Translate

terça-feira, 6 de outubro de 2020

S. BRUNO DA CALÁBRIA, PRESBÍTERO, FUNDADOR DA ORDEM DOS CARTUXOS

S. Bruno da Calábria, Girolamo Marchesi 

Bruno nasceu em uma nobre família alemã de Colônia, em Lotharingia, em 1030. Na época, toda a Europa passava por um período de grande agitação e mobilidade. Por isso, não se deve maravilhar se ele transcorreu sua vida entre a Alemanha, França e Itália. Frequentou a escola de São Cuniberto, mas logo chamou a atenção do Bispo, que o nomeou Cônego da sua igreja. A seguir, foi morar em Reims para estudar e, depois, lecionar. Ali, deparou-se com a simonia, a praga de compra e venda de cargos eclesiásticos, que havia surgido no seio da Igreja: assim, começou a ter desgosto pelo mundo.

Melhor ser eremita do que Bispo

Enquanto dirigia com proveito a escola, onde havia estudado, faleceu o Bispo de Reims, do qual Bruno seria sucessor natural. Porém, foi eleito Manassés de Gournay, que ele havia acusado de simonia. Deu-se então uma ruptura total. Obrigado a retirar-se, Bruno tomou a decisão definitiva de deixar o mundo secular. Por um tempo, seguiu as orientações de São Roberto, no eremitério de Molesme, mas, percebeu que o Senhor o queria em outro lugar. Com seis companheiros, que compartilhavam das suas mesmas ideias, se apresentou ao Bispo de Grenoble, que, confiando na sua fama, lhe colocou à disposição um terreno inacessível, em Chartreuse, quase a 1200 metros acima do nível do mar.

Construção em palha e pedra

Bruno sentiu-se realizado naquele lugar inacessível. Com seus companheiros, iniciou a construção de cabanas de palha, nas quais viviam, e também uma igrejinha, edificada de pedra, conforme os critérios para a consagração de um lugar sagrado, que ocorreu em 1085. Naquele lugar, Bruno conseguiu viver uma vida de silêncio, conversando, em seu coração, apenas com Deus, mediante a oração e o recolhimento, enquanto a vida comunitária era reduzida ao mínimo. Entretanto, ele e seus companheiros não sabiam que estavam fundando algo novo, porque não era aquela a intenção: queriam apenas manter distância dos mercenários simoníacos e viver o Evangelho com radicalidade. De fato, foi apenas tentando fazer a vontade de Deus, que tal experiência se transformou em uma nova Ordem monástica: os Cartuxos. Embora Bruno tivesse começado a escrever muitas cartas e reflexões, a verdadeira e própria redação da Regra só ocorreu com o quinto prior, Guigues.

Em Roma, era muito diferente...

Após apenas seis anos da fundação dos Cartuxos, Bruno foi convocado a Roma: um seu antigo aluno, eleito Papa com o nome de Urbano II, o quis como Conselheiro. Bruno não ousou desobedecer ao Pontífice, mas lhe custou muito abandonar a vida monástica. Na verdade, sua permanência em Roma durou apenas alguns meses, obtendo, depois, a autorização do Papa para se transferir para a Calábria. O Papa queria nomeá-lo Bispo de Régio Calábria, mas Bruno recebeu de presente, de um fidalgo, um território na localidade chamada Torre. Ali, começou a formar uma nova comunidade de eremitas, onde vive um povoado, que, hoje, em sua honra, se chama Serra São Bruno. O Santo passou os últimos anos da sua existência naquele lugarejo, vivendo, como sempre quis, até à sua morte, em 1101.

O culto de São Bruno

Bruno foi, oficialmente, canonizado em 1623, por Gregório XV, mas seu culto já havia sido autorizado por Leão X, em 1514.
Em 9 de outubro de 2011, Bento XVI, - por ocasião da sua peregrinação ao Convento de Serra São Bruno, o definiu assim: “O monge, deixando tudo, por assim dizer, arrisca e se expõe à solidão e ao silêncio para viver apenas do que é essencial: e, precisamente, vivendo o essencial, encontra uma profunda comunhão com os irmãos, com cada homem”.

Vatican News

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Festa de Nossa Senhora Aparecida em Brasília– 2020

 

Arquidiocese de Brasília

Em sua última carta enviada ao clero dia 23/09, Dom José Aparecido, administrador diocesano da Arquidiocese de Brasília, comunicou a decisão de não realizar, este ano, a tradicional festa de Nossa Senhora Aparecida na Esplanada dos Ministérios no dia 12 de outubro. Há 23 anos, a imagem da Santa começou a peregrinar pela Esplanada dos Ministérios, mas devido à situação de pandemia em que vivemos causado pelo COVID-19, a programação teve alterações.

A solenidade foi transferida para a Catedral de Brasília, onde haverá três missas ao longo dia. Na parte da manhã, às 9h00, a missa  será presidida por Dom José Aparecido; às 12h, a missa será presidida por Dom Joel Portella, secretário-geral da CNBB e às 18h00,  o celebrante é Dom Marcony, bispo Auxiliar de Brasília. A oração do Terço e o Ofício de Nossa Senhora cantado, será às 15h00.

Tendo em vista que a capacidade da Catedral é de 360 lugares,  será disponibilizado 120 lugares, respeitando o distanciamento social. Para participar das celebrações na Catedral, é preciso fazer o agendamento através do WhatsApp (61) 3224 4073 ou por e-mail: catedraldebrasilia@catedral.org.br.

Nas paróquias, também haverá programação em horário multiplicado, como acontece aos domingos, para que todo o povo fiel celebre o dia da Santíssima Mãe de Deus, Nossa Senhora Aparecida.

No vídeo, Dom José explica como será  as celebrações do dia 12 de outubro, veja:

https://youtu.be/gt1I4qsdX5A


Baixe a Novena completa aqui

Histórico

Desde 1717, quando a Imagem de Nossa Senhora da Conceição apareceu nas redes de três pescadores, às margens do Rio Paraíba, a devoção à Mãe de Deus sob o título de Virgem Aparecida é cada vez maior, expressando a grande confiança que o povo brasileiro tem na mediação maternal de Maria junto a seu filho Jesus Cristo.

Essa devoção tornou-se tão forte em todo o País que, em 8 de setembro de 1904, por ordem do Papa Pio X, a Imagem foi solenemente coroada e proclamada como Rainha do Brasil. A partir de então, a Imagem passou a usar oficialmente a coroa ofertada pela Princesa Isabel, em 1884, e o manto azul-marinho. O título foi confirmado mais tarde, em 1930, quando o Papa Pio XI proclamou a Virgem Aparecida Padroeira do Brasil. Ao longo desses anos são inúmeras as graças e milagres concedidos por Deus em favor do povo brasileiro mediante a intercessão de Maria Santíssima.

Nossa Senhora foi também escolhida para ser Padroeira de Brasília, ainda à época da construção da cidade, uma vez que a devoção à Virgem sintetiza muito bem a fé de todas as pessoas que para cá vieram. A Imagem de Nossa Senhora Aparecida chegou aqui no dia 3 de maio de 1957, após ter visitado todas as capitais brasileiras.

EM BRASÍLIA

Vinte e três anos de peregrinação

A Arquidiocese de Brasília sempre celebrou a festa de Nossa Senhora Aparecida.  Até a inauguração da Catedral de Brasília, as celebrações  ocorriam nas paróquias e em destaque na paróquia Santo António. Em 1970 com a inauguração da Catedral a celebração de maior destaque se dava na mesma.

Até 1996, as missas da Padroeira do Brasil e de Brasília, Nossa Senhora Aparecida, eram realizadas dentro da Catedral Metropolitana. De lá para cá, a imagem da Santa começou a peregrinar pela Esplanada dos Ministérios, sempre nos dias 12 de outubro. E é assim há 23 anos.

O primeiro público de uma missa de Nossa Senhora Aparecida fora do templo somava cinco mil pessoas, como relata Dom Marcony, que era pároco da Catedral na época e hoje é Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília.

“Antes, era só uma missa. Quando eu entrei, em 1996, começamos a colocar Nossa Senhora para fora. Eu fazia uma missa para as crianças, de manhã; e, na parte da tarde, Dom Falcão celebrava na Catedral e a gente saía em procissão. Em 1997, a missa foi onde hoje é o estacionamento da Cúria e tinham lá cinco mil pessoas, que não caberiam dentro da Catedral”, conta Dom Marcony, ao relembrar dos tempos que Dom Falcão era arcebispo da capital.

Mesmo com as missas fora do templo, as celebrações eram muito simples. Rezava-se a Santa Missa e, em seguida, lá ia a Virgem Aparecida em procissão, acompanhada dos fiéis e de um carro de som, pelas ruas do centro do poder. Foi somente a partir de 1999 que foi montada a grande estrutura como se conhece hoje e foi, de fato, realizada a primeira missa na Esplanada. “Dom Falcão me deu o aval e fizemos a primeira missa ali no centro”, conta Dom Marcony.

Desde então, o primeiro momento da celebração é reservado às crianças, que coroam Nossa Senhora. Depois, vem à catequese e os brinquedos infláveis para que os pequenos também possam comemorar o seu dia com a mãe e senhora Aparecida.

Os jovens foram inseridos logo na programação e, até hoje, são responsáveis por encenações na Esplanada em louvor à mão de Deus. A oração do Ofício de Nossa Senhora sempre ficou com o Apostolado da Oração e a Legião de Maria. E o Rosário com os movimentos da Igreja. “Esta festa sempre juntou todo mundo para rezar”, lembra o Bispo Auxiliar.

E é a partir das 17h que se reúne todo o povo para participar da Santa Missa, sempre presidida pelo Cardeal. Depois da celebração, Nossa Senhora segue peregrina, em procissão, pela Esplanada. Como há 23 anos.

Dom José Aparecido Gonçalves de Almeida

Administrador Apostólico

Arquidiocese de Brasília

MARIOLOGIA: MYSTERIUM LUNAE - A luz refletida (Parte 1/4)

O afresco do século XIV de Giusto de 'Menabuoi -
Catedral de Pádua
A Igreja é comparada à lua porque brilha não com sua própria luz, mas com a de Cristo. Fulget Ecclesia non sua sed Christi lumine , escreve Santo Ambrósio.
por Lorenzo Cappelletti

Numa homilia dedicada a Santo Ambrósio em 7 de dezembro de 1958, quando era arcebispo de Milão, Giovanni Battista Montini se referiu a uma série de metáforas destinadas a delinear o "conceito complexo e real da Igreja" de seu santo predecessor na cátedra milanesa: " O simbolismo mais florido, cintilante de metáforas e analogias, insinua a Igreja onde quer que surja um pensamento de Deus sobre a humanidade para ser salva: a Igreja é um navio, a Igreja é uma arca, a Igreja é um exercício, a Igreja é um templo, a Igreja é cidade de Deus; mesmo a Igreja é comparada à lua, em cujas fases de decréscimo e crescimento refletem os acontecimentos alternados da Igreja que se decompõe e se recupera, e que nunca falha, porque "fulget Ecclesia non sua sed Christi lumine" não brilha por si mesma luz,Discursos e escritos milaneses , vol. II: 1954-1963 , pp. 2462-2463).
Hugo Rahner, o grande patrólogo jesuíta, irmão do conhecido (pelo menos até poucos anos atrás) Karl Rahner, nesses mesmos anos dedicou-se a aprofundar algumas dessas imagens da Igreja nos Padres Gregos e Latinos. Em particular, ele enfrentou o problema da relação que o cristianismo antigo estabelecia com os conhecimentos e os mitos em torno do sol e da lua tomados à imagem de Cristo e da Igreja. Fê-lo em alguns textos que atualmente constituem capítulos de duas de suas obras com o respectivo título Mitos gregos na interpretação cristã de 1957 (edição italiana de 1980, que chamaremos de Mitos) e Símbolos da Igreja. A eclesiologia dos Padres de 1964 (recente reedição italiana de 1994, que chamaremos Simboli ). Para simplificar, diremos que, como dizem os títulos dados a estes capítulos, "O mistério cristão do sol e da lua" e "Mysterium lunae", o tema de um é Cristo como verdadeiro sol, do outro a Igreja como verdadeira lua. Não temos a intenção de resumir os dois textos. Seria impossível e inútil. Eles estão disponíveis. Queremos apenas obter alguns possíveis motivos para reflexão.
Começamos a dizer que tudo o que a ciência e a poesia milenares, a partir da observação mais natural de cada dia, se desenvolveram em torno do sol e da lua está feito certo, pelo menos por uma certa exegese grega e pela de Ambrósio e de Agostinho que em parte se refere a isso - em parte, digamos, porque ainda mais do que os meandros perigosos da alegoria, eles usam o método da analogia, isto é, de voltar da criação ao Criador, das figuras à realidade -, para ilustrar o grande mistério de Cristo e da Igreja, como o chama Paulo na Carta aos Efésios 5, 32. Palavras de Empédocles proferidas por Plutarco: «o sol tem raios que brilham intensamente, enquanto a luz da lua é graciosa»; ou os de Prisciano: "a lua é fraca, portanto é fértil";Símbolos , pp. 160-162), deve ter sido, junto com tantos outros, extremamente evocativo para ilustrar aquele "grande mistério".
Contrariamente a um juízo que tende a ver na adoção de imagens próprias do mundo pagão um sinal de fraqueza da fé cristã - escreve Rahner -, «graças à fé inabalável na real ressurreição de Cristo, o cristão que pensava segundo o espírito da antiguidade gozou da magnífica liberdade de introduzir no belo círculo de imagens que povoou o seu mundo o mistério da morte, do repouso sepulcral e da ressurreição do Senhor »( Mitos , p. 132).
Agora, como todos sabem, no primeiro dia após sábado, o dia da ressurreição do Senhor, de acordo com o calendário pagão, era o dia do Sol. Para os cristãos antigos, isso logo foi visto como uma coincidência providencial. Bastaria pensar no que significou para o Imperador Constantino, o antigo adorador do Sol que, em virtude disso, pôde fazer sua e favorecer não só a celebração do domingo, mas a solene celebração dominical da Páscoa e da Santa Vigília em todo o Império. Por outro lado, essa coincidência não foi desprezada nem mesmo por Agostinho, "que havia reconhecido a futilidade de se opor ao uso da denominação astral dos dias da semana" ( Mitos, p. 125), ou de Jerônimo, que escreve: «O dia da ressurreição, este é o nosso dia. E se os pagãos o chamam de morre Solis, aceitamos de bom grado esta denominação: hoje a luz nasceu, hoje acendeu o sol da justiça” (Mito, p. 127). Fé na realidade da ressurreição e liberdade, pode-se dizer, mais do que fé e cultura. Mas vamos em frente.
Os antigos cristãos não só puderam ver no sol (Helios) a imagem resplandecente do verdadeiro Sol da justiça, mas, consolados nisso também por muitas recorrências nas Escrituras, viram na lua (Selene) "o símbolo daquela entidade materna acolhedora e humildemente receptiva de luz, que se tornou realidade viva em Maria e na Igreja ”(Mitos , p. 176).
É precisamente na lua que nos deteremos e naquelas suas notas que os Padres acharam a Igreja, notas que podem ainda hoje evocar uma imagem correspondente à sua natureza e à sua tarefa.

Revista 30Dias

Como se livrar do perfeccionismo? Dicas de atitudes e uma oração

Andrey_Popov - Shutterstock

Seu desejo de perfeição envenena sua vida e a daqueles ao seu redor? Aqui estão algumas dicas “quase perfeitas” para moderar-se em suas exigências.

O ano era 1945. Intimidada, Anne desce a grande escadaria da casa da família. Aos 5 anos, ela via seu pai pela primeira vez. Lá estava ele, consideravelmente mais magro. Acabara de voltar do cativeiro na Alemanha. Olhou para ela e disse: “Volte e coloque a bota corretamente, um dos botões não está encaixado”. Contado por sua neta, este exemplo extremo de perfeccionismo deve ser considerado em um contexto onde o hábito não era de grandes efusões de alegria.

No entanto, ele ilustra algumas facetas do perfeccionismo: ideal elevado, atenção aos detalhes, dificuldade em amar e permitir-se ser amado. Já muito jovens, “algumas crianças ansiosas não conseguem terminar uma tarefa, porque pensam que não está bom o suficiente”, nota Brigitte de Baudus, mãe e formadora do Ipef (Instituto para a Educação da Família). Essa tendência costuma ser explicada pela necessidade das pessoas em se perceberem amadas, por um desejo inconsciente de reconhecimento ou por um desejo de corresponder a um modelo social.

E querer fazer tudo bem, quem reclamaria? Mas o perfeccionista nunca está satisfeito enquanto seus objetivos não forem alcançados, se impondo um nível extenuante de trabalho. Como nos exemplos de uma mãe, que se irrita porque seus filhos não atingiram uma média 9 na escola, ou de um pai que se esgota arrumando a casa depois do trabalho. Para Yves Boulvin, psicólogo, formador em relações humanas e consultor: “Desejar melhorar, mudar, chegar ao melhor de si é bom, mas acreditar que se pode ser perfeito cria tensão, estresse. Só Deus é perfeito”. Aí reside a armadilha: escolher a perfeição como programa de vida.

Quando o perfeccionismo atrapalha nosso relacionamento com Deus

Em um programa televisivo sobre temperança, a filósofa Chantal Delsol explicou: “Tudo tem um limite, mesmo as melhores coisas. Imaginamos que a perfeição pertence a este mundo e que levando uma virtude ao seu limite, a possuiremos. Mas não funciona assim no mundo humano!”. Ao querer atingir a perfeição aqui embaixo, corre-se o risco de entrar na lógica contábil, de agir como crianças que se empenham em obter uma recompensa, de cair no orgulho de tudo dominar, do farisaísmo. Na vida espiritual, isso pode resultar em escrúpulos, observa Brigitte de Baudus: “Se o nosso exame de consciência parece um catálogo, se nos concentramos sobre aquilo que fizemos ou não, se não consideramos o amor que colocamos em cada ato, aí existe um problema”.

No entanto, quando Jesus nos manda ser perfeitos como nosso Pai Celestial é perfeito (Mt 5, 48), ele nos chama à santidade, não ao perfeccionismo. “É a contrição, a onda de amor que te faz ir para o céu, não o fato de ser totalmente perfeito”, comenta Yves Boulvin. O exemplo típico é o próprio São Paulo, como explica o Padre Alek Zwitter: “Judeu de fé profunda, estava convencido de que o cumprimento fiel de sua Lei o levaria à perfeição espiritual. Depois da conversão, tendo entregue a Deus a sua imperfeição, encontrou uma fonte inesgotável de paz interior, alegria e força vital”.

Não se surpreenda com suas imperfeições

De qualquer forma, o comportamento perfeccionista é como uma máquina que não pode ser parada até que o programa seja concluído. Beatriz, 55 anos, ciente sobre as peculiaridades herdadas de seu avô, ex-oficial, admite: “Não descanso até estar no nível de conforto que imaginei para mim. Com a idade, aceitei deixar-me levar um pouco, mas quebrar esse hábito é uma jornada para toda a vida”.

Igualmente, os perfeccionistas costumam ser vítimas do esgotamento. Só há uma resposta para isso, o realismo. Ele passa pelo autoconhecimento e pelo humilde reconhecimento dos próprios limites. “Muitas vezes vejo mulheres se censurando à noite por terem ficado com raiva de seus maridos e filhos. Eu pergunto a elas: “Você reservou um tempo para si durante o dia?”, Diz Yves Boulvin. Permitir-se momentos de paz, aprender a delegar e estar em oração são atitudes essenciais para relaxar.

Assim, estar ciente das expectativas dos outros também ajuda a suavizar certas exigências pessoais. “Eu entreguei um projeto ao meu chefe. Pelos meus critérios, estava tudo bem. Ele achou excelente. Eu não nem esperava essa reação da parte dele!”, Admite Beatriz. Outros raramente entendem a quantidade de esforço que é preciso para fazer um bom jantar, não se ofendem com um pouco de poeira em um móvel, mas se divertem com uma criança com meias que não combinam.

Aliás, o perfeccionista é particularmente duro consigo mesmo. Por não conseguir atingir objetivos inatingíveis, sua autoestima muitas vezes acaba caindo. Melhor então tentar aplicar o sábio conselho de São Francisco de Sales: “Um dos melhores usos que podemos fazer da gentileza é aplicá-la a nós mesmos, nunca nos espantando com nossas imperfeições”.

Uma oração para se libertar do perfeccionismo

Enquanto o perfeccionista tende a se exaurir por conta própria, ele também cansa os outros quando lhes impõe seus próprios padrões de perfeição. Como manter a mente tranquila quando ao seu redor existe algo em constante movimento? De que forma se sentir livre se seu marido exige que você esteja perfeitamente vestida, não importa o que aconteça, ou se ele faz as contas da casa continuamente?

Por conseguinte, como não desanimar quando um professor aponta o único detalhe errado na sua tarefa? “Certa vez, meus filhos inventaram um refrão começando com “Mamãe que se estressa, mamãe que enlouquece…”, repetido regularmente em tempos de hiperatividade, percebi que estava levando um estilo de vida impossível e comecei a deixar espaço para a vida e os inesperados!”, testemunha Felícia, de 47 anos.

Ademais, Patrícia observa: “O perfeccionismo torna você frio, hostil, inacessível. Não há lugar para os outros na perfeição”. “Quem gostaria de amar uma pessoa modelo?”, pergunta o padre Pierre-Marie. “Para se deixar ser amado, você tem que aceitar que é imperfeito”. Libertar-se do perfeccionismo é um longo caminho que passa pelo despojamento e pela oração:

“Senhor, ensina-me a aceitar-me como sou!”

Enfim, para Brigitte de Baudus, “nunca devemos deixar de repetir essas palavras, mas é exatamente quando somos frágeis que o Senhor vem”.

Bénédicte de Saint Germain

Aleteia

Papas corruptos em uma Igreja infalível? (Parte 1/4): Pecadores e infalíveis no Antigo Testamento

Veritatis Splendor
  • Autor: Jesús Urones
  • Fonte: Blog Convertidos Católicos-Religion en Libertad
  • Tradução: Apostolado Veritatis Splendor

INTRODUÇÃO

Uma das acusações mais frequentes feitas por não-católicos é que a Igreja Católica se corrompeu, já que na História se demonstra que seus Sumos Pontífices pecaram e cometeram grandes escândalos. Dão a entender que, ao terem cometidos tantas atrocidades e tantos pecados, a Igreja Católica não pode possuir a Verdade e que os católicos encontram-se corrompidos pelo pecado.

É certo que não negarei que na História da Igreja tenham havido maus Papas, em grande medida pecadores. Não discutirei isto porque todo conhecedor de História e da Bíblia reconhece que todos nós somos pecadores (cf. Romanos 5,19); o que farei é explicar detalhadamente a questão e demonstrar como a acusação protestante de que “se o Papa é pecador, então a Igreja não pode ser infalível” é totalmente absurda e antibilica.

Ademais, também é necessário conhecer toda a História e não apenas uma parte dela, ou seja, é muito simples fazer uma lista de Bispos de Roma que tenham cometido pecados e, através dela, acusar toda a Igreja Católica de pecadora, como se fosse uma falsa Igreja, sem considerar os grandes Papas que durante 2000 anos esta Santa e Imaculada Igreja nos deu. É por isso que creio merecer um Apêndice especial para falar de alguns deles, que são exemplo magnífico de como viver o verdadeiro Cristianismo.

PECADORES E INFALÍVEIS NO ANTIGO TESTAMENTO

É fato que no Antigo Testamento Deus falou com os grandes Patriarcas e com eles Deus estabeleceu suas alianças. Eles não eram precisamente impecáveis; pelo contrário, todos eles cometeram e, inclusive depois [de estabelecerem aliança] cometeram muitos pecados, atos maus aos olhos de Deus; mesmo assim, Deus lhes deu o Patriarcado ou o Primado de seu Povo, para que o guiasse sempre e em todas as suas decisões, escritos e ensinamentos foram infalíveis.

Vejamos alguns exemplos destes casos:

a) ABRAÃO

  • “E aconteceu que, chegando ele para entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: ‘Ora, bem sei que és mulher formosa à vista; e será que, quando os egípcios te virem, dirão: ‘Esta é sua mulher’. E matar-me-ão a mim, e a ti te guardarão em vida. Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e que viva a minha alma por amor de ti’. E aconteceu que, entrando Abrão no Egito, viram os egípcios a mulher, que era mui formosa. E viram-na os príncipes de Faraó, e gabaram-na diante de Faraó; e foi a mulher tomada para a casa de Faraó. E fez bem a Abrão por amor dela; e ele teve ovelhas, vacas, jumentos, servos e servas, jumentas e camelos. Feriu, porém, o Senhor a Faraó e a sua casa, com grandes pragas, por causa de Sarai, mulher de Abrão. Então chamou Faraó a Abrão, e disse: ‘Que é isto que me fizeste? Por que não me disseste que ela era tua mulher? Por que disseste: É minha irmã? Por isso a tomei por minha mulher; agora, pois, eis aqui tua mulher; toma-a e vai-te’. E Faraó deu ordens aos seus homens a respeito dele; e acompanharam-no, a ele, e a sua mulher, e a tudo o que tinha” (Gênesis 12,11-20).

Abraão mentiu… Terá perdido a sua autoridade por mentir? Como é possível que uma pessoa como Abraão tenha caído no pecado da mentira? Segundo isto, Abraão não seria líder confiável do Povo de Deus porque era mentiroso, nem tampouco seria infalível segundo os protestantes? Pois bem: este conceito não é compartilhado por Deus:

  • “Então caiu Abrão sobre o seu rosto, e falou Deus com ele, dizendo: ‘Quanto a mim, eis a minha aliança contigo: serás o pai de muitas nações; e não se chamará mais o teu nome Abrão, mas Abraão será o teu nome; porque por pai de muitas nações te tenho posto; e te farei frutificar grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti; e estabelecerei a minha aliança entre mim e ti e a tua descendência depois de ti em suas gerações, por aliança perpétua, para te ser a ti por Deus, e à tua descendência depois de ti. E te darei a ti e à tua descendência depois de ti, a terra de tuas peregrinações, toda a terra de Canaã em perpétua possessão e ser-lhes-ei o seu Deus” (Gênesis 17,3-8).

Deus estabeleceu aliança com um pecador… Deus conferiu autoridade a um mentiroso para dirigir todo o seu Povo.

b) JACÓ

  • “E não o conheceu, porquanto as suas mãos estavam cabeludas, como as mãos de Esaú seu irmão; e abençoou-o. E disse: ‘És tu meu filho Esaú mesmo?’ E ele disse: ‘Eu sou’. Então disse: ‘Faze chegar isso perto de mim, para que coma da caça de meu filho; para que a minha alma te abençoe’. E chegou-lhe, e comeu; trouxe-lhe também vinho, e bebeu. E disse-lhe Isaque seu pai: ‘Ora chega-te, e beija-me, filho meu'” (Gênesis 27,23-26).

Jacó mente para Isaac e, apesar disso, o povo de Jacó sobreviveu e Deus jamais rompeu sua aliança, nem lhe retirou sua autoridade. Por que o faria séculos depois com a sua Igreja?

c) MOISÉS

  • “Então Moisés e Arão se foram de diante do povo à porta da tenda da congregação, e se lançaram sobre os seus rostos; e a glória do Senhor lhes apareceu. E o Senhor falou a Moisés dizendo: ‘Toma a vara, e ajunta a congregação, tu e Arão, teu irmão, e falai à rocha, perante os seus olhos, e dará a sua água; assim lhes tirarás água da rocha, e darás a beber à congregação e aos seus animais’. Então Moisés tomou a vara de diante do Senhor, como lhe tinha ordenado. E Moisés e Arão reuniram a congregação diante da rocha, e Moisés disse-lhes: ‘Ouvi agora, rebeldes, porventura tiraremos água desta rocha para vós?’ Então Moisés levantou a sua mão, e feriu a rocha duas vezes com a sua vara, e saiu muita água; e bebeu a congregação e os seus animais. E o Senhor disse a Moisés e a Arão: ‘Porquanto não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso não introduzireis esta congregação na terra que lhes tenho dado’. Estas são as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o Senhor; e se santificou neles” (Números 20,6-13).

O próprio Moiséis não confia em Deus, desconfia Dele, o que é pecado. Mesmo assim, Deus não lhe retira a autoridade, somente lhe diz que não entrará na Terra Prometida. E Deus sempre seguiu falando com ele.

Recordemos que este pecado de Moisés, de não confiar em Deus, foi após a aliança que o mesmo Deus tinha estabelecido com ele. Mais ainda: o Povo de Deus sobreviveu e Deus cumpriu a sua promessa com o Povo, ainda que Moisés não tenha entrado na Terra Prometida. Vemos então que o pecado não condena o povo inteiro, nem retira a infalibilidade de Moisés.

E ainda mais: temos clara a postura de Deus perante aqueles que criticam o Patriarca por Ele eleito, aqueles que criticam o chefe do seu Povo, o seu pastor:

  • “E falaram Mirian e Arão contra Moisés, por causa da mulher cusita, com quem casara; porquanto tinha casado com uma mulher cusita. E disseram: ‘Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós?’ E o Senhor o ouviu. (…) E [Deus] disse: ‘Ouvi agora as minhas palavras; se entre vós houver profeta, eu, o Senhor, em visão a ele me farei conhecer, ou em sonhos falarei com ele. Não é assim com o meu servo Moisés que é fiel em toda a minha casa. Boca a boca falo com ele, claramente e não por enigmas; pois ele vê a semelhança do Senhor; por que, pois, não tivestes temor de falar contra o meu servo, contra Moisés?’ Assim a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. E a nuvem se retirou de sobre a tenda; e eis que Mirian ficou leprosa como a neve; e olhou Arão para Mirian, e eis que estava leprosa” (Números 12,1-2.6-10).

O que vemos aqui?

  • Moisés fez mal por casar-se com alguém fora do Povo de Deus.
  • O profeta e a irmã de Moisés o criticam, mas a crítica mais séria contraria Moisés como porta-voz de Deus: “Porventura falou o Senhor somente por Moisés? Não falou também por nós?” Isto questionava o papel de Moisés como mediador e porta-voz; questionava sua autoridade. E fazer isto era questionar o próprio Deus (é claro que Deus fala a todos, mas não com a mesma autoridade).
  • O castigo que Deus infligiu foi a lepra.

Alguns hereges deveriam reler esta passagem e perguntar a si mesmos:

– Por que vós vos atrevestes a criticar o meu servo, o Papa?

É um claro exemplo de como Moisés pecou. Na Bíblia ocorrem muitos outros exemplos e por acaso deixou de ser infalível? Não!

d) AARÃO

Aarão foi feito sumo sacerdote (Êxodo 28,1-3), porém logo levou o povo a um grave pecado ao fazer um ídolo, um carneiro de ouro, e o adorou (Êxodo 32,21-35). Apesar disso, voltou a ser sumo sacerdote (Êxodo 40,13) e a comunidade sobreviveu.

Por acaso Aarão perdeu sua autoridade perante o povo por tê-lo incitado a pecar construindo um ídolo de ouro e adorando-o? Deus tirou-lhe a autoridade… mas apostatou o Povo de Deus pelo erro de Aarão?

e) DAVI

Davi cometeu um assassinato e um adultério (cf. 2Samuel 11,1-27), mas a comunidade sobreviveu:

  • “E sucedeu que pela manhã Davi escreveu uma carta a Joabe; e mandou-lha por mão de Urias. Escreveu na carta, dizendo: ‘Ponde a Urias na frente da maior força da peleja; e retirai-vos de detrás dele, para que seja ferido e morra’. Aconteceu, pois, que, tendo Joabe observado bem a cidade, pôs a Urias no lugar onde sabia que havia homens valentes. E, saindo os homens da cidade, e pelejando com Joabe, caíram alguns do povo, dos servos de Davi; e morreu também Urias, o heteu. Então enviou Joabe, e fez saber a Davi todo o sucesso daquela peleja. E deu ordem ao mensageiro, dizendo: ‘Acabando tu de contar ao rei todo o sucesso desta peleja, e sucedendo que o rei se encolerize, e te diga: ‘Por que vos chegastes tão perto da cidade a pelejar? Não sabíeis vós que haviam de atirar do muro? Quem feriu a Abimeleque, filho de Jerubesete? Não lançou uma mulher sobre ele do muro um pedaço de uma mó corredora, de que morreu em Tebes? Por que vos chegastes ao muro?’ Então dirás: ‘Também morreu teu servo Urias, o heteu’. E foi o mensageiro, e entrou, e fez saber a Davi tudo o que Joabe o enviara a dizer. E disse o mensageiro a Davi: ‘Na verdade que mais poderosos foram aqueles homens do que nós, e saíram a nós ao campo; porém nós fomos contra eles, até à entrada da porta. Então os flecheiros atiraram contra os teus servos desde o alto do muro, e morreram alguns dos servos do rei; e também morreu o teu servo Urias, o heteu’. E disse Davi ao mensageiro: ‘Assim dirás a Joabe: Não te pareça isto mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele; esforça a tua peleja contra a cidade, e a derrota; esforça-o tu assim’. Ouvindo, pois, a mulher de Urias que seu marido era morto, lamentou a seu senhor. E, passado o luto, enviou Davi, e a recolheu em sua casa, e lhe foi por mulher, e deu-lhe à luz um filho. Porém esta coisa que Davi fez pareceu mal aos olhos do Senhor” (2Samuel 11,14-27).

Por acaso, por culpa de Davi, o povo de Deus perdeu a sua fé e apostatou da verdade? O próprio Davi perdeu a sua autoridade e poder por desagradar a Deus ou permaneceu sendo líder?

Davi, para atender aos seus caprichos, assassinou 200 filisteus e lhes cortou os prepúcios, para apresentá-los a Saul (cf. 1Samuel 18,25.27): isto é sadismo. Posteriormente, planejou o assassinato de Urias para se casar com [a mulher dele] Betsabé; o faz por premeditação, traição e vantagem. Pecou também quando realizou o censo de 2Samuel 24,1.3.

Em suas orações, registradas no Salmo 137,9, dizia isto a Deus sobre os seus inimigos:

  • “Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras” (Salmo 137,9).

Este Salmo é infalível e o seu autor um assassino!

Vejamos agora o que diz o profeta Natã a Davi:

  • “Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom” (2Samuel 12,9).

Davi pecou por adultério e homicídio, dois pecados graves que violavam a Lei de Deus.

No entanto, depois de tão graves pecados, escreveu o Salmo 51, que também faz parte das Escrituras e, portanto, é infalível.

Se um homem pecador não pode ser infalível, por que então o Salmo 51, escrito por um adúltero homicida é infalível?

É bem verdade que Davi se arrependeu do seu pecado e hoje é venerado com santo e profeta.

Porém, o ponto é: ainda que um homem seja pecador, se Deus quer, pode ser infalível, já que este é um dom de Deus, não da natureza humana.

Davi foi rejeitado por Deus como Saul? Não, porque Deus tinha feito um pacto com Davi e foi fiel (cf. 2Samuel 12,10.12). Assim, vemos como Deus fez um pacto com Davi, apesar deste ser um pecador, e mesmo sabendo disso, Deus realiza o pacto, para que fosse infalível em suas palavras e magistério.

O matrimônio de Davi e Betsabé foi edificado sobre um crime, no entanto Deus permitiu que o seu próprio Filho Jesus nascesse dessa descedência (cf. Lucas 1,27). Vemos então que o próprio Deus, mesmo sabendo que o homem é pecador, estabeleceu pactos com ele e a sua descendência.

E o que se pode dizer dos reis descendentes de Davi? Com exceção de dois ou três, todos foram piores que Átila, mas eram membros do Povo de Deus e sentados no trono outorgado por Deus, que não rompeu o Seu pacto.

f) SALOMÃO

Salomão praticou a idolatria e teve 700 esposas e 300 concubinas, além de uma grande fortuna (cf. 1Reis 11,1-43). Entretanto, cf. Deuteronômio 1,17, os reis não deviam ter grande número de esposas, nem acumular grandes riquezas. Apesar disso, a comunidade de Salomão sobreviveu porque assim Deus quis.

Vemos então como no Antigo Testamento todos os grandes patriarcas e figuras do Povo de Deus cometeram atrocidades – assassinatos, mentiras etc. -, duvidaram de Deus. Todos pecaram, mas Deus sempre lhes foi fiel e os manteve como líderes do seu Povo, tornando-os infalíveis.

Veritatis Splendor

São Benedito, o Negro

Arq.SP
Hoje é um dia muito especial para o povo brasileiro. Comemora-se o dia de são Benedito, um dos santos mais queridos e cuja devoção é muito popular no Brasil. Cultuado inicialmente pelos escravos negros, por causa da cor de sua pele e de sua origem - era africano e negro -, passou a ser amado por toda a população como exemplo da humildade e da pobreza. Esse fato também lhe valeu o apelido que tinha em vida, "o Mouro". Tal adjetivo, em italiano, é usado para todas as pessoas de pele escura e não apenas para os procedentes do Oriente. Já entre nós ele é chamado de são Benedito, o Negro, ou apenas "o santo Negro".

Há tanta identificação com a cristandade brasileira que até sua comemoração tem uma data só nossa. Embora em todo o mundo sua festa seja celebrada em 4 de abril, data de sua morte, no Brasil ela é celebrada, desde 1983, em 5 de outubro, por uma especial deferência canônica concedida à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB.

Benedito Manasseri nasceu em 1526, na pequena aldeia de São Fratelo, em Messina, na ilha da Sicília, Itália. Era filho de africanos escravos vendidos na ilha. O seu pai, Cristóforo, herdou o nome do seu patrão, e tinha se casado com sua mãe, Diana Lancari. O casamento foi um sacramento cristão, pois eram católicos fervorosos. Considerados pela família à qual pertenciam, quando o primogênito Benedito nasceu foram alforriados junto com a criança, que recebeu o sobrenome dos Manasseri, seus padrinhos de batismo.

Cresceu pastoreando rebanhos nas montanhas da ilha e, desde pequeno, demonstrava tanto apego a Deus e à religião que os amigos, brincando, profetizavam: "Nosso santo mouro". Aos vinte e um anos de idade, ingressou entre os eremitas da Irmandade de São Francisco de Assis, fundada por Jerônimo Lanza sob a Regra franciscana, em Palermo, capital da Sicília. E tornou-se um religioso exemplar, primando pelo espírito de oração, pela humildade, pela obediência e pela alegria numa vida de extrema penitência.

Na Irmandade, exercia a função de simples cozinheiro, era apenas um irmão leigo e analfabeto, mas a sabedoria e o discernimento que demonstrava fizeram com que os superiores o nomeassem mestre de noviços e, mais tarde, foi eleito o superior daquele convento. Mas quando o fundador faleceu, em 1562, o papa Paulo IV extinguiu a Irmandade, ordenando que todos os integrantes se juntassem à verdadeira Ordem de São Francisco de Assis, pois não queria os eremitas pulverizados em irmandades sob o mesmo nome.

Todos obedeceram, até Benedito, que sem pestanejar escolheu o Convento de Santa Maria de Jesus, também em Palermo, onde viveu o restante de sua vida. Ali exerceu, igualmente, as funções mais humildes, como faxineiro e depois cozinheiro, ganhando fama de santidade pelos milagres que se sucediam por intercessão de suas orações.

Eram muitos príncipes, nobres, sacerdotes, teólogos e leigos, enfim, ricos e pobres, todos se dirigiam a ele em busca de conselhos e de orientação espiritual segura. Também foi eleito superior e, quando seu período na direção da comunidade terminou, voltou a reassumir, com alegria, a sua simples função de cozinheiro. E foi na cozinha do convento que ele morreu, no dia 4 de abril de 1589, como um simples frade franciscano, em total desapego às coisas terrenas e à sua própria pessoa, apenas um irmão leigo gozando de grande fama de santidade, que o envolve até os nossos dias.

Foi canonizado em 1807, pelo papa Pio VII. Seu culto se espalhou pelos quatro cantos do planeta. Em 1652, já era o santo padroeiro de Palermo, mais tarde foi aclamado santo padroeiro de toda a população afro-americana, mas especialmente dos cozinheiros e profissionais da nutrição. E mais: na igreja do Convento de Santa Maria de Jesus, na capital siciliana, venera-se uma relíquia de valor incalculável: o corpo do "santo Mouro", profetizado na infância e ainda milagrosamente intacto. Assim foi toda a vida terrena de são Benedito, repleta de virtudes e especiais dons celestiais provindos do Espírito Santo.
Arquidiocese de São Paulo

O purgatório, o inferno e o céu que Santa Faustina Kowalska viu

ACI Digital

REDAÇÃO CENTRAL, 05 out. 20 / 06:00 am (ACI).- Santa Faustina Kowalska, a quem foi revelada a Divina Misericórdia, certo dia perguntou ao Senhor por quem devia rezar; algum tempo depois, Deus concedeu a Irmã Faustina revelações, visões do céu, do purgatório e do inferno com uma mensagem para todos os seres humanos.

1. O purgatório

Uma noite, “vi o Anjo da Guarda que me mandou acompanhá-lo. Imediatamente encontrei-me em um lugar enevoado, cheio de fogo, e, dentro deste, uma multidão de almas sofredoras. Essas almas rezavam com muito fervor, mas sem resultado para si mesmas; apenas nós podemos ajudá-las”, assinalou Santa Faustina.

“E perguntei a essas almas qual era o seu maior sofrimento. Responderam-me, unânimes, que o maior sofrimento delas era a saudade de Deus. Vi Nossa Senhora que visitava as almas no Purgatório. As almas chamam a Maria ‘Estrela do Mar’. Queria conversar mais com elas, mas meu Anjo da Guarda fez-me sinal para sair. Saímos pela porta dessa prisão de sofrimento. [Ouvi então uma voz interior] que me dizia: ‘A Minha misericórdia não deseja isto, mas a justiça exige’”.

2. O inferno

Em um retiro de oito dias em outubro de 1936, Santa Faustina Kowalska viu o abismo do inferno com vários tormentos. Em seguida escreveu a sua visão a pedido do próprio Cristo.

“Hoje, conduzida por um Anjo, fui levada às profundezas do Inferno. É um lugar de grande castigo, e como é grande sua extensão. Tipos de tormentos que vi: O primeiro tormento que constitui o Inferno é a perda de Deus; o segundo, o contínuo remorso de consciência; o terceiro, o de que esse destino já não mudará nunca; o quarto tormento, é o fogo, que atravessa a alma, mas não a destrói; é um tormento terrível, é um fogo puramente espiritual aceso pela ira de Deus”, descreveu a santa.

Do mesmo modo, assinalou que “o quinto é a contínua escuridão, um horrível cheiro sufocante e, embora haja escuridão, os demônios e as almas condenadas veem-se mutuamente e veem todo o mal dos outros e o seu”.

“O sexto é a continua companhia do demônio; o sétimo tormento, o terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfêmias. São tormentos que todos os condenados sofrem juntos, mas não é o fim dos tormentos. Existem tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos. Cada alma é atormentada com o que pecou”.

Por outro lado, indicou que existem terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento se distingue do outro. “Eu teria morrido vendo esses terríveis tormentos” – explicou Santa Faustina – “se não me sustentasse a onipotência de Deus. Estou escrevendo isso por ordem de Deus, para que nenhuma alma se escuse dizendo que não há Inferno, ou que ninguém esteve lá e não sabe como é”.

3. O céu

No dia 27 de novembro de 1936, a santa escreveu uma visão do céu, na qual pôde ver suas belezas incomparáveis e a felicidade que nos espera depois da morte e como todas as criaturas glorificam e agradecem a Deus sem cessar.

Ela indicou que esta fonte de felicidade é invariável em sua essência, mas é sempre nova, derramando felicidade para todas as criaturas. “Deus me tem feito entender que há uma coisa de um valor infinito a Seus olhos, e isso é, o amor a Deus; amor, amor e novamente amor, e nada pode comparar-se a um só ato de amor a Deus”.

Do mesmo modo, contou que “Deus em sua grande majestade, é adorado pelos espíritos celestiais, de acordo com seus graus de graças e hierarquias em que são divididas, não me causou temor nem susto; minha alma estava cheia de paz e amor; e quanto mais conheço a grandeza de Deus, mais me alegro de que Ele seja O que é”.

“Regozijo-me imensamente em Sua grandeza e me alegro de que sou tão pequena, já que sinto tão pequena, Ele me carrega em Seus braços e me aperta a Seu coração”, destacou Santa Faustina Kowalska.

ACI Digital

S. FAUSTINA KOWALSKA

Santa Faustina, Santuário de São João Paulo II em Cracóvia 

Santa Faustina Kowalska, a grande apóstola da Divina Misericórdia, nasceu no dia 25 de agosto de 1905, na pequena aldeia polonesa de Glogowiec. Seus pais, Mariana e Stanislaw Kowalski, humildes camponeses, mas cristãos fervorosos, transmitiram-lhe uma fé profunda e autêntica.

Faustina foi batizada com o nome de Helena. Aos sete anos, sentiu-se chamada para a vida religiosa. Porém, não tendo a autorização dos pais, nada pôde fazer.

Terceira de dez filhos, Faustina deixou a escola, depois de três anos, para trabalhar como doméstica na casa de algumas famílias ricas, a fim de manter a si e à sua família.

Aos vinte anos, amadureceu, definitivamente, a escolha da vida religiosa, animada por uma visão de Cristo sofredor, que lhe disse: “Até quando terei que a suportar? Até quando você vai me enganar?”

Abundantes graças divinas

No dia 10 de agosto de 1925, a Santa entrou para o convento das Irmãs da Bem-aventurada Virgem Maria da Misericórdia, em Varsóvia, onde recebeu o nome de Irmã Maria Faustina. Ela transcorreu treze anos de vida religiosa em vários conventos da Congregação, trabalhando na cozinha, no jardim e na portaria. Mas, desempenhou todos os seus trabalhos com dedicação e humildade, discrição e disponibilidade.

Irmã Faustina recebeu abundantes graças do Senhor, entre as quais os estigmas, sinais visíveis mais evidentes; recebeu, outrossim, numerosas revelações e visões, que – a pedido de seus confessores – anotou em seu Diário, hoje traduzido em várias línguas.

Santa Faustina Kowalska morreu com apenas 33 anos, em 5 de outubro de 1938, em Cracóvia, consumida pela tuberculose.

A secretária da Divina Misericórdia

Em 22 de fevereiro de 1931, a Santa anotou em seu Diário: “Estando na minha cela, vi o Senhor Jesus vestido com uma túnica branca: com uma mão abençoava e com a outra batia no peito e das suas vestes saíam dois grandes raios: um vermelho e o outro pálido [...]. Após alguns instantes, Jesus me disse: “Pinte uma imagem do que você está vendo e escreva em baixo ‘Jesus, eu confio em vós’.” Quero que esta imagem seja venerada, antes de tudo, na capela de vocês e, depois, no mundo inteiro. Prometo que a alma que venerar esta imagem, jamais perecerá... porque eu mesmo a protegerei com a minha glória” (D. 47-48).

A imagem foi logo pintada e teve grande propagação, com as outras formas de culto à Divina Misericórdia, como Jesus havia pedido à Irmã Faustina: a festa da Divina Misericórdia, no primeiro domingo depois da Páscoa; a reza do terço da Divina Misericórdia; a oração da hora da Misericórdia (às 15 horas).

Jesus confiou, à humilde religiosa polonesa, que gostava de ser chamada “secretária do meu mistério mais profundo”, a sua mensagem de amor aos homens: “No Antigo Testamento, mandei os profetas, ao meu povo, por meio de raios; hoje, eu envio você, com a minha misericórdia, a toda a humanidade. Não quero punir a humanidade sofredora, pelo contrário, quero curá-la e apertá-la ao meu coração misericordioso” (D. 522).

A devoção de Dom Wojtyła

A devoção a Jesus Misericordioso difundiu-se rapidamente na Polônia, logo após o falecimento da Irmã Faustina.

Nos anos sessenta, o então Arcebispo de Cracóvia, Dom Karol Wojtyła, promoveu o processo informativo concernente à vida e às virtudes de Faustina. Ao tornar-se Papa, João Paulo II presidiu à sua Beatificação, em 18 de abril de 1993, e à Canonização em 30 de abril de 2000. Na mesma ocasião, anunciou também o Domingo dedicado à Divina Misericórdia (primeiro domingo depois da Páscoa). Às vésperas desta festa, no dia 2 de abril de 2005, o Papa polonês foi para a Casa do Pai.

Santa Faustina Kowalska foi um dos santos Padroeiros do Jubileu da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF