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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

S. ANSCÁRIO (OSCAR), BISPO DE HAMBURGO E BREMA, APÓSTOLO DA ESCANDINÁVIA

S. Anscário, Siegfried Detlev Bendixen 

Oscar era um grande estudioso. Desde pequeno foi aluno dos Beneditinos, na abadia de Corbiè, perto de Amiens, no norte da França. Para ali, voltou, mais tarde, como monge e, depois, como "magister interior", um cargo que desempenhou na nova Corbiè, comunidade nascida na Saxônia.

Sua missão no grande norte

Em 826, Oscar partiu para a Dinamarca, com o novo rei Harald, que acabava de ser batizado por ele, mas, depois de apenas um ano, o soberano foi obrigado a renunciar ao trono. Então, Oscar seguiu o monge Vitimaro, em sua missão na Suécia, onde o rei local era tolerante com a pregação do cristianismo, considerado a religião dos estrangeiros, seguido mais pelos prisioneiros de guerra. Os resultados foram tão bons que o novo imperador, Ludovico o Piedoso, encorajou o nascimento, naquelas terras, de uma nova estrutura eclesiástica, que, porém, teve como sede Hamburgo, além-mar. Ali Oscar se tornou Bispo.

A semente da evangelização

Quando Ludovico morreu, o império começou a desagregar-se, por causa também das incursões de pessoas, como os normandos, que, naqueles anos, devastavam os territórios do norte da Europa.
A invasão dos Vikings chega a Hamburgo. Assim, Oscar foi obrigado a refugiar-se em Bremen, onde, como Bispo, passou os últimos anos da sua vida: ali, segundo algumas fontes, trabalhou na elaboração de uma “Biblia pauperum”, da qual alguns fragmentos ainda são conservados na catedral da cidade.
Santo Oscar faleceu em 865, sem ver a realização do seu sonho de uma profunda evangelização do norte da Europa, mas satisfeito por ter lançado a primeira pequena semente do anúncio cristão naquelas terras.

Vatican News

S. BRÁS, BISPO DE SEBASTE E MÁRTIR

S. Brás, Escola de Novgorod 

Sobre a vida de São Brás - protetor da garganta e dos otorrinolaringologistas, dos pecuaristas e das atividades agrícolas -dispomos de poucas notícias: a única coisa certa era a sua fé em Cristo, que manteve até à morte por decapitação, após cruéis torturas indescritíveis.

Bispo e médico

A tradição diz que Brás era natural de Sebaste, na Armênia, onde passou a sua juventude, dedicando-se, sobretudo, aos estudos de Medicina.
Ao tornar-se Bispo, entregou-se aos cuidados físicos e espirituais do povo, realizando, segundo a tradição, até curas milagrosas.
Naqueles anos, as condições de vida dos fiéis da fé cristã pioraram por causa dos contrastes entre o imperador do Oriente, Licínio, e do Ocidente, Constantino, que causaram novas perseguições. Brás, para fugir das violências, refugiou-se em uma caverna, no Monte Argeu, onde viveu na solidão e na oração, guiando a sua Igreja, apesar da distância, com mensagens secretas.

O milagre da garganta

Porém, Brás foi encontrado e preso pelos guardas do governador Agrícola e levado a julgamento. Ao longo do caminho, encontrou uma mãe desesperada, com seu filhinho nos braços, que estava sendo sufocado por um espinho ou isca de peixe cravado em sua garganta. O bispo abençoou-o e a criança recobrou imediatamente a saúde. Este fato, porém, não foi suficiente para poupá-lo do martírio, após torturas atrozes, que não conseguiram mudar seu espírito.

O naufrágio das relíquias

Com a sua morte, São Brás foi enterrado na catedral de Sebaste, mas, em 723, parte dos seus restos mortais foi transferida para Roma. No entanto, durante a viagem, uma tempestade repentina fez com que as relíquias permanecessem em Maratea, na costa da atual região italiana da Basilicata. Esta terra, na verdade, ainda hoje mantém uma grande devoção a São Brás.

O culto de São Brás

São Brás é um dos santos, cuja fama de santidade chegou a muitos lugares e, por isso, é venerado em quase todas as partes do mundo.
O milagre da garganta, que realizou em uma criança, é recordado no dia 3 de fevereiro, com um rito litúrgico particular, durante o qual o sacerdote abençoa a garganta dos fiéis com duas velas cruzadas diante da garganta.

Vatican News

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 9/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 19

Penso que seja conveniente apressar a marcha do discurso, pois com as poucas coisas que já consideramos facilitamos aos amantes do esforço a reflexão sobre as etapas restantes. Estas etapas podem significar as virtudes; quem avança ordenadamente seguindo a coluna de nuvem, acampa e descansa nelas. Passando por alto as etapas intermediárias, recordarei em meu discurso o prodígio da rocha, cuja natureza dura e sólida se converteu em bebida para os que tinham sede, dissolvendo-se sua dureza na brandura da água (Ex 17, 6 e Sal 77, 15 e 1Co 10, 4). Não há nenhuma dificuldade em adaptar a continuação do relato à consideração espiritual. Aquele que abandonou na água o egípcio morto, e foi adoçado com o lenho, e gozou das fontes apostólicas repousando à sombra das palmeiras, esse também já se fez capaz de receber a Deus. Pois a pedra, como diz o Apóstolo, é Cristo, seca e resistente para os que não crêem; porem se alguém aproxima o bastão da fé, se converte em bebida para os sedentos e flui dentro de quem a recebe. Pois diz: Eu e meu Pai viremos e faremos nele morada (Jo 14, 23). Tampouco devemos deixar de considerar isto: depois de atravessar o mar e ter sido adoçada a água para os caminhantes da virtude; depois daquele delicioso acampamento junto às fontes e às palmeiras, e depois de beber da pedra se ter esgotado totalmente as provisões trazidas do Egito, caiu do alto sobre eles um alimento simples e ao mesmo tempo variado. De fato, seu aspecto era simples, porem sua qualidade era variada, acomodando-se convenientemente a cada um segundo a natureza de seu desejo (Ex 16, 2-16). Que aprendemos com isto? Aprendemos com que purificação convém que cada um se limpe da vida egípcia e estrangeira até o ponto de esvaziar totalmente o odre da própria alma de todo o alimento impuro preparado pelos egípcios, e receber assim, com alma limpa, em um só, o alimento que vem do alto: um alimento que não se fez brotar para nós de uma semente mediante seu cultivo, senão que é um pão preparado, sem semente e sem cultivo, que, descendo do céu, aparece sobre a terra. Pelo simbolismo da narração sabes perfeitamente qual é este alimento verdadeiro. O pão que desce do céu (Jo 6, 51 e 6, 31) não é uma coisa sem corpo. Pois como poderia uma coisa incorpórea converter-se em alimento para o corpo? O que não é incorpóreo, evidentemente, é corpóreo. Pois bem, o corpo deste pão não foi produzido pela terra, nem pela semente, mas a terra, permanecendo tal qual é, se encontra cheia deste divino alimento que recebem os que têm fome, havendo conhecido previamente o mistério da Virgem através deste prodígio. Este pão, não produzido pelo cultivo da terra, é também a palavra que, graças à diversidade de suas qualidades, adapta sua força às capacidades dos que comem (Sb 15, 21).

Capítulo 20

Na verdade, não só tem sabor de pão, como se converte também em leite e em carne e em legumes e em tudo aquilo que se adapte e seja apetecível para quem o recebe, como ensina o divino apóstolo Paulo, que preparou aos seus uma mesa assim, convertendo a palavra em comida sólida e de carne para os mais perfeitos, em legumes para os mais frágeis, e em leite para as crianças (Rm 14, 2 e 1Co 3, 2 e Hb 5, 12). As maravilhas que nos mostra a história em torno daquele alimento são ensinamentos para a vida virtuosa. Pois diz que a todos se oferecia uma participação igual no alimento, e que a diferença de forças em quem o recolhia não implicava em excesso ou em falta do necessário. Isto, a meu ver, é um conselho oferecido a todos: que quem procura as coisas materiais necessárias para viver não ultrapasse os limites da necessidade, mas que saiba bem que, para todos, a medida natural do alimento é a satisfação da necessidade diária. Ainda que se preparem muito mais coisas que o necessário, o estômago não tem uma natureza capaz de ultrapassar suas próprias medidas, nem de se dilatar conforme a abundância do preparado, mas que, como diz a história, nem o que colhia mais tinha de sobra, não tinha, de fato, onde guardar a sobra, nem o que colhia pouco estava desprovido, pois a necessidade se reduzia acomodando-se ao encontrado. Enquanto para os que guardavam o supérfluo, o excesso se convertia em viveiro de vermes. Com isto a Escritura indica de algum modo aos avarentos que todo o supérfluo amontoado pela paixão da avareza, no dia seguinte, isto é, na vida futura, se converterá em vermes para quem o reuniu. Ao ouvir isto, sabes perfeitamente que com este verme se designa o verme que não tem fim, gerado pela avareza. O fato de que o guardado só se conserve livre da corrupção no sábado introduz um conselho: que existe um tempo em que convém utilizar o trabalho de possuir aquelas coisas que, entesouradas, não se corrompem; elas nos serão proveitosas quando, havendo concluído esta vida de preparação, depois da morte, nos encontremos no descanso. Não é por acaso que o dia anterior ao sábado é chamado - e é realmente - parasceve, dia de preparação para o sábado.

Capítulo 21

Este dia é esta vida na qual nos preparamos as coisas da vida futura. Nela, nenhum dos trabalhos que realizamos agora é factível: nem a agricultura, nem o comércio, nem a milícia, nem nenhum outro trabalho no qual agora nos afanamos, senão que vivendo em um total repouso destes trabalhos, recolheremos os frutos das sementes que tivermos semeado durante esta vida. Frutos incorruptíveis, se eram boas as sementes desta vida; corruptíveis e funestos, se assim no-las houver produzido a lavoura da vida. O que semeia para o espírito - diz - do espírito recolherá vida eterna; o que semeia para a carne, da carne recolherá corrupção (Ga 6, 8). Por esta razão, a Lei chama parasceve com propriedade e só considera como tal a preparação para melhor, desde que o que ela entesoura é incorrupção; seu oposto não é parasceve e nem recebe este nome. Com efeito, ninguém chamaria com propriedade preparação à privação do bem, senão falta de preparação. Por esta razão, a história prescreve aos homens só a preparação endereçada ao melhor, dando a entender com seu silêncio aos discretos, em que consiste o contrário. Da mesma forma que nos alistamentos militares, o chefe da expedição entrega primeiro as provisões e depois dá o sinal de guerra, assim também os soldados da virtude, depois de haverem recebido a provisão mística, marcham para a guerra contra os estrangeiros, dirigindo a batalha Josué, sucessor de Moisés. Vês com que coerência prossegue a narração? Enquanto o homem está muito debilitado, maltratado pela perversa tirania, não afasta por si mesmo o inimigo. Tampouco pode. Outro é que se faz companheiro de combate dos fracos, o que fere o inimigo com sucessivos golpes. Porem, uma vez que tenha sido libertado da escravidão dos opressores, e tenha sido adoçado com o lenho, e tenha descansado da fadiga no acampamento das palmeiras, e tenha reconhecido o mistério da pedra, e tenha participado do alimento do céu, então não afasta o inimigo pelas mãos de outro, mas como quem abandonou o tempo da infância e alcançou a altura da juventude, ele mesmo luta corpo a corpo contra os adversários, sem ter já como general Moisés, o servo de Deus, mas o próprio Deus do qual é servo Moisés (Dt 34, 5 e Ex 14, 31). Com efeito, a Lei, dada como sombra e figura dos bens que estavam por vir (Hb 8, 5), é inadequada para as verdadeiras batalhas. Aquele que é a plenitude da Lei e sucessor de Moisés, que foi prenunciado na igualdade de nome de quem então mandava, esse dirige agora a batalha. O povo, quando vê levantadas as mãos do Legislador, avantaja-se sobre o inimigo no combate; se as vê caídas, cede (Ex 8, 5). Ter Moisés as mãos elevadas significa a contemplação da Lei através do sentido espiritual; o deixá-las cair para a terra, a pobre exegese presa ao solo, e a observação da Lei segundo a letra. O sacerdote sustenta as mãos de Moisés que se tornaram pesadas, ajudado neste trabalho por um membro da família. Nem mesmo isto é alheio à coerência das coisas que estamos contemplando. De fato, o sacerdote verdadeiro, graças à palavra de Deus que está unida a ele, conduz novamente para o alto as energias da Lei, caídas à terra pelo peso da interpretação judia, e apóia na pedra - como em um fundamento -, a Lei que cai, de forma que esta, como sugere a figura formada pelas mãos estendidas, mostra a quem as vê qual é seu sentido. Efetivamente, para aqueles que sabem ver, o mistério da cruz aparece constantemente na Lei. Por esta razão diz o Evangelho em algum lugar que não passará um jota ou um til da lei (Mt 5, 18), significando com isto o traço horizontal e o acento perpendicular com que se desenha a figura da cruz. Essa mesma cruz, mostrada então em Moisés - que é figura da Lei -, se erguia como bandeira e causa de vitória para os que a olhavam.

ECCLESIA Brasil

Padre enfermeiro português volta a hospital para ajudar doentes de covid-19

Facebook Zona Pastoral de Alcains (Reprodução - Fair Use)

O padre enfermeiro Rúben Figueiredo

Após 10 anos, o pe. Rúben retoma a antiga profissão com o desafio de ajudar espiritual e fisicamente os paroquianos e os doentes.

Padre enfermeiro português volta a hospital para ajudar doentes de covid-19: trata-se do pe. Rúben Figueiredo, que se voluntariou para trabalhar numa Estrutura de Apoio de Retaguarda (EAR), espécie de hospital de campanha que atende mais de 40 pessoas internadas em Fátima.

A estrutura recebe pacientes em isolamento de 10 dias em média. Após esse período, eles passam por novo teste de detecção do coronavírus. Se o resultado for negativo, recebem alta.

O pe. Rúben, que é da diocese de Santarém, vem trabalhando na EAR de Fátima desde 14 de dezembro. Ele declarou à Ecclesia, agência católica de notícias de Portugal:

“Neste contexto de pandemia, em que há imensa necessidade de enfermeiros e de profissionais de saúde, não resisti e estou na linha de frente (…) Temos passado momentos difíceis e de provação, com este aumento dos casos (…) Destaco sobretudo a confiança e a esperança. Vivemos tempos de medo, em que a gramática e o léxico é a morte, o sofrimento e a infeção; há muito esse registo e queria destacar a confiança no nosso Serviço Nacional de Saúde que, apesar de viver momentos complicados e complexos, tem conseguido dar resposta aos inúmeros casos e tem sido capaz de acompanhar, cuidar e tratar. Também, como cristãos, sabemos que Cristo está conosco, Cristo caminha conosco e se faz presente nestas horas. Como cristãos, temos que ter um olhar de fé e esperança, que é o que procuro ter”.

Padre enfermeiro português volta a hospital

O sacerdote se formou em enfermagem antes de iniciar sua formação em Teologia. Não exercia a profissão de enfermeiro desde 2011. No entanto, os profissionais da área são poucos diante da necessidade atual e, além de ajudá-los, o pe. Rúben vê a oportunidade de testemunhar a eles que a Igreja “não está de braços cruzados nem fechada a este sofrimento: e é bom verem que os padres estão disponíveis e vestem a camisa”. Ao mesmo tempo, a experiência atual tem sido para ele próprio um retorno ao aprendizado:

“Depois de 10 anos sem exercer, há coisas em que estou obrigado a formar-me, a ir novamente aos livros, técnicas, procedimentos, protocolos”.

Ele considera um privilégio estar em Fátima, residindo na Casa Nossa Senhora do Carmo e podendo manter uma “vida espiritual de acordo com o horário de trabalho”.

Como sacerdote, o pe. Rúben é pároco de nada menos que quatro paróquias: Chouto, Parreira, Ulme e Vale de Cavalos. Nessas comunidades, ele já vinha reforçando a importância dos cuidados sanitários como forma de amar o próximo:

“Mais do que serem recomendações, dizia que eram obrigações e, como cristãos, devemos ter esse sentido ainda mais presente. Insistia sempre com os cuidados da desinfecção, da distância social, e fazia sempre essa formação, educação, para a saúde”.

O pe. Rubén destaca ainda que, ao surgir a oportunidade de “colaborar nesta luta como enfermeiro”, ele recebeu “todo o apoio” do bispo de Santarém, dom José Traquina.

Além dos serviços na EAR de Fátima, o pe. Rúben também prestou acompanhamento ao pe. Fernando Campos da Silva, que, na semana passada, faleceu aos 91 anos de idade em decorrência da covid-19, em seu quarto na residência sacerdotal.

O pe. Rúben comenta:

“Foi um privilégio ter estado nos últimos instantes da vida dele. Estava de folga no fim de semana e ofereci-me para ir cuidar do padre Campos. No sábado, com o médico, fizemos a avaliação; ele esteve sempre lúcido, sempre muito colaborante na medicação, na alimentação, no internamento, sempre muito comprometido com as nossas tarefas e cuidado. Até que, por volta da 1 da manhã, enquanto tinha a tocar a Missa Solene de Mozart, enquanto tocava o Kyrie, ele muito serenamente morreu”.

Sobre a “peregrinação do pe. Campos na terra”, o sacerdote enfermeiro complementa:

“Foi muito rica e valiosa para a Igreja, para a cidade de Santarém e para tantos cristãos que o conheceram. Será sempre uma memória de alegria, de fé, de serviço, de dedicação. Éramos e fomos muito amigos. Ele gostava muito de poesia e sabia que eu também gostava e comprava alguns livros, lia-os primeiro e depois oferecia-me, e vice-versa. Fazíamos este intercâmbio de cultura e gostos”.

O falecido pe. Fernando Campos foi e é “uma referência muito grande” em sua trajetória vocacional, finaliza o pe. Rúben, que foi ordenado sacerdote em 16 de julho de 2017.

Aleteia

A água no vinho

Aleteia
por Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas (TO)

Diz o ditado popular: “Onde há uma garrafa de vinho, há uma jarra de água”. Há na vida de cada dia algumas combinações perfeitas: arroz com feijão, café com leite, goiabada com queijo, sombra e água fresca, corpo e roupa, água e vinho, Covid-19 e vacina (deixo aqui este espaço vazio para você preenchê-lo) ……  Nem todas as misturas combinam e dão certo. Por exemplo, água e óleo. Há também na vida de cada um de nós coisas que combinam e coisas que não combinam. Quem de nós nunca ouviu alguém dizer: “isto combina com você” ou “isto não combina com você?”. Com quem você combina ou não combina? Com quem você se mistura ou não se mistura?

Água e vinho se combinem e se misturam e formam uma das espécies eucarísticas: o vinho, com uma gotinha de água, se transformam no Sangue de Jesus. Você sabe por que se mistura água no cálice com vinho? É para deixar o vinho mais fraco? É para alterar o seu sabor? É para limpar o peritônio do sacerdote? É porque o sacerdote gosta de água? É porque tem sede? A água no vinho é um rito, simples, até corriqueiro, mas que tem um grande significado. Segundo a rubrica, em silêncio litúrgico, o sacerdote ou o diácono, ao misturar a água no vinho diz, em voz baixa: “Pelo mistério desta água e deste vinho possamos participar da divindade do vosso Filho, que se dignou assumir a nossa humanidade”. Jesus se dignou assumiu a nossa humanidade. Mas que tipo de humanidade ele assumiu? Uma humanidade doente, desunida e “dividida em contínua discórdia” (Oração Eucarística VIII, sobre a Reconciliação II).

Este rito litúrgico nos remete a muitos outros ritos da vida. Não pode ser um ato meramente ritualístico. Tem que ser um rito vital. Diante das desarmonias e das adversidades da vida, Jesus, o Santo de Deus, disse ao mar revolto: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39). E ao espírito mau: “Cala-te e sai dele!” (Mc 1,25). Então, o mar se acalmou e o espírito mau saiu daquele homem.

E o que dirá aos nossos mares e aos nossos espíritos maus, nos nossos dias? Os mares de nossas vidas estão bravios. Que Jesus nos acalme. E os espíritos maus estão em muitos de nós, nas nossas sinagogas. Que Jesus nos cure. Porque “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14 – Campanha da Fraternidade 2021). A humanidade está dividida e separada, como a água e o óleo. E precisa se unir como a água e o vinho. Esta é a verdadeira pandemia que adoece os nossos tecidos e os nossos liames sociais e eclesiais. Precisamos vencê-la. Como? Com Jesus no comando. É isto que chamamos de conversão: conversão é mudança de comando. Quem manda na nossa vida é Jesus ou é o espírito mau? Jesus, quando deu as últimas recomendações aos discípulos, disse que na missão devemos expulsar os demônios, pegar em serpentes e beber venenos e curar os doentes (Mc 16,17-18). Este é o caminho da missão, sobre o qual todos nós haveremos de passar e de percorrer. Não há missão que não enfrente estes desafios. Eles fazem parte dos caminhos da missão. Em toda missão há sempre um abandonado, à beira da estrada.

O momento atual não é fácil. “No contexto atual, há urgente necessidade de missionários de esperança que, ungidos pelo Senhor, sejam capazes de lembrar profeticamente que ninguém se salva sozinho”. “Tudo, em Cristo, nos lembra que o mundo em que vivemos e a sua necessidade de redenção não lhe são estranhos e também nos chama a sentirmo-nos parte ativa desta missão: Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes (cf. Mt 22, 9). Ninguém é estranho, ninguém pode sentir-se estranho ou afastado deste amor de compaixão” (Mensagem de sua santidade, o Papa Francisco, para o Dia Mundial das Missões de 2021). Nossa missão é ver e ouvir o que a Igreja nos diz, através do Santo Padre, o Papa, e não apenas selecionar aquilo que nos interessa.

Voltemos ao simbolismo da água e do vinho. São Cipriano de Cartago dizia: “Se houver apenas água, sem vinho, nós estamos sozinhos, sem Cristo. E se houvesse só vinho sem água estaria Cristo sozinho sem nós”. Somos um país miscigenado e desigual. Somos um “Brasil inevitável” (Mércio Gomes – nota de rodapé: “vale a pena lê-lo”). Por isto mesmo, chega de briga! Chega de ódio! Chega de polarização! Chega de ideologização! Que venha a vacina! Água no vinho…! Afinal, somos todos irmãos!

CNBB

Dom Leonardo: “serei sempre grato ao Papa Francisco por ter-me enviado para Manaus”

Dom Leonardo Steiner
Arcebispo de Manaus
Vatican News

Dom Leonardo numa entrevista analisa seu primeiro ano como arcebispo de Manaus; fala da pandemia e do povo que encontrou.

Padre Modino - Manaus

No dia 31 de janeiro de 2020, Dom Leonardo Steiner iniciava sua missão como arcebispo de Manaus, algo pelo qual será “sempre grato ao Papa Francisco”. Depois de um ano, ele faz um balanço desse tempo em que em que “apesar da pandemia vou conhecendo as comunidades e a realidade da Arquidiocese”

Ele tem descoberto situações de descaso, mas também tem aprendido muito com a Igreja da capital do Amazonas, uma das cidades do mundo mais atingidas pela pandemia da Covid-19, que segundo dados oficiais, reportados pela Fundação de Vigilância em Saúde do Estado do Amazonas, até 31 de janeiro, elevava o número de contágios na cidade de Manaus a 120.160 e 5.575 falecidos, 2.195 no mês de janeiro. Tudo isso, consequência, em grande parte, de um sistema de saúde sucateado no Amazonas.

Na arquidiocese de Manaus faleceram cinco padres, vítimas da Covid-19, até 31 de janeiro, o que deve levar, segundo o arcebispo, “a pensar melhor o nosso modo de ser Igreja, onde os leigos exerçam mais ministérios”, insistindo no desafio de “instituir ministérios leigos que ajudem as comunidades na dinâmica da vida do Evangelho”. Inclusive ele já pensa na convocatória de “uma assembleia diocesana tão logo for possível”, e assim “ver propostas para a pós-pandemia”.

O impacto econômico da pandemia está atingindo também à Igreja católica, o que deve levar a ser “uma Igreja de comunhão e participação, onde nos sentimos todos arquidiocese nas necessidades, na pobreza, na riqueza e nos dons”. Para superar a pandemia, a vacina, que é vista por dom Leonardo como “uma questão da ética do cuidado”, se torna uma questão fundamental, sendo difícil entender que “altas autoridades do país ataquem a vacina como se não fosse necessária”.

O senhor está completando um ano do início da sua missão como arcebispo de Manaus. O que marcou sua vida ao longo dos últimos doze meses?

É uma graça estar na Amazônia. Serei sempre grato ao Papa Francisco por ter-me enviado para Manaus. Apesar da pandemia vou conhecendo as comunidades e a realidade da arquidiocese. Não deixa de chamar a atenção o descaso com a saúde, com a periferia da cidade de Manaus, com os indígenas; o nosso descuido com o meio ambiente, especialmente em relação ao lixo e o saneamento básico; a admirável arquitetura das construções, infelizmente abandonada.

Esses meses aprendi muito com a religiosidade das comunidades, a solidariedade e generosidade do nosso povo. A pandemia veio despertar ainda mais a solidariedade e o cuidado para com os pobres. É tocante ver como as pessoas tem preocupação com os mais necessitados e sabem repartir. Os leigos são ativos, sentem-se Igreja, e existe no clero um senso de pertença a Igreja que está em Manaus.

Manaus tem sido uma das cidades mais atingidas pela pandemia da Covid-19, tanto na primeira como na segunda onda, tendo graves consequências na vida do povo e da Igreja manauara. O que isso tem representado e quais os ensinamentos que a sociedade e a Igreja deveriam tirar de vista do futuro?

Um dos motivos de tantas mortes foi o colapso do sistema público de saúde. Os governos têm ignorado, tem sucateado o sistema de saúde no Amazonas. As pessoas morrerem sufocadas por falta de oxigênio e isso demonstra uma realidade que pede ação da Justiça e um movimento da sociedade de fiscalização do dinheiro público; exigir uma gestão digna, justa. O que espanta é a indiferença e a incapacidade de demonstrar solidariedade com os entes federativos e com as famílias enlutadas. Ficou evidente o descaso com os indígenas que vivem na cidade.

Aprendemos como Igreja a estar ainda mais ao lado dos pobres, com os pobres. Aprendemos a organizar ainda mais a nossa caridade. A impossibilidade de participação presencial nas igrejas nos responsabilizou no viver o evangelho. Estarmos distantes significou proximidade na oração, na leitura da Palavra de Deus. Cresceu o desejo de nos encontrarmos nas celebrações. Foi necessário encontrar modos de continuar a iniciação à vida cristã das nossas crianças, jovens e adultos. Foi e está sendo um exercício no seguimento de Jesus.

A arquidiocese de Manaus perdeu cinco padres desde o início da pandemia. A falta de clero na Amazônia e na arquidiocese sempre tem sido um desafio. Qual seu sentimento como arcebispo, diante da perda desses seus colaboradores mais próximos?

Sim, vieram a óbito cinco padres, mas também irmãos e irmãs que eram lideranças nas comunidades, que exerciam diversos ministérios. A sensação de perda, na realidade, apenas nos remete para a realidade definitiva, o Reino na sua plenitude. Os presbíteros são os colaboradores mais próximos das comunidades na Igreja. Eles são os animadores, formadores das comunidades e os que presidem sacramentos.

Somos levados a pensar melhor o nosso modo de ser Igreja, onde os leigos exerçam mais ministérios. Manaus é uma igreja que dá muita importância às lideranças das comunidades. Seremos provocados a instituir ministérios leigos que ajudem as comunidades na dinâmica da vida do Evangelho. Mas, não nos esqueçamos que os irmãos e irmãs que vieram a óbito, continuam conosco, pois vivemos na Comunhão dos Santos. Eles e elas nos acompanham nas nossas tentativas de ser presença do Reino da verdade e graça, da justiça, do amor e da paz.

A pandemia tem acrescentado o enfrentamento social e político no Brasil. Quais são as causas de tudo isso e quais deveriam ser as consequências?

A pandemia veio desnudar a nossa realidade social, política, econômica, mas também religiosa. Temos mais pobres do que calculávamos e teremos bem mais passada a pandemia. Trouxe às claras o modo da indiferença em relação aos que padecem com o vírus, do negacionismo em relação à ciência, da violência em relação à dor e às mortes, das políticas públicas não discutidas, aprovadas e executados nesse tempo da pandemia. Lideranças políticas transgrediram as recomendações da ciência e desejaram impor tratamentos sem comprovação científica. Falta quem lidere, organize a vacinação da população.

Não podemos esquecer que lideranças religiosas acharam que seriam capazes de expulsar o vírus, prestando um desserviço no enfrentamento da pandemia. Não conseguimos como sociedade nos unir para oferecer uma estratégia para a superação do vírus e chegamos à uma segunda onde ainda mais mortal. As notícias falsas e as desinformações não nos ajudaram. A consequência é uma segunda onda mortal.

O aumento da pobreza, inclusive a diminuição de recursos dentro da Igreja Católica, está sendo uma das consequências da pandemia. O que a Igreja de Manaus está fazendo diante dessa situação? Estamos diante da possibilidade de uma nova realidade eclesial, uma Igreja mais pobre e dedicada ao cuidado daqueles que são descartados pela sociedade?

Certamente estamos diante da necessidade de uma comunhão e partilha maior. Seremos mais pobres economicamente, mas mais Igreja. Significa: colocar ainda mais em comum os nossos recursos financeiros e os nossos bens de humanidade, de fé. Seremos uma Igreja de comunhão e participação, onde nos sentimos todos Arquidiocese nas necessidades, na pobreza, na riqueza e nos dons. Uma realidade significativa na igreja de Manaus é o sentimento de pertença, de ser arquidiocese.

Essa pertença deverá refletir-se também economicamente para que as nossas comunidades do interior e das periferias, se sintam, uma igreja na partilha dos bens e dos dons. Tudo para que ninguém fique para trás e nem passemos pelo outro lado sem perceber que alguém ficou pelo caminho. Somos nesse momento provocados a sair ao encontro dos mais necessitados. Teremos mais rostos de homens e mulheres pobres entre nós, depois da pandemia. Será nosso propósito que eles façam parte da nossa Igreja, pois são carne de Cristo.

O episcopado brasileiro, seguindo a postura do Papa Francisco, está fazendo uma forte defesa da vacina. O Brasil é um dos países onde existe maior rejeição à vacina, inclusive da parte de alguns católicos, qual a reflexão que essa postura provoca no senhor?

Deveríamos questionar a falta de inciativa e organização da parte do governo federal na busca da vacina. Nós temos centros de pesquisa de renome; o que foi feito com eles? O Brasil tem tradição de pesquisa de vacinas e tradição em vacinação. É difícil entender como está presente na sociedade uma ignorância em relação à vacina. Ainda mais difícil que altas autoridades do país ataquem a vacina como se não fosse necessária.

Trata-se de um olhar egoísta infundado. Uma falta de solidariedade para com todos os brasileiros e brasileiras, pois é o modo oferecido pela ciência de sairmos da espiral da morte. Mas tenho a impressão que esses irmãos e irmãs passarão a outra compreensão depois de terem perdido um ente querido ou tiveram que olhar a morte. Só assim sairão de seu mundo fechado e ignorante. A vacina é uma questão da ética do cuidado.

Diferentes vozes dentro da Igreja estão refletindo sobre a necessidade de novas estruturas e modelos pastorais após a pandemia. Como deveria se concretizar esse tempo pós pandemia na Igreja de Manaus? Quais os gritos que a realidade de Manaus coloca na frente da Igreja local de em vista do futuro?

Vejo a necessidade, e já estou conversando com os vigários episcopais, padres, leigos a respeito de convocarmos uma assembleia diocesana tão logo for possível. Realizarmos com as comunidades uma avaliação da nossa realidade eclesial e ver propostas para a pós pandemia. Na escuta e ação sinodal continuarmos o caminho que o Evangelho nos propõe. Existem aprendizados, e existirão realidades diferentes. Certamente teremos mais pobres, mais pessoas vivendo nas nossas ruas, mais trabalho informal. Um bom número das lideranças de nossas comunidades veio a óbito.

Como ajudar a curar as feridas? Como estar mais presente nos meios de comunicação? Como estar junto do povo de Deus? Perceber que o Evangelho é um modo de vida, não de ideologia; é seguimento de Jesus e não devocionismo. Talvez possamos sair da pandemia melhores: solidários, consoladores, samaritanos, fraternos, cordiais, gratuitos. Quando nesses dias somos levados e pensar e meditar a morte, temos a chance de perceber o essencial da vida, perceber o crístico do ser cristão.

Vatican News

Hoje é celebrada a Apresentação do Senhor e o Dia da Vida Consagrada

ACI Digital

REDAÇÃO CENTRAL, 02 fev. 21 / 05:00 am (ACI).- Neste dia 2 de fevereiro, a Igreja celebra a Apresentação de Jesus no Templo, quando se realizou o encontro com Simeão e Ana, o qual se entende como o encontro do Senhor com o seu povo, e também aconteceu o ritual de purificação da Virgem Maria.

Naquela época, quando nascia o primogênito, era levado após quarenta dias ao Templo para sua apresentação, como descreve a Lei de Moisés. Assim, desde o nascimento do Verbo encarnado, em 25 de dezembro, até 2 de fevereiro, José e Maria cumpriram o tempo e levaram o menino para se consagrar.

O Evangelho de São Lucas relata: “Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor” (Lc 2,22).

Ao chegar ao Templo, eles encontraram Simeão, a quem o Espírito Santo havia prometido que não morreria antes de ver o Salvador do mundo, e foi o Espírito que disse ao profeta que aquele menino era o Redentor e Salvador da humanidade.

Após tomar o menino nos braços e bendizer ao Senhor, o profeta disse à Maria: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2,34-35).

Também neste dia, encontrava-se no Templo a filha de Fanuel, da tribo de Aser, chamada Ana, de idade já avançada. Ana ficou viúva sete anos depois de ter se casado e assim permaneceu até 84 anos de idade. Ficava dia e noite no Templo servindo a Deus e oferecia jejum e oração. Ao ver a criança, Ana louvou a Deus e faloudo menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém.

Neste dia, a Igreja recorda também o Dia Mundial da Vida Consagrada. Ao celebrar esta festa em 2014, o Papa Francisco convidou, “à luz desta cena evangélica, a considerar a vida consagrada como um encontro com Cristo: é Ele que vem até nós, trazido por Maria e José, e somos nós que vamos até Ele, guiados pelo Espírito Santo. Mas no centro está Ele. É Ele que move tudo, é Ele que atrai ao Templo, à Igreja, onde podemos encontrá-lo, reconhecê-lo, recebê-lo e também abraçá-lo”.

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 8/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 16

Voltemos ao ponto em que estávamos. Aqueles que já avistam a virtude e seguem o Legislador em seu estilo de vida, quando abandonam os limites do domínio dos egípcios, são perseguidos pelos ataques das tentações que provocam ansiedades, medos e perigos em relação ao êxito final. Assustada por estas coisas, a alma dos principiantes na fé cai em completa desesperança em conseguir os bens. Porem, se Moisés ou alguém como ele se encontra à liderança do povo, ao medo se oporá o conselho, reconfortando a alma em seu desfalecimento com a esperança da ajuda divina. Mas isto não ocorrerá se o coração de quem está na liderança não fala com Deus. De fato, a muitos que estão colocados nesta posição só preocupa a maneira como se encontra organizado o que se vê, enquanto que as coisas que estão ocultas, que só são vistas por Deus, lhes produzem um cuidado pequeno. Não foi assim com Moisés. Quando exortava os israelitas a terem confiança, mesmo não pronunciando exteriormente nenhuma palavra dirigida a Deus, o próprio Deus testemunha que gritou (Ex 14, 13-15), ensinando-nos a Escritura - penso - que a voz que é sonora e sobe aos ouvidos divinos não é o clamor que tem lugar com vozes, mas o pensamento interior que sobe de uma consciência pura. A quem se encontra nesta situação, parece pequeno o irmão como ajuda para as maiores batalhas, refiro-me àquele irmão que saiu ao encontro de Moisés quando, conforme o mandado de Deus, se dirigia aos egípcios, e a quem nosso discurso apresentou em seu ministério de anjo (Ex 4, 27). Agora tem lugar a manifestação do Ser transcendente, que se mostra de modo que possa ser captado por quem o recebe. Conhecemos pela história que isto aconteceu então e sabemos pela interpretação espiritual que isto ocorre sempre. De fato, cada vez que alguém foge do egípcio e, ao chegar fora de seus territórios, se assusta ante os ataques das tentações, e quando o inimigo rodeando com suas forças o perseguido só lhe deixa disponível o mar, o guia, isto é, a nuvem, lhe mostra a salvação imprevista que vem de cima. Até ali, ao mar, o conduz o guia, quer dizer, a nuvem (Ex 13, 21). Os que nos precederam interpretaram este nome dado ao guia como a graça do Espírito Santo que conduz ao bem os que são dignos. O que a segue atravessa a água, enquanto o guia lhe abre nela uma passagem estreita através da qual se realiza um caminhar seguro até a liberdade, onde desaparece debaixo da água aquele que o perseguia para escravizar. Quem ouve isto, talvez reconheça o mistério da água a que alguém desce junto com todo o exército do inimigo e da qual emerge só, depois de se afogar na água o exército inimigo (Ex 14, 26-30). Pois quem desconhece que o exército egípcio significa as diversas paixões da alma às quais se escraviza o homem? Isto são os cavalos, isto são os carros e os que estão montados neles; isto são os arqueiros, e os infantes e o resto do exército dos inimigos (Ex 14, 9). De fato, em que se diria que os movimentos de cólera ou os impulsos ao prazer, à tristeza e à avareza diferem do exército que acabamos de mencionar? A afronta é pedra lançada pela funda, e o ataque de cólera é lança que agita sua ponta, enquanto que os cavalos que puxam os carros com impulso irrefreável podem ser entendidos como o afã de prazeres. Nos três homens montados no carro - a quem a história chama tristates (Ex 14, 7) -, e que são levados por ele, reconhecerás, instruído pelo simbolismo do montante e das ombreiras das portas, a tríplice divisão da alma, pensando no racional, no concupiscível e no irascível.

Capítulo 17

Todas estas coisas e quantas lhes são afins, precipitam-se na água perseguindo os israelitas junto com o promotor do perverso ataque. Porem a água, posto que o bastão da fé e a nuvem luminosa usam como guia, se converte em fonte de vida para os que se refugiam nela e em destruição dos perseguidores. A história nos ensina através disto, como convém que sejam os que atravessam a água. Quando alguém emerge da água não deve conservar consigo nada do exército inimigo. Se o inimigo emergisse juntamente com ele, este permaneceria em escravidão ainda depois da água, ao haver feito emergir vivo consigo o tirano, ao que não afogou no abismo. Isto quer dizer, se explicarmos abertamente o simbolismo aproximando-o de um significado mais claro, que é necessário que quantos, no batismo, passam através da água sacramental, façam morrer na água todo o exército do vício: a avareza, o desejo impuro, o espírito de rapina, a tendência à soberba e à prepotência, o impulso à violência, a ira, o rancor, a inveja, os ciúmes e todas essas coisas. Posto que, de alguma forma, as paixões seguem a natureza humana, devemos afogar na água inclusive os maus movimentos da alma e suas seqüelas. No mistério da Páscoa, este é o nome da vítima cujo sangue preserva da morte quem se vale dela, sucede o mesmo. Recomenda-se que coma pão ázimo na Páscoa. Ázimo é o que não está misturado com o fermento do dia anterior (Ex 13, 6 e 1Co 5, 7-8). Através disto a Lei nos dá a entender que não se deve misturar nenhum resíduo de maldade com a vida nova, mas que comecemos a vida nova com um começo novo, rompendo a cadeia dos pecados com a conversão ao bem. Por esta razão quer que afoguemos no batismo salvador - como no batismo do mar - toda pessoa egípcia, isto é, toda forma de maldade, e que devemos emergir sós, sem arrastar conosco em nossa vida nenhum estrangeiro. Isto é o que aprendemos com a história quando diz que na mesma água se distingue o inimigo e o amigo com a morte e com a vida: o inimigo é destruído, o amigo é vivificado (Ex 14, 27-30). Muitos dos que receberam o sacramento do batismo, por desconhecimento dos preceitos da lei, misturaram a levedura do vício, já abandonada, à vida nova, e, depois de ter atravessado a água, em sua forma de viver levam consigo, vivo, o exército egípcio. Com efeito, quem antes do dom do batismo se havia enriquecido com a injustiça ou a rapina, ou adquiriu alguma terra com perjúrio, ou coabitava com uma mulher em adultério, ou qualquer das demais coisas proibidas, pensa que mesmo que depois do batismo continue a gozar das coisas que adquiriu perversamente, permanece livre da escravidão dos pecados, sem perceber que se encontra escravizado por perversos senhores. Pois a luxuria é um dano cruel e furioso, que atormenta a alma submetida a sua escravidão com os prazeres como se fossem látegos. Um tirano semelhante é a avareza, que não permite nenhum descanso a seu escravo, senão que por muito que trabalhe obedecendo as ordens de seu dono e ganhando para ele o que ambiciona, sempre o incita a mais. E todas as outras coisas que se fazem impulsionados pela maldade constituem uma serie de tiranos e donos. Se alguém lhes obedece, ainda que haja passado através da água, apesar disso - é meu parecer -, não tocou na água sacramental cuja obra é a destruição dos perversos tiranos.

Capítulo 18

Voltemos à continuação do relato. Quem atravessou o mar que já nos é conhecido, e viu em si mesmo perecer o egípcio, não só olha para Moisés como guia da virtude, como, sobre tudo, crê em Deus como diz o texto da história (Ex 14, 17). Confia também em Moisés, seu servidor. Vemos que também hoje sucede isto com quem verdadeiramente atravessou a água: estes se entregaram a Deus e, como diz o Apóstolo, confiam nos que em razão do sacerdócio cuidam das coisas divinas, e lhes obedecem (Hb 13, 17). Depois da passagem do mar, segue-se uma marcha de três jornadas (Ex 15, 22) durante a qual, acampados em um lugar, acharam água que, a principio, não parecia potável por causa de seu amargor; porem o bastão, sendo arrojado na água, converteu o líquido em potável para os que estavam sedentos (Ex 15, 23- 25). A narração está conforme com o que agora também sucede. A principio, a vida afastada dos prazeres parece desagradável e insossa a quem abandonou os prazeres egípcios que o escravizavam antes de atravessar o mar. Porém se o madeiro, isto é, o mistério da ressurreição, que teve começo por meio do madeiro, é arrojado à água, - ao ouvir madeiro entenderás evidentemente a cruz-, então a vida virtuosa, adoçada com a esperança dos bens futuros, se converte em mais doce e agradável que toda doçura que acaricia os sentidos com o prazer. A etapa seguinte da marcha, amenizada com palmeiras e fontes, repara o cansaço dos caminhantes. São doze as fontes de água, de corrente limpa e gratífica; setenta as palmeiras, grandes e frondosas, pois o tempo havia feito crescer as árvores (Ex 15, 27). Que encontramos nestas coisas, ao seguir o fio da narração? Que o mistério do madeiro, pelo qual a água da virtude se torna potável para os que têm sede, nos atrai com doze fontes e setenta palmeiras, isto é, com o ensinamento do Evangelho. Nele, as fontes são os doze Apóstolos que o Senhor escolheu para esta graça, fazendo brotar a palavra através deles como fontes, de forma que um dos profetas anunciou assim a graça que mana deles: Bendizei a Deus, o Senhor, nas assembléias, os das fontes de Israel (Sal 67, 27). As setenta palmeiras poderiam ser os apóstolos que, alem dos doze discípulos, receberam a imposição das mãos por toda terra e que numericamente são tantos como a história diz que eram as palmeiras.

ECCLESIA Brasil

O médico que cobrava só um Pai Nosso como pagamento pelas consultas

Public Domain

por Philip Kosloski

Ele ainda oferecia remédios de graça para os pacientes pobres.

László Batthyány-Strattmann foi um médico húngaro generoso que nunca recusava um paciente, aceitando orações como “pagamento” por suas consultas.

Para muitas pessoas no mundo, as contas médicas pesam no orçamento, tornando uma simples consulta algo muito caro.

No entanto, László Batthyány-Strattmann definiu como prioridade servir aos pobres com sua prática médica, nunca rejeitando um paciente se ele não pudesse pagar.

Ele estava em uma situação boa, pois herdara o Castelo de Körmend, na Hungria, após a morte de seu tio. Isso deu a ele o título de “Príncipe” e o nome de “Strattmann”. Foi generoso com sua riqueza real, transformando uma ala do castelo em um hospital.

Médico dos pobres

biografia de Batthyány oferecida pelo site do Vaticano detalha como ele se tornou conhecido por sua perícia médica e generosidade para com os pobres:

“Ele também era conhecido como  ‘médico dos pobres’, e os pobres o procuravam em busca de ajuda e conselho. Ele os tratava de graça; como “taxa” por seu tratamento médico e internação hospitalar, ele pedia que rezassem um “Pai Nosso” por ele. A receita de remédios também era gratuita e, além de dar tratamento médico, muitas vezes ele lhes dava ajuda financeira.”

Essa generosidade veio de uma fé profunda e permanente em Deus. Ele rezava a Deus antes de cada cirurgia, e via Deus como o Médico Divino.

“Ele estava convencido de que, como a cirurgia médica era seu domínio, ele ainda era um instrumento nas mãos de Deus e que a cura em si era um dom de Deus. Antes que seus pacientes tivessem alta do hospital, ele lhes apresentava uma imagem de Nosso Senhor e um livro espiritual intitulado: “Abra os olhos e veja”. Essa foi uma forma de orientá-los em sua vida espiritual. Era considerado “santo” por seus pacientes e até por sua própria família.”

Inspiração

Sua prática médica única foi uma inspiração para muitos e assim permaneceu mesmo após sua morte em 22 de janeiro de 1931.

São João Paulo II beatificou László Batthyány em 23 de março de 2003. Ele é um poderoso intercessor para todos os profissionais da área médica.

Aleteia

É Jesus o profeta definitivo, afirma Papa Francisco no Ângelus

Papa Francisco no ângelus deste domingo. Foto: Vatican Media

Vaticano, 31 jan. 21 / 05:03 pm (ACI).- “Jesus é o profeta definitivo”, “o ensinamento do Jesus tem a mesma autoridade que Deus”. Assim expressou o Papa Francisco este domingo, 31 de janeiro, durante a oração do Ângelus quando explicou a importância do ensinamento de Jesus.

O Santo Padre recordou as palavras de Moisés que anunciavam a vinda de Cristo: “depois de mim, tempo depois, virá um profeta como eu, como eu!, que vos ensinará”.

O Papa explicou que “Moisés anuncia Jesus como o profeta definitivo. Por isso, Jesus não fala com autoridade humana, a não ser com a divina, porque tem o poder do profeta definitivo, quer dizer, do Filho de Deus que nos salva, que cura a todos”.

“Jesus prega com autoridade própria, como alguém que possui uma doutrina que deriva de si mesmo, e não como os escribas que repetiam tradições precedentes e leis promulgadas. Eles repetiam palavras, palavras, apenas palavras - como cantava a grande Mina; eles eram assim. Apenas palavras. Ao invés em Jesus, a palavra tem autoridade, Jesus tem autoridade. E isto toca o coração”, afirmou o Santo Padre.

“O ensinamento de Jesus tem a mesma autoridade de Deus que fala; de fato, com um único comando, ele liberta facilmente o possuído do maligno e o cura. Por isso ele fala não com autoridade humana, mas com autoridade divina, porque tem o poder de ser o profeta definitivo, isto é, o Filho de Deus que nos salva, nos cura a todos”, argumentou o Papa Francisco.

Jesus é um profeta “com autoridade, que atrai com sua autoridade às pessoas, e também é o profeta que liberta, o profeta prometido que é o Filho de Deus que cura”, sublinhou o Papa Francisco.

O Pontífice exortou os fiéis a levar sempre no bolso ou na bolsa um pequeno Evangelho, para lê-lo durante o dia, "para ouvir aquela palavra com autoridade de Jesus". “Todos nós temos problemas, peçamos a Jesus a cura de nossos pecados de nossos males”.

Sublinhando o exemplo de fidelidade da Virgem Maria o Santo Padre concluiu a Audiência geral, pedindo "que Ela também nos ajude a ouvi-Lo e a segui-Lo, para que possamos experimentar em nossas vidas os sinais de sua salvação”

ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF