Translate

terça-feira, 16 de março de 2021

A vida na África vale pouco, denuncia Via Sacra escrita por bispo

Nabil BOUTROS I CIRIC
por Francisco Vêneto

Morre-se antes do tempo e vive-se tão precariamente que muitas vezes me pergunto: será que há vida antes da morte?

A vida na África vale pouco, denunciou a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) por meio de uma Via Sacra composta por dom Jesús Ruiz Molina, bispo auxiliar de Bangassou, na República Centro-Africana.

O bispo de origem espanhola escreveu:

“Em quase todos os países da África subsariana, a esperança média de vida da população não chega aos 60 anos. No país em que vivo, ela é de escassos 50 anos. Morre-se antes do tempo e vive-se tão precariamente que muitas vezes me pergunto: será que há vida antes da morte? Como vale pouco a vida na África!”

A vida na África vale pouco

Segundo matéria da agência Ecclesia, dom Molina convida os fiéis a meditarem sobre a Paixão de Cristo enquanto a veem refletida no calvário de um continente “escravizado pela ganância, violentado pelo terrorismo, mergulhado tantas vezes numa pobreza quase obscena”.

A “Via Sacra África” denuncia desumanidades como a fome, as violências contra as mulheres e o escândalo brutal das crianças-soldado.

A fundação AIS observa que as reflexões propostas pelo texto “perturbam as consciências” de quem “olha para a África como um lugar subalterno”.

O texto da Via Sacra foi editado em formato de livro. Em Portugal, a fundação AIS destinará o dinheiro angariado com a venda dos exemplares a projetos em prol dos cristãos da África vitimados pela perseguição e pela intolerância religiosa.

Aleteia

Ano de S. José: “no seu silêncio faz as vezes de Deus”

Em 2021, a Igreja vive um momento especial para celebrar
São José.

O biblista, José Carlos Carvalho, ajuda-nos a descobrir como é que a Bíblia fala de S. José.

Rui Saraiva

Neste Tempo de Quaresma estamos a viver um ano especial dedicado a S. José, nos 150 anos da sua declaração como padroeiro universal da Igreja feita pelo Papa Pio IX a 8 de dezembro de 1870.

A partir dessa data celebrada em 2020 e até 8 de dezembro deste ano de 2021 a Igreja vive um momento especial para celebrar S. José. Segundo o Papa Francisco “depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo”.

Nesta Quaresma vamos descobrir como é que a Bíblia fala de S. José na reflexão do biblista José Carlos Carvalho. O professor de Sagrada Escritura da Universidade Católica Portuguesa é um dos responsáveis pela nova tradução da Bíblia para a Conferência Episcopal Portuguesa e já, em diversas ocasiões, colaborou com a Rádio Vaticano e o Vatican News. Desta vez, o som é da Agência Ecclesia na reportagem do jornalista Octávio Carmo.

“José tem a missão de acompanhar Maria e o Menino” ligando Jesus às promessas da ‘casa de David’ – refere José Carlos Carvalho assinalando que essa ascendência é muito visível no Evangelho de S. Mateus.

José Carlos Carvalho sublinha a importância de Belém, cidade da ascendência de S. José, como berço do Messias dizendo que “Belém estava na memória de Israel, nas expectativas messiânicas, como a cidade da qual proviria o Messias”.

O biblista português refere que S. José através do seu trabalho sustenta a sua família e “no seu silêncio faz as vezes de Deus”. Nos dias de hoje S. José seria “uma espécie de cuidador” dando todas as condições para Jesus crescer – afirma.

O Papa Francisco convocou este Ano de S. José através da Carta Apostólica “Patris Corde”, “Coração de Pai”.

Laudetur Iesus Christus

Vatican News

Como viver a Quaresma na era do totalitarismo digital e das redes?

Imagem referencial: Pixabay domínio público

Roma, 16 mar. 21 / 05:00 am (ACI).- O jornal do Vaticano, L’Osservatore Romano, apresentou em sua edição de 19 de fevereiro de 2018 um artigo intitulado ‘Totalitarismo digital’, que destaca a importância da solidão, do silêncio e do jejum para viver a Quaresma na era das redes sociais .

A autora do artigo é Antonella Lumini, que recorda que, “a cada ano, o tempo litúrgico da Quaresma convida a viver momentos de recolhimento, de deserto e, se a solidão, o silêncio, o jejum, na era das redes sociais, podem parecer completamente impraticáveis, na verdade são sempre mais necessários para proteger o equilíbrio psicofísico do indivíduo”.

“Não se trata de incentivar a fuga do mundo ou de demonizar certos instrumentos, mas de reencontrar a medida certa. Em uma época na qual prevalece o consumo descontrolado de tudo, em que é normal o comportamento convulsivo para a interação nas redes, seria bom redescobrir a solidão e o jejum como caminhos a percorrer para voltar às profundezas”.

Lumini recordou que Santo Agostinho convidava a não “se dispersar, mas voltar a si mesmo, porque a verdade que desejamos está no profundo de nós”.

A autora também escreve que, “enquanto estamos sobrecarregados por tudo o que consumimos, incluindo o excesso de alimentos e o uso excessivo das redes sociais, não poderemos perceber a sede de infinito na nossa alma: assim se torna impossível penetrar neste misterioso mundo interior que constitui a verdadeira riqueza que nenhuma coisa externa poderá substituir”.

“A solidão permite que a pessoa experimente isso sozinha, desmascarando, despindo, favorecendo a relação com o Espírito, com esse fundo luminoso no qual o ego se abre à consciência, expande-se para o insondável. O ‘eu’ se abre ao ‘Eu Sou’, o nome revelado de Deus assumido por Jesus, ou se fecha tornando-se o centro de si mesmo”, assinalou.

Nesse sentido, “o jejum, entendido não só como abstinência de comida, mas também do celular e das conexões digitais, torna-se um meio capaz de impedir os círculos viciosos que causam dependência”.

Na relação pessoal com Deus, continua Antonella Lumini, o “sujeito é encorajado a crescer espiritualmente. Ao contrário, a interação constante com a rede intensifica o processo de massificação e homologação das consciências e produz uma regressão (...) na qual a individualidade se perde”.

Entre os riscos de não responder à sua sede interior, Lumini adverte que a pessoa pode cair na “agressividade, na violência, na tristeza, na depressão e no mal-estar físico”.

“Uma forma alterada e excessiva de relações sem uma verdadeira interação humana anestesia as consciências, produz uma escravidão tortuosa, sedutora, que não é imediatamente reconhecível, que está camuflada. Mas essa escravidão do totalitarismo digital não se compara com a dos regimes totalitários que privam de toda liberdade”.

Diante dessa situação, incentiva, “é hora de acordar do entorpecimento. A solidão e o jejum revelam o vazio interno e é por isso que nos dão medo”.

Lumini conclui o artigo afirmando que, “como ensinam os padre e as madres do deserto, os demônios são vícios, círculos viciosos que prendem em uma corrente da qual já não podemos sair. Às vezes, o vício é apresentado como uma virtude. Então, o silêncio, a solidão e o jejum são o antídoto.

Antonella Lumini reside em Florença (Itália) e há cerca de 30 anos vive como “eremita urbana”.

Em 2016, escreveu com o Vaticanista Paolo Rodari o livro ‘A custódia do silêncio’, no qual compartilha suas reflexões sobre o tema.

Na opinião de Rodari, “a mensagem fundamental de Antonella Lumini é que o Espírito fala em todos os lugares e sempre fala, basta saber ouvi-lo. Para aprender a ouvi-lo é necessário aprender a ficar em silêncio”.

ACI Digital

São João de Brébeuf e Companheiros

S. João Brébeuf | A12
16 de março

São João de Brébeuf nasceu em 1593, na França. Entrou para a Companhia de Jesus, tornando-se Jesuíta no dia em que completava 29 anos. Em 1625, junto com um grupo de missionários, partiu para o Canadá, com a missão era evangelizar os índios algonquinos.

A região dos grandes lagos, nos confins entre os Estados Unidos e o Canadá, era habitada no século XVII por tribos, peles vermelhas, que não conheciam a mensagem do Evangelho. Nossos irmãos enfrentaram as dificuldades próprias da adaptação nas terras diferentes, climas, línguas e principalmente tribos indígenas guerreiras, que faziam da missão um perigo, mas assim mesmo, os santos missionários preferiram arriscar a vida por Jesus.

João Brebéuf era admirado e respeitado pelos indígenas. Batizou cerca de sete mil índios. Vivia em extrema pobreza, dividindo comida e casa com os índios. Apesar disso, dava testemunho de alegria, de esperança e de paciência cristã, a ponto de os índios dizerem a seu respeito: “Jesus voltou”! Aprenderam rapidamente a língua indígena a ponto de escrever para eles uma gramática e livros de catequese.

No dia 16 de março de 1649, uma tribo adversária, os iroqueses, invadiu a missão. João foi amarrado num pau e tremendamente torturado, tendo inclusive suas unhas arrancadas. Impressionados com a coragem do missionário, os índios arrancaram-lhe o coração a fim de comê-lo e herdar sua força.

Com João de Brébeuf foram martirizados seus sete companheiros: Isac Jogues, Antonio Daniel, Carlos Garnier, Gabriel Lalemant, João de la Lande, Natal Chabanel e Renato Goupil.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

REFLEXÃO

São João Brebéuf e seus companheiros podiam ter tido uma vida sem doenças ou atrocidades, mas preferiram doar-se por inteiro à causa da evangelização. Deixaram as comodidades de suas casas e enfrentaram terras desconhecidas, em nome da evangelização. Poderíamos até questionar os métodos missionários destes homens, mas sem dúvida a fé que os moveu é inquestionável. Sejamos também nós missionários da verdade e da justiça e coloquemos Jesus Cristo em primeiro lugar na nossa vida.

ORAÇÃO

Deus todo-poderoso, que destes aos mártires Santos João de Brébeuf e companheiros a graça de sofrer pelo Cristo, ajudai também a nossa fraqueza, para que possamos viver firmes em nossa fé, como eles não hesitaram em morrer por vosso amor. Por Cristo nosso Senhor. Amém!

Portal A12

segunda-feira, 15 de março de 2021

PAIS DA IGREJA: São Gregório Palamas (Parte 3/3)

São Gregório Palamas | ECCLESIA
Arcipreste George Florovsky

«São Gregório Palamas
e a Tradição dos Padres»

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior

6. São Gregório Palamas e a «theosis»

Todas estas considerações preliminares são altamente relevantes para nosso propósito imediato. Qual é o legado teológico de São Gregório Palamas? São Gregório não era um teólogo especulativo. Era um monge e um bispo.Ele não estava preocupado com problemas abstratos de filo, apesar dele ser bem treinado neste campo também. Ele só se interessava por problemas da existência Cristã. Como teólogo, ele era simplesmente um intérprete da experiência espiritual da Igreja. Quase todos os seus escritos, exceto provavelmente suas homilias, foram escritos ocasionais. Ele esteve lutando com problemas do seu próprio tempo. E foi um tempo crítico, uma época de controvérsia e ansiedade. Porém, foi também uma época de renovação espiritual.

São Gregório ficou suspeito de inovações subversivas por parte de seus inimigos ainda na sua própria época. Esta acusação ainda é mantida contra ele no Ocidente. Mas, no entanto, São Gregório estava profundamente enraizado na tradição. Não é difícil rastrear a maioria de suas maneiras de ver e motivos para trás até os Padres Capadócios e São Máximo o Confessor, que era, por sinal, um dos mestres mais populares do pensamento e devoção Bizantinos. Além disto, São Gregório também estava profundamente informado sobre os escritos do Pseudo-Dinis. Ele estava enraizado na tradição. Porém, de maneira nenhuma, era a sua teologia simplesmente uma "teologia de repetição." Ela foi uma extensão criativa da tradição antiga. Seu ponto-de-partida foi Vida em Cristo.

De todos os temas da teologia de São Gregório, destaquemos somente um, o crucial, e o mais controverso. Qual é o caráter básico da existência Cristã? O objetivo e propósito final da vida humana foi definido pela tradição Patristica como a θεωσις [theosis, divinização]. O tema é bastante ofensivo ao ouvido humano moderno. Ele não pode ser adequadamente traduzido em nenhuma língua moderna, nem mesmo em latim. Mesmo em grego ele é muito pesado e pretensioso. Na verdade, é uma palavra desafiadora. O significado da palavra, no entanto é simples e lúcido. Foi um dos termos cruciais no vocabulário Patristico. Basta, neste ponto, citar Santo Atanásio. Ele Se tornou homem para nos divinizar em Si próprio. [Γεγονεν γαρ ανθρωπος, ιν ημας εν εαυτω θεοποιηση (Ad Adelphium 4)]. Ele Se tornou homem para que nós pudéssemos ser divinizados. [αυτος γαρ ενηνθρωπησεν, ινα ημεις θεοποιηθωμεν (De Incarnatione 54)]. Santo. Atanásio, na verdade, resume aqui a idéia favorita de Santo Irineu: qui propter immensam dilectionem suam factus est quod sumus nos, uti nos perficeret esse quod est ipse. [Que, através do Seu imenso amor, Se tornou o que nós somos, para que Ele pudesse nos levar, até mesmo, para o que Ele próprio é (Adv. Haeres. V, Praefatio)]. Esta era a convicção comum dos Padres gregos. Pode-se citar São Gregório de Nazianzo, São Gregório de Nissa, São Cirilo de Alexandria, São Máximo, e ainda São Simeão o Novo Teólogo. O homem sempre permanece o que é, isto é — criatura. Mas ele recebeu a promessa e concessão, pelo Verbo ter Se tornado homem, de uma participação íntima no que é Divino: Vida Eterna e incorruptível. A principal característica da theosis é, de acordo com os Padres, precisamente a "imortalidade" ou "incorrupção." Pois só Deus "tem imortalidade" — ο μονος εχων αθανασιαν (I Tim. 6:16). Mas o homem é agora admitido numa íntima "comunhão" com Deus, através de Cristo e pelo poder do Espírito Santo. E isto é muito mais que simplesmente uma comunhão "moral," e muito mais que simplesmente que uma perfeição moral. Somente a palavra theosis pode traduzir adequadamente o caráter único da promessa e da oferta. O termo theosis é, na verdade muito embaraçador, se nós pensarmos em categorias "ontológicas." Na verdade, o homem simplesmente não pode "se tornar" deus. Mas os Padres estiveram pensando em termos "pessoais," e o mistério da comunhão pessoal estava envolvido neste ponto. Theosis significava um encontro pessoal. É o intercurso íntimo de Deus como o homem, no qual o todo da existência humana fica, como se fosse, permeado pela Presença Divina. [5]

Porém, o problema permanece: Como pode mesmo este intercurso ser compatível com a Transcendência Divina? E este é o ponto crucial. O homem realmente encontra Deus, verdadeiramente e de fato, nesta vida presente de oração? Ou, não há mais do que um actio in distans? A alegação comum dos Padres do Oriente era que, na sua ascensão devocional, o homem, de fato, encontra Deus e contempla a Sua eterna Glória. Porém, como é possível, se Deus habita na "Sua luz inaproximável"? O paradoxo era extremamente profundo na teologia Oriental, que estava sempre comprometida com a crença de que Deus era absolutamente incompreensível — ακαταληπτος — e incognoscível na Sua natureza ou essência. Esta convicção foi poderosamente expressa pelos padres Capadócios, especialmente na sua luta contra Eunomius, e também por São João Crisóstomo, em seus magníficos discursos. Περι Ακαταληπτου. Assim, se Deus é absolutamente " inaproximável" em Sua essência, e de acordo com Sua essência simplesmente não pode ser "comunicado," como pode, de todo, a theosis ser possível? "Insulta-Se Deus se se procura compreender Seu Ser essencial," diz João Crisóstomo. Já em Santo Atanásio nós encontramos uma clara distinção entre a própria "essência" de Deus e Seus poderes e generosidade: [Ele está em tudo por Seu amor, mas antes de tudo por Sua própria natureza [Και εν πασι μεν εστι κατά την εαυτου αγαθοτητα, εξω δε των παντων παλιν εστι κατά τηνιδιαν φυσιν (De Decretis II)]. A mesma concepção foi cuidadosamente elaborada pelos Capadócios. A "essência de Deus" é absolutamente inacessível para o ser humano, diz São Basílio (Adv. Eunomium 1:14). Nós conhecemos Deus somente em Suas ações, e por Suas ações: [Nós dizemos que nós conhecemos nosso Deus por Suas energias (atividades), mas nós não professamos ser possível aproximar-se de Sua essência — pois Suas energias descem até nós, mas Sua essência permanece inacessível [Ημεις δε εκ μεν των ενεργειων γνωριζειν λεγομεν τον Θεον ημων, τη δε ουσια προσεγγιζειν ουχ υπισχνουμεθα αι μεν γαρ ενεργειαι αυτου προς ημας καταβαινουσιν, η δε ουσια αυτου μενει απροσιτος Epist. 234, ad Amphilochium)]. Porém, isto é um verdadeiro conhecimento não simplesmente uma conjectura ou dedução: αι ενεργειαι αυτου προς ημας καταβαινουσιν. Na frase de São João Damasceno, estas ações ou "energias" de Deus são a verdadeira revelação do próprio Deus: η θεια ελλαμψις και ενεργεια (De Fide Orth. 1: 14). É uma presença real, e não simplesmente uma certa praesentia operativa, sicut agens adest ei in quod agit [como o ator está presente na coisa em que ele age]. Este modo misterioso da Presença Divina, apesar da absoluta transcendência da Divina Essência, ultrapassa todo conhecimento. Mas não é menos certo por isto.

São Gregório Palamas permanece na antiga tradição neste ponto. Em Suas "energias" o Deus inaproximável Se aproxima do homem. E este movimento Divino efetua encontros: προοδος εις τα εξω, na frase de São Máximo (Scholia in De Div. Nom. 1: 5).

São Gregório começa com a distinção entre "graça" e "essência": a Divina e Divinizadora iluminação e graça não é a essência, mas a energia de Deus; [η θεια και θεοποιος ελλαμψις και χαρις ουκ ουσια, αλλ’ ενεργεια εστι Θεου; Capita Phys., Theol., etc., 68-9]. Esta distinção básica foi formalmente aceita e elaborada nos Grandes Concílios de Constantinopla de 1341 e 1351. Aqueles que negassem esta distinção eram anatematizados e excomungados. Os anátemas de 1351 foram incluídos no rito do Domingo da Ortodoxia no Triódio. Os teólogos Ortodoxos foram obrigados por esta decisão. A essência de Deus é absolutamente incomunicável [αμεθεκτη]. A fonte e poder da theosis humana não é a Divina essência, mas a "Graça de Deus": a energia divinizadora, por participação daquele que é divinizado, é uma graça divina, mas de modo algum a essência de Deus; [θεοποιος ενεργεια, ης τα μετεχοντα θεουνται, θεια τις εστι χαρις, αλλ’ ουχ η φυσις του Θεου ibid. 92-3]. Charis [χαρις] não é idêntica com a ousia [ουσια]. É a Divina e incriada Graça e Energia; [θεια και ακτιστος χαρις και ενεργεια ibid 69]. Esta distinção, no entanto, não implica em ou efetua divisão ou separação. Nem é um simples "acidente," ουτε συμβεβηκοτος (ibid., 127). As Energias "procedem" de Deus e manifestam Seu próprio Ser. O termo προιεναι [proienai, proceder] simplesmente sugere διακρισιν [diakrisin, distinção], mas não uma divisão: a graça do Espírito é diferente da Substância, porém não é separada Dela; [ει και διενηνοχε της φυσεως, ου διασπαται η του Πνευματος χαρις; Theophan, p. 940].

Na verdade todo ensinamento teológico de São Gregório pressupõe a ação do Deus Pessoal. Deus Se move para o homem e o abraça por Sua própria "graça" ou "ação," sem deixar aquela luz inaproximável [φος απροσιτον], na qual Ele habita eternamente. O propósito definitivo da teologia de São Gregório foi defender a experiência Cristã. Salvação é mais do que perdão. É uma genuína renovação do homem. E esta renovação é efetuada não por descarga ou liberação, de certas energias naturais implicadas no próprio ser criado do homem, mas pelas "energias" do próprio Deus, que ai encontra e envolve o homem, e o admite em comunhão conSigo. De fato, o ensinamento de São Gregório afeta o sistema todo de teologia, o corpo todo da Doutrina Cristã. Ele começa com a clara distinção entre "natureza" e "vontade" de Deus. Esta distinção também era característica da tradição Oriental, ao menos desde Santo Atanásio. Neste ponto pode-se perguntar: esta distinção é compatível com a "simplicidade de Deus" ? Não deveríamos ver todas estas distinções como meras conjecturas lógicas, necessárias para nós, mas definitivamente sem nenhum significado ontológico? De fato, São Gregório foi atacado por seus oponentes precisamente deste ponto-de-vista. O Ser de Deus é simples, e Nele, inclusive, todos os atributos coincidem. Já Santo Agostinho divergiu neste ponto da tradição do Oriente. Sob as pressuposições de Santo Agostinho o ensinamento de São Gregório é inaceitável e absurdo. O próprio São Gregório antecipou a abrangência das implicações da sua distinção básica. Se não se aceita ela, ele argumentou, então seria impossível distinguir claramente entre a "geração" do Filho e a "criação" do mundo, sendo ambos atos da essência, e isto conduziria a uma completa confusão na doutrina Trinitária. São Gregório foi bastante formal neste ponto.

Se, de acordo com os oponentes delirantes e com aqueles que concordam com eles, a Divina energia não difere de modo algum da Divina essência, então o ato de criar, que pertence à vontade, não diferirá de modo algum da geração (γενναν) e da processão (εκορευειν), que pertence à essência. Se criar não é diferente de geração e processão, então as criaturas não diferenciariam de maneira nenhuma do Gerado (γεννηματος) e do Projetado (οβληματος). E se este é o caso, de acordo com eles, então ambos, o Gerado e o Projetado não seriam, de modo algum, diferentes das criaturas, e as criaturas seriam tanto os gerados (γεννηματα) quanto os projetados (ροβληματα) de Deus Pai, e a criação seria deificada e Deus estaria revestido de criaturas. Por esta razão o venerável Cirilo, mostrando a diferença entre a essência e a energia de Deus, diz que a geração pertence à Divina natureza, enquanto a criação pertence às Suas Divinas energias. Isto ele mostra claramente dizendo: "natureza e energia não são o mesmo." Se a Divina essência de modo algum difere das Divinas energias, então gerar (γενναν) e projetar (εκρευειν) nγo tem diferença com criar (οιειν). Deus o Pai cria pelo Filho e no Espνrito Santo. Então Ele também gera e projeta pelo Filho e no Espírito Santo, de acordo com a opinião dos oponentes e daqueles que concordam com eles. (Capita 96 e 97).

São Gregório cita São Cirilo de Alexandria. Mas São Cirilo, neste ponto, estava simplesmente repetindo Santo Atanásio. Este, em sua refutação do Arianismo, enfatizou formalmente a diferença entre ουσια [essκncia] e φυσις [substβncia], de um lado e a βουλησις (vontade) do outro. Deus existe, e então Ele também age. Há uma certa "necessidade" no Ser Divino, na verdade não uma necessidade de compulsão, e não fatum, mas uma necessidade do Ser em Si. Deus simplesmente é o que é. Mas a vontade de Deus é eminentemente livre. Em nenhum sentido, Ele é necessitado de fazer o que Ele faz. Assim γεννησις [geraηão] é sempre κατάφυσιν [de acordo com a essκncia], mas criação é uma βουλησεοςεργον [energia da vontade] (Contra Arianos III. 64-6). Estas duas dimensões, esta de ser e aquela de agir, são diferentes e devem ser claramente distinguidas. Por certo, esta distinção não compromete, de modo algum, a Divina "simplicidade." Porém, é uma distinção real, e não simplesmente um dispositivo lógico. São Gregório estava completamente consciente da crucial importância desta distinção. Neste ponto ele era um verdadeiro sucessor do grande Santo Atanásio e dos Hierarcas Capadócios.

Foi recentemente sugerido que a teologia de São Gregório, deveria ser descrita, em termos modernos, como uma "teologia existencialista." Porém, ela difere radicalmente dos conceitos modernos que são atualmente cunhados com este rótulo. Na verdade, de toda forma, São Gregório foi definitivamente oposto a todos os tipos de "teologias essencialistas" que falham em considerar a liberdade de Deus, o dinamismo da vontade de Deus, a realidade da ação Divina. São Gregório rastrearia sua tendência para trás até Orígenes. Esta era a situação difícil da metafísica impessoal grega. Se há qualquer espaço para uma metafísica de todo Cristã, ela tem que ser uma metafísica de pessoas. O ponto inicial da teologia de São Gregório foi a história da salvação: em escala maior, a história das Escrituras, que consiste em atos Divinos, culminando com a Encarnação do Verbo e Sua glorificação através da Cruz e Ressurreição; na escala menor, a história do homem Cristão lutando pela perfeição, e ascendendo passo-a-passo, até encontrar Deus na visão de Sua glória. Era normal descrever a teologia de São Irineu como uma "teologia de fatos." Com não menos justificativa nós devemos descrever também a teologia de São Gregório Palamas como uma "teologia de fatos".

No nosso tempo, nós estamos chegando cada vez mais à convicção de que a "teologia de fatos" é a única teologia Ortodoxa sã. Ela é Escriturística. Ela é Patristica. Ela está em completa conformidade com a mente da Igreja.

Em relação a isto, nós devemos encarar São Gregório Palamas como nosso guia e professor, em nosso esforço por teologizar do ponto-de-vista do coração da Igreja.

NOTAS

5. Cf. M. Lot-Borodine, "La doctrine de la deification dans I'Eglise grecque jusqu'au XI siecle," in Revue de l'histoire des religions, tome CV, Nr I (Janeiror-Fevereiro 1932), 5-43; tome CVI, Nr 2/3 (Setembro-Dezembro 1932), 525-74; tome CVII, Nr I (Janeiro-Fevereiro 1933), 8-55.

6. Do Capítulo 7 do The Collected Works of Georges Florovsky, Vol. I, Bible, Church, Tradition: An Eastern Orthodox View (Vaduz, Europa: Buchervertriebsanstalt, 1987), pp. 105-120. Este clássico está agora fora de publicação, porém ainda disponível.

FONTE:

Folheto Missionário da Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant


ECCLESIA

Por que as mulheres choram?

dailymotion
por Prof. Felipe Aquino

Existem perguntas que só são respondidas com a própria vida. Conheça mais uma bela história…

Realmente não é fácil para os homens compreenderem porquê as mulheres choram com tanta facilidade. Choram porque estão tristes, choram porque estão alegres, choram de emoção, de decepção… Há lágrimas disponíveis para tudo. Santo Agostinho disse que as lágrimas que sua mãe derramava por sua conversão diante do Sacrário, “eram o próprio sangue do coração destilado em lágrimas em seus olhos”.

Certa vez, um garotinho perguntou à sua mãe:

– Mamãe, por que você está chorando? E ela respondeu:

– Porque sou mulher…

– Mas… eu não entendo.

A mãe se inclinou para ele, abraçou-o e disse:

– Meu amor, você jamais irá entender!

… Mais tarde o menininho perguntou ao pai:

– Papai, por que mamãe às vezes chora, sem motivo? O homem respondeu:

– Todas as mulheres sempre choram sem nenhum motivo… Era tudo o que o pai era capaz de responder.

O garotinho cresceu e se tornou um homem. E, de vez em quando, fazia a mesma pergunta: Por que será que as mulheres choram, sem ter motivo para isso?

Certo dia esse homem se ajoelhou e perguntou a Deus:

– Senhor, diga-me… Por que as mulheres choram com tanta facilidade? E Deus lhe disse:

– Quando eu criei a mulher, tinha de fazer algo muito especial. Fiz seus ombros suficientemente fortes, capazes de suportar o peso do mundo inteiro… Porém suficientemente suaves para confortá-lo! Dei a ela uma imensa força interior, para que pudesse suportar as dores da maternidade e também o desprezo que muitas vezes provém de seus próprios filhos! Dei-lhe a fortaleza que lhe permite continuar sempre a cuidar da sua família, sem se queixar, apesar das enfermidades e do cansaço, até mesmo quando outros entregam os pontos! Dei-lhe sensibilidade para amar seus filhos, em qualquer circunstância, mesmo quando esses filhos a tenham magoado muito…

Essa sensibilidade lhe permite afugentar qualquer tristeza, choro ou sofrimento da criança, e compartilhar as ansiedades, dúvidas e medos da adolescência! Porém, para que possa suportar tudo isso, meu filho… Eu lhe dei as lágrimas, e são exclusivamente suas, para usá-las quando precisar. Ao derramá-las, a mulher verte em cada lágrima um pouquinho de amor. Essas gotas de amor desvanecem no ar e salvam a humanidade!

O homem respondeu com um profundo suspiro…:

– Agora eu compreendo o sentimento de minha mãe, de minha irmã, de minha esposa…Obrigado, Meu Deus!

https://cleofas.com.br/

A sabedoria cristã e os reveses da luta anticorrupção

Shutterstock
por Francisco Borba Ribeiro Neto

Quando imaginamos que um ser humano, seja ele presidente, juiz, ou mesmo líder religioso, é o salvador que resolverá todos os problemas, terminamos não só nos frustrando, mas nos colocando numa posição inadequada para participar da solução dos problemas.

Asituação atual da famosa Operação Lava-jato, com o desmonte de sua força-tarefa e a anulação da condenação de Lula por Edson Fachin, criou uma impressão generalizada de que a luta anticorrupção no Brasil não anda bem. O trabalho, particularmente da força-tarefa de Curitiba, recebeu elogios no mundo inteiro e, com certeza, como tudo que é humano, terá seus méritos (elogiados no passado) e seus deméritos (expostos no presente).

O maior problema é que estamos diante de duas possibilidades antagônicas e desconcertantes para a luta anticorrupção. A primeira é a de que Moro e companhia, mesmo que tivessem se excedido em algumas coisas, realmente fizeram justiça naquela época – então vemos agora a vitória dos corruptos, que são inocentados e veem aqueles que os combatiam em dificuldades. A segunda possibilidade é a de que juízes e procuradores, mesmo que tivessem acertado em alguns casos, instrumentalizaram politicamente o Poder Judiciário, e então a luta anticorrupção do passado era uma farsa com intenções eleitoreiras. Nenhuma das duas possibilidades é agradável para os que desejam ver um Brasil mais justo e livre de corrupção.

Já o profeta Jeremias advertia: “Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne a sua força, e afasta o seu coração do Senhor!” (Jr 17, 5). “Maldito” aqui não é uma imprecação, mas apenas a constatação que esse homem “se dará mal”, não terá realização prometida aos benditos de Deus. Infelizmente, toda vez que confiamos demasiadamente nas forças e capacidades humanas, acabamos por nos frustrar. Não é que devamos deixar tudo nas mãos de Deus, com uma atitude passiva, mas temos que agir sempre conscientes dos limites humanos, prontos para reconhecer erros e corrigir rotas. Na clássica formulação de Santo Inácio de Loyola: “Aja como se tudo dependesse de você, sabendo bem que, na realidade, tudo depende de Deus”.

Não permitir nem a corrupção, nem o uso político da lei

Quando imaginamos que um ser humano, seja ele presidente, juiz, ou mesmo líder religioso, é o salvador que resolverá todos os problemas, terminamos não só nos frustrando, mas nos colocando numa posição inadequada para participar da solução dos problemas. Tendemos a diminuir nosso empenho no trabalho que nos cabe, pois será o personagem carismático que resolverá os problemas e dará as diretrizes. Além disso, perdemos a criticidade necessária até mesmo para colaborar com esses líderes, pois aceitamos seus erros como acertos, com consequências tristes no final do processo.

O Papa Francisco vai bem mais longe nessa reflexão sobre o combate à corrupção. Várias vezes se pronunciou sobre isso. Numa dessas ocasiões, usa palavras que podem corresponder ao estado de ânimo da maioria de nós: “A corrupção tornou-se natural, a ponto de chegar a constituir um estado pessoal e social ligado ao costume, uma prática habitual nas transações comerciais e financeiras, nas empreitadas públicas, em cada negociação que envolva agentes do Estado […] A sanção penal é seletiva. É como uma rede que captura só os peixes pequenos, e deixa os grandes em liberdade no mar. As formas de corrupção que devem ser perseguidas com a maior severidade são as que causam graves danos sociais, quer em matéria econômica e social — como por exemplo graves fraudes contra a administração pública ou a prática desleal da administração — quer em qualquer tipo de obstáculo que se intrometa no funcionamento da justiça com a intenção de conseguir a impunidade para as próprias burlas ou para as de terceiros”.

O Papa, contudo, também denuncia o chamado lawfare, o uso do sistema judicial para combater e perseguir inimigos políticos: “com os instrumentos próprios do lawfare, instrumentaliza-se a luta, sempre necessária, contra a corrupção, com a finalidade de combater os governos indesejados, reduzir os direitos sociais e promover um sentimento de antipolítica do qual se beneficiam aqueles que aspiram a exercer um poder autoritário”.

A política melhor

A crescente judicialização da política fez com que o combate à corrupção parecesse circunscrita ao âmbito judicial, mas esse é um campo de ação forçosamente limitado. Em muitos casos, os corruptos são os próprios autores das leis – e se utilizam de procedimentos criados para proteger o cidadão inocente de uma perseguição pelo Estado para se livrarem das acusações. Não por acaso, os maiores reveses do combate à corrupção nos tribunais não decorreram da constatação da inocência dos acusados, mas por falhas nos procedimentos jurídicos.

Diante das limitações do sistema legal, cresce o ativismo judicial, com a tendência de juízes e procuradores de condenar os que consideram culpados, extrapolando as limitações que a lei lhes impõe. Pior ainda, o desejo de “fazer justiça com as próprias mãos” pode levar toda a sociedade a optar por posições autoritárias e antidemocráticas, que inevitavelmente apenas trocarão os nomes dos poderosos de plantão, mas perpetuarão os esquemas de corrupção e o descaso com os mais frágeis na estrutura social.

Mas então, o que fazer? Francisco não deixa essa pergunta sem resposta. Além de manter a luta judicial contra a corrupção, respeitando-se os limites legais, ele propõe, no Capítulo V da Fratelli tutti (FT), a construção de uma “política melhor”. Não a antipolítica, daqueles que estão desiludidos com a convivência social e querem a violência contra os que pensam diferente, mas a política melhor, daqueles que estão verdadeiramente comprometidos com o bem comum, com os mais fracos e com o diálogo construtivo (cf. FT 176-179).

Esse é um processo realista, ainda que mais lento do que gostaríamos, que implica em (1) formar novas lideranças políticas; (2) acompanhar – com vigilância e apoio efetivo – tanto essas novas lideranças quanto as já estabelecidas, para que não se corrompam; (3) manter um diálogo aberto e atento, para evitar que fantasias ideológicas separem políticos bem intencionados e que poderiam trabalhar juntos. Não se trata de um idealismo ingênuo, mas da sabedoria que os cristãos adquiriram ao longo de sua caminhada histórica…

Aleteia

Papa sobre a confissão: receber amor divino, passando da miséria à misericórdia

Santuário Eucarístico de Sete Lagoas

Francisco, no vídeo de intenção de oração para o mês de março, aprofunda sobre o sacramento da Reconciliação procurando destacar a alegria que a confissão traz, através de um encontro de amor e misericórdia. O Pontífice também pede orações “para que Deus dê à sua Igreja padres misericordiosos e não torturadores”, insistindo por atitudes de ternura e compaixão de “bons sacerdotes confessores”, prontos a ouvir e dizer que Deus é bom, não se cansa e perdoa sempre.

Andressa Collet – Vatican News

“Quando vou me confessar é para me curar, para curar a minha alma. Para sair com mais saúde espiritual. Para passar da miséria à misericórdia. E o centro da confissão não são os pecados que dizemos, mas o amor divino que recebemos e que sempre precisamos. O centro da confissão é Jesus que nos espera, nos escuta e nos perdoa.”

Essa é a mensagem cheia de esperança que o Pontífice compartilhou no Vídeo do Papa do mês de março, ao divulgar a intenção de oração confiada à Igreja Católica. Francisco nos convida a redescobrir a força de renovação pessoal que o sacramento da confissão tem em nossas vidas, partindo do próprio exemplo, já que as imagens do vídeo mostram o próprio Pontífice indo se confessar "para me curar, para curar minha alma", afirma ele.

"Jesus nos espera, nos ouve e nos perdoa"

“No coração de Deus, nós estamos antes dos nossos erros”, diz ainda o Papa, destacando mais uma vez a força que o amor de Deus tem em nosso ser e ações. Receber esse sacramento não significa estar diante de um juiz, mas ir a um encontro de amor diante de um Pai que nos recebe e sempre perdoa. “O centro da confissão não são os pecados que contamos, mas o amor divino que recebemos e de que sempre precisamos”, afirma Francisco. E esse amor vem antes de tudo, antes dos erros, das regras, dos julgamentos e das quedas.

Sacerdotes misericordiosos, como Jesus

O Pe. Frédéric Fornos, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, recordou as últimas palavras do vídeo do Pontífice, quando pede para que "rezemos para que Deus dê à sua Igreja padres misericordiosos, e não torturadores". E o diretor acrescentou: “não é a primeira vez que o Papa pede essa graça. Como o bom pastor, conhece o sofrimento do povo, seus pecados, sua necessidade de encontrar ‘ministros de misericórdia’. É o tempo da misericórdia. Na sua carta apostólica Misericordia et misera, na conclusão do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Papa convidou os sacerdotes a serem como Jesus, cheios de compaixão e pacientes. É um caminho de conversão para cada sacerdote, ‘para ser testemunha da ternura paterna’, ‘prudente no discernimento’ e ‘generoso para conceder o perdão de Deus’. Ele pede que o nosso coração esteja perto do Coração de Jesus, e isso é uma graça”.

Francisco, inclusive no Angelus de 14 de fevereiro deste ano, dirigiu um pensamento aos “bons sacerdotes confessores” e agradeceu pela atitude de ternura e compaixão daqueles “que não andam com o chicote na mão, mas estão prontos para receber, ouvir e dizer que Deus é bom”, não se cansa e perdoa sempre. O Papa chegou a pedir uma salva de palmas aos peregrinos na Praça São Pedro dirigida a esses confessores misericordiosos. E, no vídeo de intenção de oração para março, Francisco finalizou:

“Lembrem-se disto: no coração de Deus, nós estamos antes dos nossos erros. Rezemos para que vivamos o sacramento da reconciliação com uma profundidade renovada, para saborear o perdão e a infinita misericórdia de Deus. E rezemos para que Deus dê à sua Igreja padres misericordiosos e não torturadores.”

Vatican News

Papa: Deus é o fundamento de nossa alegria, não uma teoria sobre como ser feliz

Papa Francisco no Vaticano. Foto: Vatican Media

Vaticano, 14 mar. 21 / 09:11 am (ACI).- O Papa Francisco celebrou uma Missa no Vaticano neste dia 14 de março, Quarto Domingo da Quaresma, na qual explicou que “Deus é o fundamento da nossa alegria, não é uma bela teoria sobre como ser feliz”.

Eucaristia foi celebrada por ocasião dos 500 anos da evangelização das Filipinas, no altar da cátedra da Basílica de São Pedro.

A procissão de entrada da cerimônia eucarística foi presidida por um grupo de fiéis filipinos em trajes tradicionais, entre eles uma mulher carregando uma pequena estátua do “Santo Niño de Cebu”, enquanto um homem carregava uma reprodução da Cruz de Magalhães que recorda a que os evangelizadores levaram para as Filipinas em 21 de abril de 1521.

Participou da Missa um coro filipino que cantou canções tradicionais em inglês e tagalo. Concelebraram com o Pontífice, o Vigário do Papa para a Diocese de Roma, Cardeal Angelo De Donatis, e o Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos e ex-Arcebispo de Manila (Filipinas), Cardeal Luis Antonio Tagle.

Durante a homilia, o Papa destacou que “500 anos se passaram desde que o anúncio cristão chegou às Filipinas pela primeira vez. Receberam a alegria do Evangelho: que Deus nos amou tanto que deu seu Filho por nós”. E acrescentou que“ esta alegria se vê em seu povo, se vê em seus olhos, em seus rostos, em suas canções e em suas orações. A alegria com a qual vocês levam sua fé em outras terras”.

“Muitas vezes tenho dito que aqui em Roma as mulheres filipinas são 'contrabandistas' da fé, porque onde vão trabalhar, trabalham, mas semeiam a fé, esta é uma 'doença' geracional, mas 'doença abençoada', conservem-na . Levar a fé, aquele anúncio que receberam há 500 anos e levam agora”, improvisou o Papa.

Nesta linha, o Santo Padre agradeceu-lhes “pela alegria que trazem ao mundo inteiro e às comunidades cristãs. Penso em muitas experiências lindas nas famílias romanas, mas assim é em todo o mundo, onde sua presença discreta e trabalhadora também pode se tornar um testemunho de fé. No estilo de Maria e José: Deus ama trazer a alegria da fé com um serviço humilde e escondido, corajoso e perseverante”.

Ao refletir sobre a frase do Evangelho de São João, "Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho unigênito", o Pontífice sublinhou que se trata do "coração do Evangelho, aqui está o fundamento da nossa alegria" e acrescentou que "o conteúdo do Evangelho, de fato, não é uma ideia nem uma doutrina, o conteúdo do Evangelho é Jesus, o Filho que o Pai nos deu para que tenhamos vida”.

Desta forma, o Papa indicou que “Deus é o fundamento da nossa alegria, não é uma bela teoria sobre como ser feliz, mas para experimentar ser acompanhado e amado no caminho da vida... ‘Ele amou tanto o mundo que deu seu Filho’. Quanto mais se ama, mais se é capaz de dar. Esta é também a chave para compreender a nossa vida”. Em seguida, acrescentou que “é lindo encontrar pessoas que se amam, que se amam e partilham a vida; podemos dizer deles como de Deus: eles se amam tanto que dão a vida. O que conta não é apenas o que podemos produzir ou ganhar, mas acima de tudo o amor que sabemos dar”.

“Esta é a fonte da alegria! Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho... Penso no que vivemos há uma semana no Iraque: um povo golpeado se regozijava de alegria; graças a Deus, a sua misericórdia”, recordou o Papa.

Nesse sentido, o Santo Padre advertiu que “às vezes buscamos a alegria onde ela não está, nas ilusões que se desvanecem, nos sonhos de grandeza de nós mesmos, na aparente segurança das coisas materiais, no culto à nossa imagem, em muitas coisas. Mas a experiência de vida nos ensina que a verdadeira alegria é sentir-se amado gratuitamente, sentir-se acompanhado, ter alguém que compartilha nossos sonhos e que, quando naufragamos, vem nos ajudar e nos levar a um porto seguro”.

“Se escutar o Evangelho e praticar a nossa fé não alarga o nosso coração para nos fazer compreender a grandeza deste amor, e talvez caiamos para uma religiosidade séria, triste, fechada, então é um sinal de que devemos parar e escutar de novo ao anúncio da Boa Nova: Deus te ama tanto que te dá toda sua vida”, afirmou.

Por isso, o Santo Padre explicou que “não é um deus que nos olha com indiferença do alto, mas um Pai, um Pai amoroso que se envolve na nossa história; não é um deus que tem prazer na morte do pecador, mas um Pai que se preocupa que ninguém se perca; não é um deus que condena, mas um Pai que nos salva com o abraço de seu amor que abençoa”.

Por fim, o Papa convidou “a não parar com a obra de evangelização - que não é proselitismo. O anúncio cristão que recebestes deve ser sempre levado aos demais; o Evangelho da proximidade de Deus pede para ser expresso no amor pelos irmãos; o desejo de Deus de que ninguém se perca pede à Igreja para cuidar daqueles que estão feridos e vivem marginalizados. Se Deus ama tanto que Ele mesmo se doa, também a Igreja tem esta missão: ela não é enviada para julgar, mas para acolher; não para impor, mas para semear; não para condenar, mas para levar Cristo que é salvação”, disse o Papa.

“Nunca desanimem ao percorrer este caminho. Não tenham medo de anunciar o Evangelho, de servir e de amar. E com a sua alegria poderão fazer com que a Igreja diga também: ‘Amou tanto o mundo!’. Uma Igreja que ama o mundo sem julgá-lo e que se entrega pelo mundo é bela e atraente. Queridos irmãos e irmãs, desejo que assim seja, nas Filipinas e em todas as partes do mundo”, concluiu o Papa.

Antes do final da Missa, o Cardeal Tagle proferiu um comovente discurso de agradecimento em nome dos migrantes filipinos em Roma, no qual destacou que, “quando chegam os momentos de solidão, os migrantes filipinos encontram força em Jesus que viaja conosco, Jesus que se fez menino (Santo Niño) e se deu a conhecer como o Nazareno (Jesus Nazareno), carregou a Cruz por nós. Temos a certeza do abraço de nossa Mãe Maria e da proteção dos santos”.

“Quando sentimos falta de nossas famílias, recorremos à paróquia, nossa segunda casa. Quando não há com quem conversar, abrimos nosso coração a Jesus Santíssimo e meditamos sua Palavra. Cuidamos das crianças que nos foram confiadas como se fossem nossas crianças e dos idosos como se fossem nossos pais. Cantamos, sorrimos, rimos, choramos e comemos”, disse o Purpurado enquanto o Papa o ouvia com muita atenção.

Ao finalizar a Missa, o Santo Padre recebeu de presente um quadro e foi rezar diante da imagem mariana junto com duas crianças vestidas com trajes coloridos que entregaram flores à Virgem enquanto o coro e os participantes entoavam a canção “Maria, Rainha das Filipinas".

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Natalia Zimbrão.

ACI Digital

São Clemente Maria Hofbauer

S. Clemente Maria Hofbauer | ArqSP
15 de março

São Clemente Maria Hofbauer

Batizado com o nome de João, ele nasceu num pequeno povoado da Morávia, República Tcheca, em 26 de dezembro de 1751. De família muito cristã e pobre, não pode se dedicar aos estudos até a adolescência. Seus pais Paulo Hofbauer e Maria Steer tiveram doze filhos e ele tinha apenas sete anos, quando ficou órfão de pai. Consta de suas anotações que, nesse dia, sua mãe lhe mostrou um crucifixo e lhe disse: "A partir de hoje, este é o teu Pai". João entendeu bem a orientação, decidindo, a partir de então, que se tornaria padre e missionário.

Mas as condições em que vivia a família dificultaram a realização de seu sonho. Aos quinze anos de idade, foi morar na cidade de Znaim, onde aprendeu o ofício de padeiro. Três anos depois conseguiu o emprego que mudou sua vida: padeiro do convento em Bruk, dos premonstratenses. A vocação do jovem foi notada pelo abade, que o deixou estudar, inclusive latim. Quando seu benfeitor morreu, João foi viver como eremita, primeiro na Áustria e depois, com a permissão do bispo de Tívoli, próximo à capela de Quintilio. Aí foi onde mudou o nome para o de Clemente Maria, recebendo o hábito do bispo, que mais tarde se tornaria o Papa Pio VII. Certa vez, em outra viagem a Roma, entrou por acaso numa igreja de redentoristas. Foi o primeiro contato que teve com essa Ordem. Depois de assistir à missa, pediu uma entrevista com o superior e, impressionado com as Regras e a atuação da Congregação, pediu para ingressar nela e foi admitido.

Um ano depois, tornou-se sacerdote redentorista. Seu sonho estava realizado, mas seu trabalho, apenas começando. Fixou residência em Varsóvia, onde fundou casas e recebeu dezenas de noviços. Reformou a igreja de São Benon, que estava caindo aos pedaços e a pequena casa da igreja tornou-se um grande e espaçoso convento. Durante vinte anos, padre Clemente atuou nessa paróquia, convertendo pagãos e atraindo multidões. Tanto que eram necessários vinte e cinco padres para atender aos fiéis, celebrando diariamente duas missas em alemão e duas em polonês. Com a expansão do trabalho, pôde fundar mais três conventos e ativar as paróquias em volta da sua. Como capelão do convento e da igreja das Ursulinas, teve uma influência extraordinária na cidade inteira e até além da mesma. Fundou também um asilo para abrigar as crianças vítimas das sucessivas guerras da região, uma escola para crianças pobres e outra, de ensino superior, para meninos. Esta atividade ele a continuou até 1808, quando Napoleão Bonaparte fechou a igreja e dispersou a comunidade. Enfrentou com serenidade, com outros redentoristas, a perseguição na Polônia, o fechamento da casa da Ordem e até a prisão.

Clemente não desistiu. Foi realizar missões na Alemanha, Suíça e na Áustria, onde fez o clero retomar os conceitos cristãos esquecidos. Principalmente, aconselhou e encorajou alguns líderes do novo movimento romântico e outros que trabalhavam para a renovação católica nos países de idioma alemão. A intensa atividade dele chamou a atenção da polícia.
Mas, só a morte poderia impedir Clemente Maria de atuar, que se deu em Viena, no dia 15 de março de 1820, cuja população consternada assumiu o luto como o de um parente.

Foi beatificado em1888, e canonizado pelo Papa Pio X, em 1909. Cinco anos depois o mesmo pontífice proclamou São Clemente Maria Hofbauer, o padroeiro de Viena e, também, dos padeiros, numa singela lembrança da profissão exercida na sua adolescência. É venerado como o principal propagador da Congregação Redentorista, fora da Itália.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF