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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Falaram-me que o casamento é uma instituição falida

MNStudio | Shutterstock
por Vitor Roberto Pugliesi Marques

Ora, uma vez que Deus e sua Igreja não erram, como pode ser o casamento uma instituição falida?

Enquanto estávamos, minha esposa e eu, em preparação para o matrimônio, um conhecido nos disse, em um ambiente de conversa informal, que pensássemos bem, pois o matrimônio era uma instituição falida. Essa afirmação causou-nos uma grande surpresa, pois, estando em fase de noivado, já havíamos tomado a decisão de receber esse sacramento. Colocando, entretanto, o espanto de lado, é interessante perguntarmos o porquê tal alegação foi feita. 

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que se constitui uma das principais fontes de dados do Brasil, os brasileiros estão se casando cada vez menos. Em 2019, foram registrados 1.024.676 casamentos civis, o que representa uma redução de 2,7% em relação ao ano anterior. Desse total, 9.056 ocorreram entre pessoas do mesmo sexo. O número de casamentos registrados em cartório recuou em todas as regiões, com mais intensidade no Sudeste (-4,0%) e menos no Norte (-0,3%). Além disso, houve também uma diminuição no tempo de duração do casamento na última década. Em 2019, o tempo médio entre a data do casamento e o divórcio foi de 13,8 anos; em 2009, era de 17,5 anos. Acrescenta-se ainda a esse dado que 48,2% dos divórcios ocorreram após menos de 10 anos de casamento. Parece-nos que os brasileiros estão cada vez menos motivados a se casar, e, quando se casam, estão menos motivados a manter a promessa feita “até que a morte os separe”. 

Para proceder a uma análise do ponto de vista da fé, devemos primeiro ter em mente que o matrimônio não é uma instituição humana, mas, sim, divina. Este foi instituído por Cristo, de modo que São Paulo, em sua carta aos Gálatas, vai explanar sobre o mistério no qual um homem e uma mulher são chamados a se amar “como Cristo amou a Igreja” (Ef 5,22-33). Ora, uma vez que Deus e sua Igreja não erram, como pode ser o casamento uma instituição falida? Resposta: não é uma instituição falida! Pelo contrário é a única instituição na qual o homem pode ser verdadeiramente feliz, seja por meio do matrimônio entre um homem e uma mulher, seja pelo matrimônio espiritual entre um(a) vocacionado(a) e Deus. 

Sacramento

O que acontece, todavia, é que grande parte dos casais não tem em mente essa dimensão divina do sacramento do matrimônio, seja por má-formação na fé, seja pela cultura moderna que atribui status de cárcere ao casamento. Muitos são os que se unem por um mero formalismo social. Nessa dimensão, abre-se espaço para o egoísmo, para o individualismo e para o egocentrismo, de modo a culminar na descrença para com a união marital e, muitas vezes, em seu término. Vale lembrar que estamos versando sobre as uniões válidas, pois há inúmeras que são inválidas perante a Igreja (cf. Nulidade matrimonial: Impedimentos, publicado por Vanderlei de Lima, no Aleteia, em 24/01/2020). Sendo inválida uma união, não há como se argumentar perante os ensinamentos da Igreja, pois trata-se de uma instância jurídica social e não de um sacramento.

O Concílio Vaticano II vai nos ensinar que “a comunidade profunda de vida e de amor constituída pelo casal foi fundada e dotada de suas leis próprias pelo Criador: está estabelecida sobre a aliança dos conjugues, quer dizer, sobre o seu consentimento pessoal e irrevogável”.  Sendo algo perpétuo, para que seja vivido do modo como Cristo ensinou, deve ser bem preparado e não se pode pular etapas. Da mesma forma como um sacerdote tem de se preparar para a ordenação por meio do seminário e das faculdades de filosofia e teologia, também um casal deve ser preparar para o matrimônio. Deve-se ter um namoro santo, orientado por um bom sacerdote e um bom apoio familiar. Passa-se, após esse tempo de discernimento, à etapa do noivado, que é quando noivos e famílias se unem de modo mais visível, dialogando sobre os valores e sonhos em comum. Dado esse tempo, toma-se o passo do matrimônio, que deve ser a etapa final de concretização de um plano de vida, no qual Deus é o alicerce e diretor. Sobre essa base alicerçar-se-ão os filhos que Deus vier a conceder e, em última instância, a própria sociedade e a Igreja, pois são as famílias as células tanto do corpo social quanto do corpo místico de Cristo, que é sua Igreja. 

O que Deus uniu, nada separa. Para isso temos de caminhar conforme os caminhos que Ele intuiu à sua Igreja, sem pular etapas, para que não caiamos também na falácia de acreditar ser o casamento uma instituição falida. 

Aleteia

Papa Francisco reza pelo povo de Mianmar em meio aos protestos pelo golpe militar

Papa Francisco na oração do Ângelus. Foto: Vatican Media

Vaticano, 07 fev. 21 / 02:20 pm (ACI).- Ao concluir a oração do Ângelus deste domingo, o Papa Francisco rezou pelo povo de Mianmar e pediu para promover "a justiça social e a estabilidade nacional, para uma convivência harmoniosa".

“Nestes dias acompanho com grande preocupação a evolução da situação que se criou em Mianmar, um país que, desde a minha visita apostólica de 2017, carrego no coração com muito afeto”, disse o Papa.

Além disso, o Santo Padre acrescentou “neste momento tão delicado quero assegurar mais uma vez minha proximidade espiritual, minha oração e minha solidariedade com o povo de Mianmar. E rezo para que todos aqueles que têm responsabilidades no país se coloquem com sincera disponibilidade a serviço do bem comum, promovendo a justiça social e a estabilidade nacional, para uma convivência harmoniosa”.

Por isso, o Pontífice pediu "Rezemos por Mianmar" e permaneceu um breve momento em silêncio para oração.

A República da União de Mianmar (ex-Birmânia) é um país localizado no sudeste asiático limitado a noroeste pela Índia e Bangladesh, a leste pela Tailândia e Laos, a nordeste pela China e ao sul pela Baía de Bengala e o Mar Andamão.  

Em 1º de fevereiro, houve um golpe contra a líder Aung San Suu Kyi e os chefes militares declararam estado de emergência por um ano e que o país seria liderado pelo general Min Aung Hlaing.

Dois dias depois, o Conselho de Segurança das Nações Unidas pediu "a libertação de todos os detidos, o respeito aos direitos humanos evitando o uso da violência e a restauração do processo democrático".

Segundo informou Vatican News, a mensagem do Papa neste domingo acontece no dia em que a Conferência Episcopal de Mianmar fez "um apelo aos fiéis para participarem de um dia de oração pela paz" e acrescentou que "os bispos em suas homilias continuaram a apelo ao diálogo, à não violência e ao retorno da democracia”.

Por sua vez, o presidente da Conferência Episcopal, Cardeal Charles Maung Bo, disse em 4 de fevereiro que “a paz é o único caminho e a democracia é a luz deste caminho”.

Menores migrantes

Em seguida, o Santo Padre fez um apelo "a favor dos menores migrantes não acompanhados".

"São tantos! Infelizmente, entre aqueles que por motivos diversos são obrigados a abandonar a sua pátria, existem sempre dezenas de crianças e jovens sozinhos, sem família e expostos a muitos perigos”, alertou.

Neste sentido, o Santo Padre sublinhou que nos últimos dias foi informado sobre "a dramática situação de quem se encontra na chamada rota dos Balcãs" e acrescentou "mas existem em todas as rotas".

“Asseguremos que a estas criaturas frágeis e indefesas não faltem cuidados adequados e canais humanitários preferenciais”, pediu o Papa.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Hoje é celebrado o Dia mundial de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas

Imagem referencial. Crédito: Unsplash

Roma, 08 fev. 21 / 09:00 am (ACI).- No dia 8 de fevereiro de cada ano, é celebrado o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas, evento promovido pelo Papa Francisco.

Este ano o tema é “Economia sem tráfico de pessoas”, pois visa “convidar a multiplicar e promover novas experiências econômicas que se oponham a todas as formas de exploração”.

Vale ressaltar que em 2015 o Santo Padre estabeleceu que em cada Dia Mundial se celebrasse a memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, religiosa que foi escrava e vítima de tortura, e que posteriormente “se tornou santa e símbolo universal do compromisso da Igreja contra a escravidão”.

“Se eu encontrasse de novo aqueles negreiros que me sequestraram e também aqueles que me torturaram, me ajoelharia para beijar as suas mãos, porque, se não tivesse acontecido isto, eu não seria agora cristã e religiosa”, disse a santa que hoje representa um ícone da história da África.

São João Paulo II a beatificou em 1992 e a canonizou durante o Jubileu do ano 2000. Além disso, Bento XVI, ao publicar sua encíclica Spe Salvi em 2007, a propôs como exemplo de vida para falar de esperança.

O Papa Francisco recordou no dia 8 de fevereiro de 2015, no final do Angelus, que a santa era uma “irmã sudanesa que quando era menina fez a trágica experiência de ser vítima do tráfico”, e encorajou “quantos estão comprometidos a ajudar homens, mulheres e crianças escravizados, explorados, abusados como instrumentos de trabalho ou de prazer e muitas vezes torturados e mutilados”.

“Faço votos por que todos os que têm responsabilidades de governo se comprometam com determinação a remover as causas desta chaga vergonhosa, uma chaga indigna da sociedade civil. Cada um de nós se sinta comprometido a ser voz destes nossos irmãos e irmãs, humilhados na sua dignidade”, acrescentou.

Iniciativas em Roma para o Dia Mundial de Oração e Reflexão de 2021

O Comitê Internacional do Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Pessoas é coordenado pela "Talitha kum", Rede de Vida Consagrada contra o Tráfico de Pessoas da União Internacional das Superioras Gerais (UISG).

Da mesma forma, o evento deste ano é promovido pela “Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério do Vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral, Cáritas Internationalis, a União Mundial das Organizações Femininas Católicas, o Movimento dos Focolares e muitas outras organizações comprometidas em nível local”, afirmou o Vaticano em um comunicado.

O evento deste ano consistirá em um encontro de oração virtual que “viajará por diferentes áreas do planeta para chamar a atenção e sensibilizar a opinião pública sobre uma das principais causas do tráfico de pessoas”.

O Vaticano informou que a “maratona de orações” será realizada remotamente devido às restrições da pandemia Covid-19 e será transmitida ao vivo no canal oficial do YouTube do Dia Mundial com traduções em cinco idiomas de 10h às 17h (horário local).

Às 13h40 (hora local) será exibida a mensagem em vídeo do Papa Francisco, que “denunciou repetidamente a tendência de mercantilizar o outro, definindo o tráfico de pessoas como uma ferida no corpo da humanidade contemporânea”, afirmou.

Para mais informações você pode clicar AQUI.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

S. JOSEFINA BAKHITA, VIRGEM

Sta. Josefina Bakhita | Vatican Media

Aquela menininha nunca pusera um vestido desde o dia em que os dois homens surgiram do nada nos campos, tapando o caminho e apontando-lhe um facalhão ao lado, para em seguida a levarem consigo, como se rouba uma galinha de um galinheiro. Naquele dia, em que a sua vida é sugada num pesadelo, aquela menina de 9 anos por medo esquece tudo, até mesmo o próprio nome e o nome da mãe e papá com quem morava serena.

Escrava

E assim pensam os mercantes árabes de escravos não em vesti-la, mas rebaptizá-la. "Bakhita", eles a chamam, "afortunada". Uma ironia atroz para aquela menina nascida em 1869 numa aldeia de Darfur, no Sudão do Sul, e que agora se torna mercadoria humana que passa de mão em mão nos mercados de El Obeid e Cartum. Um dia, enquanto estava ao serviço de um general turco, lhe é gravada com faca uma "tatuagem" no corpo, 114 cortes e as feridas cobertas de sal para permanecerem evidentes …

A luz

Bakhita sobrevive a tudo e um dia um raio de luz atinge o inferno. O agente consular que a compra dos traficantes de Cartum chama-se Callisto Legnami e naquele dia Bakhita-Afortunada veste pela primeira vez um vestido, entra numa casa, a porta é fechada e 10 anos de brutalidades indescritíveis ficam para trás. O oásis dura dois anos, quando o oficial italiano, que a trata com carinho, é forçado a repatriar sob a pressão da revolução mahdista. Bakhita se recordará daquele momento: "ousei pedir-lhe que me levasse a Itália com ele". Callisto Legnami aceita e, em 1884, Bakhita desembarca na península, onde para a pequena ex-escrava um destino inimaginável espera por ela. Ela se torna a menina de Alice, a filha dos esposos Michieli, amigos de Legnami, que moram em Zianigo, uma aldeia de Mirano Veneto.

Irmã Moreta

Em 1888, o casal que a hospeda deve sair para a África e durante 9 meses Bakhita e Alice são confiadas às Irmãs Canossianas de Veneza. Depois do corpo, Bakhita começa a revestir também a alma. Ela conhece Jesus, aprende o catecismo e, em 9 de janeiro de 1890, Bakhita recebe o Batismo, a Confirmação e a Primeira Comunhão do Patriarca de Veneza, com o nome de Giuseppina, Margherita, Fortunata. Em 1893, entra no noviciado das Canossianas, três anos depois emite os votos e, durante 45 anos, será cozinheira, sacristã e, acima de tudo, uma porteira do convento de Schio, onde aprenderá a conhecer as pessoas e a gente aprenderá a apreciar o sorriso dócil, a bondade e a fé daquela "morèta", "mourinha", e as crianças querendo provar a "irmã de chocolate”.

Beijo as mãos aos negreiros

Para todo o convento de Schio é um dia de luto quando Giuseppina Bakhita morre aos 8 de fevereiro de 1947 por pneumonia. Foi realmente ‘afortunada’ a sua vida e o dirá ela mesma: "Se encontrasse aqueles negreiros que me sequestraram e mesmo aqueles que me torturaram, eu me colocaria de joelhos para beijar as suas mãos, porque se tudo isso não tivesse acontecido, eu não seria agora cristã e religiosa”.

Vatican News

S. JERÔNIMO EMILIANO, FUNDADOR DOS SOMASCOS, PADROEIRO DOS ÓRFÃOS E DA JUVENTUDE ABANDONADA

S. Jerônimo Emiliano, Daniele Crespi
Vatican Media

"Comece a ser, desde já, o que você será no futuro".

Jerônimo era o quarto filho da família nobre dos Emiliani. Como todos os jovens venezianos de 1500, sonhava em ter uma carreira militar, mesmo porque era a mais rentável. As notícias sobre a sua vida, antes do seu alistamento, ocorrido em 1509, são muito escassas. Sabe-se, apenas, que quando tinha cerca de dez anos, seu pai se matou.

Prisão e conversão

Em 1511, durante o assédio da fortaleza de Castel Nuovo de Quero, ao longo do rio Piave, Jerônimo foi preso pelo inimigo. Esta experiência de reclusão, embora tenha durado apenas 30 dias, mudou completamente a sua vida. Na fome, no sofrimento e com medo de perder a vida, encontrou as palavras justas para rezar. Então, dirigiu seus pedidos especialmente a Nossa Senhora, a quem prometeu converter-se em troca da sua liberdade. Ao sair da prisão, encontrou refúgio em Treviso, mas não esqueceu seu voto feito à Virgem. Assim, confidenciou com um sacerdote e começou a ler a Bíblia. Este foi o início da conversão do seu coração.

Ao serviço dos últimos

A primeira ocasião que Jerônimo teve de colocar à prova sua nova vida foi durante a epidemia que se abateu sobre Veneza, em 1528. Com um grupo de voluntários, percorreu a cidade para aliviar os doentes, aos quais colocou à disposição todos os seus bens.
Contagiado pela doença, recobrou a saúde de modo prodigioso. Desta forma, iniciou seu caminho de caridade, dedicando-se sempre aos mais necessitados, partindo dos pobres, das prostitutas, mas, sobretudo, dos órfãos.

Ofereceu sua vida aos órfãos

Quando seu irmão Lucas morreu, deixando órfãos seus três filhos, Jerônimo cuidou deles e, desde então, teve a intuição que mudou sua vida: instituiu uma Associação em prol dos jovens sem família, encarregando-se da sua educação.
Assim, nasceu em Bergamo, em 1533, a Companhia dos Servos dos Pobres, em defesa dos órfãos de guerra, dos mais fracos e indefesos entre os últimos. Jerônimo fundou para eles uma escola de trabalhos manuais e artísticos, e de ensino do Catecismo, seguindo um método inovador para a época: seu programa fundamental era composto de oração e trabalho, os princípios fundamentais que enobrecem o homem.

Sua morte e difusão da obra

A Companhia dos Servos dos Pobres tornou-se depois uma Congregação, até que, em 1568, o Papa Pio V a elevou à Ordem, da qual os religiosos foram chamados Clérigos Regulares de Somasca, nome da cidade, dado pelo Arcebispo de Milão, onde Jerônimo havia iniciado a sua obra.
Segundo o carisma da Ordem, os Somascos são devotos de Maria, venerada como "Mater orphanorum". Naquelas alturas, Jerônimo já havia falecido de peste em 1537.
Canonizado em 1767, tornou-se o santo Padroeiro da juventude abandonada desde 1928.

Vatican News

domingo, 7 de fevereiro de 2021

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 14/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 33

Pois o erro da idolatria desapareceu completamente da vida, absorvido pelas bocas piedosas dos que realizaram em si mesmos o aniquilamento da matéria da impiedade por meio da confissão da fé. Os mistérios antigamente bem estabelecidos entre os idólatras se converteram em água que flui sem consistência, água que é bebida pelas mesmas bocas que em outro tempo eram seguidoras dos deuses. Assim pois, quando vês que os que antes se ajoelhavam ante esta vacuidade agora destroem e fazem desaparecer as coisas nas quais haviam posto sua confiança, não te parece que o relato anuncia abertamente que um dia todo ídolo será absorvido pelas bocas daqueles que se converteram do erro à piedade? Moisés arma os levitas contra seus compatriotas. E percorrendo o acampamento de um extremo ao outro, dão morte de forma indiscriminada aos que encontram, deixando à ponta da espada a escolha de quem partir ao meio. Ao causar a morte igualmente a todos os que encontra, o que decidia sobre a morte dos que eram suprimidos não era o ser inimigo ou amigo, estrangeiro ou vizinho, parente ou estranho; a mão acometia da mesma forma e atuava igual mente sobre todos os que atacava. Talvez a útil lição que nos oferece este relato seja a de que cai sobre eles um castigo indiscriminado porque todos foram cúmplices com o povo inteiro no mal, e todo o acampamento se havia feito um só homem no sentir. Da mesma forma, quem castiga com açoites alguém surpreendido em um delito golpeia com o chicote a parte do corpo que se lhe põe diante sabendo que a dor de uma parte se estende ao todo, assim também, posto que todo o corpo devia se castigado igualmente por ter estado unido na alma, o chicote atingiu o todo atuando sobre uma parte. Portanto, se a cólera de Deus, ao contemplar a mesma maldade em muitos, não atuou contra todos senão só contra alguns, convém ter em conta que a correção foi feita por causa do amor ao homem; ainda que nem todos tenham sido castigados, com os golpes de alguns todos foram corrigidos para que se afastem do mal. Esta consideração está feita ainda ao fio da literalidade do relato. O sentido espiritual talvez possamos aproveitar do seguinte modo. O Legislador disse a todos em uma exortação pública: Quem estiver a favor do Senhor, que venha a mim (Ex 32, 26). É a voz da Lei convidando a todos: Se alguém quer ser amigo de Deus, que se faça meu amigo, da Lei, pois efetivamente, se alguém é amigo de Deus, se faz também amigo da Lei. A todos os que se reuniram em torno dele por causa deste chamado, Moisés ordenou tomar a espada contra o irmão, o amigo e o vizinho (Ex 32, 27). Se tivermos presente o contexto da consideração espiritual, entenderemos que todo aquele que presta atenção a Deus e à Lei se purifica com a morte dos costumes que habitam perversamente nele. Com efeito, as palavras irmão, amigo ou vizinho nem sempre são usadas pela Escritura no bom sentido, mas há ocasiões em que o irmão é um estrangeiro, o amigo um inimigo, o vizinho alguém que se levantou como adversário. Entendemos por estes, nossos pensamentos íntimos, cuja vida causa nossa morte, e cuja morte causa nossa vida.

Capítulo 34

Concorda esta interpretação com as coisas já ditas a respeito de Aarão, quando, por ocasião de seu encontro com Moisés, o reconhecemos como o que socorre e protege, o que realiza juntamente com ele os prodígios contra os egípcios. O conhecemos justamente como superior, já que a natureza angélica e incorpórea foi feita antes que a nossa; como irmão, obviamente, pelo parentesco de sua natureza intelectual com nossa natureza intelectual. Existe a objeção de como se pode tomar em seu sentido melhor o encontro de Aarão, que se converteu para os israelitas em servidor da idolatria? Porem, neste lugar, o texto explica claramente o equívoco da "irmandade", pois o significado desta palavra não é o mesmo em todos os lugares, já que toma este nome em sentidos opostos. Um é o irmão que abate o tirano egípcio, e outro o que faz uma cópia do ídolo para os israelitas, ainda que seja idêntico o nome de ambos. Contra irmãos desta classe impunha Moisés a espada. O que ordena aos demais, sem dúvida o estabelece também para si mesmo. A destruição de um irmão desta classe é a aniquilação do pecado. Com efeito, todo o que faz desaparecer o mal metido dentro de si pela sedução do adversário, este matou em si mesmo o que vivia pelo pecado. Nosso ensinamento em torno disto se confirma ainda mais, se colocarmos a relação de alguns outros elementos do relato com a interpretação espiritual. Dissemos, de fato, que foi ordem daquele Aarão que eles se desprendessem de suas arrecadas. O desprendimento destas se converteu na matéria do ídolo (Ex 32, 2-3). Que diremos? Que Moisés havia adornado as orelhas dos israelitas com adorno de arrecadas, que é a Lei, e que o falso irmão, pela desobediência, tira o adorno colocado nas orelhas e faz com ele um ídolo. A primeira entrada do pecado foi o tirar as arrecadas, isto é, a decisão de desobedecer ao preceito. Como julgar a serpente como amiga e vizinha dos primeiros pais, a ela que sugeriu como coisa útil e boa afastar-se do mandado de Deus? Isto é o livrar as orelhas das arrecadas do preceito (Rm 10, 17). Portanto, quem tiver matado tais irmãos, amigos e vizinhos ouvirá da Lei aquela palavra que conta o relato que disse Moisés aos que haviam matado a estes: Cada um de vós consagrou hoje as suas mãos ao Senhor, matando seu filho, e seu irmão, para vos ser dada a benção (Ex 32, 29). Penso que a recordação daqueles que consentiram no pecado se introduziu oportunamente no discurso. Aprendemos assim que as tábuas feitas por Deus, nas quais havia sido gravada da lei divina, caíram na terra das mãos de Moisés e, quebrando-se pela dureza do solo, Moisés as refaz, embora não sejam inteiramente as mesmas, mas só o escrito nelas. Com efeito, tendo tomado as tábuas da matéria daqui de baixo, as apresenta ao poder de quem grava nelas a Lei, e assim atrai de novo a graça levando a Lei em tábuas verdadeiras, ao haver gravado Deus sua palavra na pedra. Guiados por estas coisas, talvez seja possível alcançar alguma inteligência da providência de Deus em nosso favor. Com efeito, se o divino Apóstolo disse a verdade chamando tábuas os corações (2Co 3, 3), isto é, a parte superior da alma - e sem dúvida diz a verdade aquele que sonda pelo Espírito as profundezas de Deus (1Co 2, 10) -, pode-se deduzir conseqüentemente que, no princípio, a natureza humana estava sem fraturas e era imortal, moldada pelas mãos divinas e embelezada com os caracteres não escritos da Lei, pois fisicamente estava dentro de nós uma vontade conforme à Lei, no afastamento do mal e no honrar à Divindade.

Capítulo 35

Porém depois de aparecer o ruído do pecado, ao que o começo da Escritura chama voz da serpente (Gn 3, 4) e o relato das tábuas chama voz dos que começam um canto na embriaguez (Ex 32, 18), então, as tábuas se quebram ao cair na terra. E o verdadeiro Legislador, aquele de quem Moisés era figura, novamente lavrou para si, de nossa terra, as tábuas da natureza. Pois sua carne, que contem Deus, não foi feita por obra do matrimônio, mas ele mesmo é o escultor da própria carne gravada pelo dedo de Deus. Com efeito, o Espírito Santo desceu sobre a Virgem e a força do Altíssimo a cobriu com sua sombra (Lc 1, 35). Depois deste acontecimento, a natureza foi feita de novo inquebrável, feita imortal pelos caracteres gravados pelo dedo. Dedo é o nome dado muitas vezes pela Escritura ao Espírito Santo (Ex 8, 19 e Dt 9, 10 e Lc 11, 20). Desta forma acontece uma tal transformação de Moisés, tão grande e de tanta glória, que os olhos daqui de baixo não podiam suportar a manifestação daquela glória (2Co 3, 12-4, 6). Quem tiver sido bem instruído no divino mistério de nossa fé não desconhecerá como a interpretação espiritual concorda com o relato. Com efeito, aquele que restaurou nossa natureza destroçada - pelo já dito, sabes bem quem é aquele que curou nossas roturas -, depois de haver elevado novamente a tábua quebrada de nossa natureza a sua primitiva beleza, havendo embelezado com o dedo de Deus, como dissemos, não é já suportável à vista dos indignos, pois pela super abundância de sua glória é já inacessível a quem o olha. Em verdade, quando vier em sua glória, como diz o Evangelho, e todos os anjos com Ele (Mc 8, 38), a duras penas os justos poderão contemplar seu aspecto. Quanto ao que é injusto e ao que pertence à seita judia, como diz Isaías, permanecerá incapaz desta visão. Que desapareça o ímpio - diz - para que não veja a glória do Senhor (Is 26, 11). Seguindo a concatenação das coisas que examinamos, nos deixamos levar à formulação de uma hipótese de interpretação espiritual desta passagem. Voltemos à questão que havíamos proposto: como aquele que viu Deus claramente nestas teofanias, o atestam a palavra divina, quando diz face a face, como quem fala a um amigo (Ex 33, 11 e 1Co 13, 12), ao chegar aqui, como se nunca tivesse alcançado o que cremos que alcançou pelo testemunho da Escritura, pede a Deus que lhe apareça, como se nunca tivesse visto Aquele que lhe tem aparecido continuamente. A voz do alto acede agora ao desejo do que pede e não lhe recusa a entrega desta graça, porem novamente o leva à desesperança, ao deixar claro que o que ele busca é inalcançável à natureza humana. Apesar disto, Deus diz que há um lugar junto a ele, e nesse lugar uma pedra, e na pedra, uma fenda (Ex 33, 21-23) na qual manda que Moisés se coloque. Depois Deus põe a mão na boca daquela fenda e, passando adiante, o chama. Ao ser chamado, Moisés sai fora da fenda, vê as costas de quem o chamou, e assim parece que viu o procurado, pois se cumpre a promessa da voz divina.

ECCLESIA Brasil

Do Comentário sobre a Carta aos Gálatas, de Santo Agostinho, bispo

S. Agostinho | Elo7

Do Comentário sobre a Carta aos Gálatas, de Santo Agostinho, bispo

(Praefatio: PL 35,2105-2107)

(Séc. V)

Compreendamos a graça de Deus

O Apóstolo escreve aos gálatas com a intenção de fazê-los compreender que a graça de Deus neles atua de tal modo que não mais estão sob a lei. Ao ser proclamada a graça do Evangelho, não faltou quem dentre os judeus, mesmo se dizendo cristão, não tivesse entendido o imenso benefício da graça e teimasse em manter-se sob o jugo da lei que o Senhor Deus impusera não aos servidores da justiça, mas aos servidores do pecado. Esta lei era justa para homens injustos a fim de mostrar-lhes o pecado, mas não para tirá-lo. Nada, com efeito, apaga o pecado a não ser a graça da fé que age pela caridade.

De fato, certos judeus queriam impor aos gálatas, já possuidores da graça, o peso da lei, afirmando de nada lhes aproveitar o Evangelho, a não ser que se deixassem circuncidar e adotassem os outros ritos judaicos puramente carnais.

Por esta razão começaram a suspeitar de Paulo, que lhes havia pregado o Evangelho, julgando-o infiel à doutrina dos outros apóstolos que obrigavam os gentios a viverem como judeus. O apóstolo Pedro cedera ao escândalo de tais homens e deixara-se levar à simulação, como se pensasse, também ele, que aos gentios de nada serviria o Evangelho, se não cumprissem os preceitos onerosos da lei. O apóstolo Paulo afasta-o dessa simulação como conta nesta Carta. Trata-se aqui da mesma questão que na Carta aos Romanos. Contudo nesta última parece haver outra coisa, pois acaba com uma contenda e tranqüiliza a situação entre os partidários dos judeus e os gentios que haviam aceitado a fé.

Em nossa Carta, porém, dirige-se àqueles que estavam abalados por causa da autoridade daqueles judeus que os constrangiam aos preceitos da lei. Já haviam começado a dar-lhes crédito, pensando que o apóstolo Paulo não lhes havia pregado toda a verdade por não querer deixá-los circuncidar-se. Por isso começa logo assim: Espanto-me por terdes tão depressa passado daquele que vos chamou à glória de Cristo para um outro evangelho.

Nesta introdução sugeriu em poucas palavras o ponto em questão. Embora na própria saudação, quando diz ser apóstolo, não da parte dos homens nem por homem algum – expressão que não se encontra em nenhuma outra carta – mostre claramente serem esses tais conselheiros não da parte de Deus, mas dos homens; e ser injusto considerá-lo inferior aos outros apóstolos, quanto à autoridade do testemunho evangélico, já que sabia ser apóstolo não da parte de homens nem por um homem, mas por Jesus Cristo e Deus Pai.

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2020: o ano mais difícil para o Santuário de Fátima

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Com a pandemia, a queda do número de visitantes impactou na receita do santuário.

O Santuário de Fátima divulgou um balanço de como foi o ano de 2020 em relação às visitações de peregrinos e receitas.

Assim como outros santuários ao redor do mundo, Fátima ficou quase três meses sem nenhuma celebração com a presença de fiéis por causa da pandemia. Mesmo assim, em todo o ano, 1,4 milhão de peregrinos ainda conseguiram participar presencialmente de cerca de 4.300 celebrações. Em 2019, por exemplo, foram 6,5 milhões de visitantes.

O reitor do Santuário, Padre Carlos Cabecinhas, fala em um ano difícil. “2020 não foi apenas um ano diferente e estranho: foi um ano difícil, porque nos confrontou com a necessidade de fechar espaços vocacionados para acolher, para receber, para estarem abertos; difícil porque tivemos de celebrar pela primeira vez o 12 e 13 de maio sem presença física de peregrinos e o 12 e 13 de outubro apenas com 6 mil peregrinos no amplo recinto de oração; difícil ainda a nível económico, pois este lugar depende da presença e da generosidade de quem nos visita”, explicou o padre.

Segundo o reitor, esta diminuição no número de peregrinos impactou nas receitas. De fato, houve queda de quase 49% nos donativos.

Aposta nas transmissões online

Com a redução no número de visitantes, o Santuário de Fátima teve que fortalecer os meios digitais para continuar levando a mensagem de Nossa Senhora.

Com isso, a aposta nas transmissões das celebrações ao vivo pela internet fizeram aumentar o número de seguidores dos perfis do santuário nas redes sociais. Por exemplo: antes da pandemia, a página do Santuário de Fátima no Facebook tinha 1 milhão de seguidores. No final do ano, eram 1, 2 milhão de seguidores.

O Santuário de Fátima consolidou também a sua presença no Youtube, com mais transmissões ao vivo e vídeos publicados. No começo de 2020, 65 mil assinantes seguiam o canal. No fim do ano, este número passou para 192 mil. Ao todo, foram 4,3 milhões de horas visualizadas no canal, o que corresponde a 12 mil horas por dia.

“Foi um ano difícil, mas não um ano perdido, pelo que nos permitiu aprender e porque nos exigiu rever o modo de comunicar com os peregrinos e de lhes levar a mensagem de Fátima” concluiu o  Padre Carlos Cabecinhas.

Aleteia

Reflexão para o 5º Domingo do Tempo Comum - "B"

Evangelho do Domingo - Jesus cura a sogra de Pedro 

Para nós que intuímos ser nossa peregrinação sobre esta terra, ainda longa, resta-nos, além de fazer o bem, contar com a presença materna de Maria e o alimento cotidiano da Eucaristia, o pão da Vida, descido do Céu.

Padre Cesar Agusuto, SJ – Vatican News

A primeira leitura, extraída do Livro de Jó 7, 1-4.6-7, inicia com uma pergunta para lá de real, neste tempo de pandemia e acentuação e agravamento da queda econômica das pessoas; além das dores e lutos, legalmente impedidos de serem vividos e presentes a cada dia, a falta de dinheiro no bolso se reflete à mesa e em outras situações em que se vive a dificuldade de manter a dignidade querida por Deus para seus amados filhos.

Sim, a vida sobre esta terra, é uma luta! Não é à toa que a oração denominada “Salve Rainha”, fala em “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”, para logo suplicar “advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei, e depois deste desterro...”

Ao mesmo tempo em que no final da leitura Jó diz ao Senhor:” Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade”.

Mas para nós que cremos na ressurreição, a Salve Rainha continua “...mostrai-nos Jesus, bendito fruto do vosso ventre, ó clemente, ó piedosa, o doce e sempre Virgem Maria”.

Para nós que intuímos ser nossa peregrinação sobre esta terra, ainda longa, resta-nos, além de fazer o bem, contar com a presença materna de Maria e o alimento cotidiano da Eucaristia, o pão da Vida, descido do Céu.

O Evangelho, tirado de Marcos 1, 29-39 nos aponta a alegria e a consolação com a presença do Cristo no meio de seu povo, é a esperança que se torna realidade.

Os discípulos estão entorno do Mestre, mas não abandonaram as famílias. A sogra de Pedro está acamada e Jesus é levado até ela pelos companheiros de seu genro Simão e do irmão dele, André, os pescadores Tiago e João. O Senhor está envolvido pela família e pelos amigos da família, que pedem a ele a cura da senhora, querida por todos. Jesus consciente da situação e da missão dada pelo Pai, deve fazer algo. Ele toma a mão da sogra do amigo e a levanta curada. Na sequência, a senhora começa a servi-los, além de ser uma forma de agradecimento pela cura, ela faz o papel de dona de casa. A doença, a febre passaram; agora é necessário servir, a vida segue!

Evidentemente a residência ficou como referência para o povo da região e os familiares perderam a privacidade. Todos queriam ver o Mestre e levar a ele seus problemas e aflições. Jesus não se fez de rogado, mas “curou muitas pessoas de diversas doenças e expulsou muitos demônios”.

Quando a paz retornou à aldeia, Jesus e a família foram descansar. Pela madrugada, o Senhor se levantou e foi conversar com o Pai, em um local deserto, com alguma privacidade.

Pela manhã, o genro da dona da casa e seus companheiros foram atrás de Jesus e deram o recado: “Todos estão te procurando”. Mas o Senhor, que havia conversado com o Pai e com o Espírito, recorda a eles sua missão que é anunciar o Reino para todos e deixa aquela aldeia e vai para outras da redondeza, “... andava por toda a Galileia, pregando em suas sinagogas e expulsando os demônios.”

Que as preocupações do dia a dia, com suas vicissitudes, não nos distraiam de nossa opção fundamental e nem nos enfraqueça o ânimo para o cumprimento de nossas obrigações; ao contrário, cheios de esperança e caridade, sejamos pessoas distinguidas por essas mesmas virtudes.

Vatican News

Papa Leão XII se opôs às vacinas? Fake news circula nas redes

Papa Leão XII. Crédito: domínio público

Roma, 05 fev. 21 / 10:03 am (ACI).- Nos últimos dias, circulou nas redes sociais uma fake news segundo a qual o Papa Leão XII se opôs à vacina contra a varíola. Nesta nota, contaremos como essa farsa ou notícia falsa aconteceu.

A fake news se baseia em uma frase atribuída ao Papa que liderou a Igreja entre 1823 e 1829, e que diz: “Quem participa da vacinação deixa de ser filho de Deus: a varíola é um castigo querido por Deus, a vacina é um desafio contra o Céu”.

“A frase aparece em uma longa sequência de citações na literatura científica da segunda metade do século XIX, mas a origem das citações não tem uma fonte para atribuí-la a Leão XII”, explica Illaria Fiumi Sermattei, integrante do Faculdade de História e Bens Culturais da Igreja, da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

A fake news diz que o Papa também teria dito que a vacina contra a varíola era um “enxerto bestial”, já que a que Edward Jenner introduziu no final do século XVIII previa a inoculação de pus da varíola das vacas leiteiras, método que foi mais eficaz e seguro do que a inoculação de pus de varíola humana.

A especialista lembra que a fake news, além de “não estar documentada”, foi na verdade “uma notícia divulgada de segunda mão durante o conclave de 1823 pelo embaixador austríaco em Roma. Para este último, o futuro Leão XII era um candidato indesejável, porque era contrário à ingerência do poder europeu no governo da Igreja e por isso não agradava ao tribunal de Viena”.

Fiumi indica ainda que “o argumento da suposta proibição da vacinação querida por Leão XII para anular o que foi conquistado por seu antecessor Pio VII e seu secretário de Estado, o Cardeal Ercole Consalvi, não corresponde à realidade histórica, em linha com as inovações introduzida na Itália durante a ocupação francesa”.

“Esta informação não é exata porque na realidade, em 1824, Leão XII não proibiu, mas tornou opcional a vacinação, que se espalhou em Roma e nos Estados Pontifícios desde os primeiros anos do século XIX, sem suscitar escrúpulos morais ou religiosos por parte das autoridades, mas encontrando certa desconfiança em amplos setores da população”, disse a especialista.

“A confusão sobre a introdução de humores animais no corpo humano foi reforçada por alguns incidentes ocorridos durante as vacinações e que impressionaram a opinião pública, dificultando a disseminação ampla e rápida dessa prática no território”.

A especialista indicou que, de acordo com as disposições napoleônicas, posteriormente confirmadas "pelo edito consalviano de 1822, a vacinação era regularmente estruturada e fortemente recomendada, embora não fosse estritamente obrigatória".

Dado que houve algumas resistências à vacina contra a varíola, o Papa Leão XII decidiu torná-la opcional, “mantendo, como atestam fontes contemporâneas, a obrigação dos médicos de administrar a vacina gratuitamente a quem a solicitar”.

Fiumi destaca que o Papa, reconhecendo a importância da vacinação, conferiu o prêmio Esperón de Ouro ao médico da Lombardia chamado Luigi Sacco, “verdadeiro pioneiro da vacinação em massa da população”.

A especialista afirma que “a notícia do Papa antivacinas é, portanto, uma fake news”.

“Este engano que carece de qualquer fundamento histórico, teve, no entanto, extraordinário sucesso, em uma desordem frenética de textos científicos e populares, sites, blogs e filmes de autor” que promovem “a imagem de uma Igreja Católica oposta programaticamente ao progresso científico e civil, representada exemplarmente pela figura obscurantista Leão XII”, conclui a especialista.

Publicado originalmente por ACI Stampa.

ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF