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sábado, 12 de dezembro de 2020

Vaticano inaugura presépio e árvore de Natal na Praça de São Pedro

Inauguração do Presépio e da árvore de Natal do Vaticano.
Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Vaticano, 11 dez. 20 / 02:49 pm (ACI).- O Vaticano inaugurou o presépio e a árvore de Natal na Praça de São Pedro, em uma cerimônia dirigida pelo Presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano, Cardeal Giuseppe Bertello; e o Secretário-Geral do Interior, Dom Fernando Vérgez Alzaga.

A árvore, de 30 metros de altura e 70 centímetros de diâmetro, vem da região de Kočevje, na Eslovênia.

O presépio, por sua vez, é uma instalação monumental que não deixa ninguém indiferente. Originário da localidade de Castelli, na região italiana de Abruzzo, é composto por estátuas de cerâmica de tamanho maior que o natural, erguidas sobre uma plataforma luminosa de quase 125 metros quadrados que circunda o obelisco central da Praça.

Na manhã desta sexta-feira, 11 de dezembro, o Papa recebeu as delegações da Eslovênia e de Castelli de Abruzzo no Palácio Apostólico do Vaticano. Diante deles, destacou que a árvore e o presépio são "um sinal de esperança para os romanos e para os peregrinos que terão a oportunidade de vir admirá-los".

Explicou que “a árvore e a manjedoura ajudam a criar um clima natalino favorável para viver com fé o mistério do Nascimento do Redentor. No presépio, tudo fala de pobreza ‘boa’, a pobreza evangélica, que nos torna beatos”.

O Papa afirmou que “contemplando a Sagrada Família e os vários personagens, somos atraídos por sua humildade que desarma”.

Do mesmo modo, assinalou que “Nossa Senhora e São José vieram de Nazaré até Belém. Não há lugar para eles, nem mesmo um pequeno quarto. Maria escuta, observa e guarda tudo em seu coração. José procura um lugar para ela e o menino que está prestes a nascer”.

“A festa de Natal”, recordou o Santo Padre, “nos lembra que Jesus é a nossa paz, nossa alegria, nossa força, nosso conforto. Mas, para acolher estes dons da graça, precisamos nos sentir pequenos, pobres e humildes como os personagens do presépio”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

S. Gregório de Nissa: Vida de Macrina (Parte 3/3)

S. Gregório de Nissa
Veritatis Splendor

As irmãs lamentam por sua abadessa

Agora minha mente estava tornando-se debilitada de duas maneiras, pela visão que encontrava o meu olhar fixo, e o triste lamento das virgens que soava em meus ouvidos. Até então lembravam-se [986 D] quietas e suprimiam sua dor, contendo seu impulso de lamentar, por medo dela como se temessem a sua censura, mesmo quando a voz dela estava em silêncio, para que, de nenhuma maneira um som irrompesse delas contrário ao seu comando, e sua senhora sofresse em conseqüência disso.

Mas quando elas não puderam mais subjugar sua angústia em silêncio, e a dor, como algum fogo interior, ardia lentamente em seus corações, imediatamente um forte e irrepreensível grito brotou de forma que meu raciocínio não permaneceu mais calmo, mais uma corrente de emoção, como um curso d?água em inundação varreu, e então, negligenciando meus deveres, eu me entreguei à lamentação.

De fato, a causa do pranto das virgens parecia-me justo e razoável, pois elas não estavam lamentando a perda de um guia e companheiro humano, ou qualquer outra coisa que faz os homens sofrer quando o desastre acontece. Mas parecia como se elas estivessem perdido sua esperança em Deus e na salvação de suas almas, e por isso elas choravam e gritavam dessa maneira:

?A luz dos nossos olhos foi embora
A luz que guiava nossas almas foi levada
A segurança de nossas vidas foi destruída
O selo da imortalidade foi removido
O vínculo da prudência foi retirado
O suporte dos fracos foi quebrado
A cura dos doentes removida
Em vossa presença a noite se tornou para nós como dia
Iluminada com a pura vida,
Mas agora mesmo o nosso dia se tornará escuridão?

Mais triste que todas em sua dor eram aqueles que [988B] a chamavam de mãe e ama-sêca, eram eles que ela pegava, expostos de um lado da estrada em tempo de fome. Ela cuidou deles e os criou e levou-os para a vida pura e sem mancha.
 Mas como se fosse das profundezas, eu recobrei meus pensamentos. Eu olhei na direção daquela santa face e me pareceu como se ela me censurasse pela confusão das barulhentas lamentadoras. Então eu chamei as irmãs com uma voz alta:

?? Olhai para ela e lembrai suas ordens, pelas quais ela vos treinou para serem ordeiras e decentes em tudo. Uma ocasião para lágrimas fez essa alma divina ordenar-vos, recomendando-vos para chorar no momento da oração que agora nós iremos realizar, transformando as lamentações na mesma melodia.?

Vestiana vem para ajudar Gregório

[988C] Eu tive que gritar para ser ouvido no barulho das lamuriantes. Então eu supliquei-lhes para ir embora por um tempo para a casa nas vizinhanças, mas pedi que algumas daquelas cujos serviços ela usava para o seu bem-estar quando ela estava viva ficassem. Entre estas, estava uma senhora de nascimento nobre, que tinha sido famosa na juventude pela riqueza, boa família, beleza física e todas as outras distinções. Ela havia se casado com um homem de alta posição e vivido com ele um curto período.

Então, quando seu corpo ainda era jovem, ela foi liberada do casamento, e escolheu a grande Macrina como protetora e guardiã de sua viuvez, e passou seu tempo principalmente com as virgens, aprendendo delas a vida de virtude. O nome da senhora era Vestiana, e seu [988D] pai era um dos que compunham o Conselho de Senadores. Para ela, eu disse que não poderia haver nenhuma objeção de nenhum modo em colocar roupas mais finas no corpo (de Macrina) e adornar aquela forma pura e sem mácula com roupas de bom linho. Mas ela me disse que alguém deve saber que a santa tinha pensado de maneira correta nesses assuntos, porque não era certo que nada que fizéssemos fosse contrário ao que ela desejasse. Mas como era agradável a Deus, seria seu desejo também.

Agora havia uma senhora chamada Lampádia, líder do grupo das irmãs, uma diaconisa. Ela declarou que sabia exatamente os desejos de Macrina [990A] sobre o sepultamento. Quando perguntei-lhe sobre eles (pois ela estava presente em nossas deliberações) ela disse com lágrimas:

?A santa resolveu que a vida pura deveria ser o seu adorno, que isso deveria ser o seu ornamento na vida e o seu sepultamento na morte. Mas tanto como as roupas que adornam o corpo se vão, ela não procurou nenhuma quando estava viva, nem guardou-as para o momento presente. De forma que, nem mesmo se quiséssemos haveria nada mais do que temos aqui, já que nenhuma preparação foi feita para essa necessidade.?

?Não é possível?, eu disse, ?encontrar em nenhum baú alguma coisa para fazer um funeral conveniente??

?Baú de fato?, ela disse, ?tu tens na tua frente todo o teu tesouro! Existe um manto, a cobertura para a cabeça, os sapatos usados nos pés. esta é toda a tua riqueza, estas são todas as tuas riquezas. Não há nada guardado em locais secretos além do que tu vês, ou colocados em caixas seguras ou no quarto. Ela conhecia um único depósito [990B] para sua riqueza, o tesouro no céu. Lá, ela guardava tudo. Nada foi deixado na Terra.?

?Suponha?, falei, ?que eu trouxesse algumas das coisas que eu já tenho para o funeral. Eu estaria fazendo alguma coisa que ela não teria aprovado??

?Eu não acho?, disse ela, ?que seria contra o seu desejo, pois se ela estivesse viva ela teria aceito tal honra de ti em dois níveis: sua religiosidade, que ela sempre elogiou tanto, e o seu relacionamento, pois ela não repudiaria o que veio de seu irmão.? Foi por isso que ela deu ordens que tuas mãos iriam preparar o corpo para o sepultamento.

Eles encontram no corpo marcas da santidade de Macrina

Quando decidimos isso, e foi necessário que o corpo sagrado fosse enrolado em linho, dividimos o trabalho e nos dedicamos às nossas diferentes tarefas. Ordenei que um de meus homens trouxesse o vestido. Mas Vestiana [990C], mencionada acima, ornava aquela cabeça santa com suas próprias mãos quando colocou sua mão no pescoço.

?Veja?, disse, ?que tipo de ornamento está pendurado no pescoço da santa!? Enquanto falava, ela afrouxou o fecho e depois esticou a mão dela e nos mostrou uma representação da cruz de ferro e um anel do mesmo material. Ambos estavam fechados por um fino fio e ficavam continuamente no coração.?
 ?Deixe-nos dividir o tesouro?, eu disse. ?Tu tens um estilete da cruz, ficarei contente em herdar o anel?? pois a cruz estava traçada no selo do anel também [990 D].

Olhando para isso, a senhora me disse outra vez ?? Tu não erraste em escolher este tesouro, pois o anel é largo no aro e foi escondido num pedaço da Cruz da Vida.

A história de uma cicatriz

Então, quando foi a hora do corpo puro ser envolvido em suas vestimentas, a ordem da grande mulher que tinha partido tornou necessário que eu me incumbisse do ministério; mas a irmã, que dividia comigo aquela grande herança estava presente e juntou-se ao trabalho.

?Não deixes que as grandes maravilhas realizadas pela santa passem desapercebidas?, ela enfatizou, pondo descoberto parte do peito (da Macrina).
 ?Que queres dizer??, eu disse.

[992A] ?Vês?, ela disse, ?esta pequena marca apagada abaixo do pescoço? Era como uma cicatriz feita por uma pequena agulha. Enquanto falava, ela trouxe a lâmpada próximo do local que estava me mostrando. ?O que é surpreendente?, eu falei, ?como se o corpo tivesse sido marcado com algum sinal fraco neste lugar?. ?Isso?, ela replicou, ?foi deixado no corpo como uma prova da poderosa ajuda de Deus.

Pois ali cresceu uma vez uma doença cruel, e havia perigo que o tumor exigisse uma operação ou que a enfermidade se tornasse incurável, se ela se espalhasse para próximo do coração. Sua mãe implorava-lhe freqüentemente e pedia-lhe que recebesse a atenção de um médico, uma vez que a arte médica, ela [992B] disse, havia sido enviada por Deus para salvar os homens. Mas ela julgava pior do que a dor descobrir qualquer parte de seu corpo aos olhos de um estranho.?

Então, quando a noite chegou, depois de cuidar de sua mãe como sempre, ela foi para o santuário e suplicou por toda a noite a Deus a cura. Uma torrente de lágrimas caiu de seus olhos no chão, e ela utilizou a lama feita de suas lágrimas como um remédio para sua doença. Quando sua mãe sentiu-se desanimada e outra vez insistiu que ela permitisse que o médico viesse, ela disse que seria suficiente para a cura de sua doença se sua mãe fizesse o sinal sagrado no local com sua própria mão. Mas quando a mãe colocou sua mãe em seu seio para fazer o sinal da cruz, o sinal agiu e o tumor desapareceu.?

?Mas isto?, ela disse, ?é um minúsculo traço da marca; apareceu no local da terrível [992C] chaga e permaneceu até o final o que poderia ser, como imagino, uma memória da visita divina, uma ocasião e lembrança da perpétua ação da graça de Deus.?

Quando nosso trabalho chegou ao fim e o corpo foi embelezado com o melhor que tínhamos no lugar, a diaconisa falou de novo, insistindo que não era correto que ela fosse vista aos olhos das virgens vestida como uma noiva. ?Mas eu coloquei?, ela disse, ?um dos vestidos negros de tua mãe que acho que ficaria bem posto nela, para que essa beleza santa não fosse adornada com o desnecessário esplendor da roupa.?

Seu conselho prevaleceu, e o vestido foi posto no corpo. Mas ela estava resplandecente, mesmo naquele vestido negro, o poder divino sendo acrescentado, penso, por esta graça final do corpo, de forma que, como na visão de meu sonho, raios pareciam realmente brilhar de sua beleza.

Vigília por toda a noite: chega uma multidão de visitantes

 Mas enquanto estávamos assim ocupados, e as vozes das virgens cantando salmos mesclavam-se às lamentações que iam enchendo o lugar, as notícias espalharam-se de alguma maneira rapidamente por toda a vizinhança, e todas as pessoas que viviam próximo correram para ao local, de forma que a entrada não dava mais conta da afluência de pessoas.

Quando a vigília de toda a noite por ela acompanhada pelo cantar de hinos, como no caso (da morte) de mártires, e as festividades tinham acabado, a noite veio, e a multidão de homens e mulheres que havia chegado de todas as regiões vizinhas interrompiam os salmos com lamentações. Mas, embora eu estivesse angustiado devido à calamidade, planejava, de acordo com as possibilidades que tínhamos, que não deveria ser omitido um acompanhamento adequado [994 A] a tal funeral.

Gregório faz os preparativos para o funeral

Dividi os visitantes de acordo com seu sexo, e coloquei as multidões de mulheres com o grupo de virgens, enquanto os homens do lugar pus nas fileiras dos monges. Preparei para que os salmos fossem cantados por ambos os sexos de modo ritmado e harmonioso, como num canto coral, de forma que todas as vozes se harmonizassem apropriadamente.

Mas, à medida em que o dia progredia, e todo o espaço do retiro ia ficando mais cheio com a multidão de chegadas, o bispo daquela comarca (de nome Araxius, que havia vindo com todo o conjunto de seus padres), ordenou que a procissão do funeral começasse devagar, [994 B], pois havia um longo caminho a percorrer, e a multidão parecia querer impedir um movimento rápido. Ao mesmo tempo que dava essa ordem, convocou a si todos os presentes que dividiam com ele o sacerdócio para que transportassem o corpo.

Quando isso foi estabelecido e suas ordens realizadas, postei-me debaixo do esquife e chamei Araxius para o outro lado; dois outros renomados bispos tomaram a parte de trás do leito. Então segui adiante lentamente como era esperado, nosso progresso sendo apenas gradual. Pois as pessoas aglomeravam-se ao redor da sepultura e todos estavam insaciáveis em ver aquela visão, de forma que não nos era fácil completar o nosso caminho. De ambos os lados éramos flanqueados por um número considerável de [994 C] diáconos e servos, acompanhando o esquife em ordem, todos segurando velas.

Tudo lembrava uma procissão mística e do início ao fim as vozes se misturavam no canto de salmos, como, por exemplo, aqueles que vem no hino das Três Crianças.

Sete ou oito domicílios interpunham-se entre o retiro e a residência dos Mártires Sagrados, onde os corpos de nossos pais também repousavam. Realizamos com dificuldade a viagem na melhor parte do dia porque as multidões que vinham conosco, e aqueles que constantemente juntavam-se a nós, não permitiam que o nosso progresso fosse como desejávamos.

Chegada na Igreja: o sepultamento

Quando chegamos dentro da igreja, colocamos o esquife e viramos primeiramente para rezar. Mas nossa oração foi o sinal para que as lamentações das pessoas se reiniciasse. Pois no momento em que a voz da salmodia silenciou, e as virgens fitavam fixamente aquela santa face, e o túmulo dos nossos pais já sendo aberto, (onde fora decidido que Macrina seria colocada), [994D] uma mulher gritou impulsivamente que depois desta hora não veríamos aquela santa face outra vez. Então o resto das virgens gritou o mesmo, e uma desordenada confusão perturbou o ordeiro e solene canto dos salmos, e todos ficaram entristecidos com as lamentações das virgens. Conseguimos com dificuldade encontrar o silêncio pelo nosso gesto e graças a  fala do precentor, (que) tomando a liderança e entoando as costumeiras orações da Igreja, (levou) as pessoas a se controlarem finalmente para rezar.

O túmulo da família é aberto

Quando a prece chegou ao seu devido fechamento, o medo entrou em minha mente, pela transgressão ao divino mandamento que nos proíbe de descobrir o pudor de pai e mãe. ?E como?, eu disse, escaparei de tal condenação se olhar a vergonha comum da natureza humana manifesta no corpo de meus pais? Uma vez que eles estão todos decadentes e dissolvidos, conforme deve ser esperado, e se tornaram pútridos e disformes??

Enquanto pensava essas coisas, e a ira de Noé contra seu filho me lançava pavor, a história de Noé me aconselhou o que deveria ser feito. Antes que a tampa do túmulo fosse suficientemente levantada, revelando os corpos ao nosso olhar, eles foram cobertos por um puro tecido de linho esticado de lado a lado.

E agora que [996 B] os corpos estavam escondidos debaixo do pano, nós ? eu e os acima mencionados bispos da região ? tomamos aquele santo corpo do leito e o pusemos ao lado da mãe, entoando assim a oração comum de ambas. Pois ambas eram uma única voz pedindo a Deus por esta dádiva por toda as suas vidas, que seus corpos ficassem mesclados um com o outro após a morte e que seu companheirismo em vida não fosse quebrado na morte.

Com o término do funeral, Gregório retorna para casa

Mas quando completamos todos os ritos costumeiros do funeral, e tornou-se necessário retornar à casa, atirei-me primeiramente ao túmulo e agarrei a poeira, e então comecei meu caminho de volta, deprimido e lacrimoso, ponderando sobre a grandeza da minha perda.

No caminho encontrei um distinto militar que detinha o comando numa pequena cidade Pontus chamada Sebastópolis, e morava lá com seus subordinados. Ele recebeu-me de maneira agradável quando cheguei à cidade, e ficou muito perturbado ao ouvir a calamidade porque estava ligado a nós por laços de afinidade e de amizade. Contou-me a história de um maravilhoso episódio na vida de Macrina, que devo incorporar à minha história e então encerrá-la. Quando cessamos nossas lágrimas e iniciamos a conversa, ele me disse: ?Aprenda sobre a bondade que foi tirada da vida humana.?

A história do militar

 ?Minha esposa e eu tínhamos um fervoroso desejo de fazer uma visita à escola da virtude. Porque assim penso que o lugar deveria ser chamado, no qual aquela alma abençoada residia. Conosco [996 D] vivia também naquela época nossa pequena filha, que possuía uma moléstia no olho após uma doença infecciosa. E sua aparência era repulsiva e causava pena, a membrana em volta do olho era mais larga e embranquecida pela doença.

Mas quando entramos naquele domicílio divino, minha mulher e eu nos separamos, visitamos aqueles buscadores de filosofia de acordo com nosso sexo. Fui para a ala dos homens, presidida por Pedro, seu irmão, enquanto minha esposa foi para a ala feminina e conversou com a santa. E quando um intervalo apropriado se passara, achamos que era hora de partir do retiro, e já fazíamos nossas preparações para isso, mas doces protestos foram levantados por ambos os lados igualmente.

Seu irmão estava insistindo para que eu ficasse [998 A] e compartilhasse a mesa dos filósofos, e a santa senhora não queria deixar que minha mulher se fosse antes que preparasse uma refeição para elas e as  entretivesse com as riquezas da filosofia.  E beijando a criança, como era natural, e colocando seus lábios nos olhos dela, ela viu a enfermidade da pequena e disse ? se me concederes o favor de dividir a nossa refeição, darei a ti em troca uma recompensa não imerecida por tal honra.?

?O que é??, disse a mãe da criança.

?Eu tenho um remédio?, disse a grande senhora, ?que é poderoso para curar doenças nos olhos.?

?E então notícias me foram trazidas dos aposentos femininos, me contando sobre essa promessa?, e permanecemos alegremente, pensando pouco na premente necessidade de começar a nossa viagem.

[998 B] ?Mas quando a festa terminou e havíamos dito a prece, o grande Pedro, que havia nos servido com as próprias mãos e nos animado, e quando a santa Macrina despediu-se de minha mulher com toda a cortesia, então enfim fomos para casa juntos, com alegria e corações animados, contando um ao outro, enquanto viajávamos, o que acontecera conosco. Descrevi-lhe o que aconteceu nos aposentos masculinos, o que vi e ouvi. Ela contou todos os detalhes como numa história, e achou que nada deveria ser omitido, mesmo os mínimos pontos. Contou tudo em ordem, mantendo a seqüência da narrativa.

[998 C] Quando chegou ao ponto em que a promessa de curar a doença fora feita, ela interrompeu a narrativa.

?Oh, o que fizemos??, gritou. ?Como pudemos negligenciar a promessa daquela cura que a senhora disse que ia nos dar??

?Eu estava envergonhado pelo descuido e pedi que alguém voltasse depressa para buscá-la. Assim que foi feito, a criança, que estava nas mãos da ama, olhou para a mãe e a mãe olhou nos olhos da criança.?

?Parem?, disse, envergonhada pela desatenção, gritando com alegria e medo.

?Vejam! Nada do que foi prometido está faltando! Ela realmente deu à menina o verdadeiro remédio que cura a doença; é a cura que vem da oração. Já deu ambos e ele já provou a sua eficácia; nada da doença [998 D] ficou nos olhos. Tudo foi purificado pelo remédio divino.?

E enquanto dizia isso, tomou a criança e a colocou em meus braços. E eu  entendi as maravilhas do evangelho, que até este ponto pareciam inacreditáveis para mim, e falei:

?O que pode ser surpreendente na recuperação da visão dos cegos pelas mãos de Deus, quando Suas criaturas, executando essas curas pela fé Nele, realizaram algo não inferior  a aqueles milagres??

Tal foi a história dele; foi interrompida por soluços, e lágrimas engasgaram o que proferiu. Tanto pelo militar como para a sua história.

Conclusão

Não considero aconselhável acrescentar à minha narrativa todas as coisas similares que ouvimos daqueles que viveram com ela e conheceram sua vida precisamente. Muitos homens julgam o que [1000 A] é crível numa história pela medida da sua própria experiência. Mas o que excede a capacidade do ouvinte, os homens recebem com insulto e suspeita de falsidade, (como algo) muito remoto da realidade.

Consequentemente, omito aquela extraordinária ação agrícola na época da fome, (do modo) como o milho, para aliviar as necessidades, embora distribuído constantemente, não sofreu nenhuma diminuição perceptível, permanecendo sempre em quantidade o mesmo que era antes de ser distribuído às necessidades dos suplicantes.

E depois disso, houve acontecimentos ainda mais surpreendentes, os quais eu poderia contar. Curas de doenças, expulsões de demônios e previsões verdadeiras sobre o futuro. Acredita-se que todos sejam reais, mesmo que aparentemente inacreditáveis, por aqueles que os investigaram com acuidade. Mas pela mente carnal são julgados fora do possível. Aqueles, quero dizer, que não sabem que de acordo com a proporção da fé tanto é dado em distribuição das dádivas espirituais, enquanto pouco para aqueles de pouca fé, (saibam que) muito é dado aos [1000B] que possuem plena crença em sua religião.

Então, temendo que o descrente seja afligido por descrer nas dádivas de Deus, abstenho-me de uma narrativa bem encadeada para descrever estas sublimes maravilhas, pensando ser suficiente para concluir minha vida de Macrina com o que já foi dito.

Portal Veritatis Splendor

NOSSA SENHORA DE GUADALUPE

Nossa Senhora de Guadalupe  (© Vatican Media)

Encontro com Juan Diego

Em 1531, a Bem-aventurada Virgem de Guadalupe apareceu a Juan Diego, um índio asteca que se converteu ao cristianismo. Naquele período, reinava no México uma onda de violências e, sobretudo, de contínuas violações da dignidade humana. A população indígena era a que mais sofria graves discriminações.

As aparições marianas confirmam o encontro dos nativos com Cristo. Maria apresenta-se como a “Mãe do verdadeiro Deus”. A Bem-aventurada Virgem escolheu Juan Diego como seu mensageiro. O homem contou que Nossa Senhora lhe pediu para construir um santuário naquele lugar. O Bispo não acreditou nas suas palavras. Por isso, no dia 12 de dezembro de 1531, Nossa Senhora fez nascer, naquele terreno e em pleno inverno, rosas perfumadas. Juan Diego as colheu e as colocou no seu manto. Quando o abriu diante do Bispo, para mostrar as flores, apareceu, no tecido, a imagem de Maria, representada como uma jovem indígena. Por isso, os fiéis a chamaram “Virgem Morena”.

O manto

O manto, chamado tilma, é constituído por duas capas de ayate: um tecido de fibras da planta agave usado pelos índios mexicanos para fazer roupas. A Virgem, de pele escura, aparece com uma túnica rósea, circundada por raios de sol e, aos seus pés, um anjo segura uma meia-lua.

O olhar de Maria

Na imagem impressa no manto, os olhos de Maria apresentam ramificações venosas como o olho humano. Nas pálpebras aparecem detalhes de extraordinária precisão. Trata-se de imagens tão pequenas que, para ser vistas, foram necessárias técnicas, com lentes de aumento, até duas mil vezes maiores. No olho direito aparece uma família indígena: uma mulher, com uma criança nas costas, e um home com um chapéu, tipo sombreiro, que os observa. No olho esquerdo aparece um homem barbudo idoso, identificado como o Bispo. Esta última cena é precisamente aquela quando Juan Diego abriu o manto diante do Bispo, desvendando, pela primeira vez, a imagem mariana.

O Santuário

O olhar de Maria dirige-se, de modo particular, aos oprimidos e sofredores. Todos os anos, milhões de peregrinos visitam o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, onde se conserva o manto (tilmátli) de Juan Diego, proclamado santo, em 31 de julho de 2002, pelo Papa João Paulo II. A atual Basílica foi construída em 1976.

Vatican News

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

A PIEDADE MARIANA DE SÃO JOÃO PAULO II

Besign

“Totus Tuus ego sum”, “Sou completamente Teu”. Foi esse o lema escolhido por João Paulo II para o seu pontificado e, nos quase 27 anos em que esteve à frente da Igreja, ele testemunhou a importância da devoção mariana em nossas vidas e renovou em nossos íntimos a sólida piedade mariana.

Em suas viagens pastorais, era comum se reservar um espaço para poder visitar os Santuários e Basílicas dedicados a Nossa Senhora. Entre outras, ele visitou a Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, no México; o Santuário de Fátima em Portugal; o Santuário de Jasna Góra em Czestochowa, na Polônia; o Santuário da Bem-Aventurada Virgem Maria do Santo Rosário de Pompéia; a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, na França, e a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, em nosso país. Em todas essas ocasiões, de joelhos, São João Paulo II, em profunda oração, se dirigiu a Nossa Senhora, afirmando: “Mulher, eis o teu filho!” (Jo 20,26)

A origem da devoção e da piedade mariana na vida de Karol Wojtyla está relacionada à Polônia. Vejamos o seu testemunho: “A veneração à Mãe de Deus, na sua forma tradicional, recebi-a da família e da paróquia de Wadowice. Lembro-me que, na igreja paroquial, havia uma capela lateral dedicada à Mãe do Perpétuo Socorro, aonde iam pela manhã, antes do início das aulas, os estudantes do ginásio. O escapulário de Nossa Senhora do Carmo eu o recebi, aos 10 anos, e ainda agora o trago. Houve um tempo em que, de certa forma, pus em discussão o meu culto por Maria, temendo que se dilatasse excessivamente e acabasse comprometendo a supremacia do culto devido a Cristo. Foi então que veio em minha ajuda o livro de São Luís Maria Grignion de Montfort, o ‘Tratado da verdadeira devoção à Virgem Maria’. Nele encontrei a resposta às minhas perplexidades. Sim, Maria aproxima-nos de Cristo, conduz-nos a Ele, com a condição de que se viva o seu mistério em Cristo”. (Dom e mistério).

Ainda explanando sobre a sua devoção à Virgem Maria, Karol Wojtyla nos disse em Aparecida: “A devoção a Maria é fonte de vida profunda, é fonte de compromisso com Deus e com os irmãos. Permanecei na escola de Maria, escutai a sua voz, segui os seus exemplos. Ela nos orienta para Jesus: ‘Fazei o que Ele vos disser’. E, como outrora em Caná da Galileia, encaminha ao Filho as dificuldades dos homens, obtendo d’Ele as graças desejadas. Rezemos com Maria e por Maria: Ela é sempre a “Mãe de Deus e nossa!” (Homilia do Santo Padre João Paulo II em Aparecida, em julho de 1980).

Essa foi uma constante lição de João Paulo II: A autêntica devoção mariana é, em sua essência, cristocêntrica, radicada profundamente no Mistério trinitário de Deus. “A função maternal de Maria para com os homens, de modo algum obscurece ou diminui esta única mediação de Cristo”. (Redemptoris Mater, 22)

Como transbordamento de seu amor a Nossa Senhora, o Papa João Paulo II nos brindou com o Ano Mariano (1987-1988) e com o Ano do Rosário (outubro de 2002-outubro de 2003), além de duas importantes fontes de estudo de cunho mariano: a Carta Encíclica “Redemptoris Mater” e a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”. E em diversas homilias, ele sempre se dirigiu à Mãe do Nosso Redentor. Em sua última viagem a Lourdes, em agosto de 2004, ele nos orientou: “A Imaculada Conceição de Maria constitui o sinal do amor gratuito do Pai, a expressão perfeita da redenção levada a cabo pelo Filho, o ponto de partida de uma vida totalmente disponível à ação do Espírito”. (Homilia do Santo Padre na solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria em Lourdes). Outras lições de seu pontificado: aprender a olhar para Maria para junto dela aprender a viver em profunda união com Cristo e ainda, conhecer os dogmas marianos e se empenhar em sua defesa.

Diante da possibilidade de novos e sangrentos confrontos mundiais, João Paulo II recorreu à poderosa intercessão de Nossa Senhora. Aos 13 de maio de 1982, ele renovou a consagração do mundo a Nossa Senhora de Fátima, feita quatro décadas antes pelo seu predecessor, Pio XII. “À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus! Diante de Vós, Mãe de Cristo, diante de Vosso Coração Imaculado, desejo eu, hoje, juntamente com toda a Igreja, unir-me com o nosso Redentor nesta sua consagração pelo mundo e pelos homens, a qual só no seu coração divino tem o poder de alcançar o perdão e de conseguir a reparação. Oh, Coração Imaculado! Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal que tão facilmente se enraíza nos corações dos homens de hoje e que, nos seus efeitos incomensuráveis, pesa já sobre a nossa época e parece fechar os caminhos do futuro! Da fome e da guerra, livrai-nos! Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável e de toda espécie de guerra, livrai-nos! Quero dirigir-vos ainda uma oração especial, ó Mãe que conheceis as ansiedades e as preocupações dos vossos filhos. Suplico-vos, em imploração ardente e dorida que interponhais a vossa intercessão pela paz no mundo”. (Ato de confiança e de consagração à Nossa Senhora de Fátima). Com esse ato de consagração, notamos a sua atitude de entrega total a Maria, pois “A Virgem Maria está constantemente presente nesta caminhada de fé do povo de Deus em direção à luz!” (Redemptoris Mater, 35) Com os olhos da fé, vislumbramos o alcance desse ato de confiança e as inúmeras graças que posteriormente Deus derramou sobre o mundo.

Com São João Paulo II, reavivamos a certeza de que Maria é uma graça singular que Deus nos concede. “A maternidade de Maria que se torna herança do homem é um dom: um dom que o próprio Cristo faz a cada homem pessoalmente” (Redemptoris Mater, 45). Com São João Paulo II, aprendemos a contemplar o Rosário. “O Rosário é a minha oração predileta. Oração maravilhosa! Maravilhosa na simplicidade e na profundidade. O Rosário, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus e a nova evangelização”. (Rosarium Virginis Mariae, 2 e 3). Com João Paulo II, de modo especial, renasceu a necessidade da família rezar unida. “Sede fiéis àqueles exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de maneira toda especial, o Rosário. Quem dera renascesse o belo costume outrora tão difundido, hoje ainda presente em algumas famílias brasileiras, da reza do terço em família.” (Homilia em Aparecida em julho de 1980). E ainda, com João Paulo II aprendemos a ver Maria como a Mulher eucarística. “Maria está presente, com a Igreja e como Mãe da Igreja, em cada uma das celebrações eucarísticas. Recebemos o dom da Eucaristia, para que a nossa vida, à semelhança da de Maria, seja toda ela um Magnificat!” (Ecclesia de Eucharistia, 57 e 58).

Diante da Madona Negra de Jasna Góra, a Padroeira da Polônia, Wojtyla nos disse: “Seja Maria exemplo e guia no nosso trabalho quotidiano e difícil. Ajude cada um a crescer no amor a Deus e aos homens, a construir o bem comum da Pátria, a introduzir e consolidar a justa paz nos nossos corações e nos nossos ambientes”. (Discurso do Papa João Paulo II aos fiéis reunidos no Santuário Mariano da Virgem de Jasna Góra em junho de 1999).

E no Brasil, diante da Virgem Negra de Aparecida, ele rezou por todos nós: “Ó Mãe! Acolhei em vosso coração todas as famílias brasileiras! Acolhei os adultos e os anciãos, os jovens e as crianças! Acolhei também os doentes e todos aqueles que vivem na solidão! Não cesseis, ó Virgem Aparecida, pela vossa presença, de manifestar nesta terra que o Amor é mais forte que a morte, mais poderoso que o pecado! Não cesseis de mostrar-nos Deus, que amou tanto o mundo a ponto de entregar o seu Filho Unigênito, para que nenhum de nós pereça, mas tenha a vida eterna! Amém! (Oração do Papa João Paulo II na Basílica de Nossa Senhora Aparecida em julho de 1980).

Era tão profundo o amor de Karol Wojtyla por Nossa Senhora que, em seu testamento, ele nos diz: “Sinto cada vez mais profundamente que me encontro totalmente nas mãos de Deus e me ponho continuamente à disposição de meu Senhor, encomendando-me a Ele em sua Imaculada Mãe”.

Com o olhar da fé, podemos vislumbrar sob o pontificado de João Paulo II o manto azul de Maria que o protegeu não somente no atentado de 1981, mas em todos os momentos, em que ele, inspirado pelo Espírito Santo, conduziu a Igreja. Com essa certeza, podemos também afirmar que “o Papa encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que havia perdido a sua mãe quando era muito jovem, amou ainda mais a Mãe de Deus. Escutou as palavras do Senhor crucificado como se estivessem dirigidas a ele pessoalmente: ‘Aqui tens a tua Mãe!’ E fez como o discípulo predileto: acolheu-a no íntimo de seu ser. Totus Tuus! E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo. Confiamos tua querida alma à Mãe de Deus, tua Mãe, que te guiou cada dia e te guiará agora à glória eterna de seu Filho, Jesus Cristo Senhor Nosso. Amém! (Homilia do Cardeal Ratzinger na Missa de exéquias de João Paulo II).

São João Paulo II, intercedei por nós, para que possamos permanecer na escola da Virgem Santa Maria, servindo a Deus e à Igreja com a generosidade da fé, com o testemunho da esperança e com a força transformadora da caridade.

Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

Mais de 50 agências católicas fazem um balanço da crise na Síria e Iraque

Missa da Páscoa de 2018 em igreja de Damasco  (ANSA)

A emergência humanitária, o drama dos refugiados, a fuga dos cristãos de seus locais de origem: estes são alguns dos temas abordados no quarto encontro promovido pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. Uma reflexão sobre os problemas que afetam as populações da Síria, Iraque e países vizinhos.

Da Sala de Imprensa da Santa Sé

“Qualquer esforço - pequeno ou grande - feito para favorecer o processo de paz é como colocar um tijolo na construção de uma sociedade justa, que se abra ao acolhimento e onde todos possam encontrar um lugar para viver em paz”.

Este é o encorajamento que o Papa Francisco dirigiu, em mensagem de vídeo, aos participantes do encontro sobre a crise humanitária na Síria e no Iraque, promovido pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral. O encontro, realizado na modalidade online na tarde de quinta-feira, 11, em linha com as recomendações sanitárias para a pandemia Covid-19, contou com a participação de cerca de cinquenta organismos católicos, representantes de episcopados locais e de instituições eclesiais e Congregações religiosas que atuam na Síria, Iraque e países vizinhos, bem como os núncios apostólicos da região.

O quarto encontro das agências católicas foi aberto por Dom Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que leu o discurso do cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado, impossibilitado de participar pessoalmente.

No discurso introdutório, o cardeal Pietro Parolin reconhece que a situação geral da região é "caracterizada pela crise econômica, agravada pelo bloqueio político ou mesmo pela crise institucional e, mais recentemente, pela pandemia Covid-19".

Diante desta situação “de absoluta gravidade”, que “suscita sérias preocupações”, o purpurado encoraja a todos a dar prosseguimento “aos projetos no Iraque, na Jordânia e na Turquia”, mas pede um empenho particular na Síria e no Líbano.

É sobretudo a Síria, devastada por quase dez anos de conflito, que concentra as reflexões do secretário de Estado. “Hoje, mais do que nunca - insiste - não devemos diminuir a atenção para as necessidades da população, devemos renovar como Igreja o nosso compromisso caritativo junto aos mais frágeis e necessitados, também promovendo ações inovadoras, sem esquecer a formação dos nossos operadores, quer profissional como espiritual".

Mas o é também o Líbano, "atingido pelo colapso do sistema financeiro, pela crise socioeconômica e pela explosão do porto de Beirute", onde se faz urgente "um forte compromisso não só para a reconstrução, mas também para o sustento das escolas católicas e dos hospitais, dois pilares da presença cristã no país e em toda a região”.

As quatro sessões do encontro - situação político-diplomática; a Igreja na Síria e no Iraque; a questão do retorno e dos migrantes e pessoas deslocadas; e agências católicas: da emergência ao desenvolvimento - foram pontuadas por intervenções e debates.

A primeira foi aberta pelo arcebispo Paul Richard Gallagher, secretário para as Relações com os Estados, que traçou um resumo da situação sócio-política no Oriente Médio, em particular no que diz respeito ao Iraque, Síria, Líbano, Turquia e Jordânia. Diante das "tensões e conflitos" que atravessam a Região, o prelado manifestou a esperança de que os "recentes acordos de Abraão" possam favorecer "uma maior estabilidade"; e que os vários desafios no terreno, "desde os humanitários até os políticos", sejam "enfrentados com sinceridade e coragem".

“Cada vez que as dioceses, as paróquias, as associações, os voluntários ou simples indivíduos trabalham para apoiar os abandonados ou necessitados - concluiu Dom Paul Richard Gallagher, assegurando o constante empenho da Santa Sé pela paz - o Evangelho adquire uma nova força de atração".

Neste contexto, o cardeal Mario Zenari, núncio Apostólico na Síria, ofereceu, mais uma vez, o seu testemunho pessoal sobre as consequências humanas e materiais da crise no país, um drama que, segundo fontes das Nações Unidas, ainda atinge 11 milhões. pessoas que necessitam de assistência.

A situação das comunidades cristãs residentes nos países afetados pela guerra esteve no centro do pronunciamento do cardeal Leonardo Sandri, prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais. Diante da "ferida" da emigração, que atinge sobretudo os jovens, o purpurado fez votos que seja feito todo o possível para evitar um "Oriente Médio monocromático que em nada refletiria sua rica realidade humana e histórica". Nesta vasta região existem homens e mulheres que desejam “regressar à própria terra” para “reconstruir seus sonhos”, também aproveitando as possíveis oportunidades da crise existente.

“Os cristãos são chamados, como todos os cidadãos - acrescentou o cardeal Leonardo Sandri - a contribuir para o nascimento de uma nova Síria, um novo Iraque, de acordo com a própria identidade consagrada nos princípios da não violência, do diálogo, do respeito pela dignidade humana, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, pluralismo, democracia, cidadania, Estado de direito, separação entre religião e Estado”.

A questão dos migrantes e pessoas deslocadas foi abordada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi.

A concluir o encontro, refletindo sobre o papel das agências católicas e como elas podem promover a transição da fase de emergência para a do desenvolvimento integral, o cardeal Peter K.A. Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, e o secretário-geral da Caritas Internationalis, Aloysius John.

O purpurado sublinhou como “é necessário dar às pessoas um sinal de esperança concreta, para permitir a elas que regressem aos seus respectivos países e poder viver em segurança”. O secretário-geral da Caritas Internationalis, por sua vez, descreveu a ajuda material que a Organização oferece "para apoiar, acompanhar e defender" as "vítimas inocentes" dos conflitos, especialmente um "grande número de minorias cristãs que são as mais vulneráveis​​". Um compromisso que não se limita a uma simples resposta diante da emergência, mas é também um acompanhamento para o futuro, para a autonomia e para uma vida digna.

São três as propostas da Caritas Internationalis: a revogação imediata das sanções, para aliviar o sofrimento da população local e permitir que as organizações humanitárias respondam às necessidades urgentes relacionadas com a aproximação do inverno e a pandemia de Covid-19; um aumento dos recursos financeiros a serem alocados para programas de ajuda para reconstruir o tecido social e responder às necessidades das comunidades locais; um maior apoio aos programas de organizações da sociedade civil que visam fornecer ajuda humanitária e promover a reabilitação e o desenvolvimento.

Vatican News

Por que a cristandade europeia foi tão importante para a fé

María Paola Daud | Aleteia
por Thomas Storck

O florescimento de uma cultura autenticamente cristã não aconteceu por acidente.

Hilaire Belloc é famoso (ou infame, para alguns) por uma afirmação de seu livro “A Europa e a Fé”: “A fé é a Europa e a Europa é a fé” [1].

É claro que Belloc, como qualquer homem inteligente, sabia muito bem que esta afirmação não era literalmente verdadeira, pelo menos não no sentido estatístico: havia milhões de católicos fora da Europa e milhões de não católicos na Europa. Este é o caso ainda hoje, inclusive mais do que quando Belloc escreveu. Mas existe um sentido em que essa afirmação é verdadeira: a Europa é o lugar em que, por providência de Deus, a fé teve tempo e espaço para se desenvolver intelectual e culturalmente até formar a cristandade, o sinal externo e visível do trabalho interno e invisível de Deus nas almas humanas.

Embora a órbita cultural da Igreja tenha incluído originalmente partes da África e da Ásia, e apesar de muitos dos primeiros e mais importantes Padres e teólogos da Igreja serem do norte da África ou do Oriente Médio, essas áreas foram até certo ponto cortadas do contato com o resto do mundo católico depois das invasões maometanas.No caso da África setentrional latina, a Igreja acabou por desaparecer de todo. A Europa se tornou, assim,o único lugar onde, mesmo em meio a muitas dificuldades, a vida católica pôde se desenvolver de forma mais ou menos natural e própria. É correto dizer, neste sentido, que “a fé é a Europa e a Europa é a fé”, porque foi somente no Velho Continente que a vida social e cultural católica teve a chance de amadurecer, dando ao continente uma unidade cultural que provavelmente não teria se constituído sem a cristandade.

Expressão cultural

Essa manifestação social e cultural exterior da fé católica sempre foi característica da Igreja. Salvo em casos de perseguição, o normal foi o estabelecimento de uma ordem social católica, a ponto de darmos por incontestável o número imenso de expressões intelectuais, literárias, artísticas, musicais, arquitetônicas e de outras manifestações da fé católica que nasceram dentro da cristandade. Mas há um elemento adicional e quase sempre necessário nesta expressão externa da fé: o aspecto político. Desde o reconhecimento inicial da Igreja pelo Imperador Constantino através do Edito de Milão, a Igreja católica desfrutou de uma relação complexa com os vários poderes políticos do mundo. Antes de Constantino, a Igreja era objeto de perseguição por parte do governo romano.

Com o Edito de Milão, porém, tudo mudou. O governo se tornou, em certo sentido, patrono e protetor da Igreja. Que esse vínculo teve um lado negativo, ninguém pode negar. Mas que foi o meio providencial para proteger a Igreja e permitir o desenvolvimento da civilização cristã é igualmente inegável. É desconcertante avaliar certas instâncias particulares dessa complexa relação com os poderes do mundo, relação muitas vezes positiva e negativa ao mesmo tempo.O necessário, considero eu, é evitar tanto a condenação integral dessa relação quanto o não reconhecimento ou a minimização dos seus aspectos negativos.

Ao avaliar os prós e contras da relação política que muitos governantes mantiveram com a Igreja ao longo dos séculos, devemos lembrar que, sem esse tipo de proteção,as culturas católicas dificilmente teriam conseguido se desenvolver. Deixo para abordar a situação contemporânea mais adiante; falando do passado, porém, até algumas centenas de anos atrás, os triunfos militares ou políticos de poderes anticatólicos acarretavam geralmente a perseguição contra a Igreja, a destruição das manifestações externas de vida católica e, muitas vezes, a morte lenta da fé na vida privada dos indivíduos.

Mártires

A célebre afirmação de Tertuliano de que “o sangue dos mártires é semente da Igreja” se mostrou verdadeira em vários contextos, mas não pode ser considerada um axioma aplicável acriticamente a todos os tempos e lugares. Nas terras conquistadas pelos muçulmanos ou nas partes da Europa que abraçaram o protestantismo, a Igreja foi submetida a diferentes graus e tipos de perseguição e, em alguns casos, o organismo católico foi reduzido a nada. Isto salienta que, qualquer que seja o dano provocado pela proteção do Estado à Igreja, continua sendo verdade que ela também proporciona o espaço necessário para que a Igreja e a vida católica existam e se desenvolvam. A triste situação da Igreja na Europa católica é tomada muitas vezes como “prova” de que, em última análise, a proteção oficial faz mais mal do que bem, mas, comparando-se a Europa latina de hoje com terras outrora católicas como a Escandinávia e a Ásia Menor, podemos concluir que mais de uma opinião é possível.

Houve na Europa cristã uma sucessão de poderes políticos que ofereceram esse patrocínio até o século XIX, embora de modo cada vez menos consistente à medida que os séculos passavam: o Império Romano, tanto ocidental quanto oriental; o Império Franco de Carlos Magno; a maioria dos reinos europeus durante a Idade Média; a Espanha dos Habsburgo, juntamente com o Sacro Império Romano, e, por último, a França. Durante esse tempo, é claro, a Igreja perdeu grandes partes da Europa na revolta protestante, quase ao mesmo tempo em que começava a expansão católica para o Novo Mundo e para partes da Ásia e da África.

América Latina

Necessariamente, a vida católica nessas regiões derivou da vida católica europeia. Em uma região, particularmente, houve tempo e recursos suficientes para a criação de uma verdadeira nova província da cristandade: a América Latina, onde surgiu uma cultura católica barroca, certamente transplantada da Europa em suas linhas principais, mas desenvolvida em um novo ambiente e entre novos povos.

Christopher Dawson escreveu:

“Nenhum lugar exibe a vitalidade e a fecundidade da cultura barroca melhor do que o México e a América do Sul, que experimentaram um rico florescimento de estilos regionais de arte e arquitetura, alguns com influência indígena considerável. Este poder da cultura barroca de assimilar influências exteriores é um dos seus traços característicos,que a distingue nitidamente da cultura e do estilo artístico do âmbito anglo-americano” [2].

Este poder assimilador do barroco espanhol foi tão grande que, no tocante à música,outro estudioso chegou a afirmar:

“É muito difícil, na Bolívia, no Peru e no Equador, separar os elementos musicais de origem indígena dos de tradição europeia… Os elementos das duas culturas se combinaram para formar unidades inseparáveis” [3].

A América Latina, por um lado, ofereceu espaço para o desenvolvimento cultural católico, mas, por outro, como todas as terras recém-descobertas ou colonizadas, continuou a depender política e intelectualmente da Europa.

Já na Europa, como observei antes, países importantes e cada vez mais poderosos tinham se desligado da unidade católica. A Inglaterra protestante, junto com a Holanda e,durante um tempo, com a Suécia, passou a ser a central europeia de destruição da civilização católica. Esses países se tornaram não só rivais políticos e militares das potências católicas, mas erigiram um modelo alternativo de vida cultural ocidental que tem exercido um poderoso apelo intelectual.

Estados Unidos

Os Estados Unidos se transformaram, posteriormente, na base mundial da cultura protestante. Belloc escreveu a respeito: “A força da cultura protestante encontra-se agora fora da Europa, nos Estados Unidos” [4]. Essas várias potências protestantes trabalharam para conquistar porções de territórios católicos no mundo todo, com o envio de missionários protestantes para a América Latina e outros países católicos.Eles têm contribuído para a destruição da fé e da cultura católica, mas, talvez mais significativo do que isso, têm oferecido um modelo alternativo de cultura ocidental que apela fortemente ao materialismo moderno. O crescente poderio e riqueza industrial deste modelo oferece argumentos espúrios a seu favor, resumidos por Belloc nas seguintes palavras:

“A Igreja Católica é falsa porque as nações de cultura católica têm decrescido de forma constante em riqueza material e em poder, contrastando com as nações de cultura anticatólica, ou, neste caso particular, de cultura protestante” [5].

Embora hoje em dia nem a Grã-Bretanha nem os Estados Unidos tenham qualquer interesse, como nações, na teologia protestante, ambos continuam se opondo reflexivamente aos interesses católicos ou a quaisquer remanescentes de cultura católica no mundo atual. Aliás, parte do sentimento anti-hispânico de tantos anglo-americanos, inclusive católicos, tem raiz no sentimento de superioridade cultural da civilização protestante.

Em termos gerais, a civilização protestante ainda existe hoje como força de apoio (não me refiro ao protestantismo como religião, mas à cultura protestante); já um poder católico, neste sentido, não existe. Com a exceção parcial e frágil de alguns países latino-americanos [6], a cultura da Igreja católica não têm verdadeiras propostas políticas hoje. No final do século XIX, o papa Leão XIII e outros pensadores católicos de vasta visão perceberam que a Igreja não poderia mais depender de príncipes católicos para garantir apoio externo. Tanto no campo cultural quanto no político, passaria a ser a massa do povo católico, residente cada vez mais em regimes democráticos e com voz em seus governos, quem constituiria o apoio externo da Igreja. E esse novo arranjo pareceu funcionar razoavelmente bem. O último terço do século XIX e a primeira metade do século XX foram um dos períodos mais brilhantes do pensamento e das letras católicas, da filosofia, dos esforços dos papas Pio X a Pio XII para concretizar o potencial da liturgia como escola de vida cristã. Apesar das interrupções causadas pelas duas guerras mundiais, o pensamento católico exerceu influência política em mais de um país;houve partidos políticos católicos, oficiais ou não; e alguns regimes se dedicaram, mais ou menos conscientemente, a realizar um programa católico de políticas públicas; mesmo nos países protestantes,a vida popular católica florescia em grande variedade de associações e instituições e os católicos chegaram a exercer considerável influência no processo político.

Infelizmente, na segunda metade do século XX, a Igreja infligiu a si mesma, de modo deliberado e incompreensível, um grave ferimento. Os documentos conciliares como tais, apesar de algumas ambiguidades, não são problemáticos; mas parece haver uma razoável percepção de que a condução do Concílio Vaticano II e, mais ainda, a sua aplicação e o pós-concílio provocaram um desastre pastoral, intelectual e institucional para a Igreja. Como resultado desse desastre, a vida católica popular que já existia foi destruída em grande parte. A cultura católica é muito mais ampla do que simplesmente a recepção dos sacramentos e da catequese,mas depende de elementos formais de vida católica,sem os quais ela não pode durar.

É difícil, assim, imaginar qualquer saída desta nossa situação atual, já que tanto o lado formal quanto o popular da vida católica foram afetados. Como podemos responder a esta situação em que a Igreja não goza do apoio de nenhum governo poderoso nem exerce um entusiasmo vasto e leal no povo católico? Em circunstâncias assim, como manter, alimentar e estendera Igreja e a vida católica?

Tradição

Infelizmente, as medidas que podem ser sugeridas para esse fim parecem muito inadequadas. Uma liturgia bela e historicamente enraizada; o cultivo deliberado de uma consciência da tradição intelectual católica, incluindo a ênfase na doutrina social da Igreja; escolas católicas novas ou restauradas em todos os níveis; educação popular constante através da mídia…Estes estão, para mim, entre os meios principais possíveis e com esperança de sucesso. Mas nenhum deles é fácil de desenvolver.Além disso, dos que já foram iniciados, muitos estão mais do que contaminados por influências externas:nos EUA, por exemplo, há contaminação vinda de compromissos fatais com a visão de mundo do liberalismo clássico por parte de católicos incapazes de distinguir entre a visão católica da ordem social e a visão do liberalismo clássico, simplesmente porque este último parece estar em desacordo com a trajetória de um liberalismo mais recente e, obviamente, prejudicial. Que ambas as formas de liberalismo estão enraizadas nos mesmos erros é coisa aparentemente impossível de entender para muitos.

Eu não tenho grandes esperanças para o futuro imediato. No longo prazo, não há dúvida nem deve haver medo, pois Jesus Cristo é a cabeça da Igreja e a Igreja é o seu Corpo Místico. Quanto tempo significa esse “longo prazo”? Seja pouco, seja muito, o fato é que não está em nossas mãos. Enquanto isso, o sucesso não deve ser a regra da nossa atividade, mas sim a fidelidade: fidelidade ao mandado que o Fundador deu à Igreja de sair para o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura.

[1] Rockford: TAN, [1920] 1992, pág. 2.
[2]  The Dividing of Christendom; Garden City: Image, 1967, pág. 162.
[3]  Bruno Nettl, Folk and Traditional Music of the Western Continents; Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 2ª ed., 1973, pág. 191.
[4] The Two Cultures of the West, in Essays of a Catholic; Rockford: TAN [1931] 1992, pág. 244.
[5] Survivals and New Arrivals; Londres: Sheed & Ward, 1939, pág. 80.
[6] Quando a Argentina escolheu a data de 25 de março como Dia da Criança Ainda Não Nascida, para simbolizar a sua rejeição ao aborto, o presidente Carlos Menem escreveu aos chefes de Estado de todos os países latino-americanos,além de Espanha, Portugal e Filipinas, convidando-os a aderir. Ele observou que “as raízes históricas comuns dos nossos países nos unem não só em questões de linguagem, mas também na compreensão do homem e da sociedade baseada na dignidade fundamental da pessoa humana” (Catholic World News, 25/03/1999). É um eco do antigo status do mundo hispânico em seu papel de baluarte geopolítico do catolicismo.

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF