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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Síntese de Mariologia

Portal A12

por Pe. Jair Cardoso Alves Neto

Quando chegou a plenitude dos tempos, mandou o seu Filho, nascido de mulher… para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl 4,4-5). Constantemente na história da salvação, Deus manifesta o seu amor de Pai junto a seu povo. O amor é revelado por meio de uma eleição: uma jovem é separada para que por meio dela o Filho de Deus pudesse assumir a humanidade decaída com o pecado. Assim como por meio de uma mulher (Eva), o pecado “entrou” no mundo, Deus separa uma mulher para que por meio dela chegue a Salvação: dá-se uma nova criação. Há um novo Adão e, do seu lado é tirada a mulher, a nova Eva; um novo povo é constituído.

Maria é a Mulher do sim. O sim dado ao Amor. A obediência dada por amor. A entrega dada no amor. Desta maneira, Maria tem uma grande importância na história da salvação e na vida de muitos cristãos e sua figura é tradicionalmente reconhecida na Igreja Católica.

5.1 MARIA NO NOVO TESTAMENTO

Certamente, a Virgem tem na Bíblia um lugar discreto. Ela aí é representada toda em função de Cristo e não por si mesma. Mas sua importância consiste na estreiteza de seus laços com Cristo.

Maria está presente em todos os momentos de importância fundamental na história da salvação: não somente no princípio (cf. Lc 1 – 2) e no fim (cf. Jo 19,27) da vida de Cristo, mistérios da Encarnação e da morte redentora, mas na inauguração de seu ministério (cf. Jo 2) e no nascimento da Igreja (cf. At 1,14). Presença discreta, na maior parte das vezes, silenciosa, animada pelo ideal de uma fé pura, e de um amor pronto a compreender e a servir aos desejos de Deus e dos homens (cf. Lc 1,38-39.46-56; Jo 2,3) (BOFF, 2004).

Esta presença revela seu sentido total, e com toda a Escritura se a recolocarmos nos grandes quadros e correntes da teologia bíblica onde eles se situam, Maria aparece no término da história do povo eleito como correspondente de Abraão: Ela se apossa, pela fé, da promessa que ele havia recebido na fé. Ela é o ponto culminante onde o povo eleito dá nascimento a seu Deus e se torna a Igreja. Se alagarmos a perspectiva da história de Israel à história cósmica, segundo as insinuações de João e de Lucas, se compreendermos que Cristo inaugura uma nova criação, Maria aparece no início da salvação, como restauração de Eva: Ela acolhe a promessa de vida onde a primeira mulher havia acolhido a palavra de morte e se torna perto da nova árvore da vida a mãe dos vivos (LAURENTIN, 1965).

5.1.1 Maria no Evangelho de Marcos

O Evangelho de Marcos se constitui em duas questões fundamentais: Quem é Jesus de Nazaré? Como ser discípulo de Jesus, o Cristo? Questões que Maria, mãe de Jesus, como todos de sua família e todos da comunidade cristã, inclusive Marcos buscam entender.

No Evangelho de Marcos a pessoa de Maria aparece em duas passagens: Mc 3,31-35 e Mc 6, 3-4. Nestes textos Maria é a mãe biológica de Jesus que busca entender o filho juntamente com seus familiares. A mulher maternalmente solícita pela sorte do filho. Mas, que também é convocada a ser discípula na busca de compreender Jesus e sua missão e acolher sua proposta.  Ela também podia estar entre os primeiros a nutrir preocupações ainda muito humanas pela missão e a obra de Jesus.

Marcos indica que a verdadeira família de Jesus não é a de ordem carnal e que a ela pertencem todos os filhos do Reino. Assim, Maria, Mãe de Jesus é fundamental testemunho dos verdadeiros laços que criam comunhão com Jesus. Depois de ter levado Jesus, seu filho no ventre, era preciso que ela o gerasse no coração, cumprindo a vontade de Deus (cf. Mc 3,35), que se manifestava naquilo que Jesus dizia e realizava. Neste sentido, a figura de Maria “mãe” se harmoniza e se completa com a figura da “discípula” (SERRA, 1995).

5.1.2 Maria no Evangelho de Mateus

No Evangelho de Mateus a pessoa de Maria aparece em dois momentos: nos relatos da infância (cf. Mt 1-2) e no ministério apostólico de Jesus ( cf.Mt 12,46-50; 13,54-58). O primeiro é composto por relatos próprios de Mateus; o segundo está em dependência de Marcos, mas Mateus toma diante dele tal liberdade que é capaz de transformar seu sentido e seu ensinamento (ALVAREZ, 2005).

No Evangelho da Infância em Mateus, Jesus, como todos os meninos, não chega ao mundo sem um pai e uma mãe. Mateus fala de José, esposo de Maria (cf. Mt 1,16) e de Maria esposa de José (cf. Mt 1,24). Maria, por sua vez não tem existência sem José, do qual é esposa, e sem Jesus, do qual é mãe. Maria é aquela que gera e é mãe, ao passo que José é somente o pai legal.

Mt 1,3 fala sobre a concepção de Jesus, diz que esta se realizou “para que se cumpra o oráculo do Senhor, por meio do profeta […]” e cita Is7, 14, aplicando a Jesus a realidade do “Emanuel” e a Maria a de “virgem”. (Mateus quando) Ao falar do nascimento de Jesus, Mateus recorrendo ao texto de Isaías, não somente assume a interpretação dos LXX, mas ele mesmo interpreta teologicamente esse nascimento: Jesus é o Emmanuel e nasce de Maria Virgem. Neles dois se realiza plenamente o oráculo do profeta: Jesus é o Messias, e Maria é a Mãe-Virgem e, este fato maravilhoso somente pode ser entendido como a obra do Espírito Santo (ALVAREZ, 2005).

A união de Maria com seu Filho é, então, íntima, total e permanente. Desde a concepção virginal, Maria está expressamente unida a Jesus e é inseparável dele. Por isso, os escritores eclesiásticos aprofundam nesta realidade, dizendo que não podemos entender Jesus sem Maria e entender Maria sem Jesus.

Podemos notar, finalmente, como que um contraste nas expressões de Mateus: Enquanto Jesus é o Emmanuel de Deus, Deus – conosco, Maria é a Mãe que está sempre junto do seu Filho. Ela é a resposta permanente à presença sempre atual do Senhor na história.

Quanto ao ser discípulos de Jesus significa cumprir a vontade do Pai no céu, realizar seu plano. Para Mateus, o discípulo integra, então, a escuta da Palavra e sua ação (cf. Mt 5,19;Mt7,24-25), o estar junto de Jesus e sob a sua proteção (cf. Mt 12,49-50). E Maria, com perfeita discípula e “família dele” em um nível muito mais forte e firme do que o dos laços físicos de geração (ALVAREZ, 2005).

Portanto, o Evangelho de Mateus nos fala que Maria está intimamente ligada ao seu Filho Jesus Cristo, desde antes do nascimento e, uma vez nascido para o mundo, está unida a ele nos momentos fundamentais de sua vida e de seu ministério. Assim, Maria aparece, mesmo sem palavras, como testemunha da graça abundante de Deus para seu povo, mas também como mãe que cuida e acompanha o Filho de suas entranhas (ALVAREZ, 2005).

5.1.3 Maria no Evangelho de Lucas

De todos os Evangelhos, Lucas é o que mais nos fala de Maria. Primeiramente nos relatos da infância, onde ela tem um papel mais ativo do que o que vimos em Mateus; em seguida, no marco da atividade apostólica de Jesus, com quatro textos, dois dos quais coincidem com as tradições de Marcos e de Mateus (cf. Lc 4,16-30 e 8,19-21) e outros dois que pertencem à tradição própria de Lucas (cf. Lc 3,23 e 11,27-28); por último, no começo dos Atos dos Apóstolos, quando se inicia a história da Igreja (cf. At 1,14) (ALVAREZ, 2005).

A primeira coisa que temos de afirmar, ao entrar na análise dos textos lucanos sobre Maria, dentro do chamado Evangelho da infância (Lc1-2), é que os textos são fundamentalmente cristológicos e mariológicos. Maria não tem uma identidade e uma vocação própria, mas dentro e a serviço da cristologia. Ela é tudo para Jesus e se transforma e se enriquece plenamente por e para Jesus. Para isto, temos alguns títulos que ilustram esta tão grandiosa discípula: Filha de Sião, Virgem e Mãe, Cheia de Graça, Morada de Deus, Cheia do Espírito, Serva e mulher de fé e Portadora da santa presença. Temos também textos bíblicos que falam da sua experiência como Mãe do Salvador: Lc1, 26-28 (o anúncio do Anjo); Lc1-39-45 (a visita a Isabel); Lc1, 46-55 (o cântico da libertação). Assim sendo, Maria surge em Lucas como a primeira mensageira do Evangelho de Deus: leva a Notícia da paz, da felicidade e da salvação, desde a Galiléia até a região de Judá. Mas Maria é a primeira mulher que acolhe o Evangelho e o comunica a seus irmãos, trazendo-lhes o gozo escatológico, quer dizer, a alegria e a segurança da salvação definitiva (cf. Lc 1,44) (ALVAREZ, 2005).

Em Lucas percebemos a participação e a cooperação de Maria no plano da salvação, desde a anunciação até o início da Igreja: “todos estes unânimes, perseveravam na oração com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e com seus irmãos” (At 1,14) (ALVAREZ, 2005).

Portanto, no Evangelho de Lucas vimos que Maria é apresentada como a Mãe do Salvador e esta em Atos exerce a função de Mãe da comunidade, pois, ela se encontra reunida com esta comunidade nascente para receber em oração a Promessa do Espírito; com esta comunidade reunida com os seus para orar e esperar de seu Filho o presente dos tempos novos. É, finalmente, irmã na comunidade e discípula do Senhor exaltada, que permanece em Jerusalém em cumprimento da Palavra do Mestre (cf. At 1,5-8) (ALVAREZ, 2005).

5.1.4 Maria no Evangelho de João

O quarto Evangelho oferece-nos a história de Cristo, num esforço de “memória viva” que parte da fé pascal (cf. Jo 2,17.22;12,16;13,7;20,9) e é realizada por obra do Espírito, o Paráclito, que é testemunha fiel e o hermeneuta qualificado da vida e da obra do Cristo joânico (cf. Jo 14,15-17;15,26;16,7-11.13.15). O quarto Evangelho é do final do século I e expressa a situação de duas igrejas, primeiro na Síria e depois na Ásia Menor (ALVAREZ, 2005).

A figura de Maria aparece no quarto Evangelho em duas ocasiões, no começo e no final do Evangelho. Em ambas, Maria é chamada “a Mãe de Jesus” (cf. Jo 2,1.3.5;19,26), e em ambas a palavra do Mestre vai dirigida a ela com o nome de “mulher” (cf. 2,3;19,26), mas nunca aparece o nome próprio de Maria. No Evangelho de João Maria é chamada por dois nomes: “Mãe de Jesus” e “Mulher”. Enquanto a expressão “Mãe de Jesus” é um título que contrasta com a outra afirmação, “filho de José”, o termo “mulher” é comum em Jesus para dirigir-se às mulheres (cf. Mt15, 28; Lc13, 12; Jo4, 21; 8,10; 20,13). Contudo aqui, dito à sua Mãe tem uma conotação especial: o termo “mulher” dirigido por Jesus é um termo joânico que aparece em duas ocasiões (em Caná e na cruz) e forma uma espécie de inclusão. A mulher está presente no começo e no fim da vida pública, no momento em que o Messias inicia suas obras e na hora da morte, quando consuma sua obra (ALVAREZ, 2005).

Maria aparece no Evangelho de João, sobretudo em 2,1-12 como intercessora e evangelizadora. Como intercessora Maria apresenta simplesmente a Jesus, a necessidade dos que participam da festa de bodas: “Não há mais vinho” (Jo 2,3). Já como evangelizadora, a segunda palavra de Maria que encontramos no quarto Evangelho é significativa não só pelo que diz, mas também por aqueles aos quais a diz: “Fazei o que ele disser” (Jo 2,5) (ALVAREZ, 2005).

Se em Caná, Jesus lhe disse que ainda não havia chegado sua “Hora” e iniciou seus sinais, aqui, na cruz, na Hora da Páscoa, Jesus realiza seu último e definitivo sinal da salvação, a morte por todos e a entrega do Espírito (cf. Jo 19,30). Assim, Maria é chamada novamente com dois títulos de Caná: a Mãe de Jesus e a Mulher. Maria também é a testemunha por excelência da Páscoa de Jesus diante da comunidade (cf. Jo 19,35; 21, 24). E esta comunidade, ao entender o gesto de seu Senhor, a recebe entre seus bens mais preciosos: Maria passa a ser um bem precioso com que Jesus Cristo presenteia a Comunidade, um dom da Páscoa de inapreciável valor; mas também a Mãe de todos acolhida como tal (ALVAREZ, 2005).

A visão do quarto Evangelho é nitidamente teológica contribui para realçar o papel de Maria no mistério de Jesus. Assim, o Evangelho de João articula os três elementos, Maria – Mãe de Jesus, Maria – Mulher e Maria – Mãe dos discípulos, segundo uma graduação teológica: partindo de Maria – Mãe de Jesus para chegar a Maria – Mãe dos discípulos, com uma maternidade nova.

5.2 OS DOGMAS MARIANOS

Os quatro dogmas marianos: “Maternidade Divina” = “Mãe de Deus” (Theotókos), e “Maria Virgem” = Virgindade, são antigos e estão estreitamente ligados entre si e inseparáveis da fé em Jesus Cristo e a sua formulação histórico- dogmática. Os dogmas da “Imaculada Conceição” e “Assunção de Maria” são mais recentes e estão baseados na dignidade e no significado de Maria Virgem e Mãe de Deus.

5.2.1 A Maternidade Divina e Virginal

Julga-se que o título Theotókos, Mãe de Deus, aparece pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes (†250). Foi solenemente proclamado pelo Concílio de Éfeso (431) (BETTENCOURT, 2004).

Em que sentido Maria é a Mãe de Deus? Toda mãe é mãe de uma pessoa. A Pessoa que nasce de Maria é a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, que dela assumiu a carne humana. Maria, porém, não é mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade do seu Filho, o Verbo encarnado. Daí dizer-se que Maria é Mãe de Deus, mas enquanto Deus feito homem.

Deus escolheu Maria, por benevolência ou gratuidade, para ser Mãe Santa. Portanto, encheu-a de graça. Maria correspondeu fielmente ao dom de Deus, dizendo-se e fazendo-se a serva do Senhor (cf. Lc 1,38. 44). Maria foi escolhida como filha de Sião ou como membro de um povo chamado a gerar o Messias. Isto quer dizer que o Sim de Maria é o Sim de uma coletividade; é o Sim de todo o gênero humano, chamado a se prolongar na Igreja através dos séculos (BETTENCOURT, 2004).

Maria concebeu o Filho de Deus de maneira livre e generosa. Para isto, devia ter certo conhecimento do dom e da missão que lhe eram propostos (não se tratava de conhecimento pleno; (cf. Lc 2,50). Maria é privilegiada, mas ela se intitula “servidora de Deus e dos homens” (cf. Lc 2,38. 48). O próprio Jesus ensinou que “o maior deve ser como aquele que serve” (cf. Lc 22,26; Jo 12,13-15).

Desde remota época a Igreja professa que Maria é sempre virgem (no sentido físico). Esta verdade pertence ao patrimônio da fé, como declarou, em conformidade com a Tradição, o Papa Paulo V (aos 7/08/1555): “A bem-aventurada Virgem Maria foi verdadeira Mãe de Deus, e guardou sempre íntegra a virgindade, antes do parto, no parto e constantemente depois do parto” (DS 1880 [993]).

A doutrina da concepção virginal de Maria começa a ter sentido quando abordada de modo contemplativo no contexto da encarnação. As narrativas da infância de Mateus e Lucas são as únicas fontes que falam da concepção virginal de Jesus. Elas testemunham que Maria concebeu Jesus pelo poder da sombra do Espírito Santo sem intervenção masculina (cf. Lc 1,26-38; Mt 1,18-25). Os dois autores estão indicando o interesse na concepção virginal como sinal de escolha e graça divinas. A descrição extraordinária do nascimento de Jesus entra no discernimento cristológico de que Jesus é Filho de Deus, o Messias, desde o nascimento.

Assim, a doutrina da virgindade de Maria é indicativo das origens de Jesus no mistério de Deus que não se explicita apenas por ascendência humana, mas pela iniciativa criadora de Deus. Maria é virgem e mãe. Maria Virgem porque se guardou íntegra para Deus. Virgem por guardar íntegra a Palavra de Deus: “Faça-se em mim…”. Por isso é também a “sempre virgem Maria”: avançou íntegra na “penumbra da não-visão”; avançou em “peregrinação de fé” (LG 58).

5.2.3 Imaculada Conceição

O dogma da Imaculada Conceição significa que, no primeiro instante de sua conceição, a Bem-aventurada Virgem Maria foi, por graça e privilégio singulares de Deus onipotente e em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, preservada de toda mancha da culpa original (DS 2803 [1641]).

Esta verdade, solenemente definida por Pio IX em 08/12/1854, foi aos poucos aflorando à consciência da Igreja. Durante muito tempo, os teólogos perguntavam como poderia Maria ter sido salva por Jesus Cristo se nunca tivesse pecado. Finalmente, João Duns Scoto, O.F.M. (†1308) propôs a fórmula decisiva: “pertence à perfeição do Redentor não somente purificar do pecado, mas preservar do pecado a mais dileta dentre as criaturas” (BETTENCOURT, 2004, p.06).

Maria, portanto, foi isenta do pecado original em previsão dos méritos de Cristo; assim, ela foi remida de maneira mais perfeita do que as outras criaturas.

Maria nunca contraiu pecado pessoal, nem a mais leve culpa. A razão pela qual o Senhor Deus quis outorgar tal privilégio a Maria, se deriva da graça da maternidade divina: não convinha que aquela mulher chamada a ser tabernáculo do Altíssimo ou Mãe de Deus feito homem estivesse, por um momento sequer, sujeita ao domínio do pecado e de Satanás. O anjo declarou Maria “cheia de graça” (Lc 1,26) – o que sugere que desde o início da sua existência ela gozou da plenitude do favor divino.

A riqueza de graças em Maria não impediu que ela vivesse de fé e de esperança, em meio a lutas e dores. A sua fé inspirou-lhe a obediência incondicional a Deus, que lhe pedia cada vez mais generosa. Maria não compreendeu desde o início a grandeza da obra que Deus nela realizaria; também se sentiu perplexa, mais de uma vez, diante do procedimento de seu Filho (cf. Lc 2,49s), mas abandonou-se a Deus sem reservas.

5.2.4 Assunção de Maria

Desde remota época (séculos IV e V), os autores cristãos julgaram que Maria teve um fim de vida terrestre singular; em seus sermões e em escritos apócrifos, professaram a glorificação corporal de Maria, logo após a sua morte na terra. Esta crença foi-se transmitindo até que o Papa Pio XII em 1950 houve por bem proclamá-la solenemente como dogma de fé (FIORES, 1995).

Com efeito, Maria, que não esteve sujeita ao império do pecado para poder ser a santa Mãe de Deus, não podia ficar sob o domínio da morte que entrou no mundo através do pecado (cf. Rm 5,12). Por isto, não conheceu a deterioração da sepultura, mas foi glorificada não somente em sua alma, mas também em seu corpo (FORTE, 1985).

A carne da mãe e a carne do filho são uma só carne. Por isto, a carne de Maria devia tocar a mesma sorte que tocou a carne de Jesus: ambas foram glorificadas no fim desta caminhada terrestre. Existe uma tendência a empalidecer o significado da glorificação corporal de Maria mediante a tese da ressurreição de todo indivíduo logo após a morte: o caso de Maria seria um entre outros pares (BETTENCOURT, 2004).

A Assunção da Virgem Maria é uma participação singular na Ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos (CIC 966).

5.3 MARIA NOS DOCUMENTOS DO VATICANO II: LUMEN GENTIUM E MARIALIS CULTUS

A figura de Maria foi de suma importância para o Vaticano II: o Papa João XXIII abriu o Concílio na festa da Maternidade Divina de Maria (11 de outubro de 1962) e o Papa Paulo VI o concluiu na vigília da Imaculada Conceição (07 de dezembro de 1965). O Concílio, todavia, abre perspectivas de um novo tempo, nos deixando o “Capítulo VIII” da Lumem Gentium. Depois do Concílio Vaticano II, temos a exortação de Paulo VI (02 de fevereiro de 1974) (FURLANI, 2005).

5.3.1 Maria no Capítulo VIII da Lumen Gentium

O capítulo VIII da Lumem Gentium integra o mistério da Mãe de Deus no mistério de Cristo e da Igreja. Este documento dá destaque à fundamentação bíblica e tradicional da doutrina mariana, levando em conta a exegese recente, os Padres da Igreja e dos teólogos posteriores.

No seu conteúdo, representa a doutrina clássica em termos modernos: Maria, a Mãe de Deus e tipo de Igreja é vista como pessoa que se oferece livre e conscientemente à graça de Deus.

A devoção aparece como incentivo para a fé e amor de Jesus. E favorece ao diálogo ecumênico, assumido no Concílio. O Papa Paulo VI na promulgação da Constituição Lumem Gentium, terminou sua alocução proclamando Maria Mãe da Igreja, título que não aparece no documento conciliar, mas foi acrescido às “Ladainhas lauretanas” (FIORES, 1995).

5.3.2 Marialis Cultus

A Exortação Apostólica do Papa Paulo VI (02/02/ 1974), parte da renovação litúrgica, decidida pelo Concílio Vaticano II, para explicar o lugar de Maria no ciclo geral e o sentido das festas propriamente marianas (FIORES, 1995).

A Exortação segue o que orienta o Concílio: […] promovam generosamente o culto, sobretudo o litúrgico, para com a Bem-Aventurada Virgem Maria; dêem grande valor às práticas e aos exercícios de piedade recomendados pelo magistério […] (LG 67). Neste ensinamento, Paulo VI articula a questão da cultura e da inculturação do culto devido a Maria, como a Mulher que soube viver no seu contexto e inserir-se no mistério de Cristo, porque foi uma mulher que acreditou naquilo que o Senhor lhe disse.

A Exortação especifica as características e evidencia elementos teológicos e espirituais do culto e de uma devoção mariana para o nosso tempo. Portanto, no seu conteúdo doutrinal, o mistério de Maria deve ser compreendido como um mistério trinitário, cristológico, pneumatológico e eclesial; em relação à devoção mariana deverá seguir quatro orientações: “bíblica, litúrgica, ecumênica e antropológica, para tornar mais vivo e mais inteligível o vínculo que nos une a mãe de Cristo e mãe nossa na comunhão dos santos” (MC 29).

O cunho bíblico em toda forma de culto é princípio e fato reconhecido pela piedade cristã e também pela piedade mariana. O conteúdo bíblico, portanto é referencial para alimentar o amor para com Maria e o culto que a ela se presta (MC 30).

Na característica antropológica, mostra que o mundo moderno requer uma nova imagem de Maria. Os cristãos devem fazer ver em Maria o modelo de pessoa humana, da mulher responsável e co-responsável, em conformidade com a realidade bíblica e levando em conta as exigências do fenômeno da libertação da mulher e do reconhecimento dos seus direitos na sociedade moderna (MC 35).

Na questão do ecumenismo a Marialis Cultos orienta que se mantenham os sentimentos de unidade de todos os cristãos  pois: “[…] todos aqueles que confessam abertamente que o filho de Maria é o Filho de Deus e Senhor nosso, Salvador e único Mediador (cf. 11Tm 2,5), são chamados a serem uma só coisa entre si, com Ele e com o Pai, na unidade do espírito Santo” (MC 32).

O lugar de Maria na liturgia se insere na celebração da obra salvífica do Pai: o Mistério de Cristo. Neste mistério inseriu-se a memória de Maria como Mãe de Cristo, celebrando-se de forma explícita a íntima ligação que a Mãe tem com o Filho de Deus (MC 3-4). Na celebração dos eventos dos mistérios da salvação, Maria aparece associada ao Filho em primeiro lugar na Celebração Eucarística, quando se invoca a memória da “sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e Senhor Jesus Cristo” (Oração Eucarística I) e as memórias incorporadas pela liturgia da Igreja e aquelas que nascem da experiência de fé das comunidades cristãs. Da tradição perene e viva da fé da Igreja colhem-se as mais significativas expressões da piedade e devoção marianas (MC 9-15).

Referências Bibliográficas

ALVAREZ, Carlos G. Maria Discípula e Mensageira do Evangelho. São Paulo: Paulus, 2005. (Coleção do Celam).

BETTENCOURT, Estevão Tavares. Escola “Mater Ecclesiae”: curso de iniciação teológica por correspondência. – Rio de Janeiro.

DENZIGER, HünermannCompêndio dos Símbolos, definições e declarações de fé e moral. São Paulo: Paulinas/Loyola,2007.

FORTE, Bruno. Maria, a mulher ícone do Mistério. São Paulo, Paulinas, 1985.

FURLANI, Maria Aparecida. Apostila de Mariologia”: “ad usum studentium”.- Várzea Grande, MT,2006.

Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.

PAULO VI, Papa. Marialis Cultus. In Documentos de Paulo VI. São Paulo: Paulus, 1997.


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Não está preparado(a) para o Natal? São José também não estava

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por Kathleen Hattrup

Não se preocupe: a experiência da misericórdia divina dá energia e serenidade para estas últimas horas do Advento.

Não é difícil imaginar que na noite de Natal São José não se sentisse preparado para a data tão importante.

Não era culpa dele, claro! Um censo atrapalhou o plano do casal. E ele, com certeza,  sentiu que o grande dia havia chegado e ele não estava pronto para isso. De fato, ele tinha uma missão a cumprir como marido e pai e, apesar de seus melhores esforços, não via sucesso nessa empreitada.

Ele, então, sufocou as lágrimas viris de desespero quando disse a Maria que não havia quarto na pousada. Maria, sem pecado, fez o que pode para amenizar a frustração do esposo. Mas também se viu incapaz de fazer muito.

Portanto, o casal teve que se contentar com uma solução improvisada. Mas era melhor do que nada. E José, sem dúvida, se virou para criar um espaço o mais adequado possível para receber o menino. Ainda assim, foi tudo de última hora e dolorosamente faltando muito do que ele tinha sonhado três semanas atrás, no início de seu primeiro Advento.

Ainda assim, nesta cena, entrou a Palavra feita Carne, o Pequeno Misericordioso.

Nossa falta de preparação

Não enfrentamos as responsabilidades práticas que José enfrentou naquela noite. Nossos sentimentos de inadequação e e falta de preparo para o Natal não terão uma consequência direta na história da salvação.

Mas, mesmo que nossa realidade seja diferente, talvez muitos de nós compartilhemos os mesmos sentimentos de José. O que faremos com isso, agora que basicamente acabou o Advento e o Natal está chegando, estejamos nós prontos ou nao? O que fazemos com nossa fraqueza?

O estábulo sugere que devemos deixar Deus transformá-lo em algo bom.

Uma das facetas verdadeiramente inspiradoras do poder da misericórdia de Deus é como ele é capaz de reivindicar vitória sobre o mal. O sofrimento e a morte entraram no mundo por meio do pecado. E é precisamente por meio do sofrimento e da morte que Deus traz a salvação.

Podemos dizer, portanto, que Deus arranca as próprias armas de Satanás e as vira para derrotar seu dono. Em outras palavras: pecado, fraqueza, morte – as consequências da obra do diabo – podem se tornar as ferramentas da graça de Deus.

É por isso que São Paulo diz: “Sabemos que em tudo Deus trabalha para o bem” (Romanos 8,28). E também é por isso que o Catecismo explica: “a graça inexprimível de Cristo nos deu bênçãos melhores do que aquelas que a inveja do demônio havia tirado. … Não há nada que impeça a natureza humana de ser elevada a algo maior, mesmo depois do pecado; Deus permite o mal para atrair um bem maior” (CIC, 412).

No estábulo

Se nos colocarmos em contemplação ao lado de José no estábulo, talvez possamos encontrar nos animais – com o fedor que os acompanha – símbolos dos muitos vícios que não temos escolha, a não ser trazer ao Menino Jesus neste Natal. Não que quiséssemos trazer-lhe esses “presentes”, mas em nossa fraqueza, o pecado é o que podemos oferecer a Ele. Nossa falta de preparação para esta grande festa é tudo o que temos.

Lavados pela misericórdia deste pequeno bebê, entretanto, esses mesmos animais passaram a ser uma grande contribuição para o pequenino Menino.

Artistas retratam o calor da respiração deles protegendo a doce cabeça do Menino do frio. Bento XVI os considerou inclusive como “uma imagem de uma humanidade até então cega que agora, diante da criança, diante da humilde manifestação de Deus no estábulo, aprendeu a reconhecê-lo”.

Portanto, nossa falta de preparo para o Natal é um presente suficiente para Ele, e para dar esse presente não precisamos que o Advento se alongue magicamente.

A experiência da misericórdia divina dá energia e serenidade para estas últimas horas do Advento, afastando qualquer tentação de ficar emburrado de remorso ou de preocupações desnecessárias.

Então, aceitemos humildemente nossa falta de preparo, e que seja esse – com o boi e o jumento – o presente que oferecemos a Jesus. Se a pobreza do nosso Advento nos leva a voltar o olhar para o Menino, então, mais uma vez, Deus terá transformado a fraqueza em força e todas as coisas em bem.

Aleteia

PAPA FRANCISCO NOMEIA JÚLIO CÉSAR GOMES MOREIRA COMO BISPO AUXILIAR PARA A ARQUIDIOCESE DE BELO HORIZONTE

Mons. Júlio Cézar | CNBB

O Papa Francisco nomeou nesta quarta-feira, 23 de dezembro, o padre Júlio César Gomes Moreira como bispo titular de Tisiduo e auxiliar na arquidiocese de Belo Horizonte (MG). Até então o padre atuava como presbítero na paróquia Nossa Senhora do Rosário, em Sobradinho (DF). Também exercia a função de coordenador da Comissão do Clero e membro do Colégio dos Consultores da arquidiocese de Brasília (DF).

Biografia e trajetória religiosa

Filho de Luís Gonzaga Moreira e Maria Janete Gomes Moreira, padre Júlio nasceu em Fortaleza (CE), em 18 de março de 1972. Bacharelou-se em Psicologia pela Universidade de Brasília em 1997 e em Filosofia e Teologia no Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília Nossa Senhora de Fátima, em 2003. Especializou-se em Análise Existencial e Logoterapia de Viktor Frankl (2011-2012).

Foi ordenado padre da arquidiocese de Brasília em 6 de dezembro de 2003.  Atuou como pároco da paróquia São José, em Brazlândia (DF) de 2004 a 2005. Também foi formador no seminário maior Nossa Senhora de Fátima da arquidiocese de Brasília de 2006 a 2007 e no seminário propedêutico São José, de Brasília, de 2008 a 2010. De 2011 a 2015, foi reitor do seminário maior Interdiocesano São João Maria Vianney e do Seminário Propedêutico Santa Cruz, em Goiânia.

Também colaborou no Santuário do Santíssimo Sacramento, em Brasília, em 2016, e foi vigário episcopal do vicariato Centro de Brasília, no mesmo ano. Até então, vem exercendo as funções de coordenador da Comissão do Clero de Brasília (2019-2020), membro do Colégio dos Consultores e pároco da paróquia Nossa Senhora do Rosário de Fátima, Sobradinho-DF (2017-2020).

CNBB

Natal. Dom Pizzaballa: saber ver Jesus para além do medo da Covid

Patriarca Latino de Jerusalém, dom frei Pierbattista Pizzaballa 

Como os pastores do Evangelho que "acolheram o convite do anjo e partiram para ver e reconhecer naquele sinal, na criança colocada numa manjedoura, Cristo Senhor", assim, convida o patriarca latino de Jerusalém, devemos nos deixar "guiar pelo Espírito, para reconhecer mais uma vez, apesar de tudo, na verdade de nossa realidade, o sinal de Sua presença". "Cabe a nós nos tornarmos o sinal da grande alegria que advém deste fato, a alegria do Emmanuel – Deus conosco – e nos tornarmos suas testemunhas", destaca.

Vatican News

Se este ano a pandemia da Covid-19 em todo o mundo marcou a vida civil e religiosa, provocando medos, revirando tudo, azerando projetos e desorientando a todos, Deus continua mostrando ao homem seus sinais.

É o que afirma, em síntese, em sua mensagem de Natal, o patriarca latino de Jerusalém, dom Frei Pierbattista Pizzaballa, acrescentando que são os olhos do Espírito Santo que veem "os sinais que Deus provê para o homem: os sinais de Sua presença, de Seu poder escondido e de Seu Reino que aparecem dentro de nós quando Lhe damos um lugar".

Dar espaço para a fé no Senhor Deus Menino

E o sinal, acrescenta o patriarca, é a criança na manjedoura, "que podemos facilmente deixar escapar", "passar sem perceber, porque estamos tão envoltos em nossas ansiedades e medos", fechados "em nossas perspectivas humanas, que não percebemos Sua presença", que não deixamos "espaço para a fé" no Senhor Deus Menino.

Dom Pizzaballa assinala que é precisamente o medo que "nos impede de nos abrirmos e assim nos tornamos estéreis, em vez de responder ao nosso chamado a tornarmos portadores de Deus".

Reconhecer mais uma vez, o sinal de Sua presença

Mas como os pastores do Evangelho que "acolheram o convite do anjo e partiram para ver e reconhecer naquele sinal, na criança colocada numa manjedoura, Cristo Senhor", assim, convida o patriarca latino de Jerusalém, devemos nos deixar "guiar pelo Espírito, para reconhecer mais uma vez, apesar de tudo, na verdade de nossa realidade, o sinal de Sua presença".

"Jesus veio para inverter nossos pensamentos, para surpreender nossas expectativas, para abalar nossa existência ... para nos despertar da ilusão de que tudo é conhecido, tudo está sob controle, que o desânimo é a única resposta lógica à triste realidade de nosso mundo", escreve em seguida dom Pizzaballa, que exorta a refletir sobre as escolhas de vida.

"Limitar-nos a olhar nossa realidade no mundo de hoje, assustados e governados por sua lógica de poder, ou saber perscrutar além e, com os olhos do Espírito, reconhecer a presença do Reino no meio de nós.”

Tornar-nos testemunhas do Emanuel – Deus conosco

Para o patriarca latino de Jerusalém, "olhar a realidade com os olhos do Espírito Santo, significa ter uma vida rica no Espírito Santo e, portanto, frutífera", e assim fazer o Natal significa acreditar no nascimento de Jesus Cristo e em sua presença.

"Então cabe a nós nos tornarmos o sinal da grande alegria que advém deste fato, a alegria do Emmanuel – Deus conosco – e nos tornarmos suas testemunhas", conclui dom Pizzaballa.

Vatican News

A beleza dos presépios ao redor do mundo

Presépio em cortiça
SMSTORE
por Zelda Caldwell

Peças incríveis de colecionadores, que representam o nascimento de Jesus sob a ótica de diferentes culturas.

A história do presépio remonta a São Francisco de Assis, que na véspera de Natal de 1223, na pequena aldeia italiana de Greccio, montou um quadro de animais vivos e aldeões representando o Menino Jesus, Nossa Senhora, São José, os magos, os pastores e os anjos.

As notícias desse presépio vivo se espalharam e ganharam popularidade, inspirando os artesãos a criarem peças parem serem exibidas em igrejas ou nas casas. Na Nápoles do século XVIII, os presépios eram criados com miniaturase acessórios. As famílias e igrejas abastadas exibiam seus presépios nas semanas anteriores ao Natal.

A tradição continua até hoje. Desde os presépios mais elaborados encontrados na Itália e na Espanha, com edifícios arquitetonicamente detalhados e água corrente, até aqueles feitos de argila pelos nativos americanos, cada peça conta a mesma história: o nascimento de Jesus em uma manjedoura.

Nos livros “Nativities of the World” (“Presépios do mundo”) “Nativities of the Southwest” (“Presépios do Sudoeste”,) a colecionadora Susan Topp Weber traz lindas fotografias de alguns dos mais belos presépios oriundos de coleções particulares.

Os livros apresentam fotos de presépios da Europa, Austrália, México, América Central e do Sul, Oriente Médio, África, Ásia e Estados Unidos – a maioria nunca antes publicada.










Aleteia

Papa Francisco: O Natal é a festa do amor

Papa Francisco na Audiência Geral Foto: Vatican Media

Vaticano, 23 dez. 20 / 08:51 am (ACI).- Na audiência geral do dia 23 de dezembro, o Papa Francisco destacou que “o Natal é a festa do Amor encarnado, do amor nascido por nós em Jesus Cristo” porque Ele é a luz que “dá sentido à existência humana”.

“O Natal é a festa do Amor encarnado, do amor nascido por nós em Jesus Cristo. Jesus Cristo é a luz dos homens que resplandece nas trevas, que dá sentido à existência humana e a toda a história”, disse o Papa.

Na sua catequese, o Santo Padre refletiu sobre a celebração do próximo Natal e recordou que “na Liturgia da Noite ressoará o anúncio do anjo aos pastores: ‘Não temais, eis que vos anuncio uma Boa Nova que será alegria para todo o povo: hoje nasceu-vos na Cidade de David um Salvador, que é Cristo Senhor. Isto servir-vos-á de sinal, achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura’".

Nesse sentido, o Pontífice destacou que “imitando os pastores, também nós caminhamos espiritualmente para Belém, onde Maria deu à luz o Menino num estábulo, ‘pois - diz São Lucas - não havia para eles lugar na hospedaria’”.

“O Natal tornou-se uma festa universal e até quem não acredita sente o encanto deste evento. Contudo, os cristãos sabem que o Natal é um acontecimento decisivo, um fogo eterno que Deus acendeu no mundo, e não pode ser confundido com coisas efêmeras.”, advertiu o Papa.

Por isso, o Santo Padre sublinhou que é importante que o Natal "não seja reduzido a uma celebração meramente sentimental ou consumista" e mencionou que no domingo passado, durante a oração do Ângelus, destacou que "o consumismo sequestrou o Natal".

Neste sentido, o Papa explicou que “o Natal não se deve reduzir a festa unicamente sentimental ou consumista, rica de prendas e bons votos, mas pobre de fé cristã, e pobre também de humanidade” e, portanto, “é necessário refrear uma certa mentalidade mundana, incapaz de compreender o núcleo incandescente da nossa fé, que é o seguinte: ‘E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, a glória que o Filho unigênito recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade’ - e acrescentou - “este é o núcleo do Natal, aliás: é a verdade do Natal, não há outra”.

Além disso, o Pontífice afirmou que “o Natal convida-nos a refletir, por um lado, sobre a dramaticidade da história, em que homens e mulheres, feridos pelo pecado, procuram incessantemente a verdade, vão em busca de misericórdia e de redenção; e, por outro, sobre a bondade de Deus, que veio ao nosso encontro para nos comunicar a Verdade que salva e para nos tornar participantes da sua amizade e da sua vida”.

Desta forma, o Santo Padre sublinhou que é “dom de graça, é pura graça, sem o nosso mérito” porque “recebemos este dom de graça através da simplicidade e da humanidade do Natal, e ele pode remover dos nossos corações e das nossas mentes o pessimismo que hoje se difundiu ainda mais por causa da pandemia”.

“Podemos superar esta sensação de desconcerto inquietador, sem nos deixarmos dominar pelas derrotas e fracassos, na consciência redescoberta de que aquele Menino humilde e pobre, escondido e indefeso, é o próprio Deus, que se fez homem para nós”, disse.

Em seguida, o Santo Padre citou o Concílio Vaticano II, numa passagem da Constituição Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo contemporâneo, que descreveu que o Natal é um acontecimento que diz respeito a cada um de nós: “Pela sua encarnação, Ele, o Filho de Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado”.

“Jesus é um de nós: Deus, em Jesus, é um de nós. Esta realidade dá-nos muita alegria e coragem. Deus não nos desprezou, não olhou para nós de longe, não passou ao nosso lado, não sentiu repulsa da nossa miséria, não se vestiu com um corpo aparente, mas assumiu plenamente a nossa natureza e condição humana. Nada excluiu, exceto o pecado: a única coisa que Ele não tem. Toda a humanidade está n’Ele. Ele assumiu tudo o que somos, tal como somos”, disse o Papa.

Meditar diante do presépio

Da mesma forma, o Santo Padre nos convidou a nos prepararmos para o Natal meditando “pouco em silêncio diante do presépio” porque “o presépio é uma catequese daquela realidade” e lembrou a carta que escreveu sobre o presépio “Admirabile signum”, “Sinal admirável”.

“Na escola de São Francisco de Assis, podemos tornar-nos um pouco crianças, permanecer em contemplação da cena da Natividade, deixando que renasça em nós a admiração da forma ‘maravilhosa’ como Deus quis vir ao mundo”, explicou.

Por isso, o Papa nos convidou a pedir “a graça da admiração: face a este mistério, a esta realidade tão terna, tão bela, tão próxima dos nossos corações, que o Senhor nos conceda a graça da admiração, para que O encontremos, para que nos aproximemos d'Ele, para que nos aproximemos de todos nós. Isto irá renascer em nós a ternura”.

“E hoje temos tanta necessidade de ternura, tanta necessidade de carícias humanas, face a tanta miséria”, reconheceu o Papa.

Por último, o Santo Padre sublinhou que “se a pandemia nos obrigou a estar mais distantes, Jesus, no presépio, mostra-nos o caminho da ternura para estarmos próximos, para sermos humanos”, por isso nos encorajou a seguir este caminho e desejou a todos "Feliz Natal!"

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Santa Tarsila

Sta. Tarsila | ArqSP

A família romana Anícia teve a graça de enviar para a Igreja aquele que foi um dos grandes doutores da Igreja do Ocidente, o papa Gregório Magno, depois também santo. Era um homem de estatura pequena e de saúde frágil, mas um gigante na administração e uma fortaleza espiritual. Entre seus antepassados paternos estão o imperador Olívio, o papa são Félix III e o senador Jordão, que era seu pai.

A formação intelectual, religiosa e moral do menino Gregório ficou sob a orientação e cuidado de sua mãe, a futura santa Sílvia, e de suas tias, Tarsila, Emiliana, também santas, e de Jordana, irmãs de seu pai, que faleceu cedo.

Tarsila e Emiliana eram muito unidas, além do parentesco, pelo fervor da fé em Cristo e pela caridade. As três viviam juntas na casa herdada do pai, no monte Célio, como se estivessem num mosteiro. Tarsila era a guia de todas, orientando pela Palavra do Evangelho e pelo exemplo da caridade e da castidade. Dessa maneira, os progressos na vida espiritual foram grandes. Depois, Jordana decidiu seguir a vida matrimonial, casando-se com um bom cristão, o administrador dos bens da sua família.

Tarsila permaneceu com a opção de vida religiosa que havia escolhido. Sempre feliz, na paz do seu retiro e na entrega de seu amor a Deus, até que foi ao seu encontro na glória de Cristo. São Gregório relatou que a tia Tarsila tivera uma visão de seu bisavô, o papa são Félix III, que lhe teria mostrado o lugar que ocuparia no céu dizendo estas palavras: "Vem, que eu haverei de te receber nestas moradas de luz".

Após essa experiência, Tarsila ficou gravemente enferma. No seu leito de morte, ao lado da irmã Emiliana e dos parentes, pediu para que todos se afastassem dizendo: "Está chegando Jesus, meu Salvador!" Com essas palavras e sorrindo, entregou sua alma a Deus. Ao ser preparada para o sepultamento, encontraram calos, duros e grossos, em seus joelhos e cotovelos, causados pelas contínuas penitências. Durante as orações, que duravam muitas horas, rezava, ajoelhada e apoiada, diante de Jesus Crucificado.

Poucos dias depois de morrer, Tarsila apareceu em sonho para sua irmã Emiliana e a convidou para celebrarem juntas a festa da Epifania no céu. E foi isso o que aconteceu, Emiliana acabou morrendo na véspera do dia dos Reis.

O culto a santa Tarsila, mesmo não sendo acompanhado de fatos prodigiosos, se manteve discreto e persistente ao longo do tempo. Talvez pelo enriquecimento dos exemplos singulares narrados pelo sobrinho, papa são Gregório Magno, o qual, entretanto, nunca citou o ano do seu falecimento no século VI.

A Igreja Católica estabeleceu o dia 24 de dezembro para as homenagens litúrgicas de santa Tarsila, data transmitida pela tradição dos seus fiéis devotos.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Do Tratado contra a heresia de Noeto, de Santo Hipólito, presbítero.

S. Hipólito | Estudos dos Santos

(Cap. 9-12: PG 10, 815-919)            (Séc. III)

Manifestação do mistério escondido

Único é o Deus que conhecemos, irmãos, e não por outra fonte que não seja a Sagrada Escritura. Devemos, pois, saber o que ela anuncia e compreender o que ensina. Creiamos no Pai como ele quer ser acreditado; glorifiquemos o Filho como ele quer ser glorificado; e recebamos o Espírito Santo como ele quer se dar a nós. Consideremos tudo isso, não segundo nosso próprio arbítrio e interpretação pessoal, nem fazendo violência aos dons de Deus, mas como ele próprio nos ensinou pelas santas Escrituras.

Quando só existia Deus, e não havia ainda nada que existisse com ele, decidiu criar o mundo. Criou-o por seu pensamento, sua vontade e sua palavra; e o mundo começou a existir como ele quis e realizou. Basta-nos apenas saber que nada coexistia com Deus. Não havia nada além dele, só ele existia e era perfeito em tudo. Nele estava a inteligência, a sabedoria, o poder e o conselho. Tudo estava nele e ele era tudo. E quando quis e como quis, no tempo que havia estabelecido, manifestou o seu Verbo, por quem fez todas as coisas.

Deus possuía o Verbo em si mesmo, e o Verbo era imperceptível para o mundo criado; mas fazendo ouvir sua voz, Deus tornou-o perceptível. Gerando-o como luz da luz, enviou como Senhor da criação aquele que é sua própria inteligência. E este Verbo, que no princípio era visível apenas para Deus e invisível para o mundo, tornou-se visível para que o mundo, vendo-o manifestar-se, pudesse ser salvo. O Verbo é verdadeiramente a inteligência de Deus que, ao entrar no mundo, se manifestou como o servo de Deus. Tudo foi feito por ele, mas ele procede unicamente do Pai. Foi ele quem deu a lei e os profetas; e ao fazê-lo, impulsionou os profetas a falarem sob a moção do Espírito Santo para que, recebendo a força da inspiração do Pai, anunciassem o seu desígnio e a sua vontade.

O Verbo, portanto, se tornou visível, como diz São João. Este repete em síntese o que os profetas haviam dito, demonstrando que aquele era o Verbo por quem tinham sido criadas todas as coisas: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus; e o Verbo era Deus. Tudo foi feito por ele e sem ele nada se fez (Jo 1,1.3). E, mais adiante, prossegue: O mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não quis conhecê-lo. Veio para o que era seu, os seus, porém, não o acolheram (Jo 1,10-11).

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF