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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O Papa e a missão: "Sem Jesus, nada podemos fazer"

Livro "Sem Jesus, nada podemos fazer"  (Vatican Media)

No mês missionário, republicamos alguns trechos do livro-entrevista com o Papa Francisco realizada por Gianni Valente, da Agência Fides. O Papa lembra-nos que "a Igreja ou é um anúncio ou não é Igreja". O livro foi publicado pela LEV e São Paulo.

Gianni Valente

“A alegria do Evangelho enche o coração e a vida daqueles que se encontram com Jesus”. Assim inicia a Exortação Apostólica Evangelii gaudium, publicada pelo Papa em novembro de 2013, oito meses depois do Conclave que o elegera Bispo de Roma e Sucessor de Pedro. O programático texto do pontificado convidava todos a re-sintonizar cada ato, reflexão e iniciativa eclesial “sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual”. Quase seis anos depois, o Pontífice anunciou o Mês Missionário Extraordinário, para outubro de 2019, e a Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos dedicada à Região Amazônica, com o objetivo de sugerir novos caminhos de anúncio do Evangelho no "pulmão verde", martirizado pelo sofrimento predatório que violenta e causa ferimentos “aos nossos irmãos e à nossa irmã terra” (Homilia do Santo Padre na missa de conclusão do Sínodo para a Região Pan-Amazônica).

Durante este tempo, o Papa Francisco no seu magistério, disseminou insistentes referências à natureza própria da missão da Igreja no mundo. Por exemplo, o Pontífice repetiu várias vezes que anunciar o Evangelho não é “proselitismo”, que a Igreja cresce “por atração” e por “testemunhos”. Uma série de expressões, todas elas orientadas a sugerir por menções qual é o dinamismo para cada obra apostólica, e qual pode ser a sua fonte.

Sobre isso e muitas outras coisas, o Papa Francisco fala no seu livro-entrevista intitulado “Sem Ele não podemos fazer nada. Uma conversa sobre o ser missionário no mundo de hoje”. A Agência Fides antecipou então alguns trechos do livro.

O senhor contou que quando era jovem queria ser missionário no Japão. Pode-se dizer que o Papa é um missionário não completo?

Não sei. Entrei na ordem dos jesuítas porque me impressionava a vocação missionária da mesma, e o fato de sempre procurarem novas fronteiras. Na época não pude ir ao Japão. Mas sempre senti que anunciar Jesus e o seu Evangelho quer dizer sair e coloca-se a caminho.

O senhor repete sempre: “Igreja em saída”. A expressão é relançada com frequência e às vezes parece ter se tornado um slogan abusado, a disposição dos que, cada vez mais numerosos, passam o tempo a dar lições à Igreja sobre como deveria ser ou não ser.

“Igreja em saída” não é uma expressão de moda que eu inventei. É um mandamento de Jesus, que no Evangelho de Marcos pede aos seus discípulos para irem pelo mundo inteiro e anunciarem o Evangelho “a toda criatura”. A Igreja ou é em saída ou não é Igreja. Ou é em anúncio ou não é Igreja. Se a Igreja não sai se corrompe, perde sua natureza . Torna-se outra coisa.

Uma Igreja que não anuncia e que não sai, o que se torna?

Torna-se uma associação espiritual. Uma multinacional para lançar iniciativas e mensagens de conteúdo ético-religioso. Nada de mal, mas não é a Igreja. Este é um risco de qualquer organização estática dentro da Igreja. Termina-se por domesticar Cristo. Não se da mais testemunho da ação de Cristo, mas fala-se de uma certa ideia de Cristo. Uma ideia possuída e adomesticada por você mesmo. Você organiza as coisas, torna-se um pequeno empresário da vida eclesial, onde tudo acontece segundo o programa pré-estabelecido, isto, é, seguindo apenas as instruções. Mas o encontro com Cristo não se repete mais. Não se repete o encontro que tinha tocado seu coração no início.

A missão é por si antídoto a tudo isso? É suficiente a vontade e o esforço de “sair” em missão para evitar essas distorções?

A missão, a “Igreja em saída” não são um programa, uma intenção para a ser realizada por boa vontade. É Cristo que faz a Igreja sair de si mesma. Na missão de anunciar o Evangelho, você see move porque o Espírito Santo empurra você, e o leva. E quando você chega, da-se conta de que Ele chegou antes e está esperando você. O Espírito do Senhor chegou antes. Ele previne, também para preparar o seu caminho e já está em ação.

Em um encontro com as Pontifícias Obras Missionárias, o senhor sugeriu-lhes ler os Atos dos Apóstolos, como texto habitual de oração. A narração dos primeiros tempos, e não um manual de estratégia missionária moderna. Por quê?

O protagonista dos Atos dos Apóstolos não são os apóstolos. O protagonista é o Espírito Santo. Os Apóstolos são os primeiros que o reconhecem e o confirmam. Quando comunicam aos irmãos de Antioquia as indicações estabelecidas pelo Concílio de Jerusalém, escrevem: “Decidimos, o Espírito Santo e nós”. Eles reconheciam com realismo o fato de que era o Senhor que adicionava todos os dias à comunidade “os que estavam salvos”, e não os esforços de persuasão dos homens.

E agora é como naquela época? Não mudou nada?

A experiência dos Apóstolos é como um paradigma que vale para sempre. Basta pensar como os fatos nos Atos dos Apóstolos acontecem gratuitamente, sem artifícios. É um caso, uma história de homens na qual os discípulos chegam sempre depois do Espírito Santo que age por primeiro. Ele prepara e trabalha os corações. Abala seus planos. É ele que os acompanha, os guias, os consola dentro de todas as circunstâncias que devem viver. Quando chegam os problemas e as perseguições, o Espírito Santo trabalha ali também, de maneira ainda mais surpreendente, com o seu conforto, o seu consolo. Como acontece depois do primeiro martírio, o de Santo Estêvão.

O que ocorre?

Inicia um tempo de perseguição, e muitos discípulos fogem de Jerusalém, vão para a Judeia e Samaria. E ali, enquanto estão espalhados e fugitivos, começam a anunciar o Evangelho, mesmo se estão sozinhos e sem os Apóstolos, que ficaram em Jerusalém. São batizados, e o Espírito Santo lhes dá a coragem apostólica. Ali se vê pela primeira vez que o batismo é suficiente para se tornar anunciadores do Evangelho. A missão é o que aconteceu ali. A missão é obra Sua. É inútil se agitar. Não precisamos nos organizar, não precisamos gritar. Não servem descobertas ou estratégias. Precisa apenas pedir que se faça novamente em nós a experiência para que possamos dizer: “decidimos, o Espírito Santo e nós”.

E se não houver esta experiência, qual é o sentido das chamadas à mobilização missionária?

Sem o Espírito, a missão torna-se outra coisa. Torna-se, diria, um projeto de conquista, pretensão de uma conquista feita por nós. Uma conquista religiosa, ou talvez ideológica, talvez feita com boas intenções. Mas é uma outra coisa.

Citando Bento XVI, o senhor repete com frequência que a Igreja cresce por atração. O quer dizer isso? Quem atrai? Quem é atraído?

São palavras de Jesus no Evangelho de João. “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim”. E no mesmo Evangelho, diz ainda “Ninguém vem a mim, se não for atraído pelo Pai que me mandou”. A Igreja sempre reconheceu que esta é a forma de todo o lema que aproxima a Jesus e ao Evangelho. Não uma convicção, um raciocínio, uma tomada de consciência. Não uma pressão, ou uma constrição. Trata-se sempre de uma atração. O profeta Jeremias já dizia: “Tu me seduziste e eu me deixei seduzir”. E isso também vale para os apóstolos, para os missionários e pela sua obra.

Como ocorre o que o senhor descreveu acima?

O mandato do Senhor de sair e anunciar o Evangelho, vem de dentro, por paixão, por atração amorosa. Não se segue Jesus e muito menos se torna anunciadores d’Ele e do seu Evangelho por uma decisão prática, por uma militância autoinduzida. O próprio impulso missionário só pode ser fecundo se acontece dentro desta atração e que se transmite aos outros.

Qual é o significado destas palavras com relação à missão e ao anúncio do Evangelho?

Quer dizer que se é Cristo que atrai você, se você se move e faz as coisas é porque é atraído por Cristo, as pessoas então irão se dar conta disso sem esforço. Não há necessidade de demonstrá-lo, e muito menos ostentá-lo. Ao contrário, quem pensa em ser protagonista ou empresário da missão, com todos os seus bons propósitos e as suas declarações de intenção muitas vezes termina por não atrair ninguém.

Na sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium, o senhor reconhece que tudo isso pode “causar-nos uma certa vertigem”. Como aqueles que mergulham em um mar onde não sabem o que encontrarão. O que o senhor queria sugerir com esta imagem? Essas palavras referem-se também à missão?

A missão não é um projeto empresarial bem organizado. Nem mesmo um espetáculo organizado para saber quantas pessoas participam graças às nossas propagandas. O Espírito Santo age como quer, quando e onde quiser. E isso pode causar uma certa vertigem. Mesmo assim o cume da liberdade repousa justamente neste deixar-se levar pelo Espírito, renunciado a calcular e controlar tudo. E justamente nisso imitamos o próprio Cristo, que no mistério da sua Ressurreição aprendeu a repousar na ternura dos braços do Pai. A misteriosa fecundidade da missão não consiste nas nossas intenções, nos nossos métodos, nos nossos lançamentos e iniciativas, mas repousa justamente nessa vertigem: a vertigem que se adverte diante das palavras de Jesus, quando diz “sem mim nada podeis fazer”.

O senhor repete muitas vezes também que a Igreja cresce “por testemunho”. Qual é a sugestão para esta insistência?

O fato que a atração se faz testemunho em nós. A testemunha comprova o que a obra de Cristo e do seu Espírito realizaram na sua vida. Depois da Ressurreição, é o próprio Cristo que nos torna visível aos apóstolos. É ele a sua testemunha. Também o testemunho não é um desempenho próprio, só se pode ser testemunha das obras do Senhor.

Outra coisa que o senhor repete com frequência, neste caso em chave negativa: a Igreja não cresce por proselitismo e a missão da Igreja não é fazer proselitismo. Por que tanta insistência? É para manter as boas relações com as outras Igrejas e o diálogo com as tradições religiosas?

O problema do proselitismo não é apenas o fato que contradiz o caminho ecumênico e o diálogo inter-religioso. Há proselitismo em todos os lugares, há a ideia de fazer com que a Igreja cresça deixando de lado a atração de Cristo e da obra do Espírito, apostando tudo nos chamados “discursos sábios”. Portanto, como primeira coisa, o proselitismo tira o próprio Cristo e o Espírito Santo da missão, mesmo quando pretende agir em nome de Cristo, de maneira nominalista. O proselitismo é sempre violento pela sua natureza, mesmo quando é dissimulado ou feito “com luvas de pelica”. Não suporta a liberdade e a gratuidade com a qual a fé pode se transmitir, pela graça, de pessoa a pessoa. Por isso o proselitismo não é apenas o do passado, dos tempos do antigo colonialismo, ou das conversões forçadas ou compradas com a promessa de vantagens materiais. Hoje também pode haver proselitismo, nas paróquias, nas comunidades, nos movimentos, nas congregações religiosas.

Então, o que quer dizer anunciar o Evangelho?

O anúncio do Evangelho que dizer entregar com palavras sóbrias e claras o próprio testemunho de Cristo como fizeram os apóstolos. Mas não é necessário discursos persuasivos. O anúncio do Evangelho pode ser também sussurrado, mas passa sempre pela força arrebatadora do escândalo da cruz. E desde sempre segue o caminho indicado na Carta de São Pedro Apóstolo, que consiste no simples “dar razão” aos outros da própria esperança. Uma esperança que permanece escândalo e tolice aos olhos do mundo.

Do que se trata o “missionar” cristão?

Uma característica distintiva é a de ser facilitadores e não controladores da fé. Facilitar, tornar fácil, não pôr obstáculos ao desejo de Jesus de abraçar todos, de curar todos, de salvar todos. Não fazer seleções, não criar “triagens pastorais”. Não fazer parte dos que se colocam à porta para controlar se todos têm requisitos para entrar. Recordo os párocos e as comunidades que em Buenos Aires tinham colocado em campo várias iniciativas para facilitar o acesso ao batismo. Deram-se conta que nos últimos anos estava aumentando o número dos que não eram batizados por vários motivos, mesmo sociológicos, e queriam recordar a todos que ser batizados é uma coisa simples, que todos podem pedir para si e para seus próprios filhos. O caminho que os párocos e aquelas comunidades tomaram era um só: não complicar, não pretender nada, eliminar todas as dificuldades de caráter cultural, psicológico ou prático que poderia levar as pessoas a adiar ou perder a intenção de batizar seus próprios filhos.

Na América, no início da evangelização, os missionários discutiam sobre quem seria “digno” de receber o batismo. Como se concluíram aquelas discussões?

Papa Paulo III recusou as teorias dos que sustentavam que os índios eram por natureza “incapazes” de acolher o Evangelho e confirmou a escolha dos que facilitavam o seu batismo. Parecem coisas passadas, mas ainda hoje há círculos e setores que se apresentam como “ilustrados”, iluminados, e sequestram também o anúncio do Evangelho nas suas lógicas distorcidas que dividem o mundo entre “civilização” e “barbárie”. A ideia que o Senhor tenha entre seus preferidos muitas “cabecitas negras” os irrita, deixa-os de mau humor. Eles consideram boa parte da família humana como se fosse uma entidade de classe inferior, inadequada a alcançar, segundo seus padrões, níveis decentes de vida espiritual e intelectual. Nesta base pode-se desenvolver um desprezo pelos povos considerados de segundo nível. Esse tema surgiu também por ocasião do Sínodo dos Bispos para a Amazônia.

Hoje existe a tendência de colocar em alternativa dialética o anúncio claro da fé e as obras sociais. Dizem que não precisa reduzir a missão para sustentar as obras sociais. É uma preocupação legítima?

Tudo o que está dentro do horizonte das Bem-Aventuranças e das obras de misericórdia estão de acordo com a missão, já é anúncio, já é missão. A Igreja não é uma ONG, a Igreja é uma outra coisa. Mas a Igreja é também um hospital de campo, onde se acolhe todos, assim como são, cuidando das feridas de todos. E isso faz parte da sua missão. Tudo depende do amor que move o coração dos que atuam. Se um missionário ajuda a escavar um poço em Moçambique, porque se deu conta que é fundamental para os que ele batizou e aos quais prega o Evangelho, como se pode dizer que a obra é separada do anúncio?

Atualmente, quais são as novas atenções e sensibilidades a serem exercidas nos processos destinados a tornar fecundo o anúncio do Evangelho, nos vários contextos sociais e culturais?

O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural. Como reconheceu João Paulo II, “permanecendo plenamente si mesmo, na total fidelidade ao anúncio evangélico e à tradição eclesial, o cristianismo carregará também o rosto das várias culturas e dos vários povos nos quais foi acolhido e enraizado”. O Espírito Santo embeleza a Igreja, com as expressões novas das pessoas e das comunidades que abraçam o Evangelho. Assim a Igreja, assumindo os valores das várias culturas, torna-se “sponsa ornata monilibus suis”, “a esposa que se enfeita com suas jóias”, da qual fala o profeta Isaías. É verdade que algumas culturas foram estreitamente ligadas à pregação do Evangelho e ao desenvolvimento de um pensamento cristão. Mas nos nossos dias, torna-se ainda mais urgente considerar que a mensagem revelada não se identifica com nenhuma cultura. E no encontro com novas culturas ou com culturas que não acolheram a pregação cristã, não se deve tentar impor uma determinada forma cultural junto com a proposta evangélica. Hoje, também na obra missionária convém mais do que nunca, não carregar bagagem pesada.

Missão e martírio. O senhor recordou várias vezes o íntimo vínculo que une estas duas experiências.

Na vida cristã a experiência do martírio e a proclamação do Evangelho a todos têm a mesma origem, a mesma fonte, quando o amor de Deus derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo doa força, coragem e consolação. O martírio é a máxima expressão do reconhecimento e do testemunho feito a Cristo, que representam o cumprimento da missão, da obra apostólica. Penso sempre nos irmãos coptas trucidados na Líbia, que pronunciavam em voz baixa o nome de Jesus enquanto eram degolados. Penso nas Irmãs de Santa Madre Teresa mortas no Iêmen, enquanto cuidavam dos pacientes muçulmanos de uma casa de idosos com deficiências. Quando foram mortas, estavam com o avental de trabalho sobre o hábito religioso. São todos vencedores, não “vítimas”. E seu martírio, até o derramamento de sangue, ilumina o martírio que todos podem sofrer na vida todos os dias, com o testemunho dado a Cristo todos os dias. Isso pode-se ver quando se vai visitar os asilos de missionários idosos, muitas vezes debilitados pela vida que levaram. Um missionário me disse que muitos deles perdem a memória e não recordam mais nada do bem que fizeram. “Mas não tem importância”, me disse “porque disso o Senhor se recorda muito bem”.  

Vatican News

S. PELÁGIA, VIRGEM E MÁRTIR DA ANTIOQUIA

Vatican Media

Pelágia era uma bailarina belíssima, escandalosa, muito divertida, festiva e pagã. Costumava encantar e seduzir os homens com sua dança, alegria, roupas, jóias e outros ornamentos luxuosos. Tornou-se uma das figuras mais conhecidas da vida mundana e social de Antioquia e adquiriu grande riqueza.

De acordo com a estória, durante uma procissão, o Bispo Nono percebeu a presença de Pelágia entre o povo, numa atitude desinteressada e debochada. Iluminado por Deus o sábio bispo disse a multidão que se uma simples mulher era capaz de enfeitar-se tanto para os homens, quanto mais deveríamos nós enfeitarmos nosso interior para o encontro com Deus. Aquela observação tocou o coração da bailarina pagã.

Ela foi para casa refletindo sobre as palavras do sermão e ali chorou de arrependimento a noite toda. No dia seguinte procurou o Bispo, que a enviou à uma senhora cristã, para ser preparada para o Batismo. Trocou as roupas e adereços de seda e ouro por uma túnica branca para ser batizada. Depois disso retirou-se para Jerusalém, viver como eremita, numa gruta, no Monte das Oliveiras.

Viveu afastada de todos e conservou sua identidade sob segredo, vivendo o resto da vida disfarçada de homem. Somente quando morreu, os ermitãos descobriram que era uma mulher. Foi então que reconheceram tratar-se da bailariana da Antioquia, agora uma simples penitente arrependida, que se anulara do mundo, no seguimento do Cristo
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Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão
Figuras cristãs como Santa Pelágia, recordam profeticamente a Igreja da verdadeira ordem dos valores obscurecidos frequentemente pelos crescentes compromissos temporais. Ainda hoje necessitamos pedir ao bom Deus que envie pessoas animadas e corajosas para a condução de sua Igreja.
Oração
Deus, nosso Pai, sede nossa luz e nossa direção neste dia. Velai por nossa saúde e por nossa paz interior. Ajudai-nos, pela intercessão de Santa Pelágia, a sermos mais nós mesmos e assim encontraremos a alegria e a paz interior. Ajudai-nos a viver intensamente cada momento e nossa vida, sabendo que tudo caminha rumo à unidade perfeita. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Portal A12

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Dos Sermões de São Bernardo, abade

São Bernando, abade | Canção Nova

(Sermo de Aquaeductu: Opera omnia, Edit. Cisterc. 5[1968],282-283)         (Séc.XII)

 

É preciso meditar sobre os mistérios da salvação

O santo, que nascer de ti, será chamado Filho de Deus (cf. Lc 1,35), fonte de sabedoria, o Verbo do Pai nas alturas! Este Verbo, através de ti, Virgem santa, se fará carne, de modo que aquele que diz: Eu no Pai e o Pai em mim (Jo 10,38), dirá também: Eu saí do Pai e vim (Jo 16,28). 

No princípio, diz João, era o Verbo. Já borbulha a fonte, mas por enquanto apenas em si mesma. Depois, e o Verbo era com Deus (Jo 1,1), habitando na luz inacessível. O Senhor dizia anteriormente: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição (cf. Jr 29,11). Mas teu pensamento está dentro de ti, ó Deus, e não sabemos o que pensas; pois quem conheceu a mente do Senhor ou quem foi seu conselheiro? (cf. Rm 11,34). 

Desceu, por isto, o pensamento da paz para a obra da paz: O Verbo se fez carne e já habita em nós (Jo 1,14). Habita totalmente pela fé em nossos corações, habita em nossa memória, habita no pensamento e chega a descer até a imaginação. Que poderia antes o homem pensar sobre Deus, a não ser talvez fabricando um ídolo no coração? Era incompreensível e inacessível, invisível e inteiramente impensável; agora, porém, quis ser compreendido, quis ser visto, quis ser pensado. 

De que modo, perguntas? Por certo, reclinado no presépio, deitado ao colo da Virgem, pregando no monte, pernoitando em oração; ou pendente da cruz, pálido na morte, livre entre os mortos e dominando o inferno; ou ainda ressurgindo ao terceiro dia, mostrando aos apóstolos as marcas dos cravos, sinais da vitória, e, por último, diante deles subindo ao mais alto do céu. 

O que não se poderá pensar verdadeira, piedosa e santamente disto tudo? Se penso algo destas realidades, penso em Deus e em tudo ele é o meu Deus. Meditar assim, considero sabedoria, e tenho por prudência renovar a lembrança da suavidade que, em essência tão preciosa, a descendência sacerdotal produziu copiosamente, e que, haurindo do alto, Maria trouxe para nós em profusão.

https://liturgiadashoras.online/

MARIOLOGIA: MYSTERIUM LUNAE - A lua nascente (Parte 3/4)

A mulher vestida de sol, Basílica de San Pietro al Monte, 

Civate (Lecco) [©] TPFotoGrafica di Emanuele Tonoli]

A Igreja é comparada à lua porque brilha não com sua própria luz, mas com a de Cristo. Fulget Ecclesia non sua sed Christi lumine , escreve Santo Ambrósio.

por Lorenzo Cappelletti

Por ser amada por Cristo, a Igreja gera. Só fecunda porque está unida a Ele. A lua também pode constituir uma imagem fascinante desta verdade dogmática. Na verdade, em virtude da simples observação das marés e dos ciclos naturais, a ligação da lua com tudo o que é úmido (ou seja, ligado à água) e quente e, portanto, com a fecundidade da criação, estava muito presente no imaginário grego Romano. Do filosófico-científico ao poético. De Aristóteles a Plutarco, de Apuleio a Macróbio, a lua é “mediadora materna entre a intensa e deslumbrante luz do sol e a escuridão da terra; ela é a dispensadora do orvalho noturno, senhora e mãe de tudo o que nasce e cresce ”( Simboli , p. 232).
Neste caso, no entanto, os Padres não tinham referências nas Escrituras disponíveis, quanto à lua agonizante, e além disso, eles tiveram que limpar o campo da ideia idólatra amplamente difundida entre os pagãos da natureza divina da lua (o que eles fizeram mostrando, no comentário sobre o Livro do Génesis, que o sol e a lua foram criados a partir dos animais e das plantas: um sinal de que o nascimento e o crescimento destes dependem sobretudo da bondade do Criador e não da influência lunar). Mas, tanto para a investigação científica quanto para a observação comum, ficou tão evidente que tudo o que tem alguma relação com a água e, portanto, com a fecundidade, depende da lua (ver Símbolos, p. 253) que mesmo este simbolismo foi capaz de tomar forma para delinear a força vital que a Igreja dispensa no batismo. Especialmente em alguns padres gregos, como Metódio de Filipos ou Anastasio Sinaita, para quem o próprio nome Selene deriva de “selas nepion” que significa em grego “luz dos filhos”; mas também em Ambrogio e Massimo di Torino, de onde o simbolismo da lua nascente chega até a Idade Média e a Dante.
Mas a lua é maternal dispensadora de água fértil porque "por sua vez é dominada pela luz penetrante e radiante de Helios" ( Simboli, p. 258). Assim como o poder fecundante da água lunar reside em ser morna, isto é, em sua relação com o sol, também no batismo a água só é geradora porque está em chamas por Cristo. «O cristão nasce da« água ígnea »(Firmico Materno) do baptismo, que o Sol, Cristo, tornou fecunda e a Selene, a Igreja, difundiu» ( Mitos , p. 194).
E é precisamente por causa do renascimento batismal que a Páscoa não é celebrada em uma data fixa, mas em correspondência com a lua nova da primavera. Agostinho explica isso na Epístola 55em resposta a uma pergunta específica que lhe foi dirigida: «Precisamente em vista do início de uma nova vida, precisamente em vista do novo homem, somos ordenados a vestir, desnudando o antigo, a massa nova, desde Cristo nossa Páscoa, foi sacrificada, precisamente em vista desta novidade de vida, o primeiro mês do ano foi atribuído a esta festa, que por isso se chama o mês das novas colheitas [ mensis novorum ] ”(3, 5). E Rahner comenta: “O mistério pascal da morte e da ressurreição cumpre-se sobretudo pelo fato de não ser uma simples comemoração histórica daquela ação salvífica de Jesus ocorrida em certo mês de Nisan., mas é algo sobrenaturalmente presente, pelo qual a luz do novo sol participa de uma iniciação sacramental » Mitos , p. 143). A Páscoa não é um convite vazio a recordar o passado, mas a passagem da morte para a vida no sacramento.

Revista 30Dias

Quem são os Padres da Igreja?

Aleteia

Quem são os Padres da Igreja? Por que são chamados assim? Por que a Igreja dá tanta importância à sua vida e obra, se eles viveram há tantos séculos, quando o contexto era muito diferente do de hoje?

Santos dos primeiros séculos que, com sua fé e seus ensinamentos, deram forma à Igreja.

Eminentes cristãos que, com sua fé e seus ensinamentos, geraram e formaram a Igreja durante os primeiros séculos. Hoje, permanecem como bússola segura e fonte generosa para os católicos e demais cristãos.

Os Padres da Igreja são grandes cristãos dos oito primeiros séculos depois de Cristo, que se distinguem pelos seus ensinamentos, coerentes com a sua vida, que contribuíram para a edificação da Igreja em suas estruturas primordiais.

Foram um numeroso e distinto grupo de verdadeiros pastores que conduziram fielmente os cristãos dos primeiros séculos com a força da sua palavra e da sua vida de fé, consequente muitas vezes até uma morte heroica: papas como Clemente Romano (quem, segundo o testemunho de São Irineu, conheceu e conviveu com os apóstolos Pedro e Paulo), teólogos como o Doutor da Igreja João Damasceno, monges eremitas como Basílio Magno (que depois foi bispo), místicos como Agostinho de Hipona, mártires como Justino e muitos outros homens cuja doutrina ortodoxa e vida santa foram reconhecidas pela Igreja; santos que irradiavam Cristo e impulsionavam a segui-lo – e que continuam fazendo-o ainda hoje.

Padres da Igreja são chamados com razão aqueles santos que, com a força da fé, a profundidade e riqueza dos seus ensinamentos, durante os primeiros séculos a geraram e formaram”, escreve o Beato João Paulo II na carta apostólica Patres ecclesiae, publicada em 1980, por ocasião do 16º centenário da morte de São Basílio.

Eles foram para o desenvolvimento da Igreja o que os apóstolos foram para o seu nascimento. Deram forma às instituições da Igreja, à sua doutrina, sua liturgia, sua oração, sua espiritualidade. Estabeleceram o “Cânon completo dos livros sagrados”, compuseram as profissões básicas da fé, precisaram o depósito da fé em confrontações com as heresias e a cultura da época (dando origem, assim, à teologia), colocaram as bases da disciplina canônica e criaram as primeiras formas da liturgia.

Segundo o papa polonês, “Na verdade; foram 'padres' ou pais da Igreja porque deles, mediante o Evangelho, recebeu ela a vida. E também seus construtores, porque deles – sobre o fundamento único colocado pelos Apóstolos, que é Cristo – a Igreja de Deus foi edificada nas suas estruturas fundamentais”.

Nos elementos de consenso entre eles, são reconhecidos como intérpretes fidelíssimos da doutrina que Jesus Cristo pregou.

Geralmente, são agrupados segundo sua procedência (Padres latinos e Padres gregos) e segundo a época em que viveram, em três grandes grupos: os que viveram entre as primeiras comunidades cristãs (até o ano de 313), a seguinte geração (até a metade do século V) e os que viveram posteriormente (até o século VIII).

Os que pertencem à primeira e segunda geração da Igreja, depois dos apóstolos, recebem o nome de Padres apostólicos e mostram como começa o caminho da Igreja na história. Seus escritos refletem diretamente o ensinamento dos apóstolos, como se vê, por exemplo, neste fragmento da carta aos coríntios escrita pelo terceiro sucessor de Pedro, Clemente de Roma: “Unamo-nos, pois, àqueles a quem foi dada a graça da parte de Deus; revistamo-nos de concórdia, mantendo-nos no espírito de humildade e continência, afastados de toda murmuração e calúnia, justificados pelas nossas obras e não pelas nossas palavras”.

Nesta primeira fase, vivem também os Padres apologistas gregos e os mestres da Escola de Alexandria. Entre outros, podemos citar Inácio de Antioquia, Policarpo de Esmirna, Justino Mártir, Irineu de Lyon, Tertuliano, Cipriano de Cartago, Clemente de Alexandria e Orígenes.

segunda fase se desenvolve entre o Concílio de Niceia (325) e o de Calcedônia (451) e é considerada o século de ouro dos Padres da Igreja. No século IV, com a chegada da paz à Igreja dentro do império romano, cresceu muito o número de cristãos, mas adquiriram força as discrepâncias internas e heresias. Diante delas, muitos Padres da Igreja fizeram valiosas defesas da fé cristã e esclareceram os dogmas trinitários e cristológicos.

No segundo grupo estão, entre outros, Agostinho de Hipona, Hipólito, Gregório Taumaturgo, Júlio o Africano, Dionísio o Grande, Atanásio, Teodoro da Síria, João Crisóstomo, Gregório de Nissa e Jerônimo. Algumas das suas obras se tornaram textos de referência, não somente para os cristãos de qualquer época, mas também para a história da filosofia e a literatura. Milhões de pessoas se identificaram com a admiração de Santo Agostinho diante da grandeza do amor de Deus, ao ler palavras suas como estas: “Chamaste-me, clamaste, quebrantaste a minha surdez; brilhaste e resplandeceste e me curaste a cegueira; exalaste o teu perfume e eu o aspirei, e então te anseio; eu te provei, e agora sinto fome e sede de ti; tu me tocaste, e desejei com ânsia a paz que procede de ti”.

Finalmente, os Padres do terceiro grupo vivem o desmoronamento político da metade ocidental del império romano e a irrupção do islã. Alguns escritores aplicam a doutrina dos grandes Padres anteriores a novas realidades, como a entrada dos povos de origem germânica na atual Europa.

Neste grupo se encontram, entre outros, Gregório Magno, Fulgêncio, Máximo de Turim, Boécio, Casiodoro, Vicente de Lerins, Martinho de Braga, Ildefonso de Toledo e Isidoro de Sevilha, no Ocidente; e Pseudo-Dionísio Areopagita, Romano o Cantor, Máximo o Confessor, Severo de Antioquia, André de Creta, Germano de Constantinopla, Mesrop, Tiago de Sarug e João Damasceno, no Oriente. Este último motivava seus fiéis com estas palavras: “Ele mesmo, o Criador e Senhor, lutou pela sua criatura, transmitindo-lhe seu ensinamento por meio do seu exemplo. (…) Assim, o Filho de Deus, ainda subsistindo na forma de Deus, desceu dos céus (…) até os seus servos (…), realizando a realidade mais nova de todas, a única coisa verdadeiramente nova sob o sol, por meio da qual se manifestou, de fato, o poder infinito de Deus”.

Como no começo, a Igreja continua vivendo com a vida recebida destes Padres e continua se edificando sobre as estruturas formadas por eles. Hoje, continua sendo indispensável conhecer suas vidas e obras.

Eles foram e sempre serão os Padres da Igreja; possuem algo de especial, de irrepetível e de perenemente válido, que continua vivo. Como reconhece João Paulo II, na carta apostólica Patres ecclesiae, “em favor da Igreja de todos os séculos, exercem uma função perene. De maneira que todo o anúncio e magistério seguinte, se quer ser autêntico, deve pôr-se em confronto com o anúncio e o magistério deles; todo o carisma e todo o ministério deve beber na fonte vital da paternidade deles; e toda a pedra nova, acrescentada ao edifício santo que todos os dias cresce e se amplifica, deve colocar-se nas estruturas já por eles postas e a elas soldar-se e ligar-se”. Por isso, a Igreja nunca deixa de voltar aos escritos destes Padres e de renovar continuamente a lembrança deles.

pensamento dos Padres da Igreja, segundo destaca a “Instrução sobre o estudo dos Padres da Igreja na Formação Sacerdotal”, da Congregação para a Educação Católica, “é exemplo de uma teologia unificada, vivida e amadurecida em contato com os problemas do ministério pastoral; é um ótimo modelo de catequese, fonte para o conhecimento da Sagrada Escritura e da Tradição, assim como do homem total e da verdadeira identidade cristã”.

O documento vaticano destaca que os Padres são testemunhas privilegiadas da Tradição, transmitem um método teológico luminoso e seguro, e seus escritos oferecem uma riqueza cultural e apostólica que os torna grandes mestres da Igreja de sempre.

No entanto, acrescenta, “só manifestam suas riquezas doutrinais e espirituais aos que se esforçam por penetrar em suas profundezas por meio de um contínuo e assíduo trato familiar com eles”.

A Igreja é consciente de que, para continuar crescendo, é “indispensável conhecer a fundo sua doutrina e obra, que se distingue por ser, ao mesmo tempo, pastoral e teológica, catequética e cultural, espiritual e social, de maneira excelente”; e “é propriamente esta unidade orgânica dos vários aspectos da vida e missão da Igreja que torna os Padres tão atuais e fecundos”.

Como ensinava Irineu de Lyon no século II, “para ver claramente hoje, é preciso interrogar a Tradição que vem dos apóstolos”.

Este artigo foi revisado por Enric Moliné, doutor em Teologia e autor do livro “Os Padres da Igreja. Uma guia introdutória” (Ed. Palabra).

Aleteia Vaticano

Bispos dos EUA recitarão um “Rosário pela América”

Guadium Press
“É preciso invocar a intercessão de Nossa Senhora pelos Estados Unidos, juntos como católicos, para um país assolado por múltiplas crises”, afirmaram os prelados.

Estados Unidos – Washington (06/10/2020 09:00, Gaudium Press) Os Bispos católicos dos Estados Unidos manifestaram que participarão de um “Rosário pela América”, encontro virtual em torno da oração mariana que ocorrerá no próximo dia 7 de outubro, festa de Nossa Senhora do Rosário.

O evento será iniciado às 15h (horário local) através do canal do YouTube da Conferência de Bispos Católicos dos EUA. Segundo os prelados, “é preciso invocar a intercessão de Nossa Senhora pelos Estados Unidos, juntos como católicos, para um país assolado por múltiplas crises”.

Fortalecer os laços como comunidade católica

Dom José H. Gómez, presidente da Conferência Episcopal dos EUA (USCCB), anunciou este momento de oração, convidando vários Bispos de diferentes regiões dos Estados Unidos para rezar uma parte do Rosário.

“Creio que esta é uma maneira fantástica de fortalecer nossos laços como comunidade católica em um momento muito desafiante”, afirmou Dom Robert P. Reed, Bispo Auxiliar de Boston, um dos 11 prelados que participarão do evento.

Enfrentar os desafios recorrendo à Mãe de Deus

Dom Reed, a quem foi pedido que rezasse a dezena do rosário dedicada ao quinto mistério glorioso, assinalou a pandemia de Covid-19, os incidentes recentes de violência no interior das cidades e as eleições de 3 de novembro, como realidades que devem ser entregues ao cuidado de Maria.

“Enfrentar os desafios e as divisões que vivemos, recorrendo à Mãe de Deus e fazendo-o juntos como uma comunidade católica nacional na festa de Nossa Senhora do Rosário, é o melhor a fazer neste momento”, disse Dom Reed. (EPC)

https://gaudiumpress.org/

O Papa: precisamos de cristãos corajosos que saibam dizer “isto não deve ser feito”

Vatican Media

Na Audiência Geral realizada na Sala Paulo VI, Francisco retoma as catequeses sobre a oração após o ciclo dedicado ao cuidado da criação no mundo ferido pela pandemia de coronavírus. “A oração não é um fechar-se com o Senhor para maquiar a alma. A oração é um confronto com Deus e um deixar-se enviar para servir aos irmãos”, disse o Pontífice.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

“A oração de Elias” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (07/10), realizada na Sala Paulo VI, por causa da chuva que começou a cair cedo na Cidade Eterna.

O Pontífice retomou as catequeses sobre o tema da oração, interrompidas para dar espaço ao ciclo de catequeses dedicado ao cuidado da criação. “Conheçamos um dos personagens mais fascinantes de toda a Sagrada Escritura: o profeta Elias", disse o Papa. "Ele vai além dos limites do seu tempo e podemos ver a sua presença também em alguns episódios do Evangelho. Ele aparece ao lado de Jesus, junto com Moisés, no momento da Transfiguração. O próprio Jesus refere-se à sua figura para dar crédito ao testemunho de João Batista”, sublinhou Francisco.

Elias, incapaz de compromissos mesquinhos

O Papa frisou que “a Escritura apresenta Elias como um homem de fé cristalina: no seu próprio nome, que poderia significar “Javé é Deus”, está incluído o segredo da sua missão. Ele será assim para o resto de sua vida: um homem integérrimo, incapaz de compromissos mesquinhos. O seu símbolo é o fogo, a imagem do poder purificador de Deus. Será o primeiro a ser posto à prova e permanecerá fiel. Ele é o exemplo de todas as pessoas de fé que passam por tentações e sofrimentos, mas não deixam de viver à altura do ideal para o qual nasceram”.

A oração é a linfa que alimenta constantemente a sua existência. Por esta razão, é um dos personagens mais queridos à tradição monástica, de tal forma que alguns o elegeram padre espiritual da vida consagrada a Deus. Elias é o homem de Deus, que se levanta como defensor da primazia do Altíssimo. No entanto, também ele é obrigado a enfrentar as próprias fragilidades. É difícil dizer quais experiências lhe foram mais úteis: se a derrota dos falsos profetas no Monte Carmelo, ou a perplexidade em que constata que ele «não é melhor do que os seus pais».

A oração é deixar-se conduzir por Deus

Segundo Francisco, na alma de quem reza, o sentido da própria debilidade é mais precioso do que momentos de exaltação, quando parece que a vida é uma cavalgada de vitórias e sucessos”, e acrescentou:

Na oração acontece sempre isso. Momentos de oração que nos puxam para cima, nos enche de entusiasmo, e momentos de oração de dor, aridez e provações. A oração é assim: deixar-se conduzir por Deus e deixar-se também golpear, pelas situações ruins e até mesmo pelas tentações. Esta realidade que a oração é assim se encontra em muitas outras vocações bíblicas, também no Novo Testamento; pensemos, por exemplo, em São Pedro e São Paulo, a vida deles era assim: momentos de exultação e momentos de abaixamento, de sofrimentos.

“Elias é o homem de vida contemplativa e, ao mesmo tempo, de vida ativa, preocupado com os acontecimentos do seu tempo, capaz de se lançar contra o rei e a rainha, depois que eles mandaram matar Nabot para tomar posse da sua vinha”, disse ainda o Pontífice.

Precisamos do espírito de Elias

Quanto precisamos de fiéis, de cristãos zelosos que agem diante de pessoas que têm responsabilidade gerencial com a coragem de Elias, para dizer: “Isto não deve ser feito! Isto é um assassinato”! Precisamos do espírito de Elias.

Elias nos mostra, deste modo, “que não deve haver dicotomia na vida de quem reza, não há diferença: se está perante o Senhor e se vai ao encontro dos irmãos para os quais Ele envia". 

“A oração não é um fechar-se com o senhor para maquiar a alma. Não, isto não é oração. Isto é fingir de rezar. A oração é um confronto com Deus e um deixar-se enviar para servir aos irmãos. A prova da oração é o amor concreto pelo próximo.”

"E vice-versa: os fiéis agem no mundo depois de, primeiro, terem silenciado e rezado; caso contrário, a sua ação é impulsiva, desprovida de discernimento, é uma corrida ofegante sem meta. Quando os fiéis fazem assim, cometem muitas injustiças, porque não foram primeiro diante do Senhor para rezar, discernir o que devem fazer”.

Regressar a Deus com a oração

O Papa disse ainda que “as páginas da Bíblia sugerem que também a fé de Elias progrediu: ele cresceu na oração, refinou-a pouco a pouco. Para ele, o rosto de Deus tornou-se mais nítido ao longo do caminho, até atingir o seu ápice naquela experiência extraordinária, quando Deus se manifestou a Elias no monte. Ele se manifesta não na tempestade impetuosa, não no tremor de terra nem no fogo devorador, mas no «murmúrio de uma brisa suave». Ou melhor, uma tradução que reflete bem essa experiência: em um fio de silêncio sonoro. É assim que Deus se manifesta a Elias”.

É com este sinal humilde que Deus se comunica com Elias, que naquele momento é um profeta fugitivo que perdeu a paz. Deus vai ao encontro de um homem cansado, de um homem que pensava ter falhado em todas as frentes, e com aquela brisa suave, com aquele fio de silêncio sonoro, traz de volta a calma e a paz ao seu coração.

“Esta é a vicissitude de Elias, mas parece escrita para todos nós”, disse ainda Francisco. “Em certas noites podemos sentir-nos inúteis e solitários. É então que a oração virá e baterá à porta do nosso coração. Todos nós podemos tocar uma orla do manto de Elias. E mesmo que tivéssemos feito algo de errado, ou se nos sentíssemos ameaçados e apavorados, regressando a Deus com a oração, voltarão também como que por milagre a serenidade e a paz. Isto é o que nos ensina o exemplo de Elias”, concluiu o Papa.

Vatican News

Beato Bartolo Longo, de espírita a “Apóstolo do Rosário”

ACI Digital

REDAÇÃO CENTRAL, 06 out. 20 / 05:00 am (ACI).- O Beato Bartolo Longo foi um advogado e leigo que fundou o Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia (Itália) e que, além disso, dedicou-se a ensinar o catecismo e a difundir a devoção ao Santo Rosário.

Durante sua juventude, ingressou no espiritismo até que, finalmente, Deus tocou seu coração e converteu-se. O Beato Longo foi definido pelo Papa São João Paulo II como “o homem da Virgem”.

Na homilia de sua beatificação, em 26 de outubro de 1980, o Santo Padre disse que ele, “por amor de Maria, tornou-se escritor, apóstolo do Evangelho, propagador do Rosário, e fundador do célebre Santuário no meio de enormes dificuldades e adversidades; por amor de Maria criou institutos de caridade, fez-se mendicante em favor dos filhos dos pobres e transformou Pompeia numa viva cidadezinha de bondade humana e cristã; por amor de Maria suportou em silêncio tribulações e calúnias, passando através de um longo Getsêmani, sempre confiado na Providência, sempre obediente ao Papa e à Igreja”.

Bartolo Longo nasceu em Latiano (Itália), em 10 de fevereiro de 1841. Antes de obter a licenciatura como advogado na Universidade de Nápoles, enveredou-se na moda anticristã da época e dedicou-se à política, às superstições, ao espiritismo: chegou a ser “médium” de primeiro grau e “sacerdote espírita”.

Por outro lado, a filosofia ateia e o racionalismo o tinham totalmente preso. Começou a odiar a Igreja, organizando conferências contra ela e louvando os que criticavam o clero.

Graças à influência de seu amigo Vicente Pepe e do dominicano Pe. Alberto Radente, voltou à fé. Sua conversão aconteceu no dia do Sagrado Coração de Jesus, em 1865, na Igreja do Rosário de Nápoles.

Após seu encontro com Cristo, abandonou a vida libertina e dedicou-se às obras de caridade e ao estudo da religião.

Mais tarde, escreveu, fazendo alusão à sua própria experiência, que “não pode haver nenhum pecador tão perdido, nem alma escravizada pelo implacável inimigo do homem, Satanás, que não possa se salvar pela virtude e eficácia admirável do santíssimo Rosário de Maria, agarrando-se dessa corrente misteriosa que nos estende do céu a Rainha misericordiosíssima das místicas rosas para salvar os tristes náufragos deste tempestuoso mar do mundo”.

Em 1876, por sugestão do Bispo de Nola, iniciou uma campanha para construir um templo em Pompeia. Como resultado da cooperação e da intercessão da Virgem Maria, surgiu o belo Santuário.

No dia 5 de outubro de 1926, aos 85 anos, morreu em Pompeia. Em seu testamento, deixou escrito o seguinte: “Desejo morrer como terciário dominicano... entre os braços da Virgem do Rosário, com a assistência de meu pai São Domingos e de minha mãe Santa Catarina de Sena”.

ACI Digital

terça-feira, 6 de outubro de 2020

VIDA: DOM E COMPROMISSO

ArqRio
Dom Fernando Arêas Rifan
(Bispo da Adm Apost. Pessoal
São João Maria Vianney)

A Igreja no Brasil realiza, entre os dias 1º e 7 de outubro, a Semana Nacional da Vida, cujo objetivo é celebrar a vida e a dignidade da pessoa humana, desde a sua concepção (fecundação) até à sua morte natural. Essa comemoração culmina no dia 8 com a celebração do Dia do Nascituro, para dar destaque à importância do nascituro como ser humano já concebido, que se encontra no ventre materno e goza do direito à vida, direito a ser respeitado na sua integridade e dignidade de ser humano, como a de qualquer pessoa já nascida. O tema da Semana da Vida deste ano é: Vida: Dom e Compromisso.  “Somos convidados a viver, cada dia dessa semana, com disposição interior de levarmos o Evangelho da Vida aos corações que precisam de cuidado e atenção”, motiva o bispo de Rio Grande (RS) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da CNBB, Dom Ricardo Hoepers.

Durante esses dias, devemos sensibilizar a sociedade para os valores da vida e da família: todas as dioceses estão convidadas a desenvolver atividades em favor da vida, como realizar orações habituais em cada comunidade cristã, em grupos e em família, promover encontros de casais, pais e filhos, namorados e noivos; visitar asilos, orfanatos e maternidades, etc, com o intuito de valorizar a vida humana, bem como a dignidade de todo ser humano, especialmente da mulher, dos idosos e das crianças. Agradeçamos ao Criador pelo dom da vida que nos deu, e renovemos o nosso compromisso de lutar pela vida de todos.

Diante da atual banalização da vida e de opiniões favoráveis ao aborto, defendido por inúmeras pessoas influentes, é importante lembrar que a Igreja compreende as situações difíceis que levam mães a abortar, mas, por uma questão de princípios, defende com firmeza a vida do nascituro: “É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um caráter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas essas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente” (S. João Paulo II, Evangelium Vitae n. 58).

E, usando da prerrogativa da infalibilidade, o mesmo Papa define: “Com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus sucessores, em comunhão com os Bispos – que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que… apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina – declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina, fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal” (EV, 62).

CNBB

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF