Translate

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

S. ABRAÃO, PATRIARCA

JW.org

Abraão, descendente direto de Sem - um dos três filhos de Noé, - viveu com seu pai Taré e toda a sua família em Ur dos Caldeus, uma cidade na Baixa Mesopotâmia, atual Iraque. A sua descoberta gradual de amizade com o único e verdadeiro Deus, - que deu início à história dos Patriarcas de Israel, ao longo dos séculos XIX a XVII a.C., - é narrada no livro do Gênesis.

Homem de fé

O idoso Taré deixou Ur, com seu filho Abraão, sua esposa Sara e seu neto Ló, filho do seu falecido irmão Aram, para se dirigir à Terra de Canaã. Chegando a Harã, estabeleceram-se ali por um longo tempo. Com a morte de Taré, que já tinha 205 anos, Deus irrompeu na vida de Abraão, chamando-o para uma missão misteriosa, à qual respondeu com imensa fé. Aos 75 anos, com sua mulher e seu neto, pôs-se novamente a caminho, levando consigo o gado e os criados, à maneira dos nômades, atravessando a Palestina, sem saber qual o destino que Deus lhe reservava. Em dado momento, Abraão e Ló se separaram: este último dirigiu-se para o Vale do Jordão, estabelecendo-se perto de Sodoma; Abraão permaneceu na Terra de Canaã, onde o Senhor interveio de novo.

Amizade com Deus

Alguns reis orientais começaram a invadir a Palestina: confiscaram os bens de Ló e o prenderam junto com sua esposa. Abraão conseguiu libertá-los e recuperar seus bens. Deus estava sempre com ele e lhe confirmou a promessa da sua grande descendência. Então Sara, esposa de Abraão, já idosa, cedeu a escrava Agar ao seu esposo, de cuja união nasceu Ismael. Assim, Abraão selou sua aliança com Deus, iniciando a prática da circuncisão, à qual se submeteram todos os homens da família. Deus apareceu novamente a Abraão, perto do carvalho de Mambré, na forma de três anjos, que lhe predisseram a maternidade de Sara, mas também a destruição das cidades pecaminosas de Sodoma e Gomorra. Somente Ló e sua esposa foram poupados; mas, desobedecendo a Deus, ela voltou-se para olhar o incêndio e se transformou em uma estátua de sal.

Pai de todos os que creem

Com o passar do tempo, Sara, finalmente, deu à luz a Isaac e fez com que Agar e Ismael saíssem de casa. Abraão ficou muito entristecido por isso, mas o Senhor prometeu uma grande descendência a ele e também a Ismael. Daí, aconteceu o momento mais dramático da vida de Abraão: o Senhor pediu-lhe para sacrificar seu filho Isaac, o filho que ele tanto tinha esperado e que o próprio Deus lhe havia enviado. No entanto, estando prestes a sacrificar Isaac, Abraão viu um anjo, enviado pelo Senhor, que lhe segurou a mão, poupando a vida de Isaac, por causa da incomensurável fé e obediência de Abraão. O Patriarca morreu com a idade de 175, na Terra de Canaã, enquanto os descendentes de Isaac e Ismael, foram, respectivamente, as estirpes de hebreus e árabes.

Vatican News

São Dionísio

ArqSP

O santo Dionísio, popularmente conhecido como o são Dênis de Paris, que é comemorado neste dia, foi durante muito tempo venerado como único padroeiro de França, até surgir santa Joana d'Arc para dividir com ele a grande devoção cristã do povo daquele país.

De origem italiana, ele era um jovem missionário enviado pelo papa Fabiano para evangelizar a antiga Gália do norte no ano 250, portanto no século III. Formou, então, a primeira comunidade católica em Lutécia, atual Paris, sendo eleito o seu primeiro bispo. Alguns anos depois, teria sofrido o martírio, sendo decapitado no local hoje conhecido como Montmartre, isto é, "Colina do Mártir". Ao lado do bispo Dênis, o sacerdote Rústico e o diácono Eleutério, seus companheiros, também testemunharam sua fé cristã.

Sobre o seu túmulo em Montmartre, mais tarde, foi edificada uma basílica, junto à qual, no ano 630, o rei Dagoberto fundou uma abadia. Até esses monges acabaram sofrendo com o efeito de uma enorme confusão que se fez entre este mártir e outros dois Dionísios: o Areopagita, discípulo de são Paulo, e o célebre escritor de Alexandria. Mas esses religiosos foram citados indevidamente.

A estranha e rebuscada confusão que se fez em torno da figura do santo bispo Dênis envolvia nitidamente essas três figuras distintas, que viveram em épocas diferentes, mas que foram unidas num único personagem, o santo celebrado hoje. Contava-se que o mártir original, ou seja, o bispo Dênis de Paris, foi enviado à Gália francesa pelo papa são Clemente I no fim do século I. Por isso ele começou a ser identificado com a figura de Dionísio Areopagita, discípulo do apóstolo Paulo, comemorado no dia 3 de outubro. Por isso, também, passou a ser confundido com um homônimo da Alexandria, autor de uma famosa coletânea de escritos místicos, que desde o século V vinha sendo erroneamente atribuída ao discípulo Areopagita.

Não bastasse toda essa confusão, são Dionísio, ou Dênis, segue sendo aclamado pela mais antiga tradição cristã francesa, que o venera como um mártir cefalóforo, ou seja, carregador de cabeça. E assim ele chegou aos nossos dias sendo o bispo mártir que havia carregado a própria cabeça decepada até o local onde deveria ser enterrado. No caso, a Abadia de Saint-Denis, em Paris, local onde, tradicionalmente, todos os reis da França foram enterrados.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PENITÊNCIA EM TERTULIANO

 

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá - PA

 Introdução

Tertuliano, padre da Igreja dos séculos II e III, dedicou uma obra sobre a Penitência, (De Paenitentia) no qual exortou aos cristãos, sobretudo os de sua comunidade, a de Cartago, para que a vivessem como mudança de vida, de volta para Deus, ao próximo como a si mesmo. Ele a definiu como uma aflição da alma, derivada por um desgosto de uma decisão precedente[1]. Ele percebeu que alguns pagãos até puderam fazer a penitência, sem saber o que se passava, mas eles fizeram em vista do bem e da misericórdia. Desse modo os cristãos deveriam fazê-la em vista de uma vida nova.

Escrita lá pelos anos 203, a obra é de uma altíssima importância na história da penitencia eclesiástica[2] pois coloca a realidade do catecumenato, pastoral da igreja antiga, na qual os adultos se aproximavam da comunidade, pediam ao sacerdote o batismo e a pessoa era preparada para receber o banho batismal, a crisma e a eucaristia. Tertuliano deu nesta obra a importância da penitência em vista do perdão dos pecados e da conversão de vida.

A verdadeira penitência

Tertuliano colocou a consistência da verdadeira penitência, que é aquela de estar unida a Deus, de se aproximar dele, de afastar-se do pecado e buscar a conversão. Por isso é importante temer a Deus de modo que isto acarretasse a conversão de vida. A penitência não pode se tornar vã, mas deve levar ao fruto na qual Deus a recomendou aos seres humanos, a sua salvação. Deus após a expulsão de o primeiro ser humano do paraíso, após muito tempo, manifestou a sua misericórdia e consagrou a penitência na sua pessoa, possibilitando ao ser humano o perdão de seus pecados, à sua obra e à sua imagem. Ele tinha o povo de Israel no qual o favoreceu com múltiplos benefícios da sua bondade, e mesmo encontrando-o extremamente ingrato, o exortou à penitência tendo como pregadores a boca de todos os profetas[3].

Com a presença do Precursor, ordenou que fosse prescrito um batismo de conversão, sob o sinal da penitência para que as pessoas pudessem viver na graça do Senhor. Não calou de fato João em afirmar a importância da penitência porque se apressava aos povos da salvação, porque o Senhor a fez segundo a promessa de Deus. Todos os bens são resumidos numa única palavra: a salvação do ser humano com o prévio cancelamento dos pecados precedentes. Aquilo que proporciona alegre algumas ações ao ser humano torna um serviço a Deus. As pessoas são convidadas a fazer boas ações e bons pensamentos[4].

Deus, em Jesus Cristo, admite as ações boas porque lhes pertencem, não as condenando. E sendo o seu autor, é também o seu defensor e o seu remunerador. Toda a ação boa tem como devedor o próprio Deus, porque Ele as inspira às pessoas. Deste modo é fundamental a realização da penitencia em todas as ações, em vista de ter diante de Deus, o perdão dos pecados em Jesus Cristo e com a sua igreja.

O que é o pecado?

Tertuliano teve uma importante definição do pecado, aquilo que Deus proíbe[5]. Sendo Ele o Sumo Bem, nada pode desagradá-lo senão o mal, pelo fato de que não pode haver alguma concordância entre coisas contrárias. Pela caída do pecado do ser humano, é preciso a realização da penitência para obter o perdão dos pecados aos seres humanos, por parte de Deus. É preciso evitar os pecados para assim viver bem o dia a dia. É preciso que a vontade seja forte para não cair no pecado. O fato é que o pecado tem origem na vontade, tendo ali a sua origem. É o próprio Senhor que fala do pecado do interior da pessoa quando uma pessoa olha para uma mulher e cobiçando-a no seu coração, já cometeu adultério em si[6]. Por isso é importante alimentar a boa vontade com as coisas de Deus, de vida para assim superar o mal na qual a pessoa não quer realizá-lo[7]. O que importa é o bem e a superação do mal através da atitude da penitência.

Os benefícios da penitência

Tertuliano percebeu benefícios que a penitência traz à vida cristã. Ele a viu como graça do Senhor Deus sendo uma atitude de conversão na qual pede para os seus discípulos e discípulas, sendo que a penitência levará a salvação. O Senhor prefere a penitencia que a morte do pecador, de modo que a penitência é vida e se antepõe a morte[8]. Ele a aconselha para que seja assumida na vida das pessoas e pela acolhida na existência humana ela levantará a pessoa e conduzirá o penitente ao porto da divina clemência. É preciso ser uma arvore nova, que pela penitência trará frutos novos à vida da Igreja e no mundo. Pela penitencia a pessoa se volta para Deus e vai amar o que Ele ama, vivendo uma vida diferente, aberta ao designo de Deus.

Por isso a penitencia traz benefícios enormes à vida nos seguidores de Cristo. O fato é que aquilo que Deus ordena é bom e ótimo. A pessoa não só deve obedecer porque o preceito é bom, mas porque Deus o ordena para todos. É o próprio Deus quem o ordena para fazer penitência de modo que a pessoa possa perseverar nos seus frutos e nos seus bons efeitos[9].

A penitência relacionada com o batismo

Tertuliano falou da penitência que precedia o batismo, aos catecúmenos, no sentido de que a pessoa era convidada a não mais cair no pecado[10]. Como não havia ainda a confissão individual a pessoa era convidada a manifestar o pecado de uma forma pública, sobretudo para os pecados de apostasia, homicídio e adultério. Tertuliano aprofundou esta penitência no sentido de que o pecador ou a pecadora antes do batismo, e de outros sacramentos, não voltassem a cair nesses pecados, fazendo a penitência. Uma vez que se conheceu o mandamento da lei do Senhor, o autor africano solicitava aos catecúmenos para que não caíssem nos pecados. O pecado não é só rebelião à vontade de Deus, mas é também ingratidão para a sua bondade, sendo uma espécie de recusa ao seu benefício. Como poderia agradar a Deus alguma pessoa que recusaria o seu dom?[11]. Deste modo é preciso fazer a penitência para temer a Deus, a sua fé nele[12], agradar aos seus mandamentos e fugir da tendência do pecado, tendo uma vida normal na família, na comunidade e na sociedade. A pessoa torna-se, pela penitência, mais devota ao Senhor, pelo fato de que ela aspira à salvação, procurando ganhar o favor de Deus[13], pois com a penitência há o perdão dos pecados. Quanto seria injusto não atender ao pedido da comunidade eclesial e do Senhor em vista do perdão dos pecados em vista do bem e da vida eterna[14], promessas dadas pelo Senhor.

Tertuliano convidou os catecúmenos para que entrassem na água, para assim receber o perdão dos pecados. Para isso deveriam fazer o esforço para receber bem os sacramentos, não se tratando de qualquer água, mas da água batismal em vista do perdão dos pecados[15]. Com o Senhor e com a sua igreja, pela penitência deve-se construir a casa sobre a rocha e não sobre a arreia destinada a cair[16]. Uma vez que se conheceu o Senhor, a pessoa é chamada a viver os seus mandamentos na vida cotidiana e na comunidade. O banho batismal confere a pessoa o selo da fé, porque dá a purificação dos pecados, como resultado de uma sincera penitência[17]. Os ouvintes receberão o batismo com fé, sendo este sacramento graça e não o será acolhido por presunção, porque seria um ato de soberba.

Desta forma Tertuliano propôs a penitência como forma de conversão de vida para seguir o caminho do Senhor e viver melhor em cada dia em unidade com Deus, com o próximo e consigo mesmo. A penitência aludiu à vida nova com Deus e com as pessoas humanas.

[1] Cfr. Tertulliano, La Penitenza. Texto critico de CCL 1. Introduzione, Traduzione, Note e Appendice, Attilio Carpin. Edizioni San Clemente, Edzioni Studio Domenicano, Bologna, 2011, pg. 89.

[2] Cfr. Johannes Quasten, Patrologia. I primi due secoli (II -III). Marietti, Casale, 1980, pg. 539.

[3] Cfr. Tertulliano, La Penitenza1, 5, pg. 97.

[4] Cfr. Idem, 2,8, pg. 99.

[5] Cfr. Idem, 3,1, pg. 103.

[6] Cfr. Mt 5,28.

[7] Cfr. Idem, 3,16, pg. 109.

[8] Cfr. Idem, 4,2, pg. 111.

[9] Cfr. Idem, 4,8, pg. 115.

[10] Cfr. Idem, 5,1, pg. 115.

[11] Cfr. Idem, 5,5-6, pg. 117.

[12] Cfr. Idem, 5,9, pg. 119.

[13] Cfr. Idem, 6, 1, pg. 123.

[14] Cfr. Idem, 6,6, pg. 125.

[15] Cfr. Idem, 6,10, pg. 127.

[16] Cfr. Mt 7,24-27; Idem, 6, 13, pg. 129.

[17] Cfr. Idem, 6,16, pgs. 130-131.

CNBB

EVANGELIZAR: MISSÃO PERMANENTE DA IGREJA

O Evangelho de Deus

Já paramos para pensar em quanto as más notícias correm rápido e quantas vezes nós, os cristãos, colaboramos para a sua difusão? Nesse nosso mundo onde parece que somente há espaço para as más notícias, nós somos chamados a anunciar boas notícias, boas novas, a alegria do Evangelho e os sinais do amor e da misericórdia de Jesus Cristo. E era essa a inquietação que levava São Paulo a afirmar: “Ai de mim, se eu não evangelizar”. (1 Cor 9, 16). Evangelizar, anunciar o Evangelho com renovado ardor e entusiasmo é, em suma, o que Deus espera de nós, pois “evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar”. (Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, nº 14).

Nesses dias de pandemia, de dificuldades e de noites escuras, Deus nos desafia a evangelizar, com sabedoria, utilizando os meios que temos ao nosso alcance. Nesse contexto, mais do que nunca, a internet se tornou o bom terreno onde os cristãos podem lançar a semente do Evangelho com o intuito de ver florescer uma nova seara, uma floração de santidade. Nesses nossos dias, não podemos nos esquecer de que “o empenho em anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo, animados pela esperança, mas ao mesmo tempo torturados muitas vezes pelo medo e pela angústia, é, sem dúvida alguma, um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade”. (Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, nº 1).

Esses tempos difíceis nos desafiam a crescer na fé com a consciência de que Deus conta conosco para alcançar os corações das pessoas que estão afastadas d’Ele e da Santa Igreja e, por isso, quando abraçamos o serviço missionário, nós professamos a convicção de que evangelizar o mundo não é uma utopia, mas, sim, uma grande tarefa que se nos impõe, pois a nossa vida já não se apresenta apenas como um dom, pois tornou-se empenho. Desse modo, a nossa atitude não se reduz a esperar tudo pronto do Papa, dos Bispos e dos sacerdotes. Também nós temos que fazer um esforço, um grande esforço, a fim de que possamos participar da obra de evangelização da Igreja sem medo e com muita esperança.

No início dessa pandemia, nós refletimos: Como vou realizar o serviço missionário com segurança e coragem? Naqueles momentos, ouvimos a voz do Espírito Santo, sussurrando em nossos ouvidos: “Você não está sozinho, Deus, a Virgem Santa Maria e a Igreja estão ao seu lado”. Os meses foram se passando rapidamente e o tempo foi exigindo de nós iniciativas e empreitadas de serviço catequético e missionário. Hoje, nesse início do mês de outubro, é muito bom poder olhar para trás e perceber que as limitações advindas da pandemia não diminuíram o nosso ardor missionário, pois em nossas almas continuou viva  a certeza de que inúmeras pessoas que estão afastadas de Deus dependem de nossos esforços missionários para que, de alguma forma, sejam alcançadas pela mensagem de salvação que Cristo nos oferece em Sua infinita caridade.

Evangelizar é a missão permanente da Igreja, é um serviço que não possui pausas ou descansos, pois ainda existe um grande contingente de pessoas que desconhecem o verdadeiro e único Deus, e, por isso, Cristo também nos envia: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura”. (Mc 16,15). Ide, denunciai os erros provenientes do hedonismo, do consumismo e do materialismo. Ide, anunciai com vossa vida, o plano de amor de Deus acerca da família e do matrimônio.  Ide, superai os falsos deuses e as ilusões niilistas. Ide e ensinai que a salvação é a vitória do bem sobre o mal, realizada no ser humano, em todas as dimensões da vida. Ide e anunciai que a própria superação do pecado e do mal já tem um caráter salvífico.

“Duc in Altum!”. Lançai as redes em águas mais profundas – é o desafio missionário que o Cristo nos faz no cotidiano da fé. Alicerçados no Espírito Santo, nós devemos seguir em frente, mesmo em meio aos riscos de uma pandemia, pois o novo coronavírus pode matar o corpo, mas o pecado e a ausência de Deus causam um dano muito maior ao ser humano matando a alma, a possibilidade de salvação, negando um destino eterno e feliz.

Não obstante as sombras da morte que estão bem próximas de nós, sigamos em frente, pois há um imenso campo onde podemos realizar um fecundo apostolado. Em nossas famílias, no ambiente de trabalho, ou entre os amigos, existem inúmeras pessoas sedentas em ouvir falar de Deus. Nesses lugares é missão nossa comunicar, transmitir o Cristo inteiro com Suas exigências e compromissos. Por conseguinte, com criatividade e inovação, nós devemos criar oportunidades para “proclamar a Palavra, insistir oportuna e inoportunamente, repreender, admoestar, exortar com toda a paciência e pedagogia.” (2Tm 4,2).

Insisto: há muitos que desconhecem o Bom Pastor e são ovelhas desgarradas do rebanho e ainda não foram alvos de um trabalho apostólico, e assim, como o eunuco etíope, nos questiona: “Como vou entender, se ninguém me explica?” (At 8,31). Deve ressoar fundo em nossos corações o brado daqueles que desconhecem o Amor de Deus. “E como crerão, se não ouviram falar d’Ele? Como ouvirão, se ninguém lhes anuncia?” (Rm 10, 14-15).

Esse clamor deve ressoar em nossos corações como ressoou no coração de São Francisco Xavier, que durante dez anos se empenhou na evangelização da Índia e do Japão e morreu em 1.552, quando estava a caminho da China, onde iniciaria um novo trabalho missionário. Ressoou também no coração de Santa Teresa de Lisieux, que sem nunca sair de seu convento, soube converter suas dores e sofrimentos em orações, sacrifícios e renúncias em prol do trabalho missionário. O terceiro milênio da era cristã, este ano de 2020 e os anos vindouros precisam, necessitam com extrema urgência de novos Franciscos Xavier e de novas Teresas de Lisieux. Precisam, enfim, de pessoas disponíveis, de novos discípulos missionários de Jesus que queiram realizar a sublime missão de salvação de almas.

Hoje, existem novos desafios, novos areópagos e novas realidades, mas existe em uma proporção infinitamente maior o auxílio de Deus Espírito Santo que nos cumula de graças e bênçãos. “Não temais” (Mt28,5) e ide, pois o mundo precisa de sua fidelidade e do seu testemunho.

O filósofo Dostoievski nos diz que “o segredo da existência humana consiste em não apenas em viver, mas também em encontrar um motivo para viver”. E faz parte do trabalho missionário demonstrar o Caminho, a Verdade e a Vida, transmitir a alegria de conviver com Deus, testemunhar o entusiasmo em participar dos sacramentos e da Igreja de Cristo, demonstrando assim, “as razões da nossa fé.” (1Pd 3,15).

Na obra missionária da Igreja há espaço para todos. Crianças, jovens, adultos e idosos; todos são bem vindos e, por isso, devemos ocupar, com gratidão e entusiasmo, o nosso lugar no projeto de Deus em prol da obra missionária, a fim de que possamos cumprir o grato dever de anunciar o amor e a misericórdia de Cristo.

A melhor maneira de agradecermos a Deus a presença de uma pessoa em nossas vidas que nos falou d’Ele e nos cativou para a fé é darmos continuidade a esse serviço de evangelização, buscando sempre os meios necessários para lançarmos a boa semente da santidade nos corações dos nossos coetâneos.

Senhor, podeis contar conosco; somos fracos e limitados, mas confiamos na ação do Espírito Santo. Senhor, sabemos que o mundo precisa de Vós, do Vosso sorriso, do Vosso acolhimento e do Vosso amor. Senhor, eis-nos aqui, enviai-nos, pois queremos lançar as nossas redes em águas mais profundas, queremos ser o sal da terra e a luz do mundo e queremos contemplar, ao Vosso lado, os milagres e os frutos da pesca, alegrando-nos Convosco, o primeiro e o maior dos evangelizadores. Senhor, enviai-nos, pois queremos ser Vossos discípulos missionários, portadores de Boas Notícias, comunicadores da verdade e do bem, construtores de um novo mundo, testemunhas credíveis da santidade, da graça divina e da paz.

Aloísio Parreiras

(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

Por que o Papa Francisco é um forte candidato ao Prêmio Nobel da Paz

Antoine Mekary | ALETEIA
por I. Media

O pontífice nunca buscou receber esse reconhecimento. Porém, as ações do seu pontificado naturalmente o tornam um forte candidato.

Todos os anos O Papa Francisco é cotado para o Prêmio Nobel da Paz. Isso porque, desde sua eleição em 2013, o pontífice argentino tem feito muitos gestos pela paz e justiça no mundo.

Fratelli Tutti, sua última encíclica, por exemplo, representa um vibrante apelo à fraternidade humana e à amizade social. E pode, certamente, servir para o avanço de sua causa.

O Prêmio Nobel da Paz 2020

Criado em 1901, o Prêmio Nobel da Paz de 2020 será concedido em 9 de outubro “àquele que fez um bom trabalho pela fraternidade entre as nações e pela disseminação da paz”, resume o fundador, Alfred Nobel.

A ação incansável de Francisco para acabar com os conflitos no mundo, abolir a escravidão, a pena de morte e o uso de armas nucleares poderiam tornar o pontífice um candidato legítimo ao prêmio deste ano. Fora isso, ainda podemos citar como exemplos que vão ao encontro do objetivo do Nobel o trabalho do Santo Padre junto aos imigrantes e seus gestos de amizade com os líderes muçulmanos.

Outras iniciativas pela paz

Uma das primeiras iniciativas históricas do Papa Francisco foi, sem dúvida, a organização do encontro inter-religioso de oração. O evento colocou lado a lado os presidentes israelense e palestino nos jardins do Vaticano em 8 de junho de 2014. Alguns meses antes, porém, ele já havia convidado os cristãos a rezar pela paz no Oriente Médio. Na opinião de alguns bispos orientais, essa iniciativa impediu uma intervenção militar na Síria naquela época.

Outro grande exemplo: o Papa Francisco e a diplomacia do Vaticano também trabalharam para resolver ou aliviar uma série de crises. Entre as ações está o restabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos em dezembro de 2014.

De fato, em alguns casos o bispo de Roma não hesitou em se envolver pessoalmente nas questões. Foi o que aconteceu, por exemplo, em abril de 2019, quando  Francisco beijou os pés do presidente sul-sudanês Salva Kiir, um católico, e de seu oponente Riek Machar, um presbiteriano. O gesto, sem dúvida, exortou os líderes a encontrar o caminho da paz.

Contra o uso de armas nucleares

Outro argumento a favor do Sucessor de São Pedro são suas repetidas condenações ao uso de armas nucleares. Por ocasião de sua viagem ao Japão em novembro de 2019, o Papa declarou o uso dessas armas “imoral”. Em setembro de 2020, em uma mensagem de vídeo enviada à Assembleia Geral da ONU, ele afirmou que era necessário desmontar “a lógica perversa que vincula a segurança pessoal e nacional à posse de armas”.

Já Na Fratelli Tutti, seu pensamento fica perfeitamente claro. Diz Francisco: “o objetivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se um desafio e um imperativo moral e humanitário”.

Respeito aos imigrantes

O Papa Francisco também se destacou por defender e acolher aos migrantes. Em julho de 2013, algumas semanas após sua eleição, ele fez sua primeira viagem fora de Roma para a pequena ilha de Lampedusa no sul da Itália, onde denunciou a “globalização da indiferença”. Desde então, o Vigário de Cristo não parou de renovar os seus apelos para que o mundo respeite a dignidade dos refugiados.

De forma parecida, em setembro de 2015, em meio à crise migratória, ele pediu que “cada paróquia,  comunidade religiosa,  mosteiro, ou santuário na Europa acolhesse uma família” de refugiados.

Na verdade, sua encíclica mais recente traz um novo desafio. Falando diretamente à Europa, Francisco declarou que o continente meios para assegurar assistência aos imigrantes e aceitá-los.

Denúncia da escravidão moderna

Outra campanha do Sumo Pontífice, por exemplo, é a luta contra a escravidão e o tráfico de pessoas. Em 2014, o Papa Francisco assinou uma declaração dizendo o tráfico de pessoas, o trabalho forçado, o comércio de órgãos e a prostituição são crimes contra a humanidade.

Depois disso, na Fratelli Tutti, o Pontífice se pergunta por que demorou “tanto tempo para a Igreja condenar inequivocamente a escravidão e as várias formas de violência”

Não à pena de morte

Para Francisco, a pena de morte é “inadmissível, porque fere a inviolabilidade e a dignidade da pessoa”. Em relação a este assunto, o pontífice argentino também lembrou que hoje todos os Estados podem encontrar outros meios eficazes para colocar um criminoso fora de ação.

Paz entre as religiões

O Papa Francisco também é conhecido por sua ação a favor da paz entre as religiões. Para ele, a violência não tem fundamento na religião e a vocação de todos os fiéis é “culto a Deus e amor ao próximo”. É o que ele enfatiza na Fratelli Tutti.

Em fevereiro de 2019, durante sua viagem a Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), o chefe da Igreja Católica assinou – junto com Ahmad Al-Tayyeb, o grande Imam de Al-Azhar – um histórico “Documento sobre a Fraternidade Humana pela paz mundial”. Foi, portanto, um gesto poderoso em uma década marcada pelo terrorismo islâmico.

O Papa Francisco não busca prêmios

Enfim, as causas lideradas pelo Papa Francisco e sua equipe diplomática do Vaticano naturalmente o tornam um potencial candidato ao Prêmio Nobel.

No entanto, a decisão de conceder este prêmio ao chefe da Igreja Católica não deixaria de ser criticada. Sobre este assunto, o Papa varreu a questão de lado em julho de 2014, dizendo que receber esse reconhecimento algum dia não fazia parte de sua agenda. “Sem menosprezar, nunca quis receber doutorado ou prêmio”, explicou na época.

Aleteia

MARIOLOGIA: MYSTERIUM LUNAE - A lua radiante (Parte 4/4)

A Imaculada Conceição, Jusepe de Ribera,
Museu de Arte de Columbia, Columbia
(Carolina do Sul, EUA)

A Igreja é comparada à lua porque brilha não com sua própria luz, mas com a de Cristo. Fulget Ecclesia non sua sed Christi lumine , escreve Santo Ambrósio.

por Lorenzo Cappelletti

Mas a regeneração batismal é apenas o começo: a meta do mistério da Igreja é a ressurreição do corpo. Em outras palavras, o mistério da Igreja visível e terrestre é de ordem escatológica. Sua realidade terrena só pode ser verdadeiramente percebida olhando para seu objetivo final. "O permanere cum sole final para Agostinho é a essência da esperança cristã" ( Simboli , p. 269).
Bem, também por esta verdade os Padres se basearam nas imagens oferecidas pela lua. Eles primeiro se opõem às crenças e superstições grosseiras que foram tecidas em torno da lua, mas ao mesmo tempo eles se aproveitam delas para comunicar a esperança de realização.
Na verdade, Selene na cosmologia antiga era a estrela que marcava a fronteira entre as regiões da terra e as do céu. Tudo acima dele era considerado sagrado e imutável, mas tudo abaixo dele parecia dominado pelo destino, marcado pela corrupção e mutabilidade, tanto que os pagãos temiam que em eclipses a própria lua pudesse ser apanhados em uma escuridão definitiva. E contamos com amuletos e magos para encontrar alguma segurança, para nos libertarmos dos demônios e do destino.
O anúncio cristão é que no batismo já começamos a viver como "acima da lua" e não apenas com a alma. A providência de Cristo toma o lugar do destino sublunar. “O vidente de Patmos já havia ensinado a considerar a Igreja como a grande mulher que está na lua, acima de toda a mutabilidade, a corruptibilidade terrena, a lei do destino, acima do reino do espírito deste mundo” (Símbolos , p. 278). E isto precisamente porque a mulher, que é ao mesmo tempo Maria e a Igreja, "está vestida com o sol, o sol da justiça que é Cristo", escreve Agostinho no Comentário sobre o Salmo 142, 3 (ver. Mitos, p. 184). “A Igreja está isenta de todo poder demoníaco na medida em que participa no mistério da imutabilidade de Cristo. “Encantadores onde o cântico de Cristo é cantado todos os dias não surtem efeito” (Ambrósio, Exameron 4, 8, 33). De fato, como o próprio Ambrósio diz com uma expressão um tanto ousada, a Igreja, a Selene espiritual, “tem seu Senhor Jesus como seu encantador” ”( Simboli , p. 281). A Igreja subsiste e resiste apenas por causa da "atração de Jesus", dir-se-ia com palavras ambrosianas mais recentes.
Mas em segundo lugar - e assim voltamos às palavras do Arcebispo Montini com as quais abrimos o artigo - "a extinção e renovação da lua é" também para os homens simples uma figura clara da Igreja, na qual se acredita na ressurreição de morto ". A mudança contínua da lua representa muito bem a natureza mortal de nosso corpo "( Simboli , p. 284). O cumprimento não pertence à terra, também nós, juntamente com toda a criação, aguardamos a redenção definitiva do nosso corpo. «A Igreja pôde assim dirigir o olhar dos seus fiéis para o reino bendito do mundo além, onde apenas brilha o fogo etéreo de Cristo» ( Simboli , p. 285).
Como você pode ver, muitas sugestões vêm demysterium lunae , para compreender qual é a natureza própria da Igreja e, portanto, a ação que lhe convém. A Igreja não pode pretender ser o objetivo último do olhar dos homens. Na verdade, a luz que a Igreja irradia não é dela e a água que a Igreja continua a dispensar vem de cima. A imagem do sol nunca pode ser atribuída à Igreja e sua autoridade, embora em alguns momentos de sua história tenha ocorrido essa perigosa mudança (ver o recente volume de 2005 de Glauco Maria Cantarella, Il sole e la luna. revolução do Papa Gregório VII ).
No Angelus do dia 4 de outubro de 2009, Bento XVI, referindo-se à segunda Assembleia sinodal para a África que acaba de ser inaugurada, disse com a sua habitual simplicidade inequívoca: “Esta não é uma conferência de estudos, nem uma assembleia programática. Ouvimos relatos e intervenções em sala de aula, discutimos em grupos, mas todos sabemos bem que os protagonistas não somos nós: é o Senhor, o seu Espírito Santo, que guia a Igreja ».

Revista 30Dias

A forma do batismo: somente por imersão? (Parte 6/12) – Respondendo a três objeções

Veritatis Splendor

RESPONDENDO A TRÊS OBJEÇÕES

Objeção 1: Quando perguntamos aos nossos amigos imersionistas onde Jesus manda batizar por imersão, eles citam Mateus 28,19. Mas Jesus mandou fazê-lo apenas por essa forma?

Declaração “geral” da Grande Comissão: se “baptizo” é uma palavra que denota uma forma determinada, então somente essa forma determinada, por si só, pode satisfazer o mandamento “Ide portanto e fazei discípulos em todas as nações, batizando-os…”. Por outro lado, se este é um termo que possui sentido mais geral do que determinado, então a questão da forma não afeta a substância do mandamento de maneira nenhuma; deixa-se, portanto, às pessoas afetadas a escolha de qual forma é correta, tendo como base outras considerações das Escrituras.

A Grande Comissão é a única passagem onde Jesus manda administrar o batismo. Nela se encontram 4 verbos, um dos quais é “batizando”. Pois bem: se esta é uma palavra específica, mais do que uma palavra de sentido geral, então o significado exato é fácil de se compreender; contudo, ao lermos o texto e o contexto, percerbemos que o sentido desta [palavra] é geral e não particular.

Com efeito, realmente a palavra “batizando” expressa a ideia geral, digamos, de limpeza interior e de união com Deus, como é significada pelo uso ritual da água; a forma só tem importância geral. Isto permaneceria sendo certo se não houvesse outras instruções relativas a uma forma específica. O ponto é, simplesmente, de que se a ideia geral encontra-se fielmente representada pela imersão, infusão ou asperesão, dever-se-á decidir sobre outras bases diferentes das do significado literal da palavra “baptizo”. E já que a História da Igreja primitiva apresenta as três formas acima, resta sugerido que o significado essencial não é exclusivo de nenhum sistema em particular.

Fazendo um exame, verificamos que os quatro verbos empregados na Grande Comissão são gerais e não particulares:

  • “Ide”: não mostra como alguém deve ir (pode ser caminhando, navegando, cavalgando etc.).
  • “Fazei discípulos”: não especifica como (pode ser pela pregação, por instrução pública ou particular, ou o que seja).
  • “Ensinando”: não diz se deve ser por palavra oral ou escrita.

E agora, o verbo que mais nos interessa:

  • “Batizando”: é igualmente genérico, pois não indica se deve ser por imersão, infusão ou aspersão. Então, chegamos à única conclusão, por esta também única instrução de Nosso Senhor, que o seu mandamento não se refere a uma forma em especial.

Objeção 2: Romanos 6,2-4 não fala sobre a forma de batismo?

Não, irmãos. Como dissemos no início e como já vimos, a Bíblia não dá uma ordem de que forma devemos batizar, e a Carta aos Romanos de nenhuma maneira específica traz a forma que devemos fazê-lo. O que São Paulo diz aqui é de como, pelo batismo, participamos da morte e ressurreição de Cristo; de como morremos para o pecado e nascemos em Cristo. Disso trata todo o capítulo e a palavra “água” nem sequer é mencionada neste capítulo.

Vejamos:

  • “Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida. (…) Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos; (…) Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos certamente mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 6,2-4.8.10-11).

Como podemos ver, São Paulo explica mediante uma fina análise do significado místico do batismo. São versículos de uma riqueza teológica extraordinária, que nos levam até a própria raiz da nossa vida sobrenatural através de nossa inserção em Cristo. Ao falar do batismo em Cristo Jesus, São Paulo está apontando para o Sacramento, aquele que Jesus Cristo instituiu como porta de ingresso na Igreja e, assim, para uma nova vida (cf. Mateus 28,19; João 3,5).

A ideia fundamental que São Paulo desenvolve aqui é a de que o homem, uma vez obtida a justificação, rompeu totalmente com o pecado.

O capítulo 6 começa com uma pergunta e segue respondende a essa pergunta em específico. Não se deve enfatizar muito a pergunta, que nada tem a ver com o batismo! A pergunta se refere ao âmago da santificação: perseveraremos no pecado para que a graça cresça?

Em resposta, Paulo diz que o fiel está em união com o Cristo vivo, totalmente identificado com Ele em sua morte e ressurreição. Visto que o todo inclui todas as suas partes, tão completa identificação com Cristo necessariamente inclui a identificação com a sua morte para o pecado e sua ressurreição vitoriosa para a vida. Estas são duas partes essenciais da total identificação. Logicamente então um fiel que está totalmente identificado com Cristo não deve permanecer no pecado, violando esta união e podendo perder essa identificação.

Recordemos que os primeiro oito capítulos de Romanos são um discurso teológico e não diz absolutamente nada sobre assuntos práticos, como a administração da Igreja, os Sacramentos e sua administração ou outras formas particulares de culto. Romanos se limita às realidades espirituais, das quais os Sacramentos não são senão sinais e selos visíveis. O batismo espiritual encontra-se primordialmente à vista no capítulo 6, não o batismo com água.

O mesmo se dá na Carta aos Colossenses: tampouco se refere à forma de como devemos batizar; aqui fala de como somos ressuscitados pela fé na ação de Deus pelo batismo. Porém, igualmente, não menciona a palavra “água”, assim como também não fala da forma do batismo na água, mas do nosso nascimento em Cristo:

  • “No qual também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do corpo dos pecados da carne, pela circuncisão de Cristo; sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Colossenses 2,11-12).

Tanto Romanos 6,2-4 quanto Colossenses 2,11-12 falam do simbolismo da palavra “batismo”, de morrer em Cristo e nascer em Cristo, participando da sua morte e ressurreição.

Provavelmente o batismo por imersão seja bastante rico pelo simbolismo que carrega, mas igualmente o batismo por infusão, pois como vimos anteriormente, Cristo sofreu “derramando” o seu sangue em sacrifício por nós e Ele mesmo diz que isso é um batismo (cf. Marcos 10,38; v.tb. Lucas 12,50).

Sobre o simbolismo da palavra “batismo”, o Catecismo da Igreja Católica explica:

  • “1214. Ele é denominado Batismo com base no rito central pelo qual é realizado: batizar (“baptizem”, em grego) significa ‘mergulhar’, ‘imergir’; o ‘mergulho’ na água simboliza o sepultamento do catecúmeno na morte de Cristo, da qual com Ele ressuscita (cf. Romanos 6,3-4; Colossenses 2,12) como ‘nova criatura’ (cf. 2Coríntios 5,17; Gálatas 6,15)”.
  • “1220. Se a água de fonte simboliza a vida, a água do mar é um símbolo da morte, razão pela qual o mar podia prefigurar o mistério da cruz. Por este simbolismo, o Batismo significa a comunhão com a morte de Cristo”.

Desse modo, por esse simbolismo o batismo significa a comunhão com a morte de Cristo e a água é somente um símbolo, pois o que realmente nos limpa é o Espírito Santo.

Passemos para a próxima objeção…

Objeção 3: Muita água?

Os amigos imersionistas usam o texto de João 3,23 para afirmar que a forma de batismo tem que sera apenas por imersão, porque o texto fala de “muitas águas”:

  • “Ora, João batizava também em Enom, junto a Salim, porque havia ali muitas águas; e vinham ali, e eram batizados” (João 3,23).

A palavra Enom procede, provavelmente, do aramaico, significando “mananciais” ou “fontes”. [Algumas versões traduzem a expressão] “muitas águas” como “muita água”, mas está literalmente no plural [e deve assim ser] interpretada. De fato, esta é a tradução que se dá para a mesma expressão em Apocalipse 1,15 e 19,6. Não há [grande] volume de água em Enom e nunca houve, mas, tal como implica o nome, havia e há [vários] mananciais próximos de Salim, a poucos quilometros ao sudoeste de Betânia.

Pois bem: nossos amigos imersionistas interpretam que, como havia “muita água” ali, [os batismos se davam] por imersão. Devemos então imaginar que se houvesse “pouca água”, se dariam por infusão [ou aspersão]?

Na verdade, nossos amigos imersionistas se esquecem que João também batizava em lugares onde havia “pouca água”:

  • “Apareceu João batizando no deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão dos pecados” (Marcos 1,4).

No deserto! Onde a água é bem escassa! Deste modo, poderíamos dizer que aí o batismo somente poderia ser administrado por infusão ou aspersão, já que não havia água suficiente para fazê-lo por imersão (ademais, como vimos anteriormente, João era judeu, filho do sacerdote Zacarias, e possuía essa herança milenar de lavar por aspersão).

Vemos a mesma coisa no caso em que Felipe batizou o eunuco, pois o fez num lugar onde havia pouca água, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza, que é um deserto:

  • “E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: ‘Levanta-te, e vai para o lado do sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que é deserto'” (Atos 8,26).

Mas resta curioso que a passagem (Atos 8,36-39) de Felipe e o eunuco seja empregada pelos nossos amigos imersionistas para demonstrar o batismo por imersão…

Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF