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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

São Diogo (Diego) de Alcalá

ArqSP

São Diogo (Diego) é um dos santos mais populares da Espanha e das Américas, se não do mundo todo. Tal popularidade fica clara na quantidade de pinturas e imagens que o representam sempre como viveu: vestindo um hábito de irmão leigo franciscano, remendado, e portando pão e chaves que indicam os ofícios a que se dedicava, cozinheiro e porteiro. Sua expressão é a humildade personificada do mais puro seguidor do pobrezinho de Assis: são Francisco.

Diogo, ou melhor, Diego, como se diz em espanhol, nasceu, em Alcalá do Porto, Sevilha, Espanha, por volta do ano 1400. Filho de pais muito pobres e simples, foi autodidata e viveu como monge eremita às margens do povoado natal, em penitência e oração. Alimentava-se somente com os produtos da pequena horta que cultivava e vestia-se com as roupas velhas que o povo lhe dava em troca de trabalhos artesanais. Possuidor de dons místicos e inteligência infusa, sua piedade e bondade eram tão reconhecidas que logo ganhou fama de santidade. Para fugir dela, resolveu ingressar como noviço de irmão leigo no Convento dos frades franciscanos de Arizafe, próximo a Córdoba.

Era o tempo das colonizações espanholas e, em 1441, Diogo foi enviado como missionário às Ilhas Canárias. Trabalhou com tanto afinco junto à população que, mesmo sendo apenas um irmão leigo, cinco anos depois já era empossado como superior da Ordem. Mas sua atuação não era bem vista pelos colonizadores, pois Diogo defendia os indígenas locais, colocados na condição de escravos pelos dominadores. Assim, tornaram sua atuação muito difícil. Com tantas pressões, ele teve de voltar para a Espanha em 1449.

No ano seguinte, para as celebrações do Jubileu e da canonização do franciscano Bernardino de Sena, fez uma peregrinação a Roma. Lá, encontrou a população abandonada à mercê de uma trágica epidemia. Trabalhou como ninguém na assistência aos doentes, não só material como espiritualmente, pois seus dons místicos fizeram com que curasse muitos deles com orações e o simples toque das mãos. Era respeitado e venerado, mas voltou para a Espanha.

Dessa vez, fez questão de retomar as atividades humildes do início, trabalhando como porteiro e cozinheiro em vários conventos franciscanos. Morreu em 12 de novembro de 1463, exercendo, ainda, estss funções no Convento de Alcalá de Henares, próximo de Madri.

Com a santidade reconhecida, foi canonizado pelo papa Xisto V em 1588. Tornou-se um dos cultos de maior devoção da cristandade, que perpetua a sua memória pelo seu nome emprestado aos seus rios, baías e a várias cidades, além de ser padroeiro de muitas outras também. O exemplo mais famoso é a rica cidade de San Diego, no estado da Califórnia, América do Norte. A festa de são Diogo de Alcalá é celebrada no dia 13 de novembro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Papa Francisco celebrará Missa no Vaticano pelo IV Dia Mundial dos Pobres

Papa Francisco com os pobres em 2019. Foto: Vaticano Media

Vaticano, 12 nov. 20 / 11:07 am (ACI).- O Papa Francisco celebrará uma Missa com os necessitados no Vaticano no próximo domingo por ocasião do IV Dia Mundial dos Pobres, que tem como tema: “Estende a tua mão ao pobre”.

Eucaristia será celebrada na Basílica de São Pedro no dia 15 de novembro e as leituras serão proclamadas por pessoas pobres.

No entanto, apenas 100 convidados podem participar simbolicamente desta Missa devido às restrições sanitárias causadas pela COVID-19.

Como indicou em 12 de novembro o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, Dom Rino Fisichella, as 100 pessoas que estarão simbolicamente presentes na Basílica de São Pedro representam “todos os pobres do mundo que, neste dia, precisam especialmente da atenção e da solidariedade da comunidade cristã” e com eles estarão alguns voluntários e benfeitores.

Além disso, Dom Rino Fisichella descreveu que “os tradicionais sinais realizados em anos anteriores foram suspensos para cumprir a normativa vigente, refiro-me ao ambulatório médico na Praça de São Pedro e ao almoço com 1500 pobres junto ao Papa na Sala Paulo VI”.

No entanto, a autoridade vaticana sublinhou que a pandemia "não impediu que se fizessem sinais concretos para este Dia", pois os cuidados de saúde continuam e serão enviados alimentos a 5 mil famílias necessitadas.

A clínica móvel localizada embaixo da colunata de São Pedro, organizada pela Esmolaria Apostólica, realiza exames médicos "nos pobres que devem ter acesso aos dormitórios ou nos que desejam retornar à sua pátria". O horário de funcionamento dessa clínica móvel gratuita é de 8h às 14h e nas últimas semanas foram realizados 50 exames por dia.

Da mesma forma, Dom Fisichella destacou a generosidade de alguns benfeitores que permitiu realizar "alguns sinais muito simples, mas que expressam a proximidade e a atenção do Papa Francisco neste momento".

Em primeiro lugar, o Dicastério vaticano organizou o envio de 5 mil caixas com alimentos básicos às famílias de 70 paróquias de Roma "que, especialmente neste período, se encontram em dificuldades" e descreveu que cada embalagem contém macarrão, arroz, purê de tomate, azeite, sal, farinha, café, açúcar, geleia, atum, biscoitos, chocolate, além de máscaras cirúrgicas e um cartão com uma oração do Papa Francisco.

Além disso, 2,5 toneladas de macarrão serão distribuídas aos diversos abrigos e associações caritativas que trabalham em favor dos numerosos pobres presentes na cidade e que são atendidos por tantas realidades eclesiais.

Da mesma forma, enviaram 350 mil máscaras cirúrgicas a 15 mil estudantes da periferia de Roma para apoiar as famílias nesta despesa e “ao mesmo tempo, quer ser um convite aos jovens estudantes para não subestimarem os riscos da pandemia, especialmente com comportamentos que poderiam prejudicar o idoso quando voltarem para a família”.

Por fim, o presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização destacou que o Dia Mundial dos Pobres “embora limitado em iniciativas, continua sendo uma data à qual as dioceses do mundo olham para manter vivo o sentido de atenção e fraternidade para com as pessoas marginalizadas e desfavorecidas”.

Por isso, Dom Fisichella recordou o subsídio pastoral que foi preparado para ajudar as paróquias e as diversas realidades eclesiais do mundo, porque é “um instrumento eficaz para que o Dia não se limite apenas às iniciativas de caridade, mas que estas sejam apoiadas pela oração pessoal e comunitária que nunca pode faltar para que o testemunho seja pleno e eficaz”.

O subsídio está disponível em seis idiomas: italiano, espanhol, francês, inglês, português e polonês. Para baixar o texto em português, clique aqui.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

2020: UM ANO PERDIDO?

Instituto Latino

Para muitos historiadores, o ano de 1968 é considerado um ano que não acabou, pois os acontecimentos que ocorreram naquele ano foram decisivos para a realização de significativas mudanças políticas e sociais nos mais diversos continentes do mundo. Por outro lado, o ano de 2020, que está acabando, é considerado por muitas pessoas como um ano perdido ou que deveria ser esquecido, pois, em função da pandemia da Covid-19, cancelamos viagens, férias, olimpíadas, casamentos, festa de debutantes, encontros sociais com os amigos e os familiares e passamos a viver isolados, em quarentena, realizando sacrifícios, renúncias, enfrentando medos e temores e  aprendendo a ressignificar as nossas vidas. Em outras palavras, a sensação de muitas pessoas é a de que neste ano a nossa vida ficou paralisada.

Indiscutivelmente, o ano de 2020 está sendo atípico em muitos aspectos. Por um lado, tivemos avanços determinantes no que tange à adoção maciça da tecnologia por diversas pessoas que passaram a trabalhar, a estudar ou a assistir a Santa Missa em suas casas, em função do isolamento social. Lives, meet e outras palavras passaram a ocupar o nosso cotidiano. No outro extremo, tivemos perdas consideráveis em inúmeras áreas: aumento do desemprego, da pobreza e da crise social, dos casos de depressão e de ansiedade e, de alguma forma, a perda da noção de tempo, pois o dia 11 de março, dia em que a Organização Mundial da Saúde decretou a pandemia do novo Coronavírus, parece que foi ontem, mas já estamos no mês de novembro, o penúltimo mês do ano.

Nos primeiros meses de enfrentamento da pandemia da Covid-19, por estarmos afastados fisicamente das nossas comunidades, em termos espirituais, tivemos a impressão de que as solenidades da Páscoa, de Corpus Christi, do Sagrado Coração de Jesus e outras datas solenes foram comemoradas parcialmente, pois sentimos muita falta da Sagrada Comunhão Eucarística. Claro é que buscamos suprir essa falta com a prática da comunhão espiritual, pois somos seres eucarísticos, ou seja, não podemos viver sem a participação na Eucaristia.

Uma importante lição que estamos aprendendo com as dificuldades da pandemia da Covid-19 é a consciência de que não podemos ficar debruçados sobre nós mesmos, lamentando as nossas limitações e, por isso, devemos tirar do olhar o foco egoísta, a fim de que possamos alargá-lo com a percepção das necessidades do nosso próximo. Agindo assim, aprendemos a “manter os olhos fixos em Jesus, Autor e Consumador da nossa fé”. (Hb 12, 1).

Se cuidamos da oração, da leitura e da meditação das Sagradas Escrituras e se reservamos tempos e momentos para o nosso crescimento na fé e na santidade, este ano de 2020 deixará marcas indeléveis em nossa história e em nossas vidas, pois essas atitudes nos ajudaram a deixar de ser espectadores das sombras da morte e nos transformaram em protagonistas da esperança, arautos do otimismo, profetas de novas possibilidades missionárias. Nessa empreitada, lutando contra a acomodação no medo, nós refletimos que “o tempo é um tesouro que se vai, que escapa, que escorre por nossas mãos como água pelos penhascos. O ontem passou, e o hoje está passando. O amanhã logo será outro ontem. A duração da vida é muito curta. Mas quanto se pode realizar, por amor a Deus, neste pequeno espaço”. (São Josemaría Escrivá).

Em termos humanos, não podemos esquecer que a pandemia continua a causar feridas profundas, evidenciando nossas fraquezas e desmascarando as nossas limitações, pois a vacina contra o coronavírus ainda não está disponível. Desse modo, o uso de máscaras e a higienização das mãos, com álcool em gel, permanecem como cuidados paliativos. Não obstante essas dificuldades humanas, a vivência da fé deve fazer a diferença em nosso dia a dia, reforçando a certeza de que Deus não se esqueceu de nós; afinal, “os caminhos dos homens, se vividos na fé, podem tornar-se um espaço de trânsito para a salvação de Deus, por meio da Palavra da fé, que é um fermento ativo na história, capaz de transformar situações e abrir caminhos sempre novos”. (Papa Francisco, Audiência em 15 de janeiro de 2020).

Transformando situações difíceis em terreno propício para a semeadura do Evangelho, professamos ao nosso próximo: “Meus irmãos, quando deveis passar por diversas provações, considerai isso motivo de grande alegria, por saberdes que a comprovação da fé produz em vós a perseverança. Mas é preciso que a perseverança gere uma obra de perfeição, para que vos torneis perfeitos e íntegros, sem falta ou deficiência alguma”. (Tg 1, 2-4).

A busca da perfeição, o empenho constante da edificação da santidade, deve ser o nosso objetivo central nesses dias de noites escuras para fazermos contraponto na luta contra a angústia, a dor, o vazio e a depressão. Todos esses sentimentos podem e devem ser vencidos com a correspondência sem reservas ao amor de Cristo. Nessa peleja de fé, “nas intenções, seja Jesus o nosso fim; nos afetos, o nosso Amor; na palavra, o nosso assunto; nas ações, o nosso modelo”. (São Josemaría Escrivá, Caminho nº 271).

Do mesmo modo que uma forte tempestade passa, deixando estragos pelo seu caminho, essa pandemia também vai passar deixando rastros de aprendizagens, de esforços caritativos e de serviço misericordioso nas sendas de nossas vidas e, por isso, quando voltarmos ao normal, iremos perceber que “todas as coisas concorrem para o bem dos que amam a Deus!” (Rm 8,28). Com essa convicção, poderemos bradar que “nesta vida só há uma tristeza, é a de não ser santo!”.

Com certeza, este ano de 2020 não será um ano perdido, pois apesar de estar sendo um ano de  austeridade, de desânimo e de receios, este ano está sendo também um ano de desafios, de grande crescimento espiritual, de exercício de virtudes humanas e cristãs e de significativas vitórias e, por isso, enquanto aguardamos, com serenidade e confiança, a alvorada que irá anunciar o fim dessa pandemia e o nascimento de um novo dia, continuemos suplicando à Virgem Santa Maria a cura dessa doença e de todos os males que assolam o nosso tempo, a fim de que possamos edificar, em sintonia com o Espírito Santo, um novo tempo de encontros, de fraternidade e de solidariedade. Continuemos unidos ao Senhor na Palavra e no Pão, na oração e nos sacramentos, salmodiando com esperança, mesmo em meio a essa noite escura: “Protegei-me, ó meu Deus, em Vós eu me refugio!”. (Sl 15).

Aloísio Parreiras

(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

Bispos da Polônia promovem Novena Nacional pela Paz

Guadium Press
Esta iniciativa de oração é promovida pela Conferência Episcopal da Polônia, que convidou todos os poloneses a se unirem espiritualmente.

Polônia – Varsóvia (03/11/2020 16:00, Gaudium Press) O Conselho da Conferência Episcopal Polonesa para o Apostolado dos Leigos e dos Padres Paulinos está promovendo uma novena nacional pela Paz e Unidade no país.

A novena foi iniciada nesta terça-feira, 3 de novembro, e será encerrada no dia 11 do mesmo mês. Todos os poloneses foram convidados à participar destas orações pela paz e pela ordem social na Polônia.

Seguir o exemplo de São João Paulo II

Os Bispos poloneses, através de um comunicado publicado em seu site, exortaram os fiéis a seguirem o exemplo de São João Paulo II e do Cardeal Stefan Wyszyński –junto aos Padres Paulinos de Jasna Góra– para uma oração especial, a Novena Nacional, de 3 a 11 de novembro.

Durante estes dias, sempre às 15h, os monges do Mosteiro de Jasna Góra rezarão na Capela de Nossa Senhora de Czestochówa pelas mulheres, pelas mães e pela unidade e a paz na Polônia.

O que se rezará nesta Novena Nacional?

Se rezará o Terço da Divina Misericórdia e uma oração especial com as intenções dos monges. Os fiéis são convidados a participar rezando o terço diário e a oração dos Padres Paulinos em qualquer momento do dia.

A Novena Nacional terá seu ponto culminante nos dias 11, 12 e 13 de novembro, quando será realizado um retiro virtual presidido pelo Arcebispo Woíciech Pólak e pelos Bispos Andrzej Czaja e Andrzej Przybylski. (EPC)


https://gaudiumpress.org/

O CULTO DOS SANTOS

shkolazhizni

A Igreja sempre venerou aqueles homens e mulheres (os santos) que, de modo eminente, viveram as virtudes cristãs. A rigor, o culto que a Igreja presta aos santos é dirigido ao próprio Deus, porque neles se manifesta Sua obra, o culto aos santos não é porém, exclusivamente relativo, como poderia ser, por exemplo, o culto da Cruz, porque o objeto é uma verdadeira pessoa: de fato, o santo – diga-se isto muito especialmente de Maria – não é um instrumento meramente passsivo da graça, mas uma pessoa livre e consciente, que coopera com a graça; por isso, já desde a antiguidade, são os santos invocados como nossos intercessores diante de Deus e a Igreja oficialmente sempre os propôs, solenemente, como exemplo e modelo seguro de vida cristã.

Entre todos os santos ocupa lugar privilegiado a Virgem Maria: Mãe de Deus, cooperadora na Obra da redenção e modelo da Igreja”. Mas são também dignos de veneração todos os outros santos: intercessores e modelos a imitar. Além disso, não só a pessoa dos santos, mas também suas reliquias, inclusive as imagens, pintadas ou esculpidas, foram e são sempre objeto de veneração [culto de dulia, para os santos; de hiperdulia, para Maria Santíssima) da parte dos cristãos: também nisto, como em outros casos, o senso da Fé precedeu as definições dogmáticas. Os extremismos e exageros, porém, numa e noutra direção foram causa de crises que, indiscutivelmente, deram ocasião de a Igreja precisar com mais nitidez o fundamento teológico que justifica esta forma de piedade cristã.

Historicamente, foram principalmente dois os momentos em que a Igreja teve de enfrentar tais crises: nos começos da Idade Média, quando irrompeu a fúria dos iconoclastas, que provocou luta áspera, a ponto de produzir mártires.
Apesar disso, porém, o problema teológico era superficial, porque centrado não no culto dos santos, mas na sua representação em imagens (pintadas ou esculpidas); bem mais grave, porém, foi a negação protestante do séc. XVI: menos sangrenta, mas muito mais radical.

“Não se pode negar que as almas dos defuntos sejam aliviadas pela piedade de seus parentes vivos, quando por elas é oferecido o sacrifício do Mediador ou quando são distribuídas esmolas na Igreja”. (Santo Agostinho, o cuidado devido aos mortos)

Santo Agostinho deixa bem claro na citação seguinte, o que à Igreja adotou como doutrina do purgatório, nessa doutrina da Igreja às orações aos nossos falecidos tem um efeito de alívio, essa é uma doutrina antiguussíma, o leitor pode não encontrar o termo purgatório, mas encontrará à prática.

“Entretanto, essas obras aproveitam somente aqueles que em vida mereceram que esses sufrágios lhes fossem úteis após a morte”. (santo Agostinho, cuidado devido aos mortos).

“Com efeito, existe certo modo de viver não tão bom (nec tam bónus), para esses sufrágios póstumos deixarem de ser úteis. E existe outro modo de viver não tão mau (nem tam malus), para que os defuntos não possam se beneficiar deles. Por outro lado, existem aqueles que viveram tão bem (talis in bene), que podem passar sem os sufrágios; e outros que viveram tão mal (talis in male), que não conseguem beneficiar-se deles, após a morte. Portanto, é sempre aqui na terra que os méritos são adquiridos e que asseguram a cada um, depois desta vida, o alívio ou o infortúnio. Ninguém espere obter de Deus, após a própria morte, o que negligenciou durante a vida”. Assim sendo, as práticas observadas pela Igreja em vista de encomendar a Deus as almas dos defuntos não são contrárias à doutrina do Apóstolo que diz: “Todos nós compareceremos à barra do tribunal de Deus” (Rm 14,10), para receber “a retribuição do que tiver feito durante a sua vida no corpo, seja para o bem, seja para o mal” (2Cor 5,10). “Pois, é enquanto vivia em seu corpo que cada um mereceu o benefício eventual das orações feitas em seu sufrágio. Portanto, não são todos os que podem se aproveitar. E por que o proveito não será o mesmo para todos, senão devido à vida diferente que tiverem aqui na terra? Então, quando o sacrifício do altar ou o da esmola são oferecidos na intercessão de todos os defuntos batizados, serão ação de graças para aqueles que foram muito bons (valde boni). Para aqueles que não foram de todo maus (non valde mali) serão meios de propiciação. E para aqueles que foram muito maus (pro valde maios), os sufrágios em sua intenção servirão apenas para consolar em alguma coisa os vivos, já que não lhes servem de ajuda. O que os sufrágios asseguram é ou bem a com pleta remissão (plena remissio), ou pelo menos, uma forma mais tolerável de expiação (tolerabilior fiat ipsa damnatio).”

Exemplos de aparições – da imagem não da pessoa real

Verifica-se na obra de Santo Agostinho, à questão sobre visões de pessoas falecidas. “Tal é a fraqueza humana que, se um morto é visto durante o sono, crê-se ter visto sua alma. Mas se acaso se sonha com pessoa viva, fica-se certo de que não foi visto seu corpo nem sua alma, mas sim sua imagem. Como se os mortos não pudessem aparecer do mesmo modo que os vivos, sob a forma de imagens semelhantes”.

Ele nos traz um fato. “Ouvi a seguinte narração em Milão. Um credor reclamava o pagamento de uma dívida, e exibia uma cautela assinada por senhor recém-falecido ao filho, que ignorava ter o pai já reembolsado o empréstimo. O jovem, muito aborrecido, estranhava seu pai não ter comunicado nada acerca dessa dívida, apesar de o testamento ter sido redigido. Em sua extrema ansiedade, eis que vê seu pai aparecer-lhe em sonho e indicar o lugar em que se encontrava o recibo que anulava a cautela. Tendo-o encontrado, mostra-o ao credor e não somente anula a reclamação mentirosa, como recupera o documento assinado, que não fora devolvido no momento do pagamento da dívida, por seu pai. Eis, pois, um fato em que se supõe a alma do defunto ter de tal modo se preocupado com o filho, que vem a seu encontro, enquanto dormia, para lhe comunicar o que este ignorava e livrá-lo de séria preocupação.”

Aproximadamente, na mesma época em que sucedeu esse fato, e quando santo agora morava ainda em Milão, “sucedeu a Eulogio, professor eloquente em Cartago, meu discípulo nessa arte, como ele me recordou, o seguinte acontecimento, tal como ele mesmo me narrou, quando de meu retorno à África. Seu curso se desenvolvia sobre as obras retóricas de Cícero. Ao preparar sua lição para o dia seguinte deteve-se sobre passagem obscura que não conseguia entender. Preocupado, não conseguia dormir. Ora, eis que eu lhe apareço durante o sono e explico-lhe as frases que não chegava a compreender. Certamente, não era eu, mas sem eu o saber, a minha imagem. Encontrava-me eu, então, bem longe, do outro lado do mar, ocupado em outro trabalho ou talvez passando por outro sono e não sentindo nenhuma preocupação com as dificuldades dele.

Como se produziram esses dois fenômenos? Ignoro. Mas de qualquer maneira que tenham acontecido, por qual razão não havemos de crer que os mortos nos aparecem nos sonhos, sob a forma de imagem, tal como os vivos? Uns e outros ignoram completamente serem objeto de aparições, e não têm nenhuma preocupação de saber a quem, onde e quando se deram elas.”

Apologistas da Fé Católica

Parem de reinventar a doutrina católica: fiquemos com a verdade!

Christian Cable | CC BY 2.0
por Pe. Gabriel Vila Verde

"O ser humano é ávido por novidades. Todavia, em matéria de fé, só existe uma novidade: Jesus!"

Parem de reinventar a doutrina católica: fiquemos com a verdade! Palavras mais, palavras menos, foi esta a oportuna exortação que o pe. Gabriel Vila Verde fez aos fiéis nesse texto via rede social:

Na carta de São Paulo a Tito, ele deixa bem claro: “Que o teu ensinamento seja conforme à sã doutrina”. Por que o Apóstolo se preocupava tanto com isso? Porque ele sabia da nossa inclinação para as novidades. Tudo que é novo nos chama à atenção, nos seduz, nos contagia. O ser humano é ávido por novidades. Todavia, em matéria de fé, só existe uma novidade: JESUS! Por isso nós repetimos o que Cristo falou e fazemos o que Ele ordenou. Toda e qualquer novidade que se afasta da doutrina católica, deve ser rejeitada por nós como uma doença contagiosa. Deixe que o mundo se encante com as ideologias e fantasias. Quanto a nós, fiquemos com a verdade sobre a família, a Igreja, a Eucaristia, os mandamentos, enfim. Quem um dia decidiu ser católico, também se decidiu pelas repetições. Eu, simples padre, não tenho nada de novo para dizer. O que eu digo hoje, os apóstolos e os santos já disseram. Quem quiser algo novo, aconselho a procurar outra religião!

Parem de reinventar a doutrina católica

Aliás, não é a primeira vez que o padre convida os católicos a conhecerem a sua fé para “não se perderem por falta de doutrina”. Ele também comentou no ano passado, por exemplo:

Já no Antigo Testamento, Deus falava pela boca do profeta Oseias: “O meu povo se perde por falta de conhecimento“. Esta palavra, como toda Palavra de Deus, é viva e atual. Hoje, muitos católicos estão perdidos por falta de doutrina. Sabem de tudo, menos do essencial. Muitos não sabem o que é o Santíssimo Sacramento e por isso não fazem a sua adoração, nem na Missa, nem diante do Sacrário. Não sabem fazer uma Confissão, e, quando fazem, contam seus problemas e não os seus pecados. Não sabem o significado das imagens, da veneração à Nossa Senhora, e, por isso, caem facilmente na lábia dos protestantes. Não sabem o que é Céu, Inferno e Purgatório, e por isso acreditam em reencarnação e gostam de ler sobre Chico Xavier. Não sabem que faltar a Missa aos domingos é pecado mortal, e, por isso, só vão à igreja em ocasiões especiais. É por toda essa situação que a Igreja padece tanto. O remédio, na minha humilde opinião, é simples e objetivo: uma colher de catequese, uma caixa de doutrina e algumas gotinhas de Fé.

Aleteia

O ponto exclamativo

Vatican Media
Cartas do Diretor
25 agosto 2020

Há alguns dias li no perfil de Facebook a afirmação de uma competente colega jornalista que dizia que não suportava os pontos de exclamação: «Cheguei a tirá-los do teclado do meu computador». A frase terminava, compreensivelmente, sem o ponto de exclamação. Esta afirmação fez-me pensar. E os meus pensamentos chegaram a duas conclusões, opostas entre si, por vezes pode acontecer. A primeira conclusão é a seguinte: bem dito, cara colega! (ups) Chega com estas contínuas exclamações, não há nada a enfatizar, um pouco de sobriedade não nos faria mal. Com efeito, precisamos de uma abordagem mais calma, mais “laica”, diria, menos retórica, sim, é verdade, a exclamação parece-se tanto com propaganda! (ups novamente). Olhai para as publicidades, não acabam todas com grandes pontos de exclamação? Não querem elas convencer-nos, manipular-nos, tornar-nos todos nós consumidores? E aqui joguei o ás do ponto de interrogação, grande antagonista do seu colega de exclamação. Sim, disse a mim mesmo, uma vida feita de perguntas é muito mais verdadeira, mais honesta e também saudável, porque leva à dúvida, «um dos nomes da inteligência» segundo Borges, e portanto ao diálogo, no fundo ao desarmamento e à paz. “Entusiasmei-me” muito com esta minha reflexão, estaria pronto a discutir, até a argumentar para defender esta conclusão a que tinha chegado graças à postagem da minha colega.

A segunda conclusão chegou mais tarde, e parece exatamente o contrário. Sim, está bem, a pergunta é boa, mas se vivêssemos unicamente de perguntas, que vida seria? E se não houvesse descoberta alguma? Afinal, a exclamação nasce da admiração, da maravilha, da alegria de uma descoberta... mas será que se pode viver sem esta explosão? Nem sempre, mas pelo menos de vez em quando. Abolir o ponto de exclamação, chegando a tirá-lo do nosso teclado, da nossa linguagem, parece um pouco exagerado, diria quase ideológico, e não é exatamente assim?

E depois o pensamento continuava a fazer floreios: é bonito o sinal do ponto de interrogação, tão refinado, articulado, um pouco barroco com aquele caracol que se enrola em espiral de forma quase infinita. Ao contrário, como é simples o ponto de exclamação, simples, simplório, até banal, arrogante na sua ignorância que evita qualquer complexidade, a qual aliás é o verdadeiro caráter da existência.

Muito bem, mas para mim o sinal do ponto de interrogação traz-me à mente o homo curvatus do qual Santo Agostinho fala. O homem que olha para si mesmo, para o seu umbigo, o homem que portanto não é simples. Uma palavra hoje quase perigosa, que do ponto de vista etimológico, indica precisamente quem não tem «implicações» nem «complicações». O homem simples é o oposto do homem que sofre de narcisismo, enquanto que a verdadeira simplicidade é marcada pelo ser nós mesmos, permanecendo tensos unicamente para o outro. Uma coisa é estar tenso, outra é ser rígido, o ponto de exclamação é tenso, está em tensão, enquanto que a interrogação pode perder a sua força e enrijecer num labirinto incrustado de insensatez, sem qualquer rumo.

A 12 de setembro de 2006, durante a homilia, Bento xvi perguntava-se: «Que significa crer?», e respondeu que a fé «no seu núcleo é muito simples. Com efeito, o Senhor fala acerca disto com o Pai, dizendo: “Quiseste revelar estas coisas aos simples” — aos que são capazes de ver com o coração (cf. Mt 11, 25). [...] E a fé é amor, porque o amor de Deus nos quer “contagiar”».

Assim, é preciso ter cuidado para não confundir simplicidade com simplificação. Esta última tem a ver com o uso errado do ponto de exclamação, aquele que me levou à minha primeira conclusão. Hoje em dia a simplificação está muito na moda e com pontos de exclamação corremos o risco de “nos armar”, a nós mesmos e aos outros, para enfrentar a vida como uma guerra na qual temos de saber gritar mais alto para nos afirmarmos, para vencer. Mas tudo isto não pode levar à abolição da exclamação, que ao contrário é um sinal de surpresa e, portanto, de alegria. Com efeito, a descontração da exclamação consiste precisamente no soltar-se, no relaxar-se e no expandir-se, de forma luminosa e acolhedora, próprio do amor, como disse Bento, que dissipa todas as dúvidas, todas as interrogações. Não é verdade?

Andrea Monda

L'Osservatore Romano

Papa Francisco abençoa imagem da Virgem da Medalha Milagrosa

O Papa Francisco abençoa a imagem da Virgem.
Foto: Vatican Media

Vaticano, 11 nov. 20 / 01:00 pm (ACI).- O Papa Francisco abençoou uma imagem da Virgem Maria da Medalha Milagrosa no Vaticano por ocasião do 190º aniversário da aparição de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré.

Na cerimônia privada esteve o superior geral da Congregação da Missão, Pe. Tomaz Mavric, junto com uma pequena delegação que organiza uma peregrinação da imagem que terá início em dezembro próximo e percorrerá todas as regiões da Itália durante um ano.

A família vicentina explica que “nesta difícil situação vivida em todo o mundo por causa da pandemia da COVID-19, em uma sociedade fortemente afetada pelas tensões entre continentes, os filhos espirituais de São Vicente de Paulo começam com uma peregrinação mariana um percurso de anúncio do amor misericordioso de Deus”.

Na noite entre 18 e 19 de julho de 1830 Catarina Labouré, uma jovem Filha da Caridade de São Vicente de Paulo, viu uma aparição da Virgem.

No longo encontro que teve com Nossa Senhora, esta recordou à Filha da Caridade que “os tempos são muito tristes. As desgraças virão sobre a França. O mundo inteiro será devastado por calamidades de todos os tipos. Mas você vem ao pé deste altar, aqui as graças se espalharão sobre todas as pessoas que as pedirem com confiança e fervor... Eu sempre cuidei de você”.

Em 27 de novembro de 1830, Catarina Labouré viu a Santíssima Virgem pela segunda vez com um pequeno globo terrestre, que representava a humanidade, em suas mãos; contemplou sua beleza e aceitou a missão de mandar cunhar uma medalha: "As pessoas que a usarem receberão grandes graças!".

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Catolicismo Primitivo (Parte 1/4) – Introdução

Veritatis Splendor

1845 foi o ano em que John Henry Newman foi recebido na Igreja Católica após um longo processo de conversão. Tendo sido durante 20 anos presbítero da Igreja Anglicana, sustentava, de acordo com a teologia protestante, que a Igreja Católica era uma perversão da Igreja de Cristo, que se havia afastado do evangelho ao acrescentar doutrinas puramente humanas às reveladas por Deus. Como um membro destacado do Movimento de Oxford, afiliação da Alta Igreja Anglicana que buscava recuperar suas tradições mais antigas, iniciou um estudo profundo da Igreja primitiva e dos Padres da Igreja, levando-o a concluir que o Anglicanismo se encontrava, na verdade, na mesma posição que as heresias dos primeiros séculos: opondo-se à Igreja de Cristo.

O ano de 2000 foi aquele em que Alex Jones foi recebido na Igreja Católica juntamente com uma parte daquela que fôra a congregação que liderou como pastor pentecostal. Em seu influente ministério exercido como pastor durante 40 anos, não poderia estar mais distante do Catolicismo: como muitos de seus contemporâneos evangélicos, ensinava que a Igreja Católica era uma seita, a “prostituta da Babilônia”, e o Papa, o “anticristo”. No entanto, em um tentativa de inovar, propôs à sua congregação experimentar um culto religioso do século I, para o qual passou a estudar a Igreja primitiva diretamente das suas fontes primárias: os próprios textos patrísticos. A medida que avançava em sua investigação, incorporava doutrinas e práticas que só poderiam ser descritas como “católicas”, coisa que passou a preocupar alguns membros da sua congregação, que o acusaram de ter-se contaminado de “Catolicismo”. Ainda que ele replicasse que a sua intenção era apenas incorporar doutrinas e práticas existentes no Cristianismo primitivo, eventualmente acabou aceitando sua aproximação com a Igreja Católica e concluiu que o Catolicismo continha em si mesmo a plenitude do Cristianismo.

Estas duas conversões, separadas por quase dois séculos de diferença, não chegam nem a ser muito excepcionais. J. H. Newman não foi o único membro do Movimento de Oxford a terminar abraçando a fé católica. Entre outros convertidos destacados da época, pode-se mencionar: Robert Hugh Benson (filho do arcebispo de Canterbury e sacerdote anglicano, que depois da sua conversão foi ordenado sacerdote católico); Henry Edward Manning (que da mesma forma que J. H. Newman chegou a ser cardeal da Igreja Católica); Gerard Manley Hopkins (sacerdote jesuíta e renomado poeta); John Chapman, osb (sacerdote católico beneditino); Thomas William Allies (historiador da Igreja); Augusta Theodosia Drane (religiosa dominicana); Frederick William Faber (sacerdote católico); Lady Georgiana Fullerton (novelista inglesa); Robert Stephen Hawker (convertido ao Catolicismo em seu leito de morte); James Hope-Scott (advogado inglês); George Jackson Mivart (biólogo inglês); Henry Nutcombe Oxenham (historiador católico); Augustus Pugin (arquiteto inglês); Edward Caswall (compositor religioso); e William George Ward (teólogo e matemático inglês).

Igualmente, na atualidade, junto com o pastor Alex Jones não têm sido poucos os casos de conversões célebres ao Catolicismo. Conhecidos são os casos de Graham Leonard (bispo anglicano); Michel Viot (bispo luterano francês); Scott Hann (pastor evangélico); Jimmy Akin (pastor evangélico); Marcus Grodi (pastor evangélico); Ulf Ekman (que foi o pastor luterano mais influente de Suécia); Fernando Casanova (pastor evangélico); Dave Armstrong, etc.

Em todos estes casos um fator chave para a conversão foi a descoberta, através do estudo da Igreja primitiva, de que a Fé Católica contém a plenitude da Fé Cristã, e esta, mais que uma evolução transformista das doutrinas do Evangelho, são um desenvolvimento homogêneo do mesmo, da mesma maneira que uma semente se converte em árvore, embora continue sendo a mesma.

Porém, o que pode haver nos textos cristãos primitivos que, ao ser descoberto por tantos irmãos cristãos de outras denominações, acaba por conduzi-los à fé católica?

Se realmente a Igreja Católica é produto de uma corrupção que começou a partir do século IV, quando a Religião Católica chegou a ser a religião oficial do Império Romano (a hipótese aceita no protestantismo), o que pode ser encontrado nos textos cristãos dos primeiros séculos que ainda hoje identifica o Cristianismo primitivo com o Catolicismo?

A seguinte série de artigos, intitulada “Catolicismo Primitivo”, pretenderá fazer o mesmo percurso que todos estes convertidos notáveis fizeram, começando pelos escritos dos Padres Apostólicos (aqueles que tiveram contato direto com os Apóstolos) até chegar aos Padres da Igreja dos primeiros séculos. Ênfase especial será dada àqueles textos que descrevem doutrinas controvertidas que os protestantes modernos rejeitam hoje na Igreja Católica, de modo a elucidar se representam um genuíno desenvolvimento da doutrina cristã.

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S. JOSAFAT KUNCEWICZ, BISPO E MÁRTIR

S. Josafat Kuncewicz 

Josafat nasceu em uma família de ortodoxos cismáticos; ainda muito jovem, foi enviado a Vilnius, para se aprofundar no comércio, onde presenciou, pessoalmente, à luta entre Rutenos unidos e Dissidentes. Retirou-se para o mosteiro dos Basilianos da Santíssima Trindade, vivendo como eremita, por alguns anos; neste interim, consolidou suas posições, expressas em algumas obras escritas, para demonstrar a origem católica da Igreja Rutena e sua dependência primitiva à Santa Sé, bem como para estimular a reforma dos mosteiros de rito Bizantino e reafirmar o celibato do clero.

De eremita a “Apóstolo da Unidade”

Josafat Kuntsevytch aprofundou a doutrina dos Padres da Igreja, pelos quais ficou encantado, por serem depositários da Verdade. A partir deles, retomou seus estudos com maior convicção. Percebeu que o pensamento dos Padres da Igreja do Oriente não havia afetado a unidade da Igreja Católica, definida como Universal, porque dispunha de uma autêntica beleza espiritual. Logo, era uma só Igreja, um único rebanho, no qual as ovelhas se reuniam, e um só pastor, o Papa, que não é apenas homem, mas representa o Vigário de Cristo na terra. Eis a vontade de Deus contida na Palavra, a Palavra que é única: não sofre alterações e permanece para sempre.

Acusado de "roubar almas"

Tais convicções, descritas acima, orientaram o ministério de Josafat: primeiro, como monge e fundador dos mosteiros de Byten e Zyrowice; depois, como Bispo de Vitebsk e coadjutor de Polotsk, da qual se tornou Arcebispo, em 1618. Precisamente por suas convicções, os opositores começaram a acusá-lo de "ladrão de almas" da Igreja Ortodoxa. Não obstante, ele não passou à Liturgia em língua latina, mas manteve a Paleoslava, baseando seus ensinamentos, sobretudo, em dois fundamentos: a fidelidade à Sé de Pedro e a Tradição dos Padres. Ele queria levar a tais convicções os hereges e cismáticos e, por esta causa sagrada, aceitou o martírio: o bom pastor não deixa de sacrificar a própria vida para salvar as suas ovelhas. Em 12 de novembro de 1623, ao sair da igreja, após a celebração de um rito festivo, foi atacado por um grupo de ortodoxos, que o esfaquearam e balearam. Josafat Kuntsevytch foi canonizado por Pio IX, em 1867.

Contexto histórico-político

Josafat Kuntsevytch nasceu em Wolodymyr, Volnya, território da Ucrânia trans-carpática, que, na época, pertencia à Tchecoslováquia, depois anexada à União Soviética, após a Primeira Guerra Mundial. Neste contexto, ocorreu uma perseguição cruel contra a Igreja local, fiel a Roma - a Igreja Uniata – obrigada a se submeter ao Patriarcado de Moscou. O território em questão - também denominado Rutênia - era habitado por uma população, com fortes tendências autonomistas, que, em certo ponto, em 1938, parece ter-se unido para a criação de um governo ruteno ou ucraniano, em Uzhorod, apoiado pelos alemães. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a Igreja Católica Ucraniana - apenas a que, com a partição da Polônia, em 1700, havia passado ao domínio da Áustria e sobrevivido - juntou-se ao Patriarcado de Moscou. Hoje, apenas os ucranianos, que emigraram ou escaparam das deportações soviéticas, puderam, livremente, manter suas tradições e professar sua fidelidade a Roma.

Oração ao Espírito Santo, por intercessão de São Josafat Kuntsevytch:
“Intensificai, Senhor, na vossa Igreja a ação do Espírito Santo,
que levou o bispo São Josafat a dar a vida pelo seu povo,
para que, fortificados pelo mesmo Espírito,
não hesitemos em dar a vida pelos nossos irmãos”.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF