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segunda-feira, 8 de março de 2021

O peregrino da paz e da esperança despede-se do Iraque

Despedida no Aaroporto de Bagdá
Vatican News

"Desta terra, há milênios, Abraão começou a sua viagem. Hoje cabe a nós continuá-la, com o mesmo espírito, caminhando juntos pelos caminhos da paz!", foi a mensagem do Papa em seu último compromisso público desta sua Viagem Apostólica.

Jackson Erpen - Vatican News

O Papa Francisco despediu-se do Iraque na manhã desta segunda-feira, 7, deixando uma mensagem de paz e esperança, e encorajando a recomeçar e a reconstruir.  "Sois todos irmãos" foi o lema que guiou a 33ª Viagem Apostólica de seu Pontificado.

Depois de se despedir da Nunciatura, onde logo cedo rezou uma Missa de forma privada, o Papa dirigiu-se ao Aeroporto Internacional de Bagdá para a cerimônia de despedidas, sendo acolhido pelo presidente da República Barham Ahmed Salih Qassim, acompanhado pela esposa, na entrada da Sala VIP Presidencial, onde conversaram por alguns minutos, em um clima de muita cordialidade e informalidade. Antes de saírem do local do encontro, o Pontífice trocou algumas palavras com a esposa do presidente. Ao caminharem sobre o tapete vermelho que conduzia ao avião, o presidente iraquiano mostrava-se muito sorridente, sendo perceptível sua satisfação pelo bom êxito da visita. Em um tweet, agradecido, escreveu: "Saudamos Sua Santidade Papa Francisco, que foi nosso hóspede em Bagdá, Najaf, Ur, Nínive e Erbil, trazendo uma grande mensagem de humanidade e solidariedade com o nosso país. A sua presença, sinal de paz e amor, permanecerá para sempre nos corações de todos os iraquianos".

Após saudar as delegações, o Papa Francisco embarcou no voo A330 da Alitália, que decolou às 9h54 (horário local) do Aeroporto Internacional de Bagdá com destino a Roma, aterrisando no Aeroporto Ciampino às 12h20 (horário italiano). 

O Iraque estará sempre em meu coração

Bagdá, Najaf, Ur, Mosul, Qaraqosh, Erbil: o Papa deixará saudades, mas o Iraque estará sempre em seu coração como disse ao final da Missa celebrada no domingo no Estádio Franso Hariri. Foram três dias intensos, onde Francisco pode tocar com a mão e o coração pessoas e locais que conheceram o sofrimento, com os tantos anos de guerras e conflitos sectários. “Ouvi vozes de sofrimento e angústia, mas ouvi também vozes de esperança e consolação”, disse ao final da Missa celebrada no domingo, assegurando suas orações “por este amado país”, e conviando todos a trabalharem juntos e unidos por um futuro de paz e prosperidade que não deixe ninguém para trás, nem discrimine ninguém’.

Igreja Mártir

Há muito o Papa esperava por essa visita. “Esperei com impaciência esse momento!”, confidenciou à comunidade de Qaraqosh, reunida na Igreja da Imaculada Conceição, Planície de Nínive. “Vou como peregrino, como peregrino penitente, para implorar perdão e reconciliação do Senhor depois de anos de guerra e terrorismo, para pedir a Deus consolo para os corações e cura para as feridas”, havia destacado na mensagem aos iraquianos no dia anterior à viagem. Feridas especialmente da Igreja mártir, bem como de outras minorias, que com a visita receberam o bálsamo do “carinho afetuoso de toda a Igreja” por meio da presença do Sucessor de Pedro, e que “os encoraja a seguir em frente”. “Deixemo-nos contagiar por esta esperança, que nos encoraja a reconstruir e a recomeçar!"

Caminho da fraternidade

Como “peregrino da esperança” e “mensageiro da paz”, o Papa também deu o exemplo do diálogo, tão necessitado em um país dilacerado, ao encontrar o clérigo xiita Al-Sistani e conseguir reunir em Ur - terra de Abraão, pai das três religiões monoteístas – representantes de grande parte das religiões presentes no Iraque.

“Desta terra, há milênios, Abraão começou a sua viagem. Hoje cabe a nós continuá-la, com o mesmo espírito, caminhando juntos pelos caminhos da paz! Por esta razão, invoco sobre vocês toda a paz e a bênção do Altíssimo. E peço a todos vocês que façam o mesmo que Abraão: caminhem com esperança e nunca deixem de olhar para as estrelas”.

Vatican News

Papa encontra pai de menino migrante afogado na Turquia

Kurdi conversa com o Papa / Vatican Media

VATICANO, 07 mar. 21 / 02:00 pm (ACI).- O Papa Francisco se encontrou no domingo 7 de março com Abdullah Kurdi, pai do menino Alan cujo corpo foi achado em uma praia da Turquia depois que o barco em que Kurdi, Alan e Rehana, mãe do menino, e Gaib, um outro filho do casal, naufragou tentando chegar à Europa em setembro de 2015. O encontro se deu no Estádio Franso Hariri, onde ocorreu a missa em Erbil, capital do Curdistão iraquiano, a pedido do papa.

"O Papa conversou longamente com ele”, diz o comunicado da Sala de Imprensa do Vaticano, “e com a ajuda do intérprete pode escutara a dor do pai pela perda da família e exprimir a participação dele e do Senhor no sofrimento do homoem. Abdulla manifestou gratidão ao Papa pelas palavras de proximidade a sua tragédia e a de todos os migrantes que buscam compreensão, paz e segurança deixando seus próprios países com risco de vida”.

Alan e a família, curdos siríacos, estavam a bordo de um barco com pelo menos 20 pessoas que adernou na noite de 2 de setembro de 2015 pouco depois de deixar Bodrum na Turquia, com intenção de chegar à ilha de Cos, na Grécia, a cerca de quatro quilômetros da costa.

Na manhã seguinte vários corpos foram encontrados na praia. O menino de três anos foi fotografado na areia da praia pela fotógrafa turca Nilüfer Demir. A imagem percorreu o mundo todo e se tornou um símbolo do sofrimento dos migrantes.

ACI Digital

S. JOÃO DE DEUS, FUNDADOR DA ORDEM HOSPITALEIRA, PADROEIRO DOS DOENTES, ENFERMEIROS E HOSPITAIS

S. João de Deus  (© Ordine ospedaliero di San Giovanni di Dio)

Sabemos que o caminho que leva ao Senhor, às vezes, é muito tortuoso. Foi o caso de João de Deus, nascido em uma pequena cidade em Portugal e batizado com o nome de João Cidade. Ele saiu de casa aos oito anos de idade para seguir um clérigo, por demonstrar uma vocação bastante precoce.

Uma vida cheia de aventuras

No então, claro, ainda não tinha chegado o momento certo. Ao chegar a Oropesa, na Espanha, João morou com uma família de pastores até aos 27 anos; depois, alistou-se no Exército e combateu pelo menos duas batalhas importantes em Pavia e em Viena, invadidas pelos Turcos. Mais tarde, enquanto tinha dinheiro, viajou por todo o continente europeu até chegar à África. A seguir, retornou à Espanha e se instalou em Granada, onde abriu uma livraria. Entre todos os empregos que teve até então, o de ser livreiro foi o que mais gostou: apaixonou-se logo pelos livros, que os considerou também como uma ajuda para a oração e a fé, sobretudo aqueles com imagens sagradas.

A vocação em três palavras

Certo dia, em Granada, João ouviu um sermão do místico João de Ávila que o iluminou. Então, começou a sair pelas ruas pedindo esmolas para os pobres, utilizando uma fórmula especial em três palavras: "Façam o bem, irmãos", exortando os outros a fazerem o bem ao próximo, mas também a si mesmos. Ao mesmo tempo, começou, igualmente, a praticar formas tão clamorosas de penitência, que o levaram a ser preso e a acabar em um manicômio. Ali, João descobriu os últimos entre os doentes, trancados por suas famílias para se esconder e se livrar deles. Além do mais, tocou com as mãos os métodos com os quais eram curados, quase como verdadeiras torturas. Assim, entendeu que deveria fazer algo para aqueles irmãos mais infelizes, porque Deus queria.

Uma nova solução para os enfermos

Quando terminou a sua experiência no manicômio, João foi ter com o Bispo, diante do qual se comprometeu em viver pelos que sofriam e a acolher os que quisessem fazer a mesma coisa. A Providência deu-lhe dois confrades: todos os três usaram um pobre saio, com uma cruz vermelha, fundando assim, em 1540, o primeiro núcleo da Congregação dos Irmãos da Misericórdia. Mas, João queria ir mais além. Apesar de não ter noções de medicina, estava ciente de que devia tratar dos doentes de modo novo, ou seja, ouvindo-os e satisfazendo as suas necessidades de diversas maneiras. Desta forma, conseguiu fundar um primeiro hospital, segundo estes ditames, em Granada e, depois, em Toledo, dedicando-se, ao mesmo tempo, aos órfãos, prostitutas e desempregados.

O nascimento "póstumo" da Ordem

João faleceu aos 55 anos, em 1550, enquanto rezava de joelhos e apertava ao peito um crucifixo. Ele não deixou nenhuma Regra escrita, mas a sua obra de caridade já estava bem encaminhada e seus coirmãos continuavam inspirados por ele. Quarenta e cinco anos mais tarde, seus ensinamentos foram codificados na Regra concernente à nova Ordem hospitaleira de São João de Deus, também chamada, precisamente como o seu nome - "Fatebenefratelli".
São João de Deus foi canonizado em 1609 e proclamado Padroeiro dos enfermos e dos hospitais.

Vatican News

domingo, 7 de março de 2021

Homilia do Papa Francisco na Missa em Erbil, capital do Curdistão iraquiano

Papa Francisco na Missa em Erbil. Foto: Captura de vídeo

ERBIL, 07 mar. 21 / 11:33 am (ACI).- O Papa Francisco celebrou neste domingo, 7 de março, uma Missa diante de 10 mil pessoas no Estádio “Franso Hariri” de Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, na qual reconheceu: “Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel”.

“A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo no meio de grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vós oferecestes generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados. Este é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vós, ou seja, para vos agradecer e confirmar na fé e no testemunho”, assinalou o Papa.

A seguir, o texto completo da homilia do Papa Francisco durante a Missa em Erbil:

São Paulo lembrou-nos que «Cristo é poder e sabedoria de Deus» (1 Cor 1, 24). Jesus revelou este poder e esta sabedoria sobretudo através da misericórdia e do perdão. Não o quis fazer com demonstrações de força ou impondo do alto a sua voz, nem com longos discursos ou exibições de ciência incomparável. Fê-lo dando a sua vida na cruz. Revelou a sua sabedoria e poder divino mostrando-nos, até ao fim, a fidelidade do amor do Pai; a fidelidade do Deus da Aliança, que fez sair o seu povo da escravidão e guiou-o pelo caminho da liberdade (cf. Ex 20, 1-2).

Como é fácil cair na armadilha de pensar que temos de demonstrar aos outros que somos fortes, que somos sábios; na armadilha de construirmos imagens falsas de Deus, que nos deem segurança (cf. Ex 20, 4-5)! Na realidade, é o contrário. Todos nós precisamos do poder e da sabedoria de Deus revelada por Jesus na cruz. No Calvário, ofereceu ao Pai as feridas pelas quais fomos curados (cf. 1 Ped 2, 24). Aqui, no Iraque, quantos dos vossos irmãos e irmãs, amigos e concidadãos carregam as feridas da guerra e da violência, feridas visíveis e invisíveis! A tentação é responder a estes e outros fatos dolorosos com uma força humana, com uma sabedoria humana. Jesus, ao contrário, mostra-nos o caminho de Deus, aquele que Ele mesmo percorreu e por onde nos chama a segui-Lo.

No Evangelho que acabamos de escutar (Jo 2, 13-25), vemos como Jesus expulsou do Templo de Jerusalém os cambistas e todos os que compravam e vendiam. Porque é que Jesus realizou este ato tão forte, tão provocador? Fê-lo porque o Pai O enviou para purificar o templo: não só aquele de pedra, mas sobretudo o do nosso coração. Como Jesus não tolerou que a casa de seu Pai se tornasse um mercado (cf. Jo 2, 16), assim deseja que o nosso coração não seja um lugar de turbulência, desordem e confusão. O coração deve ser limpo, posto em ordem, purificado. De quê? Das falsidades que o sujam, das simulações da hipocrisia. Todos nós as temos. São doenças que fazem mal ao coração, que mancham a vida, tornam-na hipócrita. Precisamos de ser purificados das nossas seguranças falaciosas, que trocam a fé em Deus pelas coisas que passam, pelas conveniências do momento. Precisamos que sejam varridas do nosso coração e da Igreja as nefastas sugestões do poder e do dinheiro. Para limpar o coração, precisamos de sujar as mãos: sentirmo-nos responsáveis e não ficarmos parados enquanto sofrem o irmão e a irmã. Mas como purificar o coração? Sozinhos, não somos capazes; temos necessidade de Jesus. Ele tem o poder de vencer os nossos males, curar as nossas doenças, restaurar o templo do nosso coração.

Para confirmação disto mesmo e como sinal da sua autoridade, disse: «Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei» (2, 19). Jesus Cristo, e só Ele, pode purificar-nos das obras do mal, Ele que morreu e ressuscitou, Ele que é o Senhor! Queridos irmãos e irmãs, Deus não nos deixa morrer no nosso pecado. Mesmo quando Lhe voltamos as costas, nunca nos abandona a nós próprios. Procura-nos, vai atrás de nós para nos chamar ao arrependimento e purificar. «Por minha vida – diz o Senhor pela boca de Ezequiel –, não tenho prazer na morte do ímpio, mas sim na sua conversão a fim de que tenha a vida» (33, 11). O Senhor quer que sejamos salvos e nos tornemos templo vivo do seu amor, na fraternidade, no serviço e na misericórdia.

Jesus não só nos purifica dos nossos pecados, mas torna-nos também participantes do seu próprio poder e sabedoria. Liberta-nos de um modo de entender a fé, a família, a comunidade que divide, contrapõe e exclui, para podermos construir uma Igreja e uma sociedade abertas a todos e solícitas pelos nossos irmãos e irmãs mais necessitados. E ao mesmo tempo revigora-nos para sabermos resistir à tentação de procurar vingança, que nos mergulha numa espiral de retaliações sem fim. Com a força do Espírito Santo, envia-nos, não para fazer proselitismo, mas como seus discípulos missionários, homens e mulheres chamados a testemunhar que o Evangelho tem o poder de mudar a vida. O Ressuscitado torna-nos instrumentos da paz de Deus e da sua misericórdia, artífices pacientes e corajosos duma nova ordem social. Assim, pela força de Cristo e do seu Espírito, acontece o que o apóstolo Paulo profetiza aos Coríntios: «O que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens e, o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens» (1 Cor 1, 25). Comunidades cristãs formadas por pessoas humildes e simples tornam-se sinal do Reino que vem, Reino de amor, justiça e paz.

«Destruí este templo, e em três dias Eu o levantarei» (Jo 2, 19). Falava do templo do seu corpo e, por conseguinte, também da sua Igreja. O Senhor promete que pode, com o poder da sua Ressurreição, fazer-nos ressurgir a nós e às nossas comunidades das ruínas causadas pela injustiça, a divisão e o ódio. É a promessa que celebramos nesta Eucaristia. Com os olhos da fé, reconhecemos a presença do Senhor crucificado e ressuscitado no meio de nós, aprendemos a acolher a sua sabedoria libertadora, a repousar nas suas chagas e a encontrar cura e força para servir o seu Reino que vem ao nosso mundo. Pelas suas feridas, fomos curados (cf. 1 Ped 2, 24); nas suas chagas, amados irmãos e irmãs, encontramos o bálsamo do seu amor misericordioso; porque Ele, Bom Samaritano da humanidade, deseja ungir cada ferida, curar cada recordação dolorosa e inspirar um futuro de paz e fraternidade nesta terra.

A Igreja no Iraque, com a graça de Deus, fez e continua a fazer muito para proclamar esta sabedoria maravilhosa da cruz, espalhando a misericórdia e o perdão de Cristo especialmente junto dos mais necessitados. Mesmo no meio de grande pobreza e tantas dificuldades, muitos de vós oferecestes generosamente ajuda concreta e solidariedade aos pobres e atribulados. Este é um dos motivos que me impeliu a vir em peregrinação até junto de vós, ou seja, para vos agradecer e confirmar na fé e no testemunho. Hoje, posso ver e tocar com a mão que a Igreja no Iraque está viva, que Cristo vive e age neste seu povo santo e fiel.

Amados irmãos e irmãs, confio cada um de vós, as vossas famílias e as vossas comunidades à proteção materna da Virgem Maria, que foi associada à paixão e à morte do seu Filho e participou na alegria da sua ressurreição. Interceda por nós e nos conduza até Ele, poder e sabedoria de Deus.

ACI Digital

Mulheres governantes e pandemia: uma reflexão para o Dia da Mulher

fizkes | Shutterstock
por Francisco Borba Ribeiro Neto

A história está cheia de exemplos que mostram as mulheres como grandes artífices da paz em países em guerra.

Em tempos de politicamente correto, um homem escrever sobre o Dia da Mulher (8 de março) é particularmente difícil. “Tudo que ele disser poderá ser usado contra ele” – e provavelmente será realmente usado por alguém. Apesar disso, dois fatos me levaram a esse artigo, pois creio que existem coisas interessantes para comentar.

O primeiro é uma passagem, bem conhecida, da Evangelii Gaudium (EG), na qual o Papa Francisco diz: “A Igreja reconhece a indispensável contribuição da mulher na sociedade, com uma sensibilidade, uma intuição e certas capacidades peculiares, que habitualmente são mais próprias das mulheres que dos homens. Por exemplo, a especial solicitude feminina pelos outros, que se exprime de modo particular, mas não exclusivamente, na maternidade […] ‘o gênio feminino é necessário em todas as expressões da vida social; por isso deve ser garantida a presença das mulheres também no âmbito do trabalho’ [Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI 295] e nos vários lugares onde se tomam as decisões importantes, tanto na Igreja como nas estruturas sociais” (EG 103).

O leitor mais malicioso pode imputar ao Papa, nessa passagem, um machismo disfarçado. A “genialidade feminina” seria ficar em casa, cuidando dos filhos, e ocupar uma posição subalterna no restante da vida social. Para quem acompanha o Pontífice e todo o magistério recente da Igreja, essa leitura é obviamente falsa, mas resta uma questão: como esse “gênio feminino” se exprimiria nas mais diferentes situações da vida social, sem cair em estereótipos indesejados?

E aqui temos o segundo fato. Ficou bem documentado, nos primeiros meses da pandemia da Covid-19, que os países que tinham governantes mulheres foram mais rápidos e efetivos no enfrentamento da crise sanitária. Isso foi comentado em numerosos jornais e revistas ao redor do mundo. Para os céticos, que imaginam que se trata de propaganda feminista, baseando-se em vantagens sociais e econômicas desses países, existe um estudo acadêmico, com abordagem estatística rigorosa, comparando países governados por mulheres com outros muito similares. O resultado é esse mesmo: nos países onde as governantes eram mulheres, as medidas que hoje são consideradas consensuais em todo o mundo (como a adoção do isolamento social), foram adotadas primeiro por elas e seus países têm muito menos mortes do que os equivalentes governados por homens.

Temos aqui, portanto, um exemplo claro da presença desse “gênio feminino” em ato. Sem pretender resumir esses trabalhos, podemos usar a oportunidade para entender melhor a passagem da Evangelii Gaudiumcitada acima.

As razões do sucesso

Uma análise da atuação das governantes mulheres, comparadas a seus contrapartes homens, mostrou que elas tomaram rapidamente uma decisão em defesa da vida, preocupadas com o sofrimento que a morte significaria para as pessoas. Os homens adiaram o máximo que puderam as decisões que poderiam impactar negativamente a economia, usando como justificativa o sofrimento que as dificuldades econômicas trariam.

Os pesquisadores analisam essas duas respostas em termos, principalmente, de empatia e atenção à pessoa concreta, do lado feminino, versus êxito e insistência em metas individuais, do lado masculino. As mulheres olharam mais o sofrimento de cada família que perdesse um ente querido. Os homens, o sucesso econômico de seus governos e as opções eleitorais das famílias em dificuldade financeira.

Alguns levantaram a hipótese de uma “aversão feminina ao risco” (nome pomposo para dizer que as mulheres eram medrosas). Contudo, o risco político de perder popularidade em função da crise econômica era altíssimo naqueles primeiros tempos da pandemia, quando ainda não estava totalmente claro o alcance que alcançaria, nem a necessidade de isolamento social que acabou imperando como única alternativa viável para minimizar o caos, mesmo que contra a vontade dos governantes. Portanto, as mulheres que fizeram essas opções não agiram acovardadas. Pelo contrário, foram mais corajosas do que os governantes homens que permaneceram inativos fazendo contabilidades políticas para ver o que menos comprometeria suas possibilidades de reeleição.

A história está cheia de exemplos que mostram as mulheres como grandes artífices da paz em países em guerra. Programas sociais normalmente são mais bem sucedidos quando o apoio família é centrado na pessoa da mãe. Agora sabemos que também a gestão do bem comum, numa conjuntura de crise, é mais bem administrada a partir do “gênio feminino”.

Evitando incompreensões

Toda essa reflexão, contudo, pode ter uma aplicação errônea se fazemos uma divisão esquemática e mecânica entre homens e mulheres, como se um determinismo biológico ou social obrigasse cada um a desempenhar um papel prévio. Na sociedade atual, mais do que nunca na história, as funções sociais são complexas e podem ser exercidas tanto por homens quanto por mulheres. Aliás, percebe-se que as experiências, antes dicotômicas, de cuidar do lar e ter uma vida profissional devem ser vividas igualmente tanto por homens quanto por mulheres, não só para a boa convivência dos casais, mas para o próprio desenvolvimento psicoafetivo de homens e mulheres.

Essas características comportamentais, normalmente associadas a homens ou mulheres, não são genéticas, como a estrutura orgânica dos sexos. A sexualidade e sua carga fisiológica são fundamentais para um desenvolvimento harmônico da personalidade, mas – em função do temperamento inato de cada um e da educação – podemos ter homens com virtudes femininas e mulheres com virtudes masculinas. O ideal, inclusive, seria que todos reconhecem e procurassem cultivar não só suas qualidades mais imediatas, mas também aquelas vividas pelo outro sexo. O grande problema da ideologia de gênero não é incentivar esse desenvolvimento integrado de todas as qualidades, mas sim imaginar que não poderia acontecer quando se reconhece a diferenciação complementar entre os sexos.

O importante é que os méritos e o lugar da mulher, como construtora ativa da vida social, sejam reconhecidos por todos, sem cair em estereótipos (do passado ou do presente) que desfiguram o rosto humano.

Aleteia

Em dois meses, 25 padres e 60 religiosas morrem na Tanzânia: Covid?

Guadium Press
Nosso país não é uma ilha… Devemos nos defender, nos precaver e rezar a Deus para que o flagelo do coronavírus não nos atinja, exortam bispos da Tanzânia.

Redação (05/03/2021, 18:15, Gaudium Press) – “Em dois meses, morreram mais de 25 padres e 60 freiras, enfermeiras e médicos católicos com problemas respiratórios”, anunciou o Padre Charles Kitima, secretário-geral da Conferência Episcopal da Tanzânia (TEC): “Algo que nunca aconteceu antes em tão pouco tempo”, acrescentou.

No entanto, Padre Kitima explicou que não pode declarar oficialmente que todas essas mortes estão relacionadas à Covid-19.

“Nós, como Igreja, não fazemos testes para Covid e os médicos não podem nos dizer porque nem todos estão autorizados a fazer testes para o vírus”, informou.

As autoridades da Tanzânia negam a presença do vírus no país

Deve-se notar que as autoridades da Tanzânia não atualizaram os dados da Covid-19 desde o início de maio, deixando o último número de casos confirmados em 509 e o número de mortos em 21.

Apesar da política de negar a presença do vírus no país pelas autoridades locais, Padre Kitima chama a todos para um senso de responsabilidade:
“O coronavírus existe. Pedimos que sejam tomadas precauções. Precisamos redobrar nossos esforços para nos proteger. Temos a responsabilidade de proteger os idosos e as pessoas com problemas de saúde, tomando os cuidados necessários ”.

Somos encorajados a não ser escravizados pelo medo . O medo é uma arma que pode enfraquecer a pessoa

O Sacerdote também pediu ao governo uma maior transparência sobre a propagação da pandemia no país.

Para o Padre Kitima, “Os tanzanianos têm o direito de receber informações científicas precisas sobre a Covid-19 porque a falta de informações concretas sobre o vírus está espalhando medo e confusão entre as pessoas.”

Em fevereiro, o Presidente da Conferência Episcopal da Tanzânia, Dom Gervais Nyaisonga, Arcebispo de Mbeya, encorajou os tanzanianos a não serem escravizados pelo medo, mas a seguir o conselho dos especialistas:
“Tanzanianos, somos encorajados a não ser escravizados pelo medo . O medo é uma arma que pode enfraquecer a pessoa ”.

Nosso país não é uma ilha … Devemos nos precaver, rezar a Deus para que este flagelo não nos atinja

No final de janeiro, os bispos locais haviam advertido os fiéis sobre a “nova onda de infecções por coronavírus”, que está causando um aumento nas mortes. “Nosso país não é uma ilha … Devemos nos defender, nos precaver e rezar a Deus com todas as nossas forças para que este flagelo não nos atinja”, exortaram eles.  (JSG)

(Da Redação Gaudium Press, com informações Fides)

https://gaudiumpress.org/

Papa em Qaraqosh: “O perdão é necessário para se permanecer cristão”

Papa Francisco em Qaraqosh | VaticanNews

A herança espiritual, o perdão e a conversão foram as palavras-chave do discurso do Papa Francisco durante o encontro com a Comunidade de Qaraqosh no domingo, 7 de março. Na ocasião o Santo Padre rezou o Angelus com os presentes

Jane Nogara - Vatican News

Depois de fazer a oração pelas vítimas da guerra em Mosul, o Papa Francisco foi a cidade de Qaraqosh para encontrar a comunidade local. O encontro foi realizado na igreja da Imaculada Conceição. Depois de ser acolhido pelo Patriarca sírio-católico, o Papa fez um discurso e em seguida rezou o Angelus junto com a comunidade. O Santo Padre encontrou uma comunidade com grande diversidade cultural e religiosa e disse que “isto mostra algo da beleza que a vossa região tem para oferecer ao futuro. A vossa presença aqui lembra que a beleza não é monocromática, mas resplandece pela variedade e as diferenças”. Lembrando depois, “com grande tristeza, olhamos ao nosso redor e vemos outros sinais: os sinais do poder destruidor da violência, do ódio e da guerra”. Porém como recordou o Papa a “última palavra pertence a Deus e ao seu Filho, vencedor do pecado e da morte".

“Mesmo no meio das devastações do terrorismo e da guerra podemos, com os olhos da fé, ver o triunfo da vida sobre a morte”

A herança espiritual é a vossa força

Falando sobre a herança espiritual dos pais e mães na fé disse: “A grande herança espiritual que nos deixaram continua a viver em vós. Abraçai esta herança! Esta herança é a vossa força. Agora é o momento de reconstruir e recomeçar, confiando-se à graça de Deus, que guia o destino de cada homem e de todos os povos”.  Francisco recordou também que os filhos não herdarão apenas uma terra, uma cultura e uma tradição, "mas também os frutos vivos da fé, que são as bênçãos de Deus sobre esta terra".

“Animo-vos a não esquecer quem sois e donde vindes; a preservar os laços que vos mantêm unidos, a guardar as vossas raízes”

Conhecendo nossas fragilidades como homens o Papa consolou: “Com certeza há momentos em que a fé pode vacilar, quando parece que Deus não vê nem intervém. Sentistes a verdade disto nos dias mais negros da guerra, e é verdade também nestes dias de crise sanitária mundial e de grande insegurança. Nestes momentos, lembrai-vos que Jesus está ao vosso lado. Não deixeis de sonhar. Não desistais, não percais a esperança”.

Perdão é a palavra-chave

Recordando o testemunho de uma senhora antes de seu discurso afirmou: “Comoveu-me uma coisa que disse a Senhora Doha: o perdão é necessário por parte daqueles que sobreviveram aos ataques terroristas. Perdão: esta é uma palavra-chave. O perdão é necessário para permanecer no amor, para se permanecer cristão”. “É preciso capacidade de perdoar e, ao mesmo tempo, coragem de lutar. Sei que isto é muito difícil. Mas acreditamos que Deus pode trazer a paz a esta terra. Confiamos n’Ele e, unidos a todas as pessoas de boa vontade, dizemos 'não' ao terrorismo e à instrumentalização da religião”. 

Conversão e proteção

Francisco pediu também orações pela conversão: “Não nos cansemos de rezar pela conversão dos corações e pelo triunfo de uma cultura da vida, da reconciliação e do amor fraterno, no respeito pelas diferenças, pelas diversas tradições religiosas, no esforço por construir um futuro de unidade e colaboração entre todas as pessoas de boa vontade". O Papa recordou que a igreja conta com a proteção de Nossa Senhora e falou sobre a imagem da Imaculada Conceição colocada no teto da igreja: “Aqui a sua estátua foi danificada e espezinhada, mas o rosto da Mãe de Deus continua a olhar-nos com ternura. Porque é assim que fazem as mães: consolam, confortam, dão vida".

Por fim fez uma particular saudação às mulheres:

“Gostaria de agradecer cordialmente a todas as mães e mulheres deste país, mulheres corajosas que continuam a dar vida não obstante os abusos e as feridas. Que as mulheres sejam respeitadas e protegidas! Que lhes sejam dadas atenção e oportunidades!”

Vatican News

Papa no Iraque: Somos chamados a mudar a história com a força humilde do amor

Papa Francisco na Missa em rito caldeu. Foto: Captura

BAGDÁ, 06 mar. 21 / 02:59 pm (ACI).- No segundo dia de sua viagem ao Iraque, neste sábado, 6 de março, o Papa Francisco celebrou pela primeira vez uma Missa de rito caldeu, na qual convidou a mudar a história “com a força humilde do amor”.

A histórica Eucaristia, que aconteceu na Catedral Caldeia de São José, em Bagdá, seguiu a forma da “Missa de São Tomé” e foi concelebrada pelo Patriarca da Babilônia dos Caldeus, Cardeal Louis Raphaël Sako, o Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin, o prefeito da Congregação para as Igrejas Orientais, Cardeal Leonardo Sandri, o presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, Cardeal Miguel Ángel Ayuso, o grão-mestre da Ordem do Santo Sepulcro, Cardeal Fernando Filoni, e o Arcebispo latino de Bagdá, Dom Jean Sleiman.

A maior parte dos cristãos no Iraque é de rito caldeu. A Igreja Caldeia é uma Igreja Católica Oriental que está em plena comunhão com Roma.

Foi a segunda vez que o Santo Padre celebrou uma Missa em rito católico oriental. A primeira vez foi em 2 de junho de 2019, durante sua viagem à Romênia, onde presidiu a “Divina Liturgia” no rito bizantino romeno com a beatificação de sete bispos greco-católicos mártires.

Cerca de 180 pessoas participaram desta Eucaristia devido às restrições sanitárias imposta pela Covid-19. Entre elas estavam diferentes autoridades civis, lideradas pelo presidente iraquiano Barham Ahmed Salih Qassim, muçulmano do ramo sunita. Outras pessoas acompanharam a Missa do lado de fora da igreja diante de um telão colocado do lado de fora.

Entre algumas das diferenças significativas do rito romano, cabe destacar que a cadeira do celebrante principal (o Papa) foi colocada em um lado do altar (e não no centro).

Depois da procissão, o Patriarca iniciou a Missa conduzindo o Glória em Caldeu e depois o coro entoou o Salmo 36 em caldeu. A primeira e a segunda leituras foram lidas em árabe, enquanto o Evangelho foi cantado. No rito romano, durante o tempo da Quaresma, não se canta o Aleluia, mas nesta Missa no rito caldeu o Aleluia foi cantado.

A homilia foi proferida em italiano pelo Papa e traduzida para o árabe pelo sacerdote que trabalha na Secretaria de Estado e é seu intérprete nesta viagem.

Em sua pregação, o Santo Padre encorajou a imitar “a sabedoria de Jesus, encarnada nas Bem-aventuranças”, que “pede o testemunho e oferece a recompensa, contida nas promessas divinas”.

O Papa convidou a perguntar-se: "Como reajo eu às situações funestas?”. E explicou “à vista das adversidades, apresentam-se sempre duas tentações. A primeira é a fuga: fugir, virar as costas, desinteressar-se. A segunda é reagir, como irritados, com a força”.

“Assim aconteceu com os discípulos no Getsêmani: no alvoroço geral, vários fugiram e Pedro puxou da espada. Mas nem a fuga nem a espada resolveram coisa alguma. Ao contrário, Jesus mudou a história. Como? Com a força humilde do amor, com o seu paciente testemunho. O mesmo somos nós chamados a fazer; assim Deus realiza as suas promessas”, disse o Papa.

Ao comentar um trecho do Livro da Sabedoria, o Pontífice recordou que “a sabedoria foi cultivada nestas terras desde tempos muito antigos. Desde sempre, a sua busca tem fascinado o homem; mas, frequentemente, quem possui mais recursos pode adquirir mais conhecimentos e ter mais oportunidades, ao passo que quantos têm menos são excluídos”.

“Entretanto o livro da Sabedoria surpreende-nos, ao inverter a perspectiva. Nele se diz que ‘o pequeno encontrará misericórdia, mas os poderosos serão examinados com rigor’ (Sab 6, 6). Para o mundo, quem tem menos é descartado e quem tem mais é privilegiado; para Deus, não: quem tem mais poder é sujeito a um exame rigoroso, enquanto os últimos são os privilegiados de Deus”, advertiu.

Em seguida, o Santo Padre destacou que “Jesus, a Sabedoria em pessoa, completa esta inversão no Evangelho: não num momento qualquer, mas no início do primeiro discurso, com as Bem-aventuranças. A inversão é total: os pobres, os que choram, os perseguidos são declarados bem-aventurados”.

“Querida irmã, querido irmão, talvez olhes para as tuas mãos e te pareçam vazias, talvez sintas insinuar-se no coração a desconfiança e penses que a vida é injusta contigo. Se tal suceder, não temas! As Bem-aventuranças são para ti, para ti que estás na aflição, com fome e sede de justiça, perseguido. O Senhor promete que o teu nome está escrito no seu coração, nos Céus”, afirmou o Papa.

Nesse sentido, o Pontífice exclamou: “E hoje agradeço-Lhe convosco e por vós, porque aqui, onde na antiguidade surgiu a sabedoria, nestes tempos se levantaram tantas testemunhas, muitas vezes transcuradas nos noticiários mas preciosas aos olhos de Deus; testemunhas que, vivendo as Bem-aventuranças, ajudam Deus a realizar as suas promessas de paz”.

“A proposta de Jesus é sapiente, porque o amor, que é o coração das Bem-aventuranças, embora pareça frágil aos olhos do mundo, na realidade vence. Na cruz, provou ser mais forte do que o pecado; no sepulcro, derrotou a morte. Foi este mesmo amor que tornou os mártires vitoriosos na provação… E houve tantos no último século! Mais do que nos anteriores “, acrescentou.

No entanto, o Santo Padre reconheceu que “bem-aventurados, para o mundo, são os ricos, os poderosos, os famosos! Vale quem tem, quem pode, quem conta! Para Deus, não: não é maior quem tem, mas quem é pobre em espírito; não quem pode tudo sobre os outros, mas quem é manso com todos; não quem é aclamado pelas multidões, mas quem é misericordioso com o irmão”.

Por isso, o Papa sublinhou que a chave para viver as bem-aventuranças não consiste em fazer “coisas extraordinárias, empreendimentos acima das nossas capacidades”, mas sim em dar “o testemunho diário”.

“Bem-aventurado é quem vive com mansidão, quem pratica a misericórdia no lugar onde se encontra, quem mantém o coração puro lá onde vive. Para se tornar bem-aventurado, não é preciso ser herói de vez em quando, mas testemunha todos os dias. O testemunho é o caminho para encarnar a sabedoria de Jesus. É assim que se muda o mundo: não com o poder nem com a força, mas com as Bem-aventuranças. Pois foi assim que fez Jesus, vivendo até ao fim aquilo que dissera ao início. Tudo se resume em testemunhar o amor de Jesus”, assinalou o Papa.

Neste sentido, o Santo Padre destacou que a paciência “é a primeira qualidade do amor, porque o amor não se indigna, mas sempre recomeça. Não se abate, mas relança; não desanima, mas permanece criativo. Perante o mal, não se rende, não se resigna”.

E acrescentou que “quem ama não se fecha em si mesmo, quando as coisas correm mal, mas responde ao mal com o bem, lembrando-se da sabedoria vitoriosa da cruz. Assim procede a testemunha de Deus: não é passiva, fatalista, não vive à mercê das circunstâncias, do instinto e do momento, mas mostra-se sempre esperançosa, pois está fundada no amor que ‘tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta’”.

“Às vezes, queridos irmãos e irmãs, podemos sentir-nos incapazes, inúteis. Não lhe demos crédito, pois Deus quer fazer maravilhas precisamente através das nossas fraquezas. Ele gosta de proceder assim e, nesta tarde, repetiu oito vezes ţūb’ā [bem-aventurados] para nos fazer compreender que, com Ele, o somos realmente. É certo que somos provados, muitas vezes caímos, mas não devemos esquecer que, com Jesus, somos bem-aventurados. Tudo aquilo que o mundo nos tira, não é nada em comparação ao amor terno e paciente com que o Senhor cumpre as suas promessas”, concluiu o Papa.

Depois da homilia do Santo Padre, a assembleia permaneceu por um momento em silêncio orante, a oração dos fiéis foi lida por diferentes pessoas em vários idiomas.

No ofertório, o altar foi incensado pelo Papa e depois um diácono incensou o Pontífice. O Credo foi recitado em árabe e o rito de paz foi seguido por um canto de paz.

Após a Consagração, o coro cantou uma invocação ao Espírito Santo. Antes da distribuição da Comunhão, realizou-se: um rito penitencial com canto que concluiu com a oração de absolvição pronunciada pelo Papa; a oração do Pai-Nosso cantada e outra canção invocando a paz.

Antes de encerrar a Missa, o Patriarca da Babilônia dos Caldeus, Cardeal Louis Raphaël Sako, agradeceu ao Papa em nome dos cristãos e de todos os iraquianos "por sua corajosa visita" que, em sua opinião, "encorajar os iraquianos a superar o passado doloroso, com vista à reconciliação nacional, à cura das feridas, à coesão e cooperação para o crescimento, a paz e a estabilidade, simplesmente porque são irmãos e cidadãos diferentes da terra de Abraão, e porque o Iraque é a sua casa comum”.

“Para nós, cristãos, esta visita é uma oportunidade para fazer uma peregrinação às nossas primeiras raízes, para uma conversão e para manter a nossa identidade iraquiana e cristã”, pois a presença como cristãos no Iraque e no Oriente “não é por acaso nem por emigrar, mas por um plano divino”, disse o Cardeal Sako, que acrescentou: “temos uma vocação e uma missão a que não podemos renunciar, apesar das dificuldades”.

Por fim, ocorreu a troca de presentes. O Papa presenteou um cálice a esta igreja e o Patriarca Sako deu uma cruz ao Pontífice.

Após a bênção do Papa, a cerimônia foi encerrada com a canção “Jesus Christ you aremay life” – em inglês e árabe –, canção composta por Mons Marco Frisina para a JMJ de 2000 em Roma.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

ACI Digital

3º Domingo do Tempo da Quaresma – Ano B

Ujucasp

ANO B
3º DOMINGO DA QUARESMA

Tema do 3º Domingo da Quaresma

A liturgia do 3º Domingo da Quaresma dá-nos conta da eterna preocupação de Deus em conduzir os homens ao encontro da vida nova. Nesse sentido, a Palavra de Deus que nos é proposta apresenta sugestões diversas de conversão e de renovação.
Na primeira leitura, Deus oferece-nos um conjunto de indicações (“mandamentos”) que devem balizar a nossa caminhada pela vida. São indicações que dizem respeito às duas dimensões fundamentais da nossa existência: a nossa relação com Deus e a nossa relação com os irmãos.
Na segunda leitura, o apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de Deus… É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de importância, mas está na lógica da cruz – isto é, no amor total, no dom da vida até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.
No Evangelho, Jesus apresenta-Se como o “Novo Templo” onde Deus Se revela aos homens e lhes oferece o seu amor. Convida-nos a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.

LEITURA I – Ex 20,1-17

ATUALIZAÇÃO

• Os mandamentos que dizem respeito à relação do homem com Deus sublinham a centralidade que Deus deve assumir no coração e na vida do seu Povo. Na vida de todos os dias somos, com frequência, seduzidos por outros “deuses” – o dinheiro, o poder, os afectos humanos, a realização profissional, o reconhecimento social, os interesses egoístas, as ideologias, os valores da moda – que se tornam o objectivo supremo, no valor último que condiciona os nossos comportamentos, as nossas atitudes e as nossas opções. Com frequência, prescindimos de Deus e instalamo-nos num esquema de orgulho e de auto-suficiência que coloca Deus e as suas propostas fora da nossa vida. A Palavra de Deus garante-nos: esse não é um caminho que nos conduza em direcção à vida definitiva e à liberdade plena. Neste tempo de Quaresma, somos convidados a voltarmo-nos para Deus e a redescobrirmos o seu papel fundamental na nossa existência… Quais são os “deuses” que nos seduzem mais e que condicionam a nossa vida, as nossas tomadas de posição, as nossas opções? Que espaço é que reservamos, na nossa vida, para o verdadeiro Deus?

• Os mandamentos que dizem respeito à nossa relação com os irmãos convidam-nos a despir esses comportamentos que geram violência, egoísmo, agressividade, cobiça, intolerância, escravidão, indiferença face às necessidades dos outros. Tudo aquilo que atenta contra a vida, a dignidade, os direitos dos nossos irmãos, é algo que gera morte, sofrimento, escravidão, para nós e para todos os que nos rodeiam e é algo que contribui para subverter os projectos de vida e de felicidade que Deus tem para nós e para o mundo. O que é que, nos meus gestos, nas minhas atitudes, nos meus valores, é gerador de injustiça, de sofrimento, de exploração, de escravidão, de morte, para mim e para todos aqueles que me rodeiam?

• O que está aqui em jogo não é o respeitar regras “religiosamente correctas”, o evitar que Deus tenha razões de queixa contra nós, ou o fugir aos castigos divinos; mas é, antes de mais, o construir a nossa própria felicidade. É preciso aprendermos a não ver os “mandamentos” de Deus como propostas reaccionárias, descabidas e ultrapassadas, inventados por uma moral obsoleta e antiquada, que apenas servem para limitar a nossa liberdade ou para impedir a nossa autonomia; mas é preciso ver os “mandamentos” como “sinais de trânsito” com os quais Deus, no seu amor e na sua preocupação com a nossa realização plena, nos ajuda a percorrer os caminhos da liberdade e da vida verdadeira.

LEITURA II – 1 Cor 1, 22-25

ATUALIZAÇÃO

• O nosso texto convida-nos a descobrir e a interiorizar a lógica de Deus, que é bem diferente da lógica dos homens. Os homens sentem-se mais seguros e confortáveis diante de líderes vencedores, que se impõem pela força e que exibem o seu poder através de gestos espectaculares; e Deus aparece-lhes na figura de um obscuro carpinteiro galileu, condenado pelas autoridades constituídas, abandonado por amigos e discípulos, escarnecido pelas multidões, e morto numa cruz fora dos muros da cidade. Os homens gostam de ser convencidos por projectos intelectualmente brilhantes, que apresentem argumentos fortes e uma lógica inquestionável; e Deus oferece-lhes um projecto de salvação que passa pela morte na cruz, em plena e radical contradição com todos os esquemas mentais e toda a lógica humana. O apóstolo Paulo sugere-nos uma conversão à lógica de Deus… É preciso que descubramos que a salvação, a vida plena, a felicidade sem fim não está numa lógica de poder, de autoridade, de riqueza, de importância, mas está no amor total, no dom da vida até às últimas consequências, no serviço simples e humilde aos irmãos.

• A força e a “sabedoria de Deus” manifestam-se na fragilidade, na pequenez, na obscuridade, na pobreza, na humildade. Sendo assim, não nos parecem ridículas, descabidas e pretensiosas as nossas poses de importância, de autoridade, de protagonismo, de êxito humano?

• “Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios”. Aqueles que têm responsabilidade no anúncio do Evangelho devem anunciar a mensagem com verdade e radicalidade, renunciando à tentação de a suavizar, de a tornar mais “politicamente correcta”, de a tornar menos radical e interpelativa. Às vezes, o invólucro “brilhante” com que envolvemos a Palavra torna-a mais atractiva, mas menos questionante e, portanto, menos transformadora.

EVANGELHO – Jo 2, 13-25

ATUALIZAÇÃO

• Como é que podemos encontrar Deus e chegar até Ele? Como podemos perceber as propostas de Deus e descobrir os seus caminhos? O Evangelho deste domingo responde: é olhando para Jesus. Nas palavras e nos gestos de Jesus, Deus revela-Se aos homens e manifesta-lhes o seu amor, oferece aos homens a vida plena, faz-Se companheiro de caminhada dos homens e aponta-lhes caminhos de salvação. Neste tempo de Quaresma – tempo de caminhada para a vida nova do Homem Novo – somos convidados a olhar para Jesus e a descobrir nas suas indicações, no seu anúncio, no seu “Evangelho” essa proposta de vida nova que Deus nos quer apresentar.

• Os cristãos são aqueles que aderiram a Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que comeram a sua carne e beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele. Membros do Corpo de Cristo, os cristãos são pedras vivas desse novo Templo onde Deus Se manifesta ao mundo e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a vida e a salvação. Esta realidade supõe naturalmente, para os crentes, uma grande responsabilidade… Os homens do nosso tempo têm de ver no rosto dos cristãos o rosto bondoso e terno de Deus; têm de experimentar, nos gestos de partilha, de solidariedade, de serviço, de perdão dos cristãos, a vida nova de Deus; têm de encontrar, na preocupação dos cristãos com a justiça e com a paz, o anúncio desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens. Talvez o facto de Deus parecer tão ausente da vida, das preocupações e dos valores dos homens do nosso tempo tenha a ver com o facto de os discípulos de Jesus se demitirem da sua missão e da sua responsabilidade… O nosso testemunho pessoal é um sinal de Deus para os irmãos que caminham ao nosso lado? A vida das nossas comunidades dá testemunho da vida de Deus? A Igreja é essa “casa de Deus” onde qualquer homem ou qualquer mulher pode encontrar essa proposta de libertação e de salvação que Deus oferece a todos?

• Qual é o verdadeiro culto que Deus espera? Evidentemente, não são os ritos solenes e pomposos, mas vazios, estéreis e balofos. O culto que Deus aprecia é uma vida vivida na escuta das suas propostas e traduzida em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos. Quando somos capazes de sair do nosso comodismo e da nossa auto-suficiência para ir ao encontro do pobre, do marginalizado, do estrangeiro, do doente, estamos a dar a resposta “litúrgica” adequada ao amor e à generosidade de Deus para connosco.

• Ao gesto profético de Jesus, os líderes judaicos respondem com incompreensão e arrogância. Consideram-se os donos da verdade e os únicos intérpretes autênticos da vontade divina. Instalados nas suas certezas e preconceitos, nem sequer admitem que a denúncia que Jesus faz esteja correcta. A sua auto-suficiência impede-os de ver para além dos seus projectos pessoais e de descobrir os projectos de Deus. Trata-se de uma atitude que, mais uma vez, nos questiona… Quando nos barricamos atrás de certezas absolutas e de atitudes intransigentes, podemos estar a fechar o nosso coração aos desafios e à novidade de Deus.

https://www.dehonianos.org/

Santas Perpétua e Felicidade

Santas Perpétua e Felicidade
ArqSP
07 de março

Senhora e escrava, Perpétua e Felicidade sofreram a prisão juntas, na fé e na solidariedade, no ano de 203, na África do Norte.

O imperador Severo, também de origem africana, havia decretado a pena de morte para os cristãos. Perpétua era de família nobre, filha de pai pagão, tinha vinte e dois anos e um filho recém-nascido. Sua escrava, Felicidade, estava grávida de oito meses e rezava diariamente para que o filho nascesse antes da execução e obteve essa graça. Isso aconteceu num parto de muito sofrimento, dois dias antes de serem levadas à arena, para as feras famintas.

Perpétua escreveu um diário na prisão, onde relata todo o sofrimento de que foram vítimas e que figura entre os escritos mais realistas e comoventes da Igreja. Além de descrever os horrores da escuridão e a forma selvagem como eram tratadas no calabouço, ela narrou como seu pai a procurou na prisão, com autorização do juiz, para tentar fazê-la desistir da fé em Cristo e assim salvar sua vida.

Mas ambas, senhora e escrava, mantiveram-se firmes, também como outros seis cristãos que se tornaram seus companheiros no martírio. Elas que ainda não tinham sido batizadas fizeram questão de receber o sacramento na prisão, para reafirmar suas posições de cristãs e, em nenhum momento sequer, pensaram em salvar as vidas negando o cristianismo.

Segundo os escritos oficiais que complementam o diário de Perpétua, os homens foram despedaçados por leopardos. Perpétua e Felicidade foram degoladas, depois de atacadas por touros e vacas. Era o dia 07 de março de 203.

Perpétua viveu a última hora dando extraordinária prova de amor e de tranqüila dignidade. Viu Felicidade ser abatida sob os golpes dos animais, e docemente a amparou e a suspendeu nos braços; depois recompôs o seu vestido estraçalhado, demonstrando um genuíno respeito por ela. Esses gestos geraram na população pagã, um breve momento de comoção piedosa. Mas por poucos segundos, pois a vontade da massa enfurecida prevaleceu, até ver o golpe fatal da degolação.

Pelo martírio, Perpétua e Felicidade entram para a Igreja, que as veneram nesse dia com as honras litúrgicas.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF