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domingo, 18 de outubro de 2020

Argentina e Covid: igreja sofre mais restrições até que academias

Jacek Klejment/EAST NEWS
por Esteban Pittaro

Um vírus que tirou a vida de leigos, religiosos, sacerdotes e bispos preocupa a todos. Mas exigir respeito e a possibilidade de participar da missa não implica ignorar a pandemia do coronavírus.

O crescimento exponencial da Covid-19 em algumas cidades do interior argentino, após meses de maior impacto na região de Buenos Aires (Argentina), levou as autoridades nacionais a imporem novos bloqueios. Dessa forma, os católicos têm reagido diante da desproporcionalidade e autoritarismo dos governantes em relação à participação na igreja e nas celebrações litúrgicas.

Em algumas dioceses de importantes cidades do país, como Córdoba e Mendoza, as autoridades querem novamente proibir as missas.

Revolta com proibição de missas

A Arquidiocese de Córdoba anunciou esta semana que não acompanharia as últimas medidas restritivas. Ou seja, as medidas que proibiriam o culto público. De fato, as restrições, disse o arcebispo Carlos Ñañez, afetam a saúde espiritual das pessoas. Sobretudo em um período de quarentena prolongada.

“Não vejo dificuldade em atender a urgente necessidade espiritual de todos os fiéis e ainda assim seguir com prudência o protocolo sanitário”, disse o bispo.

Assim, diante do alvoroço público, o governo de Córdoba expressou que houve um mal-entendido. Depois, as autoridades afirmaram que as restrições ao culto se referem a “atos onde há grande número de pessoas”.

Nesse sentido, definiu-se que “missas serão permitidas no máximo para 30 pessoas, em estrita observância aos protocolos de segurança sanitária. Também, batismos, casamentos, confissões e orações individuais”.

Importância da saúde espiritual

A diocese de Mendoza exigiu “o direito ao culto público, consagrado pela Constituição Nacional”. Isso após saber que as paróquias não poderiam continuar celebrando missas com a presença dos fiéis, a partir das novas restrições.

Inicialmente, o governador de Mendoza, Rodolfo Suárez, expressou seu espanto pelas medidas anunciadas pelo presidente Alberto Fernández. Sobretudo ele se referiu explicitamente à importância da saúde espiritual dos fiéis.

Mas depois de viajar a Buenos Aires e se reunir com as autoridades nacionais, segundo a imprensa, eles “resolveram divergências”. Ou seja, novamente teria havido um “mal-entendido”. Na verdade, em Mendoza também houve forte reação da opinião pública.

Argentina: armadilha para a Igreja do protocolo de Covid

Há poucas semanas, cerca de 160 líderes políticos da América Latina assinaram uma declaração intitulada “Vamos cuidar da democracia para que ela não seja vítima de a pandemia”.

“Há riscos latentes de que se não pensarmos e agirmos rapidamente pode haver uma grave deterioração da democracia”, afirma o documento. Acima de tudo, o texto chama a atenção para os níveis de desigualdade, pobreza e informalidade. De fato, esses fatores constituem não só o principal obstáculo ao desenvolvimento, mas também a fonte da cultivo de “soluções populistas e/ou autoritárias”.

Nesse sentido, alerta-se para a tentação do cheque em branco para combater a Covid-19, de instituições serem absorvidas por um único poder político que decide sem parlamento, sem judiciário, sem consultas públicas, preocupa os dirigentes.

De fato, a Igreja na Argentina se preocupa mais do que qualquer outra instituição com a Covid. Mas os católicos estão reagindo diante de restrições às missas que são mais rigorosas do que as restrições às academias, por exemplo.

Aleteia

A IGREJA EM SAÍDA

CNBB R02

Para transmitir a Boa Nova da Salvação a todos os povos, Cristo fundou a Sua Igreja com a missão específica de evangelizar e, por isso, antes de ascender aos céus, Ele confiou aos Seus discípulos a obra missionária da Igreja dizendo: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura”. (Mc 16,15). Desde aquele dia, os discípulos de Jesus não pouparam esforços para anunciar Jesus Cristo, Seu amor e misericórdia em todos os tempos e em todas as latitudes do mundo. Graças aos esforços de todas as gerações cristãs que nos precederam, hoje nós somos os discípulos missionários de Jesus do século XXI.

Desde o dia de Sua ascensão aos céus, Cristo quis contar com a ajuda dos fiéis cristãos para poder alcançar as pessoas que estão afastadas de Sua Igreja. Em seu bom combate em prol da fé, São Paulo tomou consciência desse grato dever missionário que o nosso Redentor nos legou. Vivenciando o serviço missionário da Igreja, fundando comunidades e conquistando novas almas para Cristo, Paulo professou: “O Evangelho não é para mim motivo de glória, é antes uma obrigação que me foi imposta: ai de mim, se eu não evangelizar!”. (1 Cor 9, 16).

O dever de evangelizar é parte integrante da nossa identidade católica.  Evangelizar é, em primeiro lugar, anunciar uma Pessoa, a Pessoa de Jesus Cristo, nosso Deus adorado e amado, que deseja ser acolhido em nossos corações. De fato, “não haverá nunca evangelização verdadeira se o Nome, a doutrina, a vida, as promessas, o Reino, o mistério de Jesus de Nazaré, Filho de Deus, não forem anunciados”. (Papa Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, 22).

O dever missionário que o Cristo nos confiou é imenso, mas não devemos temer, pois a evangelização é uma atividade suscitada pelo Espírito Santo. É Ele quem nos move, renova e impulsiona em direção a novas messes. Unidos ao Cristo e em docilidade ao Espírito Santo, aprendemos a reservar tempo e espaço no nosso dia a dia para o exercício da oração, para o aprofundamento nas verdades da nossa fé e para o serviço missionário da Igreja, que pode e deve ser realizado em nossas famílias e nos lugares de trabalho, estudo e lazer. Mas, como podemos falar de Deus num mundo em que está presente um processo crescente de secularização? Devemos falar com a mesma linguagem empregada pelos primeiros cristãos: a linguagem da caridade, da verdade e da misericórdia.

Nestes nossos dias, nós, discípulos missionários de Jesus, somos convocados a apresentar, com renovada esperança, as razões da nossa fé aos nossos contemporâneos. Agindo assim, nós iremos testemunhar que o relativismo, o hedonismo e o niilismo não podem conduzir o ser humano pelos caminhos da felicidade. Talvez nunca como hoje a missão confiada à Igreja por Jesus, “Ide, pois, ensinai, todas as nações!” (Mt 28, 19), tenha assumido tal urgência e amplidão. Mais que nunca, todos os batizados devem fazer próprias as palavras do Apóstolo Paulo: “Ai de mim, se não evangelizar!”. (1 Cor 9, 16). De fato, está em jogo o futuro da evangelização do mundo.

Se todos nós, cristãos, estivermos persuadidos dos nossos deveres e serviços missionários, as dificuldades serão menos pesadas. Para que as futuras gerações tenham acesso à revelação cristã, é preciso que hoje todos os batizados cumpram com esmero a sua missão de Igreja anunciando o Reino de Deus e denunciando tudo aquilo que nos afasta da casa do Pai. Aos jovens, a Igreja confia a evangelização da juventude e a missão de construir um mundo novo. Aos casais, a Igreja confia a edificação da Igreja doméstica e o nobre testemunho da beleza do matrimônio, da família e da defesa da vida em todas as instâncias. A todos os batizados, a Igreja confia o dever de difundir em todo o mundo a chama da fé que Jesus acendeu no mundo, a fé em Deus, que é Uno e Trino, Amor e Misericórdia. Traduzindo, cada um de nós, com as nossas fragilidades e imperfeições, podemos ser as testemunhas de Cristo no local onde vivemos, na paróquia, nas comunidades, nos ambientes de estudo e de trabalho. Para que possamos realizar plenamente este serviço missionário, o Espírito Santo nos concede os Seus dons e nos conscientiza de que, mesmo com todas as nossas fragilidades, nós somos o rosto misericordioso de Cristo no mundo, nós somos a Igreja em saída, a Igreja que escuta e atende ao chamado missionário de Jesus: “Ide! Levantai-vos, vamos!”.

Todos nós conhecemos ou convivemos com pessoas que estão afastadas da Igreja. Por conseguinte, “se alguma coisa nos deve inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida”. (Papa Francisco, Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 49).  No esforço de modificar esta situação, devemos ponderar: O que devemos dizer a elas? Mais do que dizer, nós devemos testemunhar que a caridade de Cristo nos alcançou e, por isso, testemunhamos os sinais do Seu amor por meio do serviço da misericórdia.

Dois terços da humanidade ainda esperam por Jesus Cristo, para que lhes revele o amor do Pai. Deste modo, a missão de Cristo confiada à Igreja ainda está longe do seu pleno cumprimento e, por isso, nós devemos nos empenhar com todas as nossas forças nesta obra missionária da Igreja, falando da fé com amor e humildade. Se formos dóceis ao Espírito Santo, Ele nos fará perceber que “Jesus não é o Senhor do conforto, da segurança e da comodidade. Para seguir a Jesus, é preciso ter uma boa dose de coragem, é preciso decidir-se a trocar o sofá por um par de sapatos que te ajudem a caminhar por estradas nunca sonhadas e nem mesmo pensadas, por estradas que podem abrir novos horizontes, capazes de contagiar-te a alegria, aquela alegria que nasce do amor de Deus, a alegria que deixa no teu coração cada gesto, cada atitude de misericórdia”. (Discurso do Papa Francisco na Vigília de Oração com os jovens em Cracóvia, em 30 de julho de 2016).

Que a Virgem Santa Maria, a Rainha das Missões, nos ajude a testemunhar a face missionária da Igreja em saída em todos os ambientes sociais. Que Ela nos fortaleça no anúncio do Evangelho de Cristo, para que os povos tenham vida e vida em abundância.

Aloísio Parreiras

(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

XXIX DOM DO TEMPO COMUM - Ano A

Dom José Aparecido
Adm. Apost. Arquidiocese de Brasília

EIS-ME AQUI, ENVIA-ME

Neste ano, este caminho missionário de toda a Igreja continua à luz da palavra que encontramos na narração da vocação do profeta Isaías: «Eis-me aqui, envia-me» (Is 6, 8). É a resposta, sempre nova, à pergunta do Senhor: «Quem enviarei?». Esta chamada provém do coração de Deus, que interpela quer a Igreja quer a humanidade na crise mundial atual. O sofrimento e a morte fazem-nos experimentar a nossa fragilidade humana; mas, ao mesmo tempo, todos nos reconhecemos participantes dum forte desejo de vida e de libertação do mal.

No Sacrifício da Cruz, onde se realiza a missão de Jesus, Deus revela que o seu amor é por todos e cada um. E pede-nos a nossa disponibilidade pessoal para ser enviados…. Por amor dos homens, Deus Pai enviou o Filho Jesus. Jesus é o Missionário do Pai: a sua Pessoa e a sua obra são, inteiramente, obediência à vontade do Pai. Por sua vez, Jesus crucificado e ressuscitado por nós, no seu movimento de amor atrai-nos com o seu próprio Espírito, que anima a Igreja, torna-nos discípulos de Cristo e envia-nos em missão ao mundo e às nações.

A missão não é um programa, um intuito concretizável por um esforço de vontade. A missão é resposta, livre e consciente, à chamada de Deus. Mas esta chamada só a podemos sentir, quando vivemos numa relação pessoal de amor com Jesus vivo na sua Igreja. Perguntemo-nos: estamos prontos a acolher a presença do Espírito Santo na nossa vida, a ouvir a chamada à missão quer no caminho do matrimónio, quer no da virgindade consagrada ou do sacerdócio ordenado e, em todo o caso, na vida comum de todos os dias? Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja? Como Maria, a Mãe de Jesus, estamos prontos a permanecer sem reservas ao serviço da vontade de Deus? Esta disponibilidade interior é muito importante para se conseguir responder a Deus: Eis-me aqui, Senhor, envia-me.

A compreensão daquilo que Deus nos está a dizer nestes tempos de pandemia torna-se um desafio também para a missão da Igreja. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros. E a oração, na qual Deus toca e move o nosso coração, abre-nos às carências de amor, dignidade e liberdade dos nossos irmãos, bem como ao cuidado por toda a criação. Neste contexto, é-nos dirigida novamente a pergunta de Deus – «quem enviarei?» – e aguarda, de nós, uma resposta generosa e convicta: Eis-me aqui, envia-me. Deus continua a procurar pessoas para enviar ao mundo e às nações, a fim de testemunhar o seu amor, a sua salvação do pecado e da morte, a sua libertação do mal.

A caridade manifestada nas coletas das celebrações litúrgicas do terceiro domingo de outubro tem por objetivo sustentar o trabalho missionário, realizado em meu nome pelas Obras Missionárias Pontifícias, que acodem às necessidades espirituais e materiais dos povos e das Igrejas de todo o mundo para a salvação de todos.

Folheto: "O Povo de Deus"|Arquidiocese de Brasília

Papa Francisco recorda a primazia de Deus na vida humana

Papa Francisco saudando os fiéis do Palácio Apostólico.
Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Vaticano, 18 out. 20 / 08:00 am (ACI).- O Papa Francisco recordou que pagar impostos e “cumprir as justas leis do Estado” é um dever do cidadão. Ao mesmo tempo, sublinhou, os cristãos devem afirmar o “primazia de Deus na vida e na história humana”.

O Pontífice fez essa afirmação neste domingo, 18 de outubro, durante a oração do Ângelus no Palácio Apostólico do Vaticano.

O Papa contou aos peregrinos que o escutavam sob a janela dos apartamentos pontifícios como o Evangelho deste domingo “mostra Jesus enfrentando a hipocrisia de seus adversários. Eles o elogiam muito, mas depois fazem uma pergunta insidiosa para colocá-lo em uma situação difícil e desacreditá-lo diante do povo”.

A pergunta é a seguinte: "É lícito, ou não, pagar imposto a César?". Na época de Jesus, a Palestina estava sob o domínio do Império Romano e a população judaica não aceitava essa ocupação: "O domínio do Império Romano era mal tolerado, também por motivos religiosos", explicou Francisco.

A discussão sobre se era lícito ou não pagar impostos a César, ou seja, ao imperador, não atendia apenas a critérios políticos, mas também religiosos: Na religião pagã prevalecente em Roma, o imperador era uma figura divinizada a quem se devia render culto. Isso estava em conflito direto com a religião judaica, para a qual até a efígie de César no verso dos denários era um elemento de idolatria.

“Para a população, o culto ao imperador, sublinhado até pela sua imagem nas moedas, era uma injúria ao Deus de Israel”, recordou o Papa.

Quem tenta colocar Jesus em uma situação complicada “está convencido de que não há mais respostas à sua pergunta: 'sim' ou 'não'”. A armadilha era que, se ele respondesse "sim", seria considerado um idólatra, enquanto se respondesse "não", poderia ser acusado de incitar a rebelião contra o domínio romano.

Mas Jesus não caiu na armadilha. “Ele conhece a malícia e sai da armadilha. Pede a eles que lhe mostrem a moeda do imposto, ele a toma em suas mãos e pergunta: de quem é esta imagem impressa. Eles respondem que é de César, ou seja, do Imperador. Então Jesus responde: ‘Devolvei o que é de César a César e a Deus o que é de Deus’".

O Pontífice sublinhou que, “com esta resposta, Jesus coloca-se acima da polêmica. Por um lado, ele reconhece que o imposto a César deve ser pago, porque a imagem na moeda é sua; mas, acima de tudo, ele lembra que cada pessoa traz dentro de si uma outra imagem, a de Deus, e por isso é a Ele, e somente a Ele, que todos estão endividados com sua própria existência”.

Pagar impostos: um dever do cidadão

O ensinamento que se desprende deste episódio é válido tanto para os contemporâneos de Jesus como para os cidadãos de hoje. “Nesta sentença de Jesus encontramos não apenas o critério da distinção entre as esferas política e religiosa, mas também diretrizes claras para a missão dos crentes de todos os tempos, até mesmo para nós hoje".

“Pagar os impostos é um dever do cidadão, assim como cumprir as leis justas do Estado”. Ao mesmo tempo, “é necessário afirmar a primazia de Deus na vida e na história humana, respeitando o direito de Deus ao que lhe pertence”.

“Disso deriva a missão da Igreja e dos cristãos: falar de Deus e dar testemunho dele aos homens e mulheres de seu tempo. Cada um, em virtude do Batismo, é chamado a ser uma presença viva na sociedade, animando-a com o Evangelho e com a força vital do Espírito Santo”.

“Trata-se de comprometer-se com humildade e, ao mesmo tempo, com coragem, dar sua própria contribuição para a construção da civilização do amor, onde reina a justiça e a fraternidade”, concluiu o Papa Francisco.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

ACI Digital

S. LUCAS, EVANGELISTA, MÉDICO, PADROEIRO DOS ARTISTAS

San Luca  (© Biblioteca Apostolica Vaticana)

O “doutor dos Gentios”

São Paulo, na Carta aos Colossenses, define Lucas, - autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos, - como “médico amado” (Cl 4,14). Segundo o historiador Eusébio, Lucas nasceu em Antioquia da Síria e era um Gentio: de fato, sempre na Carta aos Colossenses, Paulo fala de seus companheiros e nomeia por primeiros “aqueles que vieram da Circuncisão, isto é, os Judeus, sem incluir Lucas (Cl 4,10-11). Além do mais, em seu Evangelho, Lucas demonstra particular sensibilidade em relação à evangelização dos Gentios. Foi ele quem narrou a parábola do Bom Samaritano; citou o elogio que Jesus fez pela fé da viúva de Sarepta; de Naamã, o Sírio; do Samaritano leproso, o único que voltou para expressar seu agradecimento a Jesus por ter sido curado.

Ao lado de Paulo

Nada sabemos sobre as circunstâncias em que Lucas se converteu, mas, pelos Atos dos Apóstolos, podemos deduzir quando Lucas se juntou a Paulo. Até ao capítulo décimo sexto, os Atos foram narrados em terceira pessoa. De repente, logo após a visão de Paulo - um macedônio lhe pede para ir ajudá-los na Macedônia (Atos 16,9), - passou-se à primeira pessoa do plural: “E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciar o Evangelho” (Atos 16,10). Logo, Lucas acompanhou Paulo, no ano 51, a Samotrácia, Neápolis, Filipos. Depois, há uma nova passagem para a terceira pessoa, que nos leva a pensar que Lucas não tinha sido preso com Paulo, pelo contrário, que havia permanecido em Filipos, após a partida do amigo.

Sete anos depois, Paulo voltou àquela região e Lucas, - que no capítulo 20 retoma a narração em primeira pessoa do plural, e foi com ele a Mileto, Tiro, Cesareia e Jerusalém. Quando Paulo foi preso em Roma, no ano 61, Lucas ficou ao seu lado, como referem as Cartas de Paulo a Filemon e Timóteo: depois que todos o haviam abandonado, na fase final da sua reclusão, Paulo escreveu a Timóteo: “Somente Lucas está comigo” (2 Timóteo 4,11).

O Evangelista da Misericórdia

É possível perceber a característica mais original do Evangelho de Lucas, graças aos seis milagres e às dezoito parábolas, que não encontramos nos outros Evangelhos. Ele dedica atenção particular aos pobres e às vítimas das injustiças, aos pecadores arrependidos, acolhidos pelo perdão e a misericórdia de Deus: ele narra a parábola do pobre Lázaro e o rico Epulão; fala do Filho Pródigo e do pai misericordioso, que o acolhe de braços abertos; descreve a ação da pecadora perdoada, que lava os pés de Jesus com as suas lágrimas e os enxuga com seus cabelos; cita as palavras de Maria, no Magnificat, quando ela proclama que Deus “derruba do trono os poderosos e eleva os humildes; aos famintos enche de bens e despede os ricos de mãos vazias!” (Lc 1,52-53).

Junto a Maria

A relação particular que Lucas tem com Maria é outra característica do seu Evangelho. Por meio dele e - podemos imaginar - por meio da narração que Maria lhe fez pessoalmente, conhecemos as palavras da Anunciação, da Visita a Isabel e do Magnificat; por seu intermédio, sabemos os particulares da Apresentação de Jesus ao Templo e a angústia de seus pais, Maria e José, por não poder encontrar seu filho de doze anos no Templo. Provavelmente, graças a esta sua sensibilidade narrativa e descritiva, que nasce a tradição de ser o primeiro iconógrafo, sabemos que Lucas era pintor.

As notícias concernentes à sua morte são incertas: algumas fontes falam do seu martírio; outras dizem que viveu até à idade avançada. A tradição mais antiga diz que morreu na Beócia, com 84 anos, depois de ter-se estabelecido na Grécia, onde escreveu seu Evangelho.

Vatican News

sábado, 17 de outubro de 2020

FILOCÁLIA: O amor de Deus pelo ser humano

Mensagens Com Amor

Deus escuta somente o homem. Deus se manifesta somente ao homem. Deus é amigo do ser humano: onde ele está, ali também Deus está.

Somente o ser humano é digno de adorar Deus. Por causa do homem, Deus se transfigura

Antônio o Grande,
Exortações 132

Deus é bom; nele não existe paixão nem mudança. Considerando-se razoável e verdadeiro que Deus não muda, então fica difícil que ele alegre os bons e abandone os maus e se encolerize com quem peca e depois, se se lhe presta culto, mostre-se favorável. Diga-se logo, que Deus nem se alegra nem se encoleriza, porque alegrar-se e encolerizar-se são paixões, e também não se lhe presta culto com dons: isso significaria que fosse vencido pelo prazer.

Não é lícito julgar o divino como bem ou como mal com base em julgamentos humanos. Deus é bom e faz somente o bom, não faz o mal a ninguém, porque assim foi feito; nós, pelo contrário, nos tornamos bons se lhe tornamos semelhantes, a ele nos unimos; se nos tornamos maus ficando dessemelhantes, nos separamos dele.
Vivendo segundo a virtude, nos conservamos unidos a Deus; tornando-nos maus, nós o tornamos inimigo, não porém irado em vão. Os pecados não permitem que Deus resplandeça em nós, mas, pelo contrário, nos unem, por castigo, aos demônios.

Se com as orações e a boas obras conseguimos libertar-nos dos pecados, não significa que prestando culto a Deus o obriguemos a mudar, mas que, curando nossa malvadeza com as nossas ações e a nossa conversão ao divino, novamente gozamos da bondade de Deus: por isso, dizer que Deus se afasta do maus é como dizer que o sol se esconde a quem é cego.

Antônio o Grande,
Exortações 150

Era necessário, verdadeiramente necessário que o Senhor, sábio, justo e poderoso por natureza, não ignorasse o modo de curar; enquanto justo, não realizasse a salvação do ser humano cuja vontade era, de modo tirânico,  prisioneira do pecado; enquanto onipotente, não fosse fraco no realizar a cura.

A sabedoria de Deus se mostra no seu devir homem por natureza segundo a verdade; a sua justiça no ter assumido uma natureza submetida ao sofrimento semelhante à nossa; a sua potência no ter criado pela natureza, através de sofrimentos e morte, uma vida eterna, impassível sem mudança.

Máximo o Confessor,
Sobre a Teologia 6, 40-41

O Senhor, infinito e incorpóreo, se faz pequeno em sua infinita bondade, por assim dizer, ele que é grande e superior a toda substância, para poder se misturar com suas criaturas espirituais, as almas dos anjos e dos santos, para que também eles se tornem capazes de participar da vida imortal de sua divindade. Pois, cada um, segundo a sua natureza, é corpo: o anjo, a alma, o demônio. E mesmo que sejam corpos sutis, contudo, na substância, na forma, na imagem são corpo, sutil segundo a sutileza da própria natureza.

E como esse nosso corpo, que na sua substância é espesso, assim também a alma, tendo um corpo sutil, envolve e reveste os membros desse corpo. Envolve o olho, com o qual vê; o ouvido, com o qual ouve; a mão, o nariz e, numa palavra, a alma envolve todo o corpo e seus membros e com ele se mistura e com ele executa todas as funções vitais.

Da mesma forma, também a indizível e inexprimível bondade de Cristo se faz pequena e assume um corpo, se mistura com ele e envolve as almas fiéis que lhe são amigas e com elas se torna um só espírito, segundo a palavra de Paulo (cf. 1Cor 6,17), alma por alma, por assim dizer, hipóstase por hipóstase, de modo que a tal alma é possível viver na sua divindade e atingir uma vida imortal, e fruir de uma alegria incorrupta e de uma glória indizível.

Macário o Egípcio,
Paráfrases 67

Ecclesia

Da Carta aos romanos, de Santo Inácio, bispo e mártir

Pantokrator

(Cap.4,1-2;6,1-8,3: Funk 1,217-223)            (Séc. I)

 

Sou trigo de Deus e serei moído pelos dentes das feras

Tenho escrito a todas as Igrejas e a todas elas faço saber que morro por Deus com alegria, desde que vós não me impeçais. Suplico-vos: não demonstreis por mim uma benevolência inoportuna. Deixai-me ser alimento das feras; por elas pode-se alcançar a Deus. Sou trigo de Deus, serei triturado pelos dentes das feras para tornar-me o puro pão de Cristo. Rogai a Cristo por mim, para que por este meio me torne sacrifício para Deus. 

Nem as delícias do mundo nem os reinos terrestres são vantagens para mim. Mais me aproveita morrer em Cristo Jesus do que imperar até os confins da terra. Procuro-o, a ele que morreu por nós; quero-o, a ele que por nossa causa ressuscitou. Meu nascimento está iminente. Perdoai-me, irmãos! Não me impeçais de viver, não desejeis que eu morra, eu, que tanto desejo ser de Deus. Não me entregueis ao mundo nem me fascineis com o que é material. Deixai-me contemplar a luz pura; quando lá chegar, serei homem. Concedei-me ser imitador da paixão de meu Deus. Se alguém o possui no coração, entenderá o que quero e terá compaixão de mim, sabendo quais os meus impedimentos. 

O príncipe deste mundo deseja arrebatar-me e corromper meu amor para com Deus. Nenhum de vós, aí presentes, o ajude! Ponde-vos de meu lado, ou melhor, do lado de Deus. Não podeis dizer o nome de Jesus Cristo, enquanto cobiçais o mundo. Que a inveja não more em vós! Mesmo que eu em pessoa vos rogue, não me acrediteis; crede antes no que vos escrevo, desejando morrer. Meu amor está crucificado, a matéria não me inflama, porque uma água viva e murmurante dentro de mim me diz em segredo: “Vem para o Pai”. Não sinto prazer com o alimento corruptível nem com os prazeres deste mundo. Quero o pão de Deus, a carne de Jesus Cristo, que nasceu da linhagem de Davi; e quero a bebida, o seu sangue, que é a caridade incorruptível. 

Não quero mais viver segundo os homens. Isto acontecerá se vós quiserdes. Rogo-vos que o queirais para alcançardes também vós a misericórdia. Com poucas palavras dirijo-me a vós; acreditai em mim! Jesus Cristo vos manifestará que digo a verdade; ele, a boca verdadeira pela qual o Pai verdadeiramente falou. Pedi vós por mim, para que o consiga. Não por motivos carnais, mas segundo a vontade de Deus vos escrevi. Se for martirizado, vós me quisestes bem; se rejeitado, vós me odiastes.

https://liturgiadashoras.online/

Síndrome K: uma doença nova, contagiosa, pavorosa e mortal que... nunca existiu

Wknight94 / Wikipedia (CC BY-SA 3.0)

por Francisco Vêneto

Como e por que um grupo de médicos italianos inventou uma misteriosa doença em plena Segunda Guerra Mundial.

Síndrome K era o nome de uma doença misteriosa, mas cujo diagnóstico muitos “desejavam”: afinal, ela aumentava em muito as chances de salvar da morte os seus “infectados”! E essa não era a sua única peculiaridade.

A Segunda Guerra Mundial continuava devastando o mundo. Além disso, os nazistas deportavam um número cada vez maior de judeus para os campos de concentração. Diante daquele cenário de morte, um grupo de médicos italianos tomou a ousada decisão de se arriscar mais ainda.

A Itália tinha trocado de lado na guerra em outubro de 1943, mas uma boa parte do seu território continuava sob ocupação dos antigos parceiros nazistas.

Foi justamente nesse período que a perseguição contra os judeus de Roma se intensificou. Com isso, cada vez mais conventos e instituições católicas passaram a dar refúgio a famílias judias aterrorizadas.

Outro local inusitado que recebeu judeus para evitar a sua deportação foi o Hospital Fatebenefratelli.

E foi lá que um grupo de médicos teve uma ideia surpreendente – e muito arriscada.

A Síndrome K

Os cabeças foram o professor Giovanni Borromeo e o doutor Vittorio Sacerdoti. Eles começaram, de fato, a internar até judeus saudáveis, “diagnosticando-os” com a “Síndrome K” – ou “morbo di K”, em italiano.

Segundo esses médicos, tratava-se de uma nova e pavorosa doença, quase desconhecida. Os médicos, porém, a descreviam como altamente contagiosa. Além disso, as pessoas “infectadas” tossiam profusamente durante as inspeções dos nazistas no hospital. E isto, é claro, provocava neles um medo enorme de contaminação.

O próprio doutor Sacerdoti deu uma entrevista em 2004, recordando:

“Os nazistas pensavam que se tratava de câncer ou tuberculose. Por isso, eles fugiam como coelhos”.

Os efeitos da “doença”

A doença, portanto, era contagiosa, assustadora e mortal. E ela tinha, ademais, uma característica adicional inusitada: o fato de que ela simplesmente não existia!

Na prática, os médicos e demais profissionais do hospital usavam a “Síndrome K” apenas como um código, porque a doença era fictícia e tudo era combinado com os “doentes”. Assim, eles identificavam facilmente os judeus refugiados e os protegiam, afugentando os nazistas.

A letra K, aliás, foi escolhida para zombar de duas figuras relevantes do nazismo. O primeiro era o chefe de polícia Herbert Kappler, um dos responsáveis pela perseguição aos judeus na Itália. E o outro era Albert Kesselring, militar encarregado de defender os territórios ocupados na Itália contra os Aliados. Os dois acabaram condenados por crimes de guerra depois do fim do conflito.

Não se sabe quanta gente “pegou” a “Síndrome K”, mas é consenso que essa falsa doença salvou centenas de judeus. A genial estratégia dos médicos italianos, afinal, os livrou de uma morte praticamente certa.

Giovanni Borromeo e o doutor Vittorio Sacerdoti, portanto, são heróis.

E atualmente, de fato, há uma placa no Hospital Fatebenefratelli que recorda esse episódio de esperta e arriscada resistência impulsionada por eles contra o nazismo e o Holocausto.

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Com informações de IFLSciense.com

Aleteia

Os Corpos Incorruptos dos Santos: quando só resta a explicação da Fé

Guadium Press
Os espíritos racionalistas, ou simplesmente contrários à Fé de Cristo, sempre tiveram problemas com os corpos incorruptos, pois sua existência é uma afirmação, embora indireta, da verdade de Cristo.

Redação (15/10/2020 11:00, Gaudium Press) Com a recente beatificação de Carlo Acutis, e a consequente exposição do seu corpo, muitas pessoas no mundo descobriram uma realidade bem conhecida por aqueles que amam a história da Igreja e dos seus Santos: de que à alguns, Deus concedeu que seus corpos não sejam pasto para os vermes, mas permaneçam em maior ou menor grau de conservação, para a felicidade dos fiéis e exaltação de sua memória.

Embora o corpo de Carlo, conforme declarado pelo Bispo de Assis, Dom Sorrentino, na realidade tenha sido tratado com técnicas de conservação para apresentá-lo à veneração dos fiéis, o alvoroço que ocorreu a este respeito permitiu à muitos recordar outros corpos, de outras figuras da Igreja, que transcendem os limites da natureza, das leis da física, da química.

Embora o racionalismo não goste…

Os espíritos racionalistas, ou simplesmente contrários à Fé de Cristo, sempre tiveram problemas com esses corpos, pois sua existência não deixa de ser uma afirmação, ainda que indireta, da Fé Cristã, além da santidade das vidas que ali habitaram.

E é claro que nestes territórios temos que andar com cuidado, pois inclusive causas meramente naturais podem contribuir para a não putrefação de um corpo. Mas há casos em que a mera razão falha, e devemos nos agarrar às asas da Fé.

É o que ocorre, por exemplo, com o corpo de Santa Bernadette de Soubirous, que está exposto desde 1925 na capela do mosteiro de Saint-Gillard, em Nevers, França. Após três exumações, em 1909, 1919 e 1925, até os médicos se renderam ao inexplicável. (1) O rosto e as mãos escureceram pela exposição ao ar, e por isso se cobriram com uma fina camada de cera, mas suas feições seguem refletindo a seriedade, a paz e a contemplação que ela desfruta na eternidade.

Eles não são “múmias enrugadas”

Porque os incorruptos da Igreja não são “múmias enrugadas, sempre rígidas e extremamente secas. A maioria dos incorruptos, por outro lado, não está nem seca, nem rígida, mas úmida e flexível, inclusive com o passar dos séculos. Além disso, suas preservações foram conquistadas em condições que naturalmente ajudariam a putrefação, e eles sobreviveram às circunstâncias que inquestionavelmente significaram a destruição de todos os outros corpos sujeitos às mesmas condições”. (2)

Inclusive já houve corpos incorruptos de santos, que foram submetidos a um radical processo que deixaria apenas os ossos, de forma rápida, borrifando-os com cal.

É o caso de “São Francisco Xavier, São João da Cruz e São Pascoal Bailão. Como se sabe, o cal deixa os ossos absolutamente limpos em poucos dias. Nos dois primeiros casos se procurou provocar rapidamente a decomposição para que suas translações pudessem ser realizadas de maneira mais conveniente e higiênica, transferindo seus ossos ao invés dos corpos semideteriorados. No caso de São Pascoal, a tentativa de provocar uma desintegração acelerada ocorreu para se evitar que os odores ofensivos de putrefação perturbassem os visitantes do santuário, fato que poderia afetar a devoção e a doce recordação de sua memória. Nos três casos, a preservação triunfou. De fato, no caso de São Francisco Xavier, apesar de seu tratamento inicial, de várias translações, de amputação de membros, e o rude tratamento de seu corpo quando foi forçado a entrar em um túmulo pequeno demais para seu tamanho, conservou sua beleza 142 anos depois. O corpo de São João da Cruz permanece perfeitamente flexível até hoje”. (3)

Existem corpos incorruptos que resistem até ao principal elemento que estraga as carnes, que é a umidade. Como ocorreu com “Santa Catarina de Gênova, que permaneceu dezoito meses no túmulo, mas foi encontrada perfeitamente limpa, contrariando a umidade e a mortalha putrefata. Santa Maria Madalena de Pazzi foi desenterrada um ano após sua morte e suas roupas foram encontradas molhadas, embora seu corpo permanecesse completamente intacto. Santa Madalena Sofia Barat permaneceu perfeitamente preservada por 28 anos, embora tenha sido encontrada com vestes úmidas e mofadas dentro de um caixão que estava em avançado estado de decomposição. Nove meses após sua morte, Santa Teresa de Ávila foi encontrada em um caixão com a tampa aberta, permitindo que terra úmida cobrisse seu corpo. Embora seus restos mortais estivessem vestidos com pedaços de pano sujo e podre, seu corpo não estava apenas fresco e perfeitamente intacto após a limpeza, mas também estava misteriosamente perfumado”.

E assim poderíamos falar de muitos outros, como de Santo Cura d’Ars, São João Bosco, Santa Catarina Labouré, São Charbel Maklouf, etc.

Por Carlos Castro

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
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(1) https://es.aleteia.org/2020/02/10/el-cuerpo-intacto-de-santa-bernardita-lo-que-dijeron-los-medicos-al-verlo/

(2) https://es.catholic.net/op/articulos/1095/cat/113/incorruptos-patrimonio-exclusivo-de-la-iglesia.html#modal

A surpreendente conversão ao catolicismo do escritor Oscar Wilde antes de morrer

Oscar Wilde / Crédito : Wikipédia (Domínio Público)

, 17 out. 20 / 06:00 am (ACI).- Oscar Wilde, um dos escritores e dramaturgos mais famosos do século XIX, autor de obras como ‘O Retrato de Dorian Gray’ ou ‘A importância de se chamar Ernesto’, se converteu ao catolicismo em seu leito de morte, em seus últimos instantes de vida, embora muitos não saibam.

Esta é sua história.

Depois de seu nascimento em Dublin (Irlanda), em 1854, Wilde foi batizado na igreja anglicana. Entretanto, sua mãe, Jane, foi atraída ao catolicismo e ia à Missa com frequência. Quando Oscar era criança, ela pediu ao sacerdote local que instruísse seus filhos na fé católica, apesar de que não se saiba se realmente Jane se uniu oficialmente á Igreja.

Wilde, embora recebesse formação católica, não se considerava como um católico em crescimento.

Enquanto estudava em Oxford, Wilde considerou seriamente a possibilidade de se converter ao catolicismo e até mesmo ser sacerdote. Mas, ao mesmo tempo, tinha se unido aos maçons.

Em 1877, quando tinha 23 anos, o escritor viajou para Roma e teve um encontro com o Papa Pio IX, que o deixou “sem palavras”. Então, começou a ler os livros do Beato Cardeal John Newman.

Sobre a Igreja Católica, Wilde dizia com ironia: “É apenas para os santos e pecadores. Para as pessoas respeitáveis bastará a igreja anglicana”.

Em 1878, tornou-se amigo de um sacerdote e escolheu uma data para entrar oficialmente para a Igreja Católica, mas sua família se opôs. Seu pai o ameaçou de cortar as suas mãos se o fizesse. Por isso, no último minuto, Wilde desistiu de se converter ao catolicismo.

Anos mais tarde, em 1895, após alcançar a fama na literatura, foi acusado de sodomia (praticar atos homossexuais), que era ilegal na Inglaterra naquele tempo. Depois de um longo julgamento público, foi declarado culpado e condenado a dois anos de trabalhos forçados.

Enquanto estava na prisão, sua saúde se deteriorou, mas também experimentou uma renovação espiritual. Quando saiu em liberdade, pediu à Companhia de Jesus para fazer um retiro espiritual de seis meses. Lamentavelmente, foi recusado.

Alguns relatórios dizem que chorou ao escutar o rechaço. Apesar de ter dito a um jornalista que tinha “a intenção de ser recebido em pouco tempo” na Igreja Católica, viajou para a França, onde viveu durante alguns anos deprimido e na pobreza, gastando o pouco dinheiro que tinha com álcool.

Em 1900, a saúde de Wilde piorou ao desenvolver uma meningite cerebral. Quando percebeu que o escritor poderia morrer, Robert “Robbi” Ross, seu amigo e suposto amante homossexual, chamou um sacerdote. Quando o presbítero chegou, Wilde pediu para ser batizado na Igreja Católica. Sobre esse fato, o sacerdote contaria o seguinte:

“Enquanto a carruagem percorria as ruas escuras daquela noite invernal, a triste história de Oscar Wilde me foi, em parte, repetida... Robert Ross se ajoelhou junto à cama, ajudando-me o melhor que pôde, enquanto lhe administrei (a Wilde) o batismo condicional e, depois, pronunciando as respostas enquanto dei a Extrema Unção ao homem prostrado e recitei as orações para os moribundos. Como o homem estava em uma condição de semi estado de coma, não me aventurei a administrar-lhe o Santo Viático (Eucaristia); mas devo acrescentar que ele podia ser despertado e foi despertado deste estado na minha presença. Quando despertou, deu sinais de estar interiormente consciente... De fato, estive completamente satisfeito de que ele tenha me entendido quando disse que estava a ponto de recebê-lo na Igreja Católica e lhe dei os últimos sacramentos... e quando repeti perto de seu ouvido os Santos Nomes, o Ato de Contrição, Fé, Esperança e Caridade, com atos de humilde resignação à Vontade de Deus, tentou dizer as palavras depois de mim”.

No dia seguinte, Oscar Wilde morreu.

ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF