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terça-feira, 20 de outubro de 2020

São Lucas descansa em Pádua

Instituto Hesed

O esqueleto do autor do terceiro Evangelho e dos Atos dos Apóstolos está preservado na Basílica de Santa Giustina. O crânio, por outro lado, foi levado por Carlos IV e levado para Praga, onde ainda está hoje. Novos estudos científicos confirmaram a antiga tradição.


por Stefania Falasca


Lucas, o autor do terceiro Evangelho, o cronista dos Atos dos Apóstolos, mora aqui em Pádua. Por mais de um milênio em Santa Giustina, a basílica do mosteiro beneditino de Pádua, os restos de seu corpo foram guardados. Uma antiga tradição atestada por documentos históricos indica sua presença. As relíquias são guardadas no transepto esquerdo da Basílica em uma arca de mármore construída em 1313. Embora a memória da presença de seu corpo nesta igreja se tenha perdido com o tempo, o que a antiga tradição transmitiu agora parece receber confirmação científica.
Em 17 de setembro, pela primeira vez, após quase cinco séculos, a arca contendo as relíquias foi aberta para iniciar um reconhecimento científico. A importante decisão foi tomada pelo bispo de Pádua, Antonio Mattiazzo, que nomeou uma comissão composta por quatorze especialistas para analisar em profundidade as relíquias, objetos e documentos que os acompanham. Portanto, os restos mortais autênticos do evangelista Lucas são os encontrados em Pádua? Os primeiros resultados são surpreendentes.
As análises, conduzidas pela comissão presidida pelo anatomopatologista paduano Vito Terrible Wiel Marin, revelaram o bom estado de conservação de um esqueleto quase completo, pertencente a um homem de cerca de dois mil anos atrás, que morreu velho. E não só. A novidade mais importante diz respeito ao crânio, que, como comprovam os documentos, em 1354 foi retirado da urna e trazido por Carlos IV para Praga. O crânio, trazido de volta a Pádua e submetido a exames cuidadosos, pertence irrefutavelmente aos restos encontrados na pesquisa, pois está perfeitamente articulado com a primeira vértebra cervical deste esqueleto. Os especialistas também endossaram a hipótese de que a antiga caixa de chumbo encontrada na arca de mármore e contendo os restos mortais é a mesma em que o corpo foi originalmente colocado. A pesquisa está apenas começando.
Esses são apenas alguns dos resultados alcançados em dois meses de estudos e observações; mas se as investigações interdisciplinares, que continuarão por mais dois anos, confirmarem a hipótese de que o esqueleto preservado em Pádua é realmente do Evangelista Lucas, será uma descoberta verdadeiramente extraordinária: a de São Lucas será o único corpo dos quatro evangelistas preservados intactos. Salved pelos iconoclastas pesquisa histórica, no entanto, já permitiu uma primeira reconstrução de como as relíquias atribuídas ao St. Luke chegou a Itália em Pádua. Sabe-se, a partir do chamado Prólogo Antimarcionita, um texto do final do século 2 que diz que Lucas morreu velho na Beócia e que seu túmulo vazio, um sarcófago de mármore dos primeiros séculos do cristianismo, foi venerado em Tebas, capital da Beócia, na Grécia. Deste local, como atesta uma tradição confirmada pelo testemunho de São Jerônimo, a urna, contendo suas relíquias, foi transferida, na época do imperador Constâncio (século IV), para Constantinopla e colocada na Basílica que mais tarde se chamará dei dei Santi Apostoli, pela presença nele também dos restos mortais do apóstolo André e Mattia, o "décimo terceiro" dos apóstolos. De Constantinopla, de acordo com uma tradição antiga, foi levado para Pádua.
Os historiadores, no entanto, divergem sobre como e quando as relíquias do evangelista Lucas chegaram a Pádua. Alguns argumentam que os restos mortais chegaram do Oriente após o saque de Constantinopla em 1204, trazido pelos Cruzados. No entanto, investigações recentes suportam outra hipótese. Claudio Bellinati, diretor do arquivo histórico de Pádua e membro da comissão científica encarregada do reconhecimento, explica que a presença das relíquias de São Lucas na abadia beneditina já está registrada no ano de 1177, quando, como atestam os documentos, a O chumbo contendo as relíquias de São Lucas foi encontrado no cemitério de Santa Giustina (onde todos os corpos guardados na Basílica foram escondidos durante as invasões bárbaras) e transportados para dentro da igreja. Portanto, os restos mortais do evangelista já estavam presentes em Pádua antes da conquista de Constantinopla e talvez mesmo antes de 1177, ano de sua descoberta no cemitério adjacente à igreja. «Penso que é muito provável» diz Bellinati «que as relíquias de Lucas chegaram até nós no século VIII, durante o período das lutas iconoclastas (741-770). Na verdade, a tradição nos informa que um sacerdote chamado Urio, guardião da Basílica dos Santos Apóstolos em Constantinopla, quis salvar as preciosas relíquias que eram guardadas na Basílica da fúria dos iconoclastas e trouxe os restos mortais de São Lucas e os restos mortais com ele para Pádua. de San Mattia, junto com uma imagem de madeira da Madonna, conhecida como a Madonna Constantinopolitana (ainda presente na Basílica de Santa Giustina). Portanto, as relíquias de Mattia e a imagem de madeira também devem ser examinadas »acrescenta Bellinati« para verificar o que a tradição nos transmitiu ». No entanto, ainda não está claro por que essas relíquias foram trazidas para Pádua e não, por exemplo, para Veneza.

Imperador Carlos IV
Em vez disso, o que é inquestionavelmente certo é que em 9 de novembro de 1354 a arca de mármore contendo as relíquias de São Lucas, construída em 1313 pelo abade Gualpierino Mussato, foi aberta para tomar a cabeça. O imperador Carlos IV, de fato, queria trazer esta preciosa relíquia de São Lucas com ele para Praga e nesta ocasião um verdadeiro levantamento dos restos contidos no túmulo foi realizado. É a primeira identificação documentada que conhecemos. «Mas não é certo» explica Bellinati «que este foi o primeiro reconhecimento. Certamente houve outros precedentes. É provável, por exemplo, que houvesse uma no período das lutas iconoclastas, antes que a caixa de chumbo fosse levada a Pádua, para verificar seu conteúdo. No caso, durante o nosso levantamento, também foram encontradas algumas moedas, algumas das quais são muito antigas, uma datando do ano 299 DC, época do Imperador Maximiano. Outras vezes, a caixa deveria ser aberta ».
Um segundo reconhecimento documentado foi feito em 1463 devido a um julgamento (cujos atos estão contidos no quinto volume do Arquivo Sartori , uma transcrição dos documentos existentes no Arquivo do Estado de Pádua) para estabelecer se o verdadeiro São Lucas foi aquele que foi enterrado em Santa Giustina em Pádua ou um homônimo, cujo túmulo era venerado em Veneza. No processo, após longas e cansativas sessões, com extensa documentação e muitos testemunhos, concluiu-se que o verdadeiro São Lucas estava em Pádua, visto que se constatou que o esqueleto do Luca veneziano pertencia a um jovem de vinte anos, falecido de apenas dois séculos.
A última abertura antes da atual ocorreu em 1562, data que se deduz dos pergaminhos da caixa de chumbo. Em 1562 a identificação foi feita por ocasião da translação dos restos mortais de São Lucas da antiga capela com o mesmo nome para o novo transepto esquerdo da Basílica, onde se encontra hoje. Provavelmente o caso principal foi aberto para expor as relíquias sagradas para a veneração dos fiéis, o que pode ter acontecido também nas aberturas anteriores. Sabe-se também que na antiga capela de origem a lápide de mármore serviu de mesa de altar e que a capela havia sido embelezada pelo famoso políptico de Andrea Mantegna e por afrescos com cenas que remetiam à tradicional história da chegada do corpo. de San Luca em Santa Giustina.
Agora, todos esses dados fornecidos por documentos e tradições serão reconsiderados, esclarecidos e aprofundados à luz das evidências científicas e das pistas das novas investigações interdisciplinares. «Com o contributo de instrumentos científicos modernos» afirma Claudio Bellinati «poderemos finalmente comprovar a autenticidade das relíquias de São Lucas e poderemos reconstruir historicamente o que uma antiga tradição nos indicou».

Revista 30Dias

PAIS DA IGREJA: Santo Atanásio de Alexandria

Santo Atanásio | Ecclesia

Santo Atanásio de Alexandria

Bispo de Alexandria, Confessor e Doutor da Igreja;
nascido c. 296, falecido em 2 de maio de 373.

O século IV, a idade de ouro da literatura cristã, nos oferece em seus umbrais a figura gigantesca de Atanásio de Alexandria, o homem cujo gênio contribuiu para o engrandecimento da Igreja muito mais que a benevolência imperial de Constantino. Seu nome está indissoluvelmente unido ao triunfo do Símbolo de Nicéia»1, que ainda hoje rezamos.

«Há nome mais ilustre que o de Santo Atanásio entre os seguidores da Palavra da verdade, que Jesus trouxe à terra? Não é este nome símbolo do valor indomável na defesa do depósito sagrado, da firmeza do herói face às mais terríveis provas da ciência, do gênio, da eloqüência, de tudo o que pode representar o ideal de santidade de um Pastor unido à doutrina do intérprete das coisas divinas? Atanásio viveu para o Filho de Deus; Sua causa foi a de Atanásio. Quem estava com Atanásio, estava com o Verbo eterno, e quem maldizia o Verbo eterno maldizia Atanásio»2, comenta Dom Guéranger, o admirável autor eclesiástico do século XIX.

É esse grande Santo que comemoramos no dia 2 deste mês (Maio).

1. Arianismo: heresia devastadora

Deus nosso Senhor permitiu que houvesse várias heresias logo no início da Igreja. Com isso, ao refutá-las, os doutores foram explicitando a verdade católica a partir da Revelação e estabelecendo assim os fundamentos básicos sobre os quais se firmasse a verdadeira doutrina.

Uma das heresias que mais dano causou à Igreja, a partir do século III, foi o arianismo, devido ao apoio que encontrou da parte de muitos bispos e imperadores.

Na segunda metade do século III, Melécio, Bispo de Lycopolis, rompeu com São Pedro de Alexandria, provocando um cisma que dividiu o patriarcado de Alexandria. Melécio caiu em cisma (ou seja, provocou uma divisão) por ter discordado da indulgência do Santo ao receber de volta à Igreja cristãos arrependidos que, por fraqueza, haviam oferecido incenso aos ídolos para evitar a morte.

Ário, homem intrigante, habilidoso, persuasivo, vindo da Líbia, juntou-se aos cismáticos. Elevado ao sacerdócio pelo primeiro sucessor de São Pedro de Alexandria, ambicioso e buscando preeminência, Ário começou a pregar uma nova doutrina, que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alexandre, novo Patriarca de Alexandria, condenou-a como herética.

2. Atanásio: sustentáculo anti-ariano

«Jamais, talvez, nenhum chefe de heresia possuiu em mais alto grau que Ário as qualidades próprias para esse maldito e funesto papel. Instruído nas letras e na filo dos gregos, dotado de uma rara fineza de dialética e de linguagem, ele conseguia dar ao erro o aspecto e o atrativo da verdade. Seu exterior ajudava a sedução. Seu orgulho se disfarçava sob uma simples vestimenta, sob um olhar modesto, recolhido, mortificado, que lhe dava um falso ar de santidade, e ao qual ele sabia aliar um trato gracioso e um tom doce e insinuante»3. Isso lhe abriu a porta dos grandes e poderosos do mundo. Eusébio de Cesaréia lhe concedeu asilo e o protegeu. Eusébio de Nicomédia tornou-se seu mais forte defensor. Por isso sua heresia estendeu-se séculos afora, provocando grande mal à Igreja.

O crescimento e o tumulto da nova heresia preocupou o Imperador Constantino, que enviou o mais venerado Prelado da época, Ósio de Córdoba, a Alexandria, para tentar fazer cessar a "epidemia". Este, estando com Santo Atanásio, reconheceu logo sua ortodoxia; bem como a má-fé e erro de Ario. Por isso, aconselhou o Imperador a convocar um concílio em Nicéia, para condenar a nova heresia. Neste foi composto o famoso Credo de Nicéia, que alguns heresiarcas assinaram constrangidos, e outros, recusando-se a fazê-lo, foram exilados.

Foi ali, na grande assembléia, que um pequeno grande homem, secretário de Santo Alexandre, se fez notar pelo fogo de suas palavras, eloqüência e amor à ortodoxia católica. Era ele Atanásio.

3. Moldador dos acontecimentos

«Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva incomparavelmente mais de seus próprios dons naturais de intelecto do que do fortuito da descendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma crise na história da Cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos acontecimentos em que tomou parte do que foi moldado por eles»4. A esta descrição psicológica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço da qual colocou suas qualidades naturais.

De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de debique por parte do apóstata Juliano), segundo seus biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso, acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate.

A História não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelectual que ele demonstra ainda jovem, julga-se que pertencia à classe mais elevada.

4. Jovem Patriarca de Alexandria

Ainda adolescente, foi notado e apreciado por Santo Alexandre, que o tomou sob sua proteção e, com o tempo, o fez seu secretário. No Concílio de Nicéia ainda não havia recebido a ordenação. Mas, cinco meses depois, Santo Alexandre, ao falecer, designou-o como seu sucessor na Sé de Alexandria. Atanásio tinha apenas trinta anos de idade.

Triste herança recebeu o jovem bispo. Durante seus primeiros anos de episcopado, os melecianos e arianos juntaram-se para tumultuar o povo e lançar o espírito de revolta, de que se alimentam as heresias. Pois o arianismo, se bem que tivesse um suposto fundamento religioso, era mais um partido político de agitadores, como muitos movimentos da esquerda católica de hoje em dia. Não havia calúnia, difamação e ardil que os arianos não inventassem contra Atanásio, para minar sua autoridade.

O Imperador Constantino, perdendo sua mãe Santa Helena, ficou sob a influência de sua irmã Constância, conquistada pela heresia. A pedido dela, fez voltar do exílio os hereges exilados em Nicéia, enquanto perseguia os católicos ortodoxos.

5. A astúcia dos santos

Apenas retornado do exílio, Eusébio de Nicomédia convoca um concílio em Cesaréia, sede do outro Eusébio ariano, para condenar Santo Atanásio. Este é intimado a comparecer em Tiro — para onde o concílio havia sido transferido — a fim de responder às acusações assacadas contra ele.

Fizeram entrar uma mulher de cabelos desgrenhados que, com altos gritos, acusou o Santo de ter dela abusado. Um dos padres de Atanásio, percebendo o jogo, levantou-se e foi até a impostora, exclamando: «Como! Então é a mim que imputas esse crime?!» Ela, que não conhecia Atanásio, replicou: «Sim, é a ti. Eu bem te reconheço». Houve uma gargalhada geral, e a miserável fugiu cheia de confusão.

Mas isso não desarmou os impostores. Mostrando uma mão ressequida, afirmaram pertencer a um tal Arsênio, que havia tempos desaparecera, e certamente fora esquartejado por Atanásio para efeitos de magia. Atanásio faz entrar na sala o próprio Arsênio, que descobrira na solidão do deserto. Mostrando-o, disse aos acusadores: "Vejam Arsênio, com suas duas mãos. Como o Criador só nos deu duas, que meus adversários expliquem de onde tiraram essa terceira". Os hereges, confundidos, provocaram verdadeiro tumulto e suspenderam a sessão.

6. Exílio causado por amor à ortodoxia

Com calúnias e outros artifícios, os hereges, que gozavam do prestígio do poder imperial, conseguiram que o Santo fosse exilado cinco vezes.

O primeiro exílio, em Treveris, durou cinco anos e meio, terminando em 337 quando, com a morte de Constantino, seu filho do mesmo nome chamou Atanásio para ocupar novamente sua Sé. No ano anterior, Ário, sentindo-se mal quando era levado em triunfo pelos seus partidários, teve que retirar-se a um lugar escuso, onde morreu com as entranhas nas mãos.

Entretanto, morto o heresiarca, não morreu a heresia, que em 340 conseguiu impor um bispo herege em Alexandria, tendo Atanásio que fugir para o exílio em Roma. Foi bem acolhido pelo Papa, que condenou o intruso.

Atanásio passou três anos em Roma, onde introduziu os monges do Oriente. Publicou na Cidade Eterna grandes obras contra os hereges arianos. Em 343 foi exilado para a Gália.

A década de 346 a 356 foi o período de ouro para Atanásio na Sé de Alexandria. Pôde dedicar-se inteiramente ao ministério episcopal, instruindo o clero e o povo, dedicando-se aos necessitados e favorecendo a vida monástica. Sobretudo fortaleceu na fé os católicos fiéis.

Em um novo concílio, em Milão, em 356, os arianos obtiveram que Santo Atanásio fosse mais uma vez exilado. Ele retirou-se então para o deserto do alto Egito, levando uma vida de anacoreta durante os seis anos seguintes, vivendo com os monges e dedicando-se a seus escritos.

7. Perseguição inclemente ao Santo

Com a subida de Juliano, o Apóstata, ao trono imperial, Atanásio pôde voltar, em 362, a Alexandria. Mas, pouco depois, ciumento do prestígio do Santo, o ímpio imperador mandou exilá-lo de novo. Não foi por muito tempo, pois Juliano faleceu no ano seguinte, depois de ter tentado restaurar no Império o paganismo. O novo imperador, Joviano, anulou o exílio de Atanásio, que voltou mais uma vez a Alexandria.

Favorecido com a boa vontade do novo Imperador, o patriarca pensava desta vez poder dedicar-se inteiramente às suas ovelhas. Joviano, entretanto, faleceu no ano seguinte, e Atanásio foi mais uma vez exilado. Conta-se que teve de refugiar-se durante quatro meses no túmulo de seu pai.

O povo de Alexandria não podia passar sem seu zeloso pastor. Recorreu nessa ocasião a Valente, irmão do Imperador ariano Valentiniano, e obteve que Atanásio pudesse voltar em paz à sua igreja.

Assim, depois de uma vida tão tumultuada e de tantos perigos, Santo Atanásio, como ressalta o Breviário Romano, "morreu em paz em seu leito", no dia 18 de janeiro de 373. Havia governado, com intervalos, durante 46 anos, a igreja (diocese) de Alexandria.

8. O grande iluminador

«No caráter de Atanásio» — disse Bossuet — «tudo é grande. Toda sua vida é a revelação de uma energia prodigiosa, que só encontramos em épocas decisivas. Indiscutivelmente, sua grandeza como homem o coloca na primeira linha dos caracteres mais admiráveis que produziu o gênero humano. Como escritor e Doutor, pôde ser chamado o grande iluminador, e coluna fundamental da Igreja».

Ecclesia

São Luís e Santa Zélia, modelos para os pais de hoje

CHARLY TRIBALLEAU | AFP

Beatificados em 19 de outubro de 2008 em Lisieux, pelo caráter exemplar de sua vida conjugal, e canonizados em Roma em 18 de outubro de 2015 pelo Papa Francisco, os Santos Luís e Zélia Martin são exemplos preciosos para os pais que desejam bem corresponder à sua vocação.

Como o primeiro casal canonizado na história da Igreja, São Luís e Santa Zélia Martin viveram a aventura da santidade, testemunharam o Evangelho na vida quotidiana e experimentaram alegrias e tristezas (quatro filhos mortos na infância, o câncer de mama da mãe seguido da sua morte prematura, os filhos órfãos, a viuvez do pai e depois a sua demência…). Apesar de um século separá-los dos casais e pais de hoje, eles ainda mostram como colocar Deus no centro de suas vidas. Veja a seguir a explicação de Hélène Mongin, biógrafa do casal Martin e autora do livro Luís e Zélia Martin – Os santos da vida ordinária (em tradução livre).

Como você definiria a educação dada por São Luís e Santa Zélia Martin aos seus filhos?

Foi uma educação amorosa, exigente e espiritual. Amorosa: fica claro quando você lê as cartas de Zélia nas quais ela descreve seu cotidiano com a família. Louis e Zélie nunca paravam de dizer aos filhos o quanto os amavam e de demonstrar esse amor de mil maneiras. Zélia fazia questão de dar às filhas o que ela mesma não teve na infância: um clima de confiança e ternura. Quanto a Luís, basta reler o início de História de uma Alma para ver como ele era um pai amoroso e atencioso.

Luís e Zélia não são exatamente como pais “amigos”, muitas vezes os vemos repreendendo suas filhas com firmeza. Pois o seu principal objetivo, como descreveu Zélia, era “Criar [nossos filhos] para o Céu”. A prioridade deles não era que suas filhas tivessem “sucesso” ou fossem perfeitamente equilibradas e sóbrias; sua prioridade era lançá-las no caminho da santidade.

São Luís e Santa Zélia Martin dão a impressão de serem um casal moderno: ela, mulher ativa e mãe ao mesmo tempo, ele, muito preocupado com a educação das filhas… Eles são diferentes da imagem tradicional que formamos às vezes da família católica.

De fato, a chefe da empresa que eles tinham era Zélia, e Luís deixou seu próprio emprego para trabalhar para sua esposa. Vá e pergunte ao seu marido, por mais moderno que ele seja, o que ele pensa sobre isso! Para falar a verdade, eles são bem mais proféticos do que exatamente “modernos”. Poderíamos crer que a família fosse um pseudo-mosteiro, que empurrava todas as meninas para a vida religiosa. Mas os pais de famílias numerosas que nos leem sabem que cinco filhos dificilmente conferem a uma casa uma atmosfera monástica! Além disso, Luís e Zélia, a pesar de sua elevada ideia de vida consagrada, nunca empurraram suas filhas por esse caminho. Para descobrir essa família em toda a sua complexidade e beleza, recomendo fortemente que você leia o livro Correspondência Familiar.

Leonie causou-lhes muita preocupação. Os Martin não são uma família perfeita, livre de problemas…

Luís e Zélia não foram pais perfeitos. Cada um tinha sua filha predileta, e a divertida carta de Zélia, que fez da Pauline adolescente sua confidente, onde explicava como “manipular” o pai, vai incomodar mais de uma das filhas! Eles também, como todos os pais, tiveram às vezes atitudes ou palavras infelizes. Santo não significa perfeito, e o exemplo de Leonie fala por si: ela os confrontou por anos, indo até seus limites como pais.

Desde seu nascimento Léonie tinha a saúde debilitada e era mais limitada intelectualmente do que as outras meninas; ela se isolava e desenvolveu assim um caráter muito difícil. A empregada da casa, Louise Marais, passa então a maltratá-la sem que Luís e Zélia percebam, o que explica porque Léonie ficava fechada à menor aproximação. Zélia diz que é um dos maiores sofrimentos de sua vida. Mas Luís e Zélia respondem a isso com uma dupla confiança.

Em primeiro lugar, confiança na filha, que eles não poderiam prender ao papel de “patinho feio”. Sempre que Zélia fala das travessuras de Leonie (e suas cartas estão cheias disso!), ela sempre dizia: mas eu sei que ela é boa, acredito no seu bom coração. E confiança em Deus acima de tudo, a quem Luís e Zélia perseguiram com orações por sua filha. E veja o resultado: o processo de beatificação de Leonie, que comove os corações pelas próprias dificuldades, começou em 2015.

Até que ponto essa forma de educar pode ser um exemplo a ser seguido por outros pais?

Na prática, não existe uma “receita dos Martin” para a educação dos filhos. É impressionante ver como Luís e Zélia dão uma educação diferente para cada uma de suas filhas, de acordo com sua personalidade. Para Pauline, de caráter muito forte, Zélia diz que nunca deixa passar nada, mesmo que doa no coração. Theresa, por outro lado, era uma criança muito sensível que chorava à menor oportunidade e depois ainda chorava por ter chorado! E seu pai só demonstrava gentileza e encorajamento.

Pode-se multiplicar os exemplos: é comovente ver em suas cartas como Zélia se apega a estudar o caráter de cada uma de suas filhas para ver o que mais lhe convém. Não existe uma educação pré-fabricada ou perfeita, mas há um desejo do coração dos Martin que pode ser partilhado conosco: caminhar juntos, com os nossos próximos, com Deus, que Luís e Zélia consideravam como um membro da sua família, no caminho para a santidade. Santidade que viveram em sua existência concreta de pais.

Aleteia

Por que Deus permite a doença? Alguns motivos espirituais

Shutterstock
por Philip Kosloski

Acredite: as doenças podem nos levar a um maior bem-estar espiritual.

Por que Deus permite a doença? Essa é uma pergunta que costumamos fazer quando somos acometidos pela enfermidade ou vemos um amigou ou familiar adoecer.

Antes de responder, precisamos, primeiramente, entender o sofrimento. E, embora o sofrimento no mundo possa remontar a Adão e Eva, Deus é capaz de transformar até as consequências do pecado em um bem maior. Portanto, as doenças que Ele permite podem nos levar a um maior bem-estar espiritual.

É por isso que São Paulo diz (Romanos 8,28) que todas as coisas podem trabalhar juntas para o bem. Da mesma forma, os santos frequentemente se referem à doença e ao sofrimento como “dádivas” de Deus. A doença pode não parecer um presente, mas se entendermos os caminhos de Deus, podemos deixar que esse dom nos transforme e nos aproxime Dele.

São Paulo da Cruz, por exemplo, refletiu sobre esta realidade. Disse ele:

“A doença é uma grande graça de Deus! Ela nos ensina o que somos; nela reconhecemos o homem paciente, humilde e mortificado. Quando a doença enfraquece e mortifica o corpo, a alma está mais disposta a elevar-se a Deus.”

De fato, ele acreditava firmemente que a doença pode nos aproximar de Deus. Além disso, seria através dela que estaríamos “mais dispostos” a elevar nossos corações e mentes ao nosso Criador.

Doença: paciência e humildade

Por outro lado, a doença pode nos ensinar a paciência e humildade. Essas são virtudes que estão entre as mais difíceis de adquirir.

No entanto, São Paulo da Cruz diz que precisamos aceitar a doença como se Deus a estivesse dando de suas mãos. Diz ele:

“Sem dúvida, a melhor maneira de adquirir aquela paz que nasce do amor de Deus, é aceitar todas as tribulações, sejam espirituais ou temporais, como vindo diretamente da mão paterna de Deus.”

Desta forma, podemos encontrar a paz interior através da doença, reconhecendo-a como parte do misterioso projeto de Deus para nossas vidas.

No entanto, isso não significa que não sentiremos a rebelião de nossos espíritos. Não fomos feitos para sofrer e, naturalmente, rejeitamos isso. Ser honesto com Deus sobre nossos sentimentos não significa, entretanto, que deixamos de aceitar sua Providência. Mas ter em mente que Deus é um Pai que sempre deseja o que é bom para nós nos ajudará a superar as cruzes diárias do mundo.

Em suma: existem muitas razões espirituais pelas quais Deus permitiria as doenças. O que precisamos lembrar, entretanto, é que Deus tem um plano de amor para nós.

Aleteia

Ataque a igrejas no Chile: Arcebispo exige respeito para com católicos

Universitários Católicos

SANTIAGO, 20 out. 20 / 08:56 am (ACI).- Após os ataques perpetrados contra a igreja de São Francisco de Borja e a paróquia da Assunção, em Santiago, Chile, o Arcebispo local, Dom Celestino Aós, exigiu respeito para com os católicos.

Durante a tarde de 18 de outubro, em meio às manifestações por ocasião do primeiro ano de revolta social no Chile, as duas igrejas foram saqueadas, destruídas, pichadas por dentro e totalmente queimadas.

No caso da igreja da Assunção, o incêndio provocou a queda da torre, o que foi comemorado pelos agressores. A mesma coisa aconteceu quando outro sujeito derrubou a imagem da " Virgem Maria porta do céu" na fachada da igreja de São Francisco de Borja.

Os agressores colocaram vídeos e fotos dos danos nas redes sociais, enquanto outros posaram com as imagens religiosas destruídas.

Universitários Católicos
Mariano Nin
Mariano Nin
Mariano Nin

A paróquia da Assunção já havia sido atacada em novembro de 2019, enquanto a igreja de São Francisco de Borja sofreu ataques em janeiro deste ano. Ambos estão perto da Praça Itália, local onde os manifestantes se reúnem.

“Queremos um Chile onde reine a paz, onde possamos viver juntos, onde se  receba o respeito. Queremos respeitar e queremos ser respeitados, não queremos ser cidadãos com privilégios, nem cidadãos de segunda categoria, esse respeito está em todo o lado”, afirmou o Arcebispo.

Os ataques "afetam a alma dos chilenos, a alma dos católicos", acrescentou.

Sobre o próximo plebiscito constitucional em 25 de outubro, Dom Aós expressou sua esperança de que seja realizado com "tranquilidade e que todo o processo de construção e renovação deste Chile seja um processo de paz".

Nesse sentido, exortou todos a se comprometerem a ser “pacificadores, para que você e eu possamos ser agentes de paz e de carinho e de saudação a essas comunidades que sofrem”.

Bispo Castrense condena a violência

Por sua vez, o Bispo Castrense do Chile, Dom Santiago Silva, rejeitou a violência “que destrói a construção de uma sociedade mais justa, respeitosa e fraterna”.

“Rejeitamos categoricamente a violência de grupos que não respeitam as pessoas ou o seu direito de se manifestarem em paz”, “com a mesma energia rejeitamos o vandalismo contra tudo o que as pessoas precisam para a sua subsistência, para viver em sociedade e para expressar sua fé e seu amor a Deus”, disse Dom Silva.

Nesse sentido, o Bispo Castrense condenou a violência “que destrói a construção de uma sociedade mais justa, respeitosa e fraterna”, especialmente na Paróquia de São Francisco de Borja, “lugar de culto onde a comunidade cristã se reunia para compartilhar sua fé e a oração, para celebrar os sacramentos e realizar ações de serviço em benefício dos outros”.

Giselle Vargas
Giselle Vargas

“Muitos se dirigiram a ela buscando o Senhor como fonte de paz, guia para seu caminhar, força em meio às dificuldades. O templo já tinha sido saqueado e queimado em janeiro deste ano, após o início da crise social, e o que restou, ontem voltaram a profanar”, indicou o Bispo em relação a um atentado anterior de características semelhantes ocorrido no dia 3 de janeiro deste ano.

O Prelado e os capelães da Diocese Militar expressaram sua “proximidade humana e espiritual aos Carabineiros do Chile e suas famílias”, cujos serviços religiosos são realizados na Igreja de São Francisco de Borja, bem como aos moradores da região, “que há anos celebram sua fé e seus sacramentos na Igreja institucional”.

“Eu os convido a manter a fé, a esperança e o amor em Deus. Este grupo de ativistas violentos que queimaram o templo não destruirá a nossa fé, que é a fé da Igreja como comunidade do Senhor ressuscitado que, com a entrega de sua vida, venceu o mal e a violência”, expressou Dom Silva.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

ACI Digital

Atrás da janela, o olhar do Papa que reza secretamente por nós

Papa Francisco  (Vatican Media)

Francisco confessa que olha todas as manhãs para a Praça São Pedro e para a cidade de Roma da janela de seu escritório, onde todos os domingos ele reza o Angelus: é um olhar que se torna oração e bênção para a humanidade.

Sergio Centofanti

Na manhã de sábado, 17 de outubro, por ocasião de um encontro com a Arma dos Carabineiros da Companhia Roma-São Pedro no Palácio Apostólico, o Papa Francisco revelou de modo informal aos presentes algo que o deixa mais próximo de todos nós:

“Todas as manhãs, quando chego ao meu escritório aqui na Biblioteca, rezo para Nossa Senhora e depois vou até à janela para olhar a Praça São Pedro, a cidade e, lá de cima, vejo vocês. Todas as manhãs saúdo todos vocês com o coração e lhes agradeço”

É bonito e comovedor pensar que todas as manhãs o Papa espia entre as cortinas de seu escritório para olhar a praça e a cidade e nos abençoa, reza a Deus por todos nós, por toda a humanidade. Ele olha sem ser visto, secretamente, para a janela onde todos os domingos aparece na TV em todo o mundo, e pensa em nossos trabalhos e sofrimentos, e dá graças por aqueles que fazem o bem, por aqueles que cuidam das pessoas mais frágeis.

Invoca sobre nós os dons do Espírito Santo, reza à nossa "mais terna Mãe" para que ela possa levar ao seu Filho todas as nossas necessidades e expectativas: "Ela é mãe e, como todas as mães ela sabe como cuidar, como proteger, como ajudar".

Caminhando na Praça São Pedro, muitas vezes levantamos os olhos para aquela janela onde tantos Papas olharam para fora e nos vêm tantas lembranças. Hoje podemos imaginar que por trás das cortinas Francisco também está olhando para nós, cuidando de nós, rezando por nós.

Mas também o Papa, no final de cada encontro, pede orações: "E por favor, não se esqueçam de rezar por mim". O Papa precisa disso, especialmente neste período difícil que a Igreja e a humanidade estão vivendo. Sim, rezemos pelo Papa.

Vatican News

Santa Maria Bertilla Boscardin

Sta. Maria Bertilla|Com. Sacram. do Amor

Ana Francisca nasceu em 06 de outubro de 1888, na cidade de Vicenza, na Itália. Os pais eram simples camponeses e sua infância transcorreu entre o estudo e os trabalhos do campo, rotina natural dos filhos e filhas de agricultores dessa época.

Aos dezessete anos mudou o modo de encarar a vida e ingressou no convento das Irmãs Mestras de Santa Dorotéia dos Sagrados Corações, quando adotou o nome de Maria Bertilla. Durante seu período de formação religiosa estudou também enfermagem, de modo que pôde tratar os doentes com ciência e fé. Teve uma existência de união com Deus no silêncio, no trabalho, na oração e na obediência.

Tinha apenas vinte e dois anos de idade quando teve que enfrentar em seu próprio corpo a marca de um tumor. Logo foi operada e antes que pudesse se recuperar totalmente, já estava aos pés dos seus doentes outra vez. Não descansava nunca, mesmo diante das humilhações pessoais que precisava enfrentar.

Naquela época estourou a Primeira Guerra Mundial e Irmã Maria Bertilla surpreendeu com sua incansável disposição e solidariedade de religiosa e enfermeira, no tratamento dos feridos de guerra. Porém, sua doença se agravou e aos trinta e quatro anos sofreu a segunda cirurgia. Não resistiu e morreu no dia 20 de outubro de 1922.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão
Uma simples camponesa pôde demonstrar, com suas atitudes diárias, que mesmo sem êxtases, sem milagres, sem grandes feitos, o ser humano traz em si a santidade e a marca de Deus em sua vida. Modelo de recolhimento e de oração, durante a vida teve uma profunda união com Deus, no silêncio e no trabalho. Se vivermos com pureza e fé, a graça divina vai se manifestar em cada detalhe da nossa vida, da mesma forma que se manifestou na vida de Maria Bertilla.
Oração
Ó Deus, Pai todo misericórdia, ao recordarmos a memória de santa Maria Bertilla, nós vos pedimos que, seguindo seus passos na caminhada rumo ao Reino definitivo, possamos nos dedicar sempre mais no serviço generoso à sua Igreja na pessoa dos nossos irmãos mais abandonados e necessitados. Por Cristo Nosso Senhor. Amém.

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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

A Criação é obra de Deus!

Guadium Press

Redação (16/10/2020 17:51Gaudium PressNuma pequena cidade, um renomado professor reunia, todas as tardes, uma quantidade enorme de discípulos, ávidos de ouvir seus eloquentes ensinamentos. Tanta era a afluência de público que o ar quase se fazia rarefeito na sala onde ele se encontrava.

Certa feita, subiu ao púlpito o dito mestre e começou a ensinar. A frase com a qual iniciou a aula naquele dia foi: “O mundo não demonstra que Deus existe!” Estarrecidos, os ouvintes se puseram a pensar: “Nosso mestre nunca erra, como disse ele esta incoerência?” Rompendo o silêncio, um pequeno menino gritou: Eu posso provar que isto não é verdade!” A multidão, estupefata, penalizou-se da pobre criança que enfrentaria alguém tão instruído, mas mesmo assim abriu alas para que ela se aproximasse do lugar onde se encontrava o mestre. Subindo a escadaria, o valente menino viu brilhar o relógio de ouro do prefeito da cidade e pediu-lhe que emprestasse o objeto por alguns instantes. Embora receasse a quebra de valioso bem, não foi possível negar o pedido, pois a benevolência do público nas próximas eleições assim o exigia.

Voltando-se para o professor, perguntou o menino: O senhor acredita que este relógio surgiu do acaso? O mestre quis despedir o menino, denominando infantilidade tal proposição, uma vez que era impossível admitir que o relógio surgisse do acaso. Continuou, então, a criança: O senhor não acredita que o acaso fez esse relógio, mas sim que o acaso fez o Universo? Imagine o senhor: o ouro se encontrava no alto de uma montanha e, arrastado pelas águas da chuva, despencou ladeira abaixo até que preso, por acaso, a alguns seixos foi modelado e surgiram as engrenagens e as molas. De repente, ainda por acaso, surgiu o relógio que tenho nas mãos…

A multidão irrompeu em aplausos efusivos. A ironia do menino dispensava os argumentos. Se era de tal modo evidente que um relógio não podia ter surgido do acaso, sem um artesão que o fabricasse, com muito mais razão no que diz respeito ao Universo.

Esse pequeno fato ilustra bem um dos mistérios da fé: que o Universo foi criado por Deus, do nada (Ex nihilo), e não surgiu do acaso, como pensam alguns. A Santa Igreja admite que a Criação seja um mistério, ou seja, algo incompreensível à razão, mas não contraditório.

“Do nada, nada se faz”

Para contrariar essa verdade, levantam alguns a objeção que “do nada, nada se faz” (Ex nihilo nihil fit).

Esse axioma filosófico, longe de se opor à verdade da fé, corrobora a Onipotência Divina. De fato, não é possível que algo se produza por si mesmo do nada, por isso o mundo, que antes não existia, não se fez por si mesmo, mas, Deus que existia, atuou sobre o nada, criando todas as coisas. Mistério insondável que se vê refletido na mente humana. Com efeito, não pode o homem, ainda que de modo imperfeito, criar “do nada”, ao conceber uma ideia, ou um sistema de operação? Do nada, mas sob a influência de uma causa existente, no caso mencionado, o próprio homem. Podemos então ficar admirados que a maravilha da Criação seja feita por Deus do nada?[1]

Os “vestígios” de Deus

Deus – que não pode ser conhecido diretamente – deixou vestígios em toda a obra da Criação, apontando a onipotência de seu Criador.

Voltando os olhos para as grandezas siderais, por exemplo, pode alguém afirmar que toda a ordem ali existente surgiu do acaso, e não foi criada por um Ser onipotente?

O que dizer do número de estrelas que existem, que se calcula em uns duzentos mil trilhões? A Via Láctea tem cem milhões de Sóis, e se conhecem cem milhões de galáxias como a Via Láctea. No Céu, ademais, há milhões de estrelas maiores que o planeta Terra, que pesa seis mil trilhões de toneladas, e é uma bola de 40.000 km de perímetro. O Sol é um milhão e trezentas mil vezes maior do que a Terra. Na Estrela Antares, da constelação de Escorpião, cabem cento e quinze milhões de Sóis. Sem contar a velocidade altíssima em que esses astros se movimentam e nunca se chocam, permitindo inclusive que se façam cálculos exatos de quando um cometa passará sobre determinada região da Terra.[2] Será que toda essa ordem impressa no Universo surgiu do acaso? Não é ela uma das mais qualificadas testemunhas da onipotência Divina e da pequenez humana?

Dobrando os joelhos, todos são chamados a reconhecer a Deus, seu Criador, através da perfeição que Ele imprimiu em todo o Universo, inclusive no próprio ser humano. Não hesitem os homens em proclamar com o salmista: “Os Céus proclamam a glória de Deus e o firmamento a obra de suas mãos” (Sl 19,1).

A fé não exige provas, mas a razão tem meios de robustecer vigorosamente a crença que a fé inspira. Por isso, aprofundar-se na doutrina católica, nas razões teológicas é indispensável para aqueles que almejam possuir uma fé robusta e inabalável.

Por Odair Ferreira

[1] Cf. CAULY, Eugène Ernest. Curso de instrução religiosa. São Paulo: Livraria Francisco Alvez e Cia, 1914, v. 4. p. 47-48.

[2] Cf. LORING, Jorge. Para salvarte: Enciclopedia del Catolico. 60. ed. México: Catolicas, 2008. p. 17-22.

https://gaudiumpress.org/

A origem da palavra "católico" e o primeiro santo que usou esse termo

PD | Santo Inácio de Antioquia
por Francisco Vêneto

Ele foi celebrado neste fim de semana - e a palavra que ele usou marcou a História para sempre.

A origem da palavra “católico”: há muitos que a desconhecem – inclusive entre os católicos!

Neste fim de semana, em 17 de outubro, a Igreja Católica celebrou a festa litúrgica de Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir dos primeiros tempos do cristianismo. E foi justamente ele o primeiro santo que aplicou esse adjetivo à Igreja que Jesus Cristo fundou.

Qual é a origem da palavra “católico”?

O termo “católico” vem do grego e quer dizer “referente à totalidade”, “geral”, “universal”. E é assim que Cristo pediu que a Igreja fosse, quando ordenou: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura” (cf. Mc 16,15).

De fato, a frase de Santo Inácio de Antioquia em que aparece o termo “católica” deixa claro o vínculo entre a natureza da Igreja e essa missão que Jesus confiou a ela:

“Onde está Jesus Cristo, ali está a Igreja Católica”.

Este, no fim das contas, é o significado profundo da Igreja Católica: ser presença universal de Jesus.

Polêmicas sobre o termo “católico”

No entanto, existem pessoas que “acusam” a Igreja Católica de ser um “desvio histórico” em relação ao primeiro grupo de cristãos. Esses acusadores dizem, por exemplo, que foi o imperador Constantino quem criou a Igreja Católica no século IV, e não Jesus Cristo.

Mas Santo Inácio já se referia à Igreja como “Católica” pelo menos duzentos antes de Constantino. Inácio, de fato, foi bispo de Antioquia entre os anos 70 e 107 d.C., ainda entre os séculos I e II. Aliás, ele foi o terceiro bispo daquela cidade, sendo que o próprio São Pedro tinha sido o primeiro. E não é só: Inácio foi discípulo de São Paulo e de São João Evangelista. Por isso, é um dos santos que têm o título de “Padre Apostólico”.

Santo Inácio sofreu o martírio em Roma: foi devorado pelas feras. A caminho da Cidade Eterna, ele orientava as comunidades cristãs das diversas cidades a preservarem a união com Cristo. Ele afirmava, em especial, que fazia parte da sua missão zelar pela unidade da Igreja universal – ou seja, da Igreja Católica.

Aleteia

Outubro de cruz para padres no Brasil: um perseguido, um raptado, um assassinado

Capturas de Tela YouTube / Redes Sociais (Reprodução)
por Francisco Vêneto

Pelo menos três casos de violência contra sacerdotes vêm gerando indignação e perplexidade nesta primeira metade do mês.

Violência contra padres no Brasil: outubro de 2020 está sendo chocante neste quesito. Pelo menos três casos, de fato, vêm gerando indignação e perplexidade nesta primeira metade do mês.

Perseguido: Pe. Luciano Lustosa

No dia 3 de outubro, a Guarda Municipal de Conde, na Paraíba, conduziu coercitivamente o pe. Luciano Lustosa até a delegacia de polícia. Por quê? Porque ele pintou de marrom a cruz da própria paróquia, depois que a prefeitura a tinha pintado de azul. Fazia três meses, aliás, que o pároco solicitava a restauração da pintura. Ele obteve permissão do arcebispo para mandar fazer a obra, porque a administração pública não dava resposta. A cruz, afinal, pertence à igreja de Nossa Senhora da Conceição, e é ele quem a administra.

Mas a reação do poder público foi desproporcional e arbitrária. Enquanto a guarda municipal o levava coercitivamente, o padre declarou:

“Estou sendo preso. A prefeita mandou me prender. Eu troquei a pintura do cruzeiro, que é da paróquia. É uma coisa absurda. A gente fica de boca aberta diante dos desmandos, da arbitrariedade, do autoritarismo”.

Arbitrariedade

A prefeita em questão é Márcia Lucena, do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Aliás, ela é candidata à reeleição, mesmo tendo sido denunciada, conforme a imprensa, por participação em organização criminosa. Em decorrência das investigações da Operação Calvário, de fato, a Justiça bloqueou bens da prefeita e determinou que ela usasse tornozeleira eletrônica, porque, segundo a ministra Laurita Vaz, relatora do caso, há risco de “reiteração delitiva” e de destruição de provas por parte dos investigados.

Márcia Lucena declarou que não mandou prender o padre. A guarda municipal, porém, atua sob ordens da administração da cidade: não poderia, portanto, ter a iniciativa de prender por si mesma o sacerdote.

A Arquidiocese da Paraíba divulgou nota questionando a alegação de que o padre teria cometido “crime de desobediência”. Além disso, a nota afirma que não houve determinação judicial nem flagrante delito para a condução coercitiva.

Na semana passada, o pe. Luciano pediu afastamento provisório da paróquia, porque tem recebido ameaças à sua integridade física.

Raptado: Pe. José Gilmar

A violência contra padres no Brasil, no entanto, vai além da perseguição ideológica. Tem havido, por exemplo, um notável aumento de assaltos e atos de vandalismo contra paróquias. E este mês viu casos ainda mais graves: houve de sequestro a assassinato premeditado.

Também na Paraíba, um padre ficou três dias desaparecido após enviar um pedido de socorro via celular. Trata-se do pe. José Gilmar, da paróquia de Santa Teresinha, na capital João Pessoa.

Policiais o encontraram bastante debilitado. Ele havia, afinal, ficado sem comida no cativeiro. Além disso, os criminosos o amarraram e ameaçaram, enquanto faziam insistentes pedidos de transferência de dinheiro.

No dia do rapto, o pe. José Gilmar tinha saído para acompanhar um velório, mas não chegou ao local. Foi um paroquiano quem recebeu a mensagem de socorro e mobilizou a polícia. Apesar da libertação do padre, as investigações sobre o rapto continuarão, assim como a busca pelos bandidos.

Assassinado: Pe. Adriano da Silva Bastos

Já em Minas Gerais, outro ataque a um sacerdote acabou de modo brutal. Acionada para buscar o padre desaparecido, a polícia encontrou o seu corpo incinerado e com sinais de violência covarde.

A vítima foi o pe. Adriano da Silva Bastos, de Manhumirim (MG). Quem responde pelo crime selvagem é um jovem de 22 anos, que, na delegacia, declarou inicialmente que era “amante do sacerdote”. Os policiais, porém, não acreditaram nesta versão. De fato, um novo interrogatório confirmou que se tratou de latrocínio premeditado.

Segundo o delegado Gladyson de Souza Ferreira, o jovem preso é traficante e estava em dívida com outros criminosos fornecedores de drogas. Assim, para tentar conseguir dinheiro, ele e pelo menos um cúmplice planejaram assaltar o pe. Adriano, que acabou sendo agredido, assassinado e tendo o corpo incendiado.

Assim como nos outros dois casos, a polícia continua investigando os fatos e procurando os cúmplices.

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF