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quarta-feira, 10 de março de 2021

S. JOÃO OGILVIE, SACERDOTE JESUÍTA E MÁRTIR

S. João Oglivie | Wikiwand

Outono de 1613. O capitão Watson volta a lançar suas âncoras no cais de Leith, às portas de Edimburgo, após 22 anos de ausência. Até então, havia viajado por toda a Europa: França, Bélgica, Alemanha, Áustria, Boêmia e Morávia. O capitão era um homem culto, porque conseguiu estudar em todas as cidades por onde passava. Porém, decidiu voltar para casa e continuar seu trabalho, que não pôde fazer à luz do sol.

Clandestino do Evangelho

Na verdade, o "Capitão Watson" era João Ogilvie, um missionário jesuíta desconhecido, que havia desembarcado em uma terra que lhe é mãe e inimiga.
Vinte anos antes do seu nascimento, em 1579, a Escócia se tornara protestante e, para os católicos, a vida tornou-se muito perigosa. Celebrar ou participar de uma Missa podia custar a perda dos bens e o exílio e, os recidivos, pagavam com a vida. João sabia muito bem disso e, apesar de os seus superiores o terem transferido para Rouen, na França, por dois anos ele insistiu, em suas cartas ao Superior geral, Padre Cláudio Acquaviva, pedindo-lhe para voltar a viver com seus compatriotas. De fato, com a sua tenacidade, conseguiu regressar ao seu país. Em 11 de novembro de 1613, aquele clandestino do Evangelho começou sua nova missão.

Amor e traição

A vida de cada dia do Padre João era um contínuo desafio ao sistema. Celebrava Missa, antes do amanhecer, com alguns fiéis de confiança; depois, visitava os enfermos, os encarcerados; encontrava novos convertidos, mas até "hereges", aqueles protestantes que queriam voltar ao catolicismo. Algumas vezes, dormia na casa de alguns deles e costumava recitar o breviário no quarto onde se hospedava. "Alguém que me espiava, me ouviu sussurrar, em voz baixa, à luz de vela, dizia que eu era um mago", recorda Ogilvie em suas memórias.
No entanto foi traído precisamente por um "herege", Adam Boyd, um cavalheiro de Glasgow, cidade onde o Jesuíta foi morar em outubro de 1614. Boyd fingiu querer reconciliar-se com a Igreja, ao invés, entregou o Padre João ao arcebispo anticatólico da cidade, que o mandou prender.

Fé férrea

O que se segue, recorda a noite que Jesus passou entre Quinta e Sexta-feira Santas. Uma noite que, para o Padre João, durou quatro meses: processos intercalados com torturas, constantemente acorrentado com perneiras de ferro, que o dilaceravam. Insultado e esbofeteado até pelo arcebispo, Padre João não cedeu um milímetro, pelo contrário respondia a todas as acusações. Ele foi insultado até por algumas famílias católicas, aprisionados por causa de uma lista de nomes encontrados entre os papéis do Jesuíta.
No entanto, ele não traía ninguém. Aliás, às vezes, era irônico e pungente com aqueles que o queriam dissuadir. E, quando a sua ameaça da morte se concretizou, disse: "Se eu pudesse, salvaria a minha vida, mas sem jamais perder a Deus; não podendo conciliar as duas coisas, sacrificaria o bem menor para ganhar o bem maior".

Até o fim

Uma vez que a violência não o fazia ceder, tentaram seduzi-lo, oferecendo-lhe ricas rendas e até a mão da própria filha do arcebispo. Mas, nada o convencia o Jesuíta; ele rejeitava a apostasia, sem rejeitar a supremacia espiritual do Papa sobre aquela do rei, a quem ele acreditava governar a Igreja por direito divino.
Nestas alturas, Jaime I Stuart interveio na disputa, mandando enforcar Ogilvie, se ele continuasse a relutar em suas posições. A sentença foi formalizada na manhã de 10 de março de 1615 e executada à tarde. Mesmo já estando no patíbulo, - narra a crônica oficial do julgamento, - o Padre João empreende combate contra aqueles que o difamavam, acusando-o por crime de lesa-majestade. "Quanto ao rei - exclamava - eu daria, com prazer, a vida por ele! Saibam também que eu e outro meu amigo escocês agimos em benefício do rei no exterior; fizemos coisas tão importantes por ele que vocês, com todos os seus ministros, nunca conseguiriam fazer. Portanto, morro sim, mas somente pela minha fé”.
Os restos mortais de São João Ogilvie foram enterrados junto com os dos outros condenados e se perderam para sempre. Em 1976, o Papa Paulo VI o proclamou Santo.

Vatican News

terça-feira, 9 de março de 2021

Jesus nos dá sua santidade, diz pregador do Papa

Cardeal Raniero Cantalamessa / Vatican Media / Grupo ACI

VATICANO, 09 mar. 21 / 03:00 pm (ACI).- “Existe um perigo mortal para a Igreja: o de viver como se Cristo não existisse, ‘etsi Christus non daretur’”, disse o Pregador da Casa Pontifícia, Cardeal Raniero Cantalamessa em sua segunda pregação para a Quaresma.

“É o pressuposto segundo o qual o mundo fala o tempo todo da Igreja”, disse Cantalamessa. “Dela, interessam a história, a organização, os fatos, ou, mais comumente, as fofocas. Dificilmente se encontra o nome de Jesus. A isso se soma um fato objetivo: Cristo não entra em nenhum dos três grandes diálogos que hoje ocupam as relações entre a Igreja e o mundo.” Cantalamessa afirma que o nome de Cristo não entra no diálogo entre a fé e a filosofia, nem no diálogo da ciência e “nem mesmo no diálogo inter-religioso”.

Para o Cardeal que prega para o Papa Francisco durante a Quaresma, “até nós corremos o risco de nos comportar como se Cristo não existisse.”

Lembrando que lhe haviam tocado profundamente as palavras do Papa Francisco na audiência geral de 25 de novembro, segundo as quais há quatro características da vida eclesial: a escuta dos apóstolos, a custódia da comunhão recíproca, a fração do pão, a pregação. “Essas coisas nos lembram que a existência da Igreja só tem sentido se permanece solidamente unida a Cristo.” “Tudo o que cresce fora dessas coordenadas é sem fundamento”, continuou Cantalamessa.

Propondo-se a pôr Jesus “em primeiríssimo plano”, o Pregador da Casa Pontifícia ressaltou que “a Igreja crê e prega de Cristo tudo aquilo que o Novo Testamento prega sobre Ele: tudo o que se diz de Cristo deve respeitar o dado de que Ele é Deus e Homem na mesma pessoa.”

Para o Cardeal, ninguém hoje duvida da humanidade de Cisto como aconteceu no início do Cristianismo com os docetistas e outros hereges. “Assiste-se antes a um fenômeno estranho e inquietante: a verdadeira humanidade de Cristo vem afirmada como tácita oposição à sua divindade, como uma espécie de contrapeso.”

“Jesus é a santidade de Deus”, prossegue o Cardeal, “não é o homem que se assemelha a todos os demais, é o homem a quem todos os demais devem se assemelhar. Jesus é a medida de todas as coisas.”

“A santidade de Jesus não é um princípio abstrato, é uma santidade real, vivida, nas situações concretas da vida. As Beatitudes são o autorretrato de Jesus, Ele ensina aquilo que faz,” disse Cantalamessa. “A consciência de Jesus é um cristal transparente, sempre na certeza de estar na verdade e no que é justo. Ninguém nunca ousou dizer isto de si mesmo. Isto ultrapassa toda medida: a Ressurreição de Cristo demonstra que era a pura verdade.”

Ao chamar a atenção para o “aspecto mais prático da santidade de Cristo,” o pregador sublinhou que “aqui vem ao nosso encontro uma boa notícia, não só Jesus é o santo de Deus, mas que Jesus dá, presenteia a nós sua santidade.”

O Cardeal encerrou sua pregação convidando: “Devemos passar à imitação. Não se chega à fé partindo das virtudes, mas ao contrário. Os cristãos devem aperfeiçoar com sua vida a santidade que já receberam.”

Como propósito o Cardeal sugeriu: “A santidade de Jesus era fazer sempre a vontade do Pai. Tentemos hoje mesmo perguntar diante de cada situação qual é a coisa que mais daria prazer a Jesus? Aquilo que agrada Jesus está escrito no Evangelho e o Espírito Santo nos recorda.”

ACI Digital

Papa no Iraque: Maria, ponte de diálogo com o Islã

Estátua de Nossa Senhora sobre Catedral Sírio-Católica de
Nossa Senhora da Salvação em Bagdá  (ANSA)

No Iraque, país de maioria muçulmana, Nossa Senhora é amada e recebe muitas orações. "Maria é mencionada no Alcorão em 12 suras, os parágrafos e 70 versículos. Ela é considerada um modelo de fé e religiosidade", afirma o mariólogo Antonino Grasso.

Federico Piana- Vatican News

No Iraque, o Papa Francisco sempre esteve próximo a Maria. Não apenas porque uma imagem de Nossa Senhora de Loreto o acompanhou em todas as etapas de uma viagem extraordinária e histórica ou porque ele tinha no palco em Erbil a estatueta de Maria ferida pelo Isis, mas também porque no Iraque, com maioria muçulmana, Nossa Senhora estabeleceu o seu "lar". De fato, o amor que os fiéis muçulmanos têm pela Imaculada Conceição é tão grande que se tornou também um ponto forte no diálogo inter-religioso. "O Alcorão, que contém a doutrina de Maomé transmitida da memória de seus companheiros, é composto de 114 Suras, ou capítulos, dispostos em ordem decrescente de comprimento. Maria está presente em 12 Suras e 70 versículos", diz Antonino Grasso, Mariólogo, membro correspondente da Pontifícia Academia Mariana Internacional e professor no Instituto Superior de Ciências Religiosas 'San Luca' em Catânia.

Quais são os episódios narrados no Alcorão que dizem respeito à Nossa Senhora?

Antonino Grasso: São cinco. Seu nascimento, o retiro no templo, anunciação, o parto e defesa contra uma calúnia atroz. O relato do nascimento de Maria está na terceira Sura. O nome que lhe foi dado significa "devota e piedosa": é confirmada a proteção de Deus à recém-nascida. Ele a fará crescer admiravelmente para que possa se tornar adulta e amadurecer e progredir em bondade, castidade e obediência. Enquanto que a narração do retiro para o templo é encontrada nas Suras 19 e 3. Aqui, o Alcorão narra que Maria se retira muito jovem no templo sob a proteção de Zacarias. Maria é prodigiosamente alimentada por Deus, está na companhia dos anjos e do Arcanjo Gabriel, cuja tarefa é torná-la consciente de sua dignidade, de sua posição no plano de salvação e de sua predestinação.

Em seguida, há a narração da anunciação. Como é tratada no Alcorão?

Antonino Grasso: Encontra-se nas Suras 19 e 3. O objetivo do anúncio é o nascimento de um filho chamado Verbo, um termo que para os exegetas muçulmanos significa "fiat", que é o imperativo categórico com o qual Deus trouxe Jesus, filho de Maria, à existência. Quando Maria anuncia que vai se tornar mãe, ela mostra surpresa e invoca sua virgindade e o arcanjo Gabriel lhe diz que tudo é a vontade de Deus para que ela não possa não aceitar algo decretado por Ele. Encontramos em seguida o relato do parto: está na Sura 19. Segundo o Alcorão, o lugar do nascimento não seria uma cidade precisa nem um estábulo ou uma gruta: o nascimento se daria ao ar livre perto de uma palmeira. Quanto às dores de parto, segundo narradores muçulmanos, são dores morais e, portanto, o Alcorão afirmaria a virgindade de Maria. A narração também explica que imediatamente após o nascimento, Maria é consolada pelo recém-nascido que a convida a comer as tâmaras que brotaram na palmeira e a saciar sua sede em uma fonte que Deus tinha feito brotar aos seus pés.

O Alcorão também fala sobre a defesa contra uma terrível calúnia contra Nossa Senhora....

Antonino Grasso: Sim, ela se encontra na Sura 19. Diz que Maria volta para casa após dar à luz e a reação de seus parentes é de indignação por vê-la com um filho sem estar casada. Mas o recém-nascido intervém em voz alta, defende sua mãe, faz justiça à sua inocência, assim como fez Deus que havia demonstrado sua retidão por sua própria providência especial no momento de seu parto.

Qual é o perfil espiritual de Maria na fé islâmica?

Antonino Grasso: Segundo a interpretação dos teólogos muçulmanos, a forma como Maria é apresentada no Alcorão faz dela um modelo de fé e religiosidade, um modelo exemplar da mulher muçulmana e um sinal dado por Deus ao Universo. Maria é considerada um modelo de fé porque ouviu a palavra do Senhor, aderindo interiormente a Deus sem indecisão ou irritação, mas com firmeza. Além disso, ela é considerada um modelo porque vestiu sua fé com todas as características muçulmanas. A Sura 21, versículo 91, por exemplo, diz: "Lembrai-vos dela pura que preservou sua virgindade e alimentou nosso espírito nela e nós fizemos dela e de seu filho um sinal para o Universo".

No Iraque há santuários marianos visitados por muçulmanos?

Antonino Grasso: Um dos lugares marianos mais frequentados é o de Komane, no Curdistão iraquiano. No santuário de um mosteiro fundado no século IV, no dia 15 de agosto é solenemente celebrada a Dormição de Maria. Milhares de peregrinos visitam o santuário a cada ano, incluindo muitos muçulmanos que veneram Maria como a mãe do profeta Jesus. Todos os peregrinos se preparam para a peregrinação com um jejum de cinco dias. Depois há o Santuário da Imaculada Conceição, na cidade de Qaraqosh, na Planície de Nínive, lugar visitado pelo Papa. É o lugar de culto mais conhecido e mais representativo de toda a cidade. Na torre do sino encontra-se uma grande estátua de Nossa Senhora, que assume uma forte conotação simbólica como sinal de renascimento na cidade iraquiana, pois foi restaurada após a expulsão do Ísis, que, de 2014 a 2016, devastou o local de culto e o transformou em um campo de tiro e uma guarnição militar. Aqui também há muitos muçulmanos que vêm prestar homenagem a Maria.

Vatican News

Iraque: as memórias do Papa Francisco sobre Mosul e Qaraqosh

IRAQI PRESIDENCY / AFP

Questionado por jornalistas no voo de regresso a Roma sobre as suas impressões sobre a viagem ao Iraque, o Sumo Pontífice confidenciou os encontros e as fortes memórias que esta viagem histórica lhe deixou.

O “perdão” de uma mãe de Qaraqosh e as ruínas dos edifícios religiosos de Mosul: o Papa voltou aos episódios que o marcaram particularmente durante a sua visita ao Iraque. Falando na conferência de voo de retorno em 8 de março de 2021, ele também ficou indignado com a retomada da violência por parte do Daesh.

“O que eu conheci no Iraque, em Qaraqosh?” Questionado por jornalistas no voo de regresso a Roma sobre as suas impressões sobre a viagem ao Iraque, o Sumo Pontífice confidenciou os encontros e as fortes memórias que esta viagem histórica lhe deixou.

As ruínas das igrejas

“Na verdade, nunca imaginei as ruínas de Mosul”, admitiu o chefe da Igreja Católica. Ele se lembrou da parada que fez em frente a uma igreja destruída e disse que “não tinha palavras” para descrever o que observou. Ele observou que este não foi um caso isolado e que havia vários outros em ruínas, além de uma mesquita.

“Quem vende armas para esses destruidores?” – pontífice perguntou. “Eu pelo menos pediria a quem vende as armas que fosse sincero e dissesse, ‘nós vendemos as armas’. Mas eles não dizem isso.”

“Nossa crueldade humana é inacreditável”, disse o Papa Francisco com indignação. “Não quero dizer a palavra, mas está começando de novo: vamos olhar para a África”, disse ele, destacando que até o chamado Estado Islâmico está começando a agir novamente e que “isso é uma coisa muito ruim”.

Um testemunho de perdão

Em Qaraqosh, o que mais “tocou” o bispo de Roma foi “o testemunho de uma mãe” que perdera o filho quando o Estado Islâmico entrou na cidade em 2014. Ele disse que ficou comovido: “Ela disse apenas uma palavra: ‘perdão’. Uma mãe que diz: “Eu perdôo, peço perdão por eles!”

Este encontro o lembrou das mulheres, “mães e esposas”, durante sua viagem à Colômbia em 2017. Elas lhe contaram sobre “o assassinato de seus filhos e de seus maridos” e também lamentaram.

“Esta palavra [perdão], nós a perdemos”, lamentou o Papa Francisco. “Sabemos insultar sem limites”. “Mas perdoar… perdoar nossos inimigos é o puro Evangelho. Isso é o que mais me impressionou em Qaraqosh”.

Aleteia

Dia da mulher: cartazes com a Ave Maria são fixados em pontos de ônibus da Espanha

Guadium Press
A iniciativa faz parte de uma campanha na qual se pretende homenagear “a mulher mais importante de nossas vidas”.
Espanha – Madri (08/03/2021 11:12, Gaudium Press) A Associação Católica de Propagandistas da Espanha, criou uma forma cristã de celebrar em seu país o 8 de março, dia internacional da mulher.

Uma forma de agradecer e aplaudir a mulher mais importante de nossas vidas

A iniciativa da associação foi de embelezar as paradas de ônibus com cartazes nos quais foram impressas a oração da Ave Maria. Segundo um dos responsáveis pela campanha, a ideia surgiu por acreditaram que esta é uma das melhores formas de “agradecer e aplaudir a mulher mais importante de nossas vidas”.

Os cartazes ressaltam na Ave Maria, a condição de bendita entre todas as mulheres da Mãe de Deus, e também a de sua maternidade divina. “A história e a experiência nos demonstram que quando encomendamos o destino do mundo em suas mãos, as coisas melhoram”, explicam os promotores da campanha.

Guadium Press

Estilo da campanha é o mesmo usado no Natal

A campanha ocorre em Valladolid, Logroño, Pamplona, León, Gerona, Lérida, Cuenca, Albacete, Sevilla, Santiago de Compostela, Valencia, Hospitalet, Toledo, Santander, Oviedo, Gijón, Zaragoza, Vigo, Salamanca, Burgos, Bilbao, Getafe, Coslada, Alcobendas, San Sebastián de los Reyes, Fuenlabrada, Pozuelo, Villanueva de la Cañada o Móstoles.

Desta maneira a Associação Católica de Propagandistas da Espanha repete o estilo usado na campanha de Natal do ano passado, no qual em diversos e numerosos lugares foram colocados cartazes dizendo: “Sabe qual é a farsa mais repetida nos últimos 2 mil anos? Deus não existe. Feliz Natal”. (EPC)

https://gaudiumpress.org/

Presidente do México permite marchas feministas, mas restringe culto

Feministas violentas atacam policiais femininas e vandalizam a
Catedral Metropolitana do México, em 8 de março de 2020.
Crédito: David Ramos / ACI Prensa.

Cidade do México, 08 mar. 21 / 11:30 am (ACI).- As violentas marchas feministas programadas para 8 de março (8M) na Cidade do México e em outras localidades do país têm a autorização do governo de Andrés Manuel López Obrador, enquanto as restrições ao culto católico devido à pandemia de coronavírus Covid-19 são mantidas praticamente em todo o país.

Em 3 de março, López Obrador anunciou em sua coletiva de imprensa matinal que, diante das restrições às manifestações feministas em 8 de março em outros países, “aqui é proibido proibir, os direitos de manifestação e expressão estão garantidos”.

Na maior parte do país, mantêm-se as restrições à quantidade de fiéis autorizados a participar na celebração da Missa, bem como limitações às procissões e expressões de fé, visando, principalmente, a Semana Santa.

Na Quarta-feira de Cinzas, no início da Quaresma, em algumas dioceses mexicanas, optou-se por celebrar a Missa sem a participação dos fiéis e entregar as cinzas diretamente a eles para que pudessem ser distribuídas em suas casas e nos centros de trabalho.

"Aqui, liberdade absoluta e completa", disse López Obrador sobre as marchas feministas, ao mesmo tempo em que pediu às feministas que as “manifestações sejam pacíficas”.

“Que não destruam os estabelecimentos comerciais, que não ataquem os monumentos públicos e muito menos agridam as outras pessoas, e que também haja cuidado para que não prejudiquem os próprios manifestantes, mulheres ou homens, porque da última vez lançaram bombas”, disse.

Segundo dados do Governo do México, em 6 de março, foram confirmados no país mais de 2,3 milhões de casos de Covid-19, com um total de mais de 210 mil mortes.

A universidade norte-americana Johns Hopkins, especializada em medicina, coloca o México como o terceiro país com mais mortes por Covid-19 no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Brasil.

Uma decisão "contraditória" e "irresponsável"

Em diálogo com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Luis Losada, diretor de campanha do CitizenGO na América Latina, criticou que "a posição de López Obrador permitindo ‘liberdade absoluta’ com as manifestações feministas 8M é contraditória com as restrições ao culto e ao comércio".

“Por que a 'liberdade absoluta' é assimétrica? Por que não há 'liberdade absoluta' para participar de serviços religiosos e sim para participar em eventos feministas? Como explicar esta assimetria a muitos proprietários de restaurantes falidos e fechados por causa do sinal vermelho?”, questionou.

Losada lembrou que “a liberdade de expressão é um direito fundamental. Mas a liberdade religiosa e a liberdade de empresa também são direitos fundamentais”.

“Se uma emergência de saúde obriga a restringi-los para evitar a expansão da pandemia e salvar vidas, obrigará a todos, não apenas a alguns. Porque essa assimetria, além de irritante, é imoral e ilegal”, continuou. “E, além disso, é irresponsável: quantas vidas se perderam por causa da má administração de uma crise por parte de um governo que pensou que o vírus lhe caía ‘como uma luva’?”, acrescentou.

Losada disse depois que “pedir que as feministas não sejam violentas em 8M” é algo impossível. “Elas acreditam na violência como vetor político. Vimos isso em Quintana Roo, Puebla e Michoacán”.

“Talvez o presidente López Obrador esteja tentando com este gesto de tolerância aliviar seu mau relacionamento com as feministas que tentam impor a sua agenda. Eu prevejo o fracasso. Porque, para as feministas, sua agenda é quase sua religião. Jamais a abandonarão. Jamais se contentarão em quebrar alguns vidros”, destacou.

As feministas, advertiu, “querem o aborto sem limites. E, claro, pago com o esforço fiscal de todos os cidadãos. Elas nunca vão parar até conseguir o que querem”.

“O Governo mostra uma negligência criminosa”

Por sua vez, Pe. Hugo Valdemar, cônego penitenciário da Arquidiocese Primaz do México, disse que permitir marchas feministas e ao mesmo tempo restringir o culto “nada mais é do que a manifestação de uma grande incoerência. Em uma marcha deste tipo não se cumpre nenhuma das normas mínimas para evitar o contágio, ao contrário do cuidado que se tem nos templos para salvaguardar a própria saúde e a dos outros”.

“No entanto, este governo irresponsável que tem pânico das feministas, lhes dá luz verde enquanto nos templos continuam impondo restrições que beiram o absurdo”, disse ele.

Para o Pe. Valdemar, “o Governo mostra negligência criminosa ao autorizar marchas feministas. Não estamos em um momento para isso”.

“Janeiro e fevereiro foram meses trágicos. As coisas estão começando a ficar controladas agora. Não é possível que justo neste momento sejam permitidas manifestações multitudinárias”.

O sacerdote mexicano destacou o “contraste entre a disciplina e a responsabilidade que a Igreja tem demonstrado, às vezes até exagerada, e a irresponsabilidade criminosa do governo e das feministas, que, independentemente da saúde pública, se preparam para mostrar mais uma vez do que estão feitos, de ressentimento social, violência, ódio e destruição”.

Frente à eventual violência das feministas contra os templos católicos em 8 de março, Pe. Valdemar lembrou que “em outras ocasiões, grupos leigos católicos, diante do vergonhoso silêncio de alguns bispos, se organizaram para construir cercas humanas e defender os templos, e o fizeram com sumo respeito e civilidade”.

“Infelizmente, esses católicos heroicos se expõem à violência e brutalidade das feministas, que chegam a agir com verdadeiro ódio satânico. Porém, os fiéis leigos, ante a covardia dos pastores, têm todo o direito de defender seus templos, e nós lhes agradecemos por esses gestos heroicos de fé”.

Consultada sobre se iria se pronunciar sobre a permissão para as aglomerações feministas em 8 de março enquanto se mantêm as restrições ao culto público, a Conferência do Episcopado Mexicano assinalou que não tem uma opinião sobre isso.

Javier Rodríguez, Diretor de Comunicação da Arquidiocese Primaz do México, destacou que embora não haja uma postura a respeito da permissão do governo de López Obrador para as marchas feministas, “tem havido um diálogo interno com os responsáveis ​​das diferentes paróquias para estar atentos a qualquer contingência e contar com o apoio imediato das autoridades da Cidade do México”.

“No caso específico da Catedral Metropolitana, a segurança interna está a cargo da Guarda Nacional e a externa da Secretaria de Segurança Cidadã da Cidade do México, explicou.

Desde a tarde do dia 7 de março, o Governo da Cidade do México decidiu colocar cercas de proteção em frente à Catedral do México, semelhantes às instaladas em frente ao Palácio Nacional, sede do governo do país.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz

ACI Digital

Dia internacional da Mulher: A mulher na Bíblia

Guadium Press
Nossa Senhora é o verdadeiro modelo e exemplo de mulher. Ela é uma criatura aparte, mais bela por si só que toda a criação.

Redação (08/03/2021 15:06, Gaudium Press) No dia 08 de março a sociedade civil celebra o dia internacional da mulher, uma convenção moderna que em tempos anteriores não se fazia necessária. Pelo menos é o que se depreende dos excertos que transcreveremos de um discurso proferido por Juan Donoso Cortés em 16 de abril de 1848, ao tomar posse de sua cadeira na Real Academia de la Lengua:

A família gentílica e a família hebreia

Se levais em conta a distância que há entre a família gentílica e a hebreia, vereis logo que estão separadas entre si por um abismo profundo: a família gentílica compõe-se de um senhor e de seus escravos, enquanto a hebreia, do pai, da mulher e de seus filhos.

Guadium Press

Entram como elementos constitutivos da primeira, deveres e direitos absolutos; a segunda, deveres e direitos limitados. A família gentílica descansa na servidão; a hebreia funda-se na liberdade. A primeira é resultado de um esquecimento; a segunda, de uma recordação; o esquecimento e a recordação das divinas tradições, prova clara de que o homem não ignora, senão porque esquece, e não sabe, senão porque aprende.

Agora se compreenderá facilmente porque a mulher hebreia perde nos poemas bíblicos tudo o que teve entre os gentios de sombrio e de sinistro; e porque o amor hebreu, diferentemente do gentio, que foi incêndio dos corações, é bálsamo das almas.

Abri os livros dos profetas bíblicos, e em todos aqueles quadros, risonhos ou pavorosos, com que davam a entender às sobressaltadas multidões, ou que ia desfazendo-se o nebuloso, ou que a ira de Deus estava próxima, achareis sempre em primeiro lugar as virgens de Israel, sempre belas e vestidas de resplendores aprazíveis, levantarem então seus corações ao Senhor em melodiosos hinos e em angélicos cantares, ou depositarem, sob o peso da dor, as cândidas açucenas de suas frontes. […]

Na noite do Sábado Santo, também conhecida como Vigília Pascal, honra-se a sepultura de Jesus Cristo, sua descida ao Limbo e celebra-se sua gloriosa Ressurreição.
A Ressurreição de Cristo e as mulheres na tumba
Fra Angélico | Guadium Press

Mulheres que governaram e profetizaram

Nem se contentaram os hebreus em confiar à mulher o brando cetro de seus lares mas puseram muitas vezes na sua mão fortíssima e vitoriosa o pendão das batalhas e o governo do Estado.

A ilustre Débora governou a república na qualidade de juiz supremo da nação; como general dos exércitos, peleou e ganhou batalhas sangrentas; como poetiza, celebrou os triunfos de Israel e entoou hinos de vitória, manejando ao mesmo tempo, com igual soltura e maestria, a lira, o cetro e a espada.

No tempo dos reis, a viúva de Alexandre Janneo teve o cetro dez anos; a mãe do rei Asa governou em nome do seu filho, e a mulher de Hircano Macabeu foi designada por este príncipe para governar o Estado depois de seus dias.

Até o espírito de Deus, que se comunicava a poucos, desceu também sobre a mulher, abrindo-lhe os olhos e o entendimento para que pudesse ver e entender as coisas futuras.

Hulda foi iluminada com o espírito de profecia, e os reis aproximavam-se dela sobressaltados com um grande temor, contritos e receosos, para saber de seus lábios o que no livro na Providência estava escrito de seu império.

A mulher, entre os hebreus, ora governa a família, ora dirige o Estado, ora fala em nome de Deus, ora avassala os corações, cativos de seus encantos.

Era um ser benéfico, que já participava tanto da natureza angélica como da humana.

Lede apenas o Cântico dos Cânticos e dizei-me se aquele amor suavíssimo e delicado, se aquela esposa vestida de odoríferas e cândidas açucenas, se aquela música harmônica, se aqueles arrebatamentos inocentes e elevados, e aqueles deleitosos jardins, não são mais que coisas vistas, ouvidas e sentidas na terra, coisas que se nos apresentam como sonhos do paraíso.

E entretanto, senhores, para conhecer a mulher por excelência; para ter notícia certa do encargo recebido de Deus; para considerá-la em toda a sua beleza imaculada e altíssima; para formar-se alguma ideia de sua influência santificadora, não basta colocar a vista naqueles belíssimos exemplos da poesia hebraica, que até agora deslumbraram os nossos olhos e docemente embargaram os nossos sentidos.

A samaritana | Guadium Press

Maria: o verdadeiro modelo e exemplo de mulher

O verdadeiro modelo e exemplo de mulher não é Rebeca, nem Débora, nem a esposa do Cântico dos Cânticos, cheia de fragrâncias como uma taça de perfumes.

É necessário ir mais além, e subir mais alto; é necessário chegar à plenitude dos tempos, ao cumprimento da antiga promessa.

Para surpreender à maneira de Deus, formando o tipo perfeito de mulher, é necessário subir até ao trono resplandecente de Maria.

Ela é uma criatura aparte, mais bela por si só que toda a criação; o homem não é digno de tocar suas vestes brancas, a terra não é digna de servir-lhe de peanha, nem os tecidos de brocado como tapete; a sua brancura excede a neve que se acumula nas montanhas; o seu corado, o rosado dos céus; o seu esplendor ao resplandecente das estrelas.
Maria é amada de Deus, venerada pelos homens, servida pelos anjos.

[…] O Pai a chama filha, e lhe envia embaixadores; o Espírito Santo a chama esposa, e lhe faz sombra com as suas asas; o Filho a chama mãe, e faz de sua morada o seu sacratíssimo ventre.

Os Serafins compõem a sua corte; os céus a chamam Rainha; os homens a chamam Senhora: nasceu sem mancha, livrou o mundo, morreu sem dor, viveu sem pecado.

Vede aí a mulher, senhores, vede aí a mulher, porque Deus em Maria as santificou: às virgens, porque Ela foi Virgem; às esposas porque Ela foi Esposa; às viúvas porque Ela foi Viúva; às filhas, porque ela foi Filha; às mães porque ela foi Mãe.

A Anunciação (Leonardo da Vinci) | Guadium Press

A santificação da mulher

Grandes e portentosas maravilhas obrou o cristianismo no mundo: fez as pazes entre o céu e a terra, destruiu a escravidão, proclamou a liberdade humana e a fraternidade dos homens.

Mas com tudo isso, a mais portentosa de todas as suas maravilhas, a que mais profundamente influiu na constituição da sociedade doméstica e da civil, é a santificação da mulher, proclamada desde as alturas evangélicas.

E além do mais, senhores, desde que Jesus Cristo habitou entre nós, nem sobre as pecadoras é lícito lançar o escárnio e o insulto, porque até os seus pecados podem ser lavados pelas suas lágrimas.

O Salvador dos homens colocou a Madalena sob o seu amparo. E quando chegou o tremendo dia em que se nublou o sol, estremeceram e deslocaram-se os despojos da terra, ao pé da sua cruz estavam juntas a sua inocentíssima Mãe e a arrependida pecadora, para dar-nos assim a entender que os seus amorosos braços estavam abertos igualmente à inocência e ao arrependimento.

(Excerto de discurso proferido por Juan Donoso Cortés a 16 de abril de 1848, ao tomar assento na Real Academia de la Lengua)

Tradução do original em espanhol presente em OBRAS de D. Juan Donoso Cortés. (Ord.) Gavino Tejado. Madrid: Imprenta de Tejado, 1854. Tomo III. p. 171-198.

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S. FRANCISCA ROMANA, FUNDADORA DAS OBLATAS DE TOR DE’ SPECCHI

S. Francisca romana, Antoniazzo Romano 

Com um manto estranho bruto, de cor verde escuro, Francisca passa pelas vielas de uma Roma órfã da sua antiga majestade: passa, rapidamente, entre as ruínas de muros desabados, onde, uma vez, reinava a glória de igrejas e palácios; depois, no início do século XV, tornaram-se uma deteriorada miséria.

Não obstante, suas vestes que usava, embora pobres, se desentoavam com a atitude de uma mulher, de cerca trinta anos, bela, mas não vistosa, elegante, mas sem frieza. Trata-se de Francisca Bussa, da família dos Ponziani, nobre romana, esposa de Lourenço, jovem de uma prestigiosa linhagem. Seu comportamento “original” suscita gozação entre os senhores e mexericos sarcásticos entre as matronas. Enfim, era vista como traidora da própria casta.

O Palácio dos pobres

Sem se importar pelas conversas fiadas, ela continuava a conquistar todos com graça invejável. Francisca não só transformou o Palácio de Trastevere, onde vivia em uma espécie de “central” de assistência aos pobres – até o mais miserável dos pobres sabia que ali, na casa Ponziani, podia encontrar um pedaço de pão, um copo de vinho, roupa decente e um pouco de dinheiro – mas até estendia a mão na saída das igrejas ou ia bater às portas dos seus nobres conhecidos para pedir esmola, no lugar de quem se envergonhava de fazê-lo.
Diante desta sua atitude anticonformista, também seus familiares se rendem. Certa vez, seu sogro, cansado de dar contínuas esmolas aos mendigos, tirou-lhe as chaves das dispensas e esvaziou os celeiros da família; no entanto, após alguns dias, os celeiros, onde havia permanecido somente cascas de milho, se encheram, novamente, de quintais de ótimo trigo, que ninguém havia comprado.

A nobreza é outra coisa

Francisca era uma mulher rica e nobre diferente. Rica, mas repleta de piedade, que se preocupava com os excluídos, tratava os homens e mulheres da servidão como seus irmãos e irmãs – como eles mesmos testemunham -. Esta nobre senhora que não se apresentava com roupas de seda e joias, para não demonstrar seu status; pelo contrário, ela havia vendido tudo para saciar a fome dos pobres e cuidar dos mais necessitados; ela não mantinha a sua alegria oculta em um cofre, visível a poucos, mas em um coração totalmente aberto a todos, dia e noite, como os portões de casa, sem deixar de mãos vazias aquele Jesus, que se apresentava como indigente.

A “Santa de Roma”

Ao tornar-se esposa e mãe, em idade muito jovem, Francisca foi sempre muito carinhosa com o marido e com seus três filhos, dos quais dois faleceram cedo.
Desde criança, queria consagrar-se à vida religiosa, mas o matrimônio fazia parte de um daqueles clássicos acordos da época, entre as famílias importantes. Por isso, encontrou uma forma peculiar de viver seu papel, sem sufocar a sua inspiração de servir, resultado de uma fé composta e fortalecida de oração e de uma série de penitência físicas. São documentados ataques demoníacos contra a sua pessoa, mediante violências e torturas, mas também muitos sinais e curas extraordinárias, devido à caridade de “Ceccolella”, como era chamada.
Em 1436, ao ficar viúva, Francisca retirou-se para o mosteiro das “Oblatas da Santíssima Virgem”, que havia fundado, onde faleceu em 9 de maço de 1440. Por três dias seguidos, multidões de pessoas faziam fila para o último adeus comovido àquela que todos já consideravam “Santa de Roma”.

Vatican News

segunda-feira, 8 de março de 2021

A beleza da virtude

Canção Nova

por Pe. Françoá Costa 

1948. Festividade de São José, 19 de março. Douglas Hyde[i] se convertia à Igreja Católica. Por ocasião da sua conversão recebeu umas 900 cartas manifestando diversas opiniões e felicitando-o. Esse gentleman fora um dos principais dirigentes comunistas ingleses. Não obstante, vivia numa duplicidade: fervor intenso pelo partido comunista e atração ao extremo pela Idade Média. Paulatinamente, as suas leituras levaram-no a autores como Chesterton e Hilarie Belloc. Devido à influência desses dois autores, Hyde passou do comunismo à aceitação da propriedade privada.

            Certo dia lhe encarregaram a redação de uma crítica à Igreja Católica como instituição que se opunha ao século XX. Não conseguia escrever! As leituras feitas já influenciavam assaz sobre a sua maneira de pensar. Uma noite, sua esposa, também do Partido Comunista, desabafou, numa verdadeira explosão, tudo o que pensava sobre o Partido. Hyde, pensando de maneira semelhante, fez simplesmente uma pequena repreensão: “o que você pensa que está fazendo? Por acaso você vai se converter à Igreja Católica ou algo semelhante?” Ao que ela respondeu: “Eu não me importaria de que assim fosse”. E ele interiormente: “Eu também não me importaria”. Os dois resolveram, então, manifestar o que pensavam um ao outro.

            Pouco tempo depois, Hyde assistiu sua primeira Missa, compreendia o significado do Sacrifício. Inclusive antes da sua conversão, manifestou sua opinião sobre um debate interno da Igreja Católica. Uma Encíclica de Pio XII, a Mediator Dei, se referia ao incremento das línguas vernáculas na liturgia da Igreja. Hyde mostrou-se em pleno desacordo. Posteriormente, Hyde também participaria da teologia da libertação. Que pena que esse mesmo homem, convertido em 1948, escrevia em 1996: “Há muito não pratico o catolicismo (…) contribuiu a isso o fracasso do Vaticano II em responder às esperanças e legítimas expectativas de muitos, sobretudo, depois da morte de João XIII.” Também foi penoso o fato de que Hyde faleceu cinco semanas depois de escrever essas palavras, aos 19 de setembro de 1996. O funeral dele foi concluído com a reprodução da canção de protesto socialista. Patética ambigüidade: o livro que tinha relatado sua conversão, Eu acreditei, acabou relatando também o final da sua vida.

            Do comunismo à propriedade privada, de uma visão popular à defesa do medievalismo mais forte, da revolução à defesa do latim na Liturgia Católica a tal ponto de não entrar em sintonia com Pio XII, do Concílio Vaticano II à uma teologia da libertação, da fé à “incredulidade”. Como a vida humana é complexa e como é importante ser humildes à hora de emitir os nossos próprios juízos!

            Como é maravilhoso deixar-se guiar pela Igreja em cada momento e da maneira como ela quer viver a fé de sempre. Já dizia Aristóteles que a virtude, fugindo dos extremos, encontra-se no meio. Os extremismos sempre fazem mal às pessoas: comer demais ou comer nada, ambos extremos podem levar-nos ao hospital. Virtus in medio!

            Às vezes nós também, na Igreja, tendemos a esses extremismos: uns poucos casos de pedofilia (sempre lamentáveis!) passaram a ser motivos para culpar o celibato e querer eliminá-lo. Ora, será que não leram suficiente história da Igreja? Alguns abusos litúrgicos (todos lamentáveis!) foram motivos para cair em outros extremos em se tratando de liturgia. E o curioso é que a Igreja Católica tem dentro dela uns vinte ritos que se saúdam em liberdade! O fato de que algum membro de uma paróquia em algum lugar do planeta mostrar-se um pouco cheio de si mesmo (defeito humano bastante desculpável!), talvez fosse suficiente para que a sensibilidade levada ao extremo induzisse um cristão a afastar-se da Missa dominical. Sejamos sinceros: afastar por isso manifesta pouca maturidade na fé e um desconhecimento da natureza humana caída e levantada, mas propensa a cair sete vezes ao dia.

A virtude dos filhos de Deus é equilibrada, inclusive o nosso amor que, paradoxalmente, pode crescer sem limites. Quem ama de veras a Deus e ao próximo se sente livre, com a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. O cristão é um seguidor de Cristo. É muito edificante contemplar a Cristo nas páginas do Evangelho: come e bebe com pobres e ricos, passa 40 dias de jejum no deserto, trabalha tanto, reza pela noite, convida os discípulos para descansar, tem sentido de humor. Que equilíbrio tão grande vemos na vida de Jesus. Aprendamos! Tampouco se poderia dizer que o equilíbrio nesse caso seria viver o cristianismo pela metade. A vida de Jesus nos mostra santidade total e, ao mesmo tempo, otimismo e realismo.

A virtude é uma força (virtus), uma disposição, uma energia interior que nos dispõe a fazer o bem evitando o seu oposto. Ter uma boa disposição habitual nos levará a colocar-nos sempre no nosso lugar. Santo Tomás de Aquino dá uma definição de virtude que até nas palavras é de um equilíbrio impressionante: “virtude é aquela qualidade da alma pela qual se vive bem, ou seja, corretamente, e que não serve para nenhum mal”, se falamos das virtudes sobrenaturais da fé, esperança e caridade, há que acrescentar à definição que “Deus as infunde em nós sem a nossa ajuda” (S. Th. I-II, 44, 4, arg. 1).

Como conseguir ser uma pessoa virtuosa? À base da repetição de atos virtuosos. Uma pessoa que procura fazer sempre o bem, não é que ela tenha uma soma de atos bondosos, mas ela mesma acaba sendo uma pessoa boa. Um empresário que sempre atua prudentemente, não tardará em que se lhe reconheça como um homem prudente. Uma pessoa que sempre come com moderação, segundo a quantidade que lhe é necessária, sem avançar no prato nem fazer cara feia diante do que lhe põem, é uma pessoa sóbria, moderada, temperada. Quem sabe se divertir com moderação é eutrapélico (a eutrapelia é virtude que nos dispõe a divertir com moderação!). Não se trata, portanto, de ter virtude, fazendo uma espécie de coleção de virtudes, mas de ser virtuoso, ou seja, prudente, justo, temperado e forte. Quando se trata das virtudes sobrenaturais, trata-se de ser fiel, esperançoso e caridoso.

Todas as virtudes podem crescer. Ambas, virtudes humanas e sobrenaturais crescem ou pelo menos se dispõem a ser aumentadas quando realizamos vários atos virtuosos. No caso das sobrenaturais, ademais, é preciso pedi-las na oração: “Senhor, aumenta a minha fé, a minha esperança e a minha caridade”. Estas virtudes são importantíssimas. Por quê? Pelo simples e grandioso fato de que são elas que nos conduzem a Deus. Deus alcançou-nos com a sua graça e infundiu em nós as virtudes sobrenaturais ou teologais para que, com elas, possamos alcançá-lo.

Uma pessoa virtuosa é sempre agradável, alegre e simpática. Essa pessoa não só é equilibrada, mas deixa a elegância da virtude, com o seu tom de equilíbrio, por onde passa. Vem à minha memória uma das narrações que Charles Dickens, naquele delicioso romance titulado David Cooperfield, faz sobre Inês, a amiga do protagonista do relato, Cooperfield. Inês era uma senhorita gentil, sincera, amável, com uma capacidade de sofrer sem sentir-se vítima. Ela “falava de tal maneira que se percebia a sinceridade que ela transmitia ao expressar-se. Eu chorei tentando ocultar o rosto entre as mãos sem poder compreender a que se devia o bem-estar que eu experimentava ao seu lado. Inês, com a sua maneira plácida de falar, o seu olhar doce e risonho ao mesmo tempo, a sua serenidade cheia de paz, fazia – a meu ver – sagrado o lugar onde ela pisava. Ela acabou com a minha tristeza, fazendo com que eu lhe dissesse tudo o que tinha acontecido comigo desde a última vez que nos tínhamos visto”.

Apresentemos sempre o rosto amável da virtude e convidemos os outros, através do nosso próprio testemunho, a praticá-la. As pessoas do nosso entorno verão que a beleza está sempre no equilíbrio que dá a virtude e não na desarmonia causada pelo vício. Este sempre é algo feio e desumanizador. A virtude, com a sua nobre e simples presença, domina discretamente, e belamente.


[i] Sobre Douglas Hyde, pode ler-se em J. Pearce, Escritores conversos – la inspiración espiritual de uma época de incredulidad, Madrid: Palabra, 2006, págs.310-319.

Basílica de São Marcos, a ponte com o Oriente e as preces

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por Marinella Bandini

Reviva a antiga tradição quaresmal dos cristãos romanos descobrindo as "igrejas estacionais”.

A Basilica de São Marcos Evangelista, em Roma, fica a um passo da Piazza Venezia, embora esteja praticamente escondida. De acordo com a tradição, foi neste local que São Marcos viveu e escreveu seu Evangelho.

A Basílica foi construída pelo Papa Marcos em 336, em homenagem ao seu santo padroeiro. A renovação ordenada por Gregório IV em 833 foi importante, para que o corpo de São Marcos de Alexandria fosse transferido para Veneza. 

O mosaico na abside data deste período, com Jesus Cristo no centro e São Marcos e Gregório IV à sua direita, oferecendo um modelo da basílica. 

Foi Paulo IV, um veneziano, o responsável pela sua forma atual. A basílica guarda algumas relíquias de São Marcos e dos mártires persas Abdon e Sénen, mortos durante a perseguição de Decius. Isto a torna quase uma ponte natural com o Oriente.

No passado, em frente à igreja, havia uma estátua de Madama Lucrezia que hoje está localizada ao lado da construção. Ela é uma das “estátuas falantes” de Roma, às quais foram anexados folhetos para dar voz às críticas e sátiras sobre as figuras públicas da época.

Desta basílica, em 25 de abril, sai a procissão das “Preces a São Marcos”, para São Pedro, “para aplacar a Deus e torná-lO propício, a fim de que nos perdoe os pecados, afaste de nós seus castigos, abençoe os frutos da terra”. (Catecismo de São Pio X)

Juntemo-nos à esta procissão para pedir perdão e bênçãos.

Ponho a minha esperança no Senhor. Minha alma tem confiança em sua palavra. Porque junto ao Senhor se acha a misericórdia; encontra-se nele copiosa redenção.”Salmos, 129

Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF