Igreja São Miguel Arcanjo (Foto: José Carlos de Oliveira) |
"Eu
sou um defensor absoluto da ação jesuítica. Acho que eles foram fundamentais
para a América, que nós conhecemos hoje. Eles foram defensores dos guaranis,
das suas liberdades, das suas ações (...). Quando Montesquieu chama de
“primeiro Estado industrial da América”, é porque de fato eles conseguiram
(...) a primeira fundição de aço da América", disse ao Vatican News, o
pesquisador gaúcho José Roberto de Oliveira.
Jackson Erpen – Vatican News
O Rio Grande do Sul abriga o único Patrimônio
Mundial da UNESCO do sul do país, a Igreja de São Miguel Arcanjo, localizada no
município de São Miguel das Missões.
Até o Tratado de Madri, assinado em 13 de janeiro
de 1750, a região onde hoje se encontra o Rio Grande do Sul - e na época os
Sete Povos das Missões - pertencia à Coroa espanhola, que com a permuta da
Colônia do Sacramento, no Uruguai, passou à Coroa portuguesa.
A Redução jesuítica de São Miguel fazia parte de um
amplo projeto iniciado ainda em 1609, com a primeira redução, San Ignácio
Guazú, onde hoje é o Paraguai.
Um grande grupo de pesquisadores vem trabalhando já
há alguns anos para reconstruir em detalhes essa rica história, também marcada
por dicotomias. E à medida que as pesquisas avançam, descobrem o quanto ainda
tem a ser descoberto em todo esse processo.
Esse grande “projeto de fraternidade” protagonizado
pelos jesuítas com os guaranis, foi considerado como a realização de uma grande
utopia, inspirando escritores como Voltaire, Charles Montesquieu, Ludovico
Antonio Muratori, Charlevau, entre outros. Segundo o pesquisador e
escritor José Roberto Oliveira*, “os próprios Jesuítas chegaram a
dizer que foi a verdadeira realização do cristianismo”.
Para o pesquisador de Santo Ângelo, é
importante conhecer a história, também para compreender "a
formação dos povos posteriores e que hoje correspondem aos pobres dessa
macrorregião, não só da parte brasileira, mas também da argentina,
paraguaia".
E neste caminho de juntar as pedras para recompor o
mosaico do passado, José Roberto realizou nesses dias um antigo sonho, ao percorrer
locais que guardam verdadeiros tesouros ainda desconhecidos para muitos, como
inscrições rupestres de milhares de anos, capelas e uma magnífica imagem de São
Martinho. “São achados que nós estamos fazendo, exatamente recompondo essa
história reconhecida mundialmente”, declarou ele na entrevista ao Vatican News:
“Inicialmente eu saí de Santo Ângelo, aqui onde eu
vivo, aqui ao lado da Catedral, aqui em Santo Ângelo, saí até São Miguel, e em
São Miguel, onde é o Patrimônio Cultural da Humanidade - o único Patrimônio
Cultural da Humanidade do sul do Brasil – então já encaminhando, digamos, pelo
velho caminho das Estâncias Missioneiras. Ali tem inicialmente um primeiro rio,
que é o Rio Piratini, do outro lado já visitei algumas pequenas estâncias,
inclusive propriedades hoje, que são pessoas amigas. Então eu dormi no primeiro
dia no lugar que se chama São João, antiga Vila Seca, e depois no outro dia de
manhã, já segui paralelo ao Rio Inhacapetum, que é um rio que divide São Miguel
com a região de Santiago, Bossoroca - e é exatamente buscando esses locais
aonde existiam essas grandes Estâncias Missioneiras, e que foram muito
importantes. O conjunto das Estâncias, só a de São Miguel, tinha mais um milhão
de cabeças de gado, na sua plenitude, digamos no seu momento maior.
Daí me encontrei com outros pesquisadores, que
vieram do Sul, e que conheciam muito aqueles caminhos, o Chico Sosa e o Jânio
Rosalino, aonde daí fomos descendo já em municípios como Tupanciretã, e aos
pouquinhos, então, buscando essas localizações, toda essa hidrografia, que a
gente conseguiu mapas em Madrid, com os jesuítas, e que também tinham me levado
a escrever este último livro, que foi lançado agora há 30 dias, que é o
relatório da Guerra Jesuítica-Guarani, escrito pelos jesuítas, que é o padre
Heinz, então com informações muito precisas, dos lugares, de cada
estância, de cada Capela, então a gente está buscando exatamente esse conjunto,
vamos dizer, de edículas, nesse macro território ao sul.
Inscrições nupestres na Estância Ganabeira, região de Itacoatiá, São Pedro do Sul |
Então desde o início, digamos, de São Miguel,
descendo, nós temos cerca de 500 quilômetros onde já é o início da República
Oriental do Uruguai de hoje. Então veja, toda essa territorialidade, era
Estância jesuítica de São Miguel, e ao lado, Estância de São Luis, de São
Lourenço, de São Nicolau, de Santo Ângelo. Então, o conjunto do Rio Grande
daquele período, estava praticamente tomado pelo projeto Jesuítico-Guarani. As
Missões já tinham 113 anos quando funda a cidade de Rio Grande, que é a
primeira entrada dos portugueses no amplo território. E a partir disso, depois,
daí vem toda a degladiação, as guerras, os tratados. E é exatamente em cima
desse conjunto todo, é que nós estamos procurando hoje, cartografar, marcar
essas divisões, e comparando, obviamente, com os mapas - hoje nós temos
satélite, que facilita muito - mas obviamente sempre comparando com as centenas
de mapas daquele período histórico-cultural.
Dentro desse roteiro, tinham estâncias muito
interessantes. Por exemplo, existe um lugar ali que se chama Itacoatiá, em São
Pedro do Sul, que tem inscrições rupestres milenares da presença humana na
região. Coisas de 5000, 6000, 7000 anos anteriores e que estão lá no lugar
chamado Pedra Grande. Paralelamente a isso, por exemplo, no município de Mata -
que também pertencia ao mesmo conjunto dessas estâncias, e que hoje é um
município - ali tem, por exemplo, aquelas árvores petrificadas, e todo um
levantamento paleontológico, da presença de vida naquela região há 250 milhões
de anos. Então é muito interessante, é um dos lugares raros do mundo, aonde
desde dinossauros e outros animais pré-históricos, bem paleontologia mesmo, e
além dessas árvores que são bastante interessantes e que estavam exatamente no
meio dessas estâncias.
Então, outros lugares como Jari, um conjunto
importante de capelas daquele tempo, que nós estamos - algumas a gente não
encontra, outras sinais muito relativos - então estamos cartografando todo esse
processo.
E depois lá embaixo, toda a base importante do Rio
Ibicuí, todo o conjunto de suas nascentes ali, o Jaguari, o Toropi, e que
nascem todos dentro dessas circunstâncias que a gente tá falando.
Uma rara imegem de São Martinho, que remonta à presença jesuíta |
Há capelas muito importantes, como San Javier - a
principal San Javier daquele período era uma capela que inclusive nos mapas
consta como uma edícula maior, essa nós ainda não encontramos, mas ontem eu
estive na região de São Vicente do Sul, que é um município que está muito próximo
do rio Jacuí – então é um conjunto muito importante, digamos, de elementos –
naquela base Jacuí, Ibicuí – que nós estamos hoje trabalhando, pesquisando e
encontrando e cartografando.
Então há muitas coisas dentro dessa região toda.
Encontramos uma imagem de São Martinho, uma das mais belas...! Quando os
jesuítas foram expulsos em 1768, eram cerca de 1535 peças, grandes, que estão
no inventário dos jesuítas, que eles entregaram esse inventário quando eles
foram expulsos para Europa. E uma das peças que nós não conhecíamos, foi uma
peça maravilhosa e magnífica encontrada numa ermida que está lá naquela região
de São Pedro. Então são achados que nós estamos fazendo, exatamente recompondo
essa história reconhecida mundialmente, por exemplo, Voltaire, chamou de
“Triunfo da humanidade”, Montesquieu chamou de “primeiro Estado industrial da
América”. Então esse processo todo que a gente está encontrando - e com grupo
muito grande de pesquisadores - hoje somos mais de 200 pesquisadores que estão
trabalhando num grande projeto, são elementos fundantes, digamos, para o
futuro. Tenho perguntado para nossa gente, como será isso daqui a 500 anos -
porque nós estamos passando por um tempo - e como será num tempo futuro? Hoje
nós estamos a 265 anos da morte, por exemplo, do Sepé Tiarajú, no final da
Guerra Guaranítica, em 7 de fevereiro de 1756, é a data da matização do Sepé,
que agora já é Servo de Deus da Igreja. Então é importante todo esse processo
para compreendermos a magnitude, a grandeza, do que foi o início da cristianização
aqui na América através dos jesuítas, junto aos guaranis.
Sepé Tiaraju, símbolo dos nativos da América
Sepé Tiaraju foi o líder da Guerra Guaranítica, que
é na verdade o primeiro ato libertário da América, antes de Bolívar, antes de
San Martín, antes de Tiradentes que, digamos, foi um grito de liberdade na
parte portuguesa, e os outros na parte espanhola. Sepé Tiaraju, então, entre
1753 é o “Essa terra tem dono” dele, o grito dele de liberdade quando já
demarcavam o Tratado de Madri, que trocava a Colônia de Sacramento - que fica
lá na foz do Rio Uruguai, numa construção Portuguesa - e trocava ela,
entregando os Sete Povos das Missões - que é essa grande parte do Rio Grande do
Sul, que é no sul do Brasil - então entregava os portugueses e em troca a
Colônia de Sacramento iria para o mundo espanhol. Então o Sepé Tiaraju se
coloca contra isso, diz que aquela nação missioneira, que ele põe essa ideia,
que ela era livre, que ela poderia se independer, e os índios lutam contra os
dois maiores exércitos do mundo daquele momento. Então foi uma coisa gigante,
uma guerra muito importante e que durou, na verdade então, inicia essa
contraposição em 1753, mas em 54 aqueles dois grandes exércitos se unem e
demandam contra os guaranis. Em 55, então, continua com as grandes lutas e em
56, 1756, no dia 7 de fevereiro Sepé Taraju é martirizado, eles já estavam do
lado de cá, vamos assim do Vacacaí, ali onde é São Gabriel hoje e ali então ele
é martirizado. Matam ele com uma lança, um tiro de Espanha, a lança portuguesa,
tiro de Espanha, e daí vem o processo de martírio do Sepé - que é o que tá
rodando aí no Vaticano o pedido de canonização do Sepé - põe fogo nele com
pólvora, e ainda, o último documento agora que mostra que cortam a cabeça, a
decapitação do Sepé, e enterram ele, os seus à noite desenterram, e levam ele.
Então Sepé é o grande líder desse processo todo,
junto, integrando as várias Reduções, exatamente nessa demanda contra esses
dois maiores exércitos daquele período. Então, ele é um herói Rio-grandense.
Ele também é herói da Pátria brasileira, é o primeiro indígena herói da Pátria
do Brasil, junto com Dom Pedro I, com Tiradentes, com os grandes heróis pátrios
nossos do país. Sepé Tiaraju desde 2009, ele é da pátria brasileira, e ele é
uma espécie de símbolo desse mundo nativo, nosso, que nós temos no Rio Grande
do Sul, nesse mundo gaúcho, como alguém que pode, que tem forças, que tem
vontade, que é líder o suficiente, um cristão líder, contra essas forças
exógenas, então é um verdadeiro símbolo, e um símbolo também de todos os
indígenas da América. Ontem [7 de fevereiro] foi um dia de orações, encontros
em vários lugares, Missas, os próprios jesuítas que retornaram às Missões.
Agora em São Miguel remos jesuítas de novo lá na Paróquia, e que também estão
trabalhando em toda a região, rezando Missa em homenagem ao Sepé Tiaraju, agora
o Servo de Deus Sepé Tiaraju, então é, digamos, uma imagem, é um cheiro muito
importante dentro dessa luta social em toda a América, mais do que Rio Grande
do Sul, Brasil. O Sepé Taraju, hoje, é uma espécie de símbolo dos nativos da
América com relação a essas forças exógenas, que sempre fizeram de tudo para
ficar com a terra, para ficar com as riquezas, e levarem ela embora. Então o
Sepé é um símbolo de contraposição.
Redução de São Miguel Arcanjo em 3D (Montagem sobre vídeo produzido pela Unisinos para material didático sobre as Missões Jesuísticas, com trilha sonora cantada pelo Coral Unisinos)
Os pobres dessa macrorregião, descendentes daquela história
Mas veja que é muito importante compreender que a
Guerra Guaranítica, apesar da grandiosidade dela, ela matou uns 13 mil
indígenas somente. Tem um dia, que é o dia 10, que é o dia que morrem 1500 dos
principais na Batalha de Caiboaté. Mas anteriormente, entre refregas diversas,
digamo somando tudo dá uns 3.000. Aí vem uma pergunta fundamental, que é um dos
livros que escrevi, que é um pedido de perdão ao Triunfo da humanidade: “aonde
estão os índios então?”, se não morreram tantos assim na Guerra Guaranítica.
Os índios, aqueles que eram reduzidos, os que já
estavam cristianizados, todos eles eram profissionais, da marcenaria,
fundidores, músicos, outros peões de estância - aqueles que cuidavam daqueles
milhões de cabeças de gado - então esta gente toda não voltou mais a ser
indígena. Eles passaram a fazer parte daquele mundo intermediário entre os
europeus que foram chegando, e foram ganhando do Império as terras aqui na
macrorregião, e aqueles indígenas que, já cristianizados há cerca de 159 anos,
toda a experiência missional jesuítica-guarani, aquela gente toda foi fazer
parte, digamos, nós temos documentos por exemplo mostrando, que muitos foram
trabalhar em Buenos Aires como marceneiro, pedreiro, escultor, e obviamente se
espalharam também pelas instâncias do Rio Grande, pelas Charqueadas depois, e
tudo mais. Então as grandes lutas, por exemplo as grandes refregas posteriores,
como a Revolução Farroupilha, tinham muitos descendentes desses indígenas, que
ficaram espalhados pelo amplo território.
Então, isso é muito importante, para compreender
também a formação dos povos posteriores e que hoje corresponde aos pobres dessa
macrorregião, não só da parte brasileira, mas também da parte argentina,
paraguaia. Os pobres dessa macrorregião, são descendentes daquela história, e
por isso que é tão importante a gente contar essa história do ponto de vista da
realidade. Por quê? Para que as pessoas também tenham uma auto estima de que
elas são importantes, que o cristianismo é um construto de muitas centenas, de
muitos séculos nessas famílias, e que obviamente os direitos – que é um outro
debate importantíssimo – elas têm todo direito sobre o meio, sobre as riquezas
dessa ampla região, sobre a empregabilidade dessa ampla região, e isso é fazer
um cristianismo redivivo, como o Cristo tinha dito. Então, que as pessoas
tinham que ter direitos iguais, deveria ter fraternidade, amor uns aos outros,
perdão uns aos outros, que é o centro do cristianismo."
Jesuítas foram anticoloniais, num projeto colonial
Em 1986 foi lançado o filme The Mission,
do diretor Roland Joffé, com trilha do compositor italiano Ennio Morricone,
falecido recentemente. O filme, de certa maneira, retrata a questão das
potências coloniais envolvidas, um pouco da realidade do trabalho dos jesuítas.
Há várias leituras em relação à presença dos jesuítas, que chegaram ao
continente americano metade do século XVI. Algumas dessas leituras reconhecem o
esplêndido trabalho realizado junto aos indígenas, mas também há leituras que
veem os jesuítas como a serviço dos colonizadores. Como pesquisador, com teu conhecimento,
qual a tua leitura em relação ao trabalho dos jesuítas, já que falavas de amor
fraterno, respeito, evangelização, a fraternidade?
"Veja que é muito interessante, que quando a
gente debate qualquer tema histórico, que nós nos reportemos àquela data. Se
você tá dizendo, por exemplo, a partir da metade dos 1.500, a chegada deles na
América, no início no mundo luso, depois no mundo espanhol, é preciso
compreender o conjunto das pressões e da diferença dos jesuítas com relação às
outras Ordens. Os jesuítas são todos formados por Loyola, a partir da ideia do
trabalho, de suar, de ir e ajudar aquela sociedade a se desenvolver, a gerar
riqueza, e tudo mais. Então, aí está centralmente a diferença do que eles
fazem. Já a partir da primeira Redução, da Paraquaria [conjunto do projeto
jesuítico do Paraguai, que vai desde a Bolívia e desce até o Uruguai, que
era o centro de toda essa macrorregião] que é essa ampla região, é a primeira
Redução, de 1609, toda a ideia era desenvolver a produção, a economia daquele
lugar, auto sustentação, tirar obviamente os índios dessa vida de caça e de
pesca, e trazer eles para um setor urbano, que é a reducción, é
trazê-los para um ponto central aonde começasse a fazer urbanismo, onde
começasse a aprender a ler, a escrever, a fazer as contas, que é, centralmente
a educação na plenitude. Mas não só aquela das Letras, mas também a educação
dos fazeres, que é tornar - de acordo com a sua índole - marceneiro, o outro
pedreiro, o outro escultor, o outro músico, e o outro estancieiro, conforme a
índole de cada um.
Vista lateral da Redução de São Miguel Arcanjo |
Então veja, que a ação jesuítica nesse mundo
colonial, aonde - todos sabem disso – os europeus que vieram para cá vieram
para levar riquezas, o sonho era juntar ouro, prata e o que pudesse fazer, e
levar isso para suas famílias na Europa. Foi levado muita coisa, mas muitos,
muitos daqueles ficaram aqui, por essa macrorregião. Então desde o início, os
jesuítas foram anticoloniais, num projeto colonial. E aí vem essa
dicotomia importante, porque desde o início aqueles que queriam os índios como
escravos no mundo português - e no mundo espanhol não era diferente – com
as encomiendas (as encomendas), então os jesuítas sempre se
colocaram contra esse processo.
Assim foi contra o bandeirantismo, que matou cerca
de 600 mil guaranis naquele período. Não foi diferente no mundo espanhol, com
todas as encomendas e as grandes dificuldades, então é preciso compreender
isso. Era um cristianismo dos fazeres, que era isso que os jesuítas sempre
colocaram. Claro, que digamos um antropólogo, em 2021, vai dizer: “Mas mexeram na
cultura dos guaranis, eles eram do pajeísmo, eles eram da Opy, que
é a casa de reza guaranis”. Claro que sim, não tem dúvida nenhuma. Então essa é
a dicotomia. Mas veja, que por 1.600, final dos 1.500, início dos 1.600, 1.700,
a realidade dos fatos daquele período, era preciso ser um pouco duro, senão
você não galgaria aquilo que você queria, digamos, como um cristianismo de
ação. Então, é preciso compreender isso.
Eu sou um defensor absoluto da ação jesuítica. Acho
que eles foram fundamentais para a América, que nós conhecemos hoje. Eles foram
defensores dos guaranis, das suas liberdades, das suas ações, então eu faço
sempre a defesa e sempre volto pro passado, porque é bom lembrar em que época
da humanidade nós estamos falando, o que estava acontecendo na Europa, mesmo
dentro da Igreja. Então é muito importante que a gente sempre pense sobre o
passado quando a gente quer, e pensar dos fatos, as coisas que estavam
acontecendo naquele momento no mundo, e as decisões necessárias de quem tá na
liderança desses processos de mudança. Então, eu acho que os jesuítas fizeram o
melhor possível para aqueles tempos. Por exemplo, os guaranis, quando os
primeiros contatos, foram no neolítico, na Idade da Pedra Polida. Então, como
lidar com esse povo, como ser amoroso, como ensinar as profissões.... Digamos
nós dois, por exemplo, sendo jesuítas e chegar em um 3 de maio de 1626 aqui,
passando o Rio Uruguai, como você lida com aquela gente do neolítico ali,
muitos antroprófagos. Então, como que você trabalha tudo isso? E eles foram, eu
acho, que muito sábios em lidar com tudo isso e foram extraordinários na ação
que fizeram, e tanto que arrumaram tantos inimigos, porque eles cresceram
tanto, se desenvolveram tanto...
Quando Montesquieu chama de “primeiro Estado
industrial da América”, é porque de fato eles conseguiram - por exemplo aqui em
São João Batista, e que é muito próximo aqui onde eu estou falando - a primeira
fundição de aço da América! E quem eram os jesuítas que vieram? O Antônio Sepp
von Rechegg. Era um príncipe, o pai dele era o rei de Kaltern –
naquele tempo era o sul da Áustria. Então, João Batista Prímoli, um dos
principais arquitetos do Barroco daquele período aí em Milão. Quer dizer, era
esse tipo de gente que veio para cá, altissimamente preparadas, estudantes das
melhores universidades da Europa e que deram sua vida exatamente para o
desenvolvimento de um cristianismo muito redivivo aqui na América."
*José
Roberto de Oliveira é de Santo Ângelo (RS), engenheiro de formação, na área da
Topografia e Cartografia; foi por longo tempo docente na URI (Universidade
Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões); diretor de desenvolvimento
do Turismo no Rio Grande do Sul; um dos fundadores do Ministério do Turismo;
criador em 2012, junto com os jesuítas, mais argentinos e paraguaios, da “Nação
Missioneira”; foi criador do Circuito Internacional Missões Jesuíticas e
representante brasileiro no Mercosul, também em função de seu envolvimento no
tema das Missões.
Vatican News