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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

«Louvores dos Santos Padres à Maria»

Ecclesia
* * *

Ave, alegria que desejamos.

Ave, exaltação do gozo da Igreja.

Ave, nome que emana doçura.

Ave, rosto que emana bondade divina.

Ave, morada de santidade.

Ave, Mãe revestida de luz, que engendras o Sol sem ocaso.

Ave, Mãe pura em santidade.

Ave, fonte corrente de água que leva a vida.

Ave, Mãe misteriosa e inexplicável.

Ave, livro novo que encerra a nova mensagem de Deus.

Ave, alabastro que contêm a mirra de santidade que procede de Deus.

Ave, beleza que prega a riqueza da virgindade.

Ave, criatura que levas o teu Criador.

Ave, tu que conténs o que nada pode conter.

Ave, tabernáculo de Deus e do Verbo.

Ave, a maior Santa de todas as santas.

Ave, Arca da Aliança, que nos fazes presentes a Deus.

Ave, tesouro inesgotável de vida.

Ave, diadema precioso dos reis piedosos.

Ave, gloria venerável dos Santos Padres.

Ave, nuvem luminosa, que derramas sobre nós
a brisa espiritual e divina.

Ave, fonte plena dos dons de Deus.

Ave, Cheia de graça, de quem nasceu o Sol da salvação.

Ave, que nos entregas a Cristo,
Sol que enche de bondade a Criação.

Ave, tu por quem brindam os troféus.

Ave, tu por quem sucumbem os inimigos.

Ave, saúde de meu corpo.

Ave, salvação de minha alma.

* * *

Ave, flor de imortalidade.

Ave, coroa de castidade.

Ave, cheia de graça, arca de santidade e ramo de justiça.

Ave, Maria, plantada por Deus, que floresces como uma flor incorruptível.

Ave, tu que, com o ritmo cadencioso de teus passos, pisoteaste o diabo.

Ave, oh Esposa de Deus, que puseste sobre nós o manto divino do perdão.

Ave, árvore com frutos de luz.

Ave, bosque com ramagem abundante, onde muitos vem se proteger.

Ave, tu que levas em teu seio o Guia dos extraviados.

Ave, satisfação do supremo Juiz.

Ave, reconciliação de muitos pecadores.

Ave, coroa de confiança para os necesitados.

Ave, amor que supera todo desejo.

Ave, Mãe do Cordeiro sem mancha e da Pedra angular da Igreja.

Ave, Cheia de graça, verdadeiro incensório de ouro.

Ave, Tesouro de pureza, sacratíssimo e sem mancha alguma.

Ave, Nuvem resplandecente do Espírito vivificante.

Ave, que trazes a chuva da misericórdia, que banha todo o criado.

Ave, que nos dás o Verbo de Deus para atrair os extraviados.

Ave, Mãe do que vem reconciliar-nos, e com Deus.

Ave, Cheia de graça, esperança de todas nações da terra.

Ave, que transformaste a dor em gozo.

Ave, Cheia de graça imaculada.

Ave, que dispuseste para a sepultura o Cordeiro de Deus.

Ave, Cheia de graça, gozo da alma.

Ave, boa mediadora de todos os pecadores.

Ave, Cheia de graça, refúgio admirável e compassivo.

Ave, tu que és contemplada como a formosura mais grandiosa e excelsa.

* * *

Ave, raio de sol espiritual.

Ave, tu que fazes surgir a luz do astro ponente.

Ave, claridade que ilumina a as almas.

Ave, relâmpago que estremece aos inimigos.

Ave, porque tu fizeste que e levantasse uma uma luminosa claridade.

Ave, porque tu fazes brotar um rio de águas abundantes.

Ave, vivente imagem da fonte  batismal.

Ave, tu que apagas a mancha do pecado.

Ave, fonte que lava a consciência.

Ave, cálice que encerra a alegria.

Ave, perfume do bom odor de Cristo.

Ave, palácio sagrado, imaculado e puríssimo do Senhor, Rei do universo.

Ave, fonte do gozo espiritual mais pleno.

Ave, oh ameno e espiritual paraíso de Deus.

Ave, Cheia de graça , terra fecunda em aromas.

Ave, arca portadora de vida e novo vaso perfumado do Espírito.

Ave, tu que fazes resplandecer a imagem da Ressurreição.

Ave, tu que manifestas a vida angélica.

Ave, Cheia de graça, candelabro de ouro, que sustentas lâmpadas acesas.

Ave, Cheia de graça, mesa que contém o Pão da vida.

Ave, Cheia de graça, monte de Deus, monte fecundo.

Ave, monte de Deus manifestado ante todo o mundo.

Ave, muralha inexpugnável da Igreja.

Ave, muro indestrutível do Reino.

Ave, Mãe da Igreja, da nova Sião e da Nova Jerusalém.

Ave, em quem nos reconhecemos e nos encontramos com Deus.

Ave, cheia de graça, monte de Deus manifestado ante todo o mundo.

Ave, cheia de graça, refúgio admirável e compassivo,
auxílio para todos os cristãos
e que és contemplada como a formosura mais grandiosa e excelsa.

* * *

TraduçãoPe. André Sperandio

Ecclesia

Dos Sermões de São Leão Magno, papa

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(Sermo 92,1.2.3:PL 54,454-455)            (Séc.V)

 

Qual a obra, tal o ganho

O Senhor diz: Se vossa justiça não superar de muito a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus (Mt 5,20). Como será superior à deles, a não ser que a misericórdia esteja acima da condenação? (cf. Tg 2,13). E que de mais justo, de mais digno do que a criatura, feita à imagem e semelhança de Deus, imitar seu criador? A ele que decidiu a renovação e santificação dos fiéis pela remissão dos pecados para que, afastado o rigor do castigo e acabada a pena, recupere o réu a inocência, e o fim dos crimes seja a origem das virtudes?

Não é pela rejeição da lei que a justiça cristã pode superar a dos escribas e fariseus, mas recusando sua compreensão carnal. Por exemplo, o Senhor deu aos discípulos a regra do jejum. Quando jejuardes, não fiqueis tristes como os hipócritas. Ficam com o rosto abatido para mostrar aos homens que estão jejuando. Na verdade, eu vos digo: já receberam sua recompensa (Mt 6,16). Que recompensa? Não é o elogio dos outros? Por causa desta ambição, muitos ostentam a aparência da justiça: cobiça-se a ilusão da fama, de modo que a iniquidade, conhecida ocultamente, se alegre com a boa opinião enganadora.

Para quem ama a Deus, basta-lhe agradar a quem ama; nenhuma recompensa maior espera do que o próprio amor. Assim a caridade vem de Deus porque Deus mesmo é a caridade. Quem é piedoso e casto alegra-se por vivê-la de tal modo que não deseja coisa alguma, exceto a Deus, para seu regozijo. É inteiramente verdade aquilo que o Senhor diz: Onde está teu tesouro aí está teu coração (Mt 6,21). O tesouro do homem não é o acúmulo de seus frutos e a soma de seus trabalhos? Aquilo que se semeou, isto se colherá (Gl 6,7) , e qual o trabalho, tal o ganho; e onde põe o seu prazer, aí se prende o coração. Mas, por haver muitos gêneros de riquezas, há matérias diferentes para o gozo, logo, tesouro é para cada qual a inclinação de seu desejo: se feito de apetites terrenos, sua participação não fará ninguém feliz, mas desgraçado.

Ao contrário, aqueles que têm gosto pelas coisas do alto e não terrenas não se preocupam com as perecíveis mas com as eternas, possuem encerradas em si riquezas incorruptíveis, das que disse o Profeta: Chegaram nosso tesouro e salvação, sabedoria, disciplina e piedade da parte do Senhor; são estes os tesouros da justiça (Is 33,6 Vulg.) pelos quais, com o auxílio de Deus, até os bens da terra serão transferidos para os céus. De fato, são muitos que usam como meios de misericórdia as riquezas recebidas de outros pelo direito ou adquiridas de outro modo. Distribuindo para sustento dos pobres aquilo que lhes sobra, ajuntam para si riquezas que não podem ser perdidas; o que reservaram para esmolas não está sujeito a nenhuma perda. Com justiça, então, eles mantêm seu coração onde está seu tesouro; porque a maior felicidade consiste em trabalhar para que cresçam estas riquezas, sem temor de perdê-las.

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O que a Igreja sugere com relação às seitas?

Shutterstock
por Jorge Luís Zarazúa

Confira um resumo com os aspectos mais essenciais do sínodo sobre a Palavra de Deus.

De maneira breve, mas significativa, a “Verbum Domini“, exortação apostólica fruto do sínodo dos bispos sobre a Palavra de Deus, aborda o problema pastoral da proliferação das seitas.

A Bíblia, coração da atividade eclesial

Em 11 de novembro de 2010, a Santa Sé apresentou um novo documento pontifício: a exortação apostólica pós-sinodal “Verbum Domini”, sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. O documento é fruto dos trabalhos do sínodo sobre a Palavra de Deus, realizado no Vaticano de 5 a 26 de outubro de 2008.

O objetivo da exortação, segundo o Santo Padre, é “indicar algumas linhas fundamentais para uma redescoberta, na vida da Igreja, da Palavra divina, fonte de constante renovação, com a esperança de que a mesma se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial” (“Verbum Domini”, 1).

As seitas, um problema pastoral

Pois bem, um dos problemas pastorais destacados na assembleia sinodal foi o da proliferação das seitas (“Verbum Domini”, 73).

Por que as seitas representam um problema pastoral? A assembleia sinodal, de cujos trabalhos emanou a exortação apostólica, parece indicar que se deve ao seu proselitismo sistemático em diversos continentes, bem como à instrumentalização que fazem da Bíblia.

De fato, no “Instrumentum Laboris” se indicava que é preciso prestar uma atenção especial às “numerosas seitas, que atuam em diversos continentes e que se servem da Bíblia para fins impróprios e com métodos estranhos à Igreja” (“Instrumentum laboris”, 56).

Mais ainda: os grupos proselitistas são mencionados entre as “dificuldades que entravam o caminho do anúncio do Evangelho e da escuta do Senhor”, já que “dificultam uma correta interpretação da Bíblia” (“Instrumentum laboris”, 43).

Como indicou o Sucessor de Pedro, estes grupos “difundem uma leitura deformada e instrumentalizada da Sagrada Escritura” (“Verbum Domini”, 73).

A pureza da fé

Diante desta realidade, uma pergunta apresentada no sínodo foi a seguinte: “O que fazer para apoiar a comunidade cristã perante as seitas?” (“Lineamenta”, Perguntas, capítulo III).

É interessante notar a finalidade que se busca com estes procedimentos: eles devem ajudar a “apoiar” a comunidade cristã frente ao embate dos grupos proselitistas.

A resposta dos “Lineamenta”, breve, mas significativa, indica que se deve prestar mais atenção “à pureza da Palavra de Deus, autenticamente interpretada pelo Magistério, diante das numerosas seitas que se servem da Bíblia para outros fins e com métodos estranhos à Igreja” (“Lineamenta”, 31).

Eis o que o Papa Bento XVI disse:

“Por isso, exorto os pastores e os fiéis a terem em conta a importância desta animação: será o modo melhor também de enfrentar alguns problemas pastorais referidos durante a assembleia sinodal, ligados por exemplo à proliferação de seitas, que difundem uma leitura deformada e instrumentalizada da Sagrada Escritura. Quando não se formam os fiéis num conhecimento da Bíblia conforme à fé da Igreja no sulco da sua Tradição viva, deixa-se efetivamente um vazio pastoral, onde realidades como as seitas podem encontrar fácil terreno para lançar raízes. Por isso, é necessário prover também a uma preparação adequada dos sacerdotes e dos leigos, para poderem instruir o Povo de Deus na genuína abordagem das Escrituras” (“Verbum Domini”, 73).

Esta é precisamente a finalidade da nova apologética, promovida na América Latina e ainda em países de fala inglesa: colocar ao alcance de todos os fiéis católicos a interpretação autêntica que o magistério da Igreja faz da Bíblia, já que os primeiros destinatários da nova apologética são precisamente os católicos, particularmente os mais afastados.

Em um segundo momento, a nova apologética busca dialogar com os irmãos separados (que, em sua maioria, são ex-católicos), para apresentar-lhes a interpretação autêntica das passagens bíblicas que os levaram a abandonar a Igreja.

Aleteia

Francisco José, a missão austríaca e a união europeia

Guadium Press

O mês de novembro traz à baila fatos de relevância mundial. Entre estes, destaca-se notadamente o do falecimento do Imperador Francisco José, ocorrido em 21 de novembro de 1916; e, como decorrência – ao menos psicológica e tendencial – de sua morte, o desfazimento do Império Austro-húngaro, em fins de novembro de 1920, há 100 anos.

Recordemos, em breves traços, a personalidade deste governante e de sua missão, guia de um Império por mais de 60 anos.

Redação (22/11/2020 16:16Gaudium Press) Eram 4 horas, a alvorada ainda não havia sido tocada, e o Imperador Francisco José, prontamente se encontrava de pé. Antes, porém, ainda ao lado de seu leito, de joelhos, dirigiu algumas preces a Deus e, de imediato, prosseguiu para a sua toilette: invariavelmente, água gelada, mesmo durante o rigoroso inverno.

Em seguida, já pronto, cobria-se com uma grossa lã para retomar o calor. Embora advertido inúmeras vezes por seus médicos, para abandonar este costume, sempre rejeitou tal conselho, inclusive na ancianidade.

Logo após, alimentava-se de um frugal café da manhã: alguns pedaços de pão e um copo de leite. Dirigia-se então, já revestido de seu uniforme militar de marechal, para iniciar suas audiências privadas.

Os visitantes encontravam-se com um personagem de rica personalidade, de alta estatura, que sempre permaneceu esbelto e, de feitio sóbrio e recatado. Os contemporâneos seus, dificilmente puderem vê-lo trajando alguma roupa social, a menos que uma viagem “incognitus” ao estrangeiro o reclamasse.

Ainda hoje, é possível admirar sua categoria, seja em fotos ou em pinturas fidedignas, trajando sua característica dólmã bien étriquée[1] e sua calça impecavelmente ajustada, além do chapéu melon.

Com efeito, sua preocupação por estar sempre com o uniforme em perfeita ordem, acompanhou-o até o fim de sua vida. A este pormenor, sempre foi de atenção extrema, rigorosa e exigente. Seria inconcebível a menor infração às regras disciplinares; pois ele era o primeiro a dar o exemplo.

Ao meio dia, pontualmente, almoçava. A refeição não deixava de ser simples e moderada, tomada em não mais de quinze minutos. Era pouco, mas era tudo.

O período vespertino, costumava ser dedicado àquelas audiências mais relevantes e solenes, estendidas até o horário do jantar. Sendo preciso fazer uso desta refeição para assuntos de caráter informal, o menu sempre era condizente com o valor do anfitrião: além de bem elaborado, vinha escrito em francês, embora as músicas de fundo viessem enunciadas num perfeito alemão.

Gestos característicos da alma admirativa

Através desses pequenos e matizados gestos, pode-se entrever notáveis qualidades do povo austríaco, especialmente reluzidas na vida de seu notável imperador. Com efeito, a Áustria sabe bem casar os bons aspectos das outras nações, obtendo para si um valor de quilate mais alto, pois à força de admirá-las, acaba haurindo muitas dessas virtudes numa capacidade de síntese formidável.

Enfim, concluída a refeição e despedidos os convidados, o Imperador dirigia-se ao salão, no qual permanecia em prosa, até por voltas das 20h, quando se encaminhava aos seus aposentos.

Estando só, lia os jornais e tomava as providências para o dia seguinte. Sempre, o emprego de seu tempo estava regrado, regido e consagrado – mesmo os minutos – para o dever, o trabalho a serviço do Estado.

O que caracterizou sua existência, a preocupação constante pela ordem, pela disciplina, pela regularidade e pelo cumprimento exímio das obrigações públicas.

No entanto, como apontam certos autores, a grande lacuna da existência desse eminente chefe de estado foi a de dedicar-se demais a uma “existência burocrática”, acompanhada de um insólito afastamento de muitas personagens de considerável relevo, o que lhe granjeou alguma antipatia, pois – sem o perceber – certa parcela do mundo que lhe era exterior, preferia um monarca mais “próximo”, mais “amigo” que “imperador”.

Talvez sua virtude e dedicação tenham sido seu grande defeito…

Sem embargo do que, o papel de um chefe de estado, como o de quem tem sob seu encargo um Império Austro-Húngaro, é assaz complicado, sendo necessário inclusive muito tino psicológico para conduzi-lo por mais de 60 anos.[2]

Política externa do Imperador Francisco José

Nesta esteira, a política internacional adotada por Francisco José também é bastante questionada: não pequeno número de historiadores prefere vê-lo um tanto isolado, alheio a muitos acontecimentos, dos quais dependeu a posição austro-húngara. Haja vista, o assassinato de um membro da família imperial, Francisco Ferdinando, sobrinho seu, fator decisivo para o estopim da 1ª Guerra Mundial.

Sem sabê-lo, ou não, Francisco José era um dos homens que guiava o timão da história de seu século.

Algo pouco comentado, mas de relevante importância, foi o carteio entre São João Bosco e o Imperador. Décadas antes da estourar a guerra de 1914, com seu singular tino profético, o salesiano alertou ao monarca que, se ele desejava cumprir a vontade divina, seria preciso “apoiar-se nas nações do norte [europeu], mas não na Prússia; estreitar as relações com a Rússia, porém não fazer aliança alguma. Associar-se com a França católica e, depois da França, com a Espanha. Seria imprescindível formar um só espírito. Uma só ação[…], sem pactuar com os inimigos do Crucificado”.[3]

Fato é que, infelizmente, o monarca não deu ouvidos a São João Bosco e o fim do Império Austro-Húngaro, em virtude do caminho oposto encetado por Francisco José, resultou na dissolução tão vergonhosa a que foram submetidos Carlos I e Zita, com a extinção do império católico mais antigo quanto tradicional. Tudo isso foi posto na balança do juízo do Habsburgo.

“Símbolo vivo da excelente civilização cristã”

Num outro viés, sendo testemunha da mudança psicológica de que fora alvo seu século, quando a ciência, a técnica e a mecânica lograram desenvolvimentos absurdos, um tanto contrafeito a esses novos ares, Francisco José não os alentava; como testificam seus próprios gestos, como o de nunca haver desejado servir-se de um telefone para quaisquer assuntos; ou ainda de ter protelado, um sem-fim de vezes, em andar de automóvel.

Enfim, como aponta certo pensador, “apesar dos seus defeitos e frivolidades, para os quais não se deve fechar os olhos, Francisco José e a Imperatriz Elizabeth – a legendária Sissi – eram, entretanto, símbolos vivos do que a Civilização Cristã havia engendrado de mais excelente. Daí terem escrito uma das páginas nas imorredouras da história austríaca”.

A universalidade da missão austríaca e a União Europeia

Se Francisco José houvesse sabido medir as consequências de sua rica personalidade, de seu alto chamado, do quilate da vocação com o qual Deus o dotara, colocando-se de joelhos e reconhecendo n’Ele a Verdadeira Grandeza, seguramente os rumos da História do Sacro Império – e a do século passado – teriam sido bem diversos: quiçá teríamos a concretização de uma sincera União Europeia, por meio de mãos tão harmonizadoras, quanto disciplinadas de um Imperador morto diante dos escombros de sua própria obra em 1916.[4] [5]

Sem exagero, e com certo viso de verdade, teria se verificado a orgulhosa divisa: A.E.I.O.U – Austriae est imperare orbi universo.

Por Bonifácio Silvestre


[1] Sem folga.

[2] Francisco José (1830-1916), Imperador da Áustria de 1848 a 1916, e Rei da Hungria de 1867 a 1916.

[3] Cf. Carta ao Imperador da Áustria Francisco José, de 24 de maio de 1873. In: SAN JUAN BOSCO. Biografia y escritos. Madrid: BAC, 2ª ed.,1967, p. 899-900.

[4] Francisco José morreu em 21 de novembro de 1916. Em fins de novembro de 1920 deu-se a dissolução do Império Austro-Húngaro.

[5] O presente artigo está baseado em dados históricos compilados pela revista francesa Historia, nº 362, jan. 1977. In: François-Joseph, por Raymond Recouly, p. 106-111. E no livro SAN JUAN BOSCO. Biografia y escritos. Madrid: BAC, 2ª ed.,1967, p. 899-900.

Portal Guadium Press

Ângelus: O amor será o critério do juízo supremo, afirma o Santo Padre na Solenidade de Cristo Rei

Papa Francisco. Foto: Vatican Media

Vaticano, 22 nov. 20 / 01:41 pm (ACI).- O Papa Francisco destacou na Solenidade de Cristo Rei do Universo, último Domingo do tempo litúrgico, que o critério do juízo final será o amor que nós demos ou negamos às pessoas necessitadas.

“Peçamos à Virgem Mari´a que nos ensen~e a reinar no servir. Nossa Senhora, asunta ao Céu, recebeu a coroa real de seu Filho, porque o seguiu fielmente no caminho do Amor. dela aprendamos a entrar a partir de agora no Reino de Deus, pela porta do serviço humilde e generoso”, convidou o Papa antes da reza do Angelus dominical.

Ao recordar a Solenidade “de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo, que encerra o ano litúrgico” o Santo Padre assinalou que “Ele é o Alfa e o Ômega, o começo e o cumprimento da história; e a liturgia de hoje se centra no ‘ômega’, quer dizer, no destino final” e agregou que “o sentido da história se compreende tendo perante nossos olhos sua culminação: o final é também o fim”.

Nesta linha, o Pontífice comentou a passagem do Evangelho de São Mateus deste domingo (25, 31-46) no que Jesus se refere ao julgamento universal no epílogo de sua vida terrestre “Ele, a quem estes homens estão a ponto de condenar, é em realidade o juiz supremo. Na  sua morte e resurreição, Jesus se mostra como o Senhor da história, o Rei do universo, o Juiz de tudo. Mas a paradoxa cristã é que o Juiz não se reveste uma realeza temível, mas é um pastor cheio de mansidão e misericórdia”.

Deste modo, o Papa sublinhou que “Jesus, nesta parábola do juízo final, utiliza a imagem do bom pastor, recordando as profecias de Ezequiel, que falava da intervenção de Deus em favor do povo, contra os maus pastores do Israel” e “Deus mesmo promete cuidar pessoalmente de seu rebanho, defendendo-o das injustiças e dos abusos”.

Por isso, o Santo Padre assinalou que “Jesus se identifica não só com o rei pastor, mas também com as ovelhas perdidas, quer dizer, com os irmãos mais pequeninos e necessitados. E assim nos indica o critério do julgamento: ele julga sobre a base do amor concreto que foi dado ou negado a estas pessoas, porque ele mesmo, o juiz, está presente em cada uma delas”.

Neste sentido, o Pontífice exortou a realizar um exame de consciência e a meditar a parábola do bom samaritano para recordar a “lógica da proximidade e nos aproximar das pessoas que mais sofrem”.

“Voltemos para casa com esta frase: ‘Eu estava presente ali’. Obrigado ou se esqueceu de mim”, conluiu o Papa.

ACI Digital

S. Columbano da Irlanda

ArqSP

Hoje quero falar do santo abade Columbano, o irlandês mais famoso da Alta Idade Média: com razão pode ser chamado de santo «europeu», pois como monge, missionário e escritor trabalhou em vários países da Europa ocidental. Junto aos irlandeses de sua época, era consciente da unidade cultural da Europa. Em uma de suas cartas, escrita em torno do ano 600, dirigida ao Papa Gregório Magno, encontra-se pela primeira vez a expressão «totius Europae – de toda a Europa», em referência à presença da Igreja no continente (cf. Epistula I,1).

Columbano havia nascido em torno do ano 543 na província de Leinster, no sudeste da Irlanda. Educado em sua casa por ótimos professores, que o encaminharam no estudo das artes liberais, ele foi confiado depois à guia do abade Sinell, da comunidade de Cluain-Inis, na Irlanda do Norte, onde pôde aprofundar no estudo das Sagradas Escrituras.

Quando tinha cerca de 20 anos, entrou no mosteiro de Bangor, no nordeste da ilha, onde era abade Comgall, um monge conhecido por sua virtude e seu rigor ascético. Em plena sintonia com seu abade, Columbano praticou com zelo a severa disciplina do mosteiro, levando uma vida de oração, ascese e estudo. Lá foi ordenado sacerdote. A vida em Bangor e o exemplo de abade influíram em sua concepção do monaquismo, que Columbano amadureceu com o tempo e difundiu depois no transcurso de sua vida.

Aos 50 anos, seguindo o ideal ascético tipicamente irlandês da «peregrinatio pro Christo», ou seja, de tornar-se peregrino por Cristo, Columbano deixou a ilha para empreender com 12 companheiros uma obra missionária no continente europeu. Devemos recordar que a migração de povos do norte e do leste provocou um regresso ao paganismo de regiões inteiras que haviam sido cristianizadas.

Por volta do ano 590, esse pequeno grupo de missionários desembarcou na costa bretanha. Acolhidos com benevolência pelo rei dos francos da Austrásia (a atual França), só pediram um pedaço de terra sem cultivar. Foi-lhes entregue a antiga fortaleza romana de Annegray, em ruínas, recoberta pela vegetação. Acostumados a uma vida de máxima renúncia, os monges conseguiram levantar em poucos meses, das ruínas, o primeiro mosteiro. Desse modo, a reevangelização começou antes de tudo pelo testemunho de vida.

Com o cultivo da terra começaram também um novo cultivo das almas. A fama desses religiosos estrangeiros que, vivendo de oração e em grande austeridade, construíam casas, difundiu-se rapidamente, atraindo peregrinos e penitentes. Sobretudo muitos jovens pediam ser acolhidos na comunidade monástica para viver como eles esta vida exemplar que renovava o cultivo da terra e das almas. Logo tiveram de fundar um segundo mosteiro. Foi construído a poucos quilômetros, nas ruínas de uma antiga cidade termal, Luxeuil. O mosteiro se converteria em centro da irradiação monástica e missionária da tradição irlandesa no continente europeu. Erigiu-se um terceiro mosteiro em Fontaine, a uma hora de caminho para o norte.

Em Luxeuil, Columbano viveu durante quase 20 anos. Lá o santo escreveu para seus seguidores de Regula manochorum – durante um certo tempo mais difundida na Europa que a de São Bento –, perfilando a imagem ideal do monge. É a única antiga regra monástica irlandesa que hoje possuímos. Como complemento, redigiu a Regula coenobialis, uma espécie de código penal para as infrações dos monges, com castigos mais surpreendentes para a sensibilidade moderna, que só se podem explicar com a mentalidade daquele tempo e ambiente. Com outra obra famosa, titulada De poenitentiarum misura taxanda, que também escreveu em Luxeuil, Columbano introduziu no continente a confissão privada e reiterada com a penitência, que previa uma proporção entre a gravidade do pecado e a reparação imposta pelo confessor. Estas novidades suscitaram suspeitas entre os bispos da região, uma suspeita que se converteu em hostilidade quando Columbano teve a valentia de repreendê-los abertamente pelos costumes de alguns deles.

Este contraste, manifestou-se com as disputas sobre a data de Páscoa: a Irlanda seguia a tradição oriental, ao contrário da tradição romana. O monge irlandês foi convocado no ano 603 em Châlon-Saôn para prestar contas ante um sínodo de seus costumes sobre a penitência e a Páscoa. Em vez de apresentar-se ante o sínodo, mandou uma carta na qual minimizava a questão, convidando os padres sinodais a discutirem não só sobre o problema pequeno, «mas também sobre todas as normas canônicas necessárias que são descuidadas por muitos, o qual é mais grave» (cf. Epistula II, 1). Ao mesmo tempo, escreveu ao Papa Bonifácio IV – alguns anos antes já se havia dirigido ao Papa Gregório Magno (cf. Epistula I) – para defender a tradição irlandesa (cf. Epistula III).

Dado que era intransigente em questões morais, Columbano entrou em conflito também com a casa real, pois havia repreendido duramente o rei Teodorico por suas relações de adultério. Surgiu uma rede de intrigas e manobras no âmbito pessoal, religioso e político que, em 610, provocou um decreto de expulsão de Luxeuil de Columbano e de todos os monges de origem irlandesa, que foram condenados a um exílio definitivo. Escoltaram-nos até chegar ao mar e foram embarcados em um navio da corte rumo à Irlanda. Mas o barco encalhou a pouca distância da praia e o capitão, ao ver nisso um sinal do céu, renunciou à empresa e, por medo a ser maldito por Deus, voltou com os monges a terra firme. Estes, em vez de regressar a Luxeuil, decidiram começar uma nova obra de evangelização. Embarcaram no Rin e voltaram ao rio. Depois de uma primeira etapa em Tuggen, no lago de Zurich, eles se dirigiram à região de Bregenz, no lago de Costanza, para evangelizar os alemães.

Agora, pouco depois, Columbano, por causa de problemas políticos, decidiu atravessar os Alpes com a maior parte de seus discípulos. Só restou um monge, chamado Gallus. De seu mosteiro se desenvolveria a famosa abadia de Sankt Gallen, na Suíça. Ao chegar à Itália, Columbano foi recebido na corte imperial longobarda, mas logo teve de enfrentar grandes dificuldades: a vida da Igreja estava lacerada pela heresia ariana, ainda majoritária entre os longobardos por um cisma que havia separado a maior parte das Igrejas da Itália do Norte da comunhão com o bispo de Roma.

Columbano se integrou com autoridade neste contexto, escrevendo um lindo libelo contra o arianismo e uma carta a Bonifácio IV para convencê-lo a comprometer-se decididamente no restabelecimento da unidade (cf. Epistula V). Quando o rei dos longobardos, em 612 ou 613, entregou-lhes um terreno em Bobbio, no valle de Trebbia, Columbano fundou um novo mosteiro que logo se converteria em um centro de cultura comparável ao famoso de Montecasino. Lá ele concluiu seus dias: faleceu em 23 de novembro de 615 e nessa data é comemorado pelo rito romano até nossos dias.

A mensagem de São Columbano se concentra em um firme convite à conversão e ao desapego das coisas terrenas em vista da herança eterna. Com sua vida ascética e seu comportamento frente à corrupção dos poderosos, evoca a figura severa de São João Batista. Sua austeridade, contudo, nunca é um fim em si mesma, mas um meio para abrir-se livremente ao amor de Deus e corresponder com todo o ser aos dons recebidos d’Ele, reconstruindo em si a imagem de Deus e ao mesmo tempo trabalhando a terra e renovando a sociedade humana.

Diz em suas Instruções: «Se o homem utiliza retamente essas faculdades que Deus concedeu à sua alma, então será semelhante a Deus. Recordemos que devemos devolver-lhe todos os dons que nos confiou quando nos encontrávamos na condição originária. Ele nos ensinou o jeito de fazê-lo com seus mandamentos. O primeiro deles é o de amar o Senhor com todo o coração, pois Ele, em primeiro lugar, nos amou, desde o início dos tempos, antes ainda de que víssemos a luz deste mundo» (cf. Instructiones XI).

O santo irlandês encarnou realmente estas palavras em sua vida. Homem de grande cultura e rico de dons de graça, seja como incansável construtor de mosteiros, seja como pregador penitencial intransigente, dedicou todas as suas energias a alimentar as raízes cristãs da Europa que estava nascendo. Com sua energia espiritual, com sua fé, com seu amor a Deus e ao próximo, ele se converteu em um dos pais da Europa, e nos mostra hoje onde estão as raízes das quais a nossa Europa pode renascer.

Fonte: Vaticano

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SÃO CLEMENTE I, papa

Cruz da Terra Santa

Origens

Clemente foi o terceiro sucessor imediato do Apóstolo São Pedro no comando da Igreja em Roma. Santo Irineu escreveu sobre ele no ano 180: “Ele viu os apóstolos e conversou com eles, ouviu a voz da pregação deles e teve a tradição deles diante dos olhos”. Santo Ireneu também nos informa que o Papa Clemente é o autor de uma carta muito importante, que foi escrita pela Igreja de Roma à Igreja da cidade de Corinto.

Contemporâneo dos grandes apóstolos

Irineu viveu em Roma e, como vimos, conviveu com alguns apóstolos. Dentre eles, São João Evangelista, São Filipe, também um dos doze, e São Paulo. Clemente foi um dos colaboradores de são Filipe. Ele foi também discípulo de São Paulo. Paulo até cita o nome de Clemente na carta aos Filipenses: "E a ti, fiel Sínzigo, também rogo que as ajudes, pois que trabalharam comigo no Evangelho, com Clemente e com os demais colaboradores meus, cujos nomes estão inscritos no livro da vida". (Fl 4,3)

Um nobre romano

A Tradição cristã apresenta o papa São Clemente I como sendo filho de um senador chamado Faustino. Este era da família Flávia, que, por sua vez, era parente do imperador romano chamado Domiciano. São Clemente I foi Papa uma época bastante difícil, cheia de perseguições contra os seguidores de Jesus Cristo.

Papado

São Clemente I governou a Igreja entre os anos 88 e 97. Foi um Papa que levou adiante o anúncio do Evangelho firmemente centrado na fidelidade à doutrina de Jesus Cristo. Enfrentou com sabedoria divisões internas na Igreja. Em sua famosa carta enviada aos coríntios, ele revela seu espírito de unidade e amor à Igreja. Os coríntios, com efeito, recusavam-se a seguir a Igreja de Roma e tinham a intenção de se desligarem da unidade. Através de sua carta, que, a princípio, teve sua autoria anônima, Clemente I incentivou-os à perseverança na fé e no amor ensinado por Jesus Cristo, e, também, a que eles participassem da união com a única Igreja deixada por Ele.

Legado

O Papa São Clemente I restabeleceu o uso do crisma na Igreja, dando seguimento à Tradição deixada Por São Pedro. Foi ele quem instituiu o uso litúrgico da expressão "amém", cujo significado é “assim seja, ou confirmo”, nos ritos religiosos. Seu exemplo de vida e fé arrastava corações. Ele converteu até mesmo a uma irmã do imperador Domiciano chamada Domitila. Domiciano, como vimos, também era parente de Clemente. A conversão de Domitila ajudou bastante na suavização da sangrenta perseguição que acontecia no império contra os cristãos.

Irritando o imperador

O papa São Clemente I colaborou bastante na expansão do cristianismo no império romano. Isso incomodou o sucessor de Domiciano, o imperador Nerva. Por isso, Nerva exilou Clemente na Criméia. Por causa deste exílio, Evaristo assumiu o comando da Igreja em Roma. Enquanto isso, no exílio, São Clemente I teve a oportunidade providencial de encontrar milhares de cristãos que tinham sido condenados a trabalhos forçados nas abundantes minas de pedra da região. Assim, o exílio foi providencial para que São Clemente encorajasse os fiéis a perseverarem na fé e convertesse também a muitos pagãos.

Martírio

O sucesso da evangelização de São Clemente I no exílio irritou bastante o novo imperador romano, chamado Trajano. Por isso, este ordenou que Clemente I fosse obrigado a prestar sacrifícios aos deuses romanos. Clemente I, porém, negou-se, afirmando categoricamente só existe um único Deus, a quem ele já servia. Trajano, então, ordenou que São Clemente I fosse atirado ao mar Negro, tendo uma pesada âncora atada ao seu pescoço. Mesmo assim, milagrosamente, a corda se retraiu e entregou o corpo de São Clemente aos cristãos, para que fosse sepultado dignamente e venerado pelos fiéis. Era o dia 23 de novembro do ano 101.

Oração de São Clemente I

“Deus de toda carne, que dais a morte e a vida, que abateis a insolência dos orgulhosos e frustrais as maquinações dos povos, vinde em nosso auxílio, ó Mestre. Matai a fome dos indigentes e libertai aqueles que entre nós sucumbiram. Deus bom e misericordioso, esquecei nossos pecados, erros e quedas; não leveis em conta as faltas dos vossos servos e servas. Dai-nos a concórdia e a paz, não só para nós, mas também para todos os habitantes da terra.

É de vós que os nossos príncipes e os que no mundo nos governam recebem o poder: dai-lhes saúde, paz, concórdia e estabilidade; dirigi os seus propósitos pela senda do bem. Só vós podeis fazer tudo isso e conceder-nos ainda maiores benefícios. Nós o proclamamos em nome do sumo sacerdote das nossas almas, Jesus Cristo, por quem vos seja dada honra e glória, agora e por todos os séculos dos séculos. Amém.”


Portal Cruz da Terra Santa

Santa Felicidade e sete irmãos

ArqSP

Não há muitas informações sobre a vida anterior ao martírio de Felicidade e dos sete irmãos. Eles viveram nos tempos do imperador Antonino e foram presos e mortos todos juntos no ano 165, em Roma.

Há dúvidas, até, de se os sete jovens seriam realmente todos irmãos e ainda, em sendo irmãos, se a mulher presa e morta ao lado deles seria mesmo a mãe deles. Entretanto são os dados registrados nas "Atas" sobre este martírio coletivo.

Também este não teria sido o único caso de uma mãe que recebeu a pena capital juntamente com os filhos. Há, por exemplo, o caso dos "sete irmãos Macabeus", de que fala a Sagrada Escritura no capítulo sete do segundo livro dos Macabeus.

Além disso, quanto a esta mártir, consta que o próprio papa são Gregório Magno teria encontrado uma gravura mural que representava esta mãe, de nome Felicidade, rodeada por sete jovens, numa das catacumbas de Roma.

A tradição diz que Felicidade era uma rica viúva que foi acusada de ser cristã pelos sacerdotes pagãos ao imperador. Públio, prefeito de Roma, ficou encarregado do seu julgamento. Começou o interrogatório somente com ela, todavia não obteve resultado algum. No dia seguinte, mandou conduzir a mãe e os sete filhos para adorarem os deuses. Mas Felicidade exortou os filhos a que não fraquejassem na fé. O juiz, então, condenou mãe e filhos à morte.

Através das "Atas" podemos saber todos os seus nomes e a forma de martírio de cada um. Nela, eles estão citados como "os sete irmãos mártires": Januário, Félix, Filipe, Silvano, Alexandre, Vidal e Marcial.

Januário, após ser açoitado com varas e ter padecido no cárcere, foi morto com flagelos chumbados. Félix e Filipe foram espancados e mortos a cacetadas. Silvano foi jogado num precipício. Alexandre, Vidal e Marcial foram decapitados.

Apesar de saberem que sofreriam muito antes de morrer, todos mantiveram a firmeza na fé e não renegaram o Cristo. A última a morrer, por decapitação foi Felicidade, que sofreu muitas torturas até a execução no dia 23 de novembro. A tradição cristã reverência todos estes santos mártires na mesma data.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

domingo, 22 de novembro de 2020

AMANHÃ VAI SER OUTRO DIA

Crédito: Frases para Face
por Dom Reginaldo Andrietta
Bispo de Jales (SP)

2020 começa a findar-se. Há um ano, o Brasil do capitalismo ultraliberal, financeiro e dependente, não imaginava que poucos meses depois, a poderosa “mão invisível do mercado”, que supostamente dá vida à economia, necessitaria de uma “intervenção cirúrgica” do Estado, por meio de uma “ajuda pública emergencial”, para dar sobrevida a cerca de 65 milhões de pobres em situação crítica.

Tal intervenção não deixa de ser ingênua para o governo, pois lhe rende dividendos de popularidade, que lhe permitem continuar impulsionando o modelo de “Estado Mínimo”. Bem-aventurados, portanto, os que não se deixam enganar e defendem intervenções mais aguerridas do Estado na economia, que, além de salvar vidas, destinam-se a criar condições socioeconômicas mais equitativas.

As eleições deste ano, em especial seus resultados em muitos municípios, demonstram um revigoramento das forças populares que atribuem ao Estado o papel de agente promotor de uma economia com finalidade social. A participação cidadã, promovida e reivindicada, inclusive pela Igreja Católica, em particular pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pré-anuncia tempos novos.

A Igreja, isenta de interesses particulares, respeita, valoriza e defende o Estado laico, por isso, incentiva a participação de todos os cidadãos e cidadãs, na vida pública. Aliás, a Igreja considera que a democracia exclusivamente representativa é incompleta. A democracia plena implica participação organizada e direta dos cidadãos e cidadãs nas decisões fundamentais concernentes ao bem comum.

Por isso, é dever ético de todos os cidadãos, acompanhar o exercício da gestão pública, exigindo o direito à participação no planejamento e na avaliação das ações governamentais, a humanização dos serviços públicos, políticas públicas em favor, sobretudo das pessoas e famílias mais necessitadas, enfim, inclusão política de todos os segmentos sociais, especialmente a classe trabalhadora.

Aliás, o Papa Francisco, em sua recente Encíclica Fratelli Tutti, enfatiza que “é necessário pensar a participação social, política e econômica segundo modalidades tais que incluam os movimentos populares e animem as estruturas de governo locais, nacionais e internacionais com aquela torrente de energia moral que nasce da integração dos excluídos na construção do destino comum”.

Sem estes “semeadores de mudanças, promotores de um processo para o qual convergem milhões de pequenas e grandes ações interligadas de modo criativo”, segundo o Papa, “a democracia atrofia-se”. Por isso, ele nos convida a “gerar processos sociais de fraternidade e justiça”, revalorizando a política como “uma das formas mais preciosas de caridade, porque busca o bem comum”.

“Pensando no bem comum, hoje precisamos imperiosamente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana.” Assim afirma o Papa Francisco em sua Encíclica Laudato Si, realçando a necessidade de se implementar e apoiar práticas socioeconômicas cooperativistas, bem como mudar o sistema econômico por inteiro.

Este ano que está, pois, se findando de modo trágico para grande parte do povo brasileiro, porta também, crescente solidariedade e participação cidadã organizada desse mesmo povo, como sujeito que protagoniza a democracia plena. Podemos então, reavivar nossa esperança de que “amanhã vai ser outro dia”? Evidentemente, “porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5).

CNBB

Moçambique: “situação está catastrófica”, diz missionário

Aid to the Church in Need
por Fundação AIS

Os relatos que o Padre Edegard Júnior, missionário saletino de 60 anos de idade, tem conseguido recolher nos últimos dias são assustadores.

A missão da congregação de La Salette, em Muidumbe, foi atacada no passado dia 30 de Outubro por grupos armados. Os relatos que o Padre Edegard Júnior, missionário saletino de 60 anos de idade, tem conseguido recolher nos últimos dias são assustadores. “Há muitas mortes, pessoas decapitadas, pessoas raptadas.”

O Padre Edegard, brasileiro, está em Pemba. Neste momento, explicou à Fundação AIS, “todos os missionários da região norte já estão fora da missão desde Março ou Abril”. É na cidade de Pemba, onde se encontram quase todos, que chegam as notícias. “A aldeia onde nós moramos chama-se Muambula e foi atacada no dia 30 de Outubro. Os insurgentes continuam lá, já passa de dez dias, eles dominam essa região e estão a queimar muitas casas, há muita gente assassinada…”

Violência

A destruição é imensa. A aldeia já tinha sido palco de violência por parte destes grupos terroristas em 7 de Abril. Agora, terá sido bem pior. Segundo relatos que vão chegando das pessoas em fuga, “toda a infraestrutura da missão está danificada”, afirma o sacerdote brasileiro. “A nossa casa, a casa das irmãs, a própria igreja, que já tinha sido atacada em Abril, e a nossa rádio comunitária que fica no fundo da Igreja, toda essa infraestrutura foi danificada com os ataques.”

O missionário saletino fala num “sofrimento que dura já há três anos”. Toda a zona de Cabo Delgado está praticamente afetada. O cenário, diz, é desolador. “Nas aldeias não tem mais ninguém. Todos têm medo e eles [os terroristas, que reivindicam pertencer ao Daesh, o Estado Islâmico] estão muito violentos nestes ataques. Então, as pessoas estão ou no mato ou já conseguiram chegar a alguma cidade. Há muitas mortes, pessoas decapitadas, pessoas raptadas…”

A única excepção a norte é a cidade de Mueda onde o exército moçambicano tem um aquartelamento. “Todas as outras [povoações] estão totalmente abandonadas. A ajuda humanitária não dá conta [não consegue atender todos os pedidos] de lonas, barracas, remédios, alimentação. A situação está a ficar catastrófica”, sintetiza o padre brasileiro.

Massacre

Nos últimos dias surgiu a notícia de um massacre de 50 pessoas que terão sido decapitadas. O Padre Edegard não consegue ainda confirmar essa informação.

A Irmã Blanca Nubia Zapata faz um relato semelhante de violência, morte e pessoas em fuga. Em declarações para a sede internacional da Fundação AIS na Alemanha, esta religiosa, que pertence à Congregação das Carmelitas Teresas de São José, fala em pessoas em situação desesperada que chegam todos os dias à cidade de Pemba. “Nas últimas duas semanas, chegaram aqui mais de 12 mil pessoas”, explica a religiosa. “Não aguentamos. Estão a chegar mulheres e crianças, e pessoas mais velhas que andam há dias. Alguns morreram no caminho, nas estradas e nos trilhos florestais.”

A Irmã Blanca faz questão de explicar que “não [se] pode imaginar como são as nossas ‘estradas’… é terrivelmente difícil andar por estes trilhos, e através do campo, três ou quatro dias a fio sem comida, sem água, carregando nas costas os filhos… Há mulheres que deram à luz na estrada…”

Fuga

Relatos que se sucedem sempre com o mesmo denominador: violência, terror, morte e pessoas assustadas e em fuga. O relato da irmã carmelita traduz toda a impotência da Igreja face à dimensão desta tragédia humanitária. “Estamos a fazer tudo o que podemos. Muitas vezes não podemos fazer mais do que ouvir, perguntar como se sentem e ouvi-las. Deixaram tudo para trás, na esperança de escapar com as suas vidas. Tudo o que querem fazer é fugir de lá… estão simplesmente aterrorizados.”

O Padre Kwiriwi Fonseca, um dos responsáveis da comunicação da Diocese de Pemba, diz à Fundação AIS que “esta situação é difícil de explicar”.

No princípio, quando os ataques começaram, ou mesmo no início deste ano, registava-se uma ausência de capacidade de resposta das autoridades. O próprio Bispo de Pemba o afirmou em Janeiro à Fundação AIS. Mas agora, faz questão de notar o Padre Fonseca, “existe um grande envolvimento das forças de segurança”.

Mas, mesmo assim, os ataques continuam e os grupos terroristas aparentam manter a sua capacidade operacional mesmo depois de terem sido veiculadas notícias pelo exército de que dezenas de insurgentes teriam sido eliminados. “É difícil entender”, diz o responsável de comunicação da diocese ao telefone com a AIS em Lisboa. “Estamos inquietos… onde eles acham tanta força?”

Desde que os ataques tiveram início, em Outubro de 2017 até hoje, calcula-se que terão já morrido mais de duas mil pessoas e haverá, segundo a estimativa do Padre Edegard, cerca de “400 mil deslocados internos”.

Há cerca de uma semana, o Bispo de Pemba, D. Luiz Lisboa, acompanhou uma ação da Caritas na praia de Paquitequete, um subúrbio da cidade. A praia passou a ser ancoradouro dos barcos que transportam os deslocados. Em poucos dias, chegaram mais de 10 mil pessoas.

Apelo à comunidade internacional

Muitos destes deslocados tiveram de ficar na própria praia, tiveram de passar a dormir ao relento pois não há forma de acomodar tantas pessoas em tão curto espaço de tempo. O Bispo pede ajuda e usa palavras fortes. “Esta é uma situação humanitária desesperada, para a qual pedimos, de fato, mendigamos, a ajuda e a solidariedade da comunidade internacional”, disse o bispo num vídeo da Caritas enviado para a Fundação AIS.

Perante este cenário de horror, a Fundação AIS decidiu apoiar as dioceses envolvidas no acolhimento aos deslocados com uma ajuda de emergência no valor de 100 mil euros.

É uma ajuda que, como explica Regina Lynch, chefe de Departamento de Projectos da Fundação AIS a nível internacional, “procura aliviar o sofrimento e trauma” destas populações que têm sido vítimas da violência mais brutal. Regina recorda o rasto de destruição e medo causado pelos terroristas desde Outubro de 2017 quando começaram os ataques.

E lembra a quase total indiferença com que a comunidade internacional tem lidado com esta situação. “Queimaram igrejas e destruíram conventos, e também raptaram duas irmãs religiosas. Mas quase ninguém prestou atenção a este novo foco de terror e violência jihadista em África, o qual está a afectar todos, tanto Cristãos como Muçulmanos. Esperemos que haja finalmente uma resposta a esta crise no norte de Moçambique, em nome dos mais pobres e mais abandonados.”

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF