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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

FILOSOFIA: Um breve apontamento sobre o conceito de dignidade da pessoa humana

Instituto Liberal

Sed dignitaten dicit principaliter retione formae
 São Boaventura

 Prof. André Marcelo M. Soares, Ph.D.* 

O conceito de dignidade é um dos mais relevantes para as reflexões ética, política e jurídica. Por esta razão, a sua definição filosófica é uma tarefa árdua. A dignidade não é algo que se aplica exclusivamente ao ser humano, mas, quando se fala em dignidade humana, é impossível deixar de lado o conceito de pessoa, que provoca uma variedade de questionamentos de ordem ontológica, antropológica e ética[1]

A expressão dignidade da pessoa é a combinação de dois substantivos, na qual a dignidade figura como termo valorativo aplicado a um sujeito que necessita se firmar como realidade ontológica (pessoa). Isto nos permite, de antemão, constatar que é possível refletir sobre o seu significado por dois caminhos: o ontológico e o ético. Através da via ontológica, pode-se conhecer uma realidade específica entre outras, que é a de ser pessoa. A via ética, por sua vez, permite pensar as razões alegadas para dizer que alguém é digno[2]

A origem etimológica da palavra pessoa encontra-se no termo grego prosôpon, que, longe de possuir um sentido ontológico, se referia à máscara que os atores utilizavam em suas representações teatrais. Apesar de Platão (cerca de 427-347 a.C.) e Aristóteles (384-322 a.C.) aplicarem os conceitos de substância, natureza e essência, com seus respectivos matizes, ao homem, o pensamento grego desconhecia a realidade de ser pessoa. Ao longo dos anos, foi se desenvolvendo entre os gregos uma reflexão antropológica a partir de uma perspectiva cosmológica, segundo a qual o ser humano era compreendido como a realidade natural mais elevada[3]. Todavia, apesar de ser um animal racional, portador de logos e possuidor de uma alma intelectiva, não só vegetativa ou sensitiva como nos demais seres da natureza, nem os gregos e nem os romanos conseguiram perceber nele a realidade única, original, particular e concreta do ser pessoa

É a perspectiva cosmológica grega que possibilitará a primeira abordagem da dignidade do homem, que, segundo Aristóteles, é mais evidente naqueles que desenvolvem de forma destacada a atividade intelectual própria da alma humana, como é o caso dos filósofos. Segundo as tradições platônica e aristotélica, a dignidade do homem seria proporcional a sua capacidade de pensar e conduzir a própria existência desde a razão.

No cristianismo, o conceito de pessoa teve um sentido teológico, por se aplicar primeiramente às pessoas divinas. A seguir, foi empregado para definir o ser humano, até então concebido simplesmente como homem[4]. Para o pensador franciscano Boaventura de Bagnoregio (1217-1274), era necessário ir além da definição do filósofo romano Boécio (480-524), para o qual a pessoa é “uma substância individual de natureza racional”[5]. De acordo com o Doctor Seraphicus, o conceito de relação parece definir com mais profundidade a pessoa, por se tratar de um elemento constitutivo essencial. Deste modo, a pessoa “define-se pela substância ou pela relação; se se define pela relação, a pessoa e a relação serão conceitos idênticos”[6]. Em outras palavras, na pessoa a relação não é simplesmente algo acidental, mas estrutural e, portanto, inerente a sua própria natureza[7]

A definição de Boécio, seguida por muitos outros filósofos, tem como núcleo o conceito aristotélico de ousia (ou substantia), utilizado fundamentalmente para definir as coisas naturais. Nesta concepção, a pessoa, tal como as demais coisas, é concebida como hypóstasis (ou suppositum), embora mais digna por ser dotada de razão. Para o Doctor Seraphicus, quando se trata das pessoas divinas, esta noção pode parecer estranha. Afinal, de forma alguma é possível interpretar as pessoas divinas como coisa. É por este motivo que ele utiliza o conceito de relação para referir-se, por analogia, à pessoa humana. O fato de o homem ser concebido como imago Dei significa que, além de ter sido criado à imagem e semelhança de Deus, está, desde a sua criação, relacionado com o seu criador. 

Segundo Boaventura, “a pessoa é a expressão da dignidade e da nobreza da natureza racional. E esta nobreza não é uma coisa acidental, mas pertence à sua essência”[8]. Cada homem, em particular, foi criado por Deus não seguindo o modelo da natureza, mas unicamente o modelo da própria realidade divina[9]. É neste fato que repousa a dignidade humana

A partir do século XVIII, sobretudo com a contribuição de Immanuel Kant (1724-1804), surgem novas perspectivas para fundamentar eticamente o conceito de dignidade. De acordo com Kant, a dignidade humana encontra-se na capacidade de autonomia, ou seja, no fato de ser o homem a única criatura capaz de se submeter livremente as leis morais que são reconhecidas como procedentes da razão prática[10]. Tal capacidade se deve ao fato do ser humano possuir, além de uma dimensão fenomênica, que o submete às leis físicas que regulam o universo e a ele mesmo, uma dimensão noumênica, que o torna um ser subjetivo, livre, constituído por uma interioridade e por uma consciência moral. Esta dimensão é a que lhe possibilita ser autônomo, isto é, um sujeito moral que reconhece o valor e a obrigatoriedade das normas que ele mesmo se impõe, sendo fiel ao imperativo categórico[11].

Para os pensadores da pós-modernidade, a dignidade humana nada tem a ver com os esquemas assinalados anteriormente. Nem as qualidades intelectuais (a razão), nem os pressupostos metafísicos (ontologia do ser humano) e nem a capacidade moral (autonomia) fundamentam a dignidade humana. Ela resultaria, portanto, de uma ação institucional segundo a qual determinadas sociedades, através do processo democrático, decidiriam de forma contingente e convencional (o único modo possível) o grau de sua utilidade ou eficácia para resolver conflitos sociais. 

Segundo o neopragmatismo pós-moderno de Richard Rorty (1931-2007), os mecanismos da emotividade humana (especialmente a compaixão) explicam mais claramente como as abstrações racionalistas transformam em tendência social o reconhecimento de uma dignidade que converte em imoral o sofrimento desnecessário a quem se convencionou considerar como membro desta sociedade[12]. Os ingredientes básicos da perspectiva rortyana são: a contingência da dignidade humana, por um lado e o marco emotivista, onde se situa a raiz da defesa da dignidade, por outro. 

Frente à racionalização do ser humano no pensamento grego clássico, à ontologização da pessoa na tradição cultural cristã e jusnaturalista e à autonomia do indivíduo na filosofia moderna germânica, o filósofo norte-americano Richard Rorty propõe um retorno ao pensamento de David Hume (1711-1776), segundo o qual os sentimentos e a utilidade social constituem o motor da ação moral e a base de qualquer direito humano[13]

Interpretando os diferentes modelos de dignidade, pode-se afirmar que o modelo grego clássico, o kantiano moderno e o neopragmático pós-moderno foram elaborados a partir de um tipo de reflexão denominada de fundamentação condicionada, considerando que a afirmação da dignidade humana depende do desenvolvimento e execução de determinadas qualidades intelectuais e morais da pessoa. No caso do neopragmatismo, os critérios escolhidos são os de utilidade social, conveniência e capacidade. Já a perspectiva ontológica, própria da tradição cristã e do jusnaturalismo, oferece uma fundamentação incondicionada, na qual a dignidade não depende de fatores externos ao ser humano, nem sequer do exercício de faculdades intelectuais ou morais, mais desenvolvidas nos adultos. Nesta perspectiva, a dignidade humana não está condicionada e não se sujeita às convenções jurídico-sociais.


* Filósofo, mestre e doutor em Teologia com pós-doutorado em Bioética pela PUC-Rio. É coordenador acadêmico e professor do curso de pós-graduação em Bioética da PUC-Rio, membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Instituto Nacional do Câncer (INCA – Ministério da Saúde), membro da Comissão de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e membro da Equipe de Apoio da Seção Vida do Consejo Episcopal Latinoamericano (CELAM).

[1] Cf. ADORNO, R. Bioética y dignidad de la persona. Madrid: Tecnos, 1998.

[2] Cf. WOJTILA, K. Metafisica della persona. Milano: Edizioni Bompiani Il Pensiero Occidentale, 2003; MOUNIER, E.  Il personalismo. Roma: Editrice AVE, 1999; VV.AA. Persona e personalismo. Aspetti filosofici e teologici. Padova: Gregoriana, 1992.

[3] Cf. FRAILE, G. Historia de la filosofia. Vol. I, Madrid: BAC, 1990, p. 370-381, 456, 464, 468-470, 487-504.

[4] Cf. JONES, D.A. The soul of the embryo: an enquiry into the status of the human embryo in the christian tradition. London/ New York: Continuum, 2004, p. 125-140.

[5] II Sent., d. 25, a. 2, q. 2 ad 4.

[6] MTr, q. 2, a. 2, n. 9. (V, 66s).

[7] Cf. MERINO, J.A. Historia de la filosofia franciscana. Madrid: BAC, 1993, p. 71.

[8] II Sent., d. 3, p. 1, a. 2, q. 2ad 1 (II, 107).

[9] Cf. RAPONI, S. Il tema dell’immagine-somiglianza nell’antropologia dei padri. Roma: Teresianum, 1981; RUIZ DE LA PEÑA, J.L. Immagine di Dio: antropologia teologica fondamentale. Roma: Borla, 1992; BÜHLER, P. Humain à l’image de Dieu. La théologie et lês sciences humaines face au problème de l’antropologie. Genève: Labor et Fides, 1989; ANDERSON, R. On being human. Essays in theological anthropology. Grand Rapids: Eerdmans, 1982.

[10] Cf. HIRSCHBERGER, J. Historia de la filosofia. Vol. II, Barcelona: Herder, 1956, p. 179-189.

[11] Cf. KANT, I. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins fontes, 2002, p. 33-35; HIRSCHBERGER, J. Historia de la filosofia. Vol. II, Barcelona: Herder, 1956, p. 172-174; PASCAL, G. O pensamento de Kant. Petrópolis: Vozes, 2003, p. 108-126.

[12] Cf. RORTY, R. Contingency, irony and solidarity. Cambridge: Cambridge University Press, 1989, p. 59; RORTY, R. Derechos humanos, racionalidad y sentimentalidad. In: SHUTE, S; HURLEY, S. De los derechos humanos. Madrid: Trotta, 1998, p. 117-136.

[13] Cf. CORTINA, A.; MARTÍNEZ, E. Ética. São Paulo: Loyola, 2005, p. 66-68.


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Para um estilo profético da Igreja

A lição de Romano Guardini e a misteriosa luta noturna de Jacob com o anjo

por Andrea Monda

Acaba de ser publicado o livro La lotta di Giacobbe, paradigma della creazione artistica. Un’esperienza comunitaria di formazione integrale su Chiesa, estetica e arte contemporanea ispirata a Romano Guardini — “A luta de Jacob, paradigma da criação artística. Uma experiência comunitária de formação integral sobre Igreja, estética e arte contemporânea inspirada em Romano Guardini”, editado por Yvonne Dohna Schlobitten e Albert Gerhards (Assis, Cittadella Editrice, 2020, 510 páginas). Ao longo dos séculos, a página bíblica de Jacob que luta com o anjo, narrada pelo livro do Génesis (32, 23-33), gerou uma infinidade de reverberações. Este volume reúne as reflexões teóricas, artísticas e pedagógicas de uma experiência de formação integral, desabrochadas deste ícone bíblico, envolvendo um grupo de professores, artistas, estudantes e várias instituições (Pontifícia Universidade Gregoriana, Kunst-Station Sankt Peter Köln, Museus do Vaticano e Museu de Arte Contemporânea de Aachen). Com efeito, a luta de Jacob pode ser entendida como paradigma da criação artística, daquele processo complexo que implica tanto a reflexão (bíblica, histórica, filosófica, estética, teológica, pedagógica e espiritual) como a praxe (pictórica, escultórica). O volume contém mais de trinta contribuições de diferentes contextos disciplinares, além das ilustrações dos projetos dos artistas participantes. Nesta página publicamos uma reflexão do nosso diretor e excertos do prefácio, escrito pelo reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana.

No célebre ensaio Sobre o sagrado, Rudolph Otto cita um trecho do Sermão sobre o Génesis, de Frederick W. Robertson, que se concentra no episódio bíblico do encontro-desencontro noturno entre Jacob e “alguém” (um anjo? o próprio Deus?) e afirma: «Naquela noite, no meio daquela estranha cena, Deus imprimiu na alma de Jacob uma consternação religiosa, a partir de então destinada a desenvolver-se [...] Jacob compreendeu o Infinito, aquele Infinito que é tanto mais genuinamente sentido, quanto menos mencionado». É uma noite de que se fala, uma noite marcada pela polarização sombra/luz, que começa nas trevas da solidão (“Jacob ficou sozinho...”) mas acaba luminosamente (“E o sol nasceu...”). Esta noite misteriosa, cheia de sinais, enigmas e presença humana e divina, é uma noite que no âmbito da filosofia e da arte gerou de modo inesgotável, e ainda hoje não deixa de gerar, tanto pensamento como beleza.

O livro que apresentamos, La lotta di Giacobbe, paradigma della creazione artistica, editado por Yvonne Dohna Schlobitten e Albert Gerhards, é uma sua confirmação clara e forte já na abordagem, como Dohna explica na introdução: «A intenção deste volume não consiste em aprofundar a contribuição de Guardini, mas em inspirar-se nela a fim de indicar o caminho para criar e viver experiências formativas de acordo com o seu estilo no nosso mundo contemporâneo. O projeto propõe uma nova educação para a contemporaneidade, através de um diálogo criativo para uma Igreja em saída». O que os autores, inspirando-se na leitura guardiniana do episódio bíblico (um acontecimento que contém a experiência da passagem, da transformação e da mudança), pedem à Igreja é que ela viva um estilo profético, inclusive em relação ao mundo da arte.

É forte o eco da pregação de Bergoglio, a quem o volume é dedicado, também à luz da dívida contraída, e sempre reconhecida, pelo jesuíta argentino com o teólogo ítalo-alemão. Neste sentido, é esclarecedor o texto inspirador do ensaio, no qual Guardini por um lado observa o dado decisivo de que no final Jacob venceu a luta com o anjo e, por outro, reflete sobre o tema da liberdade, dom dramático de Deus aos homens, chamados a «receber Deus como “bênção” e sob a forma do “nome” através da luta. Deus opõe-se a nós em tudo. [...] A sua força vem na nossa direção; mas tem a forma do amor, porque vem para ser superada»; por isso, Deus «não se eleva diante de nós como um muro, contra o qual se esmaga toda a força; não ataca como uma violência que predomina e destrói». Ao contrário, vem na figura do amor, que deseja ser vencido, para se poder conceder. Só se pode conceder se for vencido, assim dá a força e volta a chamá-la... Como é misterioso que uma criatura deve ser “forte” perante Deus!». Sente-se o mesmo timbre de Guardini, autor de L’opposizione polare, um texto que teve tanto impacto no pensamento de Bergoglio. À luz deste aspeto, o ensaio de Dohna e Gerhards revela-se não apenas como um audaz texto de filosofia estética, mas também como uma requintada introdução ao pensamento e à pregação do Papa Francisco, entendidos no momento presente da “luta”, extenuante mas vital, com a contemporaneidade.

L'Osservatore Romano

Da Homilia na Dedicação da Basílica Nacional de Aparecida, do papa João Paulo II

A12.com

(Pronunciamentos do Papa no Brasil, Edit. Vozes, Petrópolis 1980, 125. 128. 129. 130)     (Séc.XX)

 

A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda

“Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem Imaculada, a Senhora Aparecida!” 

Desde que pus os pés em terra brasileira, nos vários pontos por onde passei, ouvi este cântico. Ele é, na ingenuidade e singeleza de suas palavras, um grito da alma, uma saudação, uma invocação cheia de filial devoção e confiança para com aquela que, sendo verdadeira Mãe de Deus, nos foi dada por seu Filho Jesus no momento extremo da sua vida para ser nossa Mãe. 

Sim, amados irmãos e filhos, Maria, a Mãe de Deus, é modelo para a Igreja, é Mãe para os remidos. Por sua adesão pronta e incondicional à vontade divina que lhe foi revelada, torna-se Mãe do Redentor, com uma participação íntima e toda especial na história da salvação. Pelos méritos de seu Filho, é Imaculada em sua Conceição, concebida sem a mancha original, preservada do pecado e cheia de graça. 

Ao confessar-se serva do Senhor (Lc 1,38) e ao pronunciar o seu sim, acolhendo “em seu coração e em seu seio” o mistério de Cristo Redentor, Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e inteira obediência. Sem nada tirar ou diminuir e nada acrescentar à ação daquele que é o único Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Maria nos aponta as vias da salvação, vias que convergem todas para Cristo, seu Filho, e para a sua obra redentora. 

Maria nos leva a Cristo, como afirma com precisão o Concílio Vaticano II: “A função maternal de Maria, em relação aos homens, de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia. E de nenhum modo impede o contato imediato dos fiéis com Cristo, antes o favorece”. 

Mãe da Igreja, a Virgem Santíssima tem uma presença singular na vida e na ação desta mesma Igreja. Por isso mesmo, a Igreja tem os olhos sempre voltados para aquela que, permanecendo virgem, gerou, por obra do Espírito Santo, o Verbo feito carne. Qual é a missão da Igreja senão a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis, pela ação do mesmo Espírito Santo, através da evangelização? Assim, a “Estrela da Evangelização”, como a chamou o meu Predecessor Paulo VI, aponta e ilumina os caminhos do anúncio do Evangelho. Este anúncio de Cristo Redentor, de sua mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de bem-estar e felicidade temporal. Tem certamente incidências na história humana coletiva e individual, mas é fundamentalmente um anúncio de libertação do pecado para a comunhão com Deus, em Jesus Cristo. De resto, esta comunhão com Deus não prescinde de uma comunhão dos homens uns com os outros, pois os que se convertem a Cristo, autor da salvação e princípio de unidade, são chamados a congregar-se em Igreja, sacramento visível desta unidade humana salvífica. 

Por tudo isto, nós todos, os que formamos a geração hodierna dos discípulos de Cristo, com total aderência à tradição antiga e com pleno respeito e amor pelos membros de todas as comunidades cristãs, desejamos unir-nos a Maria, impelidos por uma profunda necessidade da fé, da esperança e da caridade. Discípulos de Jesus Cristo neste momento crucial da história humana, em plena adesão à ininterrupta Tradição e ao sentimento constante da Igreja, impelidos por um íntimo imperativo de fé, esperança e caridade, nós desejamos unir-nos a Maria. E queremos fazê-lo através das expressões da piedade mariana da Igreja de todos os tempos. 

A devoção a Maria é fonte de vida cristã profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz,segui os seus exemplos. Como ouvimos no Evangelho, ela nos orienta para Jesus: Fazei o que ele vos disser (Jo 2,5). E, como outrora em Caná da Galiléia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo dele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa”.

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Qual é a história de Nossa Senhora Aparecida?

Leonidas Santana / Shutterstock.com

Como se deu a manifestação de Nossa Senhora Aparecida? Eis o que relatam os documentos históricos.

Em 1717 três pescadores, após frustrada tentativa de apanhar peixes no rio Paraíba do Sul perto de Guaratinguetá (SP), colheram em suas redes o corpo de uma estátua de Maria SS. e, depois, a cabeça da mesma.

A este fato se seguiu farta pescaria, que surpreendeu os três homens. Tendo limpado e recomposto a imagem, expuseram-na à veneração dos fiéis em casas de família. Verificaram-se, porém, alguns portentos, que chamaram a atenção do Pe. José Alves Vilela, pároco de Guaratinguetá. Este então decidiu construir para a Santa Mãe uma capela capaz de satisfazer ao crescente número de devotos da Virgem.

Tal capela foi substituída por outra maior no morro dos Coqueiros em 1745, morro que tomou o nome de “Aparecida” (hoje cidade de Aparecida do Norte). Em 1846 foi iniciada a construção de templo mais vasto, que ainda hoje subsiste. No ano de 1980 foi concluída monumental basílica, alvo de peregrinações numerosas durante o ano inteiro.

Em 1930 o Brasil foi solenemente consagrado a Nossa Senhora Aparecida pelo Cardeal D. Sebastião Leme na presença do Sr. Presidente da República e de numerosas autoridades religiosas, civis e militares.

Aparecida

Os acontecimentos chamaram a atenção para Maria Santíssima tal como é venerada em Aparecida (SP) e no Brasil inteiro na qualidade de Padroeira do nosso país. Sabe-se que tal devoção se deve a uma pesca surpreendente cercada de fatos extraordinárias, que suscitaram a piedade dos fiéis da região de Guaratinguetá e, posteriormente, a da população de todo o Brasil.

Em 1930 a Virgem Santíssima foi proclamada Padroeira do Brasil sob o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (ou Nossa Senhora Imaculada em sua Conceição e Aparecida nas águas do rio Paraíba do Sul).¹

Já que versões diversas correm sobre o desenrolar dessas aparições e os atos subsequentes, apresentaremos, a seguir, a genuína história dos eventos registrados.

1. Aparição e as primeiras manifestações populares (1717-1745)

Como se deu a manifestação de Nossa Senhora Aparecida?

Eis o que relatam os documentos históricos:

Em princípios do séc. XVIII lutas, por vezes sangrentas, agitavam os exploradores dos veios de ouro em Minas Gerais.

Em março de 1717, embarcou em Lisboa, com destino ao Rio, Dom Pedro de Almeida e Portugal, Conde de Assumar, que vinha substituir Dom Braz Balthasar da Silveira no governo da Capitania de São Paulo e Minas.

Chegando ao Rio em junho de 1717, o Conde de Assumar mostrou-se logo interessado em conhecer a situação da sua capitania. Seguiu, pois, em agosto para São Paulo, sede do governo respectivo, do qual tomou posse aos 4 de setembro do mesmo ano. Em vista, porém, dos tumultos registrados em Minas por motivo das minas de ouro. Dom Pedro de Almeida e Portugal resolveu dirigir-se ao local das desordens. Partiu, portanto, de São Paulo aos 25 ou 26 de setembro de 1717, deixando como substituto nessa cidade Manoel Bueno da Fonseca, oficial de grande patente.

Pescadores

Após cerca de 17 dias de viagem, isto é, aos 11 ou 12 de outubro de 1717, chegava o Conde de Assumar, com sua comitiva, à região de Guaratinguetá. Entre os acontecimentos faustosos que então se deram relatam os manuscritos da época o seguinte:

“A Câmara da Vila notificou então os pescadores que apresentassem todo o peixe que pudessem haver para o dito governador.

Entre muitos, foram pescar em suas canoas Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso e, principiando a lançar suas redes no porto de José Corrêa leite, continuaram até o porto de Itaguassú, distância bastante, sem tirar peixe algum. E lançando neste porto João Alves a sua rede, de rasto tirou o corpo da Senhora, sem cabeça, e, lançando mais abaixo outra vez a rede, tirou a cabeça de mesma Senhora, não se sabendo nunca quem ali a lançasse.

E, continuando a pescaria, não tendo até então peixe algum, dali por diante foi tão copiosa em poucos lances que, receosos de naufragarem pelo muito peixe que tinham nas canoas, ele e os companheiros se retiraram a suas moradas, admirados deste sucesso” (cf. Marcondes Homem de Mello, Álbum da Coroação. Brasílio Machado, A Basílica de Aparecida).

Documentos

Eis o que referem os documentos mais antigos em torno do aparecimento da Virgem.

A título de ilustração, pode-se acrescentar que o porto de José Corrêa Leite, donde partiram os três mencionados pescadores, se achava à margem esquerda do rio Paraíba no bairro Tetequera (município de Pindamonhangaba). A imagem encontrada media 38 cm de altura e apresentava cor bronzeada.

Impressionados pelo fenômeno, principalmente pela pesca portentosa que se seguiu à descoberta da estátua, os três mencionados pescadores limparam com grande cuidado a imagem, e verificaram que representava Nossa Senhora da Conceição, que o povo sem demora passou a chamar “Senhora Aparecida”. Felipe Pedroso conservou a imagem em sua casa durante vários anos; por fim, resolveu dá-la a seu filho Atanásio, que morava em Itaguassú, porto onde se dera o encontro da estátua. Atanásio, movido então pela sua fé, ergueu um pequeno oratório, onde depositou a venerável efígie; aí começou o povo da vizinhança a reunir-se aos sábados à noite, a fim de rezar o santo rosário e praticar as suas devoções.

Certa vez, durante uma dessas práticas aconteceu que, embora a noite estivesse muito calma, de repente se apagaram as velas que alumiavam a imagem da Senhora. Os fiéis, querendo reacendê-las, verificaram com surpresa que elas por si, sem intervenção de alguém, se reacenderam.

Prodígios

Foi este o primeiro prodígio registrado em torno da Senhora Aparecida. O mesmo portento se repetiu em outras ocasiões, chegando a notícia ao conhecimento do pároco de Guaratinguetá, Pe. José Alves Vilela. O sacerdote decidiu então construir para a estátua uma capelinha mais ampla, capaz de satisfazer ao crescente número dos devotos da Virgem, a qual ia multiplicando graças a benefícios sobre os fiéis. Em breve, também essa capelinha se tornou pequena demais. Foi preciso pensar em nova construção em lugar mais elevado que a margem do rio. Escolhido o morro dos Coqueiros, o mais vistoso e acessível dos que margeiam o Paraíba, começou-se ali em  1743 a edificação de novo santuário, com a provisão do bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei João da Cruz; aos 26 de julho de 1745, a obra terminada foi devidamente benta, dando lugar à celebração da primeira Missa. Doravante o morro e suas cercanias tomaram o nome de “Aparecida”, designação até hoje conservada. “Aparecida do Norte” é designação popular, pois a cidade fica a sudeste do Estado de São Paulo.

Entre os milagres que muito provocavam o fervor do povo, conta-se o do escravo, ocorrido por volta de 1790 e famoso nos tempos subseqüentes. Segundo a versão mais abalizada, as correntes se soltaram das mãos do escravo, quando este implorava a proteção de Nossa Senhora Aparecida diante da respectiva imagem. Eis como o refere o Pe. Claro Francisco de Vasconcelos pelo ano de 1838:

“Um escravo fugitivo, que estava sendo conduzido de volta à fazenda pelo seu patrão, ao passar pela Capela, pediu para fazer oração diante da Imagem. Enquanto o escravo estava em oração, caiu repentinamente a corrente, deixando intato o colar que prendia seu pescoço. A corrente se encontra até hoje pendente da parede do mesmo Santuário como testemunho e lembrança de que Maria Santíssima tem suprema autoridade para desatar as prisões dos pecadores arrependidos. Aquele senhor, tocado pelo milagre, ofereceu a Nossa Senhora o preço dele e o levou para casa com uma pessoa livre, a fim de amar e estimar aquele seu escravo como pessoa protegida pela soberana Mãe de Deus” (relato extraído da obra de Júlio J. Brustoloni, A Mensagem da Senhora Aparecida, Ed. Santuário, Aparecida, SP, 1994).

2. De 1745 aos nossos dias: A Dedicação do Brasil à Virgem SS.

A nova igreja foi diversas vezes reformada e aumentada, até que em 1846 foi iniciada a construção de um templo ainda mais vasto. Os trabalhos, porém, diversas vezes interrompidos, só chegaram a termo em 1888; aos 8 de dezembro desse ano, Dom Lino Deodato de Carvalho, oitavo bispo de São Paulo, procedeu à bênção do novo santuário, que até nossos dias subsiste em Aparecida, ornado com o título de “Basílica Menor”, título concedido por S. Pio  X aos 29 de abril de 1908.

Para atender aos numerosos grupos de peregrinos que afluíam ao local, o mesmo prelado obteve a vinda dos RR. PP. Redentoristas, os quais desde 1894 têm a seus cuidados o santuário e a respectiva cura pastoral.

Aos 8 de setembro de 1904, realizou-se a solene coroação de Nossa Senhora Aparecida, com a participação do Sr. Núncio Apostólico Dom Júlio Tonti, do representante do Presidente da república, do Episcopado do Brasil Meridional e de grande multidão de sacerdotes e fiéis.

Padroeira

Finalmente, o S. Padre Pio XI houve por bem acolher o pedido da hierarquia e dos fiéis, que desejavam fosse Nossa Senhora Aparecida proclamada Padroeira principal de todo o Brasil. Aos 16 de julho de 1930 publicava S. Santidade o seguinte “Motu proprio”:

“…Por conhecimento certo e madura reflexão Nossa, na plenitude de Nosso poder apostólico, pelo teor das presentes letras, constituímos e declaramos a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”, Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. Este padroado gozará dos privilégios litúrgicos e das outras honras que costumam competir aos Padroeiros principais de lugares ou regiões. Concedendo isto para promover o bem espiritual dos fiéis no Brasil e aumentar cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus, decretamos que cada vez mais a sua devoção à Imaculada Mãe de Deus, decretamos que as presentes letras estejam e permaneçam sempre firmes, válidas e eficazes, surtindo seus plenos e inteiros efeitos”.

Este decreto pontifício foi publicado na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, fazendo-se a consagração do Brasil à Virgem Ssma., com grande júbilo dos fiéis.

No ano seguinte, o mesmo ato se repetiu em termos mais solenes na capital da República. A imagem da Virgem foi, sim, entusiasticamente levada de Aparecida para o Rio de Janeiro, onde percorreu em procissão o centro da cidade aos 31 de maio de 1931. Finalmente na Esplanada do Castelo, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria.

Devoção

Este ato, que mereceu os aplausos da opinião pública em geral, estava bem na linha de venerável tradição da nação brasileira, a qual sempre mostrou especial devoção à Virgem Imaculada. Entre outros fatos expressivos dessa estima, pode-se notar que, ao proclamar a independência do Brasil, D. Pedro I, o primeiro Imperador, confirmando aliás antiga provisão de Sua Majestade o rei de Portugal do ano de 1646, declarou a Virgem da Conceição Padroeira do Brasil.

Numerosos são os relatos de milagres que tanto a imprensa como a voz do povo atribuem à Virgem Aparecida. As autoridades eclesiásticas não se empenham por definir a autenticidade de tais portentos, nem mesmo a dos episódios concernentes à aparição da Senhora Imaculada no porto de Itaguassú em 1717. Doutro lado, não vêem razão para se opor à devoção de Nossa Senhora Aparecida: ao contrário, esta tem produzido os melhores frutos, espirituais e corporais, no povo brasileiro. É por isto que os Srs. Bispos têm mesmo patrocinado e fomentado a piedade para com a Excelsa Padroeira do Brasil. Contudo, a bem da verdade, deve-se notar que tal atitude favorável é independente de qualquer pronunciamento da autoridade eclesiástica sobre a genuinidade dos prodígios que se narram em torno da Virgem e do Santuário de Aparecida.

A Santa Igreja de modo nenhum entende fazer de tais relatos matéria de fé; deixa, antes, a cada um de seus filhos a liberdade de ponderar o grau de autoridade que merecem os respectivos documentos (o que de resto não desmerece o valor de autenticidade que realmente possa caber a tais episódios).

Basílica

A presença do sobrenatural em Aparecida exigiu que se empreendesse a construção de nova e mais vasta Basílica. Esta, iniciada em 1955 sob os auspícios do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, estava concluída, com todas as suas capelas e quatro naves, em 1980. A área construída é de 23.000 m² e a área coberta mede 18.000 m². A lotação normal é de 45.000 pessoas, podendo a lotação máxima chegar a 70.000 pessoas. Até hoje são relatados milagres e favores de ordem física obtidos por intercessão de Nossa Senhora Aparecida em seu Santuário; todavia o que mais importa aí, são os numerosos casos de conversão espiritual e reencontro da paz interior alcançada pelo patrocínio de Maria SSma.

O fato de que a imagem da Senhora Aparecida tem a cor preta, tem sido objeto de comentários… Na verdade, o fenômeno se explica bem pela longa permanência da estátua dentro da água do rio. Na época da descoberta o fato não deve ter tido a repercussão e importância que hoje lhe querem atribuir.

A propósito recomenda-se a leitura do livro do Pe. Júlio J. Brustoloni: A Mensagem da Senhora Aparecida, Ed. Santuário, Rua Padre Claro Monteiro, 342, Aparecida (SP), 1994.
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¹ O título “Nossa Senhora Aparecida” designa a Santíssima Mãe de Deus tal como ela apareceu na localidade do Estado de São Paulo que hoje traz o nome de “Aparecida do Norte” (nas proximidades de Pindamonhangaba e Guaratinguetá). Lá Nossa Senhora se manifestou com as notas que, na arte sacra, a caracterizam como imaculada em sua conceição; daí dizer-se comumente “Nossa Senhora da Conceição Aparecida”. – A mesma Virgem Ssma., tendo-se manifestado em Fátima, é chamada “Nossa Senhora de Fátima”; tendo aparecido em Lourdes, é dita “Nossa Senhora de Lourdes”, etc. Tais denominações não supõem diversas “Nossas Senhoras”, mas significam sempre a mesma Santa (“Santa Maria, Mãe de Deus …”), apenas invocada sob títulos diferentes.

Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

D. Estevão Bettencourt, osb

Nº 405 – Ano 1996 – p. 72

Aleteia

Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil

Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida 

Os brasileiros festejam nesta segunda-feira, dia 12 de outubro Nossa Senhora Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil. Recordamos a mensagem do Papa de um ano atrás.

Vatican News

Em outubro de 1717, o Conde de Assumar, então Governador do Brasil, foi em visita a Guaratinguetá. Visto que aqueles eram dias de abstinência de carne, Felipe Pedroso, Domingos Martins Garcia e João Alves foram encarregados de procurar outro tipo de alimento para o ilustre visitante e sua comitiva.

Após algumas tentativas decepcionantes, os pescadores encontraram uma imagem de terracota, representando a figura da Imaculada Conceição. Ela foi pescada em duas vezes: na primeira, acharam o corpo e, na segunda, a cabeça. O fato ocorreu no Porto de Itaguaçu. Como nos relatos bíblicos, a pesca sucessiva foi extremamente abundante.

Os piedosos pescadores e seus familiares iam rezar, todas as noites, diante da imagem da Virgem Imaculada na casa de Felipe Pedroso. Mais tarde, este construiu um pequeno oratório onde colocou a imagem aparecida. Todos os sábados, os vizinhos e as pessoas que sabiam do fato, se reuniam para rezar o Terço. A partir disso, começaram a ocorrer milagres e o povo começou a chamar a imagem de Nossa Senhora Aparecida.

Em 1745 foi inaugurada a primeira capela; com o passar do tempo, em 1842, foi iniciada a construção de um templo, inaugurado em 8 de dezembro de 1888 e, em 1893, elevado a Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida.

Em 1904, deu-se a coroação solene da imagem, a pedido do Papa São Pio X; em 1930, Pio XI a declarou e proclamou “Rainha e Padroeira do Brasil”.

Em 1967, o Papa Paulo VI ofereceu a “Rosa de Ouro” à Basílica de Aparecida, por ocasião dos 250 anos do aparecimento da imagem.

A atual Basílica Nacional foi inaugurada, solenemente, em 1980, pelo Papa São João Paulo II.

Papa Francisco e Nossa Senhora Aparecida

No dia 12 de outubro de 2019, no âmbito dos trabalhos do Sínodo dos Bispos para a Amazônia o Papa Francisco gravou uma mensagem ao povo brasileiro, uma mensagem especial de grande atualidade:

No dia de Nossa Senhora Aparecida, trago no coração o povo brasileiro e envio uma saudação. Que Ela, pequenina e humilde, continue os cobrindo e acompanhando em seu caminho: caminho de paz, de alegria, de justiça. Que Ela os acompanhe em suas dores, quando não podem crescer por tantas limitações políticas ou sociais ou ecológicas, e de tantos lugares provêm. Que Ela os ajude a crescer e a se libertar continuamente. Que os abençoe.

https://youtu.be/3qmdnCzRd5E

O lugar da Mãe Aparecida nas Santas Missões

Todos bem conhecem o amor e o carinho que os Missionários Redentoristas têm para com Nossa Senhora. Esse apreço foi herdado de Santo Afonso, o “cantor das glórias de Maria”.

Nas missões alfonsianas a expressão pública da devoção mariana tinha um lugar especial na programação da missão. Uma das cerimônias mais tocantes se realizava no interior da igreja com a imagem da Santíssima Virgem sendo conduzida em procissão, encerrando-se com um grande sermão alusivo sobre ela. Era esse o modo de se proceder: a imagem ficava exposta todas as noites; porém nesse dia ela saia de seu altar. Logo após o ato de contrição para o qual tudo já devia estar preparado, abria-se as portas da igreja e os sacerdotes vestidos com seus hábitos carregavam o andor com a imagem da Virgem, passando por entre os fiéis, indo colocá-la no lugar de costume, junto do púlpito. E ali realizava-se o grande sermão que tocava o coração de todos, movendo os últimos empedernidos.

Herança alfonsiana e conhecimento da “alma religiosa” do brasileiro

Quando os redentoristas alemães vieram para o Brasil, depois de alguns anos de prática missionária, as Santas Missões ao estilo pregado pelas equipes missionárias de São Paulo passaram a contar com um grande triunfo nacional que se chama Nossa Senhora Aparecida. É incontestável, que essa imagem tão pequenina, atraía multidões de brasileiros. Ela se tornou a grande missionária, rainha das missões, mãe das comunidades e, na esteira de sua benção, se encontram os missionários redentoristas.

Foi na missão pregada na cidade valeparaibana de Queluz que pela primeira vez se levou a imagem à missão. Isso no ano de 1902. Padre Lourenço Gahr, cronista daquela missão nos deixou um precioso relatório, que destaca o patrocínio da Mãe de Deus. Assim escreveu ele:

“Ninguém ali se lembrava de uma missão. Desta vez, foi como se a graça caísse como um raio sobre os corações, obrigando-os a ouvir a Palavra de Deus e a receber os sacramentos. Apesar da muita e continuada chuva, a procura do confessionário foi intensa desde a madrugada até noite adentro. A atração particular do povo foi uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que leváramos e expuséramos à veneração. Diante dela rezavam os fiéis sem cessar e montavam guarda”.

Redentoristas de São Paulo: as primeiras missões

A partir de então, seguindo a tradição alfonsiana, Maria, em sua imagem de Aparecida, passou a ser venerada nas Santas Missões, sempre deixando uma feliz lembrança nas mentes e corações aqueles que eram missionados.

Para fazer crescer o fervor e a devoção, alguns atos se tornaram comuns em cada missão pregada: toda pregação sempre é encerrada com o missionário falando de Nossa Senhora. Também o sábado, dedicado à Nossa Senhora, conta com atos especiais. Além do mais, em cada missão se fazia a recepção festiva da imagem missionária, e se organizava uma guarda de honra que se revezava junto da imagem.

Como atos de piedade ainda hoje são realizadas consagrações, procissões e promessas e em muitas paróquias missionadas dá-se a criação de irmandades e arquiconfrarias.

Além destas formas de expressão da religiosidade próprias da espiritualidade redentorista, nas missões também são aproveitadas outras formas e expressões já existentes no Brasil, mas que foram clarificadas. Inclusive algumas formas antes consideradas como “profanas” são aproveitadas como a queima de fogos na recepção da imagem missionária, nas procissões, no dia do cruzeiro, usando ainda o colorido das bandeiras, dos estandartes e fitas.

Algumas das expressões da religiosidade popular bem esclarecidas tornaram-se decisivas no sucesso de uma missão especialmente aquelas que se relacionavam com Nossa Senhora e o altar onde fica a imagem, conhecido como “Altar da Graça” é ainda hoje preparado com todo esmero e dedicação.

Escrito por padre Inácio de Medeiros, CSsR

Redentorista da Província de São Paulo, graduado em História da Igreja pela Universidade Gregoriana de Roma, já trabalha nessa área há muitos anos, tendo lecionado em diversos institutos. Atuou na área de comunicação, sendo responsável pela comunicação institucional e missionária da Província de São Paulo, atualmente é diretor da Rádio Aparecida.

Fonte: A12

Vatican News

NOSSA SENHORA APARECIDA

Nossa Senhora de Aparecida, Brasil  (© Vatican News)

Há 303 anos, dia 12 de outubro...

Na manhã de 12 de outubro de 1717, três pescadores lançaram seus barcos no Rio Paraíba, que escorria até à sua cidade. Eles tinham sido encarregados de trazer peixes para o banquete, que se realizaria no dia seguinte, na cidade de Guaratinguetá, por ocasião da visita do conde Assumar, Dom Pedro de Almeida Portugal, governante da capitania de São Paulo e Minas Gerais, durante uma viagem a Vila Rica. Os três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso, pareciam não ter sorte naquela manhã: após várias tentativas infrutíferas, tinham quase desistido, quando João Alves tentou novamente. Ele jogou sua rede nas águas do rio e, lentamente, a puxou para cima. Havia pescado alguma coisa, mas não era peixe... parecia uma espécie de madeira.

Quando tirou da rede, o pedaço de madeira parecia fazer parte de uma estátua da Virgem Maria, infelizmente sem cabeça.

A pesca milagrosa

Ao lançar novamente a rede, esta vez João Alves encontrou nas malhas outro pedaço de madeira, de forma arredondada, que parecia precisamente a cabeça da mesma estátua: tentou ajuntar os dois pedaços e percebeu que se encaixavam perfeitamente. Como que atraído por um impulso, João Alves lançou, outra vez, a rede nas águas, mas ela tinha ficado tão pesada, que não conseguia tirá-la, por estar lotada de peixes. Então, seus companheiros lançaram também suas redes nas águas e a pesca daquele dia foi realmente abundante.

A veneração popular

No dia seguinte, os três pescadores juntaram os dois pedaços da estátua, limparam-nos dos detritos do rio e Filipe Pedroso a colocou na sua humilde casa. Em pouco tempo, a notícia da pesca milagrosa se difundiu pelas cidades vizinhas e, todas as noites, um grupo cada vez maior de simples pescadores começou a ir prestar homenagem à Virgem Maria e rezar o terço. Eles deram-lhe o nome de “Aparecida”, que apareceu. Com o passar do tempo, a multidão tornou-se tão numerosa que a casa do pescador não a podia conter mais. Por isso, foi construída um primeiro oratório e, depois, em 1737, uma Capela maior. Foram muitos os testemunhos de graças e milagres alcançados naquele pequeno santuário.

A nova igreja

Em 1834, foi iniciada a construção de uma igreja maior - a atual Basílica Velha, - concluída em 1888 e a estátua foi transferida. Em 1904, a imagem foi coroada a pedido do Papa Pio X. Em 1908, a igreja recebeu o título de Basílica Menor, sagrada em 1909. Em 1930, o Papa Pio XI a elevou a Basílica, declarando Nossa Senhora Aparecida Padroeira do Brasil.

O primeiro Papa no Santuário de Aparecida

Papa João Paulo II foi o primeiro Papa a visitar o Santuário de Aparecida, em julho de 1980. Durante a sua Peregrinação Apostólica, disse: “O que buscavam os antigos romeiros? O que buscam os peregrinos de hoje? Aquilo mesmo que buscavam no dia, mais ou menos remoto, do Batismo: a fé, e os meios de alimentá-la. Buscam os sacramentos da Igreja, sobretudo a reconciliação com Deus e o alimento eucarístico. E voltam revigorados e agradecidos à Senhora, Mãe de Deus e nossa”.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF