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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Normas do governo chinês sobre nomeação de bispos não mencionam Vaticano

Bandeiras da China e do Vaticano.
Crédito: Flickr Nicolas Raymond (CC BY 2.0)

PEQUIM, 18 fev. 21 / 09:10 am (ACI).- Segundo as novas normas que entrariam em vigor a partir de 1º de maio, a Associação Patriótica Católica Chinesa (APCC), controlada pelo governo comunista, será a instituição que selecionará e aprovará os bispos. O texto não menciona o Vaticano no processo.

As novas "Medidas Administrativas para o Clero Religioso" na China foram traduzidas pela revista Bitter Winter, especializada em informações sobre liberdade religiosa na China.

De acordo com essas medidas, a APCC ficará encarregada de todo o processo com os novos bispos, que depois serão "aprovados e consagrados pela Conferência de Bispos Católicos da China".

Estas normas não mencionam o papel do Vaticano na aprovação dos bispos, apesar do acordo assinado com a China em 2018, segundo o qual as autoridades da Santa Sé e do governo chinês deveriam se encarregar do processo de nomeação dos bispos.

O acordo foi renovado em outubro de 2020, mas os termos do acordo nunca foram totalmente divulgados.

Segundo alguns relatórios, o acordo permite que a APCC, controlada pelo governo chinês, selecione candidatos que poderiam ser aprovados ou vetados pelo Vaticano. Quando o acordo foi renovado em outubro, o jornal do Vaticano informou que dois bispos foram nomeados no "âmbito regulatório estabelecido pelo acordo". O Vaticano confirmou em novembro que um terceiro bispo foi nomeado desta forma.

O Cardeal Joseph Zen ze-kiun, Bispo Emérito de Hong Kong e crítico do acordo, disse que este pode colocar o Vaticano na posição de ter de vetar repetidamente os candidatos apresentados pela China.

O acordo também teve como objetivo unificar a APCC com a Igreja Católica clandestina ou subterrânea que sempre se manteve fiel e em comunhão com o Papa. Acredita-se que seis milhões de católicos fazem parte da APCC, enquanto outros vários milhões pertencem a comunidades católicas que sempre permaneceram leais à Santa Sé.

Segundo as novas regras, assim que um bispo for consagrado, a APCC e a Conferência Episcopal enviarão as informações à Administração de Assuntos Religiosos do Estado.

O registro do clero no banco de dados é uma parte essencial das novas medidas administrativas, segundo as quais os clérigos devem promover os valores do Partido Comunista Chinês.

Por exemplo, o artigo III das medidas administrativas afirma que o clero "deve amar a pátria, apoiar a liderança do Partido Comunista Chinês, apoiar o sistema socialista" e "aderir-se à direção da sinicização da religião na China".

A prática de sinicização foi anunciada e implementada pelo presidente Xi Jinping nos últimos anos. Os críticos a consideram como uma tentativa de forçar a prática religiosa sob o controle do governo chinês e alinhada com os valores da APCC.

Além disso, espera-se que os clérigos "trabalhem para manter a unidade nacional, a harmonia religiosa e a estabilidade social".

A seção D das medidas afirma que o clero deve "guiar" os cidadãos "a serem patriotas e obedientes à lei". Estão proibidos de trabalhar para "minar a unidade nacional" ou apoiar "atividades terroristas".

Não fica claro como o governo chinês define "terroristas" nessas novas medidas. Em Hong Kong, a lei de segurança nacional foi imposta de fora pela legislatura nacional em 2020. Nessa lei, o “terrorismo” inclui atos como incêndios ou vandalizar o transporte público.

Os membros registrados do clero na China não podem “organizar, acolher, organizar ou participar de atividades religiosas não autorizadas que ocorram fora de locais autorizados para atividades religiosas” e não podem pregar em escolas que não tenham conotação religiosa.

Os membros registrados do clero devem pertencer a uma das religiões administradas pelo estado. Os pastores de "igrejas domésticas" ou igrejas "clandestinas" não podem se registrar como clérigos.

A entrada em locais de culto "deve ser regulamentada por meio de entrada estrita, verificação de identidade e registro", afirma o documento.

As normas também propõem um "programa de capacitação do clero" para a "educação política do clero religioso", bem como para sua "educação cultural". O clero também deve ser julgado por sua conduta com um sistema de "reconhecimentos e castigos".

Publicado originalmente em CNA.

ACI Digital

Normas para as celebrações da Semana Santa em tempos de pandemia

Missa in Coena Domini na Basílica de São Pedro
em 9 de abril de 2020  (Vatican Media)

A Congregação para o Culto Divino indica as disposições a serem observadas na celebração dos ritos deste momento central do ano litúrgico. O Decreto de 25 de março de 2020 permanece válido.

Amedeo Lomonaco – Vatican News

O drama da pandemia de Covid-19 "trouxe muitas mudanças também na forma usual de celebrar a liturgia", sublinha a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, em uma nota assinada pelo prefeito, cardeal Robert Sarah, e pelo secretário, o arcebispo Arthur Roche.

A nota, enviada aos bispos e às Conferências episcopais de todo o mundo, recorda que “em muitos países ainda estão em vigor rígidas condições de fechamento, que impossibilitam a presença dos fiéis nas igrejas, enquanto em outros é retomada uma vida de culto mais normal."

Uso das redes sociais

O texto afirma que “o uso das redes sociais ajudou muito os pastores a oferecer apoio e proximidade às suas comunidades durante a pandemia”.

“Para as celebrações da Semana Santa sugere-se facilitar e privilegiar a difusão midiática das celebrações presididas pelo bispo, encorajando os fiéis impossibilitados de frequentar a própria igreja a acompanharem as celebrações diocesanas, como sinal de unidade”.

Em todas as celebrações, em acordo com a Conferência Episcopal, é necessário "prestar atenção a alguns momentos e gestos particulares, em conformidade com as exigências sanitárias”. Também é incentivada "a preparação de subsídios adequados para a oração familiar e pessoal, valorizando também algumas partes da Liturgia das Horas".

Em vigor Decreto do ano passado

Na nota da Congregação para o Culto Divino, também é recordado que continua válido o Decreto do Dicastério, a pedido do Papa Francisco, de 25 de março de 2020. Continuam valendo, portanto, as indicações do ano passado para as celebrações do Domingo de Ramos, da Quinta-feira Santa e da Vigília Pascal.

Domingo de Ramos

Conforme afirma o decreto de 25 de março passado, a celebração do Domingo de Ramos deverá ser realizada “dentro do prédio sagrado”. Pede-se que as catedrais adotem "a segunda forma prevista pelo Missal Romano, enquanto nas igrejas paroquiais e noutros locais a terceira".

No que diz respeito à Missa do Crisma, os episcopados podem, dependendo da situação do país, indicar uma possível transferência de data.

Missa do Crisma

A Missa Crismal, ou Missa do Crisma, pode ser transferida para outra data mais adequada, se necessário, porque convém que seja assistida por “uma significativa representação de pastores, ministros e fiéis”.

Missa in Coena Domini

Para a Quinta-feira Santa, fica estabelecido que seja omitido o “Lava-pés”, já opcional. A Procissão final também não será realizada e o Santíssimo Sacramento será guardado no Tabernáculo. Excepcionalmente, é concedida aos presbíteros a faculdade de celebrar a Missa "sem a participação do povo, em local adequado".

Sexta-feira Santa

Durante a oração universal da Sexta-feira Santa, caberá aos bispos "preparar uma intenção especial para quem se encontra em situação de desorientação, os doentes, os defuntos”.

Modificado também o ato de adoração à Cruz. O beijo, conforme especificado no decreto de 25 de março de 2020, “é limitado apenas ao celebrante”.

Vigília pascal

Em relação à Vigília Pascal, pede-se que seja celebrada "exclusivamente nas igrejas Catedrais e Paroquiais", e que para a liturgia batismal "se mantenha apenas a renovação das promessas batismais".

Decisões no respeito pelo bem comum e a saúde pública

Por fim, a Congregação agradece aos Bispos e às Conferências Episcopais por terem respondido pastoralmente a uma situação em rápida mudança, na consciência de “que as decisões tomadas nem sempre foram facilmente aceitas por parte dos pastores e fiéis leigos. Todavia - conclui a nota - sabemos que foram tomadas com o objetivo de garantir que os santos mistérios sejam celebrados da forma mais eficaz possível para as nossas comunidades, no respeito pelo bem comum e a saúde pública”.

Vatican News

As crianças valorizam mais o que ouvem; os adultos, o que veem

Dmytro Zinkevych | Shutterstock
por Dolors Massot

Um estudo da Durham University dá pistas para pais e profissionais da educação sobre as reações emocionais das crianças.

Um estudo publicado recentemente pela revista acadêmica “Journal of Experimental Child Psychology” mostra que, enquanto os adultos prestam mais atenção ao visual quando são apresentados a estímulos emocionais de todos os tipos, as crianças menores de 8 anos prestam mais atenção ao ouvem.

O experimento foi feito em adultos e crianças.

Como resultado, constatou-se que as informações que chegam às crianças pelo ouvido (um grito, uma saudação ou uma canção alegre, por exemplo) as impactam mais em termos de reação emocional.

Saber disso pode orientar os educadores

De acordo com uma declaração da Durham University, à qual pertence a equipe de pesquisa, “as descobertas podem beneficiar tanto os profissionais da educação quanto os pais que atualmente gerenciam a aprendizagem em casa, aumentando sua compreensão de como os filhos pequenos captam o que está acontecendo ao seu redor”.

É que as crianças “determinam as emoções mais pela audição do que pela visão”, ao contrário de nós, adultos. O comportamento dessa criança obedece ao “domínio auditivo”.

Possível aplicação em crianças com problemas de desenvolvimento

O estudo é “único” neste tipo de pesquisa em Psicologia Infantil. A equipe acredita que ajudará a educar pais e profissionais. Ele também fornece novos caminhos para a compreensão do reconhecimento emocional em crianças com problemas de desenvolvimento, como autismo.

Em que consiste o experimento?

Os voluntários foram divididos em três categorias de idade (7 anos ou menos, 8-11 anos e maiores de 18 anos). Eles viram imagens de humanos, com rostos borrados, e ouviram vozes humanas, que transmitiam emoções de felicidade, medo, tristeza e raiva.

Especificamente, as imagens e sons foram apresentados isoladamente e em combinações correspondentes e contrastantes, e os voluntários foram questionados qual era a emoção predominante em cada um.

Assim, “a equipe descobriu que os adultos baseavam sua avaliação emocional no que podiam ver, enquanto as crianças confiavam no que podiam ouvir”, explicam.

Aleteia

DOCUMENTOS DA IGREJA: O Cânon Vicentino

Crédito: Apologistas da Fé Católica

O Cânon Vicentino

Vicente Lerinense, Commonitorium (434)

(Ed. Moxon, Cambridge PatristicTexts)

BETTENSON, Henri (editor). Documentos da Igreja Cristã.
São Paulo: Ed. Aste/Simpósio, 1998 - nº 131 - pp. 148-150

II. (1) Eis porque dediquei, constantemente, meus maiores desvelos e minhas diligências a investigar, entre o maior número possível de homens eminentes em saber e santidade, a maneira de achar uma norma de princípios fixos e, se possível, gerais e orientadores, para distinguir a verdadeira fé católica das degradantes corruptelas da heresia. A resposta invariável que recebi resume-se no seguinte: querendo eu ou querendo alguém descobrir as fraudes dos hereges evitar as armadilhas e permanecer robusto e firme na fé sadia, devemos, com ajuda do Senhor, fortificar nossa fé de duas maneiras: primeiramente, confiando na autoridade da Lei divina e, em segundo lugar, perseverando na tradição da Igreja Católica.

(2) Aqui, talvez alguém perguntará: estando o cânon das Escrituras completo e suficiente em si, que necessidade ainda temos de lhe juntar a interpretação da Igreja? A resposta é essa: sendo profundas as Escrituras, não lhes dão a mesma interpretação todos os homens. As proposições dum mesmo escritor são comentadas diversamente por homens diversos, a tal ponto que parece ser possível delas serem extraídas tantas opiniões quantos forem os homens. Novaciano1 comenta desta maneira, Sabélio daquela, Donato de outra, e de outra Ário, Eunômio5 e Macedônio6; Fotino7, Apolinário e Prisciliano9 explicam de um modo joviniano10, Pelágio e Celestio explicam de outro modo, e, recentemente, Nestório tem interpretado diferentemente dos outros. Sendo, pois, tão intrincado e multiforme o erro, temos grande necessidade de estabelecer uma regra de interpretação dos profetas e apóstolos que se harmonize com o padrão interpretativo da Igreja Católica.

(3) Ora, na própria Igreja Católica toma-se o máximo cuidado por conservar AQUILO QUE FOI DITO E CRIDO, EM TODO LUGAR, EM TODO TEMPO E POR TODO FIEL.

É genuíno e propriamente “católico”, como declara o sentido do termo, aquilo que compreende tudo universalmente. A regra nossa será, pois, guardada, se aceitarmos os critérios de universalidade [isto é, ecumenicidade], antiguidade e concordância. Universalidade, reconhecendo que a única fé verdadeira é aquela que toda a Igreja professa em todo o mundo. Antiguidade, não nos apartando das interpretações manifestamente aceitas por nossos antepassados. Concordância, dando crédito fiel, inclusive em se tratando da antiguidade, às definições e opiniões de todos ou de quase todos os bispos e doutores.

NOTAS:

  1. Um extremado quanto à readmissão na Igreja daqueles que negaram a fé durante as perseguições. Apostatou em 251, tornando-se o primeiro antipapa.
  2. Um ariano radical que dizia ser o Filho diferente (anomoios) do Pai e de uma substância diferente (heterooysios).
  3. Bispo de Constantinopla, 342. Negou a divindade do Espírito Santo. Deposto em 360.
  4. Bispo de Esmirna, na segunda metade do século IV. Um “monarquiano adocionista”.
  5. Bispo de Abila, na Espanha, que ensinava uma espécie de gnosticismo maniqueísta (Ver Parte I, Seção IV, VII,b. Foi executada (c. 385), sendo o primeiro a ser executado por heresia (pois seus ensino conduzia a imoralidade.
  6. C. 385. Jerônimo refutou sua depreciação pela virgindade e pelo ascetismo.

ECCLESIA

B. JOÃO DE FIESOLE (FRA ANGÉLICO), SACERDOTE DOMINICANO

B. João de Fiesole (Fra Angélico)

Giovanni de Fiesole, no civil Guido de Pietro, conhecido como Beato Angélico, dizia sempre: “Quem faz as coisas de Cristo, está sempre com Ele”. Sua convicção era de que “todas as ações deviam ser orientadas para Deus”. A pintura - da qual era um excelente artista - era vista como “expressão da experiência contemplativa, instrumento de louvor e de elevação da mente às realidades celestes”.

Angélico nasceu em Vicchio del Mugello, na Toscana, em fins do século XIV; desde criança, demonstrou uma grande predisposição pelo desenho e as miniaturas. A aspiração pelo “belo” tornou-se, cada vez mais, obstinada na alma do jovem artista. Em um primeiro momento, esta aspiração reforçou seu talento natural pela arte; mais tarde, tornou-se uma clara e inconfundível chamada à vocação religiosa, por parte de Deus, que é Beleza por excelência.

A pintura como oração

Angélico entrou, com seu irmão, Bento, para o convento de Fiesole. Oração, estudo e austeridade aperfeiçoaram o espírito e o pincel do Frei Giovanni, levando-o a traduzir em imagens, repletas de humanidade e misticismo, os frutos da sua oração. Crucifixos, imagens de Nossa Senhora, Anunciações, vibrantes luzes diáfanas e retábulos de altares foram expressões de uma alma que, na simplicidade evangélica, mediante um trabalho disciplinado de oficina, soube viver com o coração no céu. Narra-se que ele pintava de joelhos e jamais iniciava suas obras sem rezar, comovendo-se quando reproduzia Cristo na cruz.

Síntese entre Humanismo e Fé

Em Angélico, - assim o chamou, pela primeira vez, Frei Domingos de Corella, em 1469, - jamais havia antítese entre humanidade e divindade, entre corpo e espírito, entre fé e razão. A doçura, a graça e a beatitude das figuras, nascidas do “impulso” do seu pincel, revelavam uma perfeita unidade entre humanismo e religião. A propósito, Vasari escrevia que ele “tinha o costume de não retocar as pinturas [...] achando que esta era a vontade de Deus”.

No Beato Angélico, havia uma perfeita sintonia entre o rigor prospectivo, a atenção pela figura humana, renascentistas, e a tradição medieval, que tinha, entre seus postulantes, a função didática da arte e o valor místico da luz.

Os afrescos (1438-1445) no convento de São Marcos, em Florença, testemunham a pureza da arte de Giovanni de Fiesole: as suas catequeses por imagens, em tamanho natural, inspiram uma profunda identificação com a Paixão e Morte de Cristo. A fama destas pinturas levou o Papa Eugênio IV a convidar o artista Dominicano a pintar, no Vaticano, uma Capela na antiga Basílica de São Pedro, que, depois, foi destruída. Narra-se também que seu Sucessor, Nicolau V, não pôde deter as lágrimas, em 1449, diante dos afrescos com as histórias dos Santos Lourenço e Estêvão, que o frade pintou na Capela privada do Palácio Apostólico.

Junto com Benozzo Gozzoli, Frei Angélico deixou um testemunho de si, na abóbada da Capela de São Brício, na Catedral de Orvieto.

Padroeiro dos artistas

Frei Angélico tornou-se prior de São Domingos, em Fiesole, entre 1448 e 1450; desenvolveu esta função com humildade e espírito de serviço. “Se ele quisesse – lembra ainda Vasari – podia ter vivido de modo opulento e ter-se tornado rico com as suas pinturas”. Pelo contrário, sempre evitou o poder, a riqueza e a fama; de fato, até rejeitou, sem hesitar, a proposta que o Papa Parentucelli lhe fez de ocupar a sede episcopal de Florença.

O Beato Angélico faleceu, em 18 de fevereiro de 1455, no convento de Santa Maria sopra Minerva, em Roma. Na Basílica adjacente, ainda se encontram seus restos mortais. São muitos os peregrinos que, todos os anos, enfrentam a longa subida do Capitólio para visitar a sua sepultura.

Veritatis Splendor

São Simeão

S. Simeão | ArqSP

São Simeão bispo martirizado no século II. Simeão ou Simão, filho de Cléofas, não deve ser confundido com o apóstolo homônimo, denominado o cananeu. O santo de hoje é aquele parente de Jesus mencionado no Evangelho. Foi escolhido para suceder são Tiago Menor no bispado de Jerusalém, diocese que dirigiu durante 40 anos. Morreu de fato em 107, com 120 anos, e não de morte natural. Teve a fortuna de assistir ao cumprimento da profecia de Jesus sobre a trágica destruição de Jerusalém, no ano 70.
Em face das primeiras escaramuças motivadas pela intervenção romana na cidade rebelde, e tendo presente a advertência do Mestre, o bispo Simeão acompanhou a comunidade cristã à Pela, retornando depois à sede episcopal devastada, numa cidade onde não ficara “pedra sobre pedra”.
A difícil tarefa da reconstrução e consolidação do cristianismo em Jerusalém foi facilitada não só pelo cumprimento da profecia de Cristo — o que, após a destruição e dispersão, predispôs os judeus sobreviventes a refletir sobre a mensagem —, como também pela relativa paz que se seguiu à terrível punição de Roma.
A perseguição que Nero desencadeou golpeara somente os cristãos de Roma, acusados pelo imperador de terem incendiado a cidade. O surto persecutório de Domiciano não se estendera até os limites do império.
Tal se deu sob o governo do sábio Trajano, segundo o qual a mensagem evangélica constituiria um perigo para os destinos de Roma. Entre as vítimas dessa violenta perseguição, estava o velho bispo de Jerusalém — “o irmão de Jesus”, que teve o privilégio de com ele compartilhar o suplício da cruz.
Submetido à tortura, a fim de induzi-lo a abjurar a fé, e visto se terem revelado inúteis todos os outros tormentos, o legado consular Tibério Cláudio Ático condenou-o à crucificação, a despeito de reconhecer sua grande coragem e a serenidade com que subiu ao patíbulo.
beato Angélico (1387-1455) — chamado beato imediatamente depois de sua morte, ocorrida em Roma, no convento dominicano de Santa Maria sobre Minerva, em razão dos maravilhosos afrescos sobre temas religiosos com que adornou o convento de São Marcos, em Florença. Sua beatificação “canônica” deu-se apenas em 1984. João — era este seu nome de batismo — nasceu em Mugelo, nas adjacências de Florença, e fez-se dominicano no convento de São Marcos.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Papa Francisco na Quarta-feira de Cinzas: a Quaresma é uma viagem de regresso a Deus

Papa Francisco recebe a imposição das cinzas. Foto: Vatican Media

Vaticano, 17 fev. 21 / 08:50 am (ACI).- Durante a celebração da Missa nesta Quarta-feira de Cinzas, o Papa Francisco recordou que “a Quaresma é uma viagem de regresso a Deus”, por isso incentivou a deixar-se reconciliar por Deus para aprender da Cruz de Jesus que é a “cátedra silenciosa de Deus”.

Este ano, o Santo Padre presidiu a Eucaristia com o rito da bênção e imposição das cinzas em uma cerimônia com poucas pessoas na Basílica de São Pedro, e não na Basílica de Santa Sabina, em Aventino, começando com a tradicional procissão, devido às restrições sanitárias causadas pela Covid-19.

Em sua homilia, o Papa destacou que iniciamos o caminho quaresmal com as palavras do profeta Joel que indicam a direção a seguir “convertei-vos a Mim de todo o vosso coração”, por isso advertiu: “Quantas vezes, atarefados ou indiferentes, Lhe dissemos: «Senhor, espera! Virei encontrar-Vos mais tarde... Hoje não posso, mas amanhã começarei a rezar e a fazer algo pelos outros». E assim dia após dia… Agora Deus lança um apelo ao nosso coração. Na vida, sempre teremos coisas a fazer e desculpas a apresentar, mas, irmãos e irmãs, hoje é o tempo de regressar a Deus”.

Neste sentido, o Santo Padre destacou que “a Quaresma é uma viagem que envolve toda a nossa vida, tudo de nós mesmos. É o tempo para verificar as estradas que estamos a percorrer, para encontrar o caminho que nos leva de volta a casa, para redescobrir o vínculo fundamental com Deus, do qual tudo depende”.

“A Quaresma não é compor um ramalhete espiritual; é discernir para onde está orientado o coração. Aqui está o centro da Quaresma: para onde está orientado o meu coração?”, afirmou.

Por isso, o Papa nos convidou a nos perguntar: “Para onde me leva o «navegador» da minha vida, para Deus ou para mim mesmo? Vivo para agradar ao Senhor, ou para ser notado, louvado, preferido, no primeiro lugar e assim por diante? Tenho um coração «dançarino» que dá um passo para a frente e outro para trás, amando ora o Senhor ora o mundo, ou um coração firme em Deus? Sinto-me bem com as minhas hipocrisias ou luto para libertar o coração da simulação e das falsidades que o têm prisioneiro?”.

Neste sentido, o Pontífice sublinhou que a Quaresma é também “um êxodo: é um êxodo da escravidão para a liberdade” porque “são quarenta dias que recordam os quarenta anos em que o povo de Deus caminhou pelo deserto para voltar à terra de origem”.

No entanto, o Papa reconheceu que ao longo do caminho “sempre se sentiam tentados pelas cebolas, tentados a voltar para trás, presos às memórias do passado, a qualquer ídolo” e acrescentou que “o mesmo se passa conosco: a viagem de regresso a Deus vê-se dificultada pelos nossos apegos doentios, impedida pelos laços sedutores dos vícios, pelas falsas seguranças do dinheiro e da ostentação, pela lamúria que paralisa”.

Desta forma, o Santo Padre sugeriu que “para caminhar, é preciso desmascarar estas ilusões” e para isso “ajudam-nos as viagens de regresso narradas pela Palavra de Deus”.

Em primeiro lugar, o Papa recordou a parábola do filho pródigo para sublinhar que “é tempo também para nós de regressar ao Pai”, pois “é o perdão do Pai que sempre nos coloca de pé: o perdão de Deus, a Confissão, é o primeiro passo da nossa vigem de regresso”, por isso recomendou aos confessores que sejam “como o pai, não com o chicote, mas com o abraço”.

Posteriormente, o Santo Padre lembrou o leproso curado para indicar que “precisamos de regressar a Jesus”, pois “todos, todos nós temos enfermidades espirituais: sozinhos, não podemos curá-las; todos temos vícios arraigados: sozinhos, não podemos extirpá-los; todos temos medos que nos paralisam: sozinhos, não podemos vencê-los. Precisamos de imitar aquele leproso, que voltou para Jesus e se prostrou aos seus pés”. “Temos necessidade da cura de Jesus, precisamos de colocar diante d’Ele as nossas feridas e dizer-Lhe: ‘Jesus, estou aqui diante de Vós, com o meu pecado, com as minhas misérias. Vós sois o médico; podeis libertar-me. Curai o meu coração’”.

Em terceiro lugar, o Papa disse que "também somos chamados a regressar ao Espírito Santo", por isso encorajou "voltemos ao Espírito, Dador de vida! Voltemos ao Fogo que faz ressurgir as nossas cinzas".

“Então a nossa viagem é deixar-se tomar pela mão. O Pai que nos chama a voltar é Aquele que sai de casa e vem procurar-nos; o Senhor que nos cura é Aquele que Se deixou ferir na cruz; o Espírito que nos faz mudar de vida é Aquele que sopra com força e suavidade sobre o nosso pó”, explicou.

Por fim, o Santo Padre encorajou-nos a permitir-nos reconciliar com Deus porque “o caminho não se apoia nas nossas forças” e acrescentou “o início do regresso a Deus é reconhecermo-nos necessitados d’Ele, necessitados de misericórdia, necessitados da sua graça. O caminho certo é este: o caminho da humildade”.

“Hoje inclinamos a cabeça para receber as cinzas. No termo da Quaresma, abaixar-nos-emos ainda mais para lavar os pés dos irmãos. A Quaresma é uma descida humilde dentro de nós e rumo aos outros. É compreender que a salvação não é uma escalada para a glória, mas um abaixamento por amor. É fazer-nos humildes. Neste caminho, para não perder o rumo, coloquemo-nos diante da cruz de Jesus: é a cátedra silenciosa de Deus”, concluiu o Santo Padre.

Depois da homilia, o Papa Francisco abençoou e impôs as cinzas aos Cardeais presentes e ele as recebeu por parte do arcipreste da Basílica de São Pedro, o Cardeal Angelo Camastri.

Publica originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Jardins de Castel Gandolfo: os mais belos da Itália e do mundo

María Paola Daud | Aleteia
por Maria Paola Daud

Passeie conosco pelo lugar onde muitos papas passaram suas férias.

Hoje, eu te convido a dar um passeio a um dos locais mais lindos da Itália e, por que não, do mundo: os jardins de Castel Gandolfo.

As Vilas Pontifícias

Os jardins fazem parte das Vilas Pontifícias, uma região fora da Cidade do Vaticano. Têm extensão de 55 hectares e vão da cidade de Castel Gandolfo até Albano.

Trata-se, de fato, de uma região que sempre foi importante ao longo dos séculos. Além disso, tornou-se a residência de veraneio dos papas. Foi aqui que se ergueu a cidade lendária de Alba Longa, que Tito Lívio descreveu como a origem de Roma. Aqui também teriam nascido Rômulo e Remo.

É importante lembrar, entretanto, que a região também servia como local de descanso para o imperador Diocleciano – terrível perseguidor de cristãos.

Encantadoras em qualquer época do ano, as Vilas Pontifícias são o resultado da junção de diferentes propriedades que alguns papas foram adquirindo ao longo dos séculos.

Um passeio pelos jardins de Castel Gandolfo

Em 2016 o Papa Francisco abriu as portas das Vilas Pontifícias ao público. Assim, o visitante pode fazer um lindo passeio de pouco mais de uma hora a pé em um excepcional contexto ambiental e arqueológico.

É possível passar pelo Jardim Magnólia, o das rosas, até os terraços panorâmicos do Jardim Belvedere. Além disso, também dá para visitar as ruínas do Teatro e os restos de Criptopórtico Imperial, o pórtico por onde imperadores costumavam passear escondidos.

Aleteia

Mensagem do Papa Francisco por ocasião da Campanha da Fraternidade 2021

Papa Francisco  (Vatican Media)

Realizada pela CNBB todos os anos no tempo da Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, a Campanha da Fraternidade de 2021 é promovida de forma ecumênica, ou seja, em parceria entre várias Igrejas Cristãs.

Vatican News

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) abriram na manhã desta Quarta-feira de Cinzas, 17 de fevereiro, a quinta edição da Campanha da Fraternidade Ecumênica (CFE). A abertura foi realizada de forma simbólica e virtual com a divulgação de um vídeo com pronunciamentos de representantes das Igrejas que compõem o Conic.

Neste ano, o tema da Campanha da Fraternidade Ecumênica é “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido, fez uma unidade”, extraído da carta de São Paulo aos Efésios, capítulo 2, versículo 14.

Realizada pela CNBB todos os anos no tempo da Quaresma, período de 40 dias que antecede a Páscoa, a Campanha da Fraternidade de 2021 é promovida de forma ecumênica, ou seja, em parceria entre várias Igrejas Cristãs. A CFE 2021 quer convidar os cristãos e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para a superação das polarizações e das violências que marcam o mundo atual. Tudo isso através do diálogo amoroso e do testemunho da unidade na diversidade, inspirados e inspiradas no amor de Cristo.

A abertura virtual deve-se à escolha das entidades promotoras da Campanha como forma de prevenção da Covid-19. De acordo com o bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, a decisão foi tomada em comum acordo com a diretoria do CONIC, “para evitar aglomeração nesse momento em que a pandemia assume números que nos assustam”. Para dom Joel, “é necessário dar testemunho a respeito da importância das medidas sanitárias” e, para isso, os “recursos informáticos” disponíveis serão utilizados.

O Papa Francisco enviou uma mensagem escrita para o início da Quaresma e da Campanha da Fraternidade 2021.

Eis o texto integral:

Queridos irmãos e irmãs do Brasil!

Com o início da Quaresma, somos convidados a um tempo de intensa reflexão e revisão de nossas vidas. O Senhor Jesus, que nos convida a caminhar com Ele pelo deserto rumo à vitória pascal sobre o pecado e a morte, faz-se peregrino conosco também nestes tempos de pandemia. Ele nos convoca e convida a orar pelos que morreram, a bendizer pelo serviço abnegado de tantos profissionais da saúde e a estimular a solidariedade entre as pessoas de boa vontade. Convoca-nos a cuidarmos de nós mesmos, de nossa saúde, e a nos preocuparmos uns pelos outros, como nos ensina na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Precisamos vencer a pandemia e nós o faremos à medida em que formos capazes de superar as divisões e nos unirmos em torno da vida. Como indiquei na recente Encíclica Fratelli tutti, «passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta» (n. 35). Para que isso não ocorra, a Quaresma nos é de grande auxílio, pois nos chama à conversão através da oração, do jejum e da esmola.

Como é tradição há várias décadas, a Igreja no Brasil promove a Campanha da Fraternidade, como um auxílio concreto para a vivência deste tempo de preparação para a Páscoa. Neste ano de 2021, com o tema “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”, os fiéis são convidados a «sentar-se a escutar o outro» e, assim, superar os obstáculos de um mundo que é muitas vezes «um mundo surdo». De fato, quando nos dispomos ao diálogo, estabelecemos «um paradigma de atitude receptiva, de quem supera o narcisismo e acolhe o outro» (Ibidem, n. 48). E, na base desta renovada cultura do diálogo está Jesus que, como ensina o lema da Campanha deste ano, «é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade» (Ef 2,14).

Por outro lado, ao promover o diálogo como compromisso de amor, a Campanha da Fraternidade lembra que são os cristãos os primeiros a ter que dar exemplo, começando pela prática do diálogo ecumênico. Certos de que «devemos sempre lembrar-nos de que somos peregrinos, e peregrinamos juntos», no diálogo ecumênico podemos verdadeiramente «abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças, e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus» (Exort. Apost. Evangelii gaudium, n. 244). É, pois, motivo de esperança, o fato de que este ano, pela quinta vez, a Campanha da Fraternidade seja realizada com as Igrejas que fazem parte do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC).

Desse modo, os cristãos brasileiros, na fidelidade ao único Senhor Jesus que nos deixou o mandamento de nos amarmos uns aos outros como Ele nos amou (cf. Jo 13,34) e partindo «do reconhecimento do valor de cada pessoa humana como criatura chamada a ser filho ou filha de Deus, oferecem uma preciosa contribuição para a construção da fraternidade e a defesa da justiça na sociedade» (Carta Enc. Fratelli tutti, n. 271). A fecundidade do nosso testemunho dependerá também de nossa capacidade de dialogar, encontrar pontos de união e os traduzir em ações em favor da vida, de modo especial, a vida dos mais vulneráveis. Desejando a graça de uma frutuosa Campanha da Fraternidade Ecumênica, envio a todos e cada um a Bênção Apostólica, pedindo que nunca deixem de rezar por mim.

Roma, São João de Latrão, 17 de fevereiro de 2021.

[Franciscus PP.]

Vatican News

FAKE NEWS E PÓS-VERDADE

Crédito: npdiario.com
por Dom Edson Oriolo
Bispo de Leopoldina (MG)

FAKES NEWS E “PÓS-VERDADE”: PERIGOS PARA A EVANGELIZAÇÃO!

 Nos últimos meses, em um crescendo impressionante, tenho recebido inúmeras mensagens pelo whatsapp de diocesanos, irmãos bispos, padres amigos e fiéis leigos e leigas contendo ou comentando duras críticas às instituições e lideranças católicas, de forma geral. É triste ver pessoas compartilhando mensagens imbuídas de tais conteúdos. A Igreja é alvo de duras críticas internas e externas e, de algum modo, a polarização política que caracteriza o momento atual do nosso país, está afetando as relações eclesiais.

Os questionamentos são os mais variados: um carnaval de informações desconexas e desorientadas, muitas delas de uma criatividade que beira o absurdo. As pessoas que as recebem, por sua vez, de forma geral, tendem a acreditar nesses conteúdos. Apenas alguns se questionam se os vídeos, os artigos, as mensagens que recebem são verdadeiras ou não. Mesmo assim as pessoas continuam compartilhando e os ‘fatos’ ganham notoriedade, mais e mais cliques, conquistando “a opinião pública”. Até os responsáveis correm o risco de ser levados a opinar sob a pressão de uma torrente de comentários e reações, não se atendo ao conteúdo em si.

Ao clicar, compartilhar, replicar informações pelas redes sociais sem qualquer critério, além de cometermos injustiças e nos comprometermos com uma cultura de mentira e dissensão, há o risco de prestarmos um grande desserviço à evangelização da Igreja no Brasil nesse momento difícil de crise sanitária. No momento em que somos convidados a reinventar a nossa proposta missionária, para sermos ousados na dinâmica de lançar “as sementes do verbo”, com as melhores intenções, estamos lançando a semente do joio.

Recordo-me da expressão de Mark Twain “uma mentira pode fazer a volta ao mundo no mesmo intervalo de tempo em que a verdade calça seus sapatos”! Penso que, ao recebermos uma mensagem, antes de encaminhá-la para outros, precisamos considerar dois conceitos que vêm ganhando espaço no mundo digital: fake news e “pós-verdade”. Esses dois conceitos bem compreendidos vão nos orientar a agir com maior lucidez diante do que nos é apresentado. Teremos a postura de fact-checker (checador de fatos).

Em um primeiro momento, vamos refletir sobre fake news. Nunca conservei afeição a tal expressão, pois as notícias podem não ser falsas. Notícias são fatos ou não são notícias. A expressão significa todo tipo de conteúdo descontextualizado, impreciso, manipulado ou baseado em meras teorias de conspiração. São, por exemplo, notícias antigas veiculadas como se fossem atuais, tiradas de contexto com interesses inconfessáveis de manipulação.

As fake news têm por objetivo denegrir pessoas ou deturpar um acontecimento, de modo que haja repercussão, influenciando, equivocadamente, a opinião pública. É a potencialização da fofoca, pela comunicação rápida e irrestrita. Parece algo distante, mas, diariamente, somos bombardeados por estas informações, principalmente por meio do aplicativo WhatsApp. Um aplicativo que possibilita relacionamentos rápidos, com diálogos instantâneos, bem como contatos interpessoais, ligações afetivas, profissionais e lúdicas.

Sabemos que muitas pessoas se sentem atraídas por emoções negativas, por revelações bombásticas e reviravoltas imprevistas. Anseiam por soluções instantâneas e acontecimentos determinantes. As fake news costumam ser bem estruturadas, mesclando dados inquestionáveis com outros inexatos e fantasiosos.  As pessoas mais ingênuas ou simples, em geral bem intencionadas, são presas fáceis para mentes maliciosas que, compartilhando falsas notícias, muitas vezes, conseguem revestir-lhes de uma aura de verdade. As notícias inventadas, impulsionadas pelo sistema de algoritmos das redes sociais e favorecidas pela ausência de uma capacidade crítico-formal adequada, ganham grande espaço entre a população. O fruto mais imediato da banalização das fake news é o pós-verdade.

Ao recebermos uma mensagem, sem qualquer compromisso com a verificação de sua autenticidade, sem um freio de bom senso que nos faça pensar nas conseqüências de levarmos adiante aquele conteúdo, dispomos em nossos expedientes racionais um terreno fértil para tratá-la como verdadeira e inquestionável, na medida em que ela nos fascina pela engenhosidade de seus argumentos. Tal mensagem falsa, por ter sido pensada justamente para essa finalidade, parece condizer exatamente com aquilo que pensamos, com aquilo que gostaríamos de expressar e nos identificamos afetivamente (ideologicamente) com seu conteúdo: nasce uma pós-verdade.

Segundo o dicionário Oxford, ‘pós-verdade’ refere-se a “circunstâncias nas quais os fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que os apelos à emoção a crenças pessoais”. A ‘pós-verdade’, que é uma espécie de falência da racionalidade e da ética ocidentais, caracteriza-se pela relativização da realidade das coisas em benefício de convicções formadas em um cenário eminentemente afetivo e ideológico, ainda que sem nexo com a razão. As coisas são de determinado modo porque eu quero que elas sejam assim ou porque elas, sendo assim, favorecerão o meu discurso: o mais não interessa.

O cenário é mesmo assustador e só há um meio para nos mantermos inumes desse ‘vírus’ perigosíssimo, que adoece as relações humanas e que pode destruir a nossa alegria de ser Igreja: questionar e checar, com rigor, toda informação que recebermos, cuidando para não sermos divulgadores da mentira, do ódio e da dissensão. Quando recebermos um conteúdo, perguntamo-nos: qual a intenção, ou o interesse, de quem produziu esse material? Há certeza absoluta de que ele esteja fundamentado na verdade? Havendo uma dúvida e ou um “não”, deixar de compartilhar ou curtir, até uma certeza.

A pós-verdade favorece a produção de uma lógica muito arraigada de “desinformação”. Se o conteúdo simplesmente compactua com as minhas paixões e eu não me preocupo em saber se é mentira ou não e o divulgo o mais rápido possível, estou sendo um instrumento poderoso na mão de manipuladores, que visam a destruição ou, ao menos, a polarização e a desconfiança mútua, mesmo no interno da Igreja. Jesus nos ensinou como devemos reagir diante dessas situações: entre vós não deve ser assim (cf. Mt. 20,17).

E, na iminência do tempo quaresmal, façamos um exame de consciência e questionemos se estamos agindo como filhos da luz. Nós somos formadores de opinião, todos nós o somos. Mesmo a nossa ingenuidade pode ser usada como instrumento de maldade. Cada ato nosso tem conseqüências, diante da grave responsabilidade de continuarmos a obra salvífica do Verbo Encarnado. Os meios digitais de comunicação, sobretudo neste tempo de pandemia, são o grande universo da evangelização. Nós, os católicos, seremos amigos ou inimigos da Cruz de Cristo, na qual está fundada a nossa unidade?

por Dom Edson José Oriolo dos Santos

CNBB

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF