a virgindade é atribuída a Elias. Santo Ambrósio o faz na fé (PL 16, col. 192a). São Jerônimo atribui a virgindade também aos filhos dos profetas: "Virgens foram Elias, Eliseu e muitos dos filhos dos profetas" (Ep. 22, 21, ad Eustochium, PL 22, col. 408). São Gregório Magno (Hom. in Evangelia II, 29, 6, PL 76, col. 1217b) e São Nilo (Ep. 181, PG 79, col. 152c) vêem no arrebatamento de Elias a recompensa de sua pureza. De outro lado, esta deve ser entendida no sentido da pureza monástica, da "apátheia". Elias, amando "os segredos da solidão e a pureza do coração", realizou o ideal de um monge: "sabemos que ele se uniu familiarissimamante a Deus pelo silêncio da solidão”. (Cassiano, Collationes 14, 4, PL 49, col. 957a). A respeito desta plena disposição de um coração puro remetemos ao belíssimo texto de Afraates, de inspiração eliana, citado em Élie (t. I, p. 165-166). Além do mais, na vida de Elias se encontram os principais exercícios atléticos do eremita: a solidão, o jejum (cf. S. Ambrósio, De Elia et ieiunio, PL 14, cols. 697-728) e a oração. 

8. A vida de oração

Elias era sobretudo o inspirador da vida de oração. Ele exorta a se praticar a plenitude do amor divino. "Até quando vais estar mancando?", com estas palavras do profeta, Orsiesio exorta a seus monges (Doctrina de institutione monachorum 28, PG 40, col. 882c). A oração de Elias, um homem como nós, foi poderosíssima, por isso, sob este aspecto, se constitui num exemplo completo. O vidente do Horeb e do Tabor é também o exemplo de grande intimidade com o Senhor. Para Máximo, o Confessor, a visão do glorioso Elias na sua gruta é um símbolo da mística apofática:

O Horeb representa... um exercício habitual das virtudes num espírito de graça. A caverna é o mistério da sabedoria escondida na alma, e seu santuário. Quem nela penetra terá a intuição profunda e mística do saber "que supera toda ciência" e na qual se manifesta a presença de Deus. Pois se alguém, como o grande profeta Elias, busca verdadeiramente a Deus, deve não somente "subir ao Horeb" (e é evidente que quem se consagrou à ação deve também aplicar-se à virtude), como também "penetrar no interior da caverna" situada sobre o Horeb, isto é, estar completamente dedicado à contemplação, na obscuridade e no mistério mais profundo da sabedoria, fundada sobre uma prática habitual da virtude" (2 Centuria, citado por François de Sainte-Marie, em Les plus vieux textes du Carmel, 47ss). Convém também citar um famoso texto místico de São Gregório Magno (In Ezechielem, II, 1, 17, PL 76, col. 948a).

A mística hesicasta, que vê o lugar místico na luz do Tabor (cf. art. Contemplation, DS, II, cols. 1851-1854), pode igualmente refazer-se no exemplo de Elias. Pedro o Atonita (séc. VIII) é, talvez, o primeiro dos hesicastas a quem se elogia com estas palavras: "Tu decidiste habitar no monte Athos como Elias no Carmelo, para buscar a Deus no silêncio" (citado por Théodosy Spasky, Le culte de prophète Élie et sa figure dans la tradition orientale, em Élie, I, 222).

No Oriente, na celebração litúrgica, é aplicado a Elias o título dos santos monges: "anjo terrestre e homem celestial" (ibid., p. 221). No Ocidente se encontra apenas algum rastro de um culto litúrgico tributado ao Santo Elias (B. Botte, Le culte du prophète Élie dans l'Église chrétienne, em Élie, I, 213-6). Entre os próprios Carmelitas a festa de Elias é bastante tardia (Pascal Kallenberg, Le culte liturgique d’Élie dans l'Ordre du Carmel, em Élie, II, p. 138). O prefácio próprio da festa de Santo Elias cantava (até a última reforma litúrgica): "coloquei os fundamentos da vida monástica". 

FONTE:

Título original: Elia Profeta, em Santi del Carmelo, Institutum Carmelitanum, Roma 1972, p. 136-153)

Ecclesia

Como uma abelha pode nos ensinar a meditar melhor a Bíblia

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De acordo com os autores monásticos, a abelha possui qualidades importantes para aprender a ler e meditar bem a Bíblia. E se seguíssemos o exemplo dela?

Quando o diplomata e poeta francês Paul Claudel percorreu a Bíblia página por página por muitos anos, ele lia ela com um olhar aguçado e sua caneta tão alerta quanto uma varinha. Tudo, segundo ele, falava com um dos nossos cinco sentidos, evocava uma imagem, uma emoção espiritual, uma lição. Praticamente faltou apenas encostar o ouvido na página para ouvi-la respirar como por um estetoscópio.

“A Bíblia respira”, ele dizia. Contém o sopro de Deus, seu Espírito que atua na história do seu povo e, sobretudo, no nosso presente, na nossa vida aqui e agora. Usando a inteligência do coração, podemos inalar essa respiração, como uma espécie de boca a boca de avivamento espiritual.

Mas essa insuflação requer paciência. Bento XVI, ao inaugurar o Colégio dos Bernardinos em Paris no ano 2008, traçou a origem de nossa cultura nesta fraternidade de monges inquietos, em sua unidade, para buscar a Deus e compartilhar sua palavra com o mesmo amor pelos textos sagrados.

A erudição, o treinamento, o domínio de línguas e as gramáticas foram colocados a serviço da arte da leitura. Não como uma forma única de leitura, mas graças aos múltiplos níveis de significação das palavras, com uma cascata de referências de um texto a outro e uma sinfonia de entendimentos agregados. Porque, como dizem os monges, o conhecimento acumulado em si nada mais é do que ostentação.

Como uma abelha

Ler está a serviço do desejo de Deus. Ao encontrá-lo, encontramos a nós mesmos. À medida que nos encontramos um pouco, buscamos Ele ainda mais. O teólogo Guillermo de Saint-Thierry, discípulo e amigo de São Bernardo de Clairvaux, explicou aos irmãos da abadia que é preciso ruminar a Palavra, “dando uma mordida” todos os dias e confiando-a “ao estômago da memória”. Sem gula, sem leitura na superfície das palavras, sem olhares de passagem. Em vez disso, uma luta amorosa para, como Jacó com o anjo, buscar o reconhecimento que terá de ser retomado um pouco mais tarde.

Então, que qualidade você precisa ter para ler bem e respirar a Bíblia? Os autores monásticos são claros: a da abelha! A abelha pecoréia, vai buscar seu alimento em toda parte, em todas as flores de Deus e, a partir disso, faz mel. Essa inteligência da abelha, sua paciência, sua capacidade de fazer do pólen um alimento macio, são todas as qualidades de uma leitura exigente. Tudo isto permite, através desta amizade familiar com a palavra de Deus, aprender a “conhecer o coração de Deus”, como dizia São Gregório Magno.

Damien Le Guay

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF