Translate

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O que acontecerá na Vinda do Senhor?

Editora Cléofas

Sabemos que os cristãos esperam o Dia do Senhor, que será o Dia da Parusia, da Manifestação gloriosa de Cristo. Mas, em que consistirá esta Manifestação?

Primeiramente é necessário deixar bem claro que o Dia da Vinda do Senhor não é um dia entre os outros dias: é o Dia: Dia que já não pertence à sequência de dias do nosso modo de contar o tempo… Não é um dia de 24 horas. O Dia do Senhor não pertence mais a este nosso tempo; é um Dia sem fim, um Dia eterno, um Dia que já não é mais iluminado pela luz deste sol, mas pelo próprio Sol de Justiça, Cristo glorioso, pleno do esplendor do Espírito Santo.

Assim sendo, duas coisas devem ser claras para nós:

1. Não podemos marcar a data do Dia do Senhor: este Dia estará fora dos dias, meses e anos; já não pertence ao nosso tempo!

2. Também não podemos descrever o que ocorrerá neste Dia. Isto por um motivo simples: este Dia pertence já à eternidade, à Glória e, assim, não pode ser descrito nem comparado a nada neste mundo! Quando a Escritura usa imagens para falar deste Dia, é somente para nos dar uma ideia distante daquilo que ocorrerá. Querer descrever o final dos tempos é fundamentalismo tolo; é rebaixar o Dia eterno aos nossos pobres dias!

Uma coisa é certa: o Senhor virá, glorioso, pleno do esplendor do Espírito Santo, que o ressuscitou dos mortos. A sua Vinda, que será Manifestação da sua Glória, terá consequências imensas:

1. Primeiramente ficará claro na Vinda do Senhor Jesus, sua relação com o Pai e o Espírito Santo, ou seja, aparecerá a Glória da Trindade que nos salva: é o Pai quem enviará o Cristo glorificado:

“Virão da parte de Deus os tempos de refrigério e enviará aquele que vos é destinado: o Cristo Jesus” (At 3,20). O mesmo Pai que enviou o Filho a primeira vez, enviá-lo-á na sua Parusia, que é iniciativa salvífica do Pai que tanto nos ama! O Pai que tudo criou pelo Filho e para o Filho, e quer através dele, tudo levar à plenitude, tudo glorificar (cf. Cl 1,16). Este Filho vem glorificado pelo Espírito que o Pai derramou sobre ele na Ressurreição (cf.Rm 1,3s). É o Espírito quem glorifica o Filho na sua natureza humana, morta e ressuscitada; é na potência do Espírito que o Cristo aparecerá diante do mundo com Senhor e Juiz. Ele vem,pleno do Espírito, para encher da Glória do Espírito todas as coisas:

“A este Jesus Deus o ressuscitou. Exaltado pela direita de Deus, Ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,32s; cf. Jo 14,26; 20,19-23); “Sucederá os últimos dias, diz o Senhor, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne”… (At 2,17).

2. A Vinda do Cristo será também manifestação da Glória do Senhor ressuscitado. Desde a Ressurreição Jesus assume pleno domínio sobre todas as coisas, mas este domínio não se exerce ainda em toda a plenitude. Jesus já é o Senhor; a salvação já aconteceu; o seu domínio é real, mas não ainda plenamente manifestado. Quando ele se manifestar, então sim, tudo ser-lhe–á submetido para que tudo entre na Glória do seu Espírito e chegue até o Pai. A Parusia manifestará em toda a criação, e em nós, particularmente, aquela plenitude de Vida que, em Cristo, já é uma realidade plena:

“Vi o céu aberto e eis um cavalo branco. Quem o montava chama–se Fiel e Verdadeiro e é com justiça que julga e faz guerra. Seus olhos são como chamas de fogo, traz na cabeça muitos diademas e tem um nome escrito que ninguém conhece, só ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue e seu nome é Verbo de Deus. Seguem-no os exércitos celestes em cavalos brancos, vestidos de linho branco puro. De sua boca sai uma espada afiada para ferir as nações. Deverá governá-las com cetro de ferro e pisar o lagar do vinho com o furor da cólera de Deus Todo-poderoso. Sobre o manto e sobre a coxa está escrito seu nome: Rei dos reis, Senhor dos senhores” (Ap 19,11-16).

Neste texto aparece o domínio de Cristo sobre a história: ele é a realização da nova criação, gloriosa, feliz, livre do pecado.

A nova criação coincide com a Vinda do Cristo: ele vem para trazer a glória da salvação, pois é e será sempre o Salvador: “Do mesmo modo também Cristo, que se ofereceu uma vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá, pela segunda vez, sem pecado para os que o esperam a fim de receberem a salvação” (Hb 9,28).

3. A Vinda do Cristo será também glorificação e realização plena da Igreja. Se ela é o Corpo de Cristo, a Glória da Cabeça (Cristo) glorificará plenamente todo o Corpo. Esta ideia aparece muito clara no Apocalipse, onde a Igreja é apresentada como a Jerusalém gloriosa, toda enfeitada como Esposa do Cordeiro, toda pura e toda iluminada pela luz do próprio Cristo ressuscitado(cf. Ap 21).

4. A Manifestação do Cristo será também glorificação do homem pela ressurreição. O cume da obra de Jesus e a plenitude da Igreja serão também a plenitude do homem: “Na verdade Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morrem. Com efeito, assim como por um homem veio a morte, assim também por um homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em Cristo todos reviverão. Cada qual, porém, em sua ordem: como primícias, Cristo, em seguida os que forem de Cristo por ocasião de sua vinda. Depois será o fim, quando entregar o reino a Deus Pai” (1Cor 15,20-24).

A Vinda do Cristo será para nós Dia da Ressurreição, Dia em que todos ressuscitarão em seus corpos revestidos do mesmo Espírito que ressuscitou o corpo do Cristo! Assim, a Jerusalém celeste, que é a Igreja, estará plenamente gloriosa, com todos os seus filhos ressuscitados pela Glória do Espírito, todos como membros do Cristo no seio amoroso do Pai!

Retirado do livro: “Escatologia, Sobre o Fim do Mundo”. Dom Henrique Soares da Costa. Ed. Cléofas.

Editora Cléofas

ADVENTO E NATAL – TEMPO DE ESPERANÇA E DE ORAÇÃO

Crédito: Canção Nova

Por Dom Aloísio Alberto Dilli

Bispo de Santa Cruz do Sul (RS)

ADVENTO E NATAL – TEMPO DE ESPERANÇA E DE ORAÇÃO

Caros diocesanos. Vivemos em 2020 um ano muito diferente dos outros, em que uma pandemia nos deixou apreensivos, inseguros, com medo e até ameaçados pela morte. A saúde do planeta sentiu-se fragilizada diante de um vírus de tamanho invisível. Até nos acostumamos a ouvir frases de impacto, como essa: “O planeta está doente”. O coronavírus Covid 19 colocou em crise desesperadora o poder, o mercado e seus endeusados objetivos de consumo e de bem-estar. Perto de nós, certamente também nos damos conta das graves consequências sociais, políticas, econômicas e não deixaram de aparecer sinais de crise existencial que questionaram o próprio sentido da vida, apontando para sinais preocupantes de desesperança. Outros perderam a capacidade do diálogo, se tornaram intolerantes ou viveram agressivos e em solidão. Não perceberam a presença de Deus em meio ao sofrimento e à difícil situação de saúde que se havia criado; ou somente viram um Deus castigador ou até ausente ou indiferente. Situações como estas se parecem como um Natal, apenas com um Papai Noel na manjedoura, figura fictícia e mítica de um natal pagão e que não consegue dar sentido à nossa vida, sobretudo em momentos de dificuldade.

Mas o tempo da pandemia também nos revelou que é hora de voltar os olhos para o essencial da nossa vida: sua origem, seu sentido, seus valores, seu destino. Como cristãos, experimentamos durante a quarentena o quanto dependemos da graça divina e da solidariedade dos outros. Talvez nunca sentimos tanta necessidade de celebrar a presença de Deus na Páscoa de nossa vida, como neste ano, para unir nossos medos e sofrimentos à cruz do Senhor, e de inspirar-nos na ressurreição de Jesus Cristo a fim de podermos viver a esperança na saúde e na vida nova, e mesmo na vida eterna. Sentimos necessidade de lembrar que Jesus Cristo vive e que nos quer vivos e que Ele está conosco, também nas horas difíceis, em que a cruz do sofrimento se apresenta.

Em 2020 desejamos celebrar um Natal com a presença do Emanuel – Deus conosco! Com ou sem pandemia, será Ele nossa alegria, nossa esperança e nossa luz. Não percamos esta oportunidade! Faz tão bem cantarmos neste tempo de pandemia: “Vem, Senhor Jesus, o mundo precisa de Ti”!

Estamos no advento, tempo de preparação para o santo Natal. Um Natal sem a presença de Jesus é vazio e será mais uma festa, como tantas outras. O verdadeiro Natal consiste em acolher Jesus como nosso salvador, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Com Ele poderemos dar novo sentido a todas as situações de nossa vida, até mesmo à pandemia do Covid-19. Jesus Cristo vem apagar a escuridão do nosso pecado e acender nova luz para devolver-nos o horizonte da esperança e a alegria de viver e conviver. Ele vem ao nosso encontro para que nós possamos ir a Ele e receber seu perdão, iniciando vida nova e melhor.

O Advento é tempo de renovar a esperança e tempo propício de oração. Por isso rezemos com a Igreja: “Ó Deus, Pai de misericórdia, a encarnação de vosso Filho mereceu-nos novo sentido para a vida. Nele fomos recriados com dignidade sem par, que nos tornou filhos e herdeiros, vocacionados a participar de vossa vida divina. Concedei-nos a graça de irmos vigilantes ao encontro de seu nascimento, com as lâmpadas acesas, sobretudo neste temido tempo da pandemia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém”!

CNBB

Papa aos jovens: seremos aquilo que escolhermos ser, tanto no bem quanto no mal

Guadium Press
Fomos feitos para realizar os sonhos de Deus neste mundo, fazendo grandes escolhas cuja beleza depende do amor com que foram feitas.

Cidade do Vaticano (23/11/2020, 12:05, Gaudium Press) Na manhã de domingo, 22/11, o Papa Francisco celebrou a missa da Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, na Basílica de São Pedro.

A celebração foi ocasião para que jovens do Panamá entregassem aos jovens portugueses os símbolos da Jornada Mundial da Juventude que será celebrada em Portugal, em 2023 e para que o Papa Francisco dedicasse sua homilia sobretudo a uma catequese junto aos jovens .

O Papa iniciou sua homilia recordando o Evangelho que acabava de ser proclamado:
“A página que acabamos de ouvir é a última do Evangelho de Mateus antes da Paixão: antes de nos doar o seu amor na cruz, Jesus transmite-nos suas últimas vontades. Ele nos diz que o bem que fizermos a um dos seus irmãos mais pequeninos, famintos, sedentos, estrangeiros, necessitados, doentes e encarcerados, será feito a Ele”.

São as obras de misericórdia que tornam eterna nossa vida

Segundo o Pontífice, “o Senhor nos entrega a lista dos dons que deseja para as núpcias eternas conosco no Céu: são as obras de misericórdia que tornam eterna a nossa vida”.
Francisco afirmou, então, a seus jovens ouvintes: “Cada um de nós pode interrogar-se: coloco-as em prática? Ajudo alguém que não me pode restituir? Sou amigo de uma pessoa pobre?”.
“Eu estou ali”, diz Jesus, nos pobres. Eu estou ali, diz Jesus também aos jovens que “procuram realizar os sonhos da vida”.

Fomos feitos para realizar os sonhos de Deus neste mundo, fazendo grandes escolhas cuja beleza depende do amor com que foram feitas.
Guadium Press

Realizem os sonhos de Deus neste mundo, não se contentem com o que é devido

Queridos jovens, disse Francisco, queridos irmãos e irmãs, não renunciemos aos grandes sonhos. Não nos contentemos com o que é devido. O Senhor não quer que restrinjamos os horizontes, não nos quer estacionados nas margens da vida, mas correndo para metas elevadas, com júbilo e ousadia. Não fomos feitos para sonhar os feriados ou o fim de semana, mas para realizar os sonhos de Deus neste mundo.

Deus nos fez capazes de sonhar afim de que possamos abraçar a beleza da vida

Francisco disse aos jovens que Deus “tornou-nos capazes de sonhar, para abraçar a beleza da vida. E as obras de misericórdia são as obras mais belas da vida”.
Para o Papa, “as obras de misericórdia vão ao centro de nossos grandes sonhos. Se você tem sonhos de verdadeira glória, não da glória passageira do mundo, mas da glória de Deus, esta é a estrada; pois as obras de misericórdia dão mais glória a Deus do que qualquer outra coisa”.

“Ouçam bem isto: –recomendou o Pontífice– “as obras de misericórdia dão glória a Deus mais do que qualquer outra coisa. Seremos julgados no final, sobre as obras de misericórdia.”

Escolhas banais levam a uma vida banal; escolhas grandes tornam a vida grande

Ainda em sua homilia, o Papa perguntou aos fiéis presentes na Basílica de São Pedro: “Mas, de onde se começa para realizar grandes sonhos”?

Para responder, Francisco recordou que o Evangelho também nos fala disto:
“No momento do juízo final, o Senhor se baseia nas nossas escolhas. Quase parece que não julga: separa as ovelhas dos cabritos, mas ser bom ou mau depende de nós. Ele apenas tira as consequências de nossas escolhas, as traz à luz e as respeita. Assim a vida é o tempo das escolhas vigorosas, decisivas e eternas.”

Francisco, então, ensinou que “Escolhas banais levam a uma vida banal; escolhas grandes tornam a vida grande. De fato, tornamo-nos aquilo que escolhemos, tanto no bem quanto no mal”. E deu exemplos:
“Se escolhemos roubar, tornamo-nos ladrões; se escolhemos pensar em nós mesmos, tornamo-nos egoístas; se escolhemos odiar, tornamo-nos furiosos; se escolhemos passar horas no celular, tornamo-nos dependentes. Mas, se escolhermos Deus, nos tornamos mais amados a cada dia e, se optarmos por amar, nos tornamos felizes. É assim, porque a beleza das escolhas depende do amor. Não se esqueçam disso! Jesus sabe que, se vivermos fechados e na indiferença, ficamos paralisados; mas, se nos dedicarmos aos outros, nos tornamos livres”.

“O Senhor da vida nos quer cheios de vida e nos dá o segredo da vida: só a possuímos doando-a”, destacou o Papa.

Treinar a escolher bem: escolher o que lhe faz bem

“Todos os dias se apresentam muitas opções no coração”, disse ainda o Papa, dando um último conselho para se treinar a escolher bem.”

“Se olharmos dentro de nós, veremos que muitas vezes surgem duas perguntas diferentes. A primeira: o que me apetece fazer? É uma pergunta que engana frequentemente, porque insinua que o importante é pensar em si mesmo e satisfazer todos os desejos e impulsos que me vêm.”

“Mas a pergunta que o Espírito Santo sugere ao coração é outra: não aquilo que lhe apetece, mas aquilo que lhe faz bem. ”

“A escolha diária situa-se aqui: escolher entre o que me apetece fazer e o que me faz bem. Desta busca interior, podem nascer escolhas banais ou escolhas vitais, depende de nós”. (JSG)

https://gaudiumpress.org/

Dos Tratados sobre João, de Santo Agostinho, bispo

Sacrifício Vivo e Santo

(Tract.35,8-9:CCL36,321-323)            (Séc.V)

 

Chegarás à fonte, verás a luz

Nós, cristãos, em comparação com os infiéis, já somos luz; porque, como diz o Apóstolo: Outrora éreis trevas; agora, luz no Senhor. Andai como filhos da luz (Ef 5,8). E em outro lugar: Passou a noite, o dia se aproximou; rejeitemos, pois, as obras das trevas e revistamos as armas da luz; como em pleno dia caminhemos com dignidade (Rm 13,12-13).

Todavia, em comparação com aquela luz a que chegaremos, ainda é noite até mesmo o dia em que estamos. Ouve o apóstolo Pedro, quando do magnífico esplendor desceu até ele a voz dirigida a Cristo Senhor: Tu és meu Filho muito amado, em que pus minhas complacências. Esta voz, continua, nós a ouvimos vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo (2Pd 1,17-18). Já que, porém, nós não estivemos lá e não ouvimos então esta voz do céu, o mesmo Pedro nos fala: E a palavra profética se tornou mais segura para nós; fazeis bem em dar-lhe atenção como a uma lâmpada em lugar escuro, até que brilhe o dia e a estrela da manhã desponte em vossos corações (cf. 2Pd 1,19).

Quando, pois, vier nosso Senhor Jesus Cristo e, segundo diz o apóstolo Paulo, iluminar tudo quanto se oculta nas trevas e manifestar os pensamentos do coração, para que receba cada um de Deus seu louvor (1Cor 4,5), então num dia assim não haverá mais necessidade de lâmpadas:não se lerá mais o profeta, não se abrirá o volume do Apóstolo, não buscaremos o testemunho de João, não precisaremos do próprio Evangelho. Portanto, todas as Escrituras serão retiradas do centro onde, na noite deste mundo, elas se acendiam como lâmpadas a fim de não ficarmos nas trevas.

Afastadas todas estas luzes, não tendo mais de brilhar para nós, indigentes, e dispensando o auxílio que por esses homens de Deus nos era dado, vendo conosco aquela verdadeira e clara luz, o que é que veremos? Onde nosso espírito irá alimentar-se? Por que se alegrará com o que vê? Donde virá aquele júbilo que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem subiu jamais ao coração do homem? (cf. 1Cor 2,9). O que é que veremos?

 Eu vos peço: amai comigo, correi crendo comigo, desejemos a pátria celeste, suspiremos pela pátria do alto, sintamo-nos como peregrinos aqui. Que veremos então? Responda o evangelho: No princípio era o Verbo e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1,1). No lugar de onde te banhou o orvalho, chegarás à fonte. Aí, de onde o raio de luz, indiretamente e como por rodeios, foi lançado a teu coração tenebroso, verás a luz sem véus; vendo-a, recebendo-a, serás purificado. Caríssimos, diz João, somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que seremos; sabendo que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal qual é (1Jo 3,2).

Percebo que vossos sentimentos sobem comigo para as alturas, mas o corpo corruptível pesa sobre a alma; e a habitação terrena com a multiplicidade dos pensamentos oprime o espírito (Sb 9,15). Também eu irei deixar de lado este livro, saireis também vós, cada um para sua casa. Sentimo-nos bem na luz comum, muito nos alegramos, exultamos de verdade; mas, ao afastar-nos uns dos outros, dele não nos afastemos.


https://liturgiadashoras.online/

Perseguição aos cristãos no mundo é denunciada nesta Quarta-Feira Vermelha

© Mazur/catholicchurch.org.uk

Tons vermelho-sangue em monumentos emblemáticos recordam o martírio cristão em pleno século XXI.

Perseguição aos cristãos no mundo é denunciada nesta Quarta-Feira Vermelha (“Red Wednesday”), evento organizado pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN). A edição 2020 é nesta quarta, 25 de novembro, com o objetivo de chamar as atenções mundiais para a perseguição contra os cristãos em todo o planeta.

Thomas Heine-Geldern, presidente da ACN, comenta:

“A covid-19 pode ter trazido muitas mudanças, mas os cristãos continuam sendo a comunidade religiosa mais perseguida no mundo. Para aumentar a conscientização sobre esse fato doloroso, catedrais, igrejas e edifícios públicos serão iluminados com luz vermelha em muitos países de quatro continentes”.

A iniciativa de projetar tons vermelhos-sangue sobre edifícios emblemáticos foi lançada no Brasil em 2015, no Cristo Redentor. Desde então, o vermelho do martírio cristão em pleno século XXI foi projetado em muitas outras cidades mundo afora, dando origem à “Red Wednesday”.

BRAZIL
Guilherme Silva | Aid to the Church in Need/Guilhe

Brutalidade jihadista em Moçambique

Neste ano, um dos objetivos prioritários é denunciar a trágica situação da província de Cabo Delgado, em Moçambique. Desde 2017, a região é alvo permanente do grupo jihadista Estado Islâmico na África Central. Os fanáticos já mataram mais de 2 mil pessoas desde então e forçaram mais de 500 mil a fugirem da violência extrema do bando – que, neste mês, chegou a degolar 50 pessoas no campo de futebol de um vilarejo e a esquartejar seus corpos em seguida. Havia cerca de 15 crianças e adolescentes entre as vítimas do ataque monstruoso e covarde. Uma das poucas vozes de denúncia sobre a aberração que vem acontecendo em Moçambique é o bispo brasileiro dom Luiz Fernando Lisboa, da diocese de Pemba, situada em Cabo Delgado.

Relatório sobre cristãos presos injustamente

Além da iluminação simbólica de monumentos em diversos países, do Canadá às Filipinas, a “Red Wednesday 2020” marcará a divulgação do relatório “Presos em Nome da Fé”, sobre cristãos encarcerados injustamente.

O relatório destacará a situação particularmente dramática dos cristãos em 4 países: Eritreia e Nigéria, na África, e China e Paquistão, na Ásia. Nos quatro casos, a opressão sistemática contra os cristãos tem raízes no fanatismo religioso ou ideológico: extremismo islâmico e ditadura comunista.

Aleteia

Esta é a oração para a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023

Logo oficial da JMJ Lisboa 2023.
Fonte: https://lisboa2023.org/pt

Lisboa, 23 nov. 20 / 12:59 pm (ACI).- O Comitê Organizador da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 divulgou no último dia 21 de novembro a oração oficial para este evento, que terá como tema “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39).

Nesta prece, os jovens se dirigem a Nossa Senhora da Visitação, pedindo à Virgem para que a JMJ “seja ocasião de testemunho e partilha, convivência e ação de graças”.

Nas redes sociais oficiais da JMJ Lisboa 2023, incentivam os jovens a rezar esta oração “a caminho da escola, da faculdade, do trabalho, em casa, em família, com amigos ou na catequese”.

“Somos todos convidados a fazer caminho com Maria. Partimos sem demora, serenos e alegres, ao encontro de Jesus. Ajuda-nos Nossa Senhora da Visitação a levar Cristo a todos!”, completam.

Ainda na caminhada rumo à JMJ que acontecerá em Lisboa em 2023, no último domingo, Solenidade de Cristo Rei do Universo, jovens portugueses receberam de representantes do Panamá a Cruz peregrina e do ícone da Salus Populi Romani (Protetora do Povo Romano).

A entrega aconteceu durante Missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, no Vaticano. Na ocasião, o Pontífice assinalou que este “é um passo importante na peregrinação que nos levará a Lisboa, em 2023”.

A seguir, confira a oração oficial para a Jornada Mundial da Juventude 2023:

Nossa Senhora da Visitação,
que partistes apressadamente para a montanha ao encontro de Isabel,
fazei-nos partir também ao encontro de tantos que nos esperam
para lhes levarmos o Evangelho vivo:
Jesus Cristo, vosso Filho e nosso Senhor!
Iremos apressadamente, sem distração nem demora,
antes com prontidão e alegria.
Iremos serenamente, pois quem leva Cristo leva a paz,
e o bem-fazer é o melhor bem-estar.
Nossa Senhora da Visitação,
com a vossa inspiração, esta Jornada Mundial da Juventude
será a celebração mútua do Cristo que levamos, como Vós outrora.
Fazei que ela seja ocasião de testemunho e partilha,
convivência e ação de graças,
procurando cada um o outro que sempre espera.
Convosco continuaremos este caminho de encontro,
para que o nosso mundo se reencontre também,
na fraternidade, na justiça e na paz.
Ajudai-nos,
Nossa Senhora da Visitação,
a levar Cristo a todos, obedecendo ao Pai, no amor do Espírito! 

ACI Digital

Descobriu o vírus da AIDS, ganhou o Nobel, é agnóstico e diz: Lourdes é “algo inexplicável”

mingjingnews
  • Autor/Fonte: Jornal “La Croix” (via http://www.portaluz.org, em 08.11.2013)
  • Tradução: Carlos Martins Nabeto

– O renomado bacteriólogo Luc Montagnier não podia ficar calado nem alheio às evidências explícitas – inexplicáveis para o cientista – que ocorrem em Lourdes.

Um cientista agnóstico, que falando acerca das propriedades da água surpreenda ao apontar: “a água possui propriedades extraordinárias, talvez também a de Lourdes”, não passaria despercebido.

Em 1983 ele revolucionou o mundo científico por ser um dos descobridores do vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), causador da AIDS. Por isso, em 2008 foi contemplado com o prêmio Nobel de Medicina e o Príncipe das Astúrias. Hoje, Luc Montagnier tornou a causar espanto ao admitir que nos milagres de Lourdes “existe algo inexplicável”.

Sendo agnóstico, o bacteriólogo francês que conduzia uma elogiosa (por sua independência) pesquisa sobre os componentes da água do Santuário, não pôde resistir e dedicou um tempo extra para analisar os milagres que ali ocorrem, cuja intercessão para os fiéis provém da Santíssima Virgem Maria.

Surpreso, acabou por apontar em uma entrevista para o Site católico francês “La Croix” que a ciência e a medicina têm percorrido um longo caminho para curar as pessoas, “no entanto sabemos muito pouco. As recuperações milagrosas de Lourdes são muito raras, mas são reconhecidas. Neste lugar, existe claramente um efeito do contato social, da mente e do corpo”.

A ÁGUA DE LOURDES SOB O MICROSCÓPIO

Consultada a sua opinião acerca das curas inexplicáveis ligadas a Lourdes, onde para ele se incorpora um elemento bastante distante, como é a devoção, Montagnier afirma não excluir nada, diferentemente de outros colegas seus. “Levo em conta o conhecimento científico, que é um pouco novo neste momento. Através de estudos com alguns colegas, deparei-me com o fato de a água possuir algumas propriedades extraordinárias (…) talvez também a de Lourdes. Neste momento, não disponho de dados específicos, mas sei que a água pode manter estruturas que ficarão impressas no DNA e pode transferir a informação genética. Tentarei adaptar os meus conhecimentos com o fenômeno de Lourdes”.

O MAL DE PARKINSON DO BEATO JOÃO PAULO II

Contrariamente ao que se possa pensar, a estima do agnóstico Montagnier pela Igreja é grande. Ele ajudou o beato João Paulo II a mitigar o avanço do mal de Parkinson de que sofria e, a partir desta experiência, emite a sua opinião sobre uma das causas pelas quais será elevado à glória dos altares: precisamente pela milagrosa recuperação de uma religiosa que estava acometida da mesma enfermidade de que padecia o beato Santo Padre.

“Tento encontrar explicações racionais para a cura e sei que talvez não possa fazê-lo. As coisas continuam sem explicação até os nossos dias e provavelmente nunca encontrarão resposta”, conclui.

LOURDES NO CORAÇÃO DA IGREJA

O relato católico sobre Nossa Senhora de Lourdes faz referência a 18 aparições da Virgem Maria presenciadas por Bernadette Soubirous (1844-1879) na gruta de Massabielle, às margens do rio Gave de Pau, proximidades do povoado de Lourdes. A primeira destas aparições ocorreu em 11 de fevereiro de 1858 e a última em 7 de abril desse mesmo ano.

O coração da mensagem de Lourdes comunicado pela Virgem Maria a Bernadete é que ela (a Virgem Maria) é a Imaculada Conceição; que todos somos convidados a ter fé na vida eterna e aceitar hoje viver a cruz, sustentados pela oração do rosário, realizando penitência e praticando a humildade.

Uma multidão de católicos visita todos os anos o Santuário de Lourdes, na França, sabendo que as aparições da Virgem Maria são um veículo da graça de Deus. O Papa Pio IX autorizou o Bispo local para que permitisse a veneração da Virgem Maria em Lourdes em 1862, 17 anos antes da morte de Bernadette.

Desde aquele momento foram registradas mais de 7.000 curas inexplicáveis em Lourdes, embora somente algumas dezenas se tenham sido considerado milagres. E isso em razão das rigorosas condições estabelecidas para o estudo destas curas.

Entretanto, dos 69 milagres reconhecidos, 48 estão diretamente relacionados com a água de Lourdes. Trata-se da fonte que flui até a Gruta das Aparições, que a própria Bernadette Soubirous encontrou escavando a terra, seguindo as orientações da Santíssima Virgem Maria.

Portal Veritatis Splendor

SS. ANDRÉ DŨNG LẠC, PRESBÍTERO E COMPANHEIROS, MÁRTIRES

Cruz da Terra Santa

Origens

A festa católica do dia de hoje celebra um grupo grande: são cento e dezessete cristãos que foram martirizados no Vietnã. Eles foram liderados, em sua maioria, pelo padre e Santo chamado André Dung-Lac. Foram beatificados pelo papa Leão XIII em 1900. A maioria desses cristãos viveu e exerceu seu ministério evangelizador entre os anos de 1830 a 1870.

Santo André Dung-Lac

Dentre esses cristãos destacou-se o padre André Dung-Lac, um dominicano que foi mestre e exemplo para todos na Igreja Católica do Vietnã. Ele recebeu a ordenação sacerdotal no ano 1823. Em sua missão, foi pároco e missionário em várias partes do Vietnã.

Prisões e morte

Foi preso várias vezes e libertado das prisões pelos fiéis, que pagavam resgate e conseguiam a sua liberdade. Ele, porém, discordava desses resgates e dizia: "Aqueles que morrem pela fé sobem ao céu. Ao contrário, nós que nos escondemos continuamente gastamos dinheiro para fugir dos perseguidores. Seria melhor deixar-nos prender e morrer". Por fim, ele acabou morrendo por decapitação, por ordem do governo local. Morreu por não renunciar à fé cristã. Por isso, é considerado mártir e santo.  Sua morte, bem como a dos outros 116 ocorreu no dia 24 de novembro de 1839, na cidade de Hanói, no Vietnã.

O Evangelho no Vietnã

A história da evangelização do Vietnã começou no século XVI, através de missionários que partiram da Europa, sendo eles de várias congregações e ordens religiosas. A Igreja vietnamita enfrentou nada menos que quatro séculos de perseguições terríveis e sangrentas. Milhares de cristãos foram assassinados, martirizados e massacrados tanto em regiões periféricas do país, como nas montanhas e nos campos, quanto nas grandes cidades. Bispos, padres, catequistas, pais e mães de família, jovens, seminaristas, ninguém escapou da perseguição.

Discípulos e missionários

De acordo com os relatos do grande Martirológico Romano-Monástico, todas as vítimas da perseguição vietnamita eram cristãos que tinham se convertido no século XVI por missionários dominicanos. Mesmo esses missionários, que introduziram o Evangelho no Vietnã, foram mortos sob a acusação de introduzirem uma religião estranha no país.

O comunismo persegue os cristãos

Houve um período de calma que favoreceu a Igreja do Vietnã. Essa calma durou setenta anos. Nesse tempo, a igreja conseguiu promover sua reorganização, formando várias dioceses, com centenas de milhares de cristãos fervorosos, inspirados pelo sangue de seus mártires. Porém, os martírios, os assassinatos de cristãos pelo simples fato de serem cristãos voltaram ao Vietnã quando o comunismo foi introduzido no país. No ano 1955 chineses e russos destruíram todas as instituições cristãs no país. O governo comunista prendeu e matou bispos, padres e leigos de maneira cruel e sem limites. Alguns poucos conseguiram fugir através de uma única maneira possível: embarcações frágeis, sem recursos que, na maioria das vezes, naufragaram, matando outros milhares de cristãos.

O Evangelho venceu

Porém, apesar de toda essa tenebrosa perseguição comunista, o Evangelho de Jesus Cristo se manteve perseverante no coração dos cristãos vietnamitas. E, ao contrário do que os governos pretendiam, o sangue dos mártires, também no Vietnã, foi semente de novos e fervorosos cristãos. No ano 1988 o Papa João Paulo II celebrou a canonização desses mártires, liderados por Santo André Dung-Lac, cuja celebração ficou instituída para o dia em que foram mortos, 24 de novembro.

Oração a Santo André Dung-Lac e companheiros

“Deus, fonte e origem de toda a paternidade, que fortalecestes os mártires Santo André e seus Companheiros na fidelidade à cruz do vosso Filho até ao derramamento de sangue, concedei-nos, por sua intercessão, que, manifestando o vosso amor aos homens nossos irmãos, possamos chamar-nos e ser realmente vossos filhos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo. Amém.”

Portal Cruz da Terra Santa

S. CRISÓGONO, MÁRTIR DE AQUILEIA

S. Crisógono, capela arquiepiscopal, Ravena 

Segundo fontes fidedignas, Crisógono era um soldado romano, que se converteu ao cristianismo e se tornou sacerdote. Em Roma, exerceu o cargo de vigário, por dois anos. Por isso, ao invés de ser preso, com a chegada da perseguição de Diocleciano, ficou confinado na casa do nobre Rufino, que também se converteu com todos os membros da sua família. Este Santo ficou conhecido por ter convertido à fé de Cristo também Anastácia, filha do ilustre Pretextado e esposa de Públio, que a segregou em sua casa, por causa da sua religião. Ajudada por uma velha criada, Anastácia conseguia sair, de vez em quando, para levar comida aos prisioneiros cristãos. Começou a se corresponder com Crisógono, que a incentivou a continuar a professar a fé.

Martírio em Aquileia

Por ordem do imperador, Crisógono foi enviado a Aquileia, onde lhe foram oferecidos ofícios na prefeitura e no consulado, contanto que concordasse em renegar à sua fé. Naturalmente, ao recusar a proposta, foi condenado à morte por decapitação. A sentença foi executada em 24 de novembro de 303, em Acquae Gradatae, localidade atravessada pela Via Gemina, a cerca de 20 quilômetros da cidade. Seu corpo, atirado ao mar, foi encontrado na praia por três mulheres cristãs, Chione, Ágape e Irene, que moravam, não muito longe, com o idoso sacerdote Zoilo, em um lugar chamado Ad Saltus, onde deram ao mártir uma sepultura digna.

Outras duas hipóteses sobre a sua identidade

Nem todas as fontes, que falam sobre a biografia de São Crisógono, concordam com alguns aspectos da sua vida. Todas estão de acordo com o seu martírio, que aconteceu por ódio à fé cristã, por ordem de Diocleciano, em Aquileia em 303. Segundo outra hipótese, Crisógono era natural de Aquileia e amigo dos irmãos Câncio, Canciano e Cancianila, também Santos. Por fim, segundo ainda outra fonte, Crisógono era Bispo da cidade de Aquileia, que viveu entre o final do III século e início do IV.

Vatican News

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Papa Francisco: as situações ‘covid’ e as três solidões da minha vida

A capa do livro do Papa "Ritorniamo a sognare"  

Publicamos um trecho do livro "Ritorniamo a sognare" (Voltemos a sonhar) escrito pelo Pontífice com o jornalista Austen Ivereigh, que será publicado em dezembro.

PAPA FRANCISCO

Na minha vida tive três situações "Covid": a doença, a Alemanha e Córdoba.

Quando eu tinha 21 anos contraí uma doença muito grave, tive minha primeira experiência de limitação, dor e solidão. Mudaram minhas coordenadas. Durante meses eu não sabia quem eu era, se iria morrer ou viver. Mesmo os médicos não sabiam se eu conseguiria sobreviver. Lembro-me de um dia ter pedido a minha mãe, abraçando-a, para me dizer se eu ia morrer. Eu estava no segundo ano do seminário diocesano em Buenos Aires.

Lembro-me da data: era 13 de agosto de 1957. Foi levado ao hospital, ao constatarem que eu não tinha o tipo de gripe que é tratada com aspirina. Inicialmente tiraram um litro e meio de água do meu pulmão, depois lutei entre a vida e a morte. Em novembro, fiz uma cirurgia para remover o lobo superior direito do meu pulmão. Sei por experiência própria como se sentem os pacientes com coronavírus quando lutam para respirar em um respirador.

Daqueles dias recordo-me de duas enfermeiras em particular. Uma era a enfermeira-chefe, uma irmã dominicana que tinha sido professora em Atenas antes de ser enviada a Buenos Aires. Soube mais tarde que, depois que o médico saiu da sala ao terminar o primeiro exame, ela disse às enfermeiras para dobrar a dose do tratamento que ele havia prescrito – à base de penicilina e estreptomicina - porque sua experiência lhe dizia que eu estava morrendo. A Irmã Cornelia Caraglio salvou minha vida. Graças a seu contato habitual com os doentes, ela sabia mais do que o médico o que os pacientes precisavam, e teve a coragem de usar essa experiência.

Outra enfermeira, Micaela, fez a mesma coisa quando eu sofria com fortes dores. Ela me dava secretamente doses extras de calmantes fora do horário previsto. Lutaram por mim até o fim, até eu melhorar. Ensinaram-me o que significa usar a ciência e o saber para ir além, para responder às necessidades específicas.

Daquela experiência aprendi outra coisa: como é importante evitar consolos superficiais. As pessoas vinham me visitar e me diziam que eu ficaria bem, que nunca mais sentiria toda aquela dor: palavras sem sentido e vazias, ditas com boas intenções, mas nunca chegaram ao meu coração. A pessoa que me tocou mais profundamente, com seu silêncio, foi uma das mulheres que marcaram minha vida: Irmã María Dolores Tortolo, minha professora quando criança, que me preparou para minha Primeira Comunhão. Veio me ver, pegou minha mão, me deu um beijo e ficou em silêncio por um longo tempo. Depois me disse: "Você está imitando Jesus". Não precisava dizer mais nada. Sua presença, seu silêncio, me deram um profundo consolo.

Depois dessa experiência, tomei a decisão de falar o mínimo possível quando visito pessoas doentes. Eu só lhe dou a mão.

[…]

Poderia dizer que o período alemão, em 1986, foi a "Covid do exílio". Foi um exílio voluntário, porque fui para estudar a língua e procurar material para concluir minha tese, mas me sentia como um peixe fora d'água... Costumava fazer algumas caminhadas até o cemitério em Frankfurt e de lá se podia ver os aviões decolando e pousando; eu estava nostálgico por minha terra natal, para voltar. Lembro-me do dia em que a Argentina ganhou a Copa do Mundo. Eu não quis ver o jogo e soube que ganhamos só no dia seguinte, lendo os jornal. Na minha aula de alemão ninguém falou sobre isso, mas quando uma jovem japonesa escreveu "Viva a Argentina" no quadro negro, os outros riram. O professor entrou, disse para apagar e fechou o assunto.

Era a solidão de uma vitória sozinho, porque não tinha ninguém para compartilhá-la; a solidão de não fazer parte de nada, o que faz de você um estranho. Leva para longe de seu lugar e coloca-o em um lugar que você não conhece, e nesse lugar você se dá conta que o que realmente importa é lugar que você deixou.

Às vezes, o desenraizamento pode ser uma cura ou uma transformação radical. Este foi meu terceiro "Covid" foi quando fui enviado para Córdoba de 1990 a 1992. A raiz deste período remonta ao meu modo de comandar, primeiro como provincial e depois como reitor. Eu certamente tinha feito algo de bom, mas às vezes eu era muito severo. Em Córdoba eles me fizeram o favor e tinham razão.

Passei um ano, dez meses e treze dias naquela residência jesuíta. Celebrava a missa, confessava e oferecia direção espiritual, mas nunca saia de casa, exceto quando ia aos correios. Foi uma espécie de quarentena, de isolamento, como aconteceu com muitos de nós nos últimos meses, e me fez bem. Isso me levou a amadurecer ideias: eu escrevia e rezava muito. Até então eu tinha tido uma vida ordenada na Companhia, baseada na minha experiência primeiro como professor dos noviços e depois de governo a partir de 1973, quando fui nomeado provincial, até 1986, quando terminei meu mandato como reitor. Tinha me acomodado com aquele modo de vida. Mas um desenraizamento como aquele, que você é mandado para algum lugar remoto e o colocam como professor substituto, abala tudo. Seus hábitos, seus reflexos comportamentais, suas linhas de referência cristalizadas ao longo do tempo, tudo isso se transformou desapareceu e você deve aprender a viver novamente, a colocar sua existência novamente em ordem.

Daquele período, hoje, me impressionam três coisas. Primeiro, a capacidade de rezar que me foi doada. Em segundo lugar, as tentações que eu sentia. E terceiro - e isto é o mais estranho - que eu tenha lido na época, por acaso, os trinta e sete volumes da "História dos Papas" de Ludwig Pastor. Poderia ter escolhido um romance, algo mais interessante. Pensando onde estou agora, me pergunto por que Deus me inspirou a ler exatamente aquela obra naquele momento. Com aquela vacina, o Senhor me preparou. Uma vez que se conhece aquela história, não há muito que possa surpreendê-lo sobre o que acontece na Cúria Romana e na Igreja de hoje. Me ajudou muito!

A "Covid" de Córdoba foi uma verdadeira purificação. Deu-me mais tolerância, compreensão, capacidade de perdoar. Também me deixou com uma nova empatia para com os fracos e indefesos. E paciência, muita paciência, ou seja, o dom de entender que para as coisas importantes precisa tempo, que a mudança é orgânica, que há limites e que devemos trabalhar dentro deles e ao mesmo tempo manter os olhos no horizonte, como fez Jesus. Aprendi a importância de ver o grande no pequeno, e de ter cuidado com o pequeno nas coisas grandes. Foi um período de crescimento em muitos sentidos, como o brotar novamente após uma poda minuciosa.

Mas devo estar atento, porque quando você cai em certas falhas, certos pecados, e você mesmo corrige, o diabo, como diz Jesus, volta, vê a casa "varrida e adornada" (Lucas 11, 25) e vai chamar sete outros espíritos piores do que ele. O fim daquele homem, disse Jesus, torna-se muito pior do que antes. É com isto que devo me preocupar agora em minha tarefa de governar a Igreja: não cair nos mesmos defeitos de quando eu era superior religioso.

[…] Estes foram meus principais “Covid” pessoais. Aprendi que sofri muito, mas se você se deixar mudar, sairá melhor. Ao contrário, se você levantar barreiras, sairá pior.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF