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sábado, 30 de janeiro de 2021

A importância da medicina em tempos de pandemia segundo os padres da Igreja

GEN Jurídico
por Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

A importância da medicina em tempos de pandemia segundo os padres da Igreja

 Nós estamos num tempo de pandemia que atinge milhões de pessoas, seja pelo vírus covid 19, seja pelas mortes. Nós não podemos ser negacionistas, mas nós somos chamados a seguir as normas sanitárias para assim evitar o contágio do próprio vírus. Nós devemos ser solidários com as regiões mais carentes com os meios para superar a pandemia e estimular as pessoas para que recebam a vacina ou as vacinas porque essas estão chegando aos poucos de modo que nós damos graças a Deus e à ciência, para sermos vacinados e assim ajudar na convivência social com maior tranqüilidade. Veremos a seguir a visão da medicina em alguns padres da Igreja, escritores, teólogos dos primeiros séculos do cristianismo, sendo ela material e espiritual.

O médico, Senhor Deus

Teófilo, de Antioquia, Bispo no século II afirmou que o Senhor é o verdadeiro médico. Ele afirmou que a pessoa que não quer o conhecimento de Deus, tem a cegueira da mente e a dureza do coração. Se, no entanto a pessoa deseja ser curada, deve confiar ao médico, que Ele fará a cirurgia dos olhos da mente da pessoa e do coração. Este médico é Deus, que por meio do Verbo sara e vivifica[1].

A saúde

Tertuliano, norte da África, padre dos séculos II e III afirmou o significado da saúde das pessoas, onde essas deveriam procurar nas Igrejas apostólicas onde os fieis se encontram para rezar e louvar a Deus. É lá que se lêem as cartas autênticas escritas pelos apóstolos, onde se encontram o eco de suas vozes e a vida de cada um dos apóstolos. A Igreja de Roma é a bem-aventurada, porque foram os apóstolos a derramar nela com o seu sangue, a doutrina fundamental para conduzir outras igrejas. Foi a Igreja de Pedro e de Paulo que derramaram o seu sangue pelo Senhor. Naquela Igreja se professa o credo apostólico na fé de Deus Uno e Trino, onde se batiza em nome da Santíssima trindade e é nutrida pela eucaristia[2].

A utilidade da medicina

Orígenes falou da utilidade da medicina, necessária ao gênero humano em vista das terapias. Neste sentido à ciência médica, são varias as escolas entre os gregos e também entre os povos, aqueles que se dedicaram à esta ciência[3]. É preciso valorizar a medicina em vista da cura das doenças nas pessoas e nos povos, como graça de Deus e como responsabilidade humana.

A utilidade e os limites da medicina

São Basílio, o grande, bispo de Cesaréia, século IV, falou a respeito da medicina como um serviço importante dado ao ser humano. Todos os serviços e as atividades foram dados por Deus, para preencher as lacunas da natureza. Quando o nosso corpo está doente, aflito das doenças, seja por diversos motivos sofre por causa de uma falta no corpo, Deus Criador da nossa existência, nos concedeu como demonstração daquela sua medicina a curar as almas, a ciência médica, graças a qual se redimensiona o supérfluo e o acrescentado, ou aquilo que está em medida muito reduzida. Se o ser humano estivesse no paraíso talvez não houvesse a necessidade da imunização das doenças, mas quando o ser humano pecou, ouviu do Senhor que era com o suor do seu rosto que deveria procurar o pão (cfr. Gn 3,19), tendo empregado muito cansaço para cultivar a terra, Deus mesmo favoreceu em nós a inteligência e a aprendizagem daquela arte. Como a morte entrou por causa do pecado humano, foi-nos ofertada com a ajuda de Deus a medicina, para que em certa medida, os doentes pudessem sarar. Não é por nada que germinaram da terra as ervas destinadas a curar as doenças, que certamente foram suscitadas pela vontade do Criador e acalmassem as nossas doenças. O ser humano deve servir-se da medicina quando há a necessidade para assim praticar o uso dos meios que essa oferece com o fim de declarar a glória de Deus, propor um exemplo de como cura-se a alma[4].

Ainda em São Basílio, colocou que Deus é origem do bem, do amor, e não da doença. Deus elimina o mal, a doença pela medicina, pelos meios que o ser humano usa para o bem das pessoas[5].

A medicina da fé

 São João Crisóstomo, Bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou a necessidade de confiar na medicina da fé, a mais eficaz medicina para as almas. O que se obterá, através da fé? O Bispo respondeu que nós ao recebermos os benefícios de Deus, nos tornamos melhores, de modo que não duvidemos de mais nada e encontraremos a paz e o amor. Como são as coisas de Deus, devemos ter respeito e acreditar nelas[6].

São João Crisóstomo colocou a situação da alegria e da dor como medicina da alma. Deus governa o universo inteiro com a força, com a graça, com a misericórdia, com amor. Como as estações se sucedem, o dia à noite, ora somos na dor, ora na alegria, ora somos doentes, ora sãos. Não devemos nos surpreender se as vezes caímos na dor, na doença, e é claro na saúde, porque isto faz parte da natureza humana. Não é possível que alguém fique sempre na dor, na doença, porque a natureza não poderia resistir. É preciso viver bem seja na dor, seja na alegria correspondendo sempre ao mandamento do Senhor, pois Ele sempre nos consola em todas as nossas aflições (cfr. 2 Cor 1,4)[7].        Nós buscamos a vida sobre a morte. O Senhor concedeu os meios para a superação dos males que atingem à natureza humana. A ciência, a medicina, a vacina nos ajudem para viver melhor no amor a Deus, ao próximo co

[1] Cfr. Teofilo d´Antioquia, Ad Autolico, 1, 5-7. In: La teologia dei padri, v. 1. Città Nuova Editrice, Roma, 1982,  pg. 68.

[2] Cfr. Tertulliano, La prescrizione contro gli eretici, 36. In: dem, v. IV,  pg. 44.

[3] Cfr. Origene, Contro Celso, 3,12-13. Idem, pg. 44.

[4] Cfr. Basilio Il Grande, Regole lunghe, 55,1-5. V. 1, pgs. 273-274.

[5] Cfr. Idem, Omelia ‘Dio non è l´autore del male’, 2-3, 5. In: Idem, pg. 343.

[6] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla prima lettera a Timoteo, 1,2-3. In: Idem, v. 2, pg. 178.

[7] Cfr. Idem, Commento al Vangelo di san Matteo, 53, 3-4, In: Idem, v. 1, pgs. 266-267.

CNBB

Maioria nos Estados Unidos se opõe a financiar aborto com impostos, revela pesquisa

Imagem referencial. Crédito: Unsplash.

WASHINGTON DC, 30 jan. 21 / 05:00 am (ACI).- Uma nova pesquisa divulgada na quarta-feira, 27 de janeiro, revelou que a maioria dos norte-americanos se opõe ao uso de seus impostos para financiar abortos no país ou no exterior.

A pesquisa foi realizada pela Ordem dos Cavaleiros de Colombo junto com o apoio da Marist Poll, a pesquisa nacional de opinião pública operada pelo Marist Institute for Public Opinion del Marist College de Nova York.

O Cavaleiro Supremo dos Cavaleiros de Colombo, Carl Anderson, indicou em um comunicado que “em meio às duras divisões políticas em nosso país, claras maiorias bipartidárias apoiam as restrições ao aborto e não querem que o dinheiro de seus impostos pague o aborto no exterior”.

“Nossas pesquisas demonstraram consistentemente ao longo da última década que as políticas que promovem o aborto pago pelos contribuintes são controversas e estão fora de sintonia com a opinião pública norte-americana”, acrescentou.

De acordo com a pesquisa, a grande maioria (77%) indicou que se “opõe” ou “se opõe veementemente” ao uso de impostos para pagar procedimentos de aborto em todo o mundo. Apenas 19% dos pesquisados ​​apoiavam o financiamento público do aborto no exterior.

Além disso, revelou que a maioria dos norte-americanos é a favor de importantes restrições ao aborto. Mais de três quartos dos entrevistados (76%) indicaram que desejam que o aborto seja proibido ou limitado aos primeiros três meses de gravidez, no máximo.

Enquanto isso, uma maioria menor (58%) dos entrevistados se opôs ao aborto financiado pelos contribuintes nos Estados Unidos.

A pesquisa revelou que vários norte-americanos são a favor dessas restrições ao aborto no exterior, apesar de se identificarem como “prochoice” (pró-escolha), termo usado nos Estados Unidos para se referir aos que são a favor do aborto.

Um pouco mais da metade dos entrevistados ​​(53%) indicaram que eram a favor do direito de escolha, mas entre este subconjunto, quase seis em cada dez ainda se opõe ao uso de impostos para financiar abortos no exterior. E entre os democratas, a maioria deles (55%) se opôs a financiar os abortos a nível internacional com impostos norte-americanos.

Em um comunicado, a editora do The Marist Poll, Dra. Barbara Carvalho, afirmou que a pesquisa de quarta-feira mostra "consenso" entre os norte-americanos sobre as restrições ao aborto.

“Embora a quantidade de pessoas que se identificam como 'pró-vida' e 'pró-escolha' tenda a flutuar com o debate público, quando se fornece uma maior variedade de opções políticas, há um forte consenso entre os norte-americanos sobre o aborto”, acrescentou.

A doutora assinalou que "os resultados da pesquisa revelam apoio às restrições ao aborto e uma aversão ao uso de fundos do contribuinte para abortos no exterior".

A pesquisa foi publicada dois dias antes da Marcha pela Vida, que ocorreu nesta sexta-feira de forma virtual devido à pandemia.

Além disso, o presidente Joe Biden assinou nesta quinta-feira, 28 de janeiro, uma ordem executiva com a qual revogou a política da Cidade do México, uma medida assinada pela administração anterior que impedia o financiamento com fundos federais de organizações abortistas fora do país.

A política, que foi originalmente aprovada pelo presidente Ronald Reagan, em 1984, foi promulgada por todos os governos republicanos e revogada por todos os governos democratas.

Durante a campanha presidencial de 2020, Biden também disse que revogaria a Emenda Hyde, que proíbe o financiamento federal de abortos nos Estados Unidos.

Anderson pediu na quarta-feira "moderação" nas políticas pró-aborto, a fim de refletir com mais precisão os desejos dos norte-americanos que querem restrições ao aborto.

“O povo norte-americano mostra consenso e moderação nesta questão, e esperamos que nossas autoridades eleitas e políticos atendam a este chamado por unidade quando há muito que nos divide em nossa política atual”, concluiu.

Publicado originalmente em CNA.

ACI Digital

S. JACINTA MARISCOTTI, VIRGEM ROMANA

S. Jacinta Mariscotti, Domenico Corvi 

Quando a pessoa é bonita, rica, além de nobre, pensa poder ter tudo. Assim também pensava Clarice, filha dos príncipes Marescotti de Vignanello: desde criança, sonhava ter uma vida confortável e um bom casamento, mas estes não eram os planos do Senhor para ela. No entanto, achava que seria possível: conheceu um jovem marquês, Capizucchi, do qual se apaixonou. Mas, muito cedo, coube-lhe o destino de se casar com sua irmã mais nova, Ortênsia.

Uma vocação forçada

A decepção de Clarice foi tão grande, que decidiu não perdoar o pai, por ter preferido sua irmã, e começou a tornar a sua vida impossível. Em contrapartida, o príncipe mandou-o para o Mosteiro de São Bernardino, em Viterbo, onde havia estudado quando criança e onde outra sua irmã, Genebra, tinha se tornado religiosa. Clarice, porém, não desanimou: recebeu o nome de Jacinta, submeteu-se à vida de oração comunitária, professou o voto de castidade, tornando-se Terciária franciscana para não ficar enclausurada.
Mas, Jacinta não era feita para os votos de obediência e pobreza. Por isso, continuou a se vestir com roupas refinadas, a morar em um apartamento bem mobiliado, onde muitos amigos iam visitá-la e a ser servida por duas noviças. De fato, era nobre e, como tal, queria continuar vivendo.

De adolescente obstinada a uma grande Santa

Jacinta viveu assim por 15 anos, apesar dos seus escândalos. Depois, adoeceu seriamente e entendeu que o Senhor, paciente, a aguardava no sofrimento da doença. E o invocou: "Ó Deus, eu vos suplico, dai sentido à minha vida, dai-me esperança, dai-me a salvação"! Tendo-se restabelecido da enfermidade, pediu perdão às coirmãs e se despojou de tudo.
Os 24 anos seguintes da sua existência foram anos de privações e de doação ao próximo, sobretudo aos pobres e enfermos. Graças à ajuda financeira dos velhos amigos, conseguiu dirigir da clausura as obras de dois institutos de assistência social: os “Sacconi” – assim eram chamados os coirmãos, que usavam sacos de estopa durante seu serviço – os enfermeiros que ajudavam os doentes; e os “Oblatos de Maria”, que levavam conforto aos idosos e abandonados. Tudo o que recebia, oferecia aos pobres. Seu exemplo levou muitos a retornarem à fé, da qual tinham se distanciado.

Morte em odor da santidade

Jacinta faleceu em 1640 e, imediatamente, foi venerada pelo povo como Santa, especialmente entre os que haviam sido grandes pecadores e, depois, convertidos pela graça.
Durante o velamento, todos queriam levar um pedaço da sua roupa como relíquia. Por isso, seu corpo teve que ser revestido três vezes.
O Papa Pio VII presidiu à sua canonização em 1807.

Vatican News

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 5/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 8

Entre estes, o ouro, o mais abundante, revestia todo o perímetro das colunas; a prata era utilizada junto com o ouro paras adornar os capitéis e as bases das colunas com a finalidade – isto é o que penso – de que com a diferença de cor em cada lado, o ouro brilhasse mais ao ser contemplado. Havia também lugares em que se julgou útil o material de bronze para que servisse de capitel e de base para a parte de prata das colunas (Ex 25, 1-22). Os véus, os tapetes, os arredores do templo e o toldo estendido sobre as colunas, todas estas coisas estavam realizadas convenientemente, cada uma tecida com a sabedoria da arte do tecelão e feita da matéria apropriada. Algumas telas tinham a cor de jacinto e púrpura, o flamejar do rubro vermelhão, o esplendor do algodão em sua forma natural e sem artifício: outras eram feitas de linho, e outras de crinas, segundo o uso dos tecidos. Em alguns lugares haviam sido colocadas, para adorno das tendas, peles cuidadosamente tingidas de vermelho (Ex 26, 1 – 4). Após sua descida do monte, Moisés fez com que alguns artesãos construíssem estas coisas conforme o modelo da construção que lhe tinha sido mostrado. Também quando se encontrava naquele templo não feito por mão de homem, lhe foi prescrito com que ornamentos era necessário que o sacerdote estivesse ataviado ao entrar no santuário; a palavra lhe deu instruções no que concerne tanto à vestimenta interior como à exterior. As peças destes ornamentos começam pelo que é mais exterior, não pelo que está oculto. O peitoral era bordado de diversas cores, o mesmo para o véu, porem tinha ainda um fio de ouro com broches de ambos os lados que prendiam o peitoral e nos quais haviam esmeraldas engastadas em circulo por meio do ouro. A beleza destas pedras provinha do esplendor próprio de sua natureza – que reluzia com raios verde-mar que emanavam dela – e do prodígio da arte com que haviam sido talhadas. Não se tratava dessa arte que executa um talhado para reproduzir a imagem de alguns ídolos, mas a beleza provinha dos nomes dos patriarcas gravados nas pedras, seis em cada uma (Ex 28, 6-12). Haviam pendurado pequenos escudos na parte da frente; as correntes se desdobravam entrelaçadas entre si com certa alternância como um cordão, e desciam de cada lado desde cima, desde os broches, com o fim – assim penso – de que resplandecesse mais a beleza do trançado, realçado pelas coisas que se encontravam abaixo (Ex 28, 13-14). Depois aquele ornamento tecido de ouro era colocado diante do peito, no qual havia pedras de diversas classes em número igual ao dos patriarcas, ordenadas em quatro filas, com três pedras incrustadas em cada uma, que levavam escritos os nomes das tribos. A túnica que havia em baixo do peitoral descia do colo até as pontas dos pés, adornada nobremente com franjas pendentes. A borda inferior não só era trabalhada formosamente com variedade de tecido, como também com adornos de ouro. Estes consistiam em campainhas de ouro e romãs colocadas alternadamente ao longo da fímbria (Ex 28, 15-35). Logo a mitra da cabeça era toda violeta; a lâmina da frente, de ouro puro, gravada com um sinal inefável. E, alem disso, o cíngulo, que cingia as pregas da túnica, e a finura das vestes íntimas, e tudo o que por meio da beleza dos vestidos se ensinava simbolicamente sobre a virtude sacerdotal (Ex 28, 36-40). Moisés, depois de envolvido por aquelas trevas que o faziam invisível, foi instruído em relação a estas coisas e a outras parecidas por inefável ensinamento de Deus, chegando, pela aquisição de doutrinas secretas, a ser maior que ele mesmo; então sai novamente das trevas e desce até sua gente para fazê-los partícipes das maravilhas que lhe haviam sido mostradas na teofania, estabelecer as leis e instituir para o povo o templo e o sacerdócio conforme o modelo que lhe havia sido mostrado no monte. Levava também em suas mãos as tábuas sagradas, que eram iniciativa e presente divino, cuja fabricação não tivera ajuda humana, pois a matéria e o que havia escrito nelas eram igualmente obra de Deus. O que estava escrito era a Lei. Porem o povo resistiu à graça e se extraviou na idolatria antes que o Legislador voltasse (Ex 32, 15-16).

Capítulo 9

Naquela divina mistagogia, Moisés havia passado em conversação com Deus um tempo não pequeno e, sob as trevas, havia participado daquela vida eterna durante quarenta dias com suas noites (Ex 24, 18), e havia estado fora de sua própria natureza. Durante aquele tempo, com efeito, não necessitou de alimento para seu corpo. Então, como um menino que se encontra longe da vista de seu professor, o povo se deixou levar pela desordem de seus impulsos desenfreados e, reunindo-se em torno de Aarão, o forçaram a ele, que era o sacerdote, a que os conduzisse à idolatria (Ex 32, 1-9). Tendo feito um ídolo de ouro, o ídolo era um bezerro, se entregaram à impiedade. Quando Moisés volta a eles, quebra as tábuas que traz em nome de Deus, para que eles, privados da graça que Deus lhes havia preparado, recebam um castigo digno de seu pecado (Ex 32, 19). Faz então com que seja expiado o sacrilégio diante dos levitas com o sangue do povo. Havendo aplacado a divindade com seu zelo contra os estrangeiros e tendo destruído o ídolo, depois de outro período de quarenta dias, traz novamente as tábuas, escritas pelo poder divino, porem cuja matéria havia sido preparada pelas mãos de Moisés (Ex 32, 25-29). Ele as traz, depois de haver saído outra vez dos limites da natureza pelo mesmo número de dias, levando um modo de vida diferente daquele que nos é conhecido, já que não dava a seu próprio corpo nada do que necessitava a natureza para sustentar-se por meio de alimento (Ex 34, 1-28).

Capítulo 10

Assim lhes construiu a tenda e lhes transmitiu as leis, estabelecendo o sacerdócio conforme o que lhe havia sido ensinado por Deus. Depois fez que se realizassem os trabalhos materiais conforme a instrução divina: a tenda, os vestíbulos, todas as coisas interiores, o altar de incenso, o altar dos holocaustos, o lampadário, os tapetes, as cortinas, o propiciatório no interior do santuário, os ornamentos sacerdotais, os perfumes, os diversos sacrifícios, as purificações, os ritos de ação de graças, de impetração contra os males, de expiação dos pecados; tendo ordenado todas estas coisas da maneira devida, suscita contra si a inveja de seus íntimos, essa enfermidade tão familiar à natureza dos homens. De fato, tanto Aarão, honrado com a dignidade do sacerdócio, como também sua irmã Maria, movida por uma inveja especificamente feminina contra a honra que Deus havia dado a ele, disseram coisas que moveram Deus a castigar este pecado. Nesta ocasião, Moisés se mostrou digno de admiração por sua mansidão, pois enquanto Deus queria castigar a ilógica inveja, ele antepunha a natureza à cólera e intercedia perante Deus por sua irmã (Nm 12, 1-13). A plebe se entregou novamente à desordem. O começo do pecado foi a desmedida nos prazeres do ventre. Não lhes bastava viver saudável e agradavelmente do alimento que lhes vinha de cima, mas o desejo de iguarias e a ânsia de comer carne os fizeram preferir a perpétua escravidão do Egito aos bens que já tinham. Moisés falou com Deus a respeito da paixão que se havia abatido sobre eles, e este, ao lhes conceder alcançar precisamente aquilo que desejavam, os ensinou que não era conveniente se comportar assim. De fato, de improviso fez cair no acampamento uma multidão de pássaros que voavam em grande número a rés do solo, com o que facilmente caçados saciou o desejo dos que ansiavam por carne fresca (Nm 11, 4-6 e 31-32). Para uma grande parte deles, o excesso de comida transformou o equilíbrio dos humores de seus corpos em vômitos corrompidos, e a saciedade se converteu em enfermidade e morte. Seu exemplo foi suficiente para levar a temperança a eles mesmos e aos que os assistiam (Nm 11, 33-34). Então Moisés enviou exploradores àquela região que, segundo a promessa divina, esperavam habitar. Como nem todos contaram a verdade, mas alguns deram notícias falsas e más, o povo se encheu de ira contra Moisés mais uma vez. Aqueles que desconfiaram da ajuda divina, Deus castigou não lhes deixando ver a terra que lhes havia prometido (Nm 13, 1-14, 38). Ao prosseguir sua marcha através do deserto, faltou novamente a água e, juntamente com ela, lhes faltou a lembrança do poder de Deus. Na verdade, o prodígio da rocha que já havia tido lugar, não lhes foi suficiente para crer que nada do necessário lhes faltaria agora, mas, afastando-se das mais saudáveis esperanças, propalaram ultrajes contra Deus e contra Moisés até o ponto em que mesmo Moisés pareceu se deixar levar pela desconfiança do povo. Não obstante, novamente realiza o milagre transformando em água aquela rocha bruta (Nm 20, 2-11). Mais uma vez, o prazer vulgar da comida despertou neles o desejo de fartar-se e, embora ainda não lhes faltasse nenhuma das coisas necessárias para a vida, sonharam com a saciedade do Egito. Os jovens rebeldes foram corrigidos com castigos mais severos, ao lhes inocular veneno as serpentes mordendo-os em um ataque mortal (Nm 21, 4-6). Posto que um após outro sucumbiam à serpente, o Legislador, movido pelo conselho divino, fez uma figura de serpente em bronze e mandou colocá-la no alto para que estivesse à vista de todo o acampamento. E assim deteve o dano que estes animais faziam ao povo, e pôs fim a sua destruição. Com efeito, quem olhava para a imagem da serpente feita de bronze não tinha porque temer nenhuma mordida da serpente verdadeira, porque o olhar debilitava o veneno com uma misteriosa resistência (Ex 21, 7-9).

ECCLESIA Brasil

Coletânea de frases de São Tomás de Aquino

S. Tomás de Aquino | Guadium Press
São Tomás utilizou sua inteligência para dar um fundamento filosófico sólido à doutrina católica, promovendo o pensamento que a razão e a Fé podem sim andar juntas.

Redação (27/01/2021 09:30, Gaudium Press) A Igreja Católica celebra no dia de hoje, 28 de janeiro, a memória de São Tomás de Aquino, Doutor da Igreja. Seus estudos teológicos lhe renderam o título de “Doutor Angélico”.

Nascido no ano de 1225, São Tomás ingressou na Ordem dos Dominicanos e utilizou sua inteligência para dar um fundamento filosófico sólido à doutrina católica, promovendo o pensamento que a razão e a Fé podem sim andar juntas.

Sua obra mestra é a famosa Suma Teológica. São Tomás é o padroeiro das Escolas Católicas, dos teólogos e livreiros. Confira algumas de seus sábios ensinamentos na coletânea de frases abaixo:

Guadium Press

01 – “Os professores devem ser elevados em suas vidas, de modo que iluminem aos fieis com sua pregação, ilustrem aos estudantes com seus ensinamentos, e defendam a fé mediante suas disputas contra o erro”.

02 – “O estudioso é aquele que leva aos demais o que ele compreendeu: a Verdade”.

03 – “Rejeitar um único artigo ensinado pela Igreja é suficiente para destruir a fé, do mesmo jeito que um pecado mortal é suficiente para destruir a caridade”.

04 – “Dê-me, Senhor, agudeza para entender, capacidade para reter, método e faculdade para aprender, sutileza para interpretar, graça e abundância para falar. Dê-me, Senhor, acerto ao começar, direção ao progredir e perfeição ao concluir”.

Os jovens da Família de São Tomás querem dar testemunho da glória de Cristo e não buscam sucesso em si e para si.
Guadium Press

05 – “Espero nunca ter ensinado nenhuma verdade que não tenha aprendido de Vós. Se, por ignorância, fiz o contrário, revogo tudo e submeto todos meus escritos ao julgamento da Santa Igreja Romana”.

06 – “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la”.

07 – “Nada há no intelecto que antes não tenha passado pelos sentidos”.

08 – “Um indivíduo, vivendo em sociedade, constitui de certo modo uma parte ou um membro desta sociedade. Por isso, aquele que faz algo para o bem ou para o mal de um de seus membros atinge, com isso, toda a sociedade”.

09 – “Três coisas são necessárias à salvação do homem: saber o que se deve crer, saber o que se deve desejar, saber o que se deve fazer”.

Guadium Press

10 – “Rogo a Deus como se esperasse tudo d’Ele, mas trabalho como se esperasse tudo de mim”.

11 – “Para nos criar, Deus nos escolheu; para nos salvar, temos de escolher a Deus”.

12 – “A inveja é uma tristeza pela glória do outro”.

13 – “Se o homem reconhecesse o mistério da Santa Missa, no qual Deus dá o seu Corpo e Sangue em sacrifício para os homens, morreria de amor”.

14 – “Uma boa intenção não justifica fazer algo mal”.

15 – “A humildade faz o homem tornar-se capaz de Deus”. (EPC)

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Jovem médico de sucesso vira padre em Goiás e sua história inspira milhares de fiéis

Pe. Pablo Henrique de Faria / Captura de Tela YouTube
Paróquia São Paulo VI (Fair Use)

Os sinais tinham ido surgindo cada vez mais claramente, até que o otorrinolaringologista de 35 anos deixou tudo para se entregar ao cuidado das almas.

Jovem médico de sucesso vira padre em Goiás e sua história inspira milhares de fiéis, em especial aqueles que se perguntam sobre qual é o plano de Deus para a sua vida.

O otorrinolaringologista Pablo Henrique de Faria tinha 35 anos e uma carreira bem sucedida quando decidiu renunciar a um futuro promissor nos cuidados físicos do próximo. Ele se confiou inteiramente às mãos de Deus para construir outro futuro, também promissor e também de cuidados do próximo, só que, agora, de natureza essencialmente espiritual.

Pablo Henrique decidiu entrar no seminário.

Jovem médico de sucesso vira padre em Goiás

Os sinais tinham ido surgindo cada vez mais claramente no exercício da medicina, no convívio com os sofrimentos e com as esperança dos pacientes, nos questionamentos sobre as próprias intenções numa profissão que dá prestígio e riqueza material, no testemunho das crianças com câncer que, por um lado, sofriam muito, mas, por outro, mantinham alguma capacidade de alegria que acabava dando forças para os seus próprios pais… Uma viagem à Itália em que Pablo visitou Roma e Assis intensificou a voz interior que o chamava a refletir mais a fundo sobre o seu caminho futuro.

É natural que tenham sido muitos e intensos os questionamentos de seus pais, de outros familiares e de vários amigos, mas, segundo o próprio Pablo, a vocação falou mais alto do que o choque da família.

Mas a sua história também se transformou em tema de homilia em paróquias de todo o Brasil e serve como inspiração para milhares de jovens que se questionam sobre a vocação, mas têm medo de renunciar aos bens deste mundo.

Ordenado em 2018 na diocese de São Luís de Montes Belos, em Goiás, o pe. Pablo Henrique é hoje pároco na paróquia São Paulo VI. Ele publicou um vídeo com o seu testemunho, que pode ser visto aqui.

https://youtu.be/_z4CsDgyfoU

Aleteia

Francisco: a pobreza é inaceitável, construir um mundo mais justo e fraterno

Vatican Media

O Papa incentiva as associações belgas 'Entraide et Fraternité' e 'Action Vivre ensemble' "a prosseguirem incansavelmente o seu compromisso no caminho da amizade social e da fraternidade, com a graça de Cristo, o Bom Samaritano por excelência”.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco enviou uma mensagem, nesta sexta-feira (29/01), aos membros de duas associações belgas “Entraide et Fraternité” e “Action Vivre ensemble” por ocasião de suas fundações.

Em 1961, os bispos da Bélgica tomaram a iniciativa de lançar a campanha “Quaresma de partilha” e convidaram os católicos a partilharem seus recursos a favor da República Democrática do Congo, que tinha se tornado independente. A esse propósito, fundaram a associação “Entraide et Fraternité”. “Vocês preparam e organizam a “Quaresma de partilha” na Bélgica há sessenta anos. Desde então vocês estenderam seu campo de ação a vários países do mundo”, ressalta o Papa na mensagem.

Em 1971, os bispos lançaram a “Action Vivre ensemble” a fim de organizar a campanha de Advento e ajudar as associações que lutam contra a pobreza na Bélgica. As duas “associações têm como campo de ação prioritário o apoio à atividade social dos interlocutores”, tanto nos países pobres quanto na Bélgica. 

“Parabenizo as duas organizações por sua fidelidade no cumprimento de sua missão e agradeço do fundo do coração a todos aqueles que estão envolvidos como voluntários, profissionais ou benfeitores”, frisa o Pontífice no texto.

Segundo o Papa, os desafios enfrentados pelas associações “são agravados pela crise da Covid-19 que afeta o mundo inteiro, e mais ainda os mais pobres e marginalizados. Agora mais do que nunca, é uma questão de continuar a ação empreendida e desenvolvê-la”. “Por isso, encorajo sinceramente suas equipes de Entraide et Fraternité e Action Vivre, assim como os muitos voluntários que apoiam sua ação nas paróquias e na sociedade civil, encorajo seus parceiros sociais que lutam todos os dias contra a pobreza inaceitável, assim como os doadores que os apoiam através da participação financeira. Todos temos o mesmo objetivo: construir um mundo mais justo e fraterno”, ressalta Francisco.

Por fim, o Papa incentiva as duas associações belgas “a prosseguirem incansavelmente o seu compromisso no caminho da amizade social e da fraternidade, com a graça de Cristo, o Bom Samaritano por excelência”.

Vatican News

Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Missões de 2021

Imagem referencial. Papa no Vaticano em 2019.
Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Vaticano, 29 jan. 21 / 08:17 am (ACI).- O Vaticano publicou em 29 de janeiro a mensagem do Papa Francisco para o 95º Dia Mundial das Missões que será celebrado no domingo, 17 de outubro de 2021.

Na mensagem intitulada “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos”, o Santo Padre destaca o “convite dirigido a cada um de nós para cuidar e dar a conhecer aquilo que tem no coração” e cita São Paulo VI na exortação Evangelii nuntiandi para recordar que “esta missão é, e sempre foi, a identidade da Igreja: ‘ela existe para evangelizar’”

“No isolamento pessoal ou fechando-se em pequenos grupos, a nossa vida de fé esmorece, perde profecia e capacidade de encanto e gratidão; por sua própria dinâmica, exige uma abertura crescente, capaz de alcançar e abraçar a todos. Atraídos pelo Senhor e a vida nova que oferecia, os primeiros cristãos, em vez de cederem à tentação de se fechar numa elite, foram ao encontro dos povos para testemunhar o que viram e ouviram: o Reino de Deus está próximo”, escreveu o Papa.

A seguir, o texto completo da mensagem do Papa Francisco.

«Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20)

Queridos irmãos e irmãs!

Quando experimentamos a força do amor de Deus, quando reconhecemos a sua presença de Pai na nossa vida pessoal e comunitária, não podemos deixar de anunciar e partilhar o que vimos e ouvimos. A relação de Jesus com os seus discípulos, a sua humanidade que nos é revelada no mistério da Encarnação, no seu Evangelho e na sua Páscoa mostram-nos até que ponto Deus ama a nossa humanidade e assume as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos anseios e angústias (cf. Conc. Ecum. Vat II, Const. past. Gaudium et spes, 22). Tudo, em Cristo, nos lembra que o mundo em que vivemos e a sua necessidade de redenção não Lhe são estranhos e também nos chama a sentirmo-nos parte ativa desta missão: «Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes» (cf. Mt 22, 9). Ninguém é estranho, ninguém pode sentir-se estranho ou afastado deste amor de compaixão.

A experiência dos Apóstolos

A história da evangelização tem início com uma busca apaixonada do Senhor, que chama e quer estabelecer com cada pessoa, onde quer que esteja, um diálogo de amizade (cf. Jo 15, 12-17). Os Apóstolos são os primeiros que nos referem isso, lembrando inclusive a hora do dia em que O encontraram: «Eram as quatro da tarde» (Jo 1, 39). A amizade com o Senhor, vê-Lo curar os doentes, comer com os pecadores, alimentar os famintos, aproximar-Se dos excluídos, tocar os impuros, identificar-Se com os necessitados, fazer apelo às bem-aventuranças, ensinar de maneira nova e cheia de autoridade, deixa uma marca indelével, capaz de suscitar admiração e uma alegria expansiva e gratuita que não se pode conter. Como dizia o profeta Jeremias, esta experiência é o fogo ardente da sua presença ativa no nosso coração que nos impele à missão, mesmo que às vezes implique sacrifícios e incompreensões (cf. 20, 7-9). O amor está sempre em movimento e põe-nos em movimento, para partilhar o anúncio mais belo e promissor: «Encontramos o Messias» (Jo 1, 41).

Com Jesus, vimos, ouvimos e constatamos que as coisas podem mudar. Ele inaugurou – já para os dias de hoje – os tempos futuros, recordando-nos uma caraterística essencial do nosso ser humano, tantas vezes esquecida: «fomos criados para a plenitude, que só se alcança no amor» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 68). Tempos novos, que suscitam uma fé capaz de estimular iniciativas e plasmar comunidades a partir de homens e mulheres que aprendem a ocupar-se da fragilidade própria e dos outros (cf. ibid., 67), promovendo a fraternidade e a amizade social. A comunidade eclesial mostra a sua beleza, sempre que se lembra, com gratidão, que o Senhor nos amou primeiro (cf. 1 Jo 4, 19). Esta «predileção amorosa do Senhor surpreende-nos e gera maravilha; esta, por sua natureza, não pode ser possuída nem imposta por nós. (…) Só assim pode florir o milagre da gratuidade, do dom gratuito de si mesmo. O próprio ardor missionário nunca se pode obter em consequência dum raciocínio ou dum cálculo. Colocar-se “em estado de missão” é um reflexo da gratidão» (Francisco, Mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 21 de maio de 2020).

E, no entanto, os tempos não eram fáceis; os primeiros cristãos começaram a sua vida de fé num ambiente hostil e árduo. Histórias de marginalização e prisão entrelaçavam-se com resistências internas e externas, que pareciam contradizer e até negar o que tinham visto e ouvido; mas isso, em vez de ser uma dificuldade ou um obstáculo que poderia levá-los a retrair-se ou fechar-se em si mesmos, impeliu-os a transformar cada incómodo, contrariedade e dificuldade em oportunidade para a missão. Os próprios limites e impedimentos tornaram-se um lugar privilegiado para ungir, tudo e todos, com o Espírito do Senhor. Nada e ninguém podia permanecer alheio ao anúncio libertador.

Possuímos o testemunho vivo de tudo isto nos Atos dos Apóstolos, livro que os discípulos missionários sempre têm à mão. É o livro que mostra como o perfume do Evangelho se difundiu à passagem deles, suscitando aquela alegria que só o Espírito nos pode dar. O livro dos Atos dos Apóstolos ensina-nos a viver as provações unindo-nos a Cristo, para maturar a «convicção de que Deus pode atuar em qualquer circunstância, mesmo no meio de aparentes fracassos», e a certeza de que «a pessoa que se oferece e entrega a Deus por amor, seguramente será fecunda (cf. Jo 15, 5)» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 279).

O mesmo se passa connosco: o momento histórico atual também não é fácil. A situação da pandemia evidenciou e aumentou o sofrimento, a solidão, a pobreza e as injustiças de que já tantos padeciam, e desmascarou as nossas falsas seguranças e as fragmentações e polarizações que nos dilaceram silenciosamente. Os mais frágeis e vulneráveis sentiram ainda mais a sua vulnerabilidade e fragilidade. Experimentamos o desânimo, a deceção, o cansaço; e até a amargura conformista, que tira a esperança, se apoderou do nosso olhar. Nós, porém, «não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor, e nos consideramos vossos servos por amor de Jesus» (2 Cor 4, 5). Por isso ouvimos ressoar nas nossas comunidades e famílias a Palavra de vida que ecoa nos nossos corações dizendo: «Não está aqui; ressuscitou» (Lc 24, 6); uma Palavra de esperança, que desfaz qualquer determinismo e, a quantos se deixam tocar por ela, dá a liberdade e a audácia necessárias para se levantar e procurar, criativamente, todas as formas possíveis de viver a compaixão, «sacramental» da proximidade de Deus para connosco que não abandona ninguém na beira da estrada. Neste tempo de pandemia, perante a tentação de mascarar e justificar a indiferença e a apatia em nome dum sadio distanciamento social, é urgente a missão da compaixão, capaz de fazer da distância necessária um lugar de encontro, cuidado e promoção. «O que vimos e ouvimos» (At 4, 20), a misericórdia com que fomos tratados, transforma-se no ponto de referimento e credibilidade que nos permite recuperar e partilhar a paixão por criar «uma comunidade de pertença e solidariedade, à qual saibamos destinar tempo, esforço e bens» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 36). É a sua Palavra que diariamente nos redime e salva das desculpas que levam a fechar-nos no mais vil dos ceticismos: «Tanto faz; nada mudará!» Pois, à pergunta «para que hei de privar-me das minhas seguranças, comodidades e prazeres, se não vou ver qualquer resultado importante», a resposta é sempre a mesma: «Jesus Cristo triunfou sobre o pecado e a morte e possui todo o poder. Jesus Cristo vive verdadeiramente» (Francisco, Exort. ap. Evangelii gaudium, 275) e, também a nós, nos quer vivos, fraternos e capazes de acolher e partilhar esta esperança. No contexto atual, há urgente necessidade de missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho.

Como os apóstolos e os primeiros cristãos, também nós exclamamos com todas as nossas forças: «não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20). Tudo o que recebemos, tudo aquilo que o Senhor nos tem concedido, ofereceu-no-lo para o pormos a render doando-o gratuitamente aos outros. Como os apóstolos que viram, ouviram e tocaram a salvação de Jesus (cf. 1 Jo 1, 1-4), também nós, hoje, podemos tocar a carne sofredora e gloriosa de Cristo na história de cada dia e encontrar coragem para partilhar com todos um destino de esperança, esse traço indubitável que provém de saber que estamos acompanhados pelo Senhor. Como cristãos, não podemos reservar o Senhor para nós mesmos: a missão evangelizadora da Igreja exprime a sua valência integral e pública na transformação do mundo e na salvaguarda da criação.

Um convite a cada um de nós

O tema do Dia Mundial das Missões deste ano – «não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos» (At 4, 20) – é um convite dirigido a cada um de nós para cuidar e dar a conhecer aquilo que tem no coração. Esta missão é, e sempre foi, a identidade da Igreja: «ela existe para evangelizar» (São Paulo VI, Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 14). No isolamento pessoal ou fechando-se em pequenos grupos, a nossa vida de fé esmorece, perde profecia e capacidade de encanto e gratidão; por sua própria dinâmica, exige uma abertura crescente, capaz de alcançar e abraçar a todos. Atraídos pelo Senhor e a vida nova que oferecia, os primeiros cristãos, em vez de cederem à tentação de se fechar numa elite, foram ao encontro dos povos para testemunhar o que viram e ouviram: o Reino de Deus está próximo. Fizeram-no com a generosidade, gratidão e nobreza próprias das pessoas que semeiam, sabendo que outros comerão o fruto da sua dedicação e sacrifício. Por isso apraz-me pensar que «mesmo os mais frágeis, limitados e feridos podem [ser missionários] à sua maneira, porque sempre devemos permitir que o bem seja comunicado, embora coexista com muitas fragilidades» (Francisco, Exort. ap. pós-sinodal Christus vivit, 239).

No Dia Mundial das Missões que se celebra anualmente no terceiro domingo de outubro, recordamos com gratidão todas as pessoas, cujo testemunho de vida nos ajuda a renovar o nosso compromisso batismal de ser apóstolos generosos e jubilosos do Evangelho. Lembramos especialmente aqueles que foram capazes de partir, deixar terra e família para que o Evangelho pudesse atingir sem demora e sem medo aqueles ângulos de aldeias e cidades onde tantas vidas estão sedentas de bênção.

Contemplar o seu testemunho missionário impele-nos a ser corajosos e a pedir, com insistência, «ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2), cientes de que a vocação para a missão não é algo do passado nem uma recordação romântica de outrora. Hoje, Jesus precisa de corações que sejam capazes de viver a vocação como uma verdadeira história de amor, que os faça sair para as periferias do mundo e tornar-se mensageiros e instrumentos de compaixão. E esta chamada, fá-la a todos nós, embora não da mesma forma. Lembremo-nos que existem periferias que estão perto de nós, no centro duma cidade ou na própria família. Há também um aspeto da abertura universal do amor que não é geográfico, mas existencial. Sempre, mas especialmente nestes tempos de pandemia, é importante aumentar a capacidade diária de alargar os nossos círculos, chegar àqueles que, espontaneamente, não sentiria como parte do «meu mundo de interesses», embora estejam perto de nós (cf. Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 97). Viver a missão é aventurar-se no cultivo dos mesmos sentimentos de Cristo Jesus e, com Ele, acreditar que a pessoa ao meu lado é também meu irmão, minha irmã. Que o seu amor de compaixão desperte também o nosso e, a todos, nos torne discípulos missionários.

Maria, a primeira discípula missionária, faça crescer em todos os batizados o desejo de ser sal e luz nas nossas terras (cf. Mt 5, 13-14).

Roma, em São João de Latrão, na Solenidade da Epifania do Senhor, 6 de janeiro de 2021.

Francisco

ACI Digital

SÃO SULPÍCIO SEVERO

São Sulpício Severo  (© Biblioteca Apostolica Vaticana)

Riqueza e mundanismo

A capacidade de oratória e a administração dos negócios representavam, entre os homens instruídos e sérios, as atitudes dos cargos mais altos do império. Sulpício distinguiu-se pela sua eloquência, fineza de espírito, habilidade em resolver questões jurídicas, rigor em julgar e solidez em argumentar. Desta forma, sua reputação foi longe. Com sua fortuna e gênio, podia aspirar aos mais altos cargos do Estado.

Totalmente absorvido pela vida mundana, em uma época em que todas as esperanças favoreciam a imaginação, Sulpício casou-se com a filha de um Cônsul, que também era muito rica e com muitos conhecimentos sociais. Poucos jovens podiam contar com recursos melhores para iniciar uma carreira honrosa. Mas, infelizmente, seus lindos sonhos futuros se dissiparam: a Providência divina lhe havia reservado um destino mais glorioso. Com o falecimento da sua esposa, caiu em profunda depressão.

Consolação divina

Todavia, ao invés de se deixar abater pelo desespero, recobrou suas energias, buscando consolação em uma vida de piedade. Deus recompensou a sua fé, de modo magnífico, com milhares de outras graças, entre as quais a de conhecer São Martinho, Bispo de Tours. Assim, decidiu consagrar-se a Deus e despojar-se dos seus inumeráveis bens. No entanto, como havia feito Santo Ambrósio, não vendeu a sua herança para distribuir o dinheiro aos pobres: contentou-se em ceder seus bens à Igreja, reservando o usufruto para si.

Esta mudança de vida irritou seu pai; ele mesmo tornou-se objeto de escárnio entre seus velhos amigos. Além destes desprazeres e da desoladora amargura, foi acometido também pela doença: ficou gravemente doente, por duas vezes, mas a sua força de espírito, sustentada pela graça divina, triunfou sobre todas as tribulações.

Confidente de São Martinho

As gerações futuras conheceram Sulpício Severo como escritor da vida de São Martinho de Tours. Embora o santo Bispo tivesse o costume de não falar de si e de não revelar as graças particulares que Deus lhe concedia, Sulpício narrou em sua biografia alguns acontecimentos, colhidos em suas conversas. Outros elementos, entre os quais muitas circunstâncias interessantes, foram-lhe revelados pelos religiosos da diocese de Tours ou pelos monges de Marmoutier.

Vatican News

São Valério de Treviri

S. Sulpício | ArqSP

Nesta data as homenagens da Igreja estão voltadas para dois santos com o mesmo nome, Valério e ambos bispos, mas viveram em séculos bem distantes. O primeiro a ser canonizado, foi o da diocese de Treviri. O segundo foi o de Ravena, que pode ser encontrado na outra página.

Uma tradição muito antiga nos conta que o bispo de Treviri, chamado Valério, foi discípulo do apóstolo Pedro. Este o teria consagrado bispo e enviado para evangelizar a população da Alemanha. Mas, isto não ocorreu, São Pedro testemunhou a fé pelo menos dois séculos antes.

Entretanto, Valério realmente foi o bispo de Treviri e prestou um relevante trabalho de evangelização para a Igreja de Roma. Primeiro auxiliando Eucario, que foi o primeiro bispo desta diocese e depois colaborando com Materno, seu contemporâneo; os quais foram incluídos no Livro dos Santos, como grandes apóstolos da Alemanha.

Nos registros posteriores, revistos pelo Vaticano no final do primeiro milênio, onde foram narrados os motivos da santidade dos religiosos até então, encontramos o seguinte, sobre Valério: "converteu multidões de pagãos e operou milagres singelos e expressivos". Talvez o mais significativo, tenha sido quando Valério, trouxe de volta a vida do companheiro Materno com o simples toque do seu bastão episcopal. Depois, o outro companheiro de missão, que já havia falecido, Eucario, o teria avisado em sonho que no dia 29 de janeiro ele seria recebido no Reino de Deus. Valério morreu neste dia de um ano ignorado, no início do século IV.

A fama de sua santidade aumentou com a sua morte e os devotos procuravam a sua sepultura para agradecer ou pedir a sua intercessão. O culto se intensificou com a construção de muitas igrejas dedicadas a São Valério, principalmente entre os povos de língua germânica. Muitas cidades o elegeram como seu padroeiro. As suas relíquias, conservadas numa urna de prata, se encontram na basílica de São Matias, na cidade de Treviri, atualmente chamada de Tries, na Alemanha. A festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.

Outros santos e beatos:
Santo Aquilino de Milão — martirizado em 650, pelos arianos de Milão. Era pregador dessa cidade e recusou a sede episcopal de Colônia.
São Cesário — diácono do século I, em Angoulême.
São Constâncio e companheiros — martirizados em 170. Constâncio, primeiro bispo de Perúgia, foi condenado à morte junto com muitos fiéis de sua diocese.
São Dallan Mac Forgail (†598) — assassinado pelos piratas em Inis-coel, na Irlanda. Escreveu um poema em louvor de são Columbano.
Santa Flora ou Blath (†523) — religiosa secular no convento de Santa Brígida, em Kildare, onde desempenhou o humilde ofício de cozinheira.
São Gelásio II (1058-1119) — papa durante um único ano, muito conturbado. Perseguido pelo poderoso Frangipani, teve de fugir em face da aproximação de Henrique V, que fizera de Maurício Burdino um antipapa. Refugiado em Gaeta, a seguir na França, excomungou o imperador e o antipapa. Morreu antes de se reunir o concílio, no mosteiro de Cluny.
São Gildas, o Sábio (†570) — bispo inglês, viveu o último ano de sua vida como eremita, na Bretanha. Escreveu uma obra em latim, De excidiis Britanniae, na qual descreve o infortúnio de sua pátria.
Santos Pápias e Mauro ou Marinho — soldados romanos martirizados em 303.
São Sabiniano — martirizado em 275. Nasceu em Samo. Teria fugido para a Gália junto com sua irmã, Santa Sabina.
Santos Sarbélio e Barbéia — irmãos martirizados em 101, em Edessa.
São Sulpício (†591) — bispo de Bourges.
São Voloc (†724) — bispo irlandês, missionário na Escócia.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF