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quinta-feira, 8 de abril de 2021

Os dias finais de São João Paulo II: uma lembrança sobre quem morre na pandemia

Abaca/EAST NEWS

"A lição de João Paulo II ao partir para a casa do Pai pode ser uma fonte de consolo para quem está desesperado por causa da morte".

Os dias finais de São João Paulo II podem servir de base para uma profunda reflexão sobre o sofrimento das pessoas que morrem nesta pandemia de covid-19. E essa reflexão, por mais dolorosa que seja, pode transformar-se em “fonte de consolo” para quem enfrenta o drama de ver morrerem familiares e outras pessoas amadas, contagiadas pelo coronavírus e atingidas em cheio pelas consequências da doença que ele provoca.

Mas que reflexões e consolações seriam essas?

O cardeal polonês dom Stanislaw Dziwisz, que foi secretário pessoal do Papa São João Paulo II durante mais de 40 anos, conversou com a Agência de Imprensa Polonesa (PAP) no último dia 2 de abril, data que marcou os 16 anos do falecimento do pontífice.

Dziwisz, de 81 anos, afirmou:

“A lição que João Paulo II deu ao mundo quando partiu para a casa do Pai pode ser uma fonte de consolo para quem está desesperado por causa da morte de entes queridos e para quem teme pela sua saúde e segurança. [A morte de João Paulo II] foi um momento humanamente triste e doloroso, mas, ao mesmo tempo, cheio de algo de luz”.

Ele recordou que as pessoas que estavam presentes quando o Papa deu o último suspiro não dedicaram a sua primeira oração a pedir pelo seu eterno descanso, como ocorre normalmente, mas sim a agradecer a Deus pela vida de João Paulo II. Eles entoaram o “Te Deum“, que é o mais emblemático hino de ação de graças do amplo tesouro do canto gregoriano.

Os dias finais de São João Paulo II

O cardeal destacou também a atitude do Papa diante do sofrimento físico e da perda notável das forças ao longo dos dias que antecederam a sua morte. João Paulo II aceitou a doença e a morte iminente “com humildade e até com serenidade”, declarou Dziwisz.

“A humildade dele também se manifestou no fato de não evitar as câmeras nem os encontros com as pessoas, mesmo sabendo que todos podiam ver a sua fraqueza e o seu desamparo físico. Ele foi corajoso em mostrar seu sofrimento ao mundo. Acho que isso ajudou muitos doentes e moribundos, tanto com doenças físicas quanto espirituais”.

Dom Stanislaw Dziwisz enfatizou a importância da Via Sacra na vida espiritual de São João Paulo II:

“Eu fui testemunha diária desse caminho da cruz, do seu serviço, da sua coragem, da sua total dedicação a Jesus e à Sua Mãe”.

Uma lembrança sobre quem morre na pandemia

Traçando um paralelo com os enfermos da pandemia, o cardeal falou da necessidade cristã de admitirmos a brevidade da vida e a urgência de nos prepararmos bem para o encontro com Deus, reconciliando-nos com os nossos irmãos:

“Para um encontro com o Senhor misericordioso, é preciso estarmos preparados a qualquer momento. Isso também ficou claro para nós com a pandemia, porque muitos não só não puderam se despedir dos seus entes queridos como ainda partiram com o peso morto da dor de não conseguir perdoar”.

Aleteia

A Santidade pode florescer em nossas vidas? O Papa responde…

Papa Francisco | Guadium Press
 O nome que nos é dado no Batismo não é uma etiqueta ou uma decoração! É o nome da Virgem, uma santa ou um santo, que nos espera para obter de Deus as graças de que mais precisamos.

Cidade do Vaticano (07/04/2021, 18:35, Gaudium Press) Na Audiência Geral desta quarta-feira depois da Páscoa, o Papa Francisco tratou da temática: “Rezar em comunhão com os santos”.

O encontro, ainda desta vez, foi realizado na Biblioteca do Palácio Apostólico.

O Papa iniciou suas palavras explicando:
“Quando rezamos, nunca o fazemos sozinhos: mesmo que não pensemos nisso, estamos imersos num rio majestoso de invocações que nos precede e continua depois de nós.
Nas orações que encontramos na Bíblia, e que muitas vezes ressoam na liturgia, há um vestígio de histórias antigas, de libertações prodigiosas, de deportações e de tristes exílios, de retornos comoventes, de louvores que fluem diante das maravilhas da criação.
Estas vozes são transmitidas de geração em geração, num entrelaçamento contínuo entre a experiência pessoal e a do povo e da humanidade a que pertencemos”.

Com ou sem “redes sociais” as orações boas se difundem, se propagam continuamente

O Papa frisou que as orações boas se difundem, como todos os bons, se propagam continuamente, com ou sem mensagens nas “redes sociais”:
das enfermarias dos hospitais, dos momentos de encontro festivo, assim como daqueles em que se sofre em silêncio.  A dor de cada pessoa é a dor de todos, e a felicidade de um é transferida para a alma de outros, disse Francisco.

“As orações renascem sempre: cada vez que juntamos as mãos e abrimos o coração a Deus, nos encontramos na companhia de santos anônimos e santos reconhecidos que rezam conosco, e que intercedem por nós, como irmãos e irmãs mais velhos que passaram por nossa mesma aventura humana”, disse Francisco.

Os santos estão perto de nós: suas representações nas igrejas evocam aquela “nuvem de testemunhas” celestes que sempre nos circunda

Em seguida, o Pontífice afirmou que “Na Igreja não há luto que permaneça solitário, não há lágrimas que sejam derramadas no esquecimento, porque tudo respira e participa de uma graça comum. Não é por acaso que nas igrejas antigas as sepulturas eram no jardim ao redor do edifício sagrado, como se dissesse que em cada Eucaristia a multidão dos que nos precederam participa de alguma forma. Há os nossos pais e os nossos avós, há os padrinhos e madrinhas, há os catequistas e outros educadores. Aquela fé transmitida que nós recebemos e que com a fé foi transmitida a maneira de rezar, a oração”, frisou o Pontífice, para acrescentar em seguida:

“Os santos ainda estão aqui, não muito longe de nós; e suas representações nas igrejas evocam aquela “nuvem de testemunhas” que sempre nos circunda. São testemunhas que não adoramos – claro, não adoramos estes santos, mas que veneramos e que de mil maneiras diferentes nos remetem a Jesus Cristo. (…). Um Santo que não nos remete a Jesus Cristo, não é um santo e nem mesmo cristão. ”

“Os santos nos lembram que mesmo em nossas vidas, embora frágeis e marcadas pelo pecado, a santidade pode florescer, até no último momento. ”

A comunhão dos Santos 

“Nossos queridos defuntos, do céu, continuam cuidando de nós. Eles rezam por nós e nós rezamos com eles. E nos rezamos por eles, e rezamos com eles”.

Para o Papa, “este vínculo de oração entre nós e os santos, já o experimentamos aqui, na vida terrena: rezamos uns pelos outros, pedimos e oferecemos orações. A primeira maneira de rezar por alguém é falar com Deus sobre ele ou ela. Se fizermos isso frequentemente, todos os dias, nosso coração não se fecha, permanece aberto aos nossos irmãos e irmãs. Rezar pelos outros é a primeira maneira de amá-los, e isso nos impulsiona à proximidade concreta”.

O nome que nos é dado no Batismo não é uma etiqueta ou uma decoração!

“A primeira maneira de enfrentar um momento de angústia é pedir aos nossos irmãos e aos santos sobretudo, que rezem por nós.
O nome que nos é dado no Batismo não é uma etiqueta ou uma decoração! Geralmente é o nome da Virgem, uma santa ou um santo, que está esperando para “nos dar uma mão” na vida para obter de Deus as graças de que mais precisamos”, concluiu o Papa. (JSG)

https://gaudiumpress.org/

Angola. Bispos: paz e reconciliação sem fingimentos e ressentimentos

Monumento dedicado à paz, em Luanda (Angola) 

Os angolanos celebraram, neste domingo, 4 de abril, o 19º aniversário da assinatura dos acordos de paz e reconciliação nacional. Entretanto, os Bispos da Conferência Episcopal de Angola e são Tomé (CEAST) apelam a uma paz e reconciliação sem fingimentos e ressentimentos.

Anastácio Sasembele – Luanda, Angola

Depois da Proclamação da Independência a 11 de novembro de 1975, o 4 de abril é para muitos a data de celebração mais importante dos angolanos.

Num dia como este, mas do ano de 2002 foi assinado o acordo de paz entre o governo do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), as duas formações políticas que mais influência tinham e têm no País.

Este importante evento, ocorrido e celebrado, pela primeira vez, na sequência da morte do líder histórico do maior partido da oposição, Jonas Savimbi, deu início e facilitou o processo de reconciliação nacional entre os angolanos.

A conquista da paz, depois de 27 anos de guerra, que destruiu o País e ceifou a vida de milhares de angolanos nos campos de batalha, nas lavras, aldeias e cidades, foi o feito mais expressivo e o culminar de longas negociações entre o governo e a UNITA.

Há 19 anos do calar das armas os Bispos da CEAST apelam por uma paz e reconciliação sem fingimentos e ressentimentos.

D. Jesus Tirso Blanco, Bispo do Lwena, sugere acções concretas para promoção do bem-estar social das populações.

E o Arcebispo de Saurimo e Vice-presidente da CEAST, D. José Manuel Imbamba, apela à construção de pontes e pontos de comunhão e de paz destruindo os muros de vingança, orgulho e vaidade. Para o prelado quem não está em paz consigo mesmo não pode semear a paz.

Pelo facto, o 4 de abril foi instituído como feriado nacional e passou a ser uma referência histórica importante na luta do povo angolano pela sua dignificação e construção de uma sociedade próspera.

Vatican News

Moçambique: É como um filme de terror, diz religiosa sobre perseguição a cristãos

Destruição na missão de Nangologo / Foto: Fundação ACN

REDAÇÃO CENTRAL, 07 abr. 21 / 01:00 pm (ACI).- Após os violentos ataques de extremistas islâmicos na província de Cabo Delgado, Moçambique, a missionária portuguesa Ir. Mónica da Rocha compara os relatos que ouviu dos deslocados a um roteiro de “filme de terror”. Os terroristas têm sido particularmente cruéis com os cristãos relata a irmã, que ouviu dos deslocados sobre os jihadistas ateando fogo em pessoas vivas e decapitando jovens e crianças.

Em seu ataque mais recente, rebeldes armados invadiram a vila de Palma, na Província de Cabo Delgado, no dia 24 de março. O Departamento de Estado dos EUA apontou como autor dos atentados o grupo jihadista, Al-Shabaab. Entretanto, na segunda-feira, através da agência de notícias Amaq, o Estado Islâmico (Daesh) assumiu a autoria dos ataques, afirmando ainda que seus integrantes assumiram o controle da cidade.

O saldo da violência, até o momento, é de 55 mortos e mais de 700 mil deslocados. A comunidade cristã de Cabo Delgado foi particularmente atingida pela brutalidade dos terroristas. Mais de 50 cristãos, incluindo jovens e crianças, foram decapitados em Cabo Delgado em novembro de 2020 e dezenas de edifícios da Igreja Católica têm sido palco de violência e assassinatos de cristãos que se recusam a abdicar da fé ou unir-se aos jihadistas.

A Irmã Mónica da Rocha pertence à Congregação das Irmãs Reparadoras de Nossa Senhora de Fátima, cuja missão inclui neste momento apenas duas irmãs e quatro jovens aspirantes. Ela afirma que na região surgiu um dos vários campos de acolhimento para os quase 700 mil deslocados de Cabo Delgado.

Numa mensagem enviada para a Fundação AIS, a religiosa tem palavras duras para descrever este conflito armado, que classifica de “guerra cruel”, e denuncia o silêncio das autoridades face aos ataques que estão a flagelar a região de Cabo Delgado desde outubro de 2017.

“Sinto revolta e impotência perante esta realidade. Revolta porque considero que já há muito se poderia ter acabado com esta guerra tão cruel e sem sentido, a começar pelo próprio governo que internamente se mantém em silêncio e passa uma mensagem ao povo de que tudo está bem e sob controlo”, afirma Ir. Mónica.

A religiosa portuguesa diz que escutou destas famílias relatos que retratam a frieza e a brutalidade dos terroristas.

“Os que foram apanhados foram cortados aos poucos para que os que estavam escondidos ao verem isso a acontecer acabassem por aparecer… mas conseguimos ficar em silêncio e eles acabaram por ir embora…”, diz a Irmã contando o testemunho de alguns dos sobreviventes que ela escutou.

Em outro testemunho escutado pela Irmã Mónica, contaram-lhe que os terroristas mandaram as crianças embora e depois “atearam fogo às pessoas que não fossem muçulmanas”.

“Eles entraram em casa de repente e mataram pessoas na nossa frente e depois mandaram-nos embora para contarmos o que tinham feito”, diz a Irmã ao recordar outro testemunho.

Cabo Delgado vem sofrendo ataques de grupos armados ligados ao Estado Islâmico desde outubro de 2017, o que levou a região a uma situação de profunda crise humanitária. De acordo com as Nações Unidas, além do saldo de 700 mil deslocados, a violência causou a morte de mais de 2 mil cidadãos.

A situação em Pemba

“Com as comunicações muito difíceis ou quase impossíveis, é com apreensão que os acontecimentos estão a ser seguidos desde Pemba, a cidade-sede da província de Cabo Delgado e o lugar onde se encontram praticamente todos os sacerdotes e religiosas que tiveram de abandonar também as suas paróquias e missões por causa dos ataques”, relata a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

Um desses religiosos deslocados a Pemba é o padre Edegard Silva, missionário brasileiro, que relatou à AIS que sua paróquia, dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, foi palco de violentos ataques dos terroristas nesses três anos de guerra. Além disso, padre Edegard também denunciou um número crescente de pessoas que contraíram o cólera, devido às condições catastróficas de higiene em que se encontram milhares de pessoas deslocadas.

A proximidade do Papa Francisco

A situação de constantes ataques aos cristãos levou o Papa Francisco a apelar à paz na região várias vezes desde 2017, e também a transferir para o Brasil o antigo bispo de Pemba, o missionário brasileiro Dom Luiz Lisboa, nomeado Bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES) com a dignidade de Arcebispo. O bispo sofria seguidas ameaças de morte devido à coragem de denunciar às autoridades nacionais e internacionais a brutalidade dos jihadistas.

Ao falar durante uma reunião do Parlamento Europeu no dia 3 de dezembro, Dom Lisboa apresentou a situação de urgência humanitária vivida em Moçambique. “É uma tragédia humana, é uma crise humanitária muito forte porque as pessoas, a maioria, saíram [de suas casas] deixando tudo para trás”, disse o bispo.

Diante dessa situação disse que a população tem muitas necessidades. “Não param de chegar pessoas em vários distritos e nós estamos tentando atender as necessidades mais básicas, que é a alimentação, água, roupas, esteiras, cobertores, arranjar um lugar para ficar”.

Em agosto de 2020, o Papa Francisco telefonou para Dom Luiz Fernando Lisboa para lhe expressar sua “proximidade”, bem como “ao povo da região de Cabo Delgado”.

Na ocasião, o bispo contou que o papa tem acompanhado os acontecimentos na província “com grande preocupação e que está constantemente rezando” por esse povo.

“O Santo Padre também me disse que se houvesse algo mais que ele pudesse fazer, não devemos hesitar em pedir-lhe. Ele está pronto a caminhar conosco”, afirmou.

ACI Digital

Santa Júlia Billiart

Sta. Júlia Billiart | ArqSP
08 de abril

Na cidade de Cuvilly, França, em 12 de julho de 1751, nasceu Maria Rosa Júlia Billiart, filha de Francisco e Maria Antonieta, pobres e muito religiosos, que a batizaram no mesmo dia. Júlia fez a primeira comunhão aos sete anos. Desde então, Jesus foi o único alimento para sua vida. Aprendeu apenas a ler e a escrever, porque ajudava a sustentar a família.

Aos treze anos, Júlia sofreu sérios problemas e, subnutrida, ficou, lentamente, paraplégica, por vinte e dois anos. Durante esse tempo aprendeu os mistérios da vida mística, do calvário, da glória e da luz. Sempre engajada na catequese da paróquia, preocupava-se com a educação dos pobres. Cultivava amizades na família, com os religiosos, com as carmelitas, com as damas da nobreza que lhe conseguiam os donativos.

Nesta época, decidiu ingressar na vida religiosa, com uma meta estabelecida: fundar uma congregação destinada a educar os pobres e a formar bons educadores. Mesmo não sendo letrada, possuía uma pedagogia nata, aprendida na escola dos vinte e dois anos de paralisia, nos contatos com as autoridades civis e eclesiásticas e com os terrores da destruição da Revolução Francesa e de Napoleão Bonaparte. Assim, ainda paralítica, em 1804 fundou a Congregação das Irmãs de Nossa Senhora.

Júlia foi incapaz de amarrar sua instituição aos limites das exigências das fundações de seu tempo. Sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus a curou. Depois de trinta anos, voltou a caminhar. A Mãe de Deus era sua grande referência e modelo, e a eucaristia era o centro de sua vida de fé inabalável. Mas viver com ela não era fácil. Era um desafio constante, devido à firmeza de metas foi considerada teimosa e temperamental. Principalmente por não aceitar que a congregação fosse só diocesana, ou seja, sem superiora geral. Custou muito para que tivesse Tal direito, mas, por fim, foi eleita superiora geral.

Júlia abriu, em Amiens, a primeira escola gratuita e depois não parou mais. Viajava pela França e pela Bélgica fundando pensionatos e escolas, pois naqueles tempos de miséria a necessidade era muito grande. Não aceitava qualquer donativo que pudesse tirar a independência da congregação. Para ter recursos, criava pensionatos e, ao lado deles, a escola para pobres. Perseguida e injustiçada pelo bispo de Amiens, foi por ele afastada da congregação. Todas as irmãs decidiram seguir com ela para a cidade de Namur, na Bélgica, onde se fixaram definitivamente.

Júlia, incansável, continuou criando pensionatos, fundando escolas, formando crianças e educadores, ficando conhecidas como as "Irmãs da Nossa Senhora de Namur". Ali a fundadora consolidou a diretriz pedagógica da congregação: a educação como o caminho da plenitude da vida. Morreu em paz no dia 8 de abril de 1816 na cidade de Namur.

"Por meio do seu batismo, de sua consagração religiosa e por sua vida inteira de fé em Deus, que é bom, Júlia foi colocada na trilha da opção divina pelos pobres." Foram as palavras do papa Paulo VI para declarar santa, em 1969, Maria Rosa Júlia Billiart, que no dia 8 de abril deve receber as homenagens litúrgicas.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

quarta-feira, 7 de abril de 2021

ESPIRITUALIDADE: A Grande Passagem

Crédito: Expedia

«A Grande Passagem»

Conversa com o Irmão João

Trad.: monges da Comunidade Monástica
São João o Teólogo - São José, SC.

A Santa Montanha é uma república monástica integrada no território da Grécia; em seu pico resplandece o Monte Athos (2033m) que domina o Mar Egeo, revolto neste lugar. Conta uma tradição que a Virgem Maria, acompanhada do apóstolo São João, foi surpreendida por uma violenta tempestade e que o barco encalhou próximo de Iviron. Encantada com a extraordinária beleza do Monte Athos, pediu a seu Filho que lhe concedesse sua soberania. Ouviu-se uma voz celestial que dizia: “Que este lugar seja teu jardim e um porto de salvação para todo aquele que aspira ser salvo.”

Desde a fundação do primeiro monastério (A Grande Laura) no ano de 963 por Santo Atanásio, o Athonita, a influência espiritual do Monte Athos tem sido imensa, tanto na arte como no pensamento ou na teologia. Verdadeiro farol da ortodoxia! Atualmente, 1600 monges ortodoxos de todas as nacionalidades (gregos, russos, búlgaros, ucranianos, sérvios, romenos ...) vivem nos vinte monastérios sob uma assembléia e um presidente (Protos) eleito por um ano com residência em Karyes, a capital administrativa.

Olivier, um jovem peregrino ocidental a quem vamos acompanhar, teve que conseguir um visto especial (diamonitirion) para entrar no território da Santa Montanha. Cruzou a fronteira como se atravessasse por um espelho. Aqui não há eletrecidade, é outro calendário (treze dias a menos em relação ao calendário vigente em todo mundo) outra hora, é meia noite quando o sol se põe; os deslocamentos são feitos a pé ou por embarcações... Depois de várias horas de marcha, nosso peregrino chega à porta de um monastério onde o Pe. Iannis (João) o acolhe com suas longas barbas, sua skouffa (toca ou barrete) e seu amplo manto monástico negro. Este monge parece ter saído do fundo dos tempos. Após as apresentações como de costume: nome, lugar de origem, filiação ou religião, o diálogo começa com uma expressão de sorriso e uma xícara de chá.

— (Olivier) Padre, o que significa a Festa da Páscoa?

Páscoa significa, em hebreu, “passagem”; para os cristãos esta festa simboliza a Ressurreição de Cristo, que passa da existência à Vida tendo vencido a morte pela morte.

“Porque é preciso que o corruptível se revista de incorrupção e que este ser mortal se revista de imortalidade. E, quando este ser corruptível se revestir de incorruptibilidade e este ser mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó morte, a tua vitória?” (ICor. XV 53-54)

— Eu concebo, temo, porém, não entendê-lo bem.

Antes de tentar compreender o insondável mistério da Ressurreição, intentemos simplesmente penetrar o significado das palavras em sua raiz:

Páscoa significa “passagem”. Passagem da existência à Vida eterna pelo portal da morte. Ressurreição significa “endereçar-se”. O homem, mediante a Cruz vivificante, passa do horizontal do homem rasteiro ao estado vertical, isto é, de Homem Novo. A Cruz é uma chave de vida colocada acima do crânio (Gólgota), é um instrumento de transfiguração que ordena o espaço-tempo e que se abre, em seu coração, à eternidade, ao infinito. Não é um patíbulo com um cadáver cravado.

Páscoa significa “ungido de Deus”, a unção confere a dignidade. É aquele que manifesta o Pai celeste e realiza o Caminho, a Verdade e a Vida.

A Luz é um Fogo Vivificante que transmuta a matéria opaca e inerte em poder, força espiritual. Este Fogo penetra sem dissolver-se nele, o fogo da Gehena, o qual, por sua parte, queima tudo o que é corruptível: nossos pensamentos nossas emoções, nossas paixões são corpos.

Assim pois, Páscoa simboliza a passagem de um estado velho, corruptível a um estado novo, incorruptível, o do “corpo glorioso”. O Homem é reintegrado, pela Misericórdia divina, a sua dignidade primordial.

Dizia a todos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque, quem quiser ganhar a sua vida perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Lc IX 23-24). Se a morte é o fim, então a vida é vã.

— Explique também isso, padre!

Moisés (Êxodo XIII), quando das dez pragas do Egito, instaura a Páscoa Judia pelo sangue do Cordeiro. Mediante o sinal posto sobre o umbral da porta das casas, salva o primeiro menino varão do povo judeu e condena o primogênito dos animais e dos meninos varões dos egípcios. Logo, leva a cabo, com o povo eleito, a primeira “passagem” pelo Mar Vermelho. Os judeus abandonam uma terra de servidão (estrangeira) para entrar no deserto do Sinai onde permanecerão durante quarenta anos, passando por provas, tentações ilusões (o bezerro de ouro) ... e alegrias, a de receber, por exemplo, as Tábuas da Lei, que lhes revelam o caminho a trilhar para regressar a Deus.

Pelo Jordão se cumpre a segunda “passagem”. O povo abandona o deserto para entrar na Terra Prometida, onde flui leite e mel. Vale observar que, nenhum ancião, nem Moisés nem Aarão ... penetra no Jardim. O homem velho serve de degrau para o Homem Novo. Nunca o corruptível penetrará o sutil.

Você sabe que a Páscoa cristã vem precedida de quarenta dias de jejum rigoroso, acompanhado de leituras apropriadas para o grande combate no deserto interior.

— Sim, compreendo tudo o que você diz, porém não vejo como integrá-lo em minha vida.

Porque escutas as palavras como um relato histórico, e não como um acontecimento intemporal que deveria viver cada dia em teu coração.

— Como?

Tomando consciência de que vives, cada minuto, a passagem vertiginosa para uma nova vida inspirada, surgida de uma morte transitória, a expiração. Ponha, por exemplo, no alento, a Presença Divina. Ha uma morte que dá à luz a Vida. A morte do ego revela o Ser.

— Significa a morte do ego, a negação do corpo? Pergunta Olivier com humor e inquietude.

Nada disso! Não há que negar o corpo, mas transfigurá-lo. “... que não é nossa luta contra o sangue e a carne, senão contra os principados, contra as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos maus que andam pelos ares” (Ef. VI 12). “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (I Cor. III 16)

A renúncia é uma superação interior por integração, um alegre soltar presa, não uma negação. Este giro se cumpre por implosão, porém, o que não é assumido não pode ser transfigurado.

O Padre Iannis cala, logo em seguida apresenta um exemplo para não ficar no conceito, apenas.

Imaginemos uma semente que um camponês planta no inverno (mistério da Encarnação e da Natividade). Depois de um certo período de maturação no subsolo, produz-se um acontecimento incrível: a casca dura se desgarra, se decompõe misturando-se à Mãe-Terra para dar nascimento ao terno gérmen. Para o jardineiro, esta degradação é o processo de vida.

Todo o homem que vem ao mundo é portador de um fagulha desta Luz Divina. Eu sou a Terra que a acolhe. A dissolução do ego, que não é uma negação, permite a alma eclodir-se, manifestar-se. Aquele que se apóia na degradação de seu “eu”, cai na revolta, no sofrimento, no sem sentido, na loucura... Aquele, porém, que contempla mais além desta prova, a evolução de seu próprio destino, entra numa alegria inefável. Não pedimos ao ego que compreenda o mistério da vida, mas que obedeça a sua vocação, a de servir de matriz ao Espírito. “Enquanto nosso homem exterior se desfaz, nosso homem interior se renova dia após dia.” (II Cor. IV 16).

O intelecto, inclusive, está ligado à matéria. A sabedoria infinita de Deus está limitada pela razão. Só a inteligência do coração pressente o mistério.

Quarenta dias depois da Páscoa, a Ascensão, a semente deve viver uma nova passagem, a da terra para o céu. As raízes rompem a superfície terrestre para elevar-se, mediante o tronco, o vazio, a pirâmide invertida dos ramos acolhe a luz do sol. O poder, a força da Cruz, como instrumento de passagem, parece aqui evidente.

“Aquele que desceu é o mesmo que subiu acima dos céus para plenificar todo o universo” (Ef. IV 10).

Dez dias depois, cinqüenta dias depois da Páscoa, Pentecostes, festa das colheitas dos judeus. A árvore dá frutos, os apóstolos recebem a luz do Espírito Santo. Cristo deveria abandonar a Terra para enviar as “línguas de fogo” sobre cada apóstolo sentado todos juntos naquele mesmo lugar. Cada etapa corresponde a uma mudança de consciência, que vem determinada em função da experiência do estágio anterior.

São João, porém, no Apocalipse (Ap. XX 14), fala da “segunda morte”: aquele que recusa, em seu tempo, levar sua cruz, morrer na Terra-mãe, asfixiará o Espírito que o habita. O gérmen se resseca ainda na semente, o ovo apodrece ainda em sua casca. Esta “segunda morte” é um suicídio espiritual, um assassinato do espírito que só eu mesmo posso provocar.

— Como viver esta “passagem interior”?

Você é o caminho! Recorre-se ao mundo em busca de um método para alcançar a Verdade, porém, não há técnica para elevar-se até Deus. O asceta utiliza a humildade, a obediência e a paciência para escalar suas próprias profundidades até as profundidades divinas (I Cor. II 10) animado pela luz do Paráclito; do mesmo modo que não há técnica para tornar-se um gênio, ainda que o artista utilize-se de técnicas para expressar seu gênio. A arte é, antes de tudo, uma projeção do espírito; o artista encarna sua inspiração na matéria e a fecunda com seu poder. É o domínio interior, a pureza do olhar, a precisão do gesto, a autenticidade do coração... o que distingue os criadores dentre eles. Façamos de nossa vida nossa primeira criação!

— Dado que não há método, e que devemos fazer de nossas vidas uma obra de arte, o que você me aconselha?

Primeiro, distinguir a Meta, o fim dos meios. A Meta suprema do homem é Deus! Um Deus vivo, pessoal, não um ídolo abstrato. O meio é você!

Não há nada exterior que acrescentar ao homem, tudo está inscrito em gérmen nele. A Tradição ensina àqueles que tem fé o caminho interior a levar a cabo para participar na própria deificação. A via passa por exigências: vigilância, perseverança, obediência, fidelidade, alegria, escuta... Utiliza métodos para verificar a autenticidade do discípulo, métodos que provocam reposicionamentos transfigurantes. Comprometem sempre nossa liberdade: o jejum, a vigília, a ascese, as preces, o louvor.

— Falaste de métodos?

Sim, se se inspiram nos Evangelhos e foram elaborados, como uma estrada, pelos padres no decorrer dos séculos e experimentados por milhares de ascetas.

Dado que estamos no ciclo pascal, vamos aprofundar naqueles que vivemos neste momento.

Os cinco domingos que precedem a Quaresma ensinam através de cinco relatos dos Evangelhos, as virtudes que se há de adquirir antes de lançar-se ao grande combate interior, cada qual encontra esta luta universal e eterna da alma humana.

O primeiro domingo, o de Zaqueu (Lc XIX 1-10), descreve a história de um publicano que, sendo de baixa estatura, sobe a um sicômoro para ver passar Jesus por Jericó. O primeiro movimento para Deus é o desejo. Desejo de superar-se, de elevar-se por sobre a própria natureza, pois a Meta do Homem não é o humano, como já disse, senão que a Meta última do Homem é o supra-humano. Não é um desejo que sai de nós mesmos, horizontal, senão um desejo que nos faz descobrir a Presença do Ser Amado em um mais além, no mais profundo de nós mesmos.

Zaqueu logo convida Cristo a compartilhar sua comida. O alimento é aqui espiritual: mediante um ato ritual, oferecemos a Deus nossa carne e nosso sangue em oferenda cruenta. A obra se baseia em sua própria substância; como um artista "se dá" inteiro em sua arte sem por isso esgotar-se. Multiplica-se por este dom sutil de si mesmo.

O segundo domingo é o do publicano e o Fariseu (Lc XVIII 10-14). O primeiro está orgulhoso de suas práticas religiosas, instalado na comodidade de uma prática rotineira; o outro, o publicano, simplesmente reconhece suas próprias faltas e pede humildemente a Deus que o ajude a apaziguá-las. A evolução não pode cumprir-se sem uma revisão sincera orientada para a unidade.

O terceiro domingo é o do Filho Pródigo (em grego "o Pai Misericordioso") (Lc XV 11-32). Depois do desejo, a tomada de consciência, eis aqui o regresso ao Pai. O Filho dilapidou toda a sua herança com pessoas de má vida. Volta pobre, se acha sozinho, exilado em uma terra distante, não podendo sequer comer a comida dos porcos. Decide voltar ao seu pai, que o acolhe com alegria. Cada palavra aqui, ao nível espiritual, é de uma riqueza incomensurável. "Que foi feito com o talento que te dei? (Mt XXV 14-30). "...porque, ao que tem ser-lhe-á dado e em abundância; porém, a quem não tem, ainda o pouco que tem ser-lhe-á tirado. Diante de Deus, sou responsável pelo mal que fiz, porém, também pelo bem que não fiz. E, temos, nesta parábola, a imagem da segunda morte. O ego encerrado em uma terra estrangeira não vive sua vocação de homem: imagem de Deus que deve alcançar Sua semelhança, desfruta da existência sem dar frutos.

O quarto domingo é o do Juízo Final (Mt. XXV 31-46). Todas as nações estão reunidas na presença do Filho do Homem que separa as ovelhas dos cabritos. Não é o dia da condenação, mas o do amor infinito.

Para expressar melhor todo este paradoxo da "sabedoria de Deus que é loucura para os homens", a Igreja escolhe para celebrar o Dia do Juízo o mesmo dia do Carnaval. Cada qual leva a máscara de seu escárnio, de sua verdadeira natureza reprimida, de sua ambição decepcionada ou impossível... Mediante este exorcismo o homem encontra de novo o humor fabuloso do justo que, penetrando em suas trevas, vê suas próprias debilidades como ilusões ou como o espantalho da glória efêmera do mundo, dizendo-se: "sim, sou rei por um tempo, vivendo eternamente". Seu riso está mesclado com lágrimas, pois o fantasma, cuja causa é ele mesmo, lhe ocultam a presença de Deus.

O quinto domingo é o do grande Perdão. Depois do desejo, a tomada de consciência, o regresso a própria origem e a radiante tristeza. Chega o tempo em que, cada qual, com seu perdão, liberta seu irmão do peso de sua dívida. Misericórdia que o torna parecido com a Misericórdia divina, a qual o permite entrar em ressonância com o poder infinito do perdão divino, que liberta o homem da queda. “O semelhante atrai o seu semelhante”.

Todas estes relatos apresentam, em cinco semanas, as condições necessárias para participar com um espírito [...] desperto no grande combate interior da Grande Quaresma. Durante este longo período de quarenta dias, o fiel provoca, involuntariamente, incidentes nele, mediante o jejum, a vigília, as longas preces, com o fim de despertar a besta e descobrir seus desertos, seus pontos débeis ou seus conflitos. Não se trata aqui de morais castradoras, nem de culpabilidades inúteis, nem de retrocessos ou hipocrisias, cada qual permanece somente diante de si mesmo e de Deus. Pede a seu pai espiritual ou a seu confessor que o acompanhe na tomada de consciência sincera de sua própria natureza. O fiel leva a cabo, por graça de Deus, uma espécie de “poda” vivificante no bosque verde de seu corpo com o fim de transfigurar as paixões em virtudes, fazendo, do que está escondido, de um costa-à-costa, um face-a-face silencioso, complementar.

Estes quarenta dias de ascese no espírito preparam o cristão para a Páscoa, e a Páscoa vivida no seio da Igreja o torna partícipe da Ressurreição de Cristo vivo hoje em nós, aqui no coração, tornando-nos novamente “herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo”. (Rm VIII 17).

“Por que buscais entre os mortos Aquele que está vivo?” (Lc XXIV,5)

— Como fazer?

Um bailarino aprende a dançar dançando e não meditando nos livros. O primeiro movimento para entrar na dança é interior, é o desejo. Não se pode obrigar ninguém a que dê seu ser, a arte é um dom de si que corresponde ao transbordamento da própria natureza, uma expansão interior que se manifesta harmoniosamente na obra. A arte não alivia o ego reproduzindo sua própria imagem.

Tomando consciência de seus limites a respeito de seu desejo, o bailarino solicita a um mestre que lhe inicie no rigor da técnica com o fim de integrar e de adquirir a maestria interior . Trabalha diariamente cada gesto , descobrindo todas as suas debilidades, busca a cada instante tornar-se mais rápido e poderoso numa harmonia justa e purificada. Não há nesta aproximação interior nenhuma violência, nenhum masoquismo;, o sofrimento se acha sublimado pelo amor que tem pela arte. Com este exemplo pretendi interpretar, em outra linguagem, as qualidades que precedem a quaresma. O bailarino é um servo enamorado de sua arte, entregando-lhe todo o seu corpo para que a música, através dele, revele-se em toda a sua magnificência. Deixa-se eclipsar para que melhor resplandeça a coreografia. Com sua obediência ativa, é testemunho de um hálito maior que sua própria natureza. Torna-se a encarnação viva, visível, da música que, sem ele, permanece invisível.

A Tradição ensina o caminho interior que leva a cabo, da cabeça ao coração, porém ela não dará nenhum passo em seu lugar. Estudar a Tradição ao pé da letra não significa ter conhecimento, senão conhecer a doutrina. Negar a teoria é absurdo, pois se rechaça a experiência dos padres que levaram a cabo o caminho para a deificação, encontrando as mesmas provas e cujos exemplos nos servem de guia. O caminho se vive livremente no Espírito, no maravilhar-se do cotidiano, na escuta dos antigos e na relação silenciosa com o Deus vivo em nós. A Páscoa simboliza o renascimento de toda o criado em "corpo glorioso", de Homem restaurado em sua unidade ontológica.

— Assim pois, a arte pode ser religiosa?

Religiosa, certamente, porém não pode substituir a religião que necessita uma total participação do Ser: corpo, alma, espírito e uma superação em direção ao divino. A música não é mais que uma parte da Tradição. É perigoso tomar uma parte do Todo e fazer dela uma verdade plena.

A salmodia, a iconografia, a teologia, a ascese, o jejum, as preces, a vigília, os votos de pobreza, de obediência, de castidade, de trabalho diário, o acolhimento aos hóspedes, o ano litúrgico... não podem pretender tampouco circunscrever a plenitude da divindade, porém, todos participam, em seus limites e vocação, à purificação do coração que é o "órgão" da inteligência, e na construção do corpo como templo da carne, o receptáculo da Graça.

A luz do sol, por exemplo, brilha sobre todos, justos e injustos, porém, só aqueles que se detêm para contemplar seu resplendor poderão sentir sua beleza e seu poder; Se eu sou o receptáculo da Luz, nem por isso sou o sol que se dá a conhecer por suas energias, senão que um abismo me separa de sua natureza.

— Poderíamos contemplar o ícone da crucifixão?

O padre se inclina diante do ícone e logo o venera com um beijo.

O ícone não é uma pintura, não se o examina como um quadro, senão com o olhar da fé se deixa que a imagem nos fale ao coração o que se traduz pela perspectiva inversa. O ponto de fuga se situa no homem, o conduz a seu centro. Para acolher as Presenças Espirituais, a iconografia obedece a leis muito estritas; por exemplo, três dias de jejum antes de esboçar alguns traços que manifestam movimentos de vida, como no caso do olhar. Estes gestos devem estar purificados de toda emoção e pensamentos pessoais, pois são portadores de Outra natureza apaixonada. O ícone torna visível o invisível, revela o Rosto interior de um santo, da Virgem ou de Cristo. Quando você olha a fotografia de um amigo, é a pessoa o que se vê no papel; no ícone, é a Presença a que se venera através da imagem, e não o objeto em si mesmo, pois esta Presença real, dinâmica, viva, desperta, por analogia, um estremecimento interior que faz do fiel um participante no mistério da vida que é movimento. O ícone é uma prece visível e nos situa em ressonância com o transcendente, com a eternidade.

Neste ícone da crucifixão, que representa uma das Doze Festas do ano litúrgico, temos: um céu dourado para significar que a luz é de outra natureza que a luz visível do sol e da lua representados em ambos os lados da Cruz. O tempo é intemporal, é espaço mais além do criado; a Cruz transpassa o espaço-tempo e nos eleva. Cristo não bendiz nenhum sofrimento mórbido senão que o corpo, fixado à madeira, parece o de um recém-nascido de pele rosada. Para ressaltar que esta morte não é inútil, um anjo recolhe num cálice, o sangue e a água que brotam da Fonte. O novo Adão sela a Nova Aliança de Deus com sua Criação. O primeiro Adão é representado sob a forma de um crânio sobre uma cruz horizontal de ossos ao pé da cruz erguida. O homem antigo serve de supedâneo, de base ao Homem Novo. Maria, Mãe da humanidade de Jesus, matriz de Deus, está de pé com o bem-amado apóstolo João, com a expressão dos sofrimentos, das dores de um parto. Ao fundo, a Jerusalém celeste que se eleva em relação a terra verde, expressa a promessa dos bens vindouros. Não há nesta crucifixão nenhuma dramatização, senão a eclosão para uma nova Vida.

— Esta crucifixão não se parece em nada ao Cristo sofredor de nossas igrejas do Ocidente.

Para a Tradição ortodoxa, a Paixão se reveste de um caráter de vitória real e não de sofrimentos. As humilhações, a crucifixão, a descida ao sepulcro, são testemunhos do caráter triunfal da majestade divina. Este paradoxo transluz nos hinos de quaresma. "Arrancaram minhas vestes e me cobriram de púrpura, colocaram sobre minha cabeça uma coroa de espinhos e, em minha mão, um cetro de junco". A veste de escárnio aparece como o manto de luz do Rei que vem para julgar o mundo.

Cristo veio dar testemunho sobre a terra de que o contrário da morte não é a Vida, senão que, o contrário da morte é o nascimento e de que o homem, durante sua existência pode alcançar sua Vida, realizando nela uma conversão, vivendo voluntariamente o mistério da redenção que se identifica com a obra da Criação. O homem transfigurado conhece as razões essenciais de todas as coisas, até mesmo sua finalidade. Se torna, pela Graça, em co-criador e participa na transfiguração do universo até a Parusia.

— Antes de me despedir, padre, poderia dizer-me algumas últimas palavras?

Sim. Não envelheça tua existência sem dar à luz a tua vida, não banalizes cada dia com temores sem fundamento ou vãs ambições. Que cada dia seja para ti uma festa, um maravilhar-se, que teus gestos sejam os de louvor, tua vida uma alegre dança, que estale por toda a tua pele em parcelas de luz e, atreva-te a gritar ao mundo adormecido a beleza da vida com hinos de alegria.

«Cristo ressuscitou!»

ECCLESIA

PÁSCOA E A ESPERANÇA CRISTÃ

pucRS
Dom Severino Clasen
Arcebispo de Maringá (PR)

“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18).

Em pleno Tríduo Pascal, iniciamos o mês de abril com esperança. Vivemos em tempos sombrios, desolados, retraídos, com medo. Alimentamos a esperança no Senhor que dá a vida. Ele institui o sacramento da caridade, lava os pés dos discípulos, reafirma o mandamento do amor, a caridade. Nestes três dias antes da Páscoa, Jesus revela o caminho para a Ressurreição: dispersão da humanidade, as falsas notícias, a hipocrisia dos fundamentalistas, negacionistas do tempo, dos moralistas que o levaram ao suplício da Cruz para não tocar nos conceitos e práticas hipócritas no Templo, que deveria ser a casa de Deus.

Depois do ensinamento do amor, confirmado na Instituição do Sacerdócio e Eucaristia, chama-nos para a vida em plenitude, presenteia-nos com sua Ressurreição na manhã do primeiro dia. Páscoa, superação da traição, da morte, retorno ao amor a Deus, ao próximo e esperança de vida eterna, ressurreição, certeza da vida definitiva em Deus.

No mistério pascal, o cristão vive no seu dia a dia de discipulado no Senhor. Para fortalecer o vínculo com o Senhor Ressuscitado, a Arquidiocese de Maringá está a caminho de assumir a Iniciação à Vida Cristã com inspiração catecumenal. A esperança está depositada em propor a mística da unidade, da colegialidade de nossas ações evangelizadoras nesta Igreja particular. Ao redor de Jesus Cristo Ressuscitado, retomemos o processo do seguimento que nos conduz na caminhada dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-35), ao caminhar juntos, o Senhor esclarecia os passos da Sagrada Escritura, abre-lhes a mente, caminha com eles, parte o pão e se dá a eles. Neste gesto, partilhar o pão, está prefigurada a Eucaristia. Os discípulos, com o coração alimentados e aquecidos, O reconheceram e voltaram para testemunhar o que tinham visto, sentido e experimentado.

Queremos que os cristãos e cristãs façam a mesma experiência, caminhar com Jesus e experimentar sua presença, seu calor abrasador, aquecer os corações para construir um mundo de fraternidade, de unidade e de paz, “do que era dividido, Cristo fez uma unidade” (Ef 2,14).

A experiência iniciática, nos esclarece quem é Jesus de Nazaré, o que ele veio fazer e o que prometeu. Em contrapartida, pede de nós o amor ao próximo, o cuidado com os doentes, viúvas e pobres, espera mentes arejadas, participativa, em comunhão com as responsabilidades sociais, familiares, eclesiais.

Nossa fé é vida na família, na sociedade e na Igreja. Não somos ilhados, isolados, excluídos, privilegiados. Juntos somos chamados a construir um mundo mais justo e acolhedor.

Devemos assumir os compromissos de fé em sinal de comunhão e responsabilidade. Dou apenas um exemplo, a participação nas exigências da vida social; os frutos da Eucaristia convocam-nos a participar na discussão dos pedágios em nossas rodovias na nossa região. Não é possível aceitar contratos unilaterais onde alguns se enriquecem abusivamente enquanto os pobres, os sofredores os trabalhadores devem pagar a conta. Fé e vida caminham juntas. A fé nasce do Ressuscitado. Ele deu a vida, os homens tiraram a sua vida no alto da Cruz, Deus devolveu a vida. E a vida é dada a todos nós para vivermos em harmonia na sociedade.

Que não nos desesperemos neste tempo de pandemia. Já foi um ano de angústias e de perdas imensuráveis em milhares de famílias. Não podemos admitir que pessoas responsáveis em nenhum momento se dirigiu ao povo trazendo palavras de conforto, apenas provocações e descrédito, dando mal exemplo no cuidado e na disciplina para evitar contágios e mortes.

Que Nossa Senhora da Glória nos cubra com seu manto sagrado, que a vacina, a grande ferramenta para superar o coronavírus, não esteja na disputa de ideologias e de governos irresponsáveis e omissos. Nossas preces para as pessoas que perderam a vida por causa do Covid-19.

Que o Santo Espírito nos ilumine e nos una na construção de um mundo mais justo, acolhedor e fraterno.

CNBB

Número de Batismos na República Tcheca cai em 2020

Guadium Press

República Tcheca – Praga (06/04/2021 12:19, Gaudium Press) A Conferência Episcopal da República Tcheca, divulgou que durante o ano de 2020, foram ministrados apenas 14.600 Batismos, o que equivale a menos de um quarto da média. Segundo os Bispos do país, esses dados são reflexos das restrições impostas pela pandemia.

No ano de 2020, foi impossível manter o ritmo habitual das celebrações, inclusive dos sacramentos. Para se ter uma ideia, os catecúmenos que se prepararam para o Batismo na noite de Páscoa tiveram de esperar até o mês de junho e alguns ainda aguardam para receber este sacramento.

Guadium Press

Sacramentos adiados por conta da pandemia

Apesar de ser tecnicamente possível administrar os sacramentos durante a pandemia e existam sacerdotes disponíveis para isso, muitos deles tiveram que ser adiados por conta da situação associada à pandemia e as restrições que afetam também as funções e serviços religiosos no país.

O Padre Vítezslav Rehulka da Paróquia de Ostrava conta que no ano passado batizou 40 crianças em sua paróquia, mas outras 15 famílias “decidiram esperar até que seja possível celebrar uma bela Missa com um banquete. Acredito que não vou parar por um momento sequer quando as medidas forem flexibilizadas”.

Guadium Press

Não deveríamos adiar o Batismo por muito tempo

O secretário-geral da Conferência Episcopal tcheca, Padre Stanislav Pribyl, lamentou o fato de que muitas pessoas estejam na fila de espera pelo Batismo. “O Batismo é um Sacramento e para a criança que nasce é a graça de que necessita para a vida, por isso não deveríamos adiá-lo por muito tempo. Estamos tentando ajudar os sacerdotes e as famílias a organizarem tudo, mesmo no regime limitado que vigora atualmente”, destacou.

A Páscoa é o período no qual, tradicionalmente, se realiza o maior número de Batismos de adultos. Em 2020, por conta do início da pandemia, várias celebrações foram adiadas ou simplesmente deixaram de ser realizadas. Já neste ano, apesar de ter sido possível programar cerimônias batismais, houve uma significativa redução no número de batizados. (EPC)

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF