S. Jerônimo, 1440 ca. (© MET) |
O nome completo deste Santo é
Sofrônio Eusébio Jerônimo. Sua cidade natal é Estridão, atual Croácia. Não se
sabe a data exata do seu nascimento, mas deve ser por volta de 347. De família
cristã e rica, Jerônimo recebeu uma sólida educação e, ajudado pelos seus pais,
completou os estudos em Roma. Ali, deu-se à vida mundana, deixando-se levar
pelos prazeres. Porém, logo se arrependeu, recebeu o Batismo e seguiu a vida
contemplativa. Transferiu-se para Aquileia, onde passou a fazer parte de uma
comunidade de ascetas. Algum tempo depois, deixou a comunidade, decepcionado
pelas inimizades surgidas naquele ambiente. Partiu para o Oriente, deteve-se em
Tréveris, retornou a Estridão e partiu novamente. Permaneceu alguns anos em
Antioquia, onde aperfeiçoou seus conhecimentos em língua grega; depois, se
retirou como eremita para o deserto de Cálcis, ao sul de Alepo. Por quatro
anos, dedicou-se totalmente ao estudo, aprendeu o hebraico e transcreveu os
códigos e escritos dos Padres da Igreja. Foram anos de meditação, solidão e
intensa leitura da Palavra de Deus, que o levaram a refletir sobre a
disparidade entre a mentalidade pagã e a vida cristã. Decepcionado pelas
diatribes dos anacoretas, provocadas pela doutrina ariana, retornou a
Antioquia, onde foi ordenado sacerdote, em 379. A seguir, mudou-se para
Constantinopla, onde continuou a estudar grego, sob a orientação de São
Gregório Nazianzeno.
Secretário pessoal do Papa Dâmaso
Em 382, Jerônimo foi a Roma para
participar de um encontro, convocado pelo Papa Dâmaso, sobre o cisma de
Antioquia. Conhecido pela sua fama de asceta e erudito, o Pontífice o escolheu
como Secretário pessoal e Conselheiro. Assim, o convidou para fazer uma nova
tradução dos textos bíblicos em latim. Na Urbe, Jerônimo também criou um
círculo bíblico, do qual participaram matronas da nobreza romana, que queriam
aprofundar o estudo das Escrituras, desejosas de seguir o caminho da perfeição
cristã e praticar a Palavra de Deus. Por isso, escolheram Jerônimo como mestre
e diretor espiritual. Porém, seu rigor moral não era compartilhado pelo clero e
suas regras, sugeridas às suas discípulas, eram consideradas muito severas.
Jerônimo não era bem visto por muitos, por causa da sua divergência e
temperamento agressivo, como também por condenar vícios e hipocrisias; muitas
vezes, era até polêmico com sábios e eruditos. Por isso, depois da morte do
Papa Dâmaso, decidiu voltar para o Oriente. Em agosto de 385, embarcou em Óstia
com destino à Terra Santa, acompanhado por alguns de seus monges e um grupo de
seguidores, inclusive a nobre Paula com sua filha Eustóquia. Começou, assim,
sua peregrinação, que o levou ao Egito e, depois, a Belém, onde abriu uma
escola, oferecendo seus ensinamentos gratuitamente. Graças à generosidade de
Paula, foram construídos dois mosteiros, um masculino e um feminino, e uma
hospedagem para viajantes, que visitavam os lugares santos.
Retiro em Belém
Jerônimo passou o resto da sua vida
em Belém, onde sempre se dedicou à Palavra de Deus, à defesa da fé, ao ensino
da cultura clássica e cristã e ao acolhimento dos peregrinos. Faleceu em sua
cela, nas proximidades da Gruta da Natividade, em 30 de setembro, provavelmente
no ano 420. Este santo homem, impetuoso e, muitas vezes, polêmico e divergente,
era odiado, mas também muito querido. Não era fácil dialogar com ele, porém deu
uma contribuição ao Cristianismo, com seu testemunho de vida e seus numerosos
escritos. Com efeito, deve-se a ele a primeira tradução da Bíblia para o latim,
chamada Vulgata: traduziu os Evangelhos do grego e o Antigo Testamento do
hebraico; ainda hoje, a Vulgata, embora revisada, é o texto oficial da Igreja
de língua latina. A Palavra de Deus, que ele tanto estudou e interpretou,
também foi “vivida concretamente”, disse Bento XVI, que dedicou duas catequeses
a Jerônimo, nas Audiências gerais de 7 e 14 de novembro de 2007.
Seus ensinamentos e obras
“O que podemos aprender de São
Jerônimo? Parece-me, sobretudo, o seguinte: “Amar a Palavra de Deus na Sagrada
Escritura; é importante, hoje, que os cristãos vivam em contato e em diálogo
pessoal com a Palavra de Deus, que nos foi dada pela Sagrada Escritura... esta
Palavra também constrói comunidades, que constituem a Igreja. Logo, devemos
lê-la em comunhão com a Igreja viva”. São Jerônimo é um dos quatro Padres da
Igreja Ocidental – além dos Santos Ambrósio, Agostinho e Gregório Magno -,
proclamado Doutor da Igreja, em 1567, por Pio V. Ainda hoje, podemos contar com
seus comentários, homilias, epístolas, tratados, obras historiográficas e
hagiográficas, entre as quais sua famosa “De Viris Illustribus”: biografias de
135 autores, de maioria cristã, mas também de judeus e pagãos; isso demonstra
quanto a cultura cristã era “uma verdadeira cultura, digna de ser comparada com
a clássica”. Não podemos esquecer também a sua obra “Chronicon” – uma tradução
e reelaboração em latim daquela obra do grego, perdida por Eusébio de Cesareia
– sobre a narração da história universal, entre dados reais e mitos, desde o
nascimento de Abraão até o ano 325. Enfim, suas muitas Epístolas, ricas de
ensinamentos e cuidadosos conselhos, que revelam sua profunda espiritualidade.
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