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sábado, 6 de março de 2021

O Desaparecimento dos adultos (Parte 2/2)

Presbíteros

Giovanni Cucci S.I.[i]

O desaparecimento do pai

A contínua popularidade e atualidade de Peter Pan não falam somente de uma dificuldade de crescimento. Esse personagem é também uma forma de protesto em relação à fuga dos educadores, daqueles que podem fazer bela, ainda que difícil, a missão de tornar-se adulto, deixando-o só: “Se Peter Pan é o símbolo de um fenômeno que tem crescido sempre mais nos últimos cem anos, ou seja, a obstinada vontade de permanecer criança, Peter Pan nos diz ainda algo mais inquietante: perdemos os nossos pais como modelos, os pontos de referência sólidos, fomos abandonados a nós mesmos”[xviii].

É significativo que autores das mais diversas escolas de proveniência individuam particularmente na ausência da figura paterna, acentuada dramaticamente nas últimas décadas, uma das principais razões para o vazio de sentido e de identidade que parece ser comum a jovens e a adultos. Um autor que não pode certamente ser etiquetado de tradicionalismo nostálgico observa a esse propósito: “O vazio estrutural da moderna sociedade ocidental provem da ausência do pai. Em certo sentido o enfraquecimento ou inclusive o desaparecimento de todos os outros papéis de parentesco derivam daquela lacuna que está no vértice da família”[xix]. Nessa falta, se constata, de fato, a incapacidade de uma geração de transmitir valores e tradições capazes de ajudar o futuro adulto a enfrentar as dificuldades da vida tornando, por sua vez, educadores de outros.

O desaparecimento dos vínculos familiares foi infelizmente visto como o sinal profético da vinda de uma nova sociedade; nos anos setenta do século passado era desejada a morte do matrimônio e da família, vista como o símbolo da opressão que penaliza a liberdade do indivíduo, impedindo a auto realização[xx]. Os resultados se revelaram, porém, muito diversos, precursores de problemas bem mais graves, que correm o risco de levar ao desaparecimento da sociedade ocidental, como acentua sempre Scalfari: “na maior parte dos casos o indivíduo, abandonado na sua solidão, não encontrou outro remédio melhor do que o de confundir-se no bando, isto é, de se tornar um sujeito anônimo e indiferenciado, sustentado somente por motivações emocionais”[xxi].

Não é mais a comunidade ou o vinculo a um determinado estrato social, mas sim “o bando” a caracterizar a sociedade sem adultos, uma sociedade que abandonou o seu dever educativo.

Os Procis, filhos de um pai ausente

Essa linha de leitura vem confirmada também na mitologia, na qual está narrada a história do homem e da mulher de todos os tempos. A categoria de “bando” lembra os Procis, magnificamente descritos por Homero, aquela massa numerosa (108 segundo a Odisseia XVI, 247 s.), violenta e parasita, dominada por uma agressividade desenfreada.

Exatamente como Peter Pan, esses não são mais crianças e nem mesmo homens; não fizeram nenhuma escolha em suas vidas; vivem cada dia, dos expedientes, gozando do instante presente, sem nenhum projeto pelo qual valha a pena empenhar-se. A atualidade psicológica e social desses personagens é digna de atenção: “Os Procis […] são a massa supérflua que logo preenche todo vazio de poder na sociedade. Mas na psiché são o adversário interno, a desagregação da responsabilidade […]. O que Ulisses odeia decididamente neles não é a arrogância – que não lhes é uma coisa estranha – mas o viver cada dia, sem nenhum objetivo: o ato supérfluo (anenysto epi ergo) […]. Aquilo que esses representam não pode ser readmitido na civilização, sob a pena da sua desagregação: a hilaridade, na qual o imaturo esconde o seu medo; o dia para chegar a noite; a obstinação a conquistar a mulher e a casa, a rainha e o palácio, sem a disponibilidade para organizar o sistema familiar e econômico. Mais uma vez, é o quadro do jovem desadaptado”[xxii].

O desenvolvimento narrativo da Odisseia faz agudamente notar como esses aparecem no dia seguinte ao desaparecimento do pai. A partida de Ulisses conduz à proliferação daqueles: os Procis podem ser considerados como a prefiguração ante litteram de Peter Pan. A comparação de ambos, de fato, não é forçada: é a mesma mitologia grega a colocar esses personagens em estreita relação entre eles. Pan seria, pois, o fruto da múltipla união dos Procis com Penélope durante a ausência de Ulisses[xxiii].

Colocados de frente à “prova do arco” (que, como veremos, é um símbolo da paternidade) se mostram incapazes de enfrentá-la (tendendo o arco para lançar a flecha), isso é, de assumir uma responsabilidade generativa que pode fazer deles homens. Têm idades diferentes, porém se apresentam com uma única classe, amorfa, sem identidade.

A tarefa de se tornar adultos

Mas o que significa ser adulto? Significa, antes de tudo, aceitar não ser mais criança, renunciando aos valores e comportamentos de idades precedentes para assumir a novos: a renúncia é a condição do crescimento, como bem tinha intuído Max Scheler[xxiv].

Deixar uma fase: isto é o que o adulto atual não parece mais capaz de fazer, antes de tudo, a nível imaginativo, lamentando-se sempre da criança ou do adolescente que jamais foi. Trata-se, porém, de acolher o que Freud chamava de o princípio da realidade que passa por uma ferida, uma experiência de impotência e de mortalidade que, paradoxalmente, no momento no qual vem assumido, fortalece o ser humano.

Isto era o significado dos “ritos de passagem” ou de iniciação, que nas sociedades de cada época marcavam o ingresso do jovem na idade adulta, mediante cerimônias guiadas por adultos. Os ritos de iniciação resultam fundamentais porque têm como objeto a agressividade, o sofrimento e a morte, em outras palavras, o ser humano na sua verdade e fragilidade. O rito podia fazer isso, porque recordava a sacralidade da vida e a sua relação com Deus; isso era o significado do gesto de tirar com violência a criança dos braços da mãe (que até aquele momento era o ponto de referência peculiar) para elevá-la ao céu, um gesto com o qual ela recebe a confirmação da própria identidade: “O significado desse gesto é claro: se consagram os neófitos ao Deus celeste”[xxv]. Essa tarefa sempre foi peculiar do pai.

Quando não se cumprem os ritos de iniciação, esses não desaparecem, mas enlouquecem, dando origem às derivas do “bando”. As violências das baby gang, o bullying masculino e feminino, os estupros de grupo, os “embalos de sábado à noite”, os comportamentos de risco, o uso de drogas em grupo, a atração pelo macabro são ritos de iniciação enlouquecidos, pedidos degenerados de tomar contato com a dimensão da corporeidade, da relação, da agressividade, do perigo, da morte, mas sem que exista, no entanto, um adulto capaz de acompanhar-lhes.

O desaparecimento dos adultos se traduz também numa redefinição dos papéis familiares: não são mais os filhos que devem aprender dos pais e receber deles normas e ensinamentos, mas ao contrário, são os pais que se conformam aos critérios e aos comportamentos dos filhos, procurando desse modo conseguirem a aprovação deles.

A necessidade de um modelo

Para ser adulto deve-se, pois, ter recebido uma ferida, aquela ruptura violenta que caracteriza o ingresso na realidade representada pelos ritos de iniciação. Tomar contato com aquela ferida significa para o jovem reconhecer e acolher a própria fragilidade. Isso lhe permite afrontar a realidade, abandonando as fantasias pueris e reconhecendo os próprios desejos profundos. Tornar-se adulto não significa de nenhuma maneira sentir-se onipotente, livre de defeitos ou limites, mas ocupar o próprio lugar, aceitando a possibilidade de equivocar, acolhendo o tempo que passa[xxvi].

O primeiro ensinamento que Deus dá ao homem na Bíblia é exatamente esse: se queres viver, se queres saborear a vida, recorda-te de que eres criatura, de que não és Deus. Isso é expresso na proibição de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal (cfr. Gn. 2, 16): no trecho, aquela árvore simboliza o próprio Deus e o homem deve preservar-se do desejo de querer tomar-lhe o posto, porque acabará se destruindo. Naquele ensinamento podem-se conter as três etapas fundamentais do desenvolvimento humano: o nascimento, o desaleitamento, a derrota edípica. Essas constituem as três diferentes derrotas da onipotência, são os três “pontos de não-retorno” próprios do crescimento (em relação à condição pré-natal, ao aleitamento, a um ligame exclusivo com a mãe), indispensáveis para entrar na realidade, para ser “vivo”. Se cumpridas corretamente, essas três renúncias permitem, na idade adulta, fazer escolhas definitivas; por outro lado, a maior parte das dificuldades e do desgosto de viver é ligada exatamente a esses três aspectos.

À raiz de muitos pedidos de ajuda psicológica está frequentemente a não aceitação da própria verdade de criatura, marcada pelo limite e pela fragilidade: não se aceitar a si mesmo, antes de tudo o próprio corpo (pensemos no boom de cirurgias plásticas e do lifting com consequências também graves para a própria saúde, mas também nos distúrbios alimentares como a bulimia e a anorexia), não se aceita a própria família de proveniência, a própria história e personalidade.

Dever fundamental da mãe e do pai, o qual, como visto em outras ocasiões, é símbolo forte do Pai celeste, é apresentar novamente aos próprios filhos esse ensinamento do livro de Gênesis[xxvii], de tomar consciência dos próprios limites, condição fundamental para se tornar adulto e para produzir frutos na própria vida. Os pais podem fazer isso porque precedentemente acertaram as contas com a própria fragilidade, com a própria ferida originária[xxviii].

Se os pais querem, em vez, salvaguardar os filhos de todo tipo de dificuldade, isso levará ao aparecimento de dúvidas e frustrações interiores, que minam, à raiz, a estima de si e a capacidade de assumir responsabilidades. Principalmente os filhos terão dificuldades em aproximar-se aos seus desejos profundos, àquilo que realmente querem das suas vidas: “A clínica dos assim ditos novos sintomas mostra bem como o problema da atual insatisfação da juventude não seja tanto aquele do conflito entre o programa do impulso e aquele da Civilização […], mas de como aceder à experiência do desejo […]. A crise atual da operabilidade da ordem simbólica coincide com a crise do poder de interdição, mas também com a dificuldade da transmissão do desejo de uma geração a outra”[xxix].

Trata-se de saber dizer “não”, de colocar limites, impopulares certamente, mas que permitam de aceder ao desejo do coração e tornam capaz de superar os obstáculos que se entrepõem à realização dos mesmos. O limite e a frustração são elementos essenciais da educação, ainda que acompanhados do afeto e da confiança. Às vezes é o filho mesmo a pedir esse limite e que uma relação assimétrica (de adulto a filho) seja posta, também em forma não verbal, como no caso da garota surpreendida roubando em uma grande loja: “Essa jovem não estava simplesmente fraudando a lei ou gozando da emoção causada pela sua transgressão. Em modo paradoxal, ela estava fazendo exatamente o contrário: estava buscando ser vista pela lei, isto é, de fazer existir uma lei. ‘Alguém me vê? Alguém pode me ajudar a não me perder, a não me extraviar? Existe em qualquer lugar uma lei ou, mais simplesmente, um adulto que possa responder-me, que possa perceber a minha existência?’ A pergunta dos nossos jovens insiste e nos coloca com as costas contra o muro: ‘Vocês existem? Os adultos ainda existem? Há alguém ainda que saiba assumir responsavelmente o peso da própria palavra e dos próprios atos?’ Na cleptomania daquela garota podemos perceber toda a grandeza da insatisfação da juventude contemporânea”[xxx].

O filho pode compreender o valor do limite se vê nos pais não um tirano que o rejeita, nem o “camarada” que se coloca no mesmo nível dizendo-lhe sempre “sim”, mas alguém que o introduz com afeto na realidade, na sua dimensão de mediocridade e de fragilidade. O adulto pode fazer isso porque antes a acolheu em si mesmo. Isso lhe consente não colocar-se no mesmo nível daquele que é chamado a educar e de não ceder a chantagens afetivas.

Não se trata certamente de uma tarefa fácil: essa é, porém, o único modo para não fazer do filho um escravo dos próprios caprichos. A incapacidade de dizer “não” é um dos sinais mais fortes da crise do adulto e da perigosa inversão da derrota edípica, uma inversão inédita, na qual são os pais a pedir aos filhos de serem reconhecidos[xxxi].

Retomar o arco de Ulisses

A crise do adulto, reconhecida e descrita pela mitologia, pode encontrar, na mesma mitologia, possíveis saídas. Toda a primeira parte da Odisseia é chamada de Telemaqueia, a busca afanosa pelo pai ausente, por parte do filho. Ele não se resigna com o seu desaparecimento, mas deseja ver o pai, ainda que não o tenha jamais conhecido verdadeiramente, anseia de poder ter dele ao menos uma imagem para ser impressa na sua mente[xxxii].

O caso de Telêmaco é muito parecido à situação da juventude atual. Para ambos não são, certamente, algumas coisas que lhes faltam, nem mesmo o bem-estar; esses se descobrem, às vezes, desprovidos daquela representação ideal de si que somente o pai é capaz de dar.

Na Odisseia, Ulisses pode ser finalmente reconhecido como pai somente quando, no final da poesia, o filho o vê empunhar o arco, com aparência humilde, mas decidido: “parece que Homero pensou nos nossos tempos e que nos advertiu: jamais o pai desaparece totalmente. Mas não creiais de reencontrá-lo nos machos barulhentos: aqueles são os Procis, os eternos não-adultos. Se alguém, em vez, é humilde, paciente, poderia ser ele, o sobrevivente de guerras e tempestades”[xxxiii].

O arco pode simbolizar o papel e a tarefa do pai, que não é delegável; e, de fato, nenhum dos Procis tem a capacidade de manejá-lo, porque não possuem autoridade para isso. Mas o pai do qual se fala não é certamente o pai-patrão que caracterizou as nossas sociedades dos últimos dois séculos, levando ao final à sua rejeição e afastamento. Ulisses, em vez, diz com precisão Homero, sabe tender o arco como um músico acaricia a harpa, associando com esse gesto as duas funções essenciais do pai: a força e a ternura[xxxiv].

Somente quando é capaz de unirem em si essas duas virtudes, a autoridade e a ternura, Ulisses pode novamente empunhar o seu arco e meter fim à “noite dos Procis” [xxxv].

Tradução ao português:

Pe. Anderson Alves e Joyce Scoralick.


[i] Artigo publicado em La Civiltà Cattolica, II 220-232, caderno 3885 (5 de maio de 2012).

[xviii] CATALUCCIO, F. M. Immaturità. La malattia del nostro tempo, Torino, Einaudi, 2004, 40.

[xix] SCALFARI, E. «Il padre che manca alla nostra società», in La Repubblica, 27 dicembre 1998.

[xx] Cfr. COOPER, D. La morte della famiglia. Il nucleo familiare nella società capitalistica, Torino, Einaudi, 1972.

[xxi] SCALFARI, E. «Il padre che manca alla nostra società», cit.

[xxii] ZOJA, L. Il gesto di Ettore. Preistoria, storia, attualità, scomparsa del padre, Torino Boringhieri, 2000, 115 s.

[xxiii] Cfr. GRIMAL, P. Mitología, cit., 476.

[xxiv] Cfr. SCHELER, M. Il risentimento nella edificazione delle morali, Milano, Vita e Pensiero, 1975, 53.

[xxv] ELIADE, M. La nascita mistica. Riti e simboli d’iniziazione, Brescia, Morcelliana, 1974, 24; cfr. tbm. ZOJA, L.: «A elevação da criança entre os Romanos servia ao nascimento psíquico do filho e do pai como pai» (Il gesto di Ettore …, cit., 247; cursiva no texto). De outra época e cultura, veja-se a descrição de MANDELA, N. culminante com o grito “Ndiyindoda! (‘Sou um homem!’)” (Lungo cammino verso la libertà, Milano, Feltrinelli, 2010, 35). Sobre os ritos de iniciação permanecem fundamentais os estudos de VAN GENNEP, A. I riti di passaggio, Torino, Boringhieri, 1981.

[xxvi] Cfr. RECALCATI, M. Cosa resta del padre? La paternità nell’’epoca ipermoderna, Milano, Cortina, 2011, 111-115.

[xxvii] Para ser mais preciso, os dois primeiros aspectos vêem a mãe como protagonista, o terceiro não redutível apenas à derrota edipiana, é próprio do pai e reflete o simbolismo mais complexo dos ritos de iniciação. Na realidade, ambos os pais também são fundamentais na diferente especificidade de suas intervenções, para a ajuda mútua que são chamados a dar-se, nas diferentes fases da vida dos filhos (cf. Cucci, G. Esperienza  religiosa e psicologia, Leumann [To] – Roma, Elledici – La Civiltà Cattolica, 2009, 79,98;. ID., La forza dalla debolezza. Aspetti psicologici dela vita spirituale, Roma, Adp, 2011, 121-133).

[xxviii] Cfr. RISÉ, C. Il padre, l’assente inaccettabile, Cinisello Balsamo (Mi), San Paolo, 2003, 14-24. C. CUCCI, “o pai é chamado a desenvolver um papel decisivo n avida de fé”, in Civ. Catt. 2009 III 118-127; “Il suicidio giovanile. Una drammatica realtà del nostro tempo”, ivi, 2011 II 121-134.

[xxix] RECALCATI, M. Cosa resta del padre? …, cit., 105-107. Cfr. CUCCI, G. «Il desiderio, motore della vita», in Civ. Catt., 2010 I 568-578.

[xxx] RECALCATI, M. “Dove sonno finiti gli adulti?”, cit., 57.

[xxxi] Cfr. ID., Cosa resta del padre? …, cit., 108 s.

[xxxii] “Na Telemachia o protagonista busca notícias do pai não só para saber onde era e para saber como era, mas, sobretudo, para conhecer a personalidade e desenvolver a si mesmo segundo aquele modelo» (PRIVITERA, G. A. Il ritorno del guerriero. Lettura dell’O­dissea, Torino, Einaudi, 2005, 57; cfr. HOMERO, Odisseia, Torino, Utet, 2005, 1. I, 83.111.115 s. 240; 1, IV, 317).

[xxxiii] ZOJA, L. Il gesto di Ettore, cit, 113 s; HOMERO, Odissea, cit., XVI, 148 s.

[xxxiv] “O astuto Odisseu, não apenas deliberou e em todas as partes provou o gran­de arco, como quando um homem experto em tocar citra e em cantar move facilmente a corda […] imediatamente moveu assim, sem esforço, o grande arco” (HOMERO, Odisseia, cit., XXI, 404-410).

[xxxv] ZOJA, L. Il gesto di Ettore…, cit., 305.

https://www.presbiteros.org.br/

Este crucifixo sobreviveu aos ataques do Estado Islâmico

Aid to the Church in Need UK
por Lucien de guise

Encontrado entre as ruínas de uma comunidade católica caldeia, o crucifixo se tornou ícone de esperança para os cristãos iraquianos.

Enquanto o Papa Francisco estiver no Iraque, ele sem dúvida verá muitos devotos, mas não tantos itens devocionais cristãos. O nível de destruição causado pelo Estado Islâmico ainda é desconcertante. Sete anos atrás, isso se tornou evidente em imagens de igrejas profanadas, crucifixos destruídos e estátuas de Nossa Senhora decapitadas.

Agora que tempos relativamente pacíficos voltaram a esta terra bíblica, há alguma chance de reconstrução para o que resta dos cristãos iraquianos e sua herança. Muito desse progresso se deve às organizações católicas. Na vanguarda está a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) do Reino Unido.

O crucifixo recuperado

De fato foi um dos emissários da AIS do Reino Unido que resgatou uma relíquia que deu esperança em um momento de desânimo para os cristãos. Nas ruínas da Igreja de São Jorge, na vila católica caldeia de Baqofa, Stephen Rasche tropeçou em um crucifixo que havia sobrevivido aos ataques iconoclastas do Estado Islâmico. Apesar de ninguém conhecer muito sobre a história do crucifixo, ele se tornou um ícone de fé e esperança indestrutíveis.

Como seu futuro no Iraque era incerto na época, o crucifixo foi enviado ao Reino Unido e está na Catedral de Westminster. Embora intencionalmente não houvesse alarde, lembro-me de ter ficado surpreso com o número de visitantes que gravitaram em torno deste crucifixo. Talvez sua precariedade fosse atraente em meio ao esplendor bizantino da catedral. Mas prefiro pensar que houve algum poder interior que atraiu as pessoas.

IRAQ CRUCIFIX
Photo by Lucien de Guise

De volta ao Iraque

O crucifixo está agora seguro noo Iraque, agindo como o mesmo farol de esperança que tinha nos dias mais sombrios de tentativa de genocídio de cristãos e outras minorias por parte do Estado Islâmico. Nesse ínterim, houve iniciativas para restaurar as cidades das planícies bíblicas de Nínive.

Em sua visita ao Iraque, o Papa Francisco vai visitar a região. E é gratificante ouvir relatos de que a população muçulmana local também está consertando algumas das pontes metafóricas que foram destruídas – junto com algumas igrejas reais.

Museu virtual

Este crucifixo foi exibido em 2017 em uma exposição na Catedral de Westminster pelo Museu da Cruz, a primeira instituição dedicada à diversidade do símbolo mais poderoso e de longo alcance da história.

Entretanto, após 10 anos de preparação, o museu estava quase pronto para abrir..Mas veio a pandemia e atrapalhou os planos. A boa notícia é que o museu virtual tem uma conta no Instagram onde os internautas podem apreciar este e outros tesouros. Clique aqui e acesse.

Aleteia

“A Igreja é ameaçada de viver como se Cristo não existisse”, alerta Cardeal Cantalamessa

Guadium Press
O pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, ministrou a segunda pregação da Quaresma aos membros da Cúria Romana com o tema “Quem de vós pode acusar-me de pecado?”.

Redação (05/03/2021 10:29, Gaudium Press) Na manhã desta sexta-feira, 5 de março, o pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa, ministrou a segunda pregação da Quaresma aos membros da Cúria Romana. O tema seguido foi “Quem de vós pode acusar-me de pecado?”.

Viver como se Cristo não existisse

O purpurado iniciou advertindo que a Igreja é ameaçada pelo perigo mortal de viver como se Cristo não existisse. Este é o “pressuposto com o qual o mundo e seus meios de comunicação falam todo o tempo da Igreja”.

Segundo ele, da Igreja interessam história, organização, o ponto de vista sobre os problemas do momento, os fatos e as fofocas, mas “raramente se encontra mencionada a pessoa de Jesus”, que não entra nem no diálogo entre Fé e filosofia, nem entre fé e ciência, nem no diálogo inter-religioso.

O religioso alerta os fiéis de que “na preocupação – além do mais, justíssima – de responder às exigências e provocações da história e da cultura, nós corremos o perigo mortal de nos comportarmos, como se Cristo não existisse. Como se fosse possível falar da Igreja prescindindo de Cristo e do seu Evangelho”.

Guadium Press

Escolha do tema da segunda pregação da Quaresma aos membros da Cúria Romana

“Qual é, então, a utilidade de escolher este tema? É que aqui se falará somente dele, como se existisse só ele, e valesse a pena se ocupar só dele (o que é, definitivamente, a verdade!). O nosso intuito não é apologético, mas espiritual. Em outras palavras, não falamos para convencer os outros, os não fiéis, mas para que ele se torne sempre mais realmente o Senhor da nossa vida, o nosso tudo”, este será “o modo mais eficaz de fazer evangelização.

Em seguida, o Cardeal explicou que Aquele de quem se fala é o Cristo dos Evangelhos e da Igreja. “Podemos falar de um triângulo dogmático sobre Cristo: os dois lados são a humanidade e a divindade de Cristo, e o vértice, a unidade da sua pessoa. Tudo o que se diz de Cristo deve, assim, respeitar esse dado certo e indiscutível, isto é: que ele é Deus e homem ao mesmo tempo; melhor, na mesma pessoa”.

Do alto do Calvário, Jesus na cruz disse sete palavras, ou melhor sete frases pronunciadas durante a crucifixão. Eis um tema de meditação para a Semana Santa
Guadium Press

Dogma da perfeita humanidade de Cristo

Focando no dogma da perfeita humanidade de Cristo, Cantalamessa ressaltou que ao longo da vida terrena de Jesus, ninguém colocou em dúvida de que ele fosse realmente um homem como os outros.

“Quando fala da humanidade de Jesus, o Novo Testamento se mostra interessado mais pela santidade dela, que da verdade ou realidade dela, mais pela sua perfeição moral do que pela sua completude ontológica”, explicou o pregador.

Cantalamessa exortou para que se volte a valorizar este dado bíblico primário. “Ninguém hoje nega que Jesus tenha sido um homem, como faziam os docetistas e os outros negadores da plena humanidade de Cristo. Assiste-se, antes, a um fenômeno estranho e inquietante: a ‘verdadeira’ humanidade de Cristo é afirmada em tácita alternativa à sua divindade, como uma espécie de contrapeso”.

O coração de Nosso Senhor permanece aberto a todos os homens e mulheres. Ainda que não possamos adorar juntos, cada um de nós pode buscá-lo nos tabernáculos de nossos próprios corações.
Guadium Press

A santidade de Nosso Senhor Jesus Cristo é uma santidade real

O pregador da Casa Pontifícia, sublinha que através da observação dos Evangelhos é possível ver que “a santidade de Jesus não é somente um princípio abstrato, ou uma dedução metafísica, mas é uma santidade real, vivida momento por momento e nas situações mais concretas da vida”.

Como exemplo, o religioso utiliza as Bem-aventuranças, que “não são apenas um belo programa de vida que Jesus traça para os outros; é a sua própria vida e a sua experiência que ele desvela aos discípulos, chamando-os a entrar na sua mesma esfera de santidade. As Bem-aventuranças são o autorretrato de Jesus”.

O coração de Nosso Senhor permanece aberto a todos os homens e mulheres. Ainda que não possamos adorar juntos, cada um de nós pode buscá-lo nos tabernáculos de nossos próprios corações.
Guadium Press

O que a santidade de Cristo significa para nós?

Em seguida, o purpurado se aprofunda sobre o significado da santidade de Nosso Senhor Jesus Cristo para nós. “Jesus comunica, doa, presenteia-nos a sua santidade. A sua santidade é também a nossa. E mais: que ele mesmo é a nossa santidade”, destacou.

Por fim, o Cardeal Cantalamessa destaca que a santidade de Jesus consistia em fazer sempre o que agradava ao Pai. E recomenda que “tentemos nos perguntar o mais frequente que pudermos, diante de toda decisão a se tomar e toda resposta a dar: ‘Qual é, no caso presente, a coisa que Jesus gostaria que eu fizesse?’ e fazê-la sem adiar”.

“Saber qual é a vontade de Jesus é mais fácil que saber, em abstrato, qual é ‘a vontade de Deus’ (ainda que as duas coincidam de fato). Para conhecer a vontade de Jesus, não devemos fazer outra coisa senão recordar o que diz no Evangelho. O Espírito Santo está ali, pronto para nos recordá-lo”, concluiu. (EPC)

https://gaudiumpress.org/

Papa: o ódio é incompatível com os ensinamentos religiosos

Visita do Papa Francisco ao Iraque | ALETEIA

"Não esqueçamos jamais que Cristo é anunciado sobretudo com o testemunho de vidas transformadas pela alegria do Evangelho".

O Papa Francisco afirmou hoje que a religião deve servir a causa da paz e da unidade entre todos os filhos de Deus.

Em seu encontro com o clero, na Catedral de Bagdá, o Papa recordou o atentado terrorista que, em 2010, matou 58 pessoas nessa catedral.

A sua morte lembra-nos fortemente que o incitamento à guerra, os comportamentos de ódio, a violência e o derramamento de sangue são incompatíveis com os ensinamentos religiosos. E quero recordar todas as vítimas de violências e perseguições, pertencentes a qualquer comunidade religiosa.

O Papa fez um agradecimento ao clero e aos católicos “pelo vosso empenho de serdes operadores de paz dentro das vossas comunidades e com os crentes doutras tradições religiosas, espalhando sementes de reconciliação e convivência fraterna que possam levar a um esperançoso renascimento para todos”.

O remédio contra o desânimo

Em meio a tantas dificuldades que vivem os católicos no Iraque, o Papa pediu que o povo não se deixe contagiar pelo “vírus do desânimo”.

O Senhor deu-nos uma vacina eficaz contra este vírus mau: é a esperança; a esperança, que nasce da oração perseverante e da fidelidade diária ao nosso apostolado. Com esta vacina, podemos prosseguir com energia sempre nova, para partilhar a alegria do Evangelho como discípulos missionários e sinais vivos da presença do Reino de Deus, Reino de santidade, justiça e paz.

Quanta necessidade tem o mundo ao nosso redor de ouvir esta mensagem! Não esqueçamos jamais que Cristo é anunciado sobretudo com o testemunho de vidas transformadas pela alegria do Evangelho. Como vemos pela antiga história da Igreja nestas terras, uma fé viva em Jesus é «contagiosa», pode mudar o mundo. O exemplo dos Santos mostra-nos que seguir Jesus Cristo «não é algo apenas verdadeiro e justo, mas também belo, capaz de cumular a vida dum novo esplendor e duma alegria profunda, mesmo no meio das provações».

Guerras e perseguições

O Papa Francisco reconheceu que as dificuldades fazem parte da experiência diária dos fiéis iraquianos.

Nas últimas décadas, vós e os vossos concidadãos tivestes de enfrentar os efeitos da guerra e das perseguições, a fragilidade das infraestruturas básicas e uma luta contínua pela segurança económica e pessoal, que muitas vezes levou a deslocamentos internos e à migração de muitos, inclusive cristãos, para outras partes do mundo. Agradeço-vos, irmãos bispos e sacerdotes, por terdes permanecido junto do vosso povo – junto do vosso povo –, apoiando-o, esforçando-vos por satisfazer as carências das pessoas e ajudando cada um a fazer a sua parte ao serviço do bem comum. O apostolado educativo e o sociocaritativo das vossas Igrejas Particulares constituem um recurso precioso para a vida quer da comunidade eclesial quer da sociedade inteira. Animo-vos a perseverar neste compromisso, a fim de garantir que a Comunidade Católica no Iraque, apesar de pequena como um grão de mostarda (cf. Mt 13, 31-32), continue a enriquecer o caminho do país no seu conjunto.

Comunidade de irmãos e irmãs

O Papa afirmou que o amor de Cristo “pede-nos para colocar de lado qualquer tipo de egocentrismo e competição; impele-nos à comunhão universal e chama-nos a formar uma comunidade de irmãos e irmãs que se acolhem e cuidam mutuamente”.

Vem-me ao pensamento a imagem familiar dum tapete. As diversas Igrejas presentes no Iraque, cada qual com o seu secular património histórico, litúrgico e espiritual, são como tantos fios de variegadas cores que, entrelaçados conjuntamente, compõem um único belíssimo tapete, que não só atesta a nossa fraternidade, mas remete também para a sua fonte, pois o próprio Deus é o artista que idealizou este tapete, que o tece com paciência e prende cuidadosamente querendo-nos sempre bem entrelaçados entre nós, como seus filhos e filhas.

Esteja sempre no nosso coração esta exortação de Santo Inácio de Antioquia: «Nada haja entre vós que possa dividir-vos (…), mas fazei tudo em comum: uma só oração, uma só prece, uma só alma, uma só esperança na caridade e na santa alegria» (Ad Magnesios, 6-7: PL 5, 667). Como é importante este testemunho de união fraterna num mundo que se vê frequentemente fragmentado e dilacerado pelas divisões! Todo o esforço feito para construir pontes entre comunidades e instituições eclesiais, paroquiais e diocesanas aparecerá como gesto profético da Igreja no Iraque e como resposta fecunda à oração de Jesus para que todos sejam um só (cf. Jo 17, 21; Ecclesia in Medio Oriente, 37).

O Papa disse ainda que pastores e fiéis, sacerdotes, religiosos e catequistas partilham – embora de maneira diferente – a responsabilidade de continuar a missão da Igreja.

Às vezes é possível que surjam incompreensões e podem-se experimentar tensões: são os nós que dificultam a tecedura da fraternidade. E trazemo-los dentro de nós mesmos; aliás somos todos pecadores. Mas estes nós podem ser desenlaçados pela graça, por um amor maior; podem ser desenvencilhados pelo perdão e o diálogo fraterno, carregando pacientemente os fardos uns dos outros (cf. Gal 6, 2) e animando-se mutuamente nos momentos de provação e dificuldade.

Aleteia

Mais de 90% dos poloneses se identificam como católicos, diz relatório

Guadium Press
No relatório intitulado “Igreja na Polônia” há diversos dados e análises sobre a atividade dos católicos no país.

Polônia – Varsóvia (05/03/2021 15:32, Gaudium Press) A Agência Católica de Informação (KAI) divulgou nesta sexta-feira, 5 de março, um relatório intitulado “Igreja na Polônia”. O documento afirma que 91,9% dos poloneses se identificam como católicos, um pouco mais de 3% se autodenominaram sem fé, enquanto 0,9% se identificaram como cristãos ortodoxos.

O dado é importante, ainda mais dentro do atual contexto, no qual há uma secularização cada vez maior na sociedade. Outro dado importante apresentado na publicação é o de que 36,9% dos católicos comparecem regularmente à Santa Missa.

Guadium Press

A pandemia fortaleceu os laços familiares e a religiosidade na Polônia

Outros dados preocupantes sobre a Igreja na Polônia, também foram apresentados no documento. Dentre eles se destacam a diminuição de jovens que observam a prática religiosa e também a queda no número de pessoas que expressam estima pela Igreja, apesar desse último dado ter apresentado uma ligeira melhora no início deste ano.

A Conferência dos Bispos poloneses afirmou que a pandemia de Covid-19 “destacou o processo de enfraquecimento das práticas religiosas coletivas e dos laços com a paróquia já em andamento nas últimas décadas”. Entretanto, ela também fortaleceu “os laços familiares e a religiosidade”.

Guadium Press

Igreja Católica na Polônia em números

A Igreja na Polônia possui dois Cardeais, 29 Arcebispos, 123 Bispos, 33.600 sacerdotes e cerca de 19 mil religiosas. Em 2020 o número de seminaristas era de 2.556. Atualmente, o número de missionários poloneses pelo mundo é de 1.883, servindo em 99 países nos cinco continentes.

A Polônia possui ainda 1.050 santuários católicos, dos quais 793 são marianos. Um dos mais conhecidos é o Mosteiro Jasna Gora, que conserva o ícone de Nossa Senhora de Czestochowa, e que em 2019 acolheu 4,4 milhões de peregrinos. Outro importante templo polonês é o Santuário da Divina Misericórdia, ligado às aparições de Jesus a Santa Faustina Kowalska. (EPC)

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Planície de Ur: uma visita do Papa à pátria de Abraão

Planície de Ur. Crédito: Joshua McFall (CC BY-NC-ND 2.0)

BAGDÁ, 05 mar. 21 / 11:05 am (ACI).- Durante a sua viagem apostólica ao Iraque, o Papa Francisco realizará uma visita à planície de Ur, um lugar significativo para a fé por ser a terra de Abraão, onde Deus falou com ele pela primeira vez.

A cidade de Ur é mencionada na Bíblia, especialmente no Gênesis, onde se indica que “Taré tomou seu filho Abrão, seu neto Ló, filho de Aram, e Sarai, sua nora, mulher de Abrão, seu filho, e partiu com eles de Ur da Caldeia, indo para a terra de Canaã. Chegados a Harã, estabeleceram-se ali".

São João Paulo II manifestou o desejo de visitar esta planície no dia 29 de junho de 1999, na sua "Carta sobre a peregrinação aos lugares relacionados com a história da salvação". Ele tinha esperança de poder visitar Ur no ano 2000, mas devido às guerras que atingiram o país naquela época, foi impossível.

De 5 a 8 de março, o Papa Francisco estará em visita apostólica ao Iraque, país de maioria muçulmana onde os católicos representam apenas 1,5% de uma população de 38,8 milhões de pessoas, segundo o Vaticano, e que há poucos anos sofreram perseguições por parte do grupo terrorista Estado Islâmico.

Durante o segundo dia de sua visita apostólica, o Santo Padre terá um encontro inter-religioso em Ur dos Caldeus, uma antiga cidade na baixa Mesopotâmia, 300 quilômetros ao sul da capital do Iraque, Bagdá.

Por isso, Dom Francis Kalabat, bispo caldeu que serve esta comunidade nos Estados Unidos, disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que a visita do Papa Francisco a Ur é significativa.

“Ser o primeiro Papa na história em visitar o Iraque e, especificamente, Ur é significativo. É no espírito da Fratelli tutti que o Papa visita o Iraque e, portanto, o logotipo oficial traz as palavras ‘Sois todos irmãos’”, assinalou.

Dom Kalabat, Bispo da Eparquia de São Tomé Apóstolo, em Detroit, indicou que a origem do Cristianismo no Iraque atual tem “suas raízes no Apóstolo São Tomé”.

“De caminho à Índia, São Tomé deixou para trás os santos Addai, Aggai e Mari. Os registros documentados revelam que, no final do século II, a Igreja era uma entidade organizada, com catedrais construídas e uma hierarquia em seu local”, assinalou.

O Prelado indicou que atualmente Ur "está em grande parte desprovida de cristãos", mas é um lugar importante porque é "a casa de nosso pai na fé Abraão".

“Sempre foi revelada como o lugar da semente da fé”, frisou.

Finalmente, Dom Kalabat disse que o impacto da viagem apostólica do Papa ao Iraque será "uma maior compreensão da fraternidade" no país e uma oportunidade para "unir todos sob uma mesma humanidade".

As comunidades cristãs iraquianas estão marcadas pela perseguição, discriminação e martírio, o que forçou inúmeras famílias ao deslocamento interno e ao exílio, um fenômeno que se intensificou depois da queda de Sadam Hussein em 2003 e da ofensiva dos terroristas do Estado Islâmico (ISIS), em 2014.

Após a ocupação da planície de Nínive pelo ISIS, mais de 100 mil cristãos abandonaram as suas casas. Esta região, berço do cristianismo iraquiano, ficou quase sem cristãos. Aqueles que não conseguiram fugir tiveram que sofrer sob o regime do Estado Islâmico. Muitos lugares e igrejas cristãos foram destruídos e casas cristãs ocupadas.

Com a queda do ISIS em 2017, os cristãos começaram um retorno gradual.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

Papa na terra de Abraão: terrorismo trai a religião. A paz não exige vencedores nem vencidos

Encontro Inter-religioso em Ur | VatiacanNews

Na cidade de Ur, Francisco reúne-se com líderes religiosos para uma mensagem comum de paz: "Quem acredita em Deus não tem inimigos para combater". A verdadeira religiosidade é adorar a Deus e amar o próximo.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Na terra de Abraão, na planície de Ur, realizou-se na manhã deste sábado um dos eventos mais aguardados da viagem do Papa Francisco ao Iraque.

Judeus, cristãos, muçulmanos e representantes de outras religiões se reuniram para rezar e regressar aos primórdios da obra de Deus junto à humanidade. A cidade, de fato, é citada na Bíblia e é indicada como o local de nascimento de Abraão e onde o Patriarca das religiões monoteístas falou pela primeira vez com o Criador.

Depois de ouvir cantos, e o testemunho de homens e mulheres, o Pontífice pronunciou um discurso que mais parece uma poesia, que remete ao diálogo narrado no Livro do Gênesis, quando Deus pediu a Abraão que levantasse os olhos para o céu e contasse as estrelas.

A nossa função primeira é esta, disse o Papa: ajudar os nossos irmãos e irmãs a elevarem o olhar e a oração para o Céu.

“Erguemos os olhos ao Céu para nos elevarmos das torpezas da vaidade; servimos a Deus, para sair da escravidão do próprio eu, porque Deus nos impele a amar. Esta é a verdadeira religiosidade: adorar a Deus e amar o próximo.”

Traições da religião

Uma característica de Deus que Francisco continuamente ressalta é a misericórdia de Deus, portanto “a ofensa mais blasfema é profanar o seu nome odiando o irmão”.

“Hostilidade, extremismo e violência não nascem dum ânimo religioso: são traições da religião. E nós, crentes, não podemos ficar calados, quando o terrorismo abusa da religião. Antes, cabe a nós dissipar com clareza os mal-entendidos. Não permitamos que a luz do Céu seja ocultada pelas nuvens do ódio!”

O Pontífice rezou por todas as vítimas do terrorismo, citando mais uma vez – como fez no discurso às autoridades – a comunidade yazidi.

“O Céu não se cansou da terra: Deus ama cada povo, cada uma das suas filhas e cada um dos seus filhos! Nunca nos cansemos de olhar para o céu, de olhar para estas estrelas.”

Deus não é contra ninguém, mas é por todos

Mas é da terra que se olha para o céu e é aqui que somos chamados a percorrer juntos sendas de paz. Não nos salvará a idolatria do dinheiro nem o consumismo, mas somente a partilha e o acolhimento. Não haverá paz enquanto se olhar os outros como um "eles", e não como um "nós".

Uma antiga profecia diz que os povos "transformarão as suas espadas em relhas de arados, e as suas lanças, em foices" (Is 2, 4). Esta profecia não se realizou; antes, espadas e lanças tornaram-se mísseis e bombas. E a vizinha Síria é um exemplo disto.

O caminho para a paz, apontou Francisco, começa na renúncia a ter inimigos. “Quem tem a coragem de olhar as estrelas, quem acredita em Deus, não tem inimigos para combater.” Deus não pode ser contra ninguém, mas por todos.

“Cabe a nós instar fortemente os responsáveis das nações para que a proliferação crescente de armas ceda o lugar à distribuição de alimentos para todos.” A vida humana vale pelo que é e não pelo que tem, recordou o Pontífice, que concluiu reafirmando um propósito:

“Nós, irmãos e irmãs de diversas religiões, encontramo-nos aqui, em casa, e a partir daqui juntos, queremos empenhar-nos para que se realize o sonho de Deus: que a família humana se torne hospitaleira e acolhedora para com todos os seus filhos; que, olhando o mesmo céu, caminhe em paz sobre a mesma terra.”

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF