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sábado, 10 de outubro de 2020

Alegria no Céu! Carlo Acutis já é Beato e sua memória será lembrada no 12 de outubro

Tumba de Carlo Acutis. Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

ASSIS, 10 out. 20 / 11:59 am (ACI).- Carlo Acutis já é beato. O jovem italiano falecido em 2006 devido a uma fulminante leucemia quando tinha 15 anos e conhecido como o “ciberapóstol da Eucaristia”, foi proclamado beato pelo Cardeal Agostino Vallini, Legado Pontifício para as basílicas de São Francisco e Santa María dos Anjos, em uma cerimônia celebrada na Basílica de São Francisco de Assis este sábado 10 de outubro.

Ao dar começo o rito de beatificação, o Cardeal Vallini leu em latim a Carta Apostólica com a fórmula de beatificação: “Nós, acolhendo o desejo de nosso irmão Domenico Sorrentino, Arcebispo-Bispo de Assis Nocera Umbra-Gualdo Tadino, de muitos outros irmãos no episcopado e de muitos fiéis, depois de ter obtido a autorização da Congregação para as Causas dos Santos, com nossa autoridade apostólica concedemos que o Venerável Servo de Deus, Carlo Acutis, leigo, que, com o entusiasmo da juventude cultivou a amizade com o Senhor Jesus pondo a Eucaristia e o testemunho da caridade no centro de sua vida, a partir de agora em adiante seja chamado Beato e que cada ano se celebre nos lugares e segundo as regras estabelecidas pelo direito, o 12 de outubro, dia de seu nascimento para o céu. Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém”.

Em seguida foi revelado o retrato oficial do novo Beato e uma relíquia sua foi levada pelos seus pais até o altar, onde se adornou com velas e flores.

Enquanto se procedia à veneração, o coro e a assembleia entoaram o hino dedicado ao Beato Carlo Acutis:

“A Igreja de Cristo saúda festejando seu jovem filho. OH, Carlo beato! O Coração de Cristo procura com zelo dentro da Igreja. Oh, Carlo beato!”.

Depois de uns instantes de intensa veneração da relíquia, o Cardeal procedeu com a cerimônia.

A cerimônia ainda decorre em Assis e pode ser acompanhada através do nosso Facebook: https://www.facebook.com/acidigital/videos/357015519078309

ACI Digital

Catedral armênia severamente danificada em conflito com o Azerbaijão

DAVIT GHAHRAMANYAN/AFP/East News
por John Burger

Novas hostilidades, que tiraram mais de 300 vidas, envolvem agora locais religiosos.

Fotos

A Igreja Armênia culpou os militares azerbaijanos pelo bombardeio de uma catedral histórica no disputado território de Nagorno-Karabakh.

Em sua página do Facebook, a Igreja, com sede em Etchmiadzin, Armênia, postou fotos da Catedral do Santo Salvador fortemente danificada na cidade de Shushi.


A Igreja na Armênia divulgou um comunicado lamentando os fatos. De fato, considera o bombardeio um ato de “intolerância religiosa extrema”. Ainda exorta

“os pastores de Igrejas, comunidades e organizações internacionais a levantarem uma voz em prol da suspensão do sangramento, vida livre e independente do povo Artsakh”.

De fato, a agência de notícias francesa AFP tuitou na quinta-feira que o Azerbaijão negou ter bombardeado a catedral.

Sérios danos

De acordo com um meio de comunicação da Índia, o Deccan Herald, a Armênia confirmou na quinta-feira que as forças do Azerbaijão bombardearam a catedral e que jornalistas da AFP viram que a igreja havia sofrido sérios danos.

De fato, tanto a página do Facebook quanto o relatório do Deccan Herald traziam fotos dos danos mencionados pela AFP.

“Havia um buraco no telhado da Catedral Ghazanchetsots (Santo Salvador), um local icônico para a Igreja Apostólica Armênia,” relatou o Herald. Além disso, há escombros por todos os lados e parte do teto cedeu.

“O inimigo azerbaijano atingiu o símbolo de Shushi – a Catedral de Ghazanchetsots”, disse o porta-voz do ministério da defesa armênio Artsrun Hovhannisyan. Do mesmo modo, um residente local chamado Simeon disse à AFP: “não há militares, nada estratégico aqui, como você pode atacar uma igreja?”

Conflito

Nagorno-Karabakh é uma região no sul do Cáucaso, cercada pelo Azerbaijão. Na verdade, a região, a leste da Armênia e ao norte do Irã, é conhecida pelos armênios como Artsakh. É principalmente uma área montanhosa.

De acordo com o CIA World Factbook, a disputa em Nagorno-Karabakh e a ocupação militar armênia das terras vizinhas no Azerbaijão “continua sendo o foco principal da instabilidade regional”.

Assim, mais de 300 pessoas morreram e milhares foram deslocadas desde o início dos últimos combates em 27 de setembro, de acordo com a BBC.

Do mesmo modo, France24 relatou que na principal cidade de Nagorno-Karabakh, Stepanakert, os residentes têm usado a catedral da Santa Mãe de Deus como abrigo contra bombardeios.

Aleteia

Milagre alcançado por um menino brasileiro levará à beatificação de Carlo Acutis

Matheus, menino que alcançou a cura milagrosa.
Foto: Danielle Valentim / Campo Grande News

Campo Grande, 09 out. 20 / 04:20 pm (ACI).- A cura de um menino brasileiro que sofria de uma anomalia congênita rara foi o milagre reconhecido pelo Vaticano que levará à beatificação de Carlo Acutis, no próximo sábado, 10 de outubro.

O pequeno Matheus sofria de pâncreas anular, uma doença que fazia com que ele vomitasse tudo o que ingeria, e ficou milagrosamente curado após pedir para “parar de vomitar” diante de uma relíquia do futuro beato.

Após a publicação, no início deste ano, do decreto que autorizou a promulgação do milagre atribuído à intercessão jovem Carlo Acutis, o vice-postulador da causa no Brasil, Padre Marcelo Tenório, relatou por meio do Facebook como ocorreu o milagre, na cidade de Campo Grande (MS).

“No dia 12 de outubro de 2013, na capela de Nossa Senhora Aparecida, de nossa Paróquia, no momento da Bênção com a Relíquia, aproximou-se um garoto, levado por seu avô e que sofria o drama do pâncreas anular, que trata-se de uma anomalia congênita rara”, recordou.

Segundo o sacerdote, “essa enfermidade fazia com que a criança vomitasse todo tempo o que a deixava fraca e muito abatida, pois tudo o que comia, voltava, inclusive líquido. Já andava com uma toalhinha, porque era grave a sua situação. Cada vez mais fraco, debilitado, encontraria a morte certa”.

“Na fila para bênção, a criança ao tocar na relíquia, espontaneamente faz seu pedido : ‘para parar de vomitar’, e assim aconteceu, não vomitou mais”, relatou.

De acordo com o vice-postulador, “em  fevereiro de 2014, a família mandou fazer novos exames no garoto e foi-lhe constatado a plena cura”.

Hoje, Matheus tem 9 anos e mora em Campo Grande com os avós, Solange Lins Viana, de 62 anos, e Elias Verão Viana, de 75 anos, a mãe Luciana Viana, de 37, e o irmão Ângelo, de 13 anos.

Em entrevista ao site Campo Grande News, a avó do menino, Solange Lins, recordou que desde bebê ele vomitava muito e demoraram para chegar ao diagnóstico de pâncreas anular.

Explicou que o pâncreas anular dá uma volta no estômago causando, em alguns casos, o fechamento completo da entrada de alimento. “No caso de Matheus, o fechamento estava próximo e nós achamos que ia perdê-lo”, disse.

Por sua vez, a mãe do menino, Luciana Viana, contou que, até os 4 anos, ela carregava seu filho “como um bebê no carrinho”. “Então, o Matheus é a prova viva da cura, não precisa falar mais nada”, disse.

“Eu lembro que no dia da cura, estávamos eu, Matheus e meu pai na fila. Meu pai pediu para pegá-lo no colo e eu expliquei o que era uma relíquia e que as pessoas beijavam e faziam um pedido. Eu expliquei que a relíquia era um pedacinho de Carlo Acutis e que ele poderia pedir o que quisesse”, contou a mãe a Campo Grande News.

Luciana recordou que já tinha combinado com seu pai de pedirem pela cura de Matheus. “Mas como ele estava no colo, chegou na frente e soltou um: parar de vomitar”.

Exames posteriores comprovaram que o menino não tinha mais pâncreas anular.

Para a avó de Matheus, a família teve “duas alegrias até agora, uma quando comparamos os exames e outra com a notícia do Vaticano”.

ACI Digital

São Daniel Comboni

ArqSP
Daniel Comboni era italiano de Limone sul Garda, na Brescia, tendo nascido, em 15 de março de 1831, numa família cristã, unida, humilde e pobre de camponeses. Os pais, Luis e Domenica, dedicavam-lhe um amor incontido, pois era o único sobrevivente de oito filhos.

Por causa da condição econômica, enviaram Daniel para estudar no Instituto dos padres mazzianos em Verona, quando, então, despertou sua vocação para o sacerdócio, especialmente para a missão da África Central, onde os mazzianos atuam. Em 1854, já formado em filosofia e teologia, Daniel é ordenado sacerdote. Três anos depois, recebe as bênçãos dos pais e parte para a África, junto com mais cinco missionários.

Após quatro meses de viagem, padre Comboni chega a Cartum, capital do Sudão. A realidade africana é cruel e choca. As dificuldades começam no clima insuportável, passam pelas doenças, pobreza, abandono do povo e terminam com o índice elevado de mortes entre os jovens companheiros. Mas tudo isso serve de estímulo para seguir avante, sem abandonar a missão e o entusiasmo.

Pela África e seu povo, padre Comboni regressa à Itália, numa tentativa de conseguir uma nova tática para evangelizar naquele continente. Em 1864, rezando junto ao túmulo de são Pedro, em Roma, surge a luz. Elabora seu plano para a regeneração da África, resumido apenas num tema: "Salvar a África com a África", um projeto missionário simples e ousado para a época.

Padre Comboni passa, imediatamente, à ação, pede todo tipo de ajuda espiritual e material à sociedade européia, vai aos reis, bispos, ricos senhores e recorre também ao povo pobre e simples. A missão da África Central precisa de todos engajados no mesmo objetivo cristão e humanitário. Dedica-se com tanto empenho e ânimo que consegue fundar uma revista de incentivo missionário, a primeira na Itália.

Além disso, fundou, em 1867, o Instituto dos Missionários, depois chamados de Padres Missionários Combonianos e, em 1872, o Instituto das Missionárias, mais tarde conhecidas como Irmãs Missionárias Combonianas.

No Concílio Vaticano I, ele participa como teólogo do bispo de Verona, conseguindo que outros setenta bispos assinem uma petição em favor da evangelização da África Central. Em 1877, Comboni é nomeado vigário apostólico da África Central e, em seguida, é também consagrado o primeiro bispo católico da África Central, confirmação de que suas idéias antes contestadas são as mais eficientes para anunciar a Palavra de Cristo aos africanos.

Depois de muito sofrimento no corpo e no espírito, no dia 10 de outubro de 1881 o bispo Comboni morre, em Cartum, em meio ao povo africano, rodeado pelos seus religiosos, com a certeza de que sua obra missionária não morreria.

Chamado de "Pai dos Negros" pelo papa João Paulo II, ao beatificá-lo em 1996, o mesmo pontífice declarou santo Daniel Comboni em 2003. A sua comemoração litúrgica deve ocorrer no dia de sua morte.
Arquidiocese de São Paulo

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Santo Tomás de Aquino, o Doutor Angélico

Aleteia

Queridos irmãos e irmãs:

Após algumas catequeses sobre o sacerdócio e minhas últimas viagens, voltamos hoje ao nosso tema principal, isto é, para a meditação sobre alguns grandes pensadores da Idade Média. Havíamos visto a grande figura de São Boaventura, franciscano, e hoje gostaria de falar daquele que a Igreja chama o Doctor communis: São Tomás de Aquino. Meu adorado antecessor, o Papa João Paulo II, em sua encíclica Fides et ratio, lembrou que São Tomás “sempre foi proposto pela Igreja como mestre do pensamento e modelo do modo certo de fazer teologia” (n. 43). Não surpreende que, depois de Santo Agostinho, entre os escritores eclesiásticos mencionados no Catecismo da Igreja Católica, São Tomás seja citado mais que qualquer outro, até 61 vezes! Foi chamado também Doctor Angelicus, talvez por suas virtudes, em particular a sublimidade de seu pensamento e a pureza de sua vida.

Tomás nasceu entre 1224 e 1225, no castelo que sua família, nobre e rica, possuía em Roccasecca, nas proximidades de Aquino, perto da célebre abadia de Monte Cassino, onde foi enviado por seus pais para receber os primeiros elementos de sua instrução. Um ano depois, mudou-se para a capital do Reino de Sicília, Nápoles, onde Federico II havia fundado uma prestigiosa Universidade. Nela era ensinado, sem as limitações existentes em outros lugares, o pensamento do filósofo grego Aristóteles, a quem o jovem Tomás foi apresentado e de quem intuiu grande valor imediatamente. Mas, sobretudo naqueles anos transcorridos em Nápoles, nasceu sua vocação dominicana. Tomás foi, de fato, atraído pelo ideal da ordem fundada não muitos anos antes por São Domingos. Contudo, quando revestiu o hábito dominicano, sua família opôs-se a esta escolha, obrigando-o a deixar o convento e a passar algum tempo em família.

Em 1245, já maior de idade, pôde retomar seu caminho de resposta ao chamado de Deus. Foi enviado a Paris para estudar teologia, sob a orientação de outro santo, Alberto Magno, sobre o qual falei recentemente. Alberto e Tomás estreitaram uma verdadeira e profunda amizade e aprenderam a estimar-se e a apreciar-se, até o ponto que Alberto quis que seu discípulo o acompanhasse, também, a Colônia, aonde ele havia sido enviado pelos superiores da ordem para fundar um estudo teológico. Tomás manteve, então, contato com todas as obras de Aristóteles e de seus comentaristas árabes, que Alberto ilustrava e explicava.

Naquele período, a cultura do mundo latino estava profundamente estimulada pelo encontro com as obras de Aristóteles, que haviam sido ignoradas por muito tempo. Tratava-se de textos sobre a natureza do conhecimento, sobre ciências naturais, sobre metafísica, sobre a alma e sobre a ética, repletos de informações e instruções que pareciam válidas e convincentes. Era toda uma visão completa do mundo elaborada sem e antes de Cristo, com a pura razão, e parecia impor-se à razão como “a” própria visão; era, portanto, uma fascinação incrível para os jovens verem e conhecerem esta filosofia. Muitos acolheram com entusiasmo, até mesmo com entusiasmo acrítico, esta enorme bagagem do antigo conhecimento, que parecia poder renovar vantajosamente a cultura, abrir totalmente novos horizontes. Outros, porém, temiam que o pensamento pagão de Aristóteles estivesse em oposição à fé cristã e recusavam estudá-lo.

Encontraram-se duas culturas: a cultura pré-cristã de Aristóteles, com sua racionalidade radical, e a cultura clássica cristã. Certos ambientes eram levados à rejeição de Aristóteles, também pela apresentação que deste filósofo faziam os comentaristas árabes Avicena e Averróis. Na realidade, foram eles que transmitiram para o mundo latino a filosofia aristotélica. Por exemplo, estes comentaristas tinham ensinado que os homens não têm uma inteligência pessoal, mas que há um único intelecto universal, uma substância espiritual comum a todos, que opera em todos como “única”: portanto, uma despersonalização do homem. Outro ponto discutível transmitido pelos comentaristas árabes era aquele segundo o qual o mundo é eterno como Deus. Desencadearam-se, compreensivelmente, disputas sem fim no mundo universitário e no eclesiástico. A filosofia aristotélica ia se difundindo, inclusive pelas pessoas simples.

Tomás de Aquino, na escola de Alberto Magno, realizou uma operação de fundamental importância para a história da filosofia e da teologia, diria que para a história da cultura: estudou a fundo Aristóteles e seus intérpretes, procurando novas traduções latinas dos textos originais em grego. Assim, não se apoiava apenas nos comentaristas árabes, sendo que podia ler pessoalmente os textos originais, e comentou grande parte dos trabalhos aristotélicos, distinguindo neles o que era válido do que era duvidoso ou completamente rejeitável, mostrando a concordância com os dados da Revelação cristã e utilizando ampla e intensamente o pensamento aristotélico na exposição dos manuscritos teológicos que compôs. Em definitivo, Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão subsiste uma harmonia natural. E esta é a grande obra de Tomás, que, naquele momento de confrontação entre duas culturas – momento em que parecia que a fé teria que render-se à razão -, mostrou que ambas caminham juntas; que, quando a razão parecia incompatível com a fé, não era razão, e quando a fé parecia opor-se à verdadeira racionalidade, não era fé; assim, criou uma nova síntese, que formou a cultura dos séculos seguintes.

Por seus excelentes dotes intelectuais, Tomás foi chamado a Paris como professor de teologia na cátedra dominicana. Aqui começou também sua produção literária, que prosseguiu até sua morte e que tem algo de prodigioso: comentários à Sagrada Escritura, porque o professor de teologia era, sobretudo, intérprete da Escrituras, comentários aos manuscritos de Aristóteles, obras sistemáticas poderosas, entre as quais sobressai a Summa Theologiae, tratados e discursos sobre argumentos diversos. Para a composição de seus textos, era ajudado por alguns secretários, entre eles seu irmão Reginaldo de Piperno, que o seguiu fielmente e ao qual esteve ligado por uma amizade sincera e fraterna, caracterizada por uma grande confiança. Esta é uma característica dos santos: eles cultivavam a amizade, porque esta é uma das manifestações mais nobres do coração humano e tem em si algo de divino, como Tomás mesmo explicou em algumas quaestiones da Summa Theologia, na qual escreve: “A caridade é a amizade do homem com Deus principalmente, e com os seres que Lhe pertencem (II, q. 23, a.1)”.

Não permaneceu durante muito tempo e de um modo estável em Paris. Em 1259 participou do Capítulo Geral dos Dominicanos para Valenciennes, onde foi membro de uma comissão que estabeleceu o programa de estudos da ordem. De 1261 a 1265, depois, Tomás esteve em Orvieto. O Pontífice Urbano IV, que sentia por ele uma grande estima, o encarregou da composição dos textos litúrgicos para a festa de Corpus Domini, que celebramos amanhã, instituída depois do milagre eucarístico de Bolsena. Tomás teve uma alma perfeitamente eucarística. Os belíssimos hinos que a liturgia da Igreja canta para celebrar o mistério da presença real do Corpo e do Sangue do Senhor, na Eucaristia são atribuídos à sua fé e à sua sabedoria teológica. Entre 1265 e 1268, Tomás residiu em Roma, onde, provavelmente, dirigia um Studium, quer dizer, uma Casa de Estudos da Ordem, e onde começou a escrever sua Summa Theologiae (cf. Jean-Pierre Torrell, Tommaso d’Aquino. L’uomo e il teologo, Casale Monf., 1994, pp. 118-184).

Em 1269, foi chamado novamente a Paris para um segundo ciclo de ensinos. Os estudantes – compreende-se – estavam encantados com suas lições. Um ex-aluno seu declarou que uma enorme multidão de estudantes seguia os cursos de Tomás, tanto que as salas de aula não conseguiam comportar-lhes, e acrescentou, com uma anotação pessoal que “escutá-lo era para ele uma felicidade profunda”. A interpretação de Aristóteles dada por Tomás não era aceita por todos, mas até mesmo seus adversários no campo acadêmico, como Godofredo de Fontaines, por exemplo, admitiam que a doutrina de Tomás era superior a outras por sua utilidade e valor e servia a todos os demais doutores. Talvez também para subtraí-lo das vivazes discussões em curso, os superiores enviaram-no mais uma vez a Nápoles, para colocar-se à disposição do rei Carlos I, que queria organizar os estudos universitários.

Além do estudo e do ensino, Tomás dedicou-se também à pregação ao povo. E também o povo ia de bom grado escutá-lo. Diria que é verdadeiramente uma graça grande quando os teólogos sabem falar com simplicidade e fervor aos fiéis. Por outro lado, o ministério da pregação ajuda os próprios especialistas em teologia, num saudável realismo pastoral, e enriquece de estímulos vivazes sua investigação.

Os últimos meses da vida terrena de Tomás permanecem rodeados de uma atmosfera particular, diria misteriosa. Em dezembro de 1273, chamou seu amigo e secretário Reginaldo para comunicar-lhe sua decisão de interromper todo o trabalho, porque durante a celebração da Missa havia compreendido, a partir de uma revelação sobrenatural, que tudo que ele tinha escrito até então era apenas “um montão de palha”. É um episódio misterioso que nos ajuda compreender não apenas a humildade pessoal de Tomás, mas também o fato de que tudo aquilo que chegamos a pensar e a dizer sobre a fé, por mais elevado e puro que seja, é infinitamente superado pela grandeza e pela beleza de Deus, que nos será revelada em plenitude no Paraíso. Um mês depois, cada vez mais absorto em uma meditação pensativa, Tomás morreu enquanto estava de viagem para Lyon, aonde ia para participar do Concílio Ecumênico proclamado pelo Papa Gregório X. Apagou-se na Abadia Cisterciense de Fossanova, após ter recebido o Viático com sentimentos de grande piedade.

A vida e o ensinamento de São Tomás de Aquino poderia se resumir em um episódio apanhado pelos biógrafos antigos. Enquanto o santo, como era seu costume, estava em oração perante o crucifixo, pelo início da manhã na Capela de São Nicolau, em Nápoles, Domingo de Caserta, o sacristão da igreja, sentiu desenvolver-se um diálogo. Tomás perguntava, preocupado, se o que havia escrito sobre os mistérios da fé cristã estava correto. E o Crucifixo respondeu: “Tu tens falado bem de mim, Tomás. Qual será tua recompensa?”. E a resposta que Tomás deu é a que nós também, amigos e discípulos de Jesus, sempre quisemos dizer: “Nada mais que Tu, Senhor” (Ibidem, p. 320).

Fonte: Zenit

https://www.presbiteros.org.br/

ESTUDOS BÍBLICOS: Irmãos e irmãs de Jesus?

Ecclesia

Irmãos e irmãs de Jesus?

Visão católica e ortodoxa

Autor: rev. William G. Most
Trad.: Carlos Martins Nabeto

Em Mt 13, 55 e Mc 6,3, as seguintes pessoas estão nomeadas como irmãos de Jesus: Tiago, José (ou Josés - os manuscritos variam na forma) Simão e Judas. Mas, Mt 27, 56 diz que, «junto à cruz estava Maria, a mãe de Tiago e José». Mc 15, 40 diz que «ali estava Maria, a mãe de Tiago, o menor, e José». Logo, embora a prova não seja conclusiva, parece que os dois primeiros, Tiago e José, (ou Joses), - exceto se supormos que estes eram outras pessoas com os mesmíssimos nomes - eram filhos de outra mãe e não da Mãe de Jesus.

Vemos aqui que o termo «irmão» foi usado para indicar aqueles que não eram filhos de Maria, a Mãe de Jesus. Do mesmo modo, facilmente poderia ter ocorrido o mesmo com os outros dois «irmãos», Simão e Judas. Além disso, se Maria tivesse outros filhos e filhas naturais no tempo da crucifixão, seria estranho Jesus ter pedido a João para que cuidasse dela. Especialmente porque Tiago, o «irmão do Senhor» ainda estava vivo em 49 d.C. (cf. Gl 1, 19); certamente ele poderia ter cuidado dela... Lot, que era sobrinho de Abraão (cf. Gn 11, 27-31), é chamado de «seu irmão» em Gn 13, 8 e 14, 14-16. O termo hebraico e aramaico ah era usado para expressar vários tipos de graus de parentesco (v. Michael Sokoloff, A Dictionary of Jewish Palestinian Aramaic, Bar Ilan University Press, Ramat-Gan, Israel, 1990, p.45). O hebraico não tem palavra para parentes. Eles poderiam dizer ben-dod para expressar filho de um tio por parte de pai, mas para outros graus de parentesco eles precisavam construir uma frase complexa, tal como «filho do irmão de sua mãe» ou «filho da irmã de sua mãe» (para consultar expressões complexas do aramaico, v. Sokoloff, pp. 111 e 139).

Objeção 1: não deveríamos usar o hebraico, já que o grego possui um termo para designar primo e outros tipos de parentes, também os Evangelhos não se utilizam de outras palavras específicas para designar os parentes de Jesus. Eles usam somente o termo grego adelphos, o que significa irmão real.

Resposta: A Septuaginta (tradução grega do Antigo Testamento hebraico, (cuja abreviatura padrão é LXX), usa o grego adelphos para Lot que, como vimos acima, era, na verdade, sobrinho. Além disso, os escritores dos Evangelhos e Epístolas sempre tinham em mente as palavras hebraicas, mesmo quando escreviam em grego. Isto vale principalmente para São Paulo. E, como podemos ver atualmente, há uma forte evidência de que São Lucas, em certos pontos, estava traduzindo documentos hebraicos – dois tipos de hebraico [hebraico e aramaico] com grande cuidado. A LXX, para Ml 1, 2-3, traduz: «Eu amei Jacó e odiei Esaú». São Paulo, em Rm 9, 13, cita exatamente da mesma forma que a tradução grega. Ainda que os tradutores da LXX conhecessem o hebraico e o grego - e assim também Paulo - utilizaram um modo muito estranho de expressão, modificando potencialmente a expressão hebraica.

Como isso aconteceu?

O hebraico e o aramaico carecia dos graus de comparação (tais como: bom, melhor, o melhor; claro, mais claro, claríssimo) e, então, precisava-se encontrar outra forma de expressar as idéias. Enquanto nós poderíamos dizer: «Amo mais a um que a outro», o hebreu diria: «Amo a um e detesto o outro». Em Lc 14, 26, Nosso Senhor nos diz que devemos «odiar nossos pais» é óbvio, porém, que quer dizer que devemos amar mais a Cristo do que a nossos pais. De forma semelhante, em 1Cor1, 17, Paulo afirma: «Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar»; só que o próprio Paulo já havia declarado ter batizado algumas pessoas; logo, o que realmente queria dizer é: «Minha missão mais importante é pregar; batizar é menos importante». São Paulo, em 1Tes 4, 5 diz que os gentios «não conhecem a Deus». Ele usa o termo conhecer no sentido do hebraico yada, um termo amplo que significa conhecer e amar. De fato, não são raras as vezes em que podemos afirmar que certa palavra hebraica encontrava-se na mente de São Paulo, que se expressava em grego.

Todos os estudiosos admitem que o Evangelho de São Lucas possui mais semitismos que os livros escritos por outros semitas (Lucas não era semita, mas médico de origem grega). Por quê? A princípio, parece que Lucas escrevia assim para imitar o estilo da LXX, mas, em um estudo que fiz (v. meu artigo «São Lucas imitava a Septuaginta?», publicado no Jornal [Internacional] de Estudos do Novo Testamento, jul./1982, pp.30-41, editado pela Universidade de Sheffied, Inglaterra), mostrei, estatisticamente, que Lucas não tentava imitar a Septuaginta. Eu fiz um estudo de um semitismo bem estranho em Lucas: o aditivo kai, que reflete o aditivo hebraico wau. Eis um exemplo tirado de Lc 5, 1: «E isto aconteceu quando as multidões se apertavam para ouvir dele a palavra de Deus e ele se encontrava de pé junto ao Lago [de Genesaré]». A palavra «e», grifada em itálico, poderia existir no hebraico, mas não no grego, nem mesmo no aramaico. Pela contagem real, São Lucas usa este «e» somente de 20 a 25% das vezes que poderia usá-lo, se estivesse imitando a Septuaginta. Certamente, não foi esta a razão de seu uso.

Então por que ele a empregou assim? Em linhas gerais, São Lucas nos diz que tomou grande cuidado, conversou com testemunhas oculares e checou relatos escritos sobre Jesus. Estes relatos escritos poderiam estar em grego (alguns judeus sabiam se comunicar em grego), hebraico ou aramaico. Logo, seria possível que São Lucas tivesse usado relatos escritos nessas linguagens. O problema não seria perceptível no grego se fossem usadas fontes gregas, é lógico; mas se ele usou, em certos momentos, documentos hebraicos, e se ele os traduziu com extremo cuidado - tão extremo a ponto de manter a estrutura hebraica no texto grego, onde não existiria - então poderíamos afirmar que foi dessa forma que ele resolveu fazer. As estranhas estruturas que encontramos – também anormais no aramaico - usadas por São Lucas em alguns pontos, mas não em outros, parecem demonstrar a existência de documentos hebraicos, traduzidos com extremo cuidado. Lucas sabia como escrever em grego culto, como demonstra certas passagens. Mas por que escreveu assim? Certamente por causa de seu extremo cuidado, para ser fiel aos textos originais que usava. Portanto, precisamos conhecer o hebraico fundamental para compreendermos a questão corretamente (o «e» é omitido nas traduções das linguagens modernas, como o inglês; o problema só é verificável quando lemos São Lucas na língua grega original).

Há uma palavra importante em Rm 5,19, que diz que «muitos» se tornaram pecadores (= pecado original). É óbvio, porém, que São Paulo se referia a «todos». De fato, o grego usa polloi; no grego comum, sempre significa «muitos», mas não «todos». Entretanto, se conhecermos o hebraico que estava na mente de Paulo, tudo torna-se claro. Havia uma estranha palavra, rabbim, que aparece pela primeira vez em Is 53, na profecia da Paixão. Pelo contexto, percebemos claramente que significa todos, ainda que também signifique muitos, para ser mais exato ela significa todos dos que são muitos. Por exemplo, se eu estiver em uma sala com outras três pessoas, eu poderia dizer todos, mas não poderia dizer muitos; agora, se usarmos uma concordância grega para encontrarmos todas as citações em que São Paulo usa a palavra polloi como substantivo, veremos, pelo contexto, que sempre - sem exceção - significará todos; é o caso de Rm 5, 19. Assim, precisamos retornar ao hebraico para compreender o termo grego usado aqui por Paulo.

Em outras partes, São Paulo freqüentemente faz uso do termo grego dikaiosyne não na forma estrita utilizada pelo sentido grego, mas na forma ampla do sentido hebraico de sedaqah. Há muitos outros lugares no Novo Testamento onde devemos considerar o fundamento hebraico para obter o sentido correto do grego. Demos apenas alguns exemplos que são suficientes para mostrar como os escritores do Novo Testamento trabalharam e a necessidade de se evitar que entendamos somente o que diz o grego (que insiste que devemos ignorar o fundamento hebraico, afirmando que o grego possui palavras próprias para designar primos e outros parentes, ao contrário do hebraico).

Objeção 2: J. P. Meier, em A Marginal Jew (Doubleday, 1991, pp.325-326) afirma que «o novo Testamento não é uma tradução grega»; assim, o termo hebraico usado para referir-se a irmão não pode ter gerado uma «desastrosa» tradução.

Resposta: Muitos estudiosos crêem que parte ou até mesmo todos os Evangelhos são traduções gregas. A evidência citada acima, no Jornal de Estudo do Novo Testamento contribui para demonstrar isso. Em adição, temos evidências extensivas mostrando que, apesar dos autores não terem feito uma tradução, eles muitas vezes usavam palavras gregas com o significado do pensamento hebraico fundamental. Isto é especialmente notável em Paulo, ainda que Meier afirme que Paulo não estava fazendo uma tradução, bem como conhecia «Tiago, o irmão do Senhor», em pessoa.

Meier também assegura (pp.327-328) que Josefo, um judeu que escreveu em grego, várias vezes utiliza a palavra correta para designar primo, mas usa a palavra irmão para indicar os «irmãos de Jesus». Concordamos que Josefo assim se expressa. No entanto, será que Josefo possuía informação direta acerca da real natureza dos «irmãos» de Jesus? É óbvio que não. Meier também não analisa a questão sob este ponto de vista...

Objeção 3: Meier afirma (p. 323) que se quisermos que ah signifique primo, então deveríamos ller Mt 12, 50 assim: «Todo aquele que faz o desejo de meu Pai que está nos céus é meu primo, prima e mãe». De maneira similar (p.357), ele diz que Mc 3, 35 deveria então ser lido: «Nem seus primos acreditavam nele».

Resposta: Meier parece ser deliberadamente cego nestes pontos. Ora, se ah possui um significado amplo, poderíamos então mantê-lo na tradução, não apenas limitando-o a primo; poderia ser primo, mas também qualquer outra espécie de parente.

Objeção 4: Em Mt 1, 25, os protestantes apontam para duas palavras: até que e primogênito.

Resposta«Até que»: muitas palavras antigas têm diversos significados possíveis. Às vezes o termo «até que» abrange o tempo posterior ao indicado mas nem sempre isso acontece. Em Dt 34, 6, Moisés foi enterrado «e até hoje ninguém sabe onde se encontra sua sepultura». Isto era verdade no dia em que o autor do Deuteronômio relatou o fato; e continua sendo verdade ainda hoje. No Sl. 110, 1, conforme interpretado pelo próprio Jesus, «o Senhor disse ao meu Senhor (= de Davi): 'Senta à minha mão direita até que eu coloque os teus inimigos sob os teus pés'». Obviamente, Jesus sempre estará à direita do Pai; logo, a palavra até que jamais significará uma mudança de estado. O Sl 72, 7, um salmo messiânico, diz que em seus dias «a paz abundará até a lua não mais existir». Aqui novamente, o poder do Messias jamais deixará de existir ainda que a lua deixe de brilhar (Mt 24, 29). Em 2Sm 6, 23, diz-se que «Mical, esposa de Davi, não terá mais filhos até o dia de sua morte». Logicamente, ela não os terá mesmo após sua morte! Em Mt 11,3, Nosso Senhor diz que se os milagres feitos em Cafarnaúm tivessem sido feitos em Sodoma, «ela teria durado até o presente dia». Isso não significa que Jesus a destruiria logo a seguir. Em Mt 28, 20, Jesus promete que permanecerá com sua Igreja e seus seguidores «até o fim do mundo». Será que deserdará depois, na eternidade? Em Rm 8, 22, São Paulo diz que toda a Criação suspira, esperando pela revelação dos filhos de Deus até os seus dias (de Paulo). Nem por isso ele irá para sua missão, mas continuará até a restauração final. Em 1Tm 4, 13, o apóstolo pede para que Timóteo se devote à leitura, exortação e ensinamento «até eu (Paulo) chegar». Isso não quer dizer que Timóteo deveria parar de fazer tais coisas após a chegada de Paulo. E existe muitos outros exemplos, embora estas poucas citações sejam suficientes para demonstrar que a expressão «até que», no Antigo e no Novo Testamento, significa uma mudança de coisas que está para acontecer segundo o ponto a que se refere.

Até mesmo J. P. Meier, que trabalha estressantemente para tentar provar que Jesus tinha irmãos naturais, admite que o argumento baseado na expressão «até que» nada prova (em CBQ - jan/1992, pp.9-11).

Primogênito: Jesus é assim chamado em Lc 2, 7 (e também em Mt 1, 25, se considerarmos a adição ao texto grego encontrada na Vulgata latina). Este termo se refere ao hebraico bekor, que expressa principalmente a posição privilegiada do primeiro filho com relação aos demais filhos. Não implica, porém, na existência real de outros irmãos. Podemos ler numa inscrição grega encontrada numa sepultura em Tel el Yaoudieh (cf. Biblical 11, 1930, pp.369-390) que uma mãe faleceu ao dar à luz ao seu filho: «Nas dores do parto de meu filho primogênito, o destino me trouxe o fim da vida». No mesmo sentido, existe outro epitáfio em Leontópolis (v. Biblical Archaeology Review, Set.-Out./1992, p.56).

Objeção 5: Alguns escritores cristãos primitivos dizem que os irmãos do Senhor eram irmãos reais.

Resposta: Meier, que tão diligentemente coleta todos os dados que possam servir para contestar a virgindade de Maria após o nascimento de Jesus, menciona apenas quatro:

  1. Hegésipo, no séc. II - Mas Meier admite (p. 329): «...tal testemunho não está livre de problemas e possíveis auto-contradições»;
  2. Tertuliano - Contudo, Meier reconhece que isto ocorria porque queria «reforçar sua posição ao ponto de vista docético sobre a humanidade de Cristo»; tal desejo fez com que fizesse tal afirmação. De fato, Tertuliano, com a mesma predisposição, afirmou que a aparência do corpo de Cristo era horrível! (Sobre o Corpo de Cristo, cap.9) Realmente ele era um extremista, como se comprova pelo fato de que não sendo os montanistas tão severos quanto à moralidade, acabou por fundar sua própria sub-seita;
  3. Meier também sugere que duas passagens de Santo Ireneu (séc. II) podem implicar na negação da virgindade pós-parto: na primeira Ireneu faz um paralelo entre Adão e Cristo, para segurança de sua teologia da recapitulação; na segunda, Ireneu desenvolve o tema da nova Eva. É difícil, porém, encontrar nessas passagens qualquer dica que negue a virgindade pós-parto. O próprio Meier admite que a interpretação desses textos são improváveis;
  4. Helvídio, no séc. IV [totalmente refutado por São Jerônimo]. Estes textos, contudo, são desprezíveis se comparados com o extenso suporte patrístico que favorecem a tese da virgindade perpétua (cf. Marian Studies, VIII, 1956, pp. 47-93).

Por isso, em seu sumário de conclusões (pp. 331-332), Meier não faz qualquer menção a estes escritores da Igreja primitiva.

Objeção 6: Meier (p.331) diz que devemos seguir o critério do múltiplo atestado: Paulo, Marcos, João, Josefo e talvez Lucas atestam a existência dos irmãos de Jesus.

Resposta: Isto nada mais é que o retorno ao início da questão. Méier não provou que qualquer um destes «irmãos» seja, de fato, um irmão real de Jesus. Meier acrescenta que o sentido natural de irmão é o que indica irmão real, mas já vimos na segunda resposta (acima), que tal sentido não é absolutamente obrigatório. Ele também afirma que não existe outro caso claro no Novo Testamento que possa admitir outro significado, a não ser irmão real ou meio-irmão. Novamente ele acaba retornando ao início do problema pois não consegue provar que algum desses textos possa significar irmão real.

O próprio Meier reconhece (p. 331) que «todos estes argumentos em conjunto não podem produzir uma certeza absoluta». Nós acrescentamos: em Mc 3, 20-21, os parentes de Jesus vão até ele para prendê-lo – os irmãos mais novos não poderiam tomar tal atitude na cultura semita, pois Jesus era o primogênito. E, quando Jesus contava com 12 anos ao visitar o Templo de Jerusalém, seus irmãos mais novos deveriam acompanhá-lo (exceto as irmãs), se de fato existissem, de outra forma Maria teria ficado em casa cuidando dos filhos mais novos. Vemos, assim, que não há evidências sólidas na Escritura que nos permitam supor que Nossa Senhora tenha tido outros filhos. Há, por outro lado, respostas lógicas para todas as objeções formuladas. Porém, a razão decisiva é o ensino da Igreja; os credos mais antigos chamam Maria de aei-parthenos, ou seja, «sempre Virgem».

Meier parece querer usar um machado para cavar... Em seu longo artigo publicado na CQP (1992, pp. 1-28), ele diz, na última página, que deveríamos perguntar se a hierarquia das verdades não nos deixaria aceitar protestantes dentro da Igreja Católica sem que pedíssemos a eles para que acreditassem na virgindade perpétua de Nossa Senhora. De fato, existe uma hierarquia de verdades, algumas mais básicas que outras. Mas isso não significa, em absoluto, que possamos incentivar a negação de uma doutrina que vem sendo repetidamente ensinada pelo Magistério Ordinário, bem como pelos mais antigos credos (portanto, infalíveis). Realmente, se alguns protestantes querem aderir à Igreja sem aceitar a autoridade do Magistério, então jamais serão católicos de fato, ainda que aceitem todos os demais ensinamentos. Aceitar realmente a autoridade significa aceitar tudo, e não quase tudo.

Até mesmo Meier, tão inclinado à negação da virgindade perpétua, admite (pp.340-341) que existe uma estranha tradição rabínica que diz que Moisés, após seu primeiro contato com Deus, deixou de se relacionar sexualmente com sua esposa. Isto aparece primeiro em Filo de Alexandria e foi suportado, depois, pelos rabinos. Ora, se Moisés, em virtude de um contato externo com Deus, agiu dessa maneira, porque então não poderia ocorrer o mesmo com Nossa Senhora, que foi preenchida pela divina presença para a concepção de Jesus e carregou a própria Divindade em seu ventre durante nove meses? De fato, Lutero e Calvino, como Méier reconhece (p.319), aceitaram a doutrina da virgindade perpétua de Maria.

Por que, então, Meier luta tanto contra ela? Realmente, os protestantes, se forem lógicos, não podem apelar para provas bíblicas, a partir do momento em que nem mesmo têm como determinar quais livros são inspirados. Lutero achava que, se um livro pregasse a justificação somente pela fé, então ele era inspirado, caso contrário, não. Mas, lamentavelmente, ele nunca conseguiu provar que isso era verdade (tanto ele quanto eu poderíamos escrever livros sobre o assunto e nem por isso seriam inspirados) eis que vários livros da Bíblia não mencionam a justificação pela fé... É que, infelizmente, Lutero não sabia o que São Paulo queria dizer com a palavra fé. (sobre este assunto, consultar a obra fundamental do Protestantismo: Interpreter's Dictionary of the Bible, Supplemento, p.333).


FONTE:

Petersnet

Ecclesia

A importância dos pais contarem histórias para seus filhos

© Evgeny Atamanenko I Shutterstock

Inventar histórias e contá-las aos seus filhos ajuda-os a desenvolver a imaginação, a memória e o conhecimento. A seguir encontre algumas dicas para criar contos de fadas feitos sob medida e assim compartilhar um tempo precioso com seus filhos.

Era uma vez um pequeno chimpanzé que tinha perdido a mãe… – Ah! e qual era o seu nome? – Hmm… Teófilo. – E por que ele se perdeu?” Que pai/mãe já se aventurou fora dos caminhos simples dos livros? Na verdade, não fazemos ideia de quanto as crianças adoram quando ouvem histórias inventadas.

De fato, essa atividade não é apenas um compartilhamento de tempo inestimável que ajuda a fortalecer o vínculo emocional. Nem é só um antídoto formidável para as telas.

Mas ela também é uma oportunidade de ouro para entrar em um diálogo educativo e construtivo. Isso longe das ordens do dia a dia como “tome a sua sopa”, “vá se arrumar”, “lave as mãos”, explicam Laure de Cazenove e Alice Le Guiffant, que escreveram um livro sobre o assunto.

Esse momento também pode ser uma boa oportunidade para construir uma história feita sob medida para cada criança, interagindo com elas. Assim, por meio dos altos e baixos da história, ela pode falar sobre seus medos, suas esperanças e suas fantasias, compartilhar seu mundo interior, sentir-se ouvida.

No entanto, muitas vezes, essa atividade é negligenciada pelos pais. Seja por falta de imaginação, tempo, desejo ou energia, por não saber como fazer, por medo de decepcionar ou entediar as crianças, existem mil e uma desculpas!

As inúmeras virtudes das histórias inventadas pelos pais

E por que inventar histórias, quando os livros estão cheios delas? “Nada impede você de ler histórias também, mas inventá-las tem vantagens que a leitura de livros, por mais maravilhosos que sejam, nunca vai trazer”, asseguram as autoras.

Inventar uma história para uma criança, objetivando apenas estar com ela e a ela dar total atenção, é verdadeiramente um ato de amor, porque significa coloca-la como a pessoa mais importante daquele instante. Também falamos com o interior dela, pois o que oferecemos vem também do nosso interior”, do fundo do nosso coração e do nosso ser.

Assim, é um momento de cumplicidade importante, como confirma o depoimento de Jacques de Coulon. Filósofo e autor de numerosos livros sobre educação, este ex-reitor de uma importante escola na Suíça ficou profundamente marcado pela figura de seu avô, um notável contador de histórias.

Mundos fascinantes

As crianças ficavam como que enfeitiçadas pela história. Ele falava devagar, com um tom de voz penetrante, gerando suspense. Lembro-me particularmente de uma história fascinante, que tinha a palavra “negro” voltando como uma ladainha: “Sob um céu negro, negro, negro, mergulhamos na floresta negra, negra, negra… até chegar em frente a um portão negro”. E assim por diante, até chegar nas pesadas cortinas negras por trás das quais se escondia um pássaro com resplandecente plumagem colorida. Era realmente impressionante. Claro, nem todo mundo tem o talento para contar histórias. Mas essa sensação que passa tanto pelo corpo quanto pelas emoções é insubstituível”. 

Outro argumento de peso: “A criança que escuta uma história, brinca com ela sem esforço (nem precisa se adaptar ao ritmo de leitura do adulto, nem ler, nem decifrar a história). Ela familiariza-se com uma dinâmica que nutre o gosto pela leitura: a criação de hipóteses”, explica Laure de Cazenove.

Assim, a criança aprenderá a amar os livros como amigos e não como professores. Ouvir uma história, portanto, desenvolve a imaginação, aguça a reflexão, desperta a curiosidade, enriquece a personalidade, prepara inconscientemente as pessoas para estruturar seu pensamento e representar concretamente conceitos abstratos (coragem, bondade, justiça, amor, etc.).

Mas onde encontrar inspiração?

Meu avô me deu o gosto pela leitura, mas ainda mais, sem dúvida, pela escuta”, concorda Jacques de Coulon. “A audição é um sentido muito poderoso, muito menos complexo do que a visão, por meio do qual forjamos nossas próprias imagens interiores”.

Por conseguinte, ao se sentir um pouco mais ator da história, sem o suporte de imagens ou de uma história pré-formatada, a criança assimila de forma diferente.

Mas o que é uma história? Basicamente, um problema a resolver (o enredo) que colocará em movimento todo um mecanismo.

De fato, o diagrama narrativo dos contos tradicionais – do tipo Grimm ou Andersen – é um diagrama comprovado. Ele oferece as melhores garantias: uma estrutura e personagens precisos, um elemento perturbador que serve como uma mola dramática (acidente, aparecimento de um monstro etc.), um elemento de resolução e um resultado.

Portanto, uma história é como um espelho da realidade, oferecendo toda uma gama de experiências e personagens arquetípicos (o astuto, o franco, o bravo, dentre outros).

Imaginação fértil

Ao contrário de muitos pais, inventar histórias nunca foi um problema para Alexandra, mãe de três filhos que agora são adolescentes. Nada poderia conter a imaginação fértil dessa amante do teatro.

Que risadas memoráveis! Um dia, cansei de ler as mesmas histórias indefinidamente. Então fui em frente, inspirando-me no início em meus livros favoritos. Então comecei a bordar a minha própria história. Também aproveitei muito a oportunidade para lembrar o dia deles de forma vívida ou dissipar certos medos”.

E um terror noturno? “Contei uma história num ambiente de acampamento, usando minicenários de quadrinhos! Até hoje eles comentam sobre isso”. “Seja nas montanhas ou na floresta, uma história é um bom combustível para pés cansados”, acrescenta Marcos.

Momentos assim são o suficiente para ajudar as crianças a extrair delas mesmas os recursos para superar a frustração e o tédio.

No entanto, existem dois pré-requisitos essenciais para um contador de histórias: tempo e observação”, continua Jacques de Coulon.

Penso no meu avô, apaixonado pela natureza, que regularmente nos levava para observar a raposa e os pássaros com binóculos. A vida era mais simples, com mais momentos reservados à contemplação e ao devaneio. O mundo estava menos saturado de objetos que roubavam nossa atenção”.

Mas o que fazer para ganhar tempo em nossas agendas lotadas? Este é o verdadeiro desafio!

Como começar?

Primeiramente, é preferível recorrer ao repertório existente (tramas de livros, contos, desenhos animados, histórias bíblicas ou mitológicas).

Depois você pode contar a história oralmente, tornando-a sua, modificando o final ou um detalhe, acrescentando um personagem excêntrico, misturando várias histórias.

Inventar é antes de tudo copiar”, explica Laure de Cazenove e Alice Le Guiffant. Outra recomendação: use expressões, imagens, rimas, poemas ou objetos infantis.

Na verdade, podemos também envolver as crianças (uma boa forma de as treinar para fazer descrições) fazendo-as desenhar três ou quatro imagens sobre as quais teremos que criar a história: uma nuvem, um castelo, um barco, um foguete, dentre outras.

Por fim, cabe a elas criar uma história com esses elementos!

Aleteia

S. JOÃO LEONARDI, FUNDADOR DOS CLÉRIGOS REGULARES DA MÃE DE DEUS

Blog Escravas de Maria

João nasceu em Diecimo, província de Luca, no seio de uma família modesta de latifundiários. Sua vida parecia estar orientada para a profissão de boticário, como era chamado um farmacêutico na época. Porém, de repente, se abateu uma grave crise sobre a sua cidade. Assim, junto com o grupo que frequentava, chamado "Colombinos", leigos comprometidos em viver como autênticos cristãos, ele se dedicou à ajuda dos pobres. Desta forma, amadureceu sua vocação ao sacerdócio e foi ordenado em 1571.

Apóstolo da Reforma

Como sacerdote, João compreendeu, imediatamente, que a prioridade na sua vida era educar as crianças à fé. Então, experimentou um método inovador de ensino do Catecismo, que levou o Bispo de Luca a adotá-lo em todas as igrejas da cidade. Até os adultos participavam das suas aulas, atraídos pelo seu modo de transmitir a Palavra. As iniciativas eram tantas, que João precisou de ajuda: assim nasceu a Companhia da Doutrina Cristã, dirigida por leigos, que, em 1574, se tornou família religiosa, a Irmandade dos Sacerdotes Reformados, que, no fim, foi chamada com o nome atual de Clérigos Regulares da Mãe de Deus. João era um grande reformador, que se destacou em meio àquela onda de novidade, existente no seio da Igreja católica do seu tempo. Porém, como se sabe, os inovadores nem sempre são bem vistos.

"Inimigo da pátria"

Os pregadores hereges, que não faltavam na época, começaram a tomar João como alvo, apoiados também por sacerdotes e leigos, que não compartilhavam da sua obra reformadora. Assim, em 1584, aproveitando da sua viagem a Roma, o baniram para sempre da cidade, como inimigo da sua pátria. No entanto, a situação não mudou, nem mesmo depois da investigação, por ele solicitada. Voltando a Roma, João foi enviado pelo Papa como Visitador apostólico e reformador dos mosteiros beneditinos: os que tinham menos de 12 membros foram supressos; uniformizou os móveis, as roupas e a alimentação, em coerência com o voto de pobreza; e deteve as ingerências leigas na vida dos monges.

Missão da "Propaganda Fide"

Com o tempo, a João foi confiada a pastoral da igreja de Santa Maria “in Portico”, onde introduziu o ensino regular da Doutrina cristã. Entre 1607 e 1608, com outros sacerdotes, instituiu uma nova Congregação masculina, com o objetivo específico de propagar a fé cristã entre as populações, que ainda não a conheciam. Assim, nasceu o núcleo que, depois, se tornou Colégio Urbano de Propaganda Fide, do qual é considerado cofundador.
João Leonardi faleceu em 1609 e foi canonizado por Pio XI, em 1938. Entre seus escritos, deixou o Memorial a Paulo V, sobre a reforma geral de toda a Igreja, com o qual promovia a realização de Sínodos nacionais, a restauração da Catequese das crianças e a renovação do Clero, premissa necessária para a mudança do laicato.

Oração dos catequistas:

São João Leonardo, amigo e irmão,
faça com que possamos nos comprometer como você
na escuta e no anúncio da Palavra divina.
Que seu testemunho de servo fiel do Evangelho
seja modelo para a nossa vida de cristãos e catequistas.
Acenda, em nossos corações, a caridade evangélica;
concede-nos a sabedoria dos pequeninos;
infunde em nós a paciência dos arautos do Evangelho.
Que tudo contribua em nossa vida
para que o Senhor Jesus seja conhecido, amado, servido, testemunhado.
Faça com que possamos permanecer fiéis
ao encontro com Cristo no Sacramento da penitência e da Eucaristia,
para cultivar em nós o dom do amor sem medida.
Que Maria, Mãe de Deus, nos indique o caminho evangélico
da semente oculta, que produz muitos frutos.
Amém.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF