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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Qual é a história de Nossa Senhora Aparecida?

Leonidas Santana / Shutterstock.com

Como se deu a manifestação de Nossa Senhora Aparecida? Eis o que relatam os documentos históricos.

Em 1717 três pescadores, após frustrada tentativa de apanhar peixes no rio Paraíba do Sul perto de Guaratinguetá (SP), colheram em suas redes o corpo de uma estátua de Maria SS. e, depois, a cabeça da mesma.

A este fato se seguiu farta pescaria, que surpreendeu os três homens. Tendo limpado e recomposto a imagem, expuseram-na à veneração dos fiéis em casas de família. Verificaram-se, porém, alguns portentos, que chamaram a atenção do Pe. José Alves Vilela, pároco de Guaratinguetá. Este então decidiu construir para a Santa Mãe uma capela capaz de satisfazer ao crescente número de devotos da Virgem.

Tal capela foi substituída por outra maior no morro dos Coqueiros em 1745, morro que tomou o nome de “Aparecida” (hoje cidade de Aparecida do Norte). Em 1846 foi iniciada a construção de templo mais vasto, que ainda hoje subsiste. No ano de 1980 foi concluída monumental basílica, alvo de peregrinações numerosas durante o ano inteiro.

Em 1930 o Brasil foi solenemente consagrado a Nossa Senhora Aparecida pelo Cardeal D. Sebastião Leme na presença do Sr. Presidente da República e de numerosas autoridades religiosas, civis e militares.

Aparecida

Os acontecimentos chamaram a atenção para Maria Santíssima tal como é venerada em Aparecida (SP) e no Brasil inteiro na qualidade de Padroeira do nosso país. Sabe-se que tal devoção se deve a uma pesca surpreendente cercada de fatos extraordinárias, que suscitaram a piedade dos fiéis da região de Guaratinguetá e, posteriormente, a da população de todo o Brasil.

Em 1930 a Virgem Santíssima foi proclamada Padroeira do Brasil sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (ou Nossa Senhora Imaculada em sua Conceição e Aparecida nas águas do rio Paraíba do Sul).¹

Já que versões diversas correm sobre o desenrolar dessas aparições e os atos subsequentes, apresentaremos, a seguir, a genuína história dos eventos registrados.

1. Aparição e as primeiras manifestações populares (1717-1745)

Como se deu a manifestação de Nossa Senhora Aparecida?

Eis o que relatam os documentos históricos:

Em princípios do séc. XVIII lutas, por vezes sangrentas, agitavam os exploradores dos veios de ouro em Minas Gerais.

Em março de 1717, embarcou em Lisboa, com destino ao Rio, Dom Pedro de Almeida e Portugal, Conde de Assumar, que vinha substituir Dom Braz Balthasar da Silveira no governo da Capitania de São Paulo e Minas.

Chegando ao Rio em junho de 1717, o Conde de Assumar mostrou-se logo interessado em conhecer a situação da sua capitania. Seguiu, pois, em agosto para São Paulo, sede do governo respectivo, do qual tomou posse aos 4 de setembro do mesmo ano. Em vista, porém, dos tumultos registrados em Minas por motivo das minas de ouro. Dom Pedro de Almeida e Portugal resolveu dirigir-se ao local das desordens. Partiu, portanto, de São Paulo aos 25 ou 26 de setembro de 1717, deixando como substituto nessa cidade Manoel Bueno da Fonseca, oficial de grande patente.

Pescadores

Após cerca de 17 dias de viagem, isto é, aos 11 ou 12 de outubro de 1717, chegava o Conde de Assumar, com sua comitiva, à região de Guaratinguetá. Entre os acontecimentos faustosos que então se deram relatam os manuscritos da época o seguinte:

“A Câmara da Vila notificou então os pescadores que apresentassem todo o peixe que pudessem haver para o dito governador.

Entre muitos, foram pescar em suas canoas Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso e, principiando a lançar suas redes no porto de José Corrêa leite, continuaram até o porto de Itaguassú, distância bastante, sem tirar peixe algum. E lançando neste porto João Alves a sua rede, de rasto tirou o corpo da Senhora, sem cabeça, e, lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça de mesma Senhora, não se sabendo nunca quem ali a lançasse.

E, continuando a pescaria, não tendo até então peixe algum, dali por diante foi tão copiosa em poucos lances que, receosos de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, ele e os companheiros se retiraram a suas moradas, admirados deste sucesso” (cf. Marcondes Homem de Mello, Álbum da Coroação. Brasílio Machado, A Basílica de Aparecida).

Documentos

Eis o que referem os documentos mais antigos em torno do aparecimento da Virgem.

A título de ilustração, pode-se acrescentar que o porto de José Corrêa Leite, donde partiram os três mencionados pescadores, se achava à margem esquerda do rio Paraíba no bairro Tetequera (município de Pindamonhangaba). A imagem encontrada media 38 cm de altura e apresentava cor bronzeada.

Impressionados pelo fenômeno, principalmente pela pesca portentosa que se seguiu à descoberta da estátua, os três mencionados pescadores limparam com grande cuidado a imagem, e verificaram que representava Nossa Senhora da Conceição, que o povo sem demora passou a chamar “Senhora Aparecida”. Felipe Pedroso conservou a imagem em sua casa durante vários anos; por fim, resolveu dá-la a seu filho Atanásio, que morava em Itaguassú, porto onde se dera o encontro da estátua. Atanásio, movido então pela sua fé, ergueu um pequeno oratório, onde depositou a venerável efígie; aí começou o povo da vizinhança a reunir-se aos sábados à noite, a fim de rezar o santo rosário e praticar as suas devoções.

Certa vez, durante uma dessas práticas aconteceu que, embora a noite estivesse muito calma, de repente se apagaram as velas que alumiavam a imagem da Senhora. Os fiéis, querendo reacendê-las, verificaram com surpresa que elas por si, sem intervenção de alguém, se reacenderam.

Prodígios

Foi este o primeiro prodígio registrado em torno da Senhora Aparecida. O mesmo portento se repetiu em outras ocasiões, chegando a notícia ao conhecimento do pároco de Guaratinguetá, Pe. José Alves Vilela. O sacerdote decidiu então construir para a estátua uma capelinha mais ampla, capaz de satisfazer ao crescente número dos devotos da Virgem, a qual ia multiplicando graças a benefícios sobre os fiéis. Em breve, também essa capelinha se tornou pequena demais. Foi preciso pensar em nova construção em lugar mais elevado que a margem do rio. Escolhido o morro dos Coqueiros, o mais vistoso e acessível dos que margeiam o Paraíba, começou-se ali em  1743 a edificação de novo santuário, com a provisão do bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei João da Cruz; aos 26 de julho de 1745, a obra terminada foi devidamente benta, dando lugar à celebração da primeira Missa. Doravante o morro e suas cercanias tomaram o nome de “Aparecida”, designação até hoje conservada. “Aparecida do Norte” é designação popular, pois a cidade fica a sudeste do Estado de São Paulo.

Entre os milagres que muito provocavam o fervor do povo, conta-se o do escravo, ocorrido por volta de 1790 e famoso nos tempos subseqüentes. Segundo a versão mais abalizada, as correntes se soltaram das mãos do escravo, quando este implorava a proteção de Nossa Senhora Aparecida diante da respectiva imagem. Eis como o refere o Pe. Claro Francisco de Vasconcelos pelo ano de 1838:

“Um escravo fugitivo, que estava sendo conduzido de volta à fazenda pelo seu patrão, ao passar pela Capela, pediu para fazer oração diante da Imagem. Enquanto o escravo estava em oração, caiu repentinamente a corrente, deixando intato o colar que prendia seu pescoço. A corrente se encontra até hoje pendente da parede do mesmo Santuário como testemunho e lembrança de que Maria Santíssima tem suprema autoridade para desatar as prisões dos pecadores arrependidos. Aquele senhor, tocado pelo milagre, ofereceu a Nossa Senhora o preço dele e o levou para casa com uma pessoa livre, a fim de amar e estimar aquele seu escravo como pessoa protegida pela soberana Mãe de Deus” (relato extraído da obra de Júlio J. Brustoloni, A Mensagem da Senhora Aparecida, Ed. Santuário, Aparecida, SP, 1994).

2. De 1745 aos nossos dias: A Dedicação do Brasil à Virgem SS.

A nova igreja foi diversas vezes reformada e aumentada, até que em 1846 foi iniciada a construção de um templo ainda mais vasto. Os trabalhos, porém, diversas vezes interrompidos, só chegaram a termo em 1888; aos 8 de dezembro desse ano, Dom Lino Deodato de Carvalho, oitavo bispo de São Paulo, procedeu à bênção do novo santuário, que até nossos dias subsiste em Aparecida, ornado com o título de “Basílica Menor”, título concedido por S. Pio  X aos 29 de abril de 1908.

Para atender aos numerosos grupos de peregrinos que afluíam ao local, o mesmo prelado obteve a vinda dos RR. PP. Redentoristas, os quais desde 1894 têm a seus cuidados o santuário e a respectiva cura pastoral.

Aos 8 de setembro de 1904, realizou-se a solene coroação de Nossa Senhora Aparecida, com a participação do Sr. Núncio Apostólico Dom Júlio Tonti, do representante do Presidente da república, do Episcopado do Brasil Meridional e de grande multidão de sacerdotes e fiéis.

Padroeira

Finalmente, o S. Padre Pio XI houve por bem acolher o pedido da hierarquia e dos fiéis, que desejavam fosse Nossa Senhora Aparecida proclamada Padroeira principal de todo o Brasil. Aos 16 de julho de 1930 publicava S. Santidade o seguinte “Motu proprio”:

“…Por conhecimento certo e madura reflexão Nossa, na plenitude de Nosso poder apostólico, pelo teor das presentes letras, constituímos e declaramos a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”, Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. Este padroado gozará dos privilégios litúrgicos e das outras honras que costumam competir aos Padroeiros principais de lugares ou regiões. Concedendo isto para promover o bem espiritual dos fiéis no Brasil e aumentar cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus, decretamos que cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus, decretamos que as presentes letras estejam e permaneçam sempre firmes, válidas e eficazes, surtindo seus plenos e inteiros efeitos”.

Este decreto pontifício foi publicado na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, fazendo-se a consagração do Brasil à Virgem Ssma., com grande júbilo dos fiéis.

No ano seguinte, o mesmo ato se repetiu em termos mais solenes na capital da República. A imagem da Virgem foi, sim, entusiasticamente levada de Aparecida para o Rio de Janeiro, onde percorreu em procissão o centro da cidade aos 31 de maio de 1931. Finalmente na Esplanada do Castelo, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria.

Devoção

Este ato, que mereceu os aplausos da opinião pública em geral, estava bem na linha de venerável tradição da nação brasileira, a qual sempre mostrou especial devoção à Virgem Imaculada. Entre outros fatos expressivos dessa estima, pode-se notar que, ao proclamar a independência do Brasil, D. Pedro I, o primeiro Imperador, confirmando aliás antiga provisão de Sua Majestade o rei de Portugal do ano de 1646, declarou a Virgem da Conceição Padroeira do Brasil.

Numerosos são os relatos de milagres que tanto a imprensa como a voz do povo atribuem à Virgem Aparecida. As autoridades eclesiásticas não se empenham por definir a autenticidade de tais portentos, nem mesmo a dos episódios concernentes à aparição da Senhora Imaculada no porto de Itaguassú em 1717. Doutro lado, não vêem razão para se opor à devoção de Nossa Senhora Aparecida: ao contrário, esta tem produzido os melhores frutos, espirituais e corporais, no povo brasileiro. É por isto que os Srs. Bispos têm mesmo patrocinado e fomentado a piedade para com a Excelsa Padroeira do Brasil. Contudo, a bem da verdade, deve-se notar que tal atitude favorável é independente de qualquer pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a genuinidade dos prodígios que se narram em torno da Virgem e do Santuário de Aparecida.

A Santa Igreja de modo nenhum entende fazer de tais relatos matéria de fé; deixa, antes, a cada um de seus filhos a liberdade de ponderar o grau de autoridade que merecem os respectivos documentos (o que de resto não desmerece o valor de autenticidade que realmente possa caber a tais episódios).

Basílica

A presença do sobrenatural em Aparecida exigiu que se empreendesse a construção de nova e mais vasta Basílica. Esta, iniciada em 1955 sob os auspícios do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, estava concluída, com todas as suas capelas e quatro naves, em 1980. A área construída é de 23.000 m² e a área coberta mede 18.000 m². A lotação normal é de 45.000 pessoas, podendo a lotação máxima chegar a 70.000 pessoas. Até hoje são relatados milagres e favores de ordem física obtidos por intercessão de Nossa Senhora Aparecida em seu Santuário; todavia o que mais importa aí, são os numerosos casos de conversão espiritual e reencontro da paz interior alcançada pelo patrocínio de Maria SSma.

O fato de que a imagem da Senhora Aparecida tem a cor preta, tem sido objeto de comentários… Na verdade, o fenômeno se explica bem pela longa permanência da estátua dentro da água do rio. Na época da descoberta o fato não deve ter tido a repercussão e importância que hoje lhe querem atribuir.

A propósito recomenda-se a leitura do livro do Pe. Júlio J. Brustoloni: A Mensagem da Senhora Aparecida, Ed. Santuário, Rua Padre Claro Monteiro, 342, Aparecida (SP), 1994.
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¹ O título “Nossa Senhora Aparecida” designa a Santíssima Mãe de Deus tal como ela apareceu na localidade do Estado de São Paulo que hoje traz o nome de “Aparecida do Norte” (nas proximidades de Pindamonhangaba e Guaratinguetá). Lá Nossa Senhora se manifestou com as notas que, na arte sacra, a caracterizam como imaculada em sua conceição; daí dizer-se comumente “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”. – A mesma Virgem Ssma., tendo-se manifestado em Fátima, é chamada “Nossa Senhora de Fátima”; tendo aparecido em Lourdes, é dita “Nossa Senhora de Lourdes”, etc. Tais denominações não supõem diversas “Nossas Senhoras”, mas significam sempre a mesma Santa (“Santa Maria, Mãe de Deus …”), apenas invocada sob títulos diferentes.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 405 – Ano 1996 – p. 72

Aleteia

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil

Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida 

Os brasileiros festejam nesta segunda-feira, dia 12 de outubro Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. Recordamos a mensagem do Papa de um ano atrás.

Vatican News

Em outubro de 1717, o Conde de Assumar, então Governador do Brasil, foi em visita a Guaratinguetá. Visto que aqueles eram dias de abstinência de carne, Felipe Pedroso, Domingos Martins Garcia e João Alves foram encarregados de procurar outro tipo de alimento para o ilustre visitante e sua comitiva.

Após algumas tentativas decepcionantes, os pescadores encontraram uma imagem de terracota, representando a figura da Imaculada Conceição. Ela foi pescada em duas vezes: na primeira, acharam o corpo e, na segunda, a cabeça. O fato ocorreu no Porto de Itaguaçu. Como nos relatos bíblicos, a pesca sucessiva foi extremamente abundante.

Os piedosos pescadores e seus familiares iam rezar, todas as noites, diante da imagem da Virgem Imaculada na casa de Felipe Pedroso. Mais tarde, este construiu um pequeno oratório onde colocou a imagem aparecida. Todos os sábados, os vizinhos e as pessoas que sabiam do fato, se reuniam para rezar o Terço. A partir disso, começaram a ocorrer milagres e o povo começou a chamar a imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Em 1745 foi inaugurada a primeira capela; com o passar do tempo, em 1842, foi iniciada a construção de um templo, inaugurado em 8 de dezembro de 1888 e, em 1893, elevado a Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Em 1904, deu-se a coroação solene da imagem, a pedido do Papa São Pio X; em 1930, Pio XI a declarou e proclamou “Rainha e Padroeira do Brasil”.

Em 1967, o Papa Paulo VI ofereceu a “Rosa de Ouro” à Basílica de Aparecida, por ocasião dos 250 anos do aparecimento da imagem.

A atual Basílica Nacional foi inaugurada, solenemente, em 1980, pelo Papa São João Paulo II.

Papa Francisco e Nossa Senhora Aparecida

No dia 12 de outubro de 2019, no âmbito dos trabalhos do Sínodo dos Bispos para a Amazônia o Papa Francisco gravou uma mensagem ao povo brasileiro, uma mensagem especial de grande atualidade:

No dia de Nossa Senhora Aparecida, trago no coração o povo brasileiro e envio uma saudação. Que Ela, pequenina e humilde, continue os cobrindo e acompanhando em seu caminho: caminho de paz, de alegria, de justiça. Que Ela os acompanhe em suas dores, quando não podem crescer por tantas limitações políticas ou sociais ou ecológicas, e de tantos lugares provêm. Que Ela os ajude a crescer e a se libertar continuamente. Que os abençoe.

https://youtu.be/3qmdnCzRd5E

O lugar da Mãe Aparecida nas Santas Missões

Todos bem conhecem o amor e o carinho que os Missionários Redentoristas têm para com Nossa Senhora. Esse apreço foi herdado de Santo Afonso, o “cantor das glórias de Maria”.

Nas missões alfonsianas a expressão pública da devoção mariana tinha um lugar especial na programação da missão. Uma das cerimônias mais tocantes se realizava no interior da igreja com a imagem da Santíssima Virgem sendo conduzida em procissão, encerrando-se com um grande sermão alusivo sobre ela. Era esse o modo de se proceder: a imagem ficava exposta todas as noites; porém nesse dia ela saia de seu altar. Logo após o ato de contrição para o qual tudo já devia estar preparado, abria-se as portas da igreja e os sacerdotes vestidos com seus hábitos carregavam o andor com a imagem da Virgem, passando por entre os fiéis, indo colocá-la no lugar de costume, junto do púlpito. E ali realizava-se o grande sermão que tocava o coração de todos, movendo os últimos empedernidos.

Herança alfonsiana e conhecimento da “alma religiosa” do brasileiro

Quando os redentoristas alemães vieram para o Brasil, depois de alguns anos de prática missionária, as Santas Missões ao estilo pregado pelas equipes missionárias de São Paulo passaram a contar com um grande triunfo nacional que se chama Nossa Senhora Aparecida. É incontestável, que essa imagem tão pequenina, atraía multidões de brasileiros. Ela se tornou a grande missionária, rainha das missões, mãe das comunidades e, na esteira de sua benção, se encontram os missionários redentoristas.

Foi na missão pregada na cidade valeparaibana de Queluz que pela primeira vez se levou a imagem à missão. Isso no ano de 1902. Padre Lourenço Gahr, cronista daquela missão nos deixou um precioso relatório, que destaca o patrocínio da Mãe de Deus. Assim escreveu ele:

“Ninguém ali se lembrava de uma missão. Desta vez, foi como se a graça caísse como um raio sobre os corações, obrigando-os a ouvir a Palavra de Deus e a receber os sacramentos. Apesar da muita e continuada chuva, a procura do confessionário foi intensa desde a madrugada até noite adentro. A atração particular do povo foi uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que leváramos e expuséramos à veneração. Diante dela rezavam os fiéis sem cessar e montavam guarda”.

Redentoristas de São Paulo: as primeiras missões

A partir de então, seguindo a tradição alfonsiana, Maria, em sua imagem de Aparecida, passou a ser venerada nas Santas Missões, sempre deixando uma feliz lembrança nas mentes e corações aqueles que eram missionados.

Para fazer crescer o fervor e a devoção, alguns atos se tornaram comuns em cada missão pregada: toda pregação sempre é encerrada com o missionário falando de Nossa Senhora. Também o sábado, dedicado à Nossa Senhora, conta com atos especiais. Além do mais, em cada missão se fazia a recepção festiva da imagem missionária, e se organizava uma guarda de honra que se revezava junto da imagem.

Como atos de piedade ainda hoje são realizadas consagrações, procissões e promessas e em muitas paróquias missionadas dá-se a criação de irmandades e arquiconfrarias.

Além destas formas de expressão da religiosidade próprias da espiritualidade redentorista, nas missões também são aproveitadas outras formas e expressões já existentes no Brasil, mas que foram clarificadas. Inclusive algumas formas antes consideradas como “profanas” são aproveitadas como a queima de fogos na recepção da imagem missionária, nas procissões, no dia do cruzeiro, usando ainda o colorido das bandeiras, dos estandartes e fitas.

Algumas das expressões da religiosidade popular bem esclarecidas tornaram-se decisivas no sucesso de uma missão especialmente aquelas que se relacionavam com Nossa Senhora e o altar onde fica a imagem, conhecido como “Altar da Graça” é ainda hoje preparado com todo esmero e dedicação.

Escrito por padre Inácio de Medeiros, CSsR

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida.

Fonte: A12

Vatican News

NOSSA SENHORA APARECIDA

Nossa Senhora de Aparecida, Brasil  (© Vatican News)

Há 303 anos, dia 12 de outubro...

Na manhã de 12 de outubro de 1717, três pescadores lançaram seus barcos no Rio Paraíba, que escorria até à sua cidade. Eles tinham sido encarregados de trazer peixes para o banquete, que se realizaria no dia seguinte, na cidade de Guaratinguetá, por ocasião da visita do conde Assumar, Dom Pedro de Almeida Portugal, governante da capitania de São Paulo e Minas Gerais, durante uma viagem a Vila Rica. Os três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso, pareciam não ter sorte naquela manhã: após várias tentativas infrutíferas, tinham quase desistido, quando João Alves tentou novamente. Ele jogou sua rede nas águas do rio e, lentamente, a puxou para cima. Havia pescado alguma coisa, mas não era peixe... parecia uma espécie de madeira.

Quando tirou da rede, o pedaço de madeira parecia fazer parte de uma estátua da Virgem Maria, infelizmente sem cabeça.

A pesca milagrosa

Ao lançar novamente a rede, esta vez João Alves encontrou nas malhas outro pedaço de madeira, de forma arredondada, que parecia precisamente a cabeça da mesma estátua: tentou ajuntar os dois pedaços e percebeu que se encaixavam perfeitamente. Como que atraído por um impulso, João Alves lançou, outra vez, a rede nas águas, mas ela tinha ficado tão pesada, que não conseguia tirá-la, por estar lotada de peixes. Então, seus companheiros lançaram também suas redes nas águas e a pesca daquele dia foi realmente abundante.

A veneração popular

No dia seguinte, os três pescadores juntaram os dois pedaços da estátua, limparam-nos dos detritos do rio e Filipe Pedroso a colocou na sua humilde casa. Em pouco tempo, a notícia da pesca milagrosa se difundiu pelas cidades vizinhas e, todas as noites, um grupo cada vez maior de simples pescadores começou a ir prestar homenagem à Virgem Maria e rezar o terço. Eles deram-lhe o nome de “Aparecida”, que apareceu. Com o passar do tempo, a multidão tornou-se tão numerosa que a casa do pescador não a podia conter mais. Por isso, foi construída um primeiro oratório e, depois, em 1737, uma Capela maior. Foram muitos os testemunhos de graças e milagres alcançados naquele pequeno santuário.

A nova igreja

Em 1834, foi iniciada a construção de uma igreja maior - a atual Basílica Velha, - concluída em 1888 e a estátua foi transferida. Em 1904, a imagem foi coroada a pedido do Papa Pio X. Em 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor, sagrada em 1909. Em 1930, o Papa Pio XI a elevou a Basílica, declarando Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil.

O primeiro Papa no Santuário de Aparecida

Papa João Paulo II foi o primeiro Papa a visitar o Santuário de Aparecida, em julho de 1980. Durante a sua Peregrinação Apostólica, disse: “O que buscavam os antigos romeiros? O que buscam os peregrinos de hoje? Aquilo mesmo que buscavam no dia, mais ou menos remoto, do Batismo: a fé, e os meios de alimentá-la. Buscam os sacramentos da Igreja, sobretudo a reconciliação com Deus e o alimento eucarístico. E voltam revigorados e agradecidos à Senhora, Mãe de Deus e nossa”.

Vatican News

domingo, 11 de outubro de 2020

Fascínio e testemunho de Francisco

Antoine Mekary | ALETEIA
por Francisco Borba Ribeiro Neto

Francisco, com seu exemplo, nos indica um caminho para a verdadeira humildade e a verdadeira simplicidade

Nesse momento, em que o Francisco está lançando sua nova encíclica, Fratelli tutti, vale a pena uma reflexão sobre o fascínio que o Papa exerce tanto entre católicos quanto entre não católicos – e sobre o que nós podemos aprender com ele, para nosso bem e de todos os que encontramos. Para entendermos esse fascínio, não podemos deixar de nos focar também na figura do Santo de Assis, provavelmente o mais carismático entre os homens santos católicos, do qual o Papa emprestou o nome.

Se voltarmos na história, para o dia de sua eleição, veremos que a humildade e a simplicidade de Bergoglio cativaram o mundo imediatamente. A opção por uma Igreja “pobre para os pobres”, a visão que partia da periferia – local característico dos excluídos – e o movimento em direção a essas periferias, foram “capturados” pelas pessoas, por assim dizer, a partir dessa humildade e dessa simplicidade. Num mundo em que os poderosos usam sua força para se imporem aos demais, um chefe humilde é uma revolução em si mesmo.

A humildade e a simplicidade não são posicionamentos político-ideológicos. São virtudes morais, que podem estar presentes ou faltar seja qual for o posicionamento de uma pessoa. Encontrarmos gente que se torna arrogante por ser mais rica, mais poderosa ou materialmente mais bem-sucedida que os demais; mas também encontramos gente arrogante porque se considera mais inteligente, mais correta ou com um posicionamento político mais adequado. Paradoxalmente, podemos encontrar pessoas que são arrogantes por se considerarem mais justas, mais bondosas ou até mais humildes que as demais!

Francisco, com seu exemplo, nos indica um caminho para a verdadeira humildade e a verdadeira simplicidade. O humilde vai sempre em busca do seu irmão, quer dialogar com ele, entendê-lo e de alguma forma compartilhar sua vida. O humilde sofre com as dores do outro e não se propõe a condená-lo, mas sim a ajudá-lo em suas dificuldades.

A precedência da empatia

Francisco demonstrou que a empatia precede o julgamento. A frase lapidar, que marca essa posição existencial, é a resposta dada pelo Papa a uma jornalista, na sua viagem de volta da Jornada Mundial da Juventude no Brasil, quando diz “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar?”. A humildade e a simplicidade são compreendidas facilmente, mas essa precedência da empatia exige reflexão. Muita gente confunde essa empatia com falta de critérios claros, quando a própria empatia já é a aplicação de um critério maior: a caridade que engloba e, de certa forma, supera todos as demais dimensões da vida cristã (cf. 1Cor 13).

Além disso, precisamos ter uma visão realmente cristã do que seja o “juízo”. Quando pensamos, por exemplo, no famoso método Ver/Julgar/Agir, o juízo é muito semelhante ao “discernimento” jesuíta: aprofundar-se tanto na realidade quanto na intimidade com Deus, para compreender o Seu desígnio naquela situação. O discernimento procura o verdadeiro e o justo, para orientar a ação. Numa ótica “mundana”, contudo, o julgamento destina-se a condenar ou não condenar (isto é, absolver) alguém ou alguma situação. Enquanto o juízo cristão é uma postura propositiva, voltada ao bem da pessoa e do outro, o julgamento humano é normalmente entendido como uma postura negativa, voltada – na melhor das hipóteses – à supressão de algo que não está certo.

Daí nasce a capacidade de diálogo, que se abre para o encontro com o outro – categorias chave para a compreensão da nova encíclica do Papa.

O fruto da misericórdia

Essas virtudes de Francisco/Bergoglio não são méritos exclusivos dos cristãos. Existe uma infinidade de não cristãos que praticam esses valores, tanto ou mais que a maioria dos cristãos. Contudo, os cristãos contam com uma ajuda a mais, uma facilitação para viverem assim.

Certa vez, um jornalista agnóstico, pessoa muito generosa e sincera, depois de passar um longo tempo procurando entender o cristianismo, me deu a seguinte explicação: “Tanto vocês, cristãos, quanto eu, agnóstico, somos capazes de amar e procurar fazer o bem. Mas vocês acreditam fazer a experiência de serem amados com um amor imenso e totalmente gratuito e, por isso, agem acreditando que podem e devem amar aos demais com esse amor gratuito. Eu nunca experimentei esse amor, por isso não acredito que conseguirei amar assim”.

A fonte da postura humana e do testemunho do Papa é a experiência que ele mesmo faz da misericórdia, de receber um amor imerecido e gratuito, um perdão que supera seus limites e pecados – como declara numa entrevista ao jesuíta Antonio Spadaro. Por isso proclamou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

O jornalista agnóstico estava certo ao perceber que a experiência do encontro com Cristo que nos ama gratuitamente é a origem do amor e do testemunho cristão, como lembra o Papa em sua carta ao jornalista Eugenio Scalfari.

Fratelli tutti?

Dizer que todos somos irmãos pode parecer ingênuo às pessoas do nosso tempo, marcado por um certo realismo cínico, que “desconstrói” valores e ideais. É preciso um testemunho como o de Francisco pode trazer credibilidade a essas palavras. Quando esse testemunho acontece, se mostra fascinante e capaz de levar esperança e gerar um compromisso com o bem comum.

Aleteia

A forma do batismo: somente por imersão? (Parte 7/12) – O batismo do eunuco

Veritatis Splendor

O BATISMO DO EUNUCO

O texto diz assim:

  • “E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: ‘Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?’ E disse Filipe: ‘É lícito, se crês de todo o coração’. E, respondendo ele, disse: ‘Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus’. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho” (Atos 8,36-39).

Se nossos amigos imersionistas afirmam que “descer” é “mergulhar”, então devem interpretar (cf. Atos 8,38) que o batizador e o batizado, ambos, mergulharam na água e, portanto, os dois foram batizados ao mesmo tempo; e, o que é pior: Felipe se rebatizou, pois ele já era batizado – tudo isso porque o texto diz “desceram ambos à água” e nossos amigos interpretam que esse “descer” significa batizar-se por imersão.

Felipe desceu à água e subiu novamente, assim como também o eunuco. Os dois desceram à água. Se os nossos amigos imersionistas podem demonstrar que o eunuco foi mergulhado, eles acabam demonstrando exatamente o mesmo em relação a Felipe!

Com efeito, o fato de o texto dizer que “desceram” não quer dizer que o eunuco foi batizado por imersão, já que o mesmo texto também diz que Felipe desceu à água, porém ele não foi batizado. Portanto, não há prova absoluta de um batismo por imersão nessa passagem. Nós simplesmente ignoramos qual forma foi empregada aí, mas pelo contexto que nos foi especificado, que se tratava de um lugar com “alguma água” (Atos 8,36), “no deserto” (Atos 8,26), o mais provável é que se deu por infusão [ou aspersão].

Entrar na água pode sifnificar que se mantiveram de pé em cima da água, para tomar algo dela em um recipiente ou hissopo, a fim de poder derramá-la ou aspergí-la e, a seguir, deixá-la, já que o texto também diz que “ambos saíram da água”. Desse modo, “entrar” e “sair” não significa absolutamente que houve ali um batismo por imersão.

Coloquemos o exemplo (cotidiano) de uma criança colocando os pés numa poça de água; sua mãe, ao vê-lo pisar na poça, grita brava: “Sai da água”; e o menino sai da água. Esse “sair da água” não significa que o menino tenha mergulhado nela, já que se tratava apenas de uma poça d’água.

Logo, o descer para o batismo nas expressões de Mateus 3,16, que diz que “Jesus batizado, saiu logo da água”, e de Atos 8,38, que diz que ambos desceram e saíram da água, não afirma sem margem a dúvidas que as pessoas aí mergulharam; uma vez que a água sempre está abaixo do nível da terra, sempre se fala em “descer” e “sair” ou “subir” da água, mesmo que tenham somente colocado os pés na água.

Como os imersionistas interpretariam então João 11,55, que diz: “E muitos subiram daquela região a Jerusalém”? As pessoas saíram debaixo da terra para se dirigirem a Jerusalém? Óbvio que não!

Veritatis Splendor

XXVIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

Dom José Aparecido
Adm. Apost. Arquidiocese de Brasília

A FESTA DO CASAMENTO ESTÁ PRONTA

Neste Domingo vibramos na feliz esperança da ressurreição e da participação no Banquete do Cordeiro. No seu grande apocalipse, Isaías anuncia que o Senhor dos exércitos, após o juízo sobre a humanidade infiel à antiga aliança, preparará “para todos os povos, um banquete de ricas iguarias, regado com vinho puro, servido de pratos deliciosos e dos mais finos vinhos” (Is 25,6), libertando-os de toda cadeia. Este banquete é prefiguração da Eucaristia e do Banquete escatológico antecipado na história pela mesma Eucaristia.

Esta promessa escatológica não nos livra das dificuldades da vida presente. Na segunda Leitura, São Paulo confidencia: “Eu aprendi o segredo de viver em toda e qualquer situação, estando farto ou passando fome, tendo de sobra ou sofrendo necessidade. Tudo posso naquele que me dá forças” (Flp 4,12-13). Cheio de gratidão, ele glorifica o Deus providente, que o sustém pelas mãos generosas dos irmãos, e nos conforta na esperança da vida eterna.

Ao dar este banquete, “o Senhor Deus eliminará para sempre a morte, e enxugará as lágrimas de todas as faces” (Is 25,8). Paulo aludirá a esta promessa afirmando que a ressurreição de Cristo comportou a vitória definitiva sobre a morte (cf. 1Cor 15,54-55). João dela se lembrará ao anunciar a salvação que o Cordeiro morto e ressuscitado trará, enxugando toda lágrima e destruindo a morte, a dor e todo pranto (cf. Ap 21,4 e 7,17). Ao pedir que Deus receba os mortos no Seu Reino, a Igreja assume esta esperança: “Unidos a eles, esperamos também nós saciar-nos eternamente da vossa glória, quando enxugardes toda lágrima dos nossos olhos. Então, contemplando-vos como sois, seremos para sempre semelhantes a vós e cantaremos sem cessar os vossos louvores” (Oração Eucarística III).

A primeira Leitura exalta justamente a fidelidade de Deus à Sua promessa. O Evangelho (Mt 22,1-14), contudo, nos faz refletir sobre a exigência de uma adequada resposta humana: “Amigo, como entraste aqui sem o traje de festa?” (v.8). Da parte de Deus tudo está dado. A nossa correspondência, porém, será fruto da experiência exigente da caridade, a veste nupcial. “Ninguém – diz são Josemaría – é excluído da salvação, se livremente abre as portas às amorosas exigências de Cristo” (É Cristo que passa, 180). Para saborear as ricas iguarias e os vinhos mais finos é preciso afastar o coração de tudo o que afasta de Deus.

Bento XVI assim conclui uma meditação sobre esta Parábola do Evangelho de Mateus: “Todos nós somos convidados a ser comensais do Senhor, a entrar com fé no seu banquete, mas devemos vestir e guardar o hábito nupcial, a caridade, viver um profundo amor a Deus e ao próximo” (Homilia, 9.X.2011).

A Igreja missionária anuncia a alegria e a esperança do Evangelho pelas ruas e encruzilhadas das nossas cidades, convidando todos ao Banquete do Reino.

Folheto: "O Povo de Deus"|Arquidiocese de Brasília

S. JOÃO XXIII, PAPA

S. João XXIII, Basílica de São Paulo Extramuros

Ângelo José Roncalli, quarto filho de 13, nasceu em Sotto il Monte, Bergamo, em 25 de novembro de 1881. Em 1892, entrou para o Seminário de Bergamo e, em 1896, foi admitido à Ordem Franciscana Secular. De 1901 a 1905 foi aluno no Pontifício Seminário Romano e, em 1° de agosto de 1904, ordenado sacerdote. A seguir, foi convocado como secretário do Bispo Giacomo Maria Radini-Tedeschi, e, por isso, regressou à "sua" cidade de Bergamo.

Experiência da guerra

Viver ao lado do Bispo e acompanhá-lo nas suas visitas aos lugares mais recônditos da diocese, certamente, constituíram a inspiração pastoral que guiará sempre o futuro Papa. Porém, em 1914, tudo se interrompeu bruscamente: faleceu Dom Giacomo Radini e estourou a I Guerra Mundial. Quando a Itália entrou no conflito, em 1915, Ângelo Roncalli foi convocado para servir como novo Sargento no campo da Saúde; depois, tornou-se Capelão militar, trabalhando nos hospitais militares de reserva, e coordenador na assistência espiritual e moral dos soldados.

Em Roma, a serviço da Santa Sé

Ângelo Roncalli entrou oficialmente no Vaticano, em 1921, onde teve início a segunda parte da sua vida: foi convocado a Roma, por Bento XV, para presidir, pela a Itália, ao Conselho Central da Pontifícia Obra de Propagação da Fé; quatro anos depois, o novo Papa, Pio XI, o nomeou Visitador Apostólico na Bulgária. Nomeado Bispo, em 19 de março de 1925, em Roma, começou sua missão, em Sofia, em 25 de abril. A seguir, foi nomeado primeiro Delegado Apostólico na Bulgária, visitando as comunidades católicas e estabelecendo cordiais relações com as demais comunidades cristãs, até 1934.

Vida no exterior, como pastor missionário

Por vários anos, Ângelo José Roncalli foi representante da Santa Sé no exterior. Em 27 de novembro de 1935 ,foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia e Administrador Apostólico dos latinos em Constantinopla. Não foi uma tarefa fácil. Na "nova" Turquia, proclamada Estado não confessional, trabalhou para que os Católicos não se sentissem excluídos da sociedade; ao invés, na Grécia, deviam melhorar as relações com o Patriarca e os metropolitas da Igreja Ortodoxa. Com a explosão da II Guerra Mundial, a situação de Dom Roncalli teve que mudar, novamente: em 20 de dezembro de 1944, Pio XII confiou-lhe, mais uma vez, uma tarefa delicada: foi nomeado Núncio Apostólico em Paris. A França, em uma situação de libertação, iniciava um profundo processo de laicismo estatal. O que sempre inspirava Dom Roncalli, em cada nova função, era buscar a simplicidade evangélica, mesmo diante das questões diplomáticas mais complexas: era sustentado por um desejo pastoral sacerdotal, em todas as situações, com também por uma piedade sincera, que consistia em dedicar, diariamente, um maior tempo à oração e à meditação.

Pastor de almas na Cátedra de Pedro

Como quase sempre acontece, a vida passa por rápidas mudanças. Assim aconteceu com Dom Ângelo Roncalli: em 1953, foi criado Cardeal e, imediatamente, teve que voltar para a Itália, onde se tornou Patriarca de Veneza. Achou, portanto, que estão podia dedicar os últimos anos da sua existência ao ministério direto de cuidar das almas, na capital veneta. Ao invés, com a morte de Pio XII, foi eleito Papa, em 28 de outubro de 1958, escolhendo o nome de João XXIII. Durante seu quinquênio de Pontificado, deu ao mundo uma autêntica imagem de Bom Pastor, recebendo, de fato, o apelido de "Papa bom" ou "Papa da bondade".

Concílio Vaticano II e Magistério da Igreja

João XXIII demonstrou, imediatamente, ser um Papa inovador: convocou o Sínodo Romano, instituiu a Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico, mas, sobretudo, de modo surpreendente, da Basílica de São Paolo fora dos Muros, convocou, em 25 de janeiro de 1959, o Concílio Ecumênico Vaticano II. O objetivo não era mudar a Doutrina católica, nem definir novas verdades de fé, mas repropor o conteúdo da fé ao homem contemporâneo, para dar resposta às novas problemáticas e desafios de uma sociedade em evolução. Coerente com uma atitude de diálogo e compreensão e não de oposição e condenação, convidou também expoentes das várias Confissões cristãs como observadores do Concílio. A mensagem de João XXIII foi lançada com força pelas suas oito Encíclicas, inclusive a "Mater et magistra", de 1961, na qual repropôs o ensinamento social da Igreja, 70 anos depois da "Rerum novarum" e da "Pacem in terris”, de 1963: o primeiro documento da história, dirigido a todos os homens de boa vontade, no qual destacava os conceitos de paz e de uma justa ordem social. Há algum tempo, João XXIII estava doente. De fato, faleceu em 3 de junho de 1963, logo depois do Dia de Pentecostes. O “Papa bom” foi beatificado por João Paulo II, durante o Grande Jubileu de 2000, e canonizado pelo Papa Francisco, em 27 de abril de 2014.

Oração que João XXIII gostava de rezar durante a Missa:

Pai do Céu. Pai de misericórdia!
Atendei a oração do vosso servo:
1) pela satisfação e remissão de todos os meus pecados;
2) pela saúde e fortaleza da minha alma, da minha casa e daqueles que estão vinculados ao meu serviço;
3) pela satisfação e remissão dos pecados dos governantes,
dos prelados, das almas consagradas e de todos,
para que vos dignais conceder a todos a graça do Espírito Santo;
4) por todos os pecadores do mundo, a fim de convertê-los
e reconduzi-los ao caminho da salvação;
5) pelo conforto dos aflitos, concedendo-lhes apoio e verdadeira paciência;
6) pelo refrigério e libertação das almas do purgatório, especialmente as que têm direito à minha oração;
enfim, para iluminar todos os povos, que não receberam a luz do Evangelho, e os nossos irmãos separados, para que possam vos conhecer e amar.
Pai Todo-Poderoso, bendito sejais para sempre, junto com o Filho e o Espírito Santo. Assim seja!

Vatican News

sábado, 10 de outubro de 2020

TODOS IRMÃOS: O que será de um mundo sem o amor?

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)

“Fratelli tutti” – Todos irmãos – é a interpelação antiga, mas sempre atual, da autenticidade cristã, que inspira a nova Carta Encíclica do Papa Francisco. O Santo Padre retoma a exemplaridade de São Francisco de Assis, que partilha o segredo de sua grande paixão: o amor a todos, ‘todos irmãos’. O amor que vem de Deus é a fonte sempre transformadora. A referência argumentativa insubstituível está inscrita na Primeira Carta do Evangelista João – “Deus é amor, e quem permanece em Deus, permanece no amor” (I Jo 416). A exemplaridade de Francisco de Assis é inspiradora comprovando que vale temperar a vida com o sabor do Evangelho, deixando-a repleta de amor. O amor é capaz de gerar mudanças significativas nas pessoas, convertendo-as em instrumento de transformação social. O amor fecunda a profecia que o mundo precisa ouvir, fortalecendo e iluminando entendimentos para inspirar gestos
qualificados.

Percebe-se a razão que faz o Pobrezinho de Assis, mesmo após oito séculos de sua presença testemunhal, continuar preciosa referência para a contemporaneidade. A sua vida é lição com propriedades singulares na tarefa de se estabelecer aproximações e diálogos. São Francisco inspira a competência humana para “reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física, do ponto da terra onde cada um nasceu ou habita”. Importante lembrar que São Francisco de Assis já havia inspirado o Papa Francisco a escrever a Carta Encíclica Laudato Sí, sobre o cuidado com a casa comum. Agora, o seu testemunho, a partir da nova Encíclica do Papa, evoca a centralidade da fraternidade universal e da amizade social. O brilho dessa profecia faz reconhecer a necessidade de se encontrar respostas e saídas para mudar a civilização contemporânea, reconfigurando tudo – da economia à convivialidade.

O que será de um mundo sem o amor?

Foto ilustrativa: pearleye by Getty Images

Amor a Deus e ao próximo

Especialmente aos cristãos é imprescindível cultivar o amor ao próximo, selo de autenticidade do amor a Deus, lembrando que o Mestre Jesus entrelaçou dois mandamentos. Reconhecer que não é possível separar esses mandamentos garante a superação dos riscos das escolhas equivocadas, justamente por desconsiderarem o próximo. Só um coração sem fronteiras tem o tecido próprio do amor que gera mudanças, é alicerce da amizade social e da fraternidade universal. Avanços tecnológicos, científicos e culturais são indispensáveis, mas é evidente que, sem o amor, o mundo não encontrará a nova ordem almejada. A Encíclica “Fratelli Tutti” ensina que a vivência do amor é o caminho para fazer nascer, entre todos, o anseio mundial pela fraternidade.

A civilização contemporânea carece de relações mais fraternas. A triste realidade de que, mesmo após mais de 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, muitos ainda não os reconhecem ou são privados de suas garantias, sinaliza a carência generalizada de fraternidade. Urgente é, pois, inspirar-se pelas chamas da profecia, que alertam para a inigualável força do amor fraterno, capaz de mudar o coração e iluminar a mente. Como sublinha o Papa Francisco, sem essa força persistirão as inúmeras formas de injustiças alimentadas por visões antropológicas redutivas e por um modelo econômico fundado no lucro, explorador, que depreda de modo indiferente e doentio a
Casa Comum, além de descartar e, até mesmo, assassinar seres humanos.

Ligação entre todos

No primeiro capítulo de sua Carta Encíclica, o Papa Francisco aponta as sombras de um mundo fechado, as contradições presentes nestas duas décadas do terceiro milênio, período de anunciados progressos, mas também de retrocessos históricos. O remédio do amor fraterno é reapresentado, em tom de profecia, com suas propriedades para amalgamar projetos urgentes, inspirando a capacidade para gerar integração e cooperação entre as pessoas, no passo a passo crescente da solidariedade. Um contraponto aos interesses que hoje, conforme sublinha o Papa Francisco, colocam todos contra todos – uma luta em que vencer significa destruir, fazendo com que muitos considerem um delírio sonhar com o desenvolvimento integral a serviço de toda a humanidade.

Entre as guerras de configurações variadas e perversas insere-se o fenômeno da exasperação, exacerbação e polarização nos contextos políticos. Ao outro, que pensa e é diferente, é negado até mesmo o direito de existir. Muitos se permitem utilizar recursos abomináveis para ridicularizar aqueles com quem se discorda, alimentando preconceitos e discriminações, promovendo a exclusão social e permanecendo indiferentes à violação dos Direitos Humanos na convivência social. Há uma esperança para mudar essa realidade. Só o amor permitirá enxergar para além do “eu”, do “outro” e reconhecer a ligação entre todos. Não somente considerar o “eu” ou o “outro”, mas arquitetar o “nós”, passo decisivo para construir o novo tempo almejado. Todos possam investir na reflexão e nas indicações que a Encíclica “Fratelli Tutti” apresenta. As chamas da profecia brilhem e prevaleça o amor, capaz de construir a fraternidade universal, efetivando a indispensável e urgente amizade social.

Portal Canção Nova

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF