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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Vaticano anuncia a primeira viagem do Papa Francisco após a pandemia de coronavirus

Papa Francisco. Foto: Vatican Media

Vaticano, 07 dez. 20 / 09:23 am (ACI).- O Papa Francisco fará uma viagem apostólica ao Iraque de 5 a 8 de março de 2021.

Segundo informações divulgadas nesta segunda-feira, 7 de dezembro, pelo diretor da sala de imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, a viagem do Pontífice a este país árabe incluirá a capital, Bagdá, a região de Ur, ligada à memória de Abraão, a cidade de Erbil, Mossul e Qaraqosh, na Planície de Nínive.

Esta é a primeira viagem que o Pontífice fará desde o início da pandemia do coronavírus, uma vez que em 2020 o Papa não fez nenhuma viagem apostólica internacional como medida preventiva contra possíveis infecções por COVID-19.

Desta forma, o Papa Francisco aceita o convite da República do Iraque e dos Bispos Católicos locais.

É também um sinal da proximidade do Pontífice com os habitantes deste país, severamente castigados pela guerra iniciada após a ocupação das tropas dos Estados Unidos, em 2003, para derrubar o regime de Saddam Hussein e a ofensiva dos terroristas do Estado Islâmico no verão de 2014.

Precisamente, a região da Planície de Nínive foi a mais castigada pelos terroristas. A Planície de Nínive era o lar de muitas comunidades cristãs antes da guerra. É uma região com uma presença cristã histórica que remonta às origens do cristianismo.

Após a ocupação do território, muitos cristãos fugiram de Mossul, Qaraqosh e outras cidades e vilas vizinhas, e se refugiaram no Curdistão iraquiano, ao norte da planície.

A capital do Curdistão iraquiano, Erbil, tornou-se então um sinal de exílio e resistência cristã e de outras minorias religiosas, como os yazidis e os muçulmanos que contrários ao Estado Islâmico.

O fato de o Papa visitar precisamente as cidades de Mossul, Qaraqosh e Erbil significa um símbolo de proximidade e apoio do Sumo Pontífice aos cristãos locais.

Em 25 de janeiro de 2020, o Papa Francisco recebeu o presidente da República do Iraque, Barham Salih, no Vaticano, um encontro no qual assinalaram a importância de preservar os cristãos no país, garantindo sua segurança.

Durante aquela audiência privada, o Pontífice e o presidente do Iraque “destacaram a importância de preservar a presença histórica dos cristãos no país, do qual são parte integrante, e a significativa contribuição que dão à reconstrução do tecido social, destacando a necessidade de lhes garantir segurança e um lugar no futuro do Iraque”, segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé.

Além disso, o Santo Padre discutiu com o presidente do Iraque “os desafios que o país enfrenta atualmente” e juntos “analisaram os vários conflitos e as graves crises humanitárias que afligem a Região”.

Por fim, na audiência, assinalaram também “a importância de favorecer a estabilidade e o processo de reconstrução, incentivando o caminho do diálogo e a busca de soluções adequadas em favor dos cidadãos e no respeito pela soberania nacional”.

No Natal de 2018, o Papa Francisco enviou o Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, ao Iraque para passar aqueles dias com a comunidade local.

Nessa visita, o Cardeal Parolin celebrou a Missa em Bagdá e visitou Qaraqosh, a principal cidade da província de Nínive, que foi ocupada por dois anos pelo Estado Islâmico.

O Cardeal Parolin lhes assegurou que o Papa Francisco "leva vocês ao seu coração e reza sempre por vocês".

"Obrigado pelo seu testemunho de fé, provada também pelo sofrimento e pelo martírio. Este testemunho foi e continua sendo um tesouro para toda a Igreja. Fiquem firmes na fé e no amor”, disse o Cardeal.

Segundo dados da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), a invasão do Estado Islâmico fez com que 75% dos cristãos no Iraque e na Síria fugissem de seus países.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Japão tem mais suicídios em um mês que todos os mortos pela pandemia de coronavírus

Guadium Press
Em outubro houve 2.153 suicídios no Japão enquanto o número de mortes por coronavirus, desde o início da pandemia, é de exatamente 2.109 óbitos.

Redação (05/12/2020, 14:30, Gaudium Press) Em apenas um mês, o número de suicídios no Japão superou o de todas as mortes de Covid desde o início da pandemia, informa o jornal “La Repubblica”.

Estatísticas mostram que em outubro, ainda de acordo o jornal italiano, aconteceram no Japão 2.153 suicídios, enquanto que o número de mortes por coronavírus, desde o início da pandemia, supera ligeiramente os dois mil: são exatamente 2.109, segundo os últimos dados da Universidade Johns Hopkins.

O índice de suicídios no Japão é quase três vezes a média anual de todo o globo

É sabido que o Japão possui uma das maiores taxas de suicídio de todo o mundo e isto é reconhecido inclusive pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Conforme estatísticas, em 2016 o país teve uma taxa de mortalidade por suicídio de 18,5 por grupo de 100.000 pessoas, perdendo apenas para a Coreia do Sul na região do Pacífico Ocidental.
Os números indicam que esse índice é quase três vezes a média anual de todo o globo: 10,6 por grupo de 100.000 pessoas.

Vários fatores sociais, culturais e religiosos contribuem para o alto número de suicídios

Segundo se tem em conta ao ser apresentado o número de suicídios, as razões para a alta taxa deles no Japão são complexas:
longas jornadas de trabalho, pressão escolar, isolamento social e um estigma cultural em torno de problemas de saúde mental, além de aspectos religiosos, são causas citadas como fatores que contribuem para o alto número de japoneses que acabam com a própria vida.

Número de suicídios cresce com a pandemia de coronavírus, depois de cair por 10 anos, até 2019

Durante os 10 anos que antecederam 2019, o número de suicídios caiu no Japão e chegou a 20.000 no ano passado, de acordo com o Ministério da Saúde japonês.
Mas, tudo indica que a pandemia parece ter revertido essa tendência e o aumento dos suicídios cresceu de forma desproporcional, inclusive entre as mulheres.

Elas costumam representar porcentagem menor do total de suicídios do que os homens, porém, o número de mulheres que se suicidam está aumentando. Porém, em outubro, os suicídios femininos no Japão aumentaram quase 83% em comparação com o mesmo mês do ano passado; os homens aumentaram quase 22% durante o mesmo período.

Segundo a Pew Research, o Japão é, depois da China, o país com o maior número de ateus em todo o mundo. Eles são quase 75 milhões de pessoas em um país de 126 milhões de habitantes. (JSG)

(Da Redação Gaudium Press, com informações e foto InfoVaticana)

https://gaudiumpress.org/

Sobre a falsa “unidade transcendente das religiões”

Madonna | Caravaggio
  • Autor: Joathas Soares Bello

(Comentários críticos à obra “Unidade transcendente das religiões”, de F. Schuon)

1. “METAFÍSICA”?

No prefácio, F. Schuon propõe uma distinção entre “metafísica” e “filosofia”, afirmando que a segunda é pensamento humano que procede da “razão”, e a primeira, do “Intelecto” enquanto Nous Divino, citando Mestre Eckhart e sua doutrina da “centelha incriada da alma”, e um adágio muçulmano que diz que “o sufi (homem identificado com o Intelecto) é incriado”.

Ora, esta concepção decorre da metafísica panenteísta do autor. A exposição de sua tese central está no capítulo III, “Transcendência e universalidade do esoterismo”, de modo que devo citar o que ele diz ali, a respeito da “Impessoalidade Divina”, da “irrealidade do mundo”, da “identidade essencial entre o homem e o Princípio divino que é o único real”, bem como de sua defesa contra a acusação de “panteísmo” (que efetivamente é uma concepção distinta do “panenteísmo”):

  • O mundo não é somente mais ou menos imperfeito e efêmero, senão que ele não é sequer de nenhuma maneira com respeito à Realidade absoluta, posto que a realidade do mundo limitaria a de Deus, o único que ‘é’; para o Ser mesmo, que não é outro que o Deus pessoal, encontra-se por sua vez sobrepassado pela Divindade impessoal ou suprapessoal, o Não-Ser do qual o Deus pessoal ou o Ser não é mais que a primeira determinação a partir da qual se desenvolvem todas as determinações secundárias que constituem a Existência cósmica. Agora, o exoterismo não pode admitir nem esta irrealidade do mundo nem a realidade exclusiva do Princípio divino, nem sobre tudo a transcendência do Não-Ser em relação ao Ser, que é Deus; em outros termos, o ponto de vista exotérico não pode compreender a transcendência da suprema Impessoalidade divina da que Deus é a Afirmação pessoal; estas são verdades demasiado elevadas e, por isso mesmo, demasiado sutis e complexas desde o ponto de vista do entendimento simplesmente racional, como para ser acessíveis à maioria e suscetíveis de formulação dogmática.”

Isto não é outra coisa que uma síntese pessoal da religiosidade panenteísta (da qual as expressões mais clássicas são o bramanismo no oriente e o neoplatonismo no ocidente). Deus é um Absoluto impessoal ou o “Não-Ser”, isto é, o que não tem uma essência específica delimitando-o, e o Deus pessoal/”Ser” é a manifestação deste Deus impessoal. O mundo não tem outra “realidade” que a de Deus.

Realizando uma transposição para a linguagem tomista, esse “Ser” não corresponde ao Esse ou “Ato de Ser”, justamente porque, na terminologia platônica, o “Além do Ser” que é o Bem/Uno/Divindade é “Além da ousía“, isto é, “além da essência determinada“, além de toda determinação específica. O Ipsum Esse tomasiano, o Ser Divino, também está além de toda essência específica, porém Deus – em Tomás e no Cristianismo – não é a “não-essência”, o “vazio” ou o “nada”, mas é Plenitude Absolutamente Concreta, possuindo eminentemente toda essência específica (que, na criação, é potência que compõe com seu ato de ser). Ele é esta Plenitude, por assim dizer, por ser “especificamente Tudo” (sic). Deus é “Aquele cuja Essência é Ser”: não é “isto” ou “aquilo”, mas tampouco é “nada”, mas a Plenitude do Ser.

A ideia de fundo do autor, que é a do panenteísmo, é a de que a “criação” (sic) é uma emanação da Essência Pessoal a partir da Não-Essência Impessoal Divina, e do mundo a partir da Essência. O fundamento que ele apresenta é que a “realidade” do mundo limitaria a “Realidade” Divina. A crítica deve abordar as duas questões: o caráter pessoal ou impessoal de Deus e a identificação ou distinção entre a realidade de Deus e a do mundo (o problema da criação). Comecemos, pois, pela “criação”

A Criação (o Ato Criador) é incompreensível pela razão humana (filosófica ou científica), porque não se distingue da Própria Realidade Divina; o que a metafísica entende é a “criaturalidade”: a “relação criatural” (na terminologia escolástica) ou a “religação” ontológica (Zubiri) a Deus, a dependência existencial do mundo em relação a Deus. Mas não pode entender nem “como” nem “por que” se “inaugurou” essa relação de dependência.

Se a razão pretender perscrutar o Ato Criador, fatalmente cairá na metafísica panenteísta, porque ela não pode compreender como o Absoluto Divino doa o ser às criaturas (seria preciso estar em Deus), e, se tentar, se quiser reduzir este Ato às categorias lógicas da inteligência humana, pressuporá o “princípio da extra-nihilidade” (“do nada, nada se faz”), e assim cairá na “univocidade do ser” e no panenteísmo: Deus como a própria subsistência do mundo, e não como Autor da subsistência do mundo.

A retórica perenialista das “verdades demasiado elevadas para o exoterismo” na realidade esconde o racionalismo logicista do panenteísmo que se instala a priori numa ideia de “absoluto” enquanto “todo”. Evidentemente, o perenialista vai dizer que é uma verdade “metafísica” (sic), no sentido de “mística”, mas esta é uma afirmação totalmente gratuita e arbitrária, porque se se pudesse demonstrar que há um Absoluto que é o próprio ser do mundo, eles o fariam, mas não o fazem: a metafísica panenteísta sempre parte do Absoluto neste sentido de “Todo”, como se evidência fosse.

Mas nunca há a apreensão intelectual imediata ou direta de um “Absoluto”. A uma tal realidade se pode chegar, como Platão chega, passando das coisas às Ideias e destas ao Bem; ou Aristóteles, passando das coisas às formas, destas às Substâncias Separadas e destas ao Primeiro Motor; ou Santo Agostinho, passando das coisas às verdades inteligíveis, e destas à Verdade Absoluta; ou Tomás, passando das coisas à sua composição de ato e potência e desta ao Ato Puro etc.; ou São Boaventura, passando da consideração dos entes ao Ser Absoluto e dos bens ao Bem Absoluto, etc.

Só com a luz da Revelação cristã, das processões trinitárias e da criação ex nihilo do mundo, pôde-se entender bem a diferença entre o Ser Divino e o ser criado, ao ser revelada a diferença entre a Doação integral que Deus faz de Si (sem se perder), isto é, do Ser Absoluto além de toda essência determinada, ao Verbo e ao Espírito, e a doação limitada que faz (também sem nada perder) do ser participado às essências determinadas.

Parece mera sutileza, mas é uma sutileza muitíssimo importante, que faz ver que o nosso ser criado ou participado não é o Próprio Ser Divino (na medida em que não é uma das Pessoas da Trindade). É nessa diferença, por exemplo, que radica a possibilidade do mau uso do livre-arbítrio e do pecado, a necessidade absoluta da Graça e do Mediador Jesus Cristo.

Sobre o caráter “impessoal” de Deus, ele nasce da compreensão oriental do ser humano como um “ego”, o qual, na realidade, não corresponde à noção da metafísica cristã de “pessoa”: o “ego” é o indivíduo psico-orgânico em sua condição “caída”, o “homem velho” de S. Paulo. Na visão de Schuon isto se mostra quando ele fala do ponto de vista “exotérico”, que só existiria nas tradições monoteístas, e que é o do “do interesse individual mais elevado”, o da “salvação”, que na mente gnóstica corresponde aos ritos e deveres religiosos, e à devoção de um “Deus pessoal”, opondo-se à via “metafísica” (sic) ou “mística” (sic) da união com a divindade.

Ora, “salvação” é uma realidade mal compreendida aí: no Cristianismo, não se trata do ritualismo e da devoção, mas da redenção do ser humano do pecado com a sua justificação e santificação ou elevação à vida sobrenatural ou divina. O cume da salvação é a vida mística, mas esta é seu coroamento: todos precisam ser salvos, e o místico ou o santo deificado não abandona o culto e a devoção. Na religiosidade panenteísta não há este conceito cristão de “salvação”, porque não há um problema da “condenação”, ao não haver distinção entre o Ser de Deus e o ser do mundo.

Ademais, os orientais jamais imaginaram a possibilidade de retificar e santificar a existência corpórea em sua presença no mundo, sempre viram a individualidade no sentido egoísta e a mundanidade no sentido do “mundo” joanino.

“Pessoa” é a dignidade do homem, que só pode ser vislumbrada quando ele vive, com a Graça, formalmente segundo a “imagem” divina, como homem reconciliado com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com a criação; como homem que superou a condição egoísta/individualista e mundana, que superou a condição de “homem exterior”, e que vive, na sua individualidade corpórea e inclusive em sua inserção social, a dimensão mais profunda e interior da individualidade propriamente metafísica e espiritual/pessoal, como “semelhança” com Deus.

A Divindade “inefável” do mundo antigo, revela-se precisamente no “Pai” de Jesus Cristo: a “Divindade” não é formalmente “anterior” ou “superior” ao “Pai” (e ao Filho e ao Espírito Santo) -ela só tem uma prioridade lógica do ponto de vista do conhecimento humano, que conhece a existência de Deus mas não sua Essência-, mas é justamente por possuir a Divindade, “já” (sic) como Pessoa, que Deus (o Pai) a doa eternamente ao Filho e ao Espírito (pelo Filho), e é como Pessoas que estes possuem a Divindade. “Ser Pai” (ser Princípio Amoroso) não é um “acréscimo” (logicamente posterior) a Deus, mas é sua Realidade, intrinsecamente “Doável” (e “Retornável”) à Sua Imagem (por Geração) e a seu Selo (por Expiração concomitante).

“Pessoa” é o “além do ser” (da “ousía” ou “essência” determinada): buscado na filosofia, esboçado no Antigo Testamento, finalmente revelado por Cristo. O “Mistério” incompreensível de Deus é a própria Trindade de Pessoas, a Caridade inefável que constitui o próprio Ser Divino além de todo pensamento humano, além da ignorância sobre o verdadeiro sentido da “pessoalidade”/”espiritualidade”, além de toda compreensão oriental e gnóstico-panenteísta da Divindade.

Voltando a Schuon:

  • “A ideia de realização metafísica [que significa a] realização mediante a qual o homem toma consciência do que em realidade jamais cessou de ser, a saber, a identidade essencial do homem com o Princípio divino que é o único real. Por sua parte, o exoterismo está obrigado a manter a distinção entre o Senhor e o servidor, abstração feita de que os profanos afetam não ver, na ideia metafísica da identidade essencial, mais que panteísmo…
  • A ideia de panteísmo merece que nos detenhamos um pouco nela: na realidade, o panteísmo consiste em admitir uma continuidade entre o Infinito e o finito, continuidade que não pode ser concebida mais do que se admite previamente uma identidade substancial entre o Princípio ontológico -de que se trata em todo teísmo- e a ordem manifestada, concepção que pressupõe uma ideia substancial ou, o que é o mesmo, falsa do Ser; o que se confunde a identidade essencial da manifestação e do Ser com uma identidade substancial. Nisto, e não em outra coisa, é no que consiste o panteísmo. […] Qualificando de panteísta a concepção da identidade essencial se nega ao mesmo tempo a relatividade das coisas e se lhes atribui uma realidade autônoma por relação ao Ser ou à Existência, como se pudesse haver nela duas realidades essencialmente distintas, ou duas Unidades ou Unicidades. A consequência fatal de um raciocínio tal é o materialismo puro e simples, porque desde a manifestação não é já como essencialmente idêntica ao Princípio, a admissão lógica deste princípio não é mais que uma questão de credulidade, e se esta razão de sentimentalidade chega a cair, já não há nenhuma outra razão para admitir outra coisa que a manifestação, e mais particularmente a manifestação sensível”.

É claro que o perenialismo não é panteísta, que ele não afirma que o mundo (“a ordem manifestada”) é a própria realidade ou “substância” divina, tal qual parece fazer Spinoza, por exemplo. Mas a “identidade essencial” entre Deus e a manifestação é justamente o que eu venho chamando “panenteísmo”, cujo erro já foi assinalado. Se o gnóstico perenialista pode certamente escapar à acusação de panteísmo ou de gnosticismo dualista, ele não pode se livrar da culpa do panenteísmo.

Deus não é um “Totalmente Outro” distante do mundo (agnosticismo), não é o mundo (panteísmo), mas tampouco é o ser ou essência ou forma do mundo (panenteísmo). Ele é Transcendente como Criador ex nihilo e é imanente ao mundo e ao homem como seu Conservador, sem, entretanto, que esta presença se confunda com a própria realidade essencial ou formal do mundo e do homem. Esta presença de Deus na alma – que não se dá apenas na modalidade da Graça – e no mundo, é, reitero, consequência de sua criação conservadora (cf. Atos 17,28), e não é uma presença como “parte” ou “essência” da alma, mas como Causa (cf. S.Th. I, q.8).

A crítica que faz à “filosofia” no prefácio, como distinta da “metafísica” (“mística” ou “gnose” perenialista), é injusta porque o próprio Aristóteles diz que o “intelecto agente” é como “algo de divino em nós”. A abstração é ação do nous que é captação da forma real das coisas, a qual é prévia ao logos que diz o que a coisa apreendida é. Apenas a filosofia moderna esquecerá o intelecto agente (que poderia até ser dito a parte mais sublime da alma, ou seu ato de ser, ou ainda o “espírito” da visão tripartite de S. Paulo: cf. 1Tessalonicenses 5,23), e começará o filosofar da inteligência lógica ou judicativa, enquanto ação poiética e voluntária (o juízo é ato da vontade para Descartes) que não “vê”, mas “produz” o conceito (consequência do nominalismo que transformara o “conceito” em termo aglutinador de coisas sensíveis similares, ou seja, um “conjunto” e não o “verbo mental” que diz a quididade da realidade).

O conhecimento intelectual sobrepassa o conhecimento do indivíduo, como diz Schuon, precisamente porque quando há verdadeira abstração do intelecto, a forma real da coisa é efetivamente captada. Toda a filosofia moderna consiste em esquecimento do intelecto e da forma real, iniciando o filosofar na conceituação a partir da imaginação (e não mais da “fantasia” ou “sentido comum”, ignorado pelos modernos), no caso dos empiristas (“sensualistas” é um termo mais exato) ou da construção a modo matemático de “ideias inatas” (que não são reflexos das Ideias platônicas), no caso dos racionalistas (“conceitualistas” é um termo melhor).

Em suma, Schuon repete a tese árabe (Averróis e Avicena) da unidade e universalidade do Intelecto Agente, identificando-a ademais com o próprio Deus, ou a tese hinduísta do atman que é Brahman (Deus). Trata-se de compreensão errada da relação entre o intelecto e Deus, como fica claro pelo que já foi dito.

Depois Schuon afirma que “a Revelação” ou conhecimento religioso é superior ao pensamento “filosófico” mas inferior ao “intelectual” (gnóstico). A Revelação é Palavra de Deus dirigida às criaturas enquanto a “intuição intelectual” é participação direta na Divindade, que encontraria uma “verdade nua e supraformal”. Esta última, “esotérica”, seria “traduzida” pelas religiões nos seus dogmas e ritos, “exotéricas”, ao alcance dos simples. Em suma, o autor afirma que os gnósticos têm como que uma ciência infusa inefável e superior à Fé e a traduzem em símbolos acessíveis para a maioria.

Agora, esse discurso abstrato teria de ser confirmado por um “esoterismo universal”, que é precisamente o que chamam de “perenialismo”. A questão é que isso é claramente uma falsidade: os conhecimentos dogmáticos ou teológicos sobre a Santíssima Trindade não são um “símbolo” acerca de uma “divindade impessoal cósmica”, mas são a expressão linguística da visão beatífica de Cristo: a Trindade é a última palavra acerca de Deus; efetivamente, não podemos compreendê-la perfeitamente através do dogma, nem mesmo da visão mística nessa vida, e até por toda a eternidade seremos saciados por um Mistério sempre maior que a capacidade de nossas inteligências criadas: mesmo deificados, nós nunca chegaremos a ser Deus no sentido de sermos o Ato Puro, mas seremos Deus por participação de acordo com as (distintas) potências das nossas naturezas intelectuais criadas.

2. “VERDADE” X DOGMAS?

Para Schuon, as “ideias verdadeiras” são as que “sugerem mais ou menos implicitamente aspectos da Verdade total” e “só o pensamento metafísico é capaz de captar”. A “filosofia” e a “teologia ordinária” ignoram que a “teoria” é “transitória por definição”, “aproximativa”. A compreensão “puramente teorizante” de uma “ideia” é “dogmatismo”, para o autor, o qual “em lugar de alcançar a Verdade informal e total partindo de uma das formas desta, paralisa esta forma, negando suas potencialidades intelectuais e atribuindo-lhe um caráter absoluto que unicamente a verdade informal e total pode ter”.

O autor, no fundo, pretende chegar à conciliação “esotérica” entre teses “dogmaticamente” contraditórias, como “Cristo é Deus” e “Cristo não é Deus”, por exemplo, pois isto é imprescindível para a sua tese da “unidade transcendente das religiões”. A verdade divina, para ele, é “informal”, isto é, informe: o divino não tem forma ou essência, como vimos acima.

O exemplo que ele dá, da contradição aparente entre as afirmações da predestinação e do livre-arbítrio, não prova o ponto dele. A predestinação dos eleitos ou a chamada “graça eficaz” não tolhe o livre-arbítrio, mas auxilia o homem a usar infalivelmente bem o livre-arbítrio na decisão pelo Bem; este auxílio fortalece a vontade livre em sua liberdade.

Schuon afirma, no capítulo “Limitação do exoterismo”, que a “vontade divina revestiu a Verdade una de diferentes formas que repartiu entre diferentes humanidades”, e de que “a pretensão exotérica de exclusividade é um erro puro e simples”, porque as “formas são especificações, limitadas”, e de que “a Verdade absoluta se encontra além de todas as suas possíveis expressões”.

Ora, tudo isto é patentemente uma petição de princípio: uma vez que está postulado que “a verdade absoluta informal” [o que não está e nunca poderá estar de modo algum justificado metafisicamente, como indicado], têm-se estas conclusões. A frase sobre a Verdade absoluta e suas expressões é relativamente certa, mas não enquanto isto se refere à Verdade e as expressões das várias tradições religiosas, mas sim à Verdade e suas expressões verdadeiras: estas não esgotam, por óbvio, a Verdade sobre e desde a qual falam.

Depois, o autor diz que “a Divindade manifesta Sua Personalidade mediante tal ou qual Revelação, e Sua suprema Impessoalidade mediante a diversidade de formas de Seu Verbo”.
Outra vez está a ontologia panenteísta do autor, e o consequente intento de reduzir o Cristianismo e o Verbo Divino, que é exclusivamente Jesus Cristo, a esta gnose panenteísta, com a inversão que coloca uma visão impessoalista do ser acima da Revelação da Santíssima Trindade. Sobre isto já falamos.

A MODO DE CONCLUSÃO

Do ponto de vista teológico, a gnose panenteísta do perenialismo elimina os seguintes pares de opostos:

a) Transcendência verdadeira e imanência, não podendo ser pensada com radicalidade a criação estrita (ex nihilo);

b) Bem e mal/pecado real, não sendo possível separar nenhuma possibilidade “criada” ou “manifesta” do ser divino;

c) Salvação e danação, ao não se poder pensar nem uma verdadeira Transcendência doadora de uma natureza distinta falível e de uma Graça justificante e santificante, nem, consequentemente, uma “criatura” espiritual que não seja um “modo” divino e que requeira ser elevada ou necessite de uma salvação estrita.

Portal Veritatis Splendor

Jesus nasceu em 25 de dezembro? (Parte 5/7)

Nascimento de Jesus | Caravaggio

Um argumento bíblico?

Alguns argumentam que, embora o Novo Testamento não nos diga o aniversário de Jesus, ele contém informações suficientes para que possamos deduzi-lo.

O argumento é o seguinte: o pai de João Batista – Zacarias – pertencia ao curso sacerdotal de Abias (Lucas 1: 5), um dos vinte e quatro cursos sacerdotais que serviam regularmente no templo.

Depois de sua visão anunciar a concepção de João Batista, ele voltou para casa e sua esposa, Isabel, ficou grávida (1: 23-25). Então, “no sexto mês” da gravidez de Isabel, Gabriel apareceu a Maria e anunciou a concepção de Jesus (1: 26-31).

Portanto, o nascimento de Jesus teria ocorrido quinze meses após o término do culto de Zacarias, e se pudermos determinar a data que aconteceu, poderemos determinar a data do nascimento de Jesus.

Embora intrigante, esse argumento não nos permite determinar o dia do nascimento de Jesus.

Primeiro, os cursos sacerdotais serviam no templo duas vezes por ano, e teríamos que adivinhar qual dos dois Zacarias estava realizando quando ele teve a visão. Isso cria uma incerteza de seis meses.

Em segundo lugar, os acadêmicos não têm certeza quando cada curso sacerdotal estava em serviço. Existem diferentes propostas, e a questão é complicada pelo fato de que alguns anos judaicos tiveram um mês a mais (muito parecido com o nosso Ano bissexto) para manter o calendário em sincronia com as estações do ano.

Terceiro, o argumento assume que João Batista foi concebido imediatamente após o retorno de Zacarias, mas Lucas não diz isso. Ele diz que Isabel ficou grávida “depois desses dias” (1:24).

Quarto, o argumento assume que Gabriel apareceu a Maria exatamente seis meses após a concepção de João, mas isso também não é o que Lucas diz. Ele afirma que o anjo apareceu “no sexto mês” (1:26, 36) – isto é, quando Isabel estava grávida de cinco a seis meses. Isso cria uma ambigüidade de trinta dias.

Quinto, o argumento assume que Maria concebeu no momento em que Gabriel falou com ela, mas Lucas não indica isso. Gabriel diz “você vai conceber” (grego, sullêmpsê) – no tempo futuro – indicando que Jesus será concebido no futuro, mas não precisamente no momento.

Em sexto lugar, o argumento assume que Jesus estava no útero exatamente nove meses, mas o período médio de gestação humana é de cerca de 40 semanas desde a última ovulação. Com quatro semanas de meses, isso seria em torno de dez meses. Assim, o livro da Sabedoria afirma: “no ventre de uma mãe fui moldado em carne, no período de dez meses” (Sab. 7: 1-2). Além disso, a gravidez humana média varia até cinco semanas de duração, criando uma incerteza de trinta e cinco dias.

Em vista dessas incertezas, esse argumento não nos permite determinar o dia exato do nascimento de Jesus.

No entanto, pode nos levar a parte do caminho. Com base em um palpite de qual dos dois serviços sacerdotais Zacarias estava realizando, Jack Finegan calcula que o argumento apontaria para um aniversário em algum lugar entre dezembro e fevereiro, emprestando plausibilidade – baseada em evidências bíblicas – a Jesus ter nascido no inverno (Manual de Cronologia Bíblica, 2ª ed., §473), embora deva ser apontado que fazer a suposição oposta sobre o serviço de Zacarias apontaria para um nascimento no verão.

Portal Apologistas da Fé Católica

S. AMBRÓSIO, BISPO DE MILÃO E DOUTOR DA IGREJA

Sant'Ambrogio  (© Biblioteca Apostolica Vaticana)

No seu tempo, havia divisões sociais dilacerantes. Em 7 de dezembro de 374, em uma igreja milanesa dava-se uma discussão animada: a embaraçosa nomeação do novo Bispo da cidade, capital do império romano do Ocidente, havia agravado a separação entre Católicos e Arianos. A negação da divindade de Cristo, defendida pelos Arianos e combatida pelos Católicos, era vista como uma barreira insuperável na escolha de um pastor, que pudesse representar ambas as partes.

Um Bispo para todos

Como mediador, foi convocado o Governador das regiões italianas da Lombardia, Ligúria e Emília-Romagna, conhecido pela sua imparcialidade e equidade. Ele se chamava Ambrósio, nascido em 340, em Augusta dos Tréveros, Alemanha, no seio de uma família romana cristã, terceiro de três filhos, que também se tornaram santos: Marcelina e Sátiro.

Ambrósio concluiu seus estudos jurídicos em Roma, sob o exemplo do pai, Prefeito da Gália, aprendendo a oratória e a literatura greco-latina. O sucesso na sua carreira de magistrado e o seu equilíbrio em resolver controvérsias bastante difíceis tornaram-no o candidato ideal para moderar o impetuoso debate milanês, que começou com a morte do Bispo ariano, Auxêncio. O convite de Ambrósio ao diálogo convenceu o povo e evitou o perigo de tumultos.

Porém, enquanto o Governador pensava ter cumprido a sua missão com sucesso, aconteceu um imprevisto. Entre a multidão, elevou-se uma alta voz de criança, que ecoou em toda a assembleia, que dizia: “Ambrósio Bispo!”. Assim, Católicos e Arianos, inesperadamente, chegavam ao desejado acordo. A ovação popular desnorteou Ambrósio, porque não era batizado e se sentia indigno. Quis rejeitar ao cargo dirigindo-se ao imperador Valentiniano, que, porém, confirmou o anseio popular. Então, Ambrósio fugiu. Mas, também o Papa Dâmaso o achava idôneo à dignidade episcopal. Logo, entendendo que esta era a vontade de Deus, aceitou e se tornou Bispo de Milão, com apenas 34 anos de idade.

Em oração junto com o povo

Ambrósio distribuiu seus bens aos pobres e dedicou-se ao estudo dos Textos Sagrados e dos Padres da Igreja: “Quando leio as Escrituras – dizia – Deus passeia comigo no Paraíso”. Aprendeu a pregar de tal maneira que a sua oratória encantou o jovem Agostinho de Hipona, levando-o à conversão.

Assim, a vida de Ambrósio se tornava, cada vez mais, sóbria e austera, toda dedicada ao estudo, à oração, à escuta assídua e solidária dos pobres e do povo de Deus.

“Se a Igreja dispõe de ouro, não é para guardá-lo, mas para distribui-lo a que mais necessitar”, disse quando decidiu fundir os ornamentos litúrgicos dourados para pagar o resgate de alguns fiéis sequestrados pelos soldados nórdicos.

Combate à heresia

As suas prioridades foram a paz e a concórdia, mas jamais tolerou o erro. A iconografia artística o representa com um açoite na mão contra os hereges. Ele combateu, energicamente, o arianismo, que o levou a discordar até com Governantes e Soberanos. Daquele conflito, que eclodiu sob o governo da imperatriz filo-ariana, Justina, Santo Ambrósio saiu vencedor, reafirmando a independência do poder espiritual do poder temporal.

O episódio da carnificina de Tessalônica foi emblemático. Depois do excídio de sete mil pessoas, em revolta pela morte do Governador, Santo Ambrósio conseguiu convencer Teodósio, autor da chacina, a se arrepender. “O imperador é da Igreja e não acima da Igreja” era a convicção do Bispo milanês, que, ao contrário da lei, não submeteu nenhuma igreja aos Arianos.

A primazia de Pedro

Por outro lado, Ambrósio sempre reconheceu a primazia do Bispo de Roma, dizendo: “Ubi Petrus, ibi Ecclesia” (“Onde está Pedro, ali está a Igreja”). O amor a Cristo, à Igreja e a Maria emergiu das suas copiosas obras literárias e teológicas, que lhe conferiram – junto com os santos Jerônimo, Agostinho e Gregório Magno – o título de grande Doutor da Igreja do Ocidente.

Construtor de Basílicas, compositor de hinos, que revolucionaram o modo de rezar, e incansável na oração Ambrósio morreu no Sábado Santo de 397. Uma multidão imensa o homenageou no dia de Páscoa.

Vatican News

domingo, 6 de dezembro de 2020

Reflexão Patrística – “Precursor de Cristo no nascimento e na morte” (São Beda Venerável, +735)

Canção Nova

“O santo precursor do nascimento, da pregação e da morte do Senhor mostrou o vigor de seu combate, digno dos olhos divinos, como diz a Escritura: ‘E se diante dos homens sofreu tormentos, sua esperança está repleta de imortalidade’ [Sabedoria 3,4]. Temos razão de celebrar a festa do dia do nascimento daquele que o tornou solene para nós por sua morte, e o ornou com o róseo fulgor de seu sangue. É justo venerarmos com alegria espiritual a memória de quem selou com o martírio o testemunho que deu em favor do Senhor.

Não há que duvidar, se São João [Batista] suportou o cárcere e as cadeias, foi por nosso Redentor, de quem dera testemunho como precursor. Também por Ele (=Cristo) deu a vida. O perseguidor não lhe disse que negasse a Cristo, mas que calasse a verdade. No entanto morreu por Cristo.

Porque Cristo mesmo disse: ‘Eu sou a verdade’ [João 14,6], por conseguinte morreu por Cristo, já que derramou o sangue pela Verdade. Antes, quando nasceu, pregou e batizou, dava testemunho de quem iria nascer, pregar, ser batizado. Também apontou para Aquele que iria sofrer, sofrendo primeiro.

Um homem de tanto valor terminou a vida terrena pela efusão do sangue, depois do longo sofrimento da prisão. Aquele que proclamava o Evangelho da liberdade da paz celeste, foi lançado pelos ímpios às cadeias; foi fechado na escuridão do cárcere quem veio dar testemunho da Luz e por esta mesma Luz, que é Cristo, tinha merecido ser chamado de ‘lâmpada ardente e luminosa’. Foi batizado no próprio sangue aquele a quem tinha sido dado batizar o Redentor do mundo, ouvir sobre ele a voz do Pai, ver descer a graça do Espírito Santo. Contudo, para quem tinha conhecimento de que seria recompensado pelas alegrias perpétuas,”PRECURSOR DE CRISTO NO NASCIMENTO E NA MORTE São Beda Venerável, falecido em 735 d.C.

“O santo precursor do nascimento, da pregação e da morte do Senhor mostrou o vigor de seu combate, digno dos olhos divinos, como diz a Escritura: ‘E se diante dos homens sofreu tormentos, sua esperança está repleta de imortalidade’ [Sabedoria 3,4]. Temos razão de celebrar a festa do dia do nascimento daquele que o tornou solene para nós por sua morte, e o ornou com o róseo fulgor de seu sangue. É justo venerarmos com alegria espiritual a memória de quem selou com o martírio o testemunho que deu em favor do Senhor.

Não há que duvidar, se São João [Batista] suportou o cárcere e as cadeias, foi por nosso Redentor, de quem dera testemunho como precursor. Também por Ele (=Cristo) deu a vida. O perseguidor não lhe disse que negasse a Cristo, mas que calasse a verdade. No entanto morreu por Cristo.

Porque Cristo mesmo disse: ‘Eu sou a verdade’ [João 14,6], por conseguinte morreu por Cristo, já que derramou o sangue pela Verdade. Antes, quando nasceu, pregou e batizou, dava testemunho de quem iria nascer, pregar, ser batizado. Também apontou para Aquele que iria sofrer, sofrendo primeiro.

Um homem de tanto valor terminou a vida terrena pela efusão do sangue, depois do longo sofrimento da prisão. Aquele que proclamava o Evangelho da liberdade da paz celeste, foi lançado pelos ímpios às cadeias; foi fechado na escuridão do cárcere quem veio dar testemunho da Luz e por esta mesma Luz, que é Cristo, tinha merecido ser chamado de ‘lâmpada ardente e luminosa’. Foi batizado no próprio sangue aquele a quem tinha sido dado batizar o Redentor do mundo, ouvir sobre ele a voz do Pai, ver descer a graça do Espírito Santo. Contudo, para quem tinha conhecimento de que seria recompensado pelas alegrias perpétuas, não era insuportável sofrer tais tormentos pela Verdade, mas, pelo contrário, fácil e desejável.

Considerava desejável aceitar a morte, impossível de evitar por força da natureza, junto com a palma da vida perene, por ter confessado o nome de Cristo. Assim disse bem o Apóstolo: ‘Porque vos foi dado por Cristo não apenas crer Nele, mas ainda sofrer por Ele’ [Filipenses 1,29]. Diz ser dom de Cristo que os eleitos sofram por Ele, conforme diz também: ‘Os sofrimentos desta vida não se comparam à futura glória que se revelará em nós’ [Romanos 8,18]” (Homilia 23; CCL 122,354.356-357). não era insuportável sofrer tais tormentos pela Verdade, mas, pelo contrário, fácil e desejável.

Considerava desejável aceitar a morte, impossível de evitar por força da natureza, junto com a palma da vida perene, por ter confessado o nome de Cristo. Assim disse bem o Apóstolo: ‘Porque vos foi dado por Cristo não apenas crer Nele, mas ainda sofrer por Ele’ [Filipenses 1,29]. Diz ser dom de Cristo que os eleitos sofram por Ele, conforme diz também: ‘Os sofrimentos desta vida não se comparam à futura glória que se revelará em nós’ [Romanos 8,18]” (Homilia 23; CCL 122,354.356-357).

Portal Veritatis Splendor

Deus enviou Jesus, e Jesus enviou a Igreja

Cléofas

A Igreja é consequência direta do mistério da Encarnação, seu prolongamento

Muitos querem hoje dizer Sim à Cristo, e Não à Igreja; mas isto afeta a própria identidade do Cristianismo. A Igreja, instituída por vontade de Cristo, com suas normas, como prolongamento da Encarnação do Verbo de Deus, se tornou o lugar privilegiado do encontro dos homens com Cristo e com o Pai.

Quem pergunta: “Por que a Igreja?”, cai no mesmo erro de quem pergunta: “Por que Cristo?” Cristo veio do Pai e deixou a Igreja. O Pai enviou Jesus para a salvação do mundo, e Cristo enviou a Igreja. “Assim como o Pai me enviou, assim também eu os envio a vós” (Jo 20,21).

Muitos hoje querem a Igreja na forma de uma “democracia moderna”, onde tudo se decida pela vontade da maioria. Ela seria então como um grande Clube religioso, de normas “flexíveis”, mais assimiláveis. A consequência disso – e o grande engano – é que neste caso o homem seria guiado unicamente por si mesmo, e não por Deus. Não seria mais “a Igreja de Deus” (1Tm3,15).

Pelo fato da Igreja ter a sua vida guiada pela Sagrada Tradição que vem de Cristo e dos Apóstolos, dá-nos a garantia de que é o próprio Jesus, presente nela, que a conduz.

O primeiro “Sacramento”, o fundamental, é a santíssima humanidade de Jesus, através da qual (gestos, palavras) passava a graça de Deus. A Igreja é a continuação desse “Sacramento”; por isso São Paulo a chama simplesmente de “o Corpo de Cristo” (Cl 1,24).

As expressões terminais desse Sacramento “Cristo – Igreja”, são os sete Sacramentos, que levam a salvação ao homem, do nascer até o morrer. E sem a Igreja não há Sacramentos; logo, não há salvação. Daí podemos ver claramente que a Igreja é tão essencial ao Cristianismo quanto o mistério da Encarnação do Verbo.

Num Cristianismo sem a Igreja instituída por Cristo (Mt 16,16s) sobre Pedro e os Apóstolos, o próprio Cristo ficaria mutilado, como que degolado…

E essa Igreja é a única e una, católica (universal), apostólica e romana.

Prof. Felipe Aquino

Portal Cléofas

Jesus nasceu em 25 de dezembro? (Parte 4/7)

Nascimento de Jesus | Caravaggio

Como eles não poderiam?

Algumas vezes os defensores de 25 de dezembro argumentam que os primeiros cristãos teriam se interessado intensamente no dia do nascimento de Jesus, e assim – com base na memória de Maria do dia – eles teriam registrado isso. Como eles poderiam não ter feito isso?

Existem grandes problemas com esse argumento. Os cristãos têm sido curiosos sobre muitas coisas concernentes a Jesus que não temos registros confiáveis.

Os Evangelhos são nossos registros mais confiáveis, mas a despesa fantástica da produção de livros na época significava que os evangelistas só podiam registrar os detalhes que consideravam mais importantes.

Assim, os Evangelhos não nos dizem o dia nem o ano de seu nascimento. Com exceção do Encontro no Templo (Lucas 2: 41-51), eles não nos dizem o que aconteceu durante sua infância, e eles não nos dizem nada sobre sua aparência.

Cristãos posteriores estavam curiosos sobre tudo isso, mas o fato de os Evangelistas não registrarem eles revelam que eles não consideravam essencial que nós soubéssemos sobre eles.

Uma razão pela qual eles podem não ter considerado o aniversário de Jesus como importante é porque a comemoração dos aniversários não é um universal humano. Muitas culturas têm atitudes muito diferentes em relação ao tempo e, no século XX, estudiosos ocidentais que trabalham com pessoas do Oriente Médio mais pobres podiam se surpreender com a forma como eles não tinham uma ideia clara de quantos anos tinham.

Historicamente, a cultura judaica tem sido ambivalente em relação aos aniversários, com alguns rabinos argumentando que eles não deveriam ser celebrados de forma alguma, afirmando que fazer isso é um costume gentílico ou mesmo idólatra.

Alguns apontaram para o fato de que, nas escrituras hebraicas, o único aniversário celebrado era o da figura perversa do Faraó (Gn 40:20).

Outros governantes opressivos também celebravam aniversários – algumas vezes mensalmente – e esperavam que seus súditos o fizessem também. Assim, no tempo dos Macabeus, “Na celebração mensal do aniversário do rei, os judeus foram levados, sob amarga restrição, a participar dos sacrifícios” (2 Mac. 6: 7).

Os imperadores romanos também tinham comemorações públicas de seus aniversários, o que envolvia a idolatria e alimentava a antipatia judaica ao costume.

A única celebração de aniversário no Novo Testamento foi do fantoche romano Herodes Antipas, e isso levou ao martírio de João Batista (Mt 14: 1-12).

Assim, não é surpresa encontrar escritores cristãos primitivos como Orígenes, por volta de 241 d.C., depreciando aniversários:

Não se acha que um de todos os santos tenha celebrado um dia festivo ou uma grande festa no dia do seu nascimento. Ninguém é encontrado para ter alegria no dia do nascimento de seu filho ou filha. Apenas os pecadores se alegram com este tipo de aniversário. Pois de fato encontramos no Velho Testamento o Faraó, rei do Egito, celebrando o dia de seu nascimento com uma festa, e no Novo Testamento, Herodes. No entanto, os dois mancharam o festival de seu nascimento ao derramar sangue humano. Pois o faraó matou “o padeiro-chefe”, Herodes, o santo profeta João “na prisão”. Mas os santos não só não celebram uma festa nos dias de seu nascimento, mas, cheios do Espírito Santo, eles amaldiçoam naquele dia (Homilias sobre Levítico 8: 2).

Orígenes não estava sozinho na Igreja primitiva, e ele ilustra como outras culturas poderiam ter atitudes muito diferentes em relação aos aniversários. O argumento “como eles podem não preservar o aniversário de Jesus?” Não tem sucesso.

Isso não quer dizer que fontes cristãs primitivas não preservaram o aniversário de Jesus, apenas que não é garantido que eles o tenham feito. Portanto, precisamos examinar as evidências.

Continua...

Portal Apologistas da Fé Católica

Por que o exemplo pessoal é o melhor jeito de transformar a sociedade

Shutterstock
por Philip Kosloski

A instrução é importante, porém não mais do que ser testemunha pessoal da alegria do Evangelho.

Os primeiros cristãos viveram em vários países do mundo e foram capazes de transformar a sociedade onde se estabeleceram.

Mas como eles fizeram isso? O que podemos aprender com eles?

Em seu livro “A Alma de Todo Apostolado“, o monge francês Jean-Baptiste Chautard escreveu sobre o elemento-chave que os cristãos usaram para transformar a sociedade. Acima de tudo, ele relata uma conversa que os cardeais tiveram com o Papa Pio X:

O Papa perguntou-lhes: “De que é que mais precisamos, hoje, para salvar a sociedade?” “Construir escolas católicas”, disse um. “Não.” “Mais igrejas”, disse outro. “Ainda não.” “Acelerar o recrutamento de padres”, disse um terceiro. “Não, não”, disse o Papa. “O mais necessário de tudo, neste momento, é que cada paróquia possua um grupo de leigos que sejam ao mesmo tempo virtuosos, esclarecidos, decididos e verdadeiramente apostólicos.”

Transformar a sociedade pelo Evangelho

Além disso, Chatuard explica que o testemunho pessoal do Evangelho é uma das melhores maneiras para transformar a sociedade:

A regeneração da sociedade … só pode vir como resultado de uma irradiação mais intensa da santidade da Igreja. É por esse meio, dizem eles, mais do que por preleções, que o cristianismo se desenvolveu tão rapidamente nos primeiros séculos de sua história, apesar do poder de seus inimigos, de preconceitos de todos os tipos e da corrupção geral.

Ele até aponta como a Igreja primitiva utilizou esse método:

É certo que a Igreja primitiva, como já sugerimos, soube organizar magníficas e numerosas tropas de choque [núcleo central do povo santo], no meio dos fiéis, e suas virtudes impressionaram os pagãos de espanto e entusiasmo a admiração de almas honestas, mesmo as mais preconceituosas contra o Cristianismo por seus princípios, suas tradições e sua origem social. As conversões foram o resultado, mesmo em círculos aos quais nenhum padre tinha acesso.

Segundo Chatuard, embora a instrução seja importante, o mais importante é ser uma testemunha pessoal da alegria do Evangelho:

A pregação pelo exemplo sempre será o principal instrumento de conversão.

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF