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terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Bispos comentam polêmica gerada por texto-base da Campanha da Fraternidade 2021

Dom Odilo Scherer e Dom Adair José Guimarães /
Fotos: Captura de vídeo

REDAÇÃO CENTRAL, 08 fev. 21 / 12:00 pm (ACI).- Neste ano, a Campanha da Fraternidade será ecumênica e seu texto-base tem gerado polêmicas por fazer referências a conteúdos ligados à ideologia de gênero; frente a isso, o Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, e o Bispo de Formosa, Dom Adair José Guimarães fizeram recentemente alguns comentários.

A Campanha da Fraternidade (CF) é celebrada pela Igreja no Brasil no tempo da Quaresma. A cada cinco anos, é realizada de forma ecumênica, como ocorre neste ano de 2021, quando tem como tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e como lema o trecho da carta de Paulo aos Efésios: “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2, 14).

Nos últimos dias, começou-se a questionar, sobretudo nas redes sociais, o conteúdo do texto-base da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE)2021, por seu conteúdo de ideologia de gênero.

O texto afirma em um de seus trechos que “é importante salientar que as relações sociais de classe, de gênero, de raça, de etnia estão historicamente interligadas”.

Em seguida, afirma que um “grupo social que sofre as consequências da política estruturada na violência e na criação de inimigos, é a população LGBTQI+”, e cita dados do ‘Grupo Gay da Bahia’ apresentadas no Atlas da Violência 2020 para falar sobre a violência contra essas pessoas.

Questionado sobre esta polêmica durante o programa ‘Diálogos de Fé’, transmitido ao vivo por seu Facebook no último domingo, 7 de fevereiro, o Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer, explicou que “a Campanha da Fraternidade, todos os anos, propõe um tema” e que “normalmente é a CNBB, tem uma comissão da CNBB que prepara os textos, é o Conselho Pastoral da CNBB que aprova o texto”.

Entretanto, continuou, “de cinco em cinco anos, a Campanha da Fraternidade é promovida de forma Ecumênica”, como neste ano. Sendo assim, “o texto-base não foi preparado pela CNBB, foi preparado pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), do qual também faz parte a Igreja Católica no Brasil”.

O Purpurado pontuou que a CF “é uma campanha de evangelização popular. Durante a Quaresma, sempre se aborda um aspecto da dimensão social da nossa fé. Nossa fé em Deus tem sempre a dimensão social, da caridade, da fraternidade. Sem a fraternidade, nossa fé em Deus pode estar sendo vazia”, disse.

Sobre a CFE deste ano, Dom Odilo assinalou que ,“antes que a Quaresma se inicie, nós já estamos com uma polêmica em torno do texto-base”, o qual “dá a reflexão básica sobre o tema”.

“Acho que essa polêmica precisa baixar um pouco a fervura. Acho que esta polêmica está movida por um monte de preconceitos”, disse, assinando que é algo movido por “paixão antiecumênica” e “por acusações infundadas contra a CNBB”.

“Enfim, é uma polêmica também marcada por polarização ideológica. Acusa de ideologia de um lado, mas comete o mesmo erro de posição ideológica oposta, dura, fechada. Ora, tudo o que não precisa em uma Campanha da Fraternidade Ecumênica, quando o objetivo é justamente aproximar as igrejas, é promover uma iniciativa boa juntos, nos aproximar mais. Cristo é nossa paz”, declarou

Para o Arcebispo de São Paulo, a polêmica em torno da Campanha da Fraternidade “esqueceu o foco. Cristo é nossa paz”.

Porém, o Purpurado ressaltou: “Eu admito que no texto-base haja posições que podem ser criticas, que podem ser não compartilhadas. Eu posso fazer também as minhas observações sobre questões que talvez eu não diria desse modo, mas, pelo amor de Deus, o foco é outro”.

Assim, indicou que se pode fazer observações em relação ao texto-base, “mas, não esqueça a Campanha da Fraternidade, não esqueça o objetivo, não esqueça o tema, não esqueça o lema”. Para Dom Odilo, “não é quem escreveu a Campanha da Fraternidade que deve ficar no centro, não é quem escreveu o texto-base da campanha e que eu não estou de acordo com uma série de questões, não é isso que deve se tornar o centro da Campanha da Fraternidade”.

Desse modo, exortou a esquecer “um pouco essa polêmica”. “O que tiver que ser criticado, vamos criticar com serenidade. Mas, jogar essa polêmica antes mesmo de iniciar a Campanha da Fraternidade dessa forma não tem cabimento, não é de caridade em relação à Igreja e falta com a verdade também”.

Por sua vez, durante a homilia da Missa celebrada no último domingo, o Bispo de Formosa, Dom Adair José Guimarães, convidou a manter o foco em Cristo, em vez de se preocupar com a Campanha da Fraternidade.

“Não fechemos os nossos corações, não fiquemos escutando coisas que não tem nada a ver com nossa fé, toda essa confusão com Campanha da Fraternidade. Esquece isso. Isso não tem a menor importância para nós. Ele basta, o Cristo”, declarou.

Em seguida, pontuou que “aqueles que querem velejar contra a doutrina da Igreja não terão as suas empreitadas bem-sucedidas”.

“Quem está fora do rumo, quem não segue a Sagrada Escritura, a Tradição e o Magistério Ordinário da Igreja bate com a cabeça no muro, como tem batido a Teologia da Libertação, que não tem dado frutos”, acrescentou.

Segundo o Bispo, “muita gente teima nisso e perde tempo porque não descobre a beleza do sagrado, de uma espiritualidade viva e ficam apegados às coisas passageiras deste mundo, sem olhar para o alto”.

“Olhemos para Deus, Ele nos conforta em Cristo, através dos santos, dos anjos e através dos seus sacramentos”, concluiu.

ACI Digital

Você vive a sua história ou a história que Deus tem para você?

tommaso79 | Shutterstock
por Talita Rodrigues

Você escolhe viver a sua história e não a história que Deus preparou para você quando ignora completamente os sinais que Ele te envia.

Quem me conhece sabe que eu sempre digo: “Considerando o fato de Deus ter nos dado o livre arbítrio, temos apenas duas histórias para viver nesta vida. Uma delas é a grande história que Deus preparou para nós, e a outra é a história que nós queremos viver.”

Temos a velha mania de pensar que encerrar ciclos é necessários e doloroso demais. Seja ele de uma amizade que já não te faz bem, de um relacionamento amoroso que tirou o melhor de você ou qualquer outro ciclo que você julgue importante. Temos medo da dor e, por isso, preferimos viver um conta-gotas de dor.

Devido à essa mania errônea, acabamos presos no tempo, mesmo que ele passe. Ficamos de mãos atadas para tentar algo novo, para conhecer um novo amor e até mesmo para nos darmos uma chance de sermos ainda mais felizes.

Como viver a história que Deus tem para nós

E aí você me pergunta: “Mas, Talita, como viver a história que Deus tem para mim?”

Bom, para viver a história que Deus preparou para você, muitas vezes, é preciso aceitar o fim de algo que já se encerrou. Não insista. Deixe Deus guiar sua vida. Respeite o fim de um ciclo que se encerrou e confie em Deus. Creia que Deus só permite o que Ele escreveu em sua história de vida.

Temos o costume prejudicial e errôneo de deixar que o nosso coração humano guie uma determinada situação para benefício próprio. Ou seja: você escolhe viver a sua história e não a história que Deus preparou para você quando ignora completamente os sinais de Deus, e insiste em algo que já terminou e que te faz mal. É simplesmente tóxico.

Já escrevi em outros textos, e repito: encontro  pessoas magníficas presas em relacionamentos completamente falidos. Presas em relacionamentos que só causam dor, insegurança e infelicidade. A cada dia, vivem mais uma pequena dose de dor.

Sabemos que somos humanos, e que sim, despedidas e finais de ciclos que foram importantes para nós em algum momento doem. E como! Mas é melhor viver a dor de forma total a passar a vida inteira sentindo uma pequena dose de dor todos os dias.

Renunciar à própria vontade

Escolher viver a história que Deus preparou para você quer dizer – na maioria das vezes – renunciar à sua própria vontade. Quer dizer que você deve aceitar sem questionar, e que deve viver as demoras e consequentemente os planos de Deus para a sua vida.

Deixe doer apenas uma vez. Evite doses diárias de dor para o resto de sua vida. Deus sabe o que é melhor para você e para a sua vida a partir daqui, a partir do fim. O que parece ser o fim, para Deus, é apenas o começo de algo novo.

Escolha viver a história que Deus escreveu para você, por mais que isso te custe o preço de uma despedida doída.

Vai passar. Sempre passa. E no final das contas, percebemos que sim, a cabeça elaborou, o coração  aceitou, e a vida seguiu para a vontade de Deus.

Aleteia

Campeão do Super Bowl lança documentário que ensina a verdade por trás do aborto

https://youtu.be/QjnUt5mPE4s

, 08 fev. 21 / 11:16 am (ACI).- O campeão do Super Bowl XXXIX, Benjamin Watson, lançou um novo documentário que entrevista pessoas de todo o espectro político em uma tentativa de gerar empatia e compreensão no debate sobre o aborto, a fim de que se fale com a verdade.

Intitulado "Divided Hearts of America", o filme estreou inicialmente em 17 de setembro, mas foi disponibilizado nas plataformas de vídeo Amazon Prime e Google Play no início deste mês.

Watson, estrela da Liga Nacional de Futebol Americano que venceu o Super Bowl XXXIX com o Philadelphia Eagles, entrevistou mais de 30 especialistas de uma variedade de campos e antecedentes sócio-políticos para o documentário.

Expressou sua esperança de que o filme "revele a verdade sobre o aborto, as leis, a história e para onde se dirige o nosso país".

“Eu acredito na santidade da vida, seja no útero ou no seu leito de morte. Essa é a minha convicção. Mas com o filme, vou envolver aqueles que discordam e ouvir seus raciocínios. A primeira coisa que procuro é a empatia dos dois lados", acrescentou.

Escrito e dirigido por Chad Bonham, o documentário apresenta uma variedade de pessoas que compartilham suas opiniões sobre o aborto. Entre outros temas, o público escutará discussões sobre os efeitos negativos que o aborto teve nas mulheres e afro-americanos. O próprio Watson é afro-americano.

“É importante, como afro-americanos, que entendamos a história do aborto”, assinala uma mulher no trailer.

“Na cidade de Nova York, o lar da Planned Parenthood, durante décadas, houve mais bebês negros abortados que nascidos vivos. Durante décadas”, disse outro homem.

Entre outros, o filme inclui entrevistas com Alveda King, sobrinha de Dr. Martin Luther King, Jr; o ex-candidato presidencial e neurocirurgião Dr. Ben Carson; e Dra. Monica Ruberu, obstetra e palestrante pró-vida.

“O que mais noto [depois de um aborto] é que as mulheres ficam emocionalmente traumatizadas. Devem lidar com a ansiedade e a depressão dessa perda e a sociedade lhes diz que deveriam gritar seus abortos e que deveriam se orgulhar dessa escolha, mas por dentro estão em uma grande confusão”, disse Ruberu, na página do filme no Facebook.

“Acho que muitas pessoas estão vendo o que está acontecendo. Estão reconhecendo que a vida é sagrada. Com todo o conhecimento que acumulamos ... podemos criar vida? Não. Isso deveria dizer algo sobre como é sagrada", acrescenta Carson.

Publicado originalmente em CNA.

ACI Digital

Era professora no Brasil, tornou-se monja na Alemanha e evangeliza o mundo pela internet

Irmã Martina / Foto: Captura de vídeo

REDAÇÃO CENTRAL, 09 fev. 21 / 06:00 am (ACI).- Irmã Martina é uma religiosa beneditina brasileira, da Abadia de St. Walburga na Alemanha, e recentemente lançou uma série de vídeos em seu canal do Youtube, que podem contribuir para muitas pessoas superarem as dificuldades do isolamento social imposto pela pandemia.

O projeto conta com apoio não só de suas irmãs de mosteiro, como também de ex-alunos, os quais sentiam saudades das aulas da então professora Marta Braga, que ensinou em diversos Seminários no Brasil, antes de ingressar na vida monástica.

Em entrevista à ACI Digital, Ir. Martina contou como tudo começou, desde o seu chamado vocacional até a concretização deste projeto que traz vídeos formativos em português, inglês e alemão.

Nascida no Rio de Janeiro, Marta Braga é a caçula de uma família católica de 10 filhos. Seu pai era engenheiro e, devido ao trabalho, moraram também na Bahia e em São Paulo. “Nossa vida em casa era cheia de atividades culturais e religiosas e sempre fomos muito ligados ao Mosteiro de São Bento do Rio [de Janeiro]”, recordou.

Como professora, ensinou “em escolas primárias e secundárias” e, mais tarde, fez Doutorado na Universidade de Navarra, na Espanha. Ao retornar para o Brasil, ensinou História da Igreja e Doutrina Social Católica em Seminários e cursos de Teologia em Petrópolis, Niterói, Nova Friburgo e Rio de Janeiro, além de dar palestras em outros lugares do país.

“Minha vida era muito ativa e cheia de responsabilidades, mas Deus me deu o privilégio de poder cuidar dos meus pais velhinhos e estar cercada pela família numerosa e excelentes amigos e alunos”, lembrou.

Durante todo esse percurso de sua vida, indicou Ir. Martina, o chamado vocacional “estava sempre lá, de alguma forma”. “Meus pais tinham uma fé católica muito sólida e saudável, uma fé que se relacionava profundamente com o mundo cultural e intelectual e com o amor do próximo. Nos braços deles aprendi o cerne da minha vida religiosa”, garantiu, sublinhando que também contou com a ajuda de “sacerdotes, amigos, retiros, leituras, vida de sacramento e oração, o trabalho com a Teologia”.

“Mas tudo isso de uma forma nunca exagerada; pelo contrário, a fé sempre me impulsionou a ser mais profundamente humana e 'normal', por assim dizer. Mesmo em meio às muitas atividades e viagens e amizades, uma voz sempre me parecia dizer que Deus tinha ainda outro plano para mim. Esse plano Ele foi mostrando aos poucos, sem pressa. Isso nem sempre foi fácil, por causa da minha própria impulsividade. Mas Ele sabia tudo e tinha o Seu tempo”, relatou.

E aquela sua ligação como Mosteiro de São Bento também contribuiu para decidir ingressar na vida monástica. “A imagem dos monges cantando gregoriano sempre me atraiu pela paz, profundidade e estabilidade da sua vida”, contou, destacando que também colaborou seu “temperamento” que sempre a levou “na direção de uma vida católica sólida e experimentada, como a que eu tinha vivido na minha família”.

Além disso, indicou que, “embora conhecesse e aprendesse muito com vários movimentos católicos mais modernos, o meu amor pela História também me fazia buscar algo mais antigo, mais provado pelo tempo”.

Então, quando estava estudando na Europa, passou a visitar mosteiros, “aproveitando da famosa hospitalidade beneditina que me permitia pagar a estadia com o meu trabalho junto com as Irmãs”.

Por outro lado, uma irmã dela que mora nos Estados Unidos fez contato com a Abadia de St. Walburga no Colorado, fundada pelas religiosas alemãs. “E foi através dessa minha irmã que eu visitei o meu mosteiro aqui na Alemanha pela primeira vez, treze anos antes de finalmente pedir para entrar, já aos quarenta anos de idade!”, recordou.

Segundo Ir. Martina, a Abadia alemã “tem uma história de quase mil anos e justamente a solidez e experiência que buscava”. “Além do típico silêncio e quietude da via monástica, eu acho aqui também a ligação entre fé, cultura e intelectualidade que para mim sempre foi tão essencial”.

E é essa “associação entre fé e cultura” que faz o projeto dos vídeos de formação no Youtube “possível e recomendável”.

Ir. Martina admitiu que sente “muitas saudades de ensinar”. Além disso, afirmou, “vivendo aqui na Alemanha, sinto falta de fazer alguma coisa pelo Brasil, pela minha pátria e pela minha gente que eu amo tanto”.

“Tudo isso convergiu agora para esse projeto, cujo estopim foi a situação de isolamento que todos vivemos por causa do vírus. Pensei comigo que, na clausura, eu não sinto muito as dificuldades da distância social, mas que eu podia, talvez, aproveitar o momento para fazer algo que ajudasse os outros a suportá-la”, contou a religiosa, que teve o apoio de “muitos antigos alunos”.

O objetivo, conforme explicou, “é muito simples e modesto: anunciar, comunicar e alegrar-se na fé”.

Inicialmente, a ideia era gravar os vídeos apenas em português, “para o Brasil”. Porém, como esses “tiveram certo sucesso”, a irmã da religiosa que mora nos Estados Unidos pediu que ela gravasse também em inglês, “para os sete filhos dela e suas famílias”. Estes acabaram “enviando para amigos e conhecidos” e agora, Ir. Martina tem recebido retorno até de “amigos na Inglaterra”.

De acordo com a religiosa, as duas versões já lhe “tomam bastante tempo”. Entretanto, o capelão da Abadia sugeriu que ela “fizesse também uma versão em alemão porque a Igreja na Alemanha é rica materialmente, mas infelizmente pobre em temas de doutrina e moral”. Assim nasceu a versão em alemão, com a devida aprovação da abadessa.

Na primeira série sobre “Liberdade & Fé”, aborda os “valores da vida monástica que podem também, com muito proveito, ser vividos pelas pessoas no mundo”.

Posteriormente, contou, “aparecerão outras séries, mas ainda não sei sobre quais temas... certamente algo que tenha a ver com a minha experiência de professora”.

Segundo ela, os “vídeos serão sempre caseiros e modestos, feitos com o coração e sem pretensão de profissionalismo midiático. É como uma conversa entre amigos”, indicou Ir. Martina, ressaltando que, “embora as circunstâncias da clausura e do fuso horário tornem impossível uma interação real por vídeo”, tem recebido “feedback das pessoas através de e-mail e as amizades vão assim se formando”.

No entanto, sublinhou, o importante é “que tudo permaneça sempre humilde e modesto: algo nascido do coração e da experiência e submetido à vontade e à graça de Deus! Quem faz todo o resto é Ele...”, concluiu.

Para assistir aos vídeos de Ir. Martina, acesse AQUI.

ACI Digital

Ser idoso é um presente de Deus

Vatican News

Foi apresentado, nesta terça-feira, o documento da Pontifícia Academia para a Vida sobre a condição da “terceira idade” depois da pandemia.

Davide Dionisi/Mariangela Jaguraba – Vatican News

“A velhice: o nosso futuro. A condição dos idosos depois da pandemia.” Este é o título do documento publicado, nesta terça-feira (09/02), com o qual a Pontifícia Academia para a Vida (PAV), de acordo com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, propõe uma reflexão sobre os ensinamentos a serem extraídos da tragédia causada pela difusão da Covid-19, sobre suas consequências para hoje e para o futuro próximo de nossas sociedades.

Repensar o modelo de desenvolvimento

Ensinamentos que evidenciaram uma dupla consciência: “Por um lado, a interdependência entre todos e, por outro, a presença de fortes desigualdades. Estamos todos à mercê da mesma tempestade, mas num certo sentido, também se pode dizer que estamos remando em barcos diferentes: os mais frágeis estão afundando todos os dias. É indispensável repensar o modelo de desenvolvimento de todo o planeta”, afirma o documento, que retoma a reflexão já iniciada com a Nota de 30 de março de 2020 (Pandemia e Fraternidade Universal), prosseguida da Nota de 22 de julho de 2020 (A Humana Communitas na Era da Pandemia). Reflexões desatualizadas sobre o renascimento da vida) e com o documento conjunto com o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Vacina para todos. Vinte itens para um mundo mais justo e saudável) de 28 de dezembro de 2020. A intenção é “propor o caminho da Igreja, mestra de humanidade, a um mundo transformado pela Covid-19, a mulheres e homens em busca de sentido e esperança para suas vidas”.

A Covid-19 e os idosos

Durante a primeira onda da pandemia, uma proporção considerável de mortes pela Covid-19 ocorreu nas instituições para idosos, lugares que deveriam proteger a “parte mais frágil da sociedade” e onde a morte atingiu desproporcionalmente mais em relação à casa e ao ambiente familiar. “O que aconteceu durante a Covid-19 impede de descartar a questão com uma busca por bodes expiatórios, por culpados individuais. Por outro lado, é necessário que se levante um coro em defesa dos excelentes resultados daqueles que evitaram o contágio nos asilos. Precisamos de uma nova visão, de um novo paradigma que permita à sociedade cuidar dos idosos”.

Em 2050, dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos

O documento da PAV evidencia que “do ponto de vista estatístico e sociológico, homens e mulheres têm geralmente hoje uma expectativa de vida mais longa. Esta grande transformação demográfica representa, de fato, um desafio cultural, antropológico e econômico”. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2050, haverá dois bilhões de pessoas com mais de 60 anos no mundo: uma a cada cinco pessoas será idosa. “Portanto, é essencial tornar nossas cidades lugares inclusivos e acolhedores para os idosos e, em geral, para todas as formas de fragilidade”.

Ser idoso é um presente de Deus

Em nossa sociedade, prevalece muitas vezes a ideia da velhice como uma idade infeliz, sempre entendida apenas como a idade da assistência, da necessidade e das despesas para o tratamento médico. “Ser idoso é um presente de Deus e um enorme recurso, uma conquista a ser salvaguardada com cuidado, mesmo quando a doença se torna incapacitante e surge a necessidade de cuidados integrados e de alta qualidade. É inegável que a pandemia reforçou em todos nós a consciência de que a riqueza dos anos é um tesouro a ser valorizado e protegido”, ressalta o documento.

Um novo modelo para os vulneráveis

Quanto à assistência, a PAV indica um novo modelo especialmente para os mais frágeis inspirado na pessoa “A implementação deste princípio implica uma intervenção articulada em diferentes níveis, que realiza um cuidado contínuo entre a própria casa e alguns serviços externos, sem cesuras traumáticas, não adequadas à fragilidade do envelhecimento”, especifica o documento, observando que “as casas de repouso devem se requalificar num contínuo sócio-sanitário, ou seja, oferecer alguns de seus serviços diretamente nos domicílios dos idosos: hospitalização em casa, cuidando da pessoa individual com respostas de assistenciais moduladas nas necessidades pessoais em baixa ou alta intensidade, onde a assistência social e sanitária integrada e o cuidado domiciliar continuam sendo o pivô de um novo e moderno paradigma”. Em substância, espera-se reinventar uma rede mais ampla de solidariedade “não necessariamente e exclusivamente baseada em vínculos de sangue, mas articulada de acordo com as pertenças, amizades, sentimentos comuns, generosidade recíproca na resposta às necessidades dos outros”.

O encontro entre gerações

Quanto ao confronto com os jovens, o documento evoca um “encontro” que possa levar para o tecido social “aquela nova seiva de humanismo que tornaria a sociedade mais solidaria”. Muitas vezes o Papa Francisco exortou os jovens a ficarem perto de seus avós”, acrescentando que “o homem que envelhece não se aproxima do fim, mas do mistério da eternidade. Para entender isto ele precisa se aproximar de Deus e viver na relação com Ele. Cuidar da espiritualidade dos idosos, de sua necessidade de intimidade com Cristo e de partilha da fé é uma tarefa de caridade na Igreja”. O documento deixa claro que “é somente graças aos idosos que os jovens podem redescobrir suas raízes, e é somente graças aos jovens que os idosos recuperam a capacidade de sonhar”.

A fragilidade como magistério

O testemunho que os idosos podem dar através de sua fragilidade também é precioso. “Ele pode ser lido como um magistério, um ensinamento de vida”, observa a reflexão, esclarecendo que “a velhice também deve ser entendida neste horizonte espiritual: é a idade propícia do abandono a Deus. À medida que o corpo enfraquece, a vitalidade psíquica, a memória e a mente diminuem, a dependência da pessoa humana de Deus parece cada vez mais evidente.”

A mudança cultural

Por fim, um apelo: “Toda a sociedade civil, a Igreja e as diversas tradições religiosas, o mundo da cultura, da escola, do voluntariado, do espetáculo, da economia e das comunicações sociais devem sentir a responsabilidade de sugerir e apoiar medidas novas e incisivas, para que seja possível acompanhar e cuidar dos idosos em contextos familiares, em suas próprias casas e, em todo caso, em ambientes domésticos que mais se assemelham a uma casa do que a um hospital. Esta é uma mudança cultural a ser implementada.”

Vatican News

S. APOLÔNIA, VIRGEM E MÁRTIR DE ALEXANDRIA NO EGIPTO

Sta. Apolônia | VaticanMedia

Santa Apolônia, Padroeira dos dentistas e dos que sofrem dos dentes.

Registros históricos

Santa Apolônia viveu no tempo do império romano por volta do ano 249. Era o tempo do imperador Felipe, que foi derrotado por Décio. Este tornou-se um dos  mais cruéis perseguidores dos cristãos. Apolônia era filha de um rico magistrado de Alexandria, cidade importante do Egito, então sob o domínio do império Romano. Apolônia teve sua história contada pelo então Bispo de Alexandria, São Dionísio, em cartas ao Bispo Fabio de Antioquia.

Perseguição

Na sétima investida do Imperador Décio contra os cristãos, ela foi capturada. Como Décio sempre fazia, Apolônia foi obrigada a renunciar a sua fé cristã pelas forças do império. Além disso, foi obrigada a prestar culto aos deuses romanos e a obedecer o Imperador. Santa Apolônia, porém, firme na fé e tomada por uma coragem impressionante, negou-se a obedecer. Por isso, ela passou a sofrer terríveis torturas em praça pública, diante de todo o povo, que se impressionava com tudo o que via.

Padroeira dos dentistas

Em meio às grandes torturas que sofreu sem negar sua fé, Santa Apolônia teve seus dentes arrancados por pedras afiadas. Mesmo sofrendo a dor lancinante de ter seus dentes quebrados, ela não renunciou à sua fé em Jesus Cristo. Ao ver sua firmeza na fé, os carrascos quebraram sua face com pancadas. Em seguida, foi condenada a morrer queimada. Depois de sua morte, seus dentes foram recolhidos e levados para vários mosteiros. Existe um dente e um pedaço de sua mandíbula no Mosteiro de Santa Apolônia em Florença, Itália.

Morte de Santa Apolônia

Depois de todos os sofrimentos pelos quais tinha passado, Santa Apolônia ainda reunia forças para mostrar a todos sua fé inabalável. Assim, mesmo amarrada, ela própria se jogou na fogueira onde morreria, dizendo que preferia a morte a renunciar sua fé em Cristo Jesus. Deus, porém, protegeu Santa Apolônia e ela escapou ilesa da fogueira. Muitos dos presentes se converteram ao presenciar este fato. Então os algozes lhe deram vários golpes de espada e lhe deceparam a cabeça. Santa Apolônia faleceu no ano de 249.

Reverência de Santo Agostinho

Mais tarde Santo Agostinho explicou que esse ato de Santa Apolônia foi inspirado pelo Espírito Santo, como um ato de coragem ao enfrentar todas as forças da época em nome de Jesus Cristo.

Canonização e festa

Santa Apolônia foi canonizada no ano 300. Seu culto é mais conhecido e divulgado na Europa, principalmente na Alemanha, França e Itália. Sua festa litúrgica é realizada no dia 9 de fevereiro. Ela é padroeira da Odontologia e dos cirurgiões-dentistas, dos que sofrem de dores na boca e problemas nos dentes.

Representação

Por ter tido os seus dentes arrancados ela é representada por uma imagem de uma senhora com vestes simples, adornada de um véu. Tem a seus pés uma palma e um fórceps na mão segurando um dente.

Oração a Santa Apolônia

"Óh bom Deus. Rogamos que a intercessão da gloriosa mártir de Alexandria, Santa Apolônia, nos livre de todas as enfermidades do rosto e da boca. Lembrai-vos principalmente das criaturas inocentes e indefesas. Afastai, se possível, a amargura das dores de dente. Iluminai, fortificai e protegei os cirurgiões-dentistas, para que sempre se dediquem ao próximo com o amor que de vós emana, e nos seja dado usufruir de vosso reino. Santa Apolônia, intercedei a Deus por nós. Amém."

Cruz da Serra Santa

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Santo Agostinho e a Rocha de Mateus 16, 18

S. Agostinho | Vatican News

Por José Miguel Arraiz.

Traduzido por Rafael Rodrigues. 

INTRODUÇÃO

Um leitor que está debatendo a questão do primado de Pedro com um pastor evangélico, enviou-me uma pergunta sobre a posição de Santo Agostinho sobre a interpretação de Mateus 16, 18. Em um blog protestante que encontrou, por exemplo, se reproduzem algumas citações de Agostinho para dar a impressão de que como ele interpretava que a rocha sobre a qual a Igreja está construída é a fé, não o próprio Pedro, que isso de alguma forma envolve uma rejeição do primado petrino.

Sobre este tópico, já tratei brevemente em outro post: Pedro, A Rocha (Testemunhos Patrísticos), agora eu vou complementar o que eu escrevi lá.

UMA ANÁLISE SOBRE O PENSAMENTO AGOSTINIANO

Primeiro: É verdade que Santo Agostinho disse em várias ocasiões que a rocha sobre a qual está construída a Igreja era a fé em Cristo que é o Filho de Deus. Embora seja comum ver que os pais da igreja tinham duas interpretações como complementares e não excludentes. Agostinho tem algum texto que parece vê-los como exclusivas e inclinando-se quer por uma ou outra. Uma análise mais detalhada desses textos também revela que ele usou ambas as interpretações alternadamente de maneira contemporânea, o que dificulta a questão.

Alguns textos onde a rocha sobre a qual está construída a Igreja são: Sermão 147,3; 270,6; 295,2; Comentário sobre o Salmo 60.3; Tratados sobre o Evangelho de São Lucas 124,5.

Alguns que adere à interpretação católica tradicional é que Pedro é a Rocha: Carta 53,2; O batismo contra os donatistas VII 43,85; Tratados Sobre o Evangelho de São João 11.5; Comentários sobre os Salmos 103 II s.3.2; s.2 30 II, 5; 39.25; 55,15; 63.4.

Esclarece o assunto no pensamento de Santo Agostinho a ideia de que Pedro simboliza a Igreja e sua unidade por causa da primazia que teve entre os apóstolos. Elas podem ser vistas, entre outros, nos seguintes textos: Sermões 75,10; 76; 137,3; 149,7; 244,1; 270,2; 295,1.2.4; Comentários sobre os Salmos 103 III 2; 108,1; Tratados Sobre o  Evangelho de São João7, 14; 50.12; 118,4; 124,5.

Mas o que importa é que, em última análise, em sua última declaração sobre o assunto em suas Retratações (I 21.1) ele faz a menção das duas opiniões sem se inclinar sobre uma ou outra e acaba deixando o leitor a escolher o ajuste mais preciso.

Em meu primeiro livro contra Donato mencionei em algum lugar uma referência ao apóstolo Pedro como ‘a igreja está fundada sobre ele como uma rocha’. Esta interpretação também soa em muitos lábios nas linhas de bênção de Santo Ambrósio, na qual falando de sua própria casa, ele diz: Quando ele canta, a rocha da Igreja absolve pecado. Mas eu me lembro que, frequentemente, explicou as palavras de Nosso Senhor a Pedro: ‘Sobre esta pedra edificarei a minha igreja’, de modo que deve ser entendida como referindo-se a confissão do próprio Pedro quando disse: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, no sentido de que Pedro tinha sido nomeado rocha, levou a figura da Igreja, que é construída sobre esta pedra e recebeu as chaves do reino dos céus. A partir do que foi dito sobre ele não disse “Você é Rocha,” mas “Tu és Pedro”, pois a pedra era Cristo, tendo sido confessado por Simão (e como toda a Igreja confessa), que foi chamado Pedro. Qual dessas interpretações é correta, decida o leitor”.  (Retratações, I, 21)

Em segundo lugar: Deve-se observar que, para compreender a posição de Santo Agostinho a respeito do primado de Pedro não deve ser limitada apenas aos textos onde comenta Mateus 16, 18, mas todos os seus comentários como um todo, que falam claramente de seu principado entre os apóstolos, ideia que se repete no Batismo contra os donatistas II 1.2 e 4.13 I contra Juliano. Para ele, a própria sé de Pedro, em Roma, é uma garantia da verdade e da Igreja apostólica de Cristo (Contra a Carta Fundamental dos maniqueístas 4,5, 53,2 Carta; 43,3,7). Ele também reconhece que a sua autoridade é definitiva (Sermão 131,10). Uma obra onde o assunto em questão é amplamente tratado é: Agostino. . Trapé, La Sedes Petri in S. Agostino, en Miscellanea A. Piolanti II, Lateranum, Nova Series, an. XXX (Roma 1964).

Portanto separar-se da Sé de Pedro é para ele se separar da Igreja, e, portanto, afirma que os donatistas (cismáticos da época) não têm cátedra, tendo sido separados da de Pedro, “in qua una cathedra unitas ab om nibus servaretur”; nem possuem o “Anjo” do batismo, unidos também as outras cátedras autênticas; nem o Espírito Santo, que é o espírito de caridade; ou a fonte de água viva, ou o selo de santificação (Sancti Optati Afri Milevitani episcopi de schismate donatistarum libri septem. I. III, 6-8 cc Ed Hurter… Patrum opuscula selecta X Oeniponti, 1870). A posição de Santo Agostinho, a este respeito não foi a única, mas compartilhado pelo cristianismo, uma vez que sempre foi considerado uma ruptura com a igreja local unida a Roma como uma ruptura com a Igreja universal, como sancionam os Concílios de Elvira (ano 306, can.53) , Arles (314, can.16) , Nicéia ( 325 dC, can.5), Antioquia (ano 341, can.5 -6), Sardica (ano 343, can.13) (Mansi, 2.14 , 2.473 , 2,669-670 , 2,1309-1312 , 3:16-17).

Veritatis Splendor

MILAGRE E MARTÍRIO

TVN24
“Como cordeiros para o meio de lobos”. A espada de São Paulo.
“No trecho do Evangelho que ouvimos, Jesus envia setenta e dois discípulos para a grande colheita que é o mundo, convidando-os a pedir ao Senhor da colheita, a fim de que nunca faltem trabalhadores para a sua colheita (cf. Lc 10, 1-3); e não os envia com meios poderosos, mas sim ‘como cordeiros para o meio de lobos’ (v. 3), sem bolsa, nem alforje, nem sandálias (cf. v. 4). Numa das suas Homilias, São João Crisóstomo comenta: ‘Enquanto formos cordeiros, venceremos e, mesmo que sejamos circundados por numerosos lobos, conseguiremos superá-los. Mas se nos tornarmos lobos, seremos derrotados, porque ficaremos desprovidos da ajuda do pastor’ (Homilia 33, 1: PG 57, 389). Os cristãos jamais devem ceder à tentação de se tornar lobos no meio dos lobos; não é com o poder, com a força e a violência que o reino de paz de Cristo se difunde, mas com o dom de si, com o amor levado ao extremo, também aos inimigos. Jesus não vence o mundo com a força das armas, mas com a força da Cruz, que é a verdadeira garantia da vitória. E isto, para quem quer ser discípulo do Senhor, seu enviado, tem como consequência o estar pronto também à paixão e ao martírio, a perder a própria vida por Ele, para que no mundo triunfem o bem, o amor e a paz. Esta é a condição para poder dizer, entrando em cada realidade: ‘A paz esteja nesta casa!’ (Lc 10, 5).

Diante da Basílica de São Pedro encontram-se duas estátuas grandes dos santos Pedro e Paulo, facilmente identificáveis: São Pedro está com as chaves na mão, e São Paulo, ao contrário, tem nas mãos uma espada. Para quem não conhece a história deste último, poderia pensar que se trata de um grande comandante que guiou exércitos poderosos e com a espada submeteu povos e nações, alcançando fama e riqueza com o sangue alheio. No entanto, é exatamente o contrário: a espada que ele tem nas mãos é o instrumento com que Paulo foi morto, com que padeceu o martírio e derramou o seu próprio sangue. A sua batalha não foi a da violência, da guerra, mas a do martírio por Cristo. A sua única arma foi precisamente o anúncio de ‘Jesus Cristo, e Cristo crucificado’ (1Cor 2, 2). A sua pregação não se fundou ‘em discursos persuasivos da sabedoria, mas na manifestação do Espírito e do poder divino’ (v. 4)”. [...] “Esta mesma lógica é válida também para nós, se quisermos ser portadores do reino de paz anunciado pelo profeta Zacarias e realizado por Cristo: devemos estar dispostos a pagar pessoalmente, a padecer em primeira pessoa a incompreensão, a rejeição e a perseguição. Não é a espada do conquistador que constrói a paz, mas a espada do sofredor, de quem sabe entregar a própria vida”. Palavras do Papa Bento XVI durante a audiência geral da quarta-feira, 26 de outubro de 2011.

 

Membra Christi et corpus sumus omnes simul; non qui hoc loco tantum sumus, sed et per universam terram; nec qui tantum hoc tempore, sed quid dicam? Ex Abel iusto usque in finem saeculi / Todos juntos somos membros e corpo de Cristo: não somente nós que nos encontramos aqui neste lugar, mas todos nós em toda a terra. E não somente nós que vivemos neste tempo, mas que dizer? desde o justo Abel até o fim do mundo”, Agostinho, Sermones 341, 9, 11; cf. Lumen gentium, n. 2.

Revista 30Dias

PAIS DA IGREJA: Sobre a Vida de Moisés (Parte 15/20)

São GREGÓRIO DE NISSA

(Aprox. 330-395)

Sobre a Vida de Moisés

Tradução segundo a Patrologia Grega de Migne
com base na versão de D. Lucas F. Mateo

História de Moisés

Capítulo 36

Se nos apegarmos à letra, o sentido destas coisas não só permanecerá obscuro a quem o examina, como nem sequer estará livre de uma concepção inverossímil de Deus. Com efeito, parte anterior e parte posterior existem só nas coisas que têm forma, e toda forma é limite de um corpo. Portanto, quem imagina uma figura delimitando Deus, não pensará que Ele está livre de uma natureza corporal. Pois bem, todo corpo é evidentemente composto. O composto é constituído pela concorrência de elementos heterogêneos. Ninguém diria que o composto é indissolúvel. O que se pode dissolver não pode ser imortal. De fato, a corrupção é a dissolução do que é composto. Se tomarmos ao pé da letra as costas de Deus, por via de conseqüência seremos levados necessariamente a um absurdo. De fato, diante e atrás só se dão no que tem forma, e a forma só se dá no que tem corpo. E este, por sua própria natureza, pode ser dividido, posto que todo o composto pode dividir-se. O que pode ser dividido não pode ser imortal. Portanto, quem é escravo da letra pensará como conseqüência que a Divindade está submetida à corrupção. E sem dúvida, Deus é imortal de incorruptível. Mas então, que interpretação alem do sentido literal será coerente com a letra? Se uma parte nos obriga, no contexto do discurso, a buscar outra interpretação das palavras escritas, sem dúvida será conveniente fazer o mesmo com relação ao todo. O que entendemos de uma parte, isso mesmo havemos de tomar necessariamente em relação ao todo, pois não existe um todo se não está composto de partes. Portanto, o lugar perto de Deus, e a pedra neste lugar, e nela o lugar que se chama fenda, e a entrada de Moisés ali, e o estender da mão de Deus até a boca da fenda, e sua passagem, e a chamada, e depois disto a contemplação das costas, tudo isto será considerado de forma mais adequada se seguirmos a norma da interpretação espiritual. Qual é o significado? Que da mesma forma que os corpos pesados, se algo recebe impulso em um plano inclinado, ainda que nada o empurre depois deste primeiro movimento, se não há nada que corte o impulso com um obstáculo, são empurrados por si mesmos para baixo com força pela ladeira enquanto o plano permanecer inclinado costa abaixo; assim de forma contrária, a alma que se liberta da paixão terrena, se volta leve e veloz, começando a voar desde baixo até às coisas de cima, até o alto. E como nada acima corta seu impulso, pois a natureza do bem atrai a si a quem levanta os olhos para ela, a alma sempre se eleva alem de si mesma, em tenção pelo desejo das coisas celestiais, como diz o Apóstolo, até às coisas que estão adiante (Flp 3, 13), e elevará seu vôo cada vez mais alto. Com efeito, graças ao já conseguido, deseja não renunciar ao que está acima e torna incessante seu impulso às coisas de cima renovando sempre, com o já conseguido, a tenção para o vôo. De fato, o trabalhar da virtude alimenta sua força no cansaço, já que sua tenção não diminui pelo esforço, mas aumenta. Por esta razão dizemos que o grande Moisés, apesar de fazer-se cada dia maior, nunca se deteve no caminho para o alto, nem impôs a si mesmo algum limite até o cume, mas que uma vez posto o pé na escada em cujo cimo estava Deus (Gn 28, 12), como diz Jacob, subiu ininterruptamente ao nível superior, sem cessar nunca de subir, porque sempre há um degrau mais alto do que aquele a que já se chegou.

Capítulo 37

Moisés rechaça o parentesco aparente com a rainha dos egípcios. Faz-se vingador do hebreu. Translada-se a uma vida solitária no deserto, não turbada pelo contato com os homens. Pastoreia ali em si mesmo o rebanho de animais domados. Vê o esplendor da luz. Torna leve sua subida à luz despojando-se do calçado. Conduz à liberdade seus parentes e compatriotas. Vê afundar-se o inimigo, carregado pelas ondas. Permanece sob a nuvem. Sacia a sede com a pedra. Recolhe pão do céu. Depois, com a elevação das mãos, vence o estrangeiro. Ouve a trombeta. Entra nas trevas. Penetra nas estâncias inacessíveis do tabernáculo não feito por mão de homem. Aprende as coisas inefáveis do sacerdócio divino. Destrói o ídolo. Aplaca Deus. Restabelece a lei quebrada pela maldade dos judeus. Resplandece pela glória e, alçado por estas elevações, ainda arde em desejos, e não se sacia de ter mais; ainda tem sede daquele de que foi completamente saciado, e pede obtê-lo como se nunca o tivesse obtido, suplicando a Deus que se revele a ele, não na forma em que ele é capaz de participar dela, mas tal qual Ele é. Este sentimento me parece próprio de uma alma possuída pela paixão do amor à beleza essencial: a esperança não cessa de atrair a partir da beleza que se viu até à que está mais alem, acendendo sempre no que já conseguiu o desejo do que ainda está por conseguir. De onde se conclui que o amante apaixonado da Beleza, recebendo sempre as coisas visíveis como imagem do que deseja, aspira saciar-se com o modelo original desta imagem. E isto é o que quer a súplica audaz que ultrapassa o limite do desejo: gozar da beleza, não através de espelhos e reflexos, mas face a face (1Co 13,12). A palavra divina admite a petição mesmo tempo que a repudia, mostrando em poucas palavras um abismo incomensurável de conhecimento. Com efeito, a magnanimidade de Deus concede a Moisés saciar o desejo, porem não lhe promete nenhum repouso nem fartura desse desejo. Pois não se teria mostrado a si mesmo a seu servo se a visão houvesse sido tal que detivesse o desejo do que via, pois nisto consiste ver verdadeiramente a Deus: em que quem o vê não se sacia jamais em seu desejo. Por isso diz: Não poderás ver meu rosto. Com efeito, nenhum homem verá meu rosto e seguirá vivendo (Ex 33, 20). O relato diz isto não como se o mostrar-se convertesse Deus em causa de morte para quem o visse. Como poderia a face da vida converter-se jamais em causa de morte para quem se acercasse dela? A menos que, posto que Deus é por essência o que dá a vida, e posto que um traço essencial do conhecimento da natureza divina é o de estar acima de todo o conhecimento, quem pensar que Deus é alguma das coisas agora conhecida, esse não tem vida, pois se desviou do ser dos seres a ponto de, com uma fantasia fora da razão, se pensar que existe. Pois o que verdadeiramente existe é a vida verdadeira. E isto é inacessível ao conhecimento. Se pois a natureza que dá a vida transcende todo o conhecimento, aquilo que é abarcado pelo conhecimento certamente não é a vida. O que não é a vida não tem uma natureza apta para dar a vida. Por esta razão, se dá satisfação ao desejo de Moisés precisamente naquilo que este desejo fica sem satisfação. Com efeito, aprende do que já foi dito que a Divindade, pela própria natureza, é inabarcável, pois não está circunscrita por nenhum limite. Pois se pensássemos a Divindade com algum limite, seria necessário considerar juntamente com o limite o que haveria mais além deste limite. Com efeito, o que está limitado termina certamente em alguma coisa, como o ar é limite dos animais terrestres, e a água é o limite dos aquáticos. E posto que o peixe é rodeado pela água em todas as partes, e o pássaro pelo ar, e o meio da água no caso dos aquáticos e o do ar no caso do pássaro é o marco do limite no ponto extremo que abarca o pássaro ou o peixe ao qual delimitam a água e o ar, assim necessariamente, se pensarmos a Divindade dentro de um limite, é necessário que esteja abarcada por algo heterogêneo a sua natureza, e a lógica mostra que o continente é maior que o contido.

Capítulo 38

Afirma-se que a Divindade é o Bem essencial. Pois bem, o que tem uma natureza distinta do bem é alheio ao bem, e o que é alheio ao bem pertence à natureza do mal. Demonstra-se que o continente é maior que o contido. Segue-se necessariamente que os que julgam que a Divindade está contida em um limite, devem admitir também que está abarcada pelo mal. Sendo evidentemente menor a natureza do contido que a do continente, segue-se a superioridade do mais vasto. Portanto quem encerra a Divindade em um limite estabelece que o bem está dominada por seu contrário. Porem isto é absurdo. Não se pensará, pois, em nenhum limite da natureza infinita. O que não está limitado não tem uma natureza que possa ser compreendida. Eis aqui porque todo o desejo do bem, que atrai para aquela ascensão, cresce constantemente junto com a trajetória de quem se apressa para o bem. Isto é ver realmente a Deus: não encontrar jamais a saciedade do desejo. É totalmente inevitável que quem vir se inflame em desejos de ver ainda mais, precisamente por causa daquelas coisas que é possível ver. E desta forma nenhum limite interromperá o progresso na ascensão a Deus, por não haver limite no bm, nem ser interrompido por nenhuma fartura o aumento do desejo do bem. Qual é aquele lugar perto de Deus? Que é a pedra? E qual é novamente a fenda na pedra? Que é a mão de Deus que tapa a fenda da pedra? Que é a passagem de Deus? Que são suas costas, cuja visão promete Deus a Moisés quando pedia para ver sua face? É necessário que cada um destes dons seja verdadeiramente grande e digno da magnificência do doador, ao ponto de julgar uma promessa mais esplêndida e elevada que todas as teofanias outorgadas já ao grande servidor. Porem, como pode alguém deduzir destas palavras acima com que Moisés pede subir depois de tantas ascensões, e a cuja subida Aquele que faz cooperar todas as coisas para o bem de quem ama a Deus (Rm 8, 28) conduz dizendo: Eis aqui um lugar junto de mim (Ex 33, 21)? Eis aqui uma interpretação que se harmoniza facilmente com as coisas que já consideramos. Ao falar do lugar, não delimita quantitativamente o que lhe mostra, pois não existe medida do que carece de quantidade, mas conduz o ouvinte ao infinito ilimitado por meio da consideração do limitado por uma medida. O relato parece significar isto: Posto que o desejo te lança ao que está adiante e não tens nenhuma fartura em tua corrida, e o bem não tem limite algum, mas o desejo se orienta sempre àquilo que é ainda maior, há tanto lugar junto a mim, que quem corre nele jamais poderá alcançar o final da corrida. Porem, de outro ponto de vista, a corrida é quietude. Coloca-te - diz - sobre a fenda (Ex 33, 21).

ECCLESIA Brasil

Papa aos músicos: o “silêncio” da pandemia seja “fase de escuta” para o renascimento

Papa Francisco | VaticanMedia
Que o “silêncio” que vivemos seja uma “fase de escuta”, de “harmonia da voz de Deus, conduzindo à ‘sinfonia’ universal.

Cidade do Vaticano (05/02/2021, 16:20, Gaudium Press) Para os participantes da 4ª Conferência Internacional de Música, que iniciou-se na quinta-feira, o4/02, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem em modalidade on-line, o tema de “textos e contextos” em relação à Igreja e à Música.

O encontro está sendo organizado pelo Pontifício Conselho para a Cultura em colaboração com o Pontifício Instituto de Música Sacra e o Pontifício Instituto Litúrgico do “Ateneo Sant’Anselmo”.

Campo musical “uma área muito importante para a liturgia e a evangelização”

Através de sua mensagem o Pontífice expressou o desejo de que o evento possa enriquecer as comunidades eclesiais e todos que trabalham no campo da música, “uma área que é muito importante para a liturgia e a evangelização”.

Ao citar o profeta Isaías, o Pontífice recordou como “a Bíblia inspirou inúmeras expressões musicais” nos 5 continentes, basta pensar no percurso histórico da música com o canto gregoriano e Bach, por exemplo, mas também através de vários compositores contemporâneos que interpretaram textos sagrados.

Com a pandemia da Covid-19, a atividade no campo da música foi severamente afetada

O patrimônio musical da Igreja, disse o Papa no vídeo, é muito variado e pode apoiar não apenas a liturgia, mas também a apresentação de concertos em teatros, nas escolas e na catequese.

Mas, Francisco não poderia deixar de lembrar que, desde o início da pandemia da Covid-19, a atividade no campo da música foi severamente redimensionada.

O Papa, então, encorajou quem continua sofrendo as consequências da pandemia com recordando o espanhol Miguel de Cervantes que, numa das obras primas da literatura mundial quando ele afirmava que “onde há música não pode haver maldade” (Parte II, c. 34).

De fato, ainda insistiu o Pontífice em eu elogio à música, “muitos textos e composições, através do poder da música, estimulam a consciência pessoal de todos”.

O desafio comum é ouvir uns aos outros. Na liturgia, somos convidados a ouvir a Palavra de Deus.

Francisco refletiu em sua mensagem para o evento dos músicos que, no entanto, o próprio profeta Isaías mostrou o “valor do silêncio”.

Assim, o Papa tratou sobre a importância do valor da pausa, da “alternância entre som e silêncio” que permite “a escuta”, algo fundamental em qualquer diálogo:

“Caros músicos, o desafio comum é ouvir uns aos outros. Na liturgia, somos convidados a ouvir a Palavra de Deus. A Palavra é o nosso ‘texto’, o texto principal; a comunidade é o nosso ‘contexto’.

A Palavra é fonte de significado, ilumina e orienta o caminho da comunidade. Sabemos como é necessário narrar a história da salvação em idiomas e linguagens que possam ser bem compreendidos. A música também pode ajudar os textos bíblicos a ‘falar’ nos novos e diferentes contextos culturais, para que a Palavra divina possa efetivamente alcançar as mentes e os corações.”  (JSG)

(Da Redação Gaudium Press, com informações e foto Vatican News)

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF