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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

Qual é a origem da Quaresma?

Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

Dentre todas as solenidades cristãs, o primeiro lugar é ocupado pelo mistério pascal, porque devemos nos preparar para vivê-lo convenientemente. Por isso, foi instituída a Quaresma, um tempo de 40 dias para chegarmos dignamente à celebração do Tríduo Pascal.

A Quaresma, como prática obrigatória, foi instituída no século IV, mas, desde sempre, os cristãos se preparavam para a Páscoa com oração intensa, jejum e penitência. O número de 40 dias tem um significado simbólico-bíblico: 40 são os dias do dilúvio, da permanência de Moisés no Monte Sinai, das tentações de Jesus. Guiados por esse tempo e pelas práticas – como que guiados por uma bússola –, buscamos os tesouros da fé para crescer no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

“Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo” (Cf. Joel 12, 12-13).

Quaresma é tempo de conversão e penitência

Este tempo de 40 dias foi inspirado numa grande catequese que a Igreja primitiva realizava. Ela durava 40 dias, tempo em que os pagãos (catecúmenos) se preparavam para receber o batismo no Sábado Santo, dentro da Solenidade da Vigília Pascal. Acompanhavam também os irmãos que tinham cometido pecados graves para retornarem à fé. Esse tempo era marcado pela penitência e oração, pelo jejum e escuta da Palavra de Deus. Eles eram os “penitentes”, os quais renovavam a fé e recebiam o batismo ou eram reintegrados à comunidade no Sábado Santo.

Na Quarta-feira de Cinzas, iniciamos o tempo mais rico e profundo da liturgia. Na verdade, esse tempo, que abrange a Quaresma, a Semana Santa e Páscoa até o Pentecostes, é um grande retiro, centro do Mistério de Cristo e da nossa fé e salvação. Tempo privilegiado de conversão e combate espiritual, de jejum medicinal e caritativo. A Quaresma ainda é, sobretudo, tempo de escuta da Palavra de Deus, de uma catequese mais profunda que recorda aos cristãos os grandes temas batismais em preparação para a Páscoa.

Toda a nossa vida se torna um sacrifício espiritual, que apresentamos continuamente ao Pai, em união com o sacrifício de Jesus sofredor e pobre, a fim de que, por Ele, com Ele e n’Ele, seja o Pai em tudo louvado e glorificado. Por isso, a Quaresma é um caminho bíblico, pastoral, litúrgico e existencial para cada cristão pessoalmente e para a comunidade cristã em geral, que começa com as cinzas e termina com a noite da luz e do fogo, a noite santa da Páscoa da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Vamos refletir sobre os rumos de nossa espiritualidade até a Páscoa de Nosso Senhor Jesus, ou seja, a vida nova que o Ele tem para nós, os exercícios quaresmais de conversão. A liturgia da Quarta-feira de Cinzas manda proclamar o Evangelho em que Nosso Senhor fala sobre esmola, oração e jejum, conforme Mateus 6,1-8.16-18.

por Pe. Luizinho

Portal Canção Nova

Santo Onésimo

S. Onésimo | ArqSP
Onésimo era o nome do escravo de um importante e rico cidadão chamado Filemon que viveu na Frígia, atual Turquia, na Ásia Menor. Filemon, sua esposa e filho, em certa ocasião ouvindo o apóstolo Paulo se converteram, tocados pela palavra de Cristo. Paulo batizou a toda a família e os dois se tornaram amigos. Este escravo, cujo nome em grego significa útil, roubou dinheiro de seu amo. Assim, temendo ser castigado resolveu fugir.

O castigo para os escravos recapturados era ter a letra "F" marcada em brasa na testa e para os ladrões era a morte. Por isto foi para Roma onde deve ter cometido alguma infração, pois foi preso e algum tempo depois libertado. No cárcere conheceu o apóstolo Paulo que mais uma vez era prisioneiro dos romanos. Ouvindo sua palavra, o escravo foi tocado pela Paixão de Cristo e se arrependeu. Procurando o apostolo, confessou sua culpa e foi perdoado. Assim, Onésimo se converteu e recebeu o batismo do próprio Paulo, que o enviou de volta para o também amigo Filemon com uma carta.

Nela, o santo apóstolo explicou que estaria disposto a pagar em dinheiro pelo erro do escravo, caso Filemon não o perdoasse, pois estava convencido de que Onésimo estava mudado e se emendara completamente. Narrou a sua conversão e, inspirado pelo Espírito Santo escreveu: "Venho suplicar-te por Onésimo, meu filho, que eu gerei na prisão. Ele outrora não te foi de grande utilidade, mas agora será muito útil, tanto a mim como a ti. Eu envio-o a ti como se fosse o meu próprio coração....Portanto, se me consideras teu irmão na fé, recebe-o como a mim próprio". (Fm 18 e 19)

Sabedor da sinceridade e do poder que Paulo tinha para fazer pessoas se converterem à vida cristã, para dali em diante viverem na honestidade e na caridade, Filemon perdoou Onésimo. Depois, deu total apoio ao seu ex-escravo que passou a trabalhar com a palavra e também com seu próprio exemplo.

Onésimo ficou muito ligado ao apóstolo Paulo, que o enviou à cidade de Colossos como evangelizador. Depois foi consagrado bispo de Efeso, onde substituiu Timóteo. Durante sua missão episcopal, a fama de suas virtudes ultrapassou os limites de sua diocese. Segundo uma tradição antiga, na época do imperador Domiciano foi preso e levado a Roma, onde morreu apedrejado, como mártir cristão.

Embora este acontecimento não tenha total comprovação, a Igreja incluiu Santo Onésimo entre seus santos, porque são fortes os indícios de que seja realmente um mártir do cristianismo dos primeiros tempos.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br
Arquidiocese de São Paulo

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Os Movimentos pela pobreza na Idade Média

DocPlayer.net
por Prof. Felipe Aquino

Nos séculos XII e XIII houve um grande crescimento do poder temporal da Igreja. O prestígio do papa era imenso no campo político e havia riqueza e luxo espalhados na Europa. E tudo isso invadia os bispados e aos mosteiros.

Com a intenção de enfrentar esse problema houve duas correntes opostas, uma que se desviou e se tornou herética, porque se revoltou não só contra o luxo que havia na Igreja, mas contra a própria Igreja. E houve outra corrente, a dos mendicantes; essa era saudável e fiel a Igreja.

O grande erro dessa corrente desviada é que não soube distinguir entre o luxo e o que havia de essencial: a Igreja. Caíram no erro de “jogar fora a água suja da bacia junto com a criança que havia tomado banho”. Nessa corrente fazem parte, entre outros, os cátaros e os valdenses; o que tornou-se um dos motivos para a Inquisição.

Os cátaros ou albigenses ou bugros, como já vimos, eram dualistas, maniqueístas. Admitiam um Princípio mau, criador da matéria, que se manifestou no Antigo Testamento; e um Princípio bom, que criou os espíritos e se manifestou no Novo Testamento. Afirmavam que o Princípio mau conseguiu seduzir parte dos espíritos celestes, que foram encarcerados em corpos humanos e aqui precisariam de Redenção.

O Redentor foi Cristo, Espírito superior aos anjos e subordinado a Deus, que morreu apenas em aparência (docetismo). Por isso, os cátaros rejeitavam tudo o que fosse material: o aparato visível da Igreja, o sacerdócio e a hierarquia, os sacramentos, o casamento, os altares, as imagens, as relíquias. Além disso, o juramento, a guerra e a própria autoridade civil. Alguns praticavam a “endura”, isto é, deixar-se morrer de fome ou fazer-se matar pelos próprios parentes. Assim, eles destruíam não somente a Igreja, o espiritual, mas também a sociedade civil e a autoridade. Isto gerou uma revolta popular contra os hereges, e provocou duzentos anos depois a Inquisição, em 1231.

Os valdenses tiveram sua origem por um grupo de seguidores fundado por um rico comerciante Pedro Valdes ou Valdo, de Lião, França. Lendo a Bíblia, distribuiu o que possuía no ano de 1176 e começou a peregrinar, pregando a penitência. Reuniram-se então, homens e mulheres, que enviados por ele, realizavam pregações. Eram chamados “os Pobres de Lião”. Como realizavam as pregações sem a permissão do bispo de Lião, e, além disso, criticavam o clero, foram proibidos de realizar tais práticas. Recorreram, porém, ao Concílio do Latrão III (1179), que lhes permitiu pregar, mas desde que tivessem mandato episcopal.

Os valdenses não se sujeitaram a esta cláusula, de modo que foram excomungados. Passaram então a viver escondidos e procurando adeptos. Proferiam votos de pobreza, obediência e castidade e submeteram-se aos bispos, presbíteros e diáconos ordenados por Valdes. Obedeciam somente a Bíblia, que eles traduziam para o vernáculo. Negavam o culto aos Santos, os sufrágios pelos defuntos; tornaram-se muito atuantes, expandindo-se para a Alemanha, a Boêmia, a Polônia, a Hungria… No século XVI os Valdenses da Lombardia anexaram-se ao Calvinismo e subsistem até hoje em pequeno número.

Outro movimento foi o “Joaquimismo”, e deve-se a Joaquim de Fiore (†1202). Em fins do século XI, foi um abade cisterciense, muito penitente. Autor de uma teoria sobre a história do mundo e da Igreja, dizia que haveria três fases na história: a era pré-cristã seria a do Pai, idade da letra, da carne, dos casados e dos leigos; a era cristã seria a do Filho, intermediária entre a carne e o espírito; seria a época dos clérigos, que duraria 42 gerações de 30 anos cada qual (cf. Mt 1,17). E, por fim, terminado este período em 1260, viria a era do Espírito Santo e dos monges (carismáticos), sem clérigos nem sacramentos.

Estas ideias encontraram apoio na corrente dos Franciscanos Espirituais; estes proclamaram São Francisco como o novo legislador e profeta enviado por Deus, e os Franciscanos Espirituais como a Ordem dos tempos finais. As obras de Joaquim foram condenadas num Sínodo de Arles após 1263, mas o movimento joaquimista continuou. As teorias joaquimistas foram professadas por grupos de peregrinos que se flagelavam em público, por volta do ano 1260.

A eleição de um “papa angélico”, o eremita Pedro de Morone (Celestino V – 1294), foi em parte inspirada pelo Joaquimismo, e outros adversários dos papas do século XIV (Bonifácio VIII, João XXII…), que tinham as mesmas ideias. Joaquim de Fiore morreu amado por muitos dos seus contemporâneos, que o tinham na conta de profeta. Antes de falecer, sujeitou-se à Santa Igreja.

Outro movimento semelhante foi a Ordem dos Apóstolos ou dos lrmãos Apostólicos, fundada por Gerardo Segarelli. Foi rejeitado pela Ordem Franciscana, pois apresentava sintomas de uma mente doentia. Logo um pequeno grupo começou a segui-lo. Pregavam a pobreza agressivamente, anunciavam que o fim da Igreja estava próximo. Por necessidade, tiveram que se refugiar no monte Zebello, perto de Vercelli, Itália, donde saíam para saquear as fazendas vizinhas para o próprio sustento; viviam em comunhão de bens e de mulheres.

Houve também os Irmãos e Irmãs do Espírito Livre que afirmavam que quem estava unido a Deus, não pecava, quaisquer que fossem as suas ações; o que lhes permitia entregar-se às paixões. Consideravam a oração e os sacramentos inúteis e mesmo prejudiciais para os irmãos perfeitos. Vê-se claramente como a heresia gera um mal cada vez maior. Um abismo chama outro abismo (cf. Sl 41,8), diz o salmista.

A corrente que defendia a pobreza na Igreja, de maneira correta, sem se revoltar contra ela foi a dos reformadores mendicantes, que souberam manter-se fiéis à Igreja, embora combatessem o seu luxo. Entre estes estão São Francisco de Assis (1182-1226) e São Domingos de Gusmão (1170-1221), além de Roberto de Arbrissel (†1117), fundador da Ordem de Frontevault, e São Norberto de Xanten (†1134), fundador da Ordem Premonstratense.

Houve um movimento chamado Patária, que teve origem na segunda metade do século XI na Lombardia, especialmente em Milão. A Patária (do milanês patta = trapo; donde pattari = trapeiros), congregava o povo simples contra a rica nobreza e o alto clero a ela aparentado. Apregoavam a pobreza, tendo em vista especialmente a simonia e o matrimônio dos clérigos, males frequentes na Lombardia. Foram os primeiros chefes do movimento os clérigos milaneses Arialdo, Landulfo e Anselmo, bispo de Lucca, que foi eleito Papa Alexandre II (1061-1073), precedendo São Gregório VII na luta contra as investiduras. Quando o Papado, sob Nicolau II, enviando o cardeal Hildebrando a Milão, este aliou-se à Pataria, favorecendo assim o movimento com um forte apoio. O Movimento conseguiu que o fraco arcebispo Guido se submetesse com o clero da catedral de Milão ao legado pontifício Pedro Damião e reconhecesse seus direitos eclesiásticos (1060). A história da Pataria daí em diante até a morte de Erlembaldo, cavaleiro irmão de Landulfo (1075) seguiu da mesma forma na luta contra a investidura leiga.

Retirado do livro: “História da Igreja – Idade Média”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

O limbo das crianças mortas sem Batismo

Shutterstock | Tiffany-Ratcliffe
por Vanderlei de Lima

Essa sentença – que é teológica, mas não de fé – tem sido repensada nos nossos dias.

Ensinou-se, desde o século XI, que as crianças mortas sem Batismo não eram merecedoras do céu nem do inferno, mas, sim, do limbo das crianças (assim chamado, a partir do século XIII, para distinguir do limbo dos pais, estado transitório no qual todos justos do Antigo Testamento aguardavam a redenção de Cristo). Essa sentença – que é teológica, mas não de fé – tem sido repensada nos nossos dias. Detalhemos a temática.

Deus criou o homem e a mulher e elevou-os à condição sobrenatural de filhos com os dons que acompanhavam tal condição: a imortalidade, a impassibilidade, a integridade e a ciência moral infusa (cf. Gn 1,27-31; 2,4-25). Entretanto, com o pecado original originante, o primeiro casal perdeu a filiação divina e os dons que a acompanhavam (cf. Gn 3,1-24). Deus, porém, não se deixou vencer pelo mal; prometeu que a descendência da mulher (Cristo) esmagaria a cabeça da serpente, símbolo do mal (cf. Gn 3,15). Diante dessa ocorrência, todos os seres humanos nascemos com o pecado original originado. Ele não é uma culpa pessoal, mas a carência da graça santificante e dos dons dela decorrentes. Somos, sem culpa alguma – por solidariedade –, herdeiros da desgraça dos primeiros pais. A princípio, parece difícil entender isso, mas este exemplo nos ajuda: “Imaginemos um pai de família que numa noite perde todos os seus bens numa jogatina de cassino; os filhos desse homem não têm culpa, mas hão de carregar as consequências (miséria, fome…) decorrentes do desatino de seu pai” (Dom Estêvão T. Bettencourt, OSB. Curso de Antropologia Teológica. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2017, p. 367). Contudo, pelo Batismo, somos elevados à dignidade de filhos adotivos (a de Nosso Senhor é física) de Deus (cf. Jo 3,5; Mt 28,19-20). Daí a diligência da Igreja para que os recém-nascidos sejam batizados sem demora (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1257).

Grande amor aos pequeninos

Certos dessa doutrina de fé, vem a questão: e as crianças mortas sem o Batismo que destino têm no além? – A resposta a esta pergunta variou ao longo do tempo. Santo Agostinho de Hipona († 430), influenciado por problemas teológicos de seu tempo, dizia que essas crianças – falecidas sem a graça santificante dada pelo Batismo – iam para o inferno (cf. Sermão 14,3; De peccatorum meritis 1,28) e lá sofriam penas muito suaves. A partir do século XI, passa-se a ensinar que as crianças mortas sem o Batismo não estariam condenadas, mas também não poderiam gozar da bem-aventurança celeste. Estariam no limbo (orla) das crianças, nome dado, no século XIII, ao estado definitivo desses pequeninos privados da graça batismal. Teriam aí uma felicidade natural e, nessa condição, veriam a Deus apenas com as forças humanas, sem o auxílio da graça divina que não receberam. Ora, desconhecendo a elevação sobrenatural, só poderiam se sentir muito venturosas nesse estado de felicidade meramente natural. Na ressurreição final, a alma de cada criança se uniria novamente ao corpo e este gozaria para sempre do mesmo destino da alma: o limbo (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de Novíssimos ou Escatologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1993, p. 79-81).

O que foi exposto no parágrafo anterior é uma sentença comum entre os teólogos, mas a Igreja – ainda que algumas vezes provocada – nunca a definiu como doutrina de fé (cf. Bettencourt, Op. cit., p. 82 e 86). Daí, hoje, teólogos pensarem diferente a respeito das crianças mortas sem Batismo. Sim, se somos solidários com o primeiro Adão, o pecador, o somos também – e muito mais – com o segundo Adão, que é Cristo, o Redentor (cf. Rm 5,12-21). Disso decorre, por lógica, que Nosso Senhor, autor do Batismo, não está preso a esse sacramento apenas no que toca ao destino eterno das crianças mortas sem recebê-lo. O Senhor – em seu amplo plano de salvação (cf. 1Tm 2,4) e grande amor aos pequeninos (cf. Mt 18,14) – tem, por Seus méritos, os meios ocultos necessários para salvar essas criancinhas a Ele confiadas pela oração universal da Igreja (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1261; Comissão Teológica Internacional. A esperança da salvação para as crianças que morrem sem Batismo. São Paulo: Paulinas, 2008). Frise-se, no entanto, que este é um parecer teológico, não doutrina de fé; logo, não isenta ninguém da grande responsabilidade de levar, o quanto antes, os recém-nascidos às águas do Batismo.

Eis o que, de momento, podemos dizer sobre essa discutida sentença teológica.

Aleteia

Luigi, o bebê que viveu só meia hora, mas mudou a vida de sua família

Martin Valigursky | Shutterstock
por Silvia Lucchetti

Os pais sabiam que ele não era um produto defeituoso, um amontoado de células deformadas. Ele era uma pessoa, uma vida a ser apreciada.

Ocanal de notícias italiano Il Sussidiario relatou recentemente o triste – mas extraordinário e comovente – testemunho de um avô sobre seu neto, o bebê que viveu só meia hora após o nascimento. O menino morreu de uma malformação congênita. No início da gestação, os médicos disseram que a anomalia era incompatível com a vida fora do útero.

E essa comovente história nos provoca uma reflexão sobre o valor da vida. A vida é preciosa, mesmo quando é tão frágil a ponto de parecer ao mundo indigna de afirmação e “supérflua”.

O testemunho do avô

Uma ultrassonografia realizada no terceiro mês de gestação detectou que o feto estava sofrendo de uma doença congênita fatal em um estágio inicial. Os pais, familiares e amigos próximos tiveram que encarar o fato de que a gravidez só poderia terminar com a morte do bebê.

A família chamava bebê de Luigi. O avô conta que sentiu uma forte dor, que se intensificava com o passar da gravidez, ao pensar no sofrimento de seu filho (o pai da criança) e da mãe, bem como dos quatro irmãos de Luigi.

Ao mesmo tempo, ele começou a reconhecer que a gravidez estava levando a algo inesperado. Deus estava ouvindo suas orações e uma transformação estava acontecendo, embora não fosse a cura que muitos esperavam. Escreveu o avô:

“Nessas semanas, reconheci em meu filho e em sua esposa uma fé viva, que vale a pena observar: a certeza de que a vida de seu Luigi … tem sentido e um destino cumprido … Aprender com seus próprios filhos é uma coisa nobre; realmente fazê-lo é uma experiência particular de plenitude e humildade.”

A tragédia

Os profissionais de saúde que conheceram os pais de Luigi durante os exames de gravidez ficaram surpresos, pois os pais tratavam o seu filho não nascido como uma pessoa.

Se você adotar essa perspectiva, tudo muda incrivelmente para melhor. O que parecia uma “tragédia” irreparável se transformou em um dom, o dom da vida, por mais breve que ela seja.

Luigi não era um produto defeituoso, um amontoado de células deformadas, um inconveniente inesperado a ser descartado. Ele era uma criança, uma pessoa, uma vida a ser apreciada. Uma flor que desabrocha apenas por um dia e não é menos bela, nem menos valorizada do que uma planta que desabrocha o ano todo.

Gratidão

Portanto, os pais e familiares esperaram por este nascimento não apenas com compreensível tristeza, mas também com gratidão pelo advento de uma nova vida. Essa chegada seria uma coisa linda e preciosa para a qual toda a família de Luigi estava preparada. O avô escreveu no Il Sussidiario que Luigi era:

“Um novo bebê que estava com muita pressa de voltar de onde veio, quase como um visitante que tinha muita vontade de nos cumprimentar e de nos trazer as saudações  Daquele que o enviou como um verdadeiro anjo, mesmo que apenas pela metade uma hora.”

A reação mais frequente das pessoas de fora da família era de espanto por eles decidirem levar a termo uma gravidez com um desfecho tão certo e triste. Era como se os pais tivessem que se justificar por não matar o filho no útero. As pessoas pareciam querer ouvir que ele cumpriria alguma expectativa ou teria um “futuro valioso”, como se sua breve existência dentro do útero e um tempo mais breve nos braços de seus pais não tivessem valor algum.

Chegada e partida

Os irmãos mais velhos de Luigi, Caterina, Stefano, Lucia e Francesco, estavam dormindo na casa dos avós quando ele nasceu, pouco antes da meia-noite. A videochamada de mamãe e papai os acordou para que eles pudessem conhecer o irmão mais novo. Ele respirava com dificuldade nos braços dos pais e estava prestes a morrer.

O avô e a equipe do hospital ficaram chocados com o que aconteceu a seguir: a mãe de Luigi, Maddy, convidou todos os irmãos de Luigi para cantarem juntos a oração ao anjo da guarda. Disse o avô:

“Foi um momento dramático para todos, mas também cheio de uma alegria estranha… Alguns minutos de êxtase… nos quais, além de chorar, compreendi que ninguém está isento deste amor que sempre pede mais pela sua própria natureza. Exige muito … mas lhe dá beleza e intensidade que você nunca seria capaz de criar sozinho, de inventar.”

A imagem destes irmãos, que acompanharam à distância o pequeno Luigi no seu caminho para o encontro com o Senhor, confiando-o ao seu anjo da guarda, enche o nosso coração de lágrimas. Mas são lágrimas de esperança, na certeza da ressurreição.

“Onde, ó morte, está a sua vitória?”

Aleteia

Em um dia como hoje, Pio XI inaugurou a Rádio Vaticano há 90 anos

Papa Pio XI na inauguração da Rádio Vaticano.
Foto: © Vatican Media / ACI Prensa
12 de fevereiro

Vaticano, 12 fev. 21 / 11:51 am (ACI).- Em 12 de fevereiro de 1931, exatamente às 16h30, o Papa Pio XI inaugurou a Rádio Vaticano pronunciando diante de seus microfones, em latim, a primeira mensagem pontifícia de rádio da história, na presença do inventor da rádio e realizador da emissora, o cientista italiano Guilherme Marconi.

Portanto, hoje completa 90 anos desde a primeira transmissão de rádio de um Papa e o início das emissões da rádio do Vaticano.

Além de Marconi, também estavam presentes na inauguração o então Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Eugênio Pacelli, que 8 anos depois se tornaria o Papa Pio XII; e o sacerdote jesuíta Giuseppe Gianfranceschi, primeiro diretor da Rádio Vaticano.

Por ocasião dos 90 anos da rádio vaticana, começa nesta sexta-feira a ser transmitida através de uma rádio web. O projeto será realizado inicialmente em italiano, francês, inglês, espanhol, português, alemão e armênio, mas o Dicastério para a Comunicação prevê que durante o ano “sejam criados quase 30 horários de programação ao vivo correspondentes a outros tantos idiomas que poderão ser escutados tanto no site da rádio como através do app atual da Rádio Vaticano”.

https://youtu.be/jfqn_QwqNtE

Foi o próprio Marconi quem anunciou a mensagem do Papa Pio XI, pronunciada em latim, cuja primeira parte estava dirigida a toda a criação:

“Sendo, pelo misterioso desígnio de Deus, Sucessores do Príncipe dos Apóstolos, isto é, daqueles cuja doutrina e pregação por ordem divina é destinada a todos os povos e a toda criatura (Mt 28, 19; Mc 16, 15), e podendo nos valer por primeiro desta admirável invenção de Marconi, Nos dirigimos antes de tudo a todos os homens, dizendo-lhes, aqui e agora, com as mesmas palavras da Sagrada Escritura: ‘Estai atentos, ó céus, eu vou falar. E a terra ouça as palavras de minha boca'”.

Dirigindo-se depois aos aflitos e perseguidos, o Papa Pio XI exprimiu o seu desejo de que “a nossa palavra chegue quando estiverem doentes, na dor, nas tribulações e nas adversidades, especialmente a vocês que padecem tais coisas por parte dos inimigos de Deus e da sociedade humana”.

“Enquanto oferecemos nossas orações por vocês e, na medida do possível, a nossa ajuda, enquanto os confiamos à caridade de todos, dizemos-lhes em nome de Cristo, a quem representamos: ‘Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei’”.

A Rádio Vaticano ganhou muita influência durante a Segunda Guerra Mundial. Começou a transmitir em nove línguas e se tornou um dos poucos meios de comunicação que superavam a censura da época, além de difundir mensagens de familiares que buscavam pessoas desaparecidas ou prisioneiros que estavam em campos de concentração.

Agora, a Rádio Vaticano transmite sua programação em 40 idiomas e em seus estúdios trabalham jornalistas de até 60 países.

A Rádio Vaticano faz parte atualmente da nova estrutura comunicativa denominada Vatican News, razão pela qual está imersa em um processo de reestruturação em vista da unificação dos meios de comunicação da Santa Sé.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Missões Jesuíticas, a realização de uma grande utopia

Igreja São Miguel Arcanjo (Foto: José Carlos de Oliveira)

"Eu sou um defensor absoluto da ação jesuítica. Acho que eles foram fundamentais para a América, que nós conhecemos hoje. Eles foram defensores dos guaranis, das suas liberdades, das suas ações (...). Quando Montesquieu chama de “primeiro Estado industrial da América”, é porque de fato eles conseguiram (...) a primeira fundição de aço da América", disse ao Vatican News, o pesquisador gaúcho José Roberto de Oliveira.

Jackson Erpen – Vatican News

O Rio Grande do Sul abriga o único Patrimônio Mundial da UNESCO do sul do país, a Igreja de São Miguel Arcanjo, localizada no município de São Miguel das Missões.

Até o Tratado de Madri, assinado em 13 de janeiro de 1750, a região onde hoje se encontra o Rio Grande do Sul - e na época os Sete Povos das Missões - pertencia à Coroa espanhola, que com a permuta da Colônia do Sacramento, no Uruguai, passou à Coroa portuguesa.

A Redução jesuítica de São Miguel fazia parte de um amplo projeto iniciado ainda em 1609, com a primeira redução, San Ignácio Guazú, onde hoje é o Paraguai.

Um grande grupo de pesquisadores vem trabalhando já há alguns anos para reconstruir em detalhes essa rica história, também marcada por dicotomias. E à medida que as pesquisas avançam, descobrem o quanto ainda tem a ser descoberto em todo esse processo.

Esse grande “projeto de fraternidade” protagonizado pelos jesuítas com os guaranis, foi considerado como a realização de uma grande utopia, inspirando escritores como Voltaire, Charles Montesquieu, Ludovico Antonio Muratori, Charlevau, entre outros. Segundo o pesquisador e escritor José Roberto Oliveira*, “os próprios Jesuítas chegaram a dizer que foi a verdadeira realização do cristianismo”.

Para o pesquisador de Santo Ângeloé importante conhecer a história, também para compreender "a formação dos povos posteriores e que hoje correspondem aos pobres dessa macrorregião, não só da parte brasileira, mas também da argentina, paraguaia". 

E neste caminho de juntar as pedras para recompor o mosaico do passado, José Roberto realizou nesses dias um antigo sonho, ao percorrer locais que guardam verdadeiros tesouros ainda desconhecidos para muitos, como inscrições rupestres de milhares de anos, capelas e uma magnífica imagem de São Martinho. “São achados que nós estamos fazendo, exatamente recompondo essa história reconhecida mundialmente”, declarou ele na entrevista ao Vatican News:

“Inicialmente eu saí de Santo Ângelo, aqui onde eu vivo, aqui ao lado da Catedral, aqui em Santo Ângelo, saí até São Miguel, e em São Miguel, onde é o Patrimônio Cultural da Humanidade - o único Patrimônio Cultural da Humanidade do sul do Brasil – então já encaminhando, digamos, pelo velho caminho das Estâncias Missioneiras. Ali tem inicialmente um primeiro rio, que é o Rio Piratini, do outro lado já visitei algumas pequenas estâncias, inclusive propriedades hoje, que são pessoas amigas. Então eu dormi no primeiro dia no lugar que se chama São João, antiga Vila Seca, e depois no outro dia de manhã, já segui paralelo ao Rio Inhacapetum, que é um rio que divide São Miguel com a região de Santiago, Bossoroca - e é exatamente buscando esses locais aonde existiam essas grandes Estâncias Missioneiras, e que foram muito importantes. O conjunto das Estâncias, só a de São Miguel, tinha mais um milhão de cabeças de gado, na sua plenitude, digamos no seu momento maior.

Daí me encontrei com outros pesquisadores, que vieram do Sul, e que conheciam muito aqueles caminhos, o Chico Sosa e o Jânio Rosalino, aonde daí fomos descendo já em municípios como Tupanciretã, e aos pouquinhos, então, buscando essas localizações, toda essa hidrografia, que a gente conseguiu mapas em Madrid, com os jesuítas, e que também tinham me levado a escrever este último livro, que foi lançado agora há 30 dias, que é o relatório da Guerra Jesuítica-Guarani, escrito pelos jesuítas, que é o padre Heinz, então com informações muito precisas, dos lugares, de cada estância, de cada Capela, então a gente está buscando exatamente esse conjunto, vamos dizer, de edículas, nesse macro território ao sul.

Inscrições nupestres na Estância Ganabeira,
região de Itacoatiá, São Pedro do Sul

Então desde o início, digamos, de São Miguel, descendo, nós temos cerca de 500 quilômetros onde já é o início da República Oriental do Uruguai de hoje. Então veja, toda essa territorialidade, era Estância jesuítica de São Miguel, e ao lado, Estância de São Luis, de São Lourenço, de São Nicolau, de Santo Ângelo. Então, o conjunto do Rio Grande daquele período, estava praticamente tomado pelo projeto Jesuítico-Guarani. As Missões já tinham 113 anos quando funda a cidade de Rio Grande, que é a primeira entrada dos portugueses no amplo território. E a partir disso, depois, daí vem toda a degladiação, as guerras, os tratados. E é exatamente em cima desse conjunto todo, é que nós estamos procurando hoje, cartografar, marcar essas divisões, e comparando, obviamente, com os mapas - hoje nós temos satélite, que facilita muito - mas obviamente sempre comparando com as centenas de mapas daquele período histórico-cultural.

Dentro desse roteiro, tinham estâncias muito interessantes. Por exemplo, existe um lugar ali que se chama Itacoatiá, em São Pedro do Sul, que tem inscrições rupestres milenares da presença humana na região. Coisas de 5000, 6000, 7000 anos anteriores e que estão lá no lugar chamado Pedra Grande. Paralelamente a isso, por exemplo, no município de Mata - que também pertencia ao mesmo conjunto dessas estâncias, e que hoje é um município - ali tem, por exemplo, aquelas árvores petrificadas, e todo um levantamento paleontológico, da presença de vida naquela região há 250 milhões de anos. Então é muito interessante, é um dos lugares raros do mundo, aonde desde dinossauros e outros animais pré-históricos, bem paleontologia mesmo, e além dessas árvores que são bastante interessantes e que estavam exatamente no meio dessas estâncias.

Então, outros lugares como Jari, um conjunto importante de capelas daquele tempo, que nós estamos - algumas a gente não encontra, outras sinais muito relativos - então estamos cartografando todo esse processo.

E depois lá embaixo, toda a base importante do Rio Ibicuí, todo o conjunto de suas nascentes ali, o Jaguari, o Toropi, e que nascem todos dentro dessas circunstâncias que a gente tá falando.

Uma rara imegem de São Martinho,
que remonta à presença jesuíta

Há capelas muito importantes, como San Javier - a principal San Javier daquele período era uma capela que inclusive nos mapas consta como uma edícula maior, essa nós ainda não encontramos, mas ontem eu estive na região de São Vicente do Sul, que é um município que está muito próximo do rio Jacuí – então é um conjunto muito importante, digamos, de elementos – naquela base Jacuí, Ibicuí – que nós estamos hoje trabalhando, pesquisando e encontrando e cartografando.

Então há muitas coisas dentro dessa região toda. Encontramos uma imagem de São Martinho, uma das mais belas...! Quando os jesuítas foram expulsos em 1768, eram cerca de 1535 peças, grandes, que estão no inventário dos jesuítas, que eles entregaram esse inventário quando eles foram expulsos para Europa. E uma das peças que nós não conhecíamos, foi uma peça maravilhosa e magnífica encontrada numa ermida que está lá naquela região de São Pedro. Então são achados que nós estamos fazendo, exatamente recompondo essa história reconhecida mundialmente, por exemplo, Voltaire, chamou de “Triunfo da humanidade”, Montesquieu chamou de “primeiro Estado industrial da América”. Então esse processo todo que a gente está encontrando - e com grupo muito grande de pesquisadores - hoje somos mais de 200 pesquisadores que estão trabalhando num grande projeto, são elementos fundantes, digamos, para o futuro. Tenho perguntado para nossa gente, como será isso daqui a 500 anos - porque nós estamos passando por um tempo - e como será num tempo futuro? Hoje nós estamos a 265 anos da morte, por exemplo, do Sepé Tiarajú, no final da Guerra Guaranítica, em 7 de fevereiro de 1756, é a data da matização do Sepé, que agora já é Servo de Deus da Igreja. Então é importante todo esse processo para compreendermos a magnitude, a grandeza, do que foi o início da cristianização aqui na América através dos jesuítas, junto aos guaranis.

Sepé Tiaraju, símbolo dos nativos da América

Sepé Tiaraju foi o líder da Guerra Guaranítica, que é na verdade o primeiro ato libertário da América, antes de Bolívar, antes de San Martín, antes de Tiradentes que, digamos, foi um grito de liberdade na parte portuguesa, e os outros na parte espanhola. Sepé Tiaraju, então, entre 1753 é o “Essa terra tem dono” dele, o grito dele de liberdade quando já demarcavam o Tratado de Madri, que trocava a Colônia de Sacramento - que fica lá na foz do Rio Uruguai, numa construção Portuguesa - e trocava ela, entregando os Sete Povos das Missões - que é essa grande parte do Rio Grande do Sul, que é no sul do Brasil - então entregava os portugueses e em troca a Colônia de Sacramento iria para o mundo espanhol. Então o Sepé Tiaraju se coloca contra isso, diz que aquela nação missioneira, que ele põe essa ideia, que ela era livre, que ela poderia se independer, e os índios lutam contra os dois maiores exércitos do mundo daquele momento. Então foi uma coisa gigante, uma guerra muito importante e que durou, na verdade então, inicia essa contraposição em 1753, mas em 54 aqueles dois grandes exércitos se unem e demandam contra os guaranis. Em 55, então, continua com as grandes lutas e em 56, 1756, no dia 7 de fevereiro Sepé Taraju é martirizado, eles já estavam do lado de cá, vamos assim do Vacacaí, ali onde é São Gabriel hoje e ali então ele é martirizado. Matam ele com uma lança, um tiro de Espanha, a lança portuguesa, tiro de Espanha, e daí vem o processo de martírio do Sepé - que é o que tá rodando aí no Vaticano o pedido de canonização do Sepé - põe fogo nele com pólvora, e ainda, o último documento agora que mostra que cortam a cabeça, a decapitação do Sepé, e enterram ele, os seus à noite desenterram, e levam ele.

Então Sepé é o grande líder desse processo todo, junto, integrando as várias Reduções, exatamente nessa demanda contra esses dois maiores exércitos daquele período. Então, ele é um herói Rio-grandense. Ele também é herói da Pátria brasileira, é o primeiro indígena herói da Pátria do Brasil, junto com Dom Pedro I, com Tiradentes, com os grandes heróis pátrios nossos do país. Sepé Tiaraju desde 2009, ele é da pátria brasileira, e ele é uma espécie de símbolo desse mundo nativo, nosso, que nós temos no Rio Grande do Sul, nesse mundo gaúcho, como alguém que pode, que tem forças, que tem vontade, que é líder o suficiente, um cristão líder, contra essas forças exógenas, então é um verdadeiro símbolo, e um símbolo também de todos os indígenas da América. Ontem [7 de fevereiro] foi um dia de orações, encontros em vários lugares, Missas, os próprios jesuítas que retornaram às Missões. Agora em São Miguel remos jesuítas de novo lá na Paróquia, e que também estão trabalhando em toda a região, rezando Missa em homenagem ao Sepé Tiaraju, agora o Servo de Deus Sepé Tiaraju, então é, digamos, uma imagem, é um cheiro muito importante dentro dessa luta social em toda a América, mais do que Rio Grande do Sul, Brasil. O Sepé Taraju, hoje, é uma espécie de símbolo dos nativos da América com relação a essas forças exógenas, que sempre fizeram de tudo para ficar com a terra, para ficar com as riquezas, e levarem ela embora. Então o Sepé é um símbolo de contraposição.

https://youtu.be/GWQOYcvcp10

Redução de São Miguel Arcanjo em 3D (Montagem sobre vídeo produzido pela Unisinos para material didático sobre as  Missões Jesuísticas, com trilha sonora cantada pelo Coral Unisinos)

Os pobres dessa macrorregião, descendentes daquela história

Mas veja que é muito importante compreender que a Guerra Guaranítica, apesar da grandiosidade dela, ela matou uns 13 mil indígenas somente. Tem um dia, que é o dia 10, que é o dia que morrem 1500 dos principais na Batalha de Caiboaté. Mas anteriormente, entre refregas diversas, digamo somando tudo dá uns 3.000. Aí vem uma pergunta fundamental, que é um dos livros que escrevi, que é um pedido de perdão ao Triunfo da humanidade: “aonde estão os índios então?”, se não morreram tantos assim na Guerra Guaranítica.

Os índios, aqueles que eram reduzidos, os que já estavam cristianizados, todos eles eram profissionais, da marcenaria, fundidores, músicos, outros peões de estância - aqueles que cuidavam daqueles milhões de cabeças de gado - então esta gente toda não voltou mais a ser indígena. Eles passaram a fazer parte daquele mundo intermediário entre os europeus que foram chegando, e foram ganhando do Império as terras aqui na macrorregião, e aqueles indígenas que, já cristianizados há cerca de 159 anos, toda a experiência missional jesuítica-guarani, aquela gente toda foi fazer parte, digamos, nós temos documentos por exemplo mostrando, que muitos foram trabalhar em Buenos Aires como marceneiro, pedreiro, escultor, e obviamente se espalharam também pelas instâncias do Rio Grande, pelas Charqueadas depois, e tudo mais. Então as grandes lutas, por exemplo as grandes refregas posteriores, como a Revolução Farroupilha, tinham muitos descendentes desses indígenas, que ficaram espalhados pelo amplo território.

Então, isso é muito importante, para compreender também a formação dos povos posteriores e que hoje corresponde aos pobres dessa macrorregião, não só da parte brasileira, mas também da parte argentina, paraguaia. Os pobres dessa macrorregião, são descendentes daquela história, e por isso que é tão importante a gente contar essa história do ponto de vista da realidade. Por quê? Para que as pessoas também tenham uma auto estima de que elas são importantes, que o cristianismo é um construto de muitas centenas, de muitos séculos nessas famílias, e que obviamente os direitos – que é um outro debate importantíssimo – elas têm todo direito sobre o meio, sobre as riquezas dessa ampla região, sobre a empregabilidade dessa ampla região, e isso é fazer um cristianismo redivivo, como o Cristo tinha dito. Então, que as pessoas tinham que ter direitos iguais, deveria ter fraternidade, amor uns aos outros, perdão uns aos outros, que é o centro do cristianismo."

Jesuítas foram anticoloniais, num projeto colonial

Em 1986 foi lançado o filme The Mission, do diretor Roland Joffé, com trilha do compositor italiano Ennio Morricone, falecido recentemente. O filme, de certa maneira, retrata a questão das potências coloniais envolvidas, um pouco da realidade do trabalho dos jesuítas. Há várias leituras em relação à presença dos jesuítas, que chegaram ao continente americano metade do século XVI. Algumas dessas leituras reconhecem o esplêndido trabalho realizado junto aos indígenas, mas também há leituras que veem os jesuítas como a serviço dos colonizadores. Como pesquisador, com teu conhecimento, qual a tua leitura em relação ao trabalho dos jesuítas, já que falavas de amor fraterno, respeito, evangelização, a fraternidade?

"Veja que é muito interessante, que quando a gente debate qualquer tema histórico, que nós nos reportemos àquela data. Se você tá dizendo, por exemplo, a partir da metade dos 1.500, a chegada deles na América, no início no mundo luso, depois no mundo espanhol, é preciso compreender o conjunto das pressões e da diferença dos jesuítas com relação às outras Ordens. Os jesuítas são todos formados por Loyola, a partir da ideia do trabalho, de suar, de ir e ajudar aquela sociedade a se desenvolver, a gerar riqueza, e tudo mais. Então, aí está centralmente a diferença do que eles fazem. Já a partir da primeira Redução, da Paraquaria [conjunto do projeto jesuítico do Paraguai, que vai desde a Bolívia e desce até  o Uruguai, que era o centro de toda essa macrorregião] que é essa ampla região, é a primeira Redução, de 1609, toda a ideia era desenvolver a produção, a economia daquele lugar, auto sustentação, tirar obviamente os índios dessa vida de caça e de pesca, e trazer eles para um setor urbano, que é a reducción, é trazê-los para um ponto central aonde começasse a fazer urbanismo, onde começasse a aprender a ler, a escrever, a fazer as contas, que é, centralmente a educação na plenitude. Mas não só aquela das Letras, mas também a educação dos fazeres, que é tornar - de acordo com a sua índole - marceneiro, o outro pedreiro, o outro escultor, o outro músico, e o outro estancieiro, conforme a índole de cada um.

Vista lateral da Redução de São Miguel Arcanjo

Então veja, que a ação jesuítica nesse mundo colonial, aonde - todos sabem disso – os europeus que vieram para cá vieram para levar riquezas, o sonho era juntar ouro, prata e o que pudesse fazer, e levar isso para suas famílias na Europa. Foi levado muita coisa, mas muitos, muitos daqueles ficaram aqui, por essa macrorregião. Então desde o início, os jesuítas foram anticoloniais, num projeto colonial. E aí vem essa dicotomia importante, porque desde o início aqueles que queriam os índios como escravos no mundo português - e no mundo espanhol não era diferente – com as encomiendas (as encomendas), então os jesuítas sempre se colocaram contra esse processo.

Assim foi contra o bandeirantismo, que matou cerca de 600 mil guaranis naquele período. Não foi diferente no mundo espanhol, com todas as encomendas e as grandes dificuldades, então é preciso compreender isso. Era um cristianismo dos fazeres, que era isso que os jesuítas sempre colocaram. Claro, que digamos um antropólogo, em 2021, vai dizer: “Mas mexeram na cultura dos guaranis, eles eram do pajeísmo, eles eram da Opy, que é a casa de reza guaranis”. Claro que sim, não tem dúvida nenhuma. Então essa é a dicotomia. Mas veja, que por 1.600, final dos 1.500, início dos 1.600, 1.700, a realidade dos fatos daquele período, era preciso ser um pouco duro, senão você não galgaria aquilo que você queria, digamos, como um cristianismo de ação. Então,  é preciso compreender isso.

Eu sou um defensor absoluto da ação jesuítica. Acho que eles foram fundamentais para a América, que nós conhecemos hoje. Eles foram defensores dos guaranis, das suas liberdades, das suas ações, então eu faço sempre a defesa e sempre volto pro passado, porque é bom lembrar em que época da humanidade nós estamos falando, o que estava acontecendo na Europa, mesmo dentro da Igreja. Então é muito importante que a gente sempre pense sobre o passado quando a gente quer, e pensar dos fatos, as coisas que estavam acontecendo naquele momento no mundo, e as decisões necessárias de quem tá na liderança desses processos de mudança. Então, eu acho que os jesuítas fizeram o melhor possível para aqueles tempos. Por exemplo, os guaranis, quando os primeiros contatos, foram no neolítico, na Idade da Pedra Polida. Então, como lidar com esse povo, como ser amoroso, como ensinar as profissões.... Digamos nós dois, por exemplo, sendo jesuítas e chegar em um 3 de maio de 1626 aqui, passando o Rio Uruguai, como você lida com aquela gente do neolítico ali, muitos antroprófagos. Então, como que você trabalha tudo isso? E eles foram, eu acho, que muito sábios em lidar com tudo isso e foram extraordinários na ação que fizeram, e tanto que arrumaram tantos inimigos, porque eles cresceram tanto, se desenvolveram tanto...

Quando Montesquieu chama de “primeiro Estado industrial da América”, é porque de fato eles conseguiram - por exemplo aqui em São João Batista, e que é muito próximo aqui onde eu estou falando - a primeira fundição de aço da América! E quem eram os jesuítas que vieram? O Antônio Sepp von RecheggEra um príncipe, o pai dele era o rei de Kaltern – naquele tempo era o sul da Áustria. Então, João Batista Prímoli, um dos principais arquitetos do Barroco daquele período aí em Milão. Quer dizer, era esse tipo de gente que veio para cá, altissimamente preparadas, estudantes das melhores universidades da Europa e que deram sua vida exatamente para o desenvolvimento de um cristianismo muito redivivo aqui na América."

*José Roberto de Oliveira é de Santo Ângelo (RS), engenheiro de formação, na área da Topografia e Cartografia; foi por longo tempo docente na URI (Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões); diretor de desenvolvimento do Turismo no Rio Grande do Sul; um dos fundadores do Ministério do Turismo; criador em 2012, junto com os jesuítas, mais argentinos e paraguaios, da “Nação Missioneira”; foi criador do Circuito Internacional Missões Jesuíticas e representante brasileiro no Mercosul, também em função de seu envolvimento no tema das Missões.

Vatican News

São Cláudio Colombiere

S. Cláudio Colombiere | ArqSP
Cláudio Colombiere nasceu próximo de Lion, na França, no dia 02 de fevereiro de 1641. Seus pais faziam parte da nobreza reinante, com a família muito bem posicionada financeiramente e planejavam dedicá-lo ao serviço de Deus, mas ele era totalmente avesso a essa idéia.

Com o passar do tempo acaba por se render ao modo de vida e filosofia dos jesuítas de Lion, onde segue com seus estudos. De lá passa a Avinhon e depois a Paris e, três anos depois, é ordenado sacerdote. Em 1675, emite os votos solenes da Companhia de Jesus e vai dirigir a pequena comunidade da Ordem, em Parai-le-Monial.

Padre Cláudio foi nomeado confessor do mosteiro da Visitação onde encontra uma irmã de vinte e oito anos, presa ao leito devido às fortes dores reumáticas. A doente era Margarida Maria Alacoque, uma figura de enorme poder espiritual, que influenciava a todos que se aproximavam. Margarida Alacoque revelava o incrível poder e a veneração ao Sagrado Coração de Jesus, símbolo da Humanidade e do amor infinito do Cristo. Os devotos do Sagrado Coração são tomados como adoradores de ídolos e atacados, de vários lados, com duras palavras e ameaças.

Nesta cidade, padre Cláudio é um precioso guia para tantos cristãos desorientados. Mas, em 1674 é enviado a Londres como capelão de Maria Beatriz D'Este, mulher de Carlos II, duque de York e futuro rei da Inglaterra. Naquela época, a Igreja Católica era perseguida e considerada fora da lei na Inglaterra. Entretanto, como padre Cláudio celebrava a Eucaristia numa pequena capela, acaba sendo procurado por muitos cristãos, irmãs clandestinas e padres exilados, todos desejosos de escutar seus conselhos.

Outro acontecimento muda completamente a sua vida. Ele é enviado como missionário às colônias inglesas da América. Depois de dezoito meses de sua chegada, foi acusado de querer restaurar a Igreja de Roma no reino e vai preso. Porém, como é um protegido do rei da França, não permanece no cárcere e é expulso.

Mais uma vez padre Cláudio Colombiere retorna à França, em 1681. Entretanto, já se encontrava muito doente. Seu irmão ainda tentaria levá-lo a regiões onde o ar seria mais saudável. Mas ele não desejava partir, pois havia recebido um bilhete de Margarida Alacoque que dizia: "O Senhor me disse que sua vida findará aqui". Três dias depois ele morre em Parai-le-Monial e seu corpo fica sepultado na Companhia de Jesus, sob a guarda dos padres jesuítas. Era o dia 15 de fevereiro de 1683.

O Papa Pio IX o beatifica em 1929, e é proclamado Santo Cláudio Colombiere em 1992, pelo Papa João Paulo II, em Roma.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Santo Jovita e São Faustino

SS. Jovita e Faustino
Faustino nasceu em 90, Jovita em 96, na cidade e Bréscia, na Lombardia, Itália. Eram cristãos e foram martirizados no século II, durante os tempos sangrentos das perseguições. Os outros dados sobre eles nos foram transmitidos pela tradição, pois quase todos os registros eram queimados ou confiscados durante as inúmeras perseguições contra a Igreja dos primeiros séculos.


Segundo os devotos eles eram irmãos e pregavam livremente a religião apesar das perseguições decretadas pelos imperadores: Trajano e Adriano. As prisões estavam repletas de cristãos que se não renegassem a fé publicamente eram martirizados. E na Lombardia a situação não era diferente. Isto preocupava o bispo Apolônio da Bréscia, que precisava de confessores e sacerdotes que exortassem o animo e a fé dos cristãos, para se manterem firmes nas orações.

Secretamente, o bispo ordenou Faustino sacerdote e Jovita diácono, que continuaram no meio da comunidade operando milagres, convertendo pagão e destruindo os ídolos. Acusados pelo prefeito, foram espancados, submetidos a atrozes torturas, mas sobreviveram a tudo. Foram então levados para Roma, julgados e condenados a morrer na cidade natal. Em 15 de fevereiro de 146 foram decapitados.

Mas, existia uma tradição que dizia que Jovita, era a irmã virgem de Faustino, por isto não era sacerdote como ele. A Igreja comprovou entretanto que eram dois mártires homens, porque pela origem da palavra, que significa jovem, se tratava de um termo na época usado somente para o gênero masculino.

O primeiro testemunho sobre o culto destes dois santos mártires foi encontrado no livro dos "Diálogos" de São Gregório Magno. Entre 720 e 730 houve a translação dos corpos dos Santos Faustino e Jovita do cemitério de São Latino, para a igreja de Santa Maria, depois chamada de São Faustino e Jovita. Outra particularidade histórica e religiosa foi a troca de relíquias feita entre os monges beneditinos de Monte Cassino e o bispo de Bréscia. Eles ficaram com uma de Faustino e a Catedral de Bréscia recebeu uma de São Bento.

Enquanto isso a tradição continuava a se enriquecer, tanto que nas pinturas tradicionais São Faustino e Jovita são representados vestidos de guerreiros. Em 1438, a cidade de Bréscia foi salva, da invasão das tropas do comandante milanês Nicolau Picinino, pelos dois santos que apareceram vestidos de guerreiros para lutar ao lado da população bresciana. No dia 10 de janeiro de 1439, o bispo de Bréscia escrevia ao amigo, bispo de Vicenza a narração desta tremenda invasão. Esta carta se encontra na Biblioteca de São Marco, no Vaticano.

Uma das maiores festas que acontece na Lombardia é a de São Faustino e Jovita, na Bréscia, quando a população reverencia seus Patronos no dia 15 de fevereiro, começando pela celebração litúrgica.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF