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domingo, 4 de abril de 2021

TEOLOGIA: O Espírito Santo e a Realidade da Ressurreição

Henryk Paprocki
(1946)

«O Espírito Santo e a Realidade da Ressurreição»

(Capítulo do Livro: "A Promessa do Pai" a experiência do Espírito Santo na Igreja Ortodoxa -
Páginas 61 a 67 - Edições Paulinas - São Paulo, 1993).

Henryk Patrocki nascido em Kolo (Polônia), em 1946 é Sacerdote ortodoxo. Depois de Estudos na Universidade Católica de Lublin e no Instituro São Sérgio de Paris, atualmente é professor no Seminário Ortodoxo de Teologia de Varsóvia (Polônia).

La crise geral da consciência pascal e escatológica, talvez só a Igreja ortodoxa tenha conservado até hoje na celebração da ressurreição todos os elementos que os primeiros cristãos compreendiam nesse mistério central de Cristo. "Festa das festas", proclama um dos hinos do cânone das matinas da Páscoa, obra de são João Damasceno. A festa central de Cristo, o "mistério de Cristo", como o define Odon Case contém toda a oikonomia, sendo, portanto, a festa por excelência[1],. Parece que a ortodoxia conservou a idéia da Páscoa precisamente graças à teologia do Espírito Santo.

Mas essa mesma teologia ou, melhor, a experiência constantemente renovada da presença do Espírito Santo impediu a ortodoxia de fechar-se no liturgismo. Quando a liturgia pascal chegava ao termo de sua elaboração na Igreja do Oriente, talvez com o perigo de ritualização excessiva do culto, de ruptura desnecessária entre a experiência da ressurreição de Cristo (mystike anastasis) e a da ressurreição do resto da humanidade (ênfase supérflua na escatologia do futuro projetou num futuro indefinido a idéia da ressurreição geral) - na charneira dos séculos X e XI, um teólogo deu novo impulso à teologia do Espírito Santo e reinterpretou o mistério da ressurreição. Foi são Simeão, que seus contemporâneos chamaram o "Novo Teólogo", tão novas eram as correntes das quais seu ensinamento estava penetrado.[2] São Simeão o Novo Teólogo está profundamente enraizado na tradição da teologia joanina (da Luz), desenvolvida por são Gregório o Teólogo. Notemos que é a essa teologia que se refere são Serafim de Sarov.

São Simeão o Novo Teólogo dizia que:

"Começamos a nos tornar participantes da ressurreição aqui e agora, no decorrer da vida presente. A ressurreição de todos realiza-se pelo Espírito Santo. [...] Não falo da ressurreição final dos corpos - mas da que se verifica cada dia, nas almas, regeneração e ressurreição espiritual, que nos dá Aquele que morreu e ressuscitou e que, através de todos e para todos os que tiverem vivido dignamente, ressuscita e faz ressuscitar consigo as almas, consigo pela vontade e pela fé, e isso por seu Espírito muito Santo, concedendo-lhes desde já o dom do reino dos céus. [...] Nesta vida podemos, devemos até, ver o Cristo, porque, se somos dignos de contemplá-lo aqui em pensamentos, não morreremos. [...] Assim, pois, não esperemos contemplá-lo no futuro, mas esforcemo-nos para vê-lo desde o presente”.[3]

Apressando assim a escatologia (podemos dizer que são Simeão o Novo Teólogo foi precursor da idéia da "escatologia realizada"), ele não fazia diferença entre o futuro e o presente, nem entre o presente e o passado, assegurando que o Espírito Santo está presente do mesmo modo em cada momento da história da Igreja, como estava presente nos tempos apostólicos.

São Simeão julgava essa experiência espiritual totalmente normal e pensava que "em cada geração, podemos e devemos ser movidos pelo Espírito divino e sentir sua presença de maneira perceptível à consciência[...], como os apóstolos sentiam Cristo". [4]

Olivier Clément descreve assim a doutrina de são Simeão o Novo Teólogo: a experiência de um são João ou de um são Paulo é possível a quem recebe agora o selo do Espírito Santo. A vida eterna começa nesta vida: “não ter consciência disso é comprazer-se na condição de cadáver e arriscar-se a ficar prisioneiro dela para sempre”.[5]

São Simeão o Novo Teólogo sublinha expressamente que os "grandes mistérios de Deus" começam como mistério da encarnação. Em espírito podemos ressuscitar todos os dias. A ressurreição das almas é, ao mesmo tempo, espiritualização e divinização, e tornamo-nos indestrutíveis, inteiros na graça. A ressurreição de Cristo se manifesta no sacramento da eucaristia, que é ato do Espírito Santo. Como o sublinha a XIII Catequese de são Simeão, o hino para depois da comunhão proclama: "Tendo contemplado a ressurreição de Cristo, prostremo-nos diante do Santo Senhor Jesus, o único sem pecado", e não: "Tendo crido na ressurreição[6]". Podemos contemplar essa ressurreição no Espírito Santo, como participantes dos sofrimentos de Cristo.

O julgamento é pronunciado sem cessar, mas será visível somente na segunda vinda de Cristo. Simeão o Novo Teólogo estigmatiza os que rejeitam a ressurreição final. Estas três divinizações são a sorte de cada um de nós: durante a vida, após a morte e no julgamento. Isso sublinha a universalidade da ressurreição de Cristo e da transfiguração cósmica. A graça da ressurreição é igualmente final, última [7]. Por isso também santo Isaac, o Sírio, considera cada pecado como "um punhado de areia atirado num mar imenso" e que o único pecado verdadeiro é o de não dar importância ao fato da ressurreição, que, por Cristo, se tomou nossa - porque, após a ressurreição, o que é ainda a geena? [8]

A visão da luz, da qual são Simeão, o Novo Teólogo, falou tanto, é sinônimo de divinização e de ressurreição:

Paredes me cercam,
e meu corpo me retém,
Mas sem nenhuma dúvida
estou verdadeiramente fora delas;
Não escuto os sons
nem distingo as vozes,
Não tenho medo da morte,
eu a venci.
Não conheço a tristeza,
embora todos me contristem.
Os prazeres me são amargos,
todas as tentações fogem de mim.
E de dia e de noite,
sem cessar, vejo a luz;
O dia para mim é noite, e a noite é dia.
E não quero dormir,
porque para mim isso é castigo... [9]

Desde esta terra, as relíquias incorruptíveis dos ascetas podem ser interpretadas como sinal da vitória sobre a morte, como o Espírito que se descobre na natureza corporal. [10]

O Espírito Santo é o autor de nossa ressurreição como o é da ressurreição de Cristo (1Pd 3,18). No mesmo raciocínio, são Simeão, o Novo Teólogo, chama o Espírito Santo de "clâmide de nosso grande Deus e Senhor" (trata-se do manto de púrpura real do qual Cristo foi revestido antes de sua paixão - cf. Mt 27,31; Ex 39,2-30; 28,5), o que corresponde ao texto da antiga liturgia de são Clemente, na qual o Espírito Santo é chamado "testemunha dos sofrimentos do Senhor Jesus".[11] As palavras enigmáticas de Cristo: "Hoje estarás comigo no paraíso", em resposta ao pedido do ladrão: "Jesus, lembra-te de mim, quando vieres em teu reino" (Lc 23,42) - isto é, no Espírito Santo -, permitem compreender logo o nexo entre o reino, o Espírito Santo e o paraíso. Comparemos essas palavras de Cristo com a descrição de Gn 2, 8-14: juntas elas permitem esclarecer a questão do paraíso dos antigos como o estado dos que "têm o Espírito Santo." [12]

Canta o Akathistos em honra de são Serafim: [13]

Alegra-te, tu,
que submeteste os animais selvagens,
tomando-os mansos por tua humildade.

As palavras de Cristo: "Hoje estarás comigo no paraíso", também permitem compreender melhor a idéia da ressurreição.

Parece que a realização da ressurreição se dará, antes de tudo, pela liturgia. É precisamente na liturgia, e em particular nos sacramentos, como veremos adiante, que "a alma se alimenta do Espírito Santo", que é o reino e a nossa ressurreição.

O Espírito Santo penetra o ser humano igualmente pelo outro lado (na morte) como penhor da ressurreição universal ("no dia da cólera de Iahweh, pelo fogo de seu zelo toda a terra será devorada", Sf 1,18). Todavia o ensinamento de são Paulo (Ef 1,10: "Em Cristo renovar todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra"; 1Cor 15,28: "para que Deus seja tudo em todos"; 1Cor 15,22: "assim como todos morrem em Adão, em Cristo todos receberão a vida"; Rm 11,32: "Deus encerrou todos na desobediência para, a todos, fazer misericórdia"), de são Gregório de Nissa [14] e de santo Ireneu, proclamando que Cristo unirá tudo em sua parusia, proclamando a esperança da salvação universal, não foi condenado. Como será isso realizado é um mistério, mas Orígenes, pondo o acento na misericórdia divina, fundamenta a salvação de todos os homens e o desaparecimento final do mal.[15]

A escola Alexandrina e são Gregório de Nissa afirmam que sem a universalidade da salvação (apokatastasis ton panton) não haveria vitória total de Deus sobre o mal.[16] Gregório de Nissa considerava a possibilidade até de renascimento depois da ressurreição de todos,[17] e a possibilidade da salvação de Satã, [18] mas isso como sua opinião pessoal.[19] São Máximo o Confessor mantinha-se numa posição mais prudente.[20] O último combate contra o mal se trava à luz da ressurreição; sobre isso pode ser instrutivo o fim da Lenda do Anticristo de Vladimir Soloviov.[21] É por isso também que a Igreja ora por todos os mortos, sem exceção, nas vésperas de Pentecostes, a fim de que Cristo, que vem "en atomo, en ripe ophthalmou" (1Cor 15,52), torne-os participantes de sua glória, porque tem o poder "de enviar aos infernos e de libertar de lá".

FONTE:

[1] O Casel, La fête de Pâsques dans l'Église des Pères, cit., pp. 93-94.

[2] Cf. V. Krivosein, "Neistovyj revnitel" ("Zelotes manikotatos"), in MEPR 1/1957, n. 25, pp. 38-40. V. N. Il'in, Prepodobnyj Serafim Sarovskij, cit., p. 140. Simeão o Novo Teólogo, Catequeses, SC 104, Paris, 1964, pp. 45-47, 193.

[3] V. Krivosein, op. cit., pp. 37-38; cf. J. Klinger, Geneza sporu e opikleze (A gênese da controvérsia sobre a epiclese. Aspecto escatológico e memorial da eucaristia no cânone dos primeiros séculos), Varsóvia, 1969, pp. 23-24.

[4] Capítulos teológicos, gnósticos e práticos, p. 66. Segundo O. Clément, L 'essor du christianisme oriental, cit., p. 31.

[5] O. Clément, op. cit., p. 31.

[6] SC 104, pp. 197-201; cf. B. Bobrinskoy, "Quelques réflexions sur la pneumatologia du culte", in EL 90/1976, nn. 5-6, pp. 383-384.

[7] Recentemente duas obras foram consagradas à teologia de são Simeão: W. Voelker, Praxis und Theoria bei Symeon den Neuen Theologen. Ein Beitrag zur Byzantinischen Mystik, Wiesbaden, 1974, e G.-A. Maloney, The mystic offire and light. Saint Symeon the New Theologian, Denville, Nova Jersey, 1975.

[8] Sentenças, Paris, 1949, pp. 28, 30.

[9] Hino XVIII: "Ensinamento misturado com teologia sobre as operações do amor, que não é senão a luz do Espírito Santo" (São Simeão o Novo Teólogo, Hinos, II, SC 174, Paris, 1971, pp. 83-85). As catequeses 1,5, 10 e 13 de são Simeão tratam especialmente da ressurreição.

[10] P. Florensky, La colonne et le fondement de la Vérite, cit., p. 79 (em russo, p. 112). As cartas de N. F. Fiodorov podem ser instrutivas aqui (Philosophie de La cause commune, Vernyj, 1906: I, Moscou, 1913; II, 2a ed., Westmead, 1970; 3a ed., Lausânia, 1988).

[11] "Clâmide"; cf. são Simeão o Novo Teólogo, Hinos, I (SC 156), Paris, 1969, pp. 150-151. Eis o texto da liturgia dita de são Clemente (chamada também "liturgia das Constituições apostólicas): "Nós te pedimos, Senhor, envia sobre este sacrifício teu Espírito Santo, testemunha dos sofrimentos do Senhor Jesus..." Cf. J. M. Neale e R. F. Littledale, The liturgies of SS. Mark, James, Clement, Chrysostom and Basil, and the Churches of Malabar, translated with introduction and appendices by..., 7a ed., Londres, s/d, p. 85; VIII livro: SC 326, p. 199; A Hamman, Prieres eucharistiques, ("Foi vivante" 113), Paris, 1969, p. 74; A. Hamman, Prieres des premiers chrétiens, 22ª ed., Paris, 1959, p. 168, com alusão a Hb 9,14: "...O sangue de Cristo, que, por um Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha...".

[12] Cf. o diálogo de são Serafim com Motovilov, especialmente a partir do momento da transfiguração. - Assinalemos que Luís Cláudio São Martinho (+ 1803) ensinava que antes da queda o tempo não existia. Considerava o tempo como resultado do pecado original, como o companheiro do nascimento e da morte. O tempo é também a fonte de nossa ressurreição (segundo V. N. Il'in, op. cit., pp. 139-140).

[13] Ikos 12, segundo V. N. Il'in, op. cit., p. 105.

[14] Contrariamente a uma opinião muito difundida, os pontos de vista de Orígenes, em particular no De Principiis I, 6 (PG 11, 165-169; SC 252, pp. 194-207) e III, 6 (PG 11, 331-332; SC 268, pp. 228-234) e no Contra Celsum (PG 11. 1641-1642; SC 132, 136, 147, 150, 227), e de são Gregório de Nissa (canonizado antes do III concílio ecumênico de 431 e chamado "Pai dos Padres" no VII concílio) não influenciaram o desenvolvimento da noção de apocatástase. Veja P. Evdokimov, L'amour fou de Dieu, Paris. 1973, pp. 101-103.

[15] Cf. G. Maloney, The cosmic Christ. Nova Iorque, 1968, pp. 124-125 (trad. pol.: Varsóvia, 1972. pp. 116-117). Não sabemos como isso sucederá, mas (Mc 9,49) "todos serão salgados com fogo".

[16] In illud, quando sibi subiecerit omnia, PG 44, 1316.

[17] De anima et resurrectione dialogus, PG 46. 157.

[18] Oratio catechetica magna, PG 45, 168; In Christi Ressurrectionem oratio 61, PG 46,612.

[19] In illud, quando sibi subiecerit omnia, PG 44, 1325.

[20] Capita ducenta, PG 90, 1172.

[21] Edição de Pierre Pascal, Braine-le-Comte (Bélgica), 1976, p. 235; cf. W. Hryniewicz, "Apokatastaza II: W. teologii", Encyklopedia Katolicka, Lublin, 1973, I. pp. 756-758, e especialmente Id., "L'espérance du salut universal. Réflexions sur la tradition orientale", in Wiez 21/1978, n. 237, pp. 27-44. obra que engloba com precisão todos os aspectos da concepção ortodoxa da apocatástase. A. Dapinski adota o ponto de vista oposto, resultante de juízo errôneo sobre ã condenação de Orígenes pelos concílios ecumênicos: "La doctrine de l'apocatastase avant as condamnation par les conciles oecuméniques", in WPAKP 7/1977. nn. 3-4. Ver também G. Sérikoff, "La doctrine de l'apocatastase chez le Pére des Péres et chez l'archiprête Serge Boulgakov", in Le Messager, 38/1971, nn. 101-102. p. 27; o sentido dado ao termo "eterno" na Bíblia e sua concepção do tempo têm aqui papel essencial.

ECCLESIA Brasil

Dom Paulo: Estamos celebrando a páscoa

Dom Paulo Cezar Costa
Arcebispo de Brasília

Dom Paulo Cezar, arcebispo de Brasília, nos traz uma mensagem especial de páscoa ao qual nos relembra de que não estamos sozinhos.


“Estamos celebrando a páscoa! Páscoa é passagem, Páscoa é ressurreição, Páscoa é Cristo que ressuscitou, que passou da morte a vida.”

Celebramos na Sexta-feira Santa, a sua morte, destaca o arcebispo. Hoje nós olhamos para o sepulcro, e o sepulcro está vazio. Porque o Senhor não ficou sob o domínio da morte, Ele está ressuscitado. Ele está vivo. Ele apareceu para as mulheres, apareceu para os discípulos, apareceu para tantas pessoas, tantos o viram, o encontraram ressuscito.

“O sepulcro está vazio”, enfatiza Dom Paulo. “Este é o grande anúncio desse primeiro dia da semana, amados e amadas de Deus. A vida venceu a morte. O Senhor está ressuscitado, o Senhor está vivo. Por que Ele está ressuscitado, está vivo, é certeza para nós que agora a história é de vida, é história de ressurreição, é história de vida nova.”

Então, continua o arcebispo, “nós podemos esperar, porque a vida disse a última palavra sobre a morte.”

https://youtu.be/LEMBawVH1tM

Dom Paulo finaliza: “que a ressurreição de Cristo nos dê essa certeza. Nos dê a certeza de que o ressuscitado esta vivo e caminha conosco, de que o ressuscitado nos assiste a cada momento da história, que o ressuscitado é uma presença na nossa vida e na história desse momento difícil de COVID-19 em que estamos vivendo. A certeza de que a palavra final da nossa vida, não será a morte, mas a ressurreição com Cristo, a vida nova com Cristo.”

Feliz Páscoa, para você e a sua família.

Arquidiocese de Brasília

Por que os católicos gostam de acender velas?

Fred de Noyelle / Godong

Seria algum tipo de superstição?

Talvez nenhum outro objeto represente melhor um “católico” que as velas votivas, especialmente se elas são colocadas diante de imagens ou estátuas em uma igreja. Quando um filme ou programa de televisão quer que o público reconheça que um personagem é católico, um confessionário ou um rack de velas votivas certamente irá aparecer.

A confissão, é claro, é um sacramento, mas e essas velas? Eles são uma prática supersticiosa?

Na verdade, elas são exatamente o contrário.

 “Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida” (João 8:12).

Na Vigília de Páscoa, o diácono ou sacerdote entra na igreja escurecida com a única vela, dizendo: “Cristo, nossa Luz”. E a congregação responde: “Graças a Deus”. Isso lembra como Jesus entrou em nosso mundo de pecado e da morte para nos levar até a luz de Deus.

Primeiros cristãos

Além de serem usadas para iluminar os lugares onde os primeiros cristãos celebravam a Missa, as velas também iluminavam os túmulos dos mártires. O padre William Saunders explica que “há evidências de que velas ou lamparinas foram acesas nos túmulos dos santos, em particular dos mártires, nos anos 200 e diante de imagens sagradas e relíquias até os anos 300”.

Neste contexto, a “luz significa a nossa oração oferecida pela fé que vem da luz de Deus. Com a luz da fé, pedimos a nosso Senhor em oração ou solicitamos aos santos que intercedam por nós junto a Deus”. A palavra “vigília” vem do latim e refere-se a “vigiar”. A vela da vigília é acesa e permanece assim por um período de tempo, simbolizando  que desejamos “permanecer presentes no Senhor em oração, mesmo que possamos deixá-lo por algum momento para nos dedicarmos aos negócios cotidianos”. A vela acesa também lembra ao indivíduo que os santos estão constantemente orando por seus pedidos.

Outra palavra que devemos destacar (e que se refere à vela) é “votiva”, que vem do latim votum (promessa, dedicação ou simplesmente oração). Essa palavra reforça a ideia de que as velas representam nossas orações diante de Deus.

Enfim, nossas orações, muitas vezes, precisam ser expressas de forma física e tangível. Isso ajuda a nossa alma a descansar e é uma maneira de aprofundar nossa espiritualidade. Semelhante ao incenso, a luz das velas é um lembrete físico que aponta nossas almas para Deus. Nós não acendemos velas porque acreditamos que, com isso, nossas orações serão certamente atendidas por Deus, mas porque precisamos de algo visual para conectar nosso corpo e nossa alma.

Aleteia

Mensagem Urbi et Orbi 2021 do Papa Francisco no Domingo da Ressurreição

Papa Francisco durante a bênção Urbi et Orbi /
Foto: Captura Vatican Media

Vaticano, 04 abr. 21 / 08:04 am (ACI).- O Papa Francisco se dirigiu aos fiéis da cidade de Roma e do mundo com a mensagem pascal antes da Bênção Urbi et Orbi que neste Domingo de Páscoa, 4 de abril, compartilhou a partir do altar da cátedra da Basílica de São Pedro.

Em sua mensagem, o Santo Padre advertiu que, “no mundo, há ainda demasiadas guerras, demasiada violência”, por isso, rezou para que “o Senhor, que é a nossa paz, nos ajude a vencer a mentalidade da guerra” e que conceda aos que são prisioneiros nos conflitos “a graça de retornarem sãos e salvos às suas famílias”, bem como “inspire os governantes de todo o mundo a travarem a corrida a novos armamentos”.

“No meio das múltiplas dificuldades que estamos a atravessar, nunca esqueçamos que fomos curados pelas chagas de Cristo. À luz do Ressuscitado, os nossos sofrimentos são transfigurados. Onde havia morte, agora há vida; onde havia luto, agora há consolação. Ao abraçar a Cruz, Jesus deu sentido aos nossos sofrimentos. E, agora, rezemos para que os efeitos benéficos daquela cura se espalhem por todo o mundo. Feliz Páscoa para todos”, disse o Papa.

A seguir, a mensagem pascal pronunciada pelo Papa Francisco:

Queridos irmãos e irmãs, feliz Páscoa!

Hoje ressoa, em todas as partes do mundo, o anúncio da Igreja: «Jesus, o crucificado, ressuscitou, como tinha dito. Aleluia».

O anúncio de Páscoa não oferece uma miragem, não revela uma fórmula mágica, não indica uma via de fuga face à difícil situação que estamos a atravessar. A pandemia está ainda em pleno desenvolvimento; a crise social e econômica é muito pesada, especialmente para os mais pobres; apesar disso – e é escandaloso –, não cessam os conflitos armados e reforçam-se os arsenais militares.

Perante, ou melhor, no meio desta complexa realidade, o anúncio de Páscoa encerra em poucas palavras um acontecimento que dá a esperança que não decepciona: «Jesus, o crucificado, ressuscitou». Não nos fala de anjos nem de fantasmas, mas de um homem, um homem de carne e osso, com um rosto e um nome: Jesus. O Evangelho atesta que este Jesus, crucificado sob Pôncio Pilatos por ter dito que era o Cristo, o Filho de Deus, ao terceiro dia ressuscitou, conforme as Escrituras e como Ele próprio predissera aos seus discípulos.

O próprio Crucificado, não outra pessoa, ressuscitou. Deus Pai ressuscitou o seu Filho Jesus, porque cumpriu até ao fim o seu desígnio de salvação: tomou sobre Si a nossa fraqueza, as nossas enfermidades, a nossa própria morte; sofreu as nossas dores, carregou o peso das nossas iniquidades. Por isso Deus Pai O exaltou, e agora Jesus Cristo vive para sempre, é o Senhor.

E as testemunhas referem um detalhe importante: Jesus ressuscitado traz impressas as chagas das mãos, dos pés e do peito. Estas chagas são a chancela perene do seu amor por nós. Quem sofre uma provação dura, no corpo e no espírito, pode encontrar refúgio nestas chagas, receber através delas a graça da esperança que não decepciona.

Cristo ressuscitado é esperança para quantos ainda sofrem devido à pandemia, para os doentes e para quem perdeu um ente querido. Que o Senhor lhes dê conforto, e apoie médicos e enfermeiros nas suas fadigas! Todos, sobretudo as pessoas mais frágeis, precisam de assistência e têm direito a usufruir dos cuidados necessários. Isto é ainda mais evidente neste tempo em que todos somos chamados a combater a pandemia, e um instrumento essencial nesta luta são as vacinas. Por isso, no espírito de um «internacionalismo das vacinas», exorto toda a comunidade internacional a um empenho compartilhado para superar os atrasos na distribuição delas e facilitar a sua partilha, especialmente com os países mais pobres.

O Crucificado Ressuscitado é conforto para quantos perderam o trabalho ou atravessam graves dificuldades económicas e carecem de adequada proteção social. O Senhor inspire a ação das autoridades públicas para que a todos, especialmente às famílias mais necessitadas, sejam oferecidas as ajudas necessárias para um condigno sustento. Infelizmente a pandemia elevou de maneira dramática o número dos pobres, fazendo cair no desespero milhares de pessoas.

«É necessário que os pobres de todo o gênero reaprendam a esperar», disse São João Paulo II na sua viagem ao Haiti. E é precisamente para o querido povo haitiano que, neste dia, vai o meu pensamento e encorajamento a fim de não se deixar vencer pelas dificuldades, mas olhar para o futuro com confiança e esperança. E eu diria que vai especialmente meu pensamento, irmãos e irmãs do Haiti, estou próximo de vocês e gostaria que os problemas se resolvessem definitivamente para vocês, rezo por isso, queridos irmãos e irmãs haitianos.

Jesus ressuscitado é esperança também para tantos jovens que foram forçados a transcorrer longos períodos sem ir à escola ou à universidade e sem partilhar o tempo com os amigos. Todos precisamos de viver relações humanas reais e não apenas virtuais, sobretudo na idade em que se formam o caráter e a personalidade. Ouvimos na Sexta-feira passada na Via-Sacra das crianças.

Estou unido aos jovens de todo o mundo e, neste momento, especialmente aos da Birmânia que se empenham pela democracia, fazendo ouvir pacificamente a sua voz, cientes de que o ódio só pode ser dissipado pelo amor.

Que a luz do Ressuscitado seja fonte de renascimento para os migrantes que fogem da guerra e da miséria. Nos seus rostos, reconhecemos o rosto desfigurado e sofredor do Senhor que sobe ao Calvário. Oxalá não lhes faltem sinais concretos de solidariedade e fraternidade humana, penhor da vitória da vida sobre a morte que celebramos neste dia. Agradeço aos países que acolhem com generosidade os atribulados à procura de refúgio, especialmente o Líbano e a Jordânia, que alojam muitos refugiados em fuga do conflito sírio.

Possa o povo libanês, que atravessa um período de dificuldades e incertezas, sentir a consolação do Senhor ressuscitado e ter o apoio da comunidade internacional na sua vocação de ser uma terra de encontro, convivência e pluralismo.

Cristo, nossa paz, faça cessar finalmente o fragor das armas na amada e atormentada Síria, onde vivem já em condições desumanas milhões de pessoas, bem como no Iémen, cujas vicissitudes estão rodeadas por um silêncio ensurdecedor e escandaloso, e na Líbia, onde se vislumbra finalmente a via de saída de um decênio de contendas e confrontos sangrentos. Que todas as partes envolvidas se empenhem efetivamente por fazer cessar os conflitos e permitir aos povos exaustos pela guerra que vivam em paz e iniciem a reconstrução dos respectivos países.

A Ressurreição leva-nos, naturalmente, a Jerusalém. Para ela imploramos do Senhor paz e segurança (cf. Sal 122), a fim de que corresponda à sua vocação de ser lugar de encontro onde todos se possam sentir irmãos e onde israelenses e palestinos encontrem a força do diálogo para alcançar uma solução estável, em que convivam lado a lado dois Estados em paz e prosperidade. Neste dia de festa, o meu pensamento volta ainda ao Iraque, que tive a alegria de visitar no mês passado e pelo qual rezo a fim de continuar o caminho de pacificação empreendido e deste modo realizar o sonho de Deus duma família humana hospitaleira e acolhedora para todos os seus filhos.

A força do Ressuscitado sustente as populações africanas que veem o seu futuro comprometido por violências internas e pelo terrorismo internacional, especialmente no Sahel e na Nigéria, bem como na região de Tigré e Cabo Delgado. Continuem os esforços para se encontrar soluções pacíficas para os conflitos, no respeito pelos direitos humanos e a sacralidade da vida, através de um diálogo fraterno e construtivo em espírito de reconciliação e operosa solidariedade.

No mundo, há ainda demasiadas guerras, demasiada violência! O Senhor, que é a nossa paz, nos ajude a vencer a mentalidade da guerra. Conceda a quantos estão prisioneiros nos conflitos, especialmente no leste da Ucrânia e no Nagorno-Karabakh, a graça de retornarem sãos e salvos às suas famílias, e inspire os governantes de todo o mundo a travarem a corrida a novos armamentos. Hoje, 4 de abril, celebra-se o Dia Mundial contra as Minas Antipessoais, munições velhacas e terríveis que, anualmente, matam ou mutilam tantas pessoas inocentes e impedem os seres humanos de «caminhar juntos pelas sendas da vida, sem ter receio das ciladas de destruição e de morte». Como seria melhor um mundo sem estes instrumentos de morte!

Queridos irmãos e irmãs, também este ano, em vários lugares, muitos cristãos celebram a Páscoa no meio de grandes limitações e, às vezes, sem poderem sequer ir às celebrações litúrgicas. Rezemos para que tais limitações, bem como toda a limitação à liberdade de culto e religião no mundo, sejam removidas e cada um possa livremente rezar e louvar a Deus.

No meio das múltiplas dificuldades que estamos a atravessar, nunca esqueçamos que fomos curados pelas chagas de Cristo (cf. 1 Ped 2, 24). À luz do Ressuscitado, os nossos sofrimentos são transfigurados. Onde havia morte, agora há vida; onde havia luto, agora há consolação. Ao abraçar a Cruz, Jesus deu sentido aos nossos sofrimentos. E, agora, rezemos para que os efeitos benéficos daquela cura se espalhem por todo o mundo. Feliz Páscoa para todos!

ACI Digital

S. ISIDORO, BISPO DE SEVILHA E DOUTOR DA IGREJA

S. Isidoro  (© BAV, Urb. lat. 179, f. 2r)

"Deus não fez todas as coisas do nada: algumas foram baseadas em alguma coisa e outras do nada. Deus criou o mundo do nada, como também os anjos e as almas". Pode causar estupor que um Bispo, que viveu entre os séculos VI e VII e escreveu obras em latim, seja proposto como o padroeiro da Internet. Foi o que aconteceu durante o pontificado de São João Paulo II. Embora tenha faltado uma sua proclamação oficial, foi um grande reconhecimento atribuído a um dos mais prolíficos Doutores da Igreja de todos os tempos.

Quando a santidade é "de casa"          

Isidoro nasceu em uma família de proveniente de Cartagena, mas logo se tornou órfão de pai. Cresceu e foi criado por seu irmão mais velho, Leandro - que o precedeu na cátedra de Sevilha - junto com outro irmão e uma irmã, que também se tornaram religiosos e, depois, venerados como Santos pela Igreja. Isto é suficiente para determinar a natureza extraordinária desta família.
Uma lenda conta que, quando o pequeno Isidoro tinha apenas um mês de vida, um enxame de abelhas voou sobre seu berço e depositou, em seus lábios, um pouco de mel: um presságio de um doce e substancial ensinamento, que, um dia, teria jorrado dos seus lábios, além da sua pena.
Não obstante, no início, Isidoro demonstrou ser um estudante preguiçoso e pouco zeloso, que, às vezes, matava aulas. Até que, quase como uma fulguração, entendeu que a constância e a boa vontade podem levar um homem bem longe.

Um episcopado de 36 anos

Ao ler as obras de Santo Agostinho e São Gregório Magno, Isidoro tornou-se o homem mais instruído da sua época e, ao mesmo tempo, também um dos Bispos mais populares e amados.
Quando seu amado irmão, Leandro, faleceu, Isidoro, que já era clérigo em Sevilha, o sucedeu no episcopado.
Ele trabalhou, arduamente, por 36 anos, difundindo a doutrina, contra as heresias do seu tempo - como o Arianismo, - convertendo os Visigodos, a ponto de até presidir o Concílio de Toledo, em 633.
Santo Isidoro deu grande importância à liturgia, encorajando o uso de hinos, cantos e orações, que constituíam o rito moçárabe, também chamado "Isidoriano".
Defensor convicto da necessidade de os candidatos ao sacerdócio serem bem preparados e instruídos, fundou o primeiro Colégio, prelúdio dos Seminários modernos. Tudo isso, sem descuidar das práticas de piedade, a oração, a penitência e a meditação, em qualquer momento do dia.

A sabedoria humana

Na linguagem comum, costuma-se usar a hipérbole "toda a sabedoria humana", para indicar um conhecimento exagerado, que ninguém pode entender. Mas, Isidoro consegue: escreveu muito, de tudo e sobre tudo, porque a sua curiosidade era imensa e inesgotável; a sua mente era preparada para analisar e compreender os temas mais diversos.
Com efeito, a sua obra mais famosa é intitulada Etimologias, um verdadeiro compêndio do seu conhecimento contemporâneo, considerada a primeira enciclopédia da história: era dividida em 20 volumes, separada por partes e segundo o assunto, como gramática, retórica, dialética, matemática, música, medicina, agricultura, astronomia, línguas ou teologia.
Outras obras suas foram também os Comentários sobre os livros históricos do Antigo Testamento.

Vatican News

sábado, 3 de abril de 2021

Cantalamessa na Sexta-feira Santa: Jesus, primogênito entre muitos irmãos

Celebração da Paixão de Cristo | Vatican News

“Somos irmãos não apenas a título de criação, mas também de redenção; não só porque todos temos o mesmo Pai, mas porque todos temos o mesmo irmão, Cristo, ‘primogênito entre muitos irmãos’. Palavras do cardeal Frei Raniero Cantalamessa na celebração da Paixão do Senhor nesta Sexta-feira Santa.

Jane Nogara - Vatican News

homilia da celebração da Paixão do Senhor da Sexta-feira Santa 2021 foi feita pelo cardeal Frei Raniero Cantalamessa, o pregador da Casa Pontifícia. O tema da sua homilia foi centralizado na recente encíclica sobre a fraternidade do Papa Francisco “Fratelli tutti” destacando que em pouco tempo “fez renascer em tantos corações a aspiração quanto a este valor universal, trouxe à luz tantas feridas contra ela no mundo de hoje, indicou algumas vias para se chegar a uma verdadeira e justa fraternidade humana”.

Significado de “irmão” para o cristão

“O mistério da cruz que estamos celebrando - disse o cardeal - nos obriga a nos concentrarmos justamente neste fundamento cristológico da fraternidade, que foi inaugurado na morte de Cristo”. “No Novo Testamento”, continua, “‘irmão’ significa, em sentido primordial, a pessoa nascida do mesmo pai e da mesma mãe. ‘Irmãos’, em segundo lugar, são chamados os membros do mesmo povo e nação”. E amplia o conceito: “Neste alargamento de horizonte, chega-se a chamar de irmão cada pessoa humana, pelo fato de ser tal. Irmão é aquele que a Bíblia chama de “próximo”. Ponderando em seguida: “Mas, ao lado destes significados antigos e conhecidos, no Novo Testamento a palavra “irmão” tende sempre mais a indicar uma categoria particular de pessoas”. (...) Porque “Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,48-50).

Primogênito entre muitos irmãos

“Nesta linha, a Páscoa marca uma etapa nova e decisiva. Graças a ela, Cristo se torna ‘o primogênito entre muitos irmãos’ (Rm 8,29). Os discípulos se tornam irmãos em sentido novo e profundíssimo: compartilham não apenas o ensinamento de Jesus, mas também seu Espírito, sua nova vida de ressuscitado”. Frei Cantalamessa esclarece: “Depois da Páscoa, este é o uso mais comum do termo irmão; indica o irmão de fé, membro da comunidade cristã. Irmãos ‘de sangue’, também neste caso, mas do sangue de Cristo! Isso faz da fraternidade de Cristo algo de único e transcendente, em relação a qualquer outro gênero de fraternidade, e deve-se ao fato de que Cristo é também Deus”. Conclui este pensamento sobre a fraternidade afirmando: "Ela não se substitui aos demais tipos de fraternidade, baseados em família, nação ou raça, mas coroa-os".

“Somos irmãos não apenas a título de criação, mas também de redenção; não só porque todos temos o mesmo Pai, mas porque todos temos o mesmo irmão, Cristo, ‘primogênito entre muitos irmãos’”

A fraternidade se constrói a partir de nós, sem divisões

"À luz destes conceitos pode-se fazer algumas reflexões atuais: A fraternidade se constrói (...) começando de perto, a partir de nós, não com grandes esquemas, com metas ambiciosas e abstratas”. E especifica “na Igreja Católica”. “A fraternidade católica está dilacerada!” adverte Cantalamessa, “a túnica de Cristo foi cortada em pedaços pelas divisões entre as Igrejas; (...) cada pedaço da túnica, por sua vez, é frequentemente dividido em outros pedaços. Naturalmente, falo do elemento humano dela, porque a verdadeira túnica de Cristo, seu corpo místico animado pelo Espírito Santo, ninguém jamais poderá dilacerar”. E continua “Isto, contudo, não desculpa as nossas divisões, mas as torna ainda mais culpáveis e deve nos impulsionar, com mais força, a restaurá-las”.

Não sobrepor a política à religião

“Qual é a causa mais comum das divisões entre os católicos? É a opção política, quando ela se sobrepõe à religiosa e eclesial e desposa uma ideologia, esquecendo completamente o sentido e o dever da obediência na Igreja”

"Isto é um pecado, no sentido mais estrito do termo. Significa que o ‘o reino deste mundo’ se tornou mais importante, no próprio coração, do que o Reino de Deus. Creio que sejamos todos chamados a fazer um sério exame de consciência sobre isso e a nos convertermos” conclui o cardeal.

Pastores de todo o rebanho

E sugere aprender com Jesus no Evangelho quando encontra uma forte polarização política e não fica do lado de nenhum deles. “Este é um exemplo”, explica Cantalamessa, “sobretudo para os pastores que devem ser pastores de todo o rebanho, não apenas de uma parte dele. São eles, por isso, os primeiros a ter que fazer um sério exame de consciência e se perguntar aonde estão conduzindo o próprio rebanho: se à própria parte (ou ao próprio “partido”), ou à parte de Jesus.

Por fim, o cardeal recorda “Se há um dom ou carisma próprio que a Igreja Católica deve cultivar em benefício de todas as Igrejas, este é a unidade”.

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Como morreu Jesus?

Editora Cléofas
por Prof. Felipe Aquino

Há pelo menos dois livros sérios sobre a paixão e morte de Jesus, em português. O mais antigo, escrito há mais de trinta anos, é do medico e cirurgião francês Pierre Barbet que estudou o assunto durante 25 anos. O livro se chama “A Paixão de Cristo Segundo o Cirurgião” (Ed. Cleófas e Loyola, SP). No próximo artigo eu coloco um resumo da Paixão do Senhor segundo Dr. Pierre.

Outro livro recente, sério, científico, é do médico legista americano Dr. Frederick Zugibe, um dos mais conceituados peritos criminais em todo o mundo e professor da Universidade de Columbia, dissecou a morte de Jesus com a objetividade científica da medicina.

Ele foi patologista – chefe do Instituto Médico Legal de Nova York durante 35 anos. As suas conclusões estão no livro “A crucificação de Jesus – as conclusões surpreendentes sobre a morte de Cristo na visão de um investigador criminal”, recém-lançado no Brasil (Editora Idéia e Ação, 455 págs..).

Dr. Frederick, de 76 anos, é católico convicto, e realizou suas pesquisas com amor, devoção e respeito a Jesus Cristo, durante meio século de sua vida estudou a verdadeira “causa mortis” de Jesus. Escreveu três livros e mais de dois mil artigos sobre o assunto, todos publicados em revistas especializadas, nos quais revela como foi a crucificação e quais as conseqüências físicas, do ponto de vista médico, dos flagelos sofridos por Cristo durante as 18 horas de sua paixão.

O legista afirma que a “causa mortis” de Jesus foi parada cardiorrespiratória decorrente de hemorragia e perda de fluidos corpóreos (choque hipovolêmico), isso combinado com choque traumático decorrente dos castigos físicos a ele infligidos.

Para seus estudos Dr. Zugibe utilizou uma cruz de madeira construída nas medidas que correspondem às informações históricas sobre a cruz de Jesus (2,34 metros por 2 metros), selecionou voluntários para serem suspensos, monitorou eletronicamente cada detalhe.

Os seus estudos sobre a morte de Jesus começam no Jardim das Oliveiras, quando Jesus passa por sua agonia mortal; em seguida condenação, açoitamento e crucificação. O médico analisou o suor de sangue de Jesus no Horto das Oliveiras; segundo o legista, com o fenômeno da hematidrose, raro na literatura médica, mas que pode ocorrer em indivíduos que estão sob forte stress mental, medo e sensação de pânico. As veias das glândulas sudoríparas se comprimem e depois se rompem, e o sangue mistura-se então ao suor que é expelido pelo corpo.

Jesus foi vítima de extrema angústia mental e isso drenou e debilitou a sua força física até a exaustão total. Para descrever com precisão os ferimentos causados pelo açoite, Dr. Zugibe pesquisou os tipos de chicotes que eram usados no flagelo dos condenados. Em geral, eles tinham três tiras e cada uma possuía na ponta pedaços de ossos de carneiro ou outros objetos pontiagudos. A conclusão é que Jesus Cristo recebeu 39 chibatadas (o previsto na Lei Mosaica), o que equivale a 117 golpes, já que o chicote tinha três pontas. As consequências médicas são hemorragias, acúmulo de sangue e líquidos nos pulmões e possível laceração no baço e no fígado. A vítima também sofre tremores e desmaios, reduzida a uma massa de carne destroçada, ansiando por água, diz o legista.

Ao final do açoite, uma coroa de espinhos foi cravada na cabeça de Jesus, causando sangramento no couro cabeludo, na face e na cabeça. Os espinhos atingiram ramos de nervos que provocam dores terríveis quando são irritados. É o caso do nervo trigêmeo, na parte frontal do crânio, e do grande ramo occipital, na parte de trás. As dores do trigêmeo são descritas como as mais difíceis de suportar e há casos nos quais nem a morfina consegue amenizá-las.

Em busca de precisão científica, Dr. Zugibe foi a museus de Londres, Roma e Jerusalém para se certificar da planta exata usada na confecção da coroa. Entrevistou botânicos e em Jerusalém conseguiu sementes de duas espécies de arbustos espinhosos. Ele as cultivou em sua casa. O pesquisador concluiu então que a planta usada para fazer a coroa de espinhos de Jesus foi o espinheiro- de-Cristo sírio, arbusto comum no Oriente Médio e que tem espinhos capazes de romper a pele do couro cabeludo.

Após o suplício dessa coroação, amarraram nos ombros de Jesus a parte horizontal de sua cruz (cerca de 22 quilos) e penduraram em seu pescoço o título, placa com o nome e o crime cometido pelo crucificado, em latim, INRJ – Jesus Nazareno Rei dos Judeus. Jesus caminhou com a cruz, segundo Dr. Zugibe, oito quilômetros. Segundo ele, Cristo não carregou a cruz inteira, a estaca vertical costumava ser mantida fora dos portões da cidade, no local onde ocorriam as crucificações.

Ao chegar ao local de sua morte, as mãos de Jesus foram pregadas à cruz com pregos de 12,5 centímetros de comprimento. Esses objetos perfuraram as palmas de suas mãos, pouco abaixo do polegar, região por onde passam os nervos medianos, que geram muita dor quando feridos. Preso à trave horizontal, Cristo foi suspenso e essa trave, encaixada na estaca vertical. Os pés de Jesus foram pregados na cruz, um ao lado do outro, e não sobrepostos mais uma vez, ao contrário do que a arte e as imagens representaram ao longo de séculos. Os pregos perfuraram os nervos plantares, causando dores lancinantes e contínuas.

Preso à cruz, Cristo passou a sofrer fortes impactos físicos. Para conhecê-los em detalhes, o médico legista reconstituiu a crucificação com voluntários assistidos por equipamentos médicos. Os voluntários tinham entre 25 e 35 anos e o monitoramento físico incluiu eletrocardiograma, medição da pulsação e da pressão sangüínea. Todos os voluntários observaram que era impossível encostar as costas na cruz. Eles sentiram fortes cãibras, adormecimento das panturrilhas e das coxas e arquearam o corpo numa tentativa de esticar as pernas.

Dr. Zugibe analisou três teorias principais sobre a causa da morte de Jesus: asfixia, ruptura do coração e choque traumático e hipovolêmico. Ele afirma que a teoria mais propagada é a da morte por asfixia, mas ela jamais foi testada cientificamente. O cirurgião francês Pierre Barbet defende que Jesus morreu por asfixia, Zugibe classifica essa tese de indefensável sob a perspectiva médica.

Quanto à hipótese de Cristo ter morrido de ruptura do coração ou ataque cardíaco, Zugibe alega ser muito difícil que isso ocorra a um indivíduo jovem e saudável, mesmo após exaustiva tortura: Arteriosclerose e infartos do miocárdio eram raros naquela parte do mundo. Só ocorriam em indivíduos idosos. Ele descarta a hipótese por falta de provas documentais. Para ele a causa da morte foi o choque causado pelos traumas e pelas hemorragias. A isso somaram-se as terríveis dores provenientes dos nervos medianos e plantares, o trauma na caixa torácica, hemorragias pulmonares decorrentes do açoitamento, as dores da nevralgia do trigêmeo e a perda de mais sangue depois que um dos soldados lhe perfurou o peito, abrindo o átrio direito do coração.

Dr. Zugibe diz que os seus estudos aumentaram a sua crença em Deus: Depois de realizar os meus experimentos, eu fui às escrituras. É espantosa a precisão das informações. Ao final dessa viagem ao calvário, Zugibe faz o que chama de sumário da reconstituição forense. E chega à definitiva “causa mortis” de Jesus, em sua científica opinião: Parada cardíaca e respiratória, em razão de choque traumático e hipovolêmico, resultante da crucificação.

Prof. Felipe Aquino

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Tradições para bem celebrar a Páscoa em família

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Veja algumas dicas para trazer às crianças a importância particular da Ressurreição de Cristo.

Nossa vida espiritual é uma só com a nossa vida natural, não há oração de um lado, a vida cotidiana do outro. Em Deus a nossa pessoa está unificada, ele nos ama em todos os momentos, nas pequenas coisas que tecem a nossa existência. A celebração da Páscoa não pode, portanto, limitar-se à participação na Missa (mesmo que essencial): todas as dimensões da nossa humanidade podem ser iluminadas pela alegria da Ressurreição.

Uma festa de familia

A Páscoa começa na noite de sábado. A presença de crianças pequenas nem sempre permite assistir à vigília pascal, que é relativamente longa. Podemos, neste caso, marcar “a noite sagrada em que Nosso Senhor Jesus Cristo passou da morte para a vida” (liturgia da noite pascal) com uma celebração familiar. Pode ser construída de forma muito simples, utilizando alguns elementos litúrgicos: uma grande vela na qual cada um acende a sua vela, uma bacia de água benta onde se mergulham as mãos; ler o Evangelho da Ressurreição; cantar algumas canções alegres, incluindo um aleluia, é claro! Você pode começar a celebração em uma sala totalmente escura e depois acender as luzes.

Com os filhos mais velhos, não hesitemos em participar na vigília pascal. Para manter a atenção das crianças durante as leituras que muitas vezes lhes parecem distantes de sua realidade, lembremo-nos de levar missais nos quais possam acompanhar os textos. Para os pequeninos que ainda não sabem ler, podemos levar uma Bíblia infantil na qual é possível ver e acompanhar os episódios citados: A Criação, o Sacrifício de Abraão, etc. Mesmo que seja difícil para eles estarem atentos e recolhidos durante toda a vigília, podemos ter a certeza de que as crianças são muito sensíveis ao clima especial da noite de Páscoa.

Estabeleça tradições familiares na época da Páscoa

Quando você chega em casa à noite, por que não compartilhar um pão ou um doce, por exemplo, ou outros pratos festivos? O que se come é importante para a maioria das crianças, e não apenas para elas! Claro, isso é secundário, mas não é sem significado. Uma refeição bem pensada, roupas escolhidas para a ocasião, uma casa cheia de flores e luzes, pequenas surpresas (a começar pela caça aos ovos), tudo isso conta e marca as crianças, que vão recordar a Páscoa como uma grande e agradável festa.

Como acontece no Natal, podemos criar tradições específicas também para a Páscoa. Podemos acender pequenas velas na noite da ressurreição, decorar ovos, ou fazer um bolo ou sobremesa especial para a Páscoa, como pãezinhos em forma de peixes, lembrando as tradições dos primeiros cristãos.

Um candelabro de sete braços para simbolizar as sete semanas da Páscoa

A decoração da casa, a disposição do cantinho de oração, os cantos e a música, o café da manhã do Domingo de Páscoa, os cartões enviados a familiares e amigos distantes, todos estes pormenores são importantes para marcar a celebração da Páscoa. A Páscoa prolonga-se ao longo dos dias, como evidencia o celeiro pascal que, nas nossas igrejas, costuma iluminar os espaços até a tarde de Pentecostes. É bom marcar esse período em casa, principalmente na decoração do cantinho de oração.

Um castiçal de sete braços, simbolizando as sete semanas da Páscoa, pode ser aceso todas as noites: mas ao contrário das velas da coroa do Advento, que são acesas gradualmente, as sete velas pascais brilham ao mesmo tempo. Com efeito, é desde a noite de Páscoa que somos convidados a entrar plenamente na imensa alegria da Ressurreição!

Aleteia

A Vigília Pascal na Basílica do Santo Sepulcro

Interior da Basílica do Santo Sepulcro | Vatican News

"Precisamos de um sinal para ver e de uma palavra para ouvir. Na verdade, nunca seremos capazes de explicar a ressurreição, nenhuma teoria jamais poderia convencer. A ressurreição somente pode ser encontrada, somente pode ser experimentada (...). A primeira testemunha da ressureição é a Igreja, lugar onde o Ressuscitado nos fala, através dos sacramentos e do anúncio da Palavra", disse o Patriarca Latino de Jerusalém em sua homilia.

Vatican News

Às 7h30 deste Sábado Santo (horário local), o Patriarca Latino de Jerusalém, arcebispo Pierbattista Pizzaballa, presidiu a Vigília Pascal na Basílica do Santo Sepulcro. Para este Sábado, inda está prevista para às 15h30, a entrada e procissão solene no Santo Sepulcro; às 18 horas as Vésperas em frente à Edícula e às 00h30, a Liturgia das Horas rambém em frente à Edícula.

Eis a homilia do Patriarca Latino na íntegra:

"“Queridos irmãos e irmãs,

o Senhor ressuscitou, aleluia!

Com as leituras que acabamos de proclamar, percorremos toda a história da salvação, desde criação até a redenção. Ouvimos as maravilhas que o Senhor fez. O fio da meada que conecta o que ouvimos é a fidelidade de Deus à Sua promessa, ao seu desejo de relação e encontro. Fidelidade que exigiu a intervenção contínua do próprio Deus para retomar, através do perdão, as relações continuamente interrompidas por nosso pecado.

O Evangelho proclamado é o ápice desta revelação. Esta breve passagem contém três verbos significativos nos quais me concentrarei brevemente: comprar, ver, ir.

Comprar

As três mulheres do Evangelho estão destroçadas pela dor, mas não paralisadas por ela. Com a prisão e morte de Jesus, os discípulos se dispersam, tudo parece perdido, os sonhos de despedaçaram, as esperanças esvaneceram-se. Mas não para essas mulheres. Elas têm a capacidade de resistir à dor, de ir mais além do aparente fracasso e não hesitam em gastar dinheiro para comprar o que é necessário para honrar não a quem fracassou, mas a um ente querido. Seu amor por Jesus não desapareceu com sua morte, seu vínculo com o Mestre vai além dos sonhos humanos de um novo reino. O verdadeiro amor é gratuito, não depende das circunstâncias e não conhece a morte. Por isso querem ir ao Sepulcro, para um último ato de piedade. E compram o que é necessário já no sábado à noite, não esperam o dia seguinte, pegam imediatamente os óleos para um sepultamento adequado. Eles gastam seu dinheiro para ungir o corpo do amado mestre da Galileia. Passaram os últimos anos seguindo Jesus, cuidando dele, e continuam fazendo isso mesmo depois de sua morte.

Se tivéssemos que observar nossa experiência hoje, a quem nos assemelhamos? Somos como os discípulos dispersos e desorientados, ou somos como as três mulheres, atingidas pela dor, mas não paralisadas? Os sinais da morte sempre estarão conosco. Aqui entre nós e em todo o mundo, a morte não se apaga e com ela a dor, as injustiças, os ciúmes, as divisões e, enfim, o que lhe pertence. Porém a morte já não tem mais poder sobre nós, porque "o amor de Cristo nos faz acreditar que, se um morreu por todos, todos portanto morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles”. (2 Coríntios 5, 14-15). Hoje somos convidados a aprender destas mulheres na sua maneira de viver doando-se, consumindo verdadeiramente suas vidas por amor a Cristo, a olhar para a Cruz como a medida desse amor que nos redimiu e para este sepulcro vazio como o anúncio de uma vida eterna para todos nós. E a vida eterna já começa aqui, agora. Já somos parte dela, porque estamos unidos a Ele, o Ressuscitado.

A Igreja, portanto, continua a anunciar a loucura deste amor, que pode verdadeiramente mudar a vida do mundo e que não teme a morte e as suas amarras

Ver

Todos os evangelhos da ressurreição usam o verbo ver, mesmo que na realidade não houvesse nada para ver, porque o corpo de Jesus não está mais no sepulcro. Nos Evangelhos não há descrições do evento da ressurreição, mas apenas os sinais dela são mostrados, os encontros com as testemunhas e, finalmente, o encontro com o próprio Ressuscitado. No Evangelho de Marcos o sinal é a pedra do sepulcro já retirada (Mc 16, 4), e a testemunha é o jovem vestido de branco, sentado à direita (Mc 16, 5).

Precisamos de um sinal para ver e de uma palavra para ouvir. Na verdade, nunca seremos capazes de explicar a ressurreição, nenhuma teoria jamais poderia convencer. A ressurreição somente pode ser encontrada, somente pode ser experimentada. Todavia hoje, precisamos de testemunhas que nos mostrem os sinais do Ressuscitado entre nós, que nos anunciem com credibilidade que o mundo já não está nas mãos da morte. Parece impossível, porém não é assim. Podemos os encontrar hoje, e são muitos.

As testemunhas hoje são aquelas que, apesar de todas as adversidades, dores, solidão, doença e injustiça, passam a vida criando oportunidades para a justiça, o amor e a aceitação. São aqueles que sabem perdoar, porque já se sentem perdoados. São aqueles que no silêncio de cada dia dão a vida pelos seus filhos e pelos filhos dos outros, que consideram cada pessoa parte do seu próprio destino e que cuidam dele com amor e paixão independentemente de si próprios.

A primeira testemunha é a Igreja, lugar onde o Ressuscitado nos fala, através dos sacramentos e do anúncio da Palavra.

O Evangelho hoje nos convida a ser uma Igreja corajosa, que não teme a solidão e a incompreensão, que se encontra cada dia com o Ressuscitado e o manifesta serenamente ao mundo com uma palavra clara e segura, com um testemunho livre, decidido e apaixonado.

Ir

Para ver e testemunhar o ressuscitado, primeiro deve-se mover. As mulheres foram primeiro ao Sepulcro, viram-no vazio, encontraram-se com a testemunha e de lá foram convidadas a ir ver Pedro e os discípulos e depois a Galileia. O gesto de ver está vinculado a ir. Não se encontra o Ressuscitado se não se vai primeiro ao Sepulcro, não o podemos encontrar se permanecermos fechados em nossos próprios cenáculos. E não podemos ficar imóveis se vemos e encontramos o Ressuscitado.

Nós, para onde vamos? Viemos aqui várias vezes ao sepulcro vazio de Cristo. Nós o adoramos diariamente, como as mulheres do Evangelho. No entanto, às vezes me parece que estamos tão quietos, em todos os sentidos. O que e para quem anunciamos, como o fazemos?

Se há um testemunho mais necessário hoje do que nunca, é precisamente o testemunho da esperança. Os sinais do medo se manifestam, mas não devem impedir nossa caridade. «Não tenhas medo! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ele não está aqui, ressuscitou» (Mc 16,6). O Cristo ressuscitado é a nossa esperança e é isto que somos chamados a testemunhar, indo a todos os lugares, sem parar.

Portanto, não vamos retroceder ou nos fechar em nossos medos. Não permitamos que a morte e seus súditos nos assustem. E também não nos limitemos a venerar este túmulo vazio. A ressurreição é o anúncio de uma nova alegria que irrompe no mundo e que não pode ficar fechada neste Lugar, mas ainda hoje deve chegar a todos a partir daqui. «Ide e dizei aos discípulos e a Pedro que ele vai à vossa frente ...» (Mc 16, 7).

Onde está? Em todas as partes. Na Galileia e na montanha; no Cenáculo e no caminho para Emaús; no mar e nos desertos, onde o homem monta a sua tenda, parte o pão, constrói as suas cidades, chorando e cantando, a suspirar e maldizendo. "Ele te precede, vai na tua frente." (Padre Primo Mazzolari).

Que a nossa Igreja da Terra Santa também experimente hoje o Ressuscitado, viva na sua luz, goze da sua presença, alimente-se do seu amor e continuar consumindo-se pela vida do mundo!

Feliz Páscoa!"

    †Pierbattista Pizzaballa
    Patriarca Latino de Jerusalén

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF