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terça-feira, 27 de abril de 2021

São João Paulo II e São João XXIII: santos há sete anos

S. João Paulo II e S. João XXIII | Vatican News

Naquele dia, 4 Papas na Praça São Pedro. Há sete anos, no dia 27 de abril de 2014, no Domingo da Divina Misericórdia, o Papa Francisco canonizava João Paulo II e João XXIII, com a presença do Papa emérito Bento XVI.

Vatican News

A Praça São Pedro ainda ornamentada com as cores da Páscoa da Ressurreição, perfumada pelas flores, mas acima de tudo de santidade. Era o dia 27 de abril de 2014, o centro do cristianismo oferecia ao mundo o testemunho de "dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo", o rosto da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo”. O Papa Francisco assim definiu João XXIII e João Paulo II na homilia da Missa celebrada na Praça São Pedro, com a presença de mais de 500 mil pessoas, provenientes de várias partes do mundo.

Santos no Domingo da Divina Misericórdia

Era o Domingo da Divina Misericórdia, instituído por João Paulo II em 1992, no primeiro domingo depois da Páscoa, a chamada Domenica in albis. Uma decisão também inspirada nas visões da Irmã Faustina Kowalska, a religiosa polonesa que viveu no início do século XX e canonizada pelo próprio Wojtyla no ano 2000. Na Missa da Praça São Pedro, estava presente também o Papa emérito Bento XVI, escolhido por João Paulo II em 1981 para guiar a Congregação para a Doutrina da Fé, e seu sucessor no trono de Pedro. Um verdadeiro vínculo de amizade na fé.

O milagre que permitiu a canonização de João Paulo II foi a cura de uma grave lesão cerebral em Floribhet Mora, em 1º de maio de 2011, dia de sua beatificação. Para João XXII, tratou-se de uma canonização Pro gratia, isto é, sem a comprovação de algum milagre.

Papa Francisco e Bento XVI na Missa de Canonização

Viam Jesus em cada sofredor

Na homilia Francisco assim definiu os dois Papas: “Tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz (...) porque em cada pessoa atribulada viam Jesus”. “Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo”. “Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria”.

Pastores do Povo de Deus

Santos capazes de seguir em frente e fazer crescer a Igreja, explica Francisco, que descreve João XXIII como o Papa da docilidade ao Espírito Santo. Ao convocar o Concílio Vaticano II em 1959, “deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito”.

Quanto a João Paulo II, Francisco o chama "o Papa da Família, ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família”. Francisco chamou-os de "Pastores do Povo de Deus", e pediu que ambos nos ensinem "a não nos escandalizarmos das chagas de Cristo, a entrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama".

Vatican News

Santa Zita, Virgem

Santa Zita | Paulus Editora
27 de abril

Zita, nasceu em 1218, perto da cidade de Luca e como tantas outras meninas ela foi colocada para trabalhar em casa de nobres ricos. Era a única forma de uma moça não se tornar um peso para a família, pobre e numerosa. Ela não ganharia salário, trabalharia praticamente como uma escrava, mas teria comida, roupa e, quem sabe, até um dote para conseguir um bom casamento, se a família que lhe desse acolhida se afeiçoasse a ela. Zita foi empregada doméstica durante trinta anos.

A família onde trabalhava não costumava tratar bem seus criados. Era maltratada pelos patrões e pelos demais empregados. Porém, agüentou tudo com humildade e fé, rezando muito e praticando muita caridade. Aliás, foi o que tornou Zita famosa entre os pobres: a caridade cristã. Tudo que ganhava dos patrões, um pouco de dinheiro, alimentos extras e roupas, dava aos necessitados. Aos poucos, Zita conquistou a simpatia e a confiança dos patrões e a inveja de outros criados.

Certa vez, Zita foi acusada de estar dando pertences da despensa da casa para os mendigos. Assim, quando o patriarca da casa perguntou o que levava escondido no avental, ela respondeu: "são flores" e soltando o avental uma chuva delas cobriu os seus pés. Esta é uma de suas tradições mais antigas citadas pelos seus fervorosos devotos.

A sua vida foi uma obra de dedicação total aos pobres e doentes que durou até sua morte. O seu túmulo, na basílica de São Frediano, conserva até hoje o seu corpo que repousa intacto.

Santa Zita é a padroeira das empregadas domésticas.  

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
Reflexão
Santa Zita nos ensinou que não precisamos de um sobrenome, nem de riquezas, nem de posição social para sermos engrandecidos pelo Senhor. Ela soube conquistar plenamente o coração de todos por sua vida dedicada à simplicidade. Para Deus o que vale não são as grandes obras mas o amor que colocamos em cada uma delas, por mais simples que sejam. É o amor que santifica nossas obras. Que sejam hoje abençadas todas as empregadas domésticas e que santa Zita seja companhia nas tarefas do dia-a-dia.
Oração
Concedei-nos, ó Deus, a sabedoria e o amor que inspirastes à vossa filha Santa Zita, para que, seguindo seu exemplo de fidelidade, nos dediquemos ao vosso serviço, e vos agrademos pela fé e pelas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.

https://www.a12.com/

segunda-feira, 26 de abril de 2021

O compromisso cristão com a liberdade religiosa

bioraven | Shutterstock
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Quase todos os países onde existe perseguição religiosa sofrem com regimes autoritários, desigualdades sociais entre grupos étnicos e castas e conflitos entre facções armadas.

No último dia 20 de abril, foi lançado mundialmente o 15º Relatório sobre liberdade religiosa no mundo, da entidade internacional Ajuda à Igreja que Sofre (em inglês, Aid to the Church in Need, ACN). Trata-se de uma iniciativa que acontece desde 1999, realizada por uma das mais importantes organizações católicas de auxílio humanitário e pastoral no mundo. A ACN atende milhões de pessoas todos os anos por meio de aproximadamente 5 mil projetos em cerca de 130 países – incluindo o Brasil. O Relatório detalha a situação da liberdade religiosa nos 196 países do mundo, entre 2018 e 2020.

Muita gente vai se perguntar, por que uma entidade católica com esse perfil – que promove e financia ações como formação de padres e religiosos, construção e reconstrução de igrejas, obras de recuperação de jovens dependentes químicos, construção de escolas e casas para refugiados no Oriente Médio – se dedica a um relatório que trata da perseguição religiosa não só a cristãos, mas a muçulmanos, budistas, praticantes de religiões afro, etc.? Não deveriam cuidar mais dos católicos e das iniciativas concretas de ajuda pastoral?

Compreender a razão de ser do Relatório é tão fundamental, para nós católicos, quanto compreender por que o Papa Francisco fez questão de visitar o Iraque, correndo risco de vida e em meio a uma pandemia, ou porque a Oração Universal, rezada na Sexta-feira Santa, na celebração do Paixão do Senhor, termina com súplicas a todos os seres humanos, também àqueles que não creem e, eventualmente, perseguem os cristãos. A história e a geografia nos ajudam a entender melhor essa questão.

Nos perseguidos, a esperança da paz

O cristianismo é uma religião de mártires. Nossa fé é sustentada, historicamente, pelo seu testemunho (cf. Catecismo da Igreja Católica, CIC 8522473-2474). Os missionários e os primeiros convertidos nos diferentes lugares do mundo frequentemente foram – e ainda são – martirizados. É verdade que os cristãos muitas vezes acreditaram que a força da espada lhes traria segurança e converteria “os gentios” que não conheciam a fé. Existem, inclusive, histórias de grandes eventos em que a intervenção miraculosa de Deus levou as tropas cristãs à vitória contra os infiéis, como na célebre batalha naval de Lepanto. Mas o aprendizado histórico da comunidade cristã não vai em direção ao uso da força, mas ao testemunho do amor, inclusive com sacrifícios pessoais.

Essa convicção na força do amor leva-nos a valorizar todas as pessoas, não querer que ninguém sofra e perceber na amizade entre os perseguidos um caminho para a paz. O frade Pierbattista Pizzaballa, que foi Custódio da Terra Santa (uma espécie de Núncio Apostólico), numa palestra em 2014, que, no Oriente Médio, cristãos, judeus e muçulmanos moderados se ajudavam e procuravam resistir juntos às atrocidades do terrorismo jihadista. Para ele, essa amizade apontava os caminhos do futuro para a região.

https://youtu.be/sdrW8Jy_j1s

Nossa esperança está no Senhor, mas é nos perseguidos, nos mais frágeis, nos excluídos e martirizados que Ele se manifesta de modo mais evidente. O próprio Cristo morreu numa cruz, injustamente perseguido e torturado pelos poderes de seu tempo. A solidariedade com todos os que sofrem, independentemente da confissão religiosa, faz parte do nosso caminho de seguimento a Ele. A ACN faz um imenso trabalho de apoio aos cristãos perseguidos no Oriente Médio, por isso reconhece esse dever de solidariedade para com todos os que sofrem por desejarem manter a sua fé, e com esse espírito produz esses Relatórios sobre liberdade religiosa no mundo.

A quem muito foi dado, muito será cobrado

O levantamento da ACN traz um mapa-múndi onde os países que sofrem com perseguição ou discriminação religiosa severa aparecem em vermelho ou laranja. A grande maioria encontra-se num eixo que vai da Coréia do Norte até o Congo, passando pela China, Sudeste Asiático, Índia, praticamente todo o Oriente Médio e África saariana. Em termos proporcionais, 31,6% dos países, com 67,0% da população mundial, apresentam graves violações à liberdade religiosa.

A perseguição religiosa ainda é uma realidade muito presente no mundo, como podemos constatar. É importante notar que, ao contrário do que supõe uma certa mentalidade laicista, a origem dos conflitos religiosos não é uma questão confessional. A religião é utilizada como pretexto para a perseguição e a opressão, mas não é a verdadeira causa dos conflitos. Quase todos os países onde existe perseguição religiosa sofrem com regimes autoritários (como a China), desigualdades sociais entre grupos étnicos e castas (como a Índia) e conflitos entre facções armadas disputando o poder, como o Estado Islâmico e o Boko Haram. Em todos esses casos, a religião é instrumentalizada por interesses políticos e econômicos.

Por outro lado, salta aos olhos que as democracias ocidentais, marcadas pelo cristianismo, ainda que tenham muitos problemas de intolerância religiosa, não integram essa lista de países problemáticos. É que essas democracias reconhecem os direitos humanos, inclusive aquele à liberdade de crença, e a dignidade da pessoa humana. Bem ou mal, os governos estão comprometidos a salvaguardar esse direito. É uma herança que recebemos de nossa tradição cristã. A mensagem evangélica nos ensinou a dignidade de toda a pessoa humana e o amor ao próximo. Os nossos erros históricos – e foram muitos, como as terríveis guerras religiosas entre cristãos na Europa (séculos XVI e XVII) – nos ensinaram a importância de respeitar o outro e não recorrer à violência.

Seria um erro grave pensar nessa herança com arrogância ou pretensão. Cada um de nós, individualmente, não tem nenhum mérito por essa construção histórica da liberdade em nossas sociedades. Pelo contrário, temos a responsabilidade de continuar construindo-a e combater todas as formas de intolerância. É Cristo que nos adverte: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais será pedido” (Lc 12, 48). Se recebemos uma sociedade que respeita a liberdade religiosa, temos uma obrigação muito maior de defender a liberdade religiosa para todos.

Não deixe de assistir ao vídeo com as principais conclusões do Relatório de Liberdade Religiosa:

https://youtu.be/8mDN_kb1rPA

Aleteia

Em um dia como hoje foi celebrada a primeira Missa do país mais católico do mundo

Primeira Missa no Brasil, quadro de Victor Meirelles /
Imagem: Domínio público

REDAÇÃO CENTRAL, 26 abr. 21 / 06:00 am (ACI).- Há 521 anos, no dia 26 de abril de 1500 – domingo da oitava de Páscoa –, foi celebrada a primeira Missa daquele que viria a ser o país com o maior número de católicos batizados no mundo, o Brasil.

A Santa Missa foi presidida por Frei Henrique de Coimbra e concelebrada por outros sacerdotes em Santa Cruz Cabrália, litoral sul da Bahia, sobre o ilhéu da Coroa Vermelha.

Em sua carta ao rei Dom Manuel, o escrivão Pero Vaz de Caminha descreveu a celebração feita em um “altar mui bem arranjado” e que, segundo observou, “foi ouvida por todos com muito prazer e devoção”.

Os portugueses chegaram ao Brasil em 22 de abril de 1500, nas 13 caravelas lideradas por Pedro Alvares Cabral, o qual, avistando do mar um monte, chamou-o de Monte Pascoal, por ser oitava de Páscoa. Àquela terra, inicialmente, colocou o nome Terra de Vera Cruz.

Após desembarcarem em terra firme e terem os primeiros contatos com os índios, seguiram a bordo de suas caravelas para um lugar mais protegido, parando na praia da Coroa Vermelha. Foi neste local que celebraram a Santa Missa.

Terminada a celebração, conforme relata Pero Vaz de Caminha, o sacerdote subiu em uma cadeira alta e “pregou uma solene e proveitosa pregação, da história evangélica; e no fim tratou da nossa vida, e do achamento desta terra, referindo-se à Cruz, sob cuja obediência viemos, que veio muito a propósito, e fez muita devoção”.

Conforme indicam os relatos, o escrivão Caminha acreditava que a conversão dos índios seria fácil, pois demonstraram respeito quanto à religião. Neste sentido, pediu ao rei que enviasse logo clérigos para batizá-los.

A representação mais famosa da celebração é o quadro “A Primeira Missa no Brasil“, feito em 1861 pelo pintor catarinense Victor Meirelles de Lima.

Após esta, a segunda Missa foi celebrada no dia 1º de maio, na foz do rio Mutarí. Os anos se passaram e, hoje, o Brasil é o país com o maior número de católicos batizados no mundo.

Segundo o Anuário Pontifício 2018 e o Anuário Estatístico da Igreja 2016, no Brasil vivem 173,6 milhões de católicos, o que representa 13,3% de fiéis do mundo e 27,5% da América do Sul.

ACI Digital

Que ninguém seja excluído de trabalho

São José com o Menino Jesus | Vatican News

Nas vésperas da Festa de S. José Operário, recordamos a Carta Apostólica “Patris Corde” na qual o Papa Francisco afirma que “a perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades”.

Rui Saraiva – Portugal

Estamos a viver um ano dedicado a S. José. O Papa Francisco quis, assim, assinalar os 150 anos da declaração de S. José como padroeiro universal da Igreja proclamada a 8 de dezembro de 1870 pelo Papa Pio IX.

Até dezembro deste ano de 2021, a Igreja tem um tempo especial para celebrar S. José. Segundo o Papa, “depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José, seu esposo”.

Francisco publicou uma Carta Apostólica intitulada ‘Patris Corde’ que em português podemos traduzir com a expressão “Com coração de pai”. Um documento que sublinha várias dimensões da paternidade de S. José, tais como, a ternura, a obediência, o acolhimento, a coragem criativa e também a sua missão como trabalhador.

A poucos dias de celebrarmos em todo o mundo o Dia do Trabalhador, na Festa de S. José Operário que se assinala no 1º de maio, recordamos aqui o ponto 6 da Carta Apostólica do Papa Francisco. Escreve o Santo Padre neste ponto que se intitula “Pai trabalhador”:

“Um aspeto que carateriza São José – e tem sido evidenciado desde os dias da primeira encíclica social, a Rerum novarum de Leão XIII – é a sua relação com o trabalho. São José era um carpinteiro que trabalhou honestamente para garantir o sustento da sua família. Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão fruto do próprio trabalho.

Neste nosso tempo em que o trabalho parece ter voltado a constituir uma urgente questão social e o desemprego atinge por vezes níveis impressionantes, mesmo em países onde se experimentou durante várias décadas um certo bem-estar, é necessário tomar renovada consciência do significado do trabalho que dignifica e do qual o nosso Santo é patrono e exemplo.

O trabalho torna-se participação na própria obra da salvação, oportunidade para apressar a vinda do Reino, desenvolver as próprias potencialidades e qualidades, colocando-as ao serviço da sociedade e da comunhão; o trabalho torna-se uma oportunidade de realização não só para o próprio trabalhador, mas sobretudo para aquele núcleo originário da sociedade que é a família. Uma família onde falte o trabalho está mais exposta a dificuldades, tensões, fraturas e até mesmo à desesperada e desesperadora tentação da dissolução. Como poderemos falar da dignidade humana sem nos empenharmos para que todos, e cada um, tenham a possibilidade dum digno sustento?

A pessoa que trabalha, seja qual for a sua tarefa, colabora com o próprio Deus, torna-se em certa medida criadora do mundo que a rodeia. A crise do nosso tempo, que é económica, social, cultural e espiritual, pode constituir para todos um apelo a redescobrir o valor, a importância e a necessidade do trabalho para dar origem a uma nova «normalidade», em que ninguém seja excluído. O trabalho de São José lembra-nos que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho. A perda de trabalho que afeta tantos irmãos e irmãs e tem aumentado nos últimos meses devido à pandemia de Covid-19, deve ser um apelo a revermos as nossas prioridades. Peçamos a São José Operário que encontremos vias onde nos possamos comprometer até se dizer: nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”

O Papa na sua Carta Apostólica “Com coração de Pai” afirma ainda que em S. José “nunca se nota frustração, mas apenas confiança”. Francisco frisa que “o seu silêncio persistente não inclui lamentações, mas sempre gestos concretos de confiança”. Por isso, “o mundo precisa de pais, rejeita os dominadores, isto é, rejeita quem quer usar a posse do outro para preencher o seu próprio vazio; rejeita aqueles que confundem autoridade com autoritarismo, serviço com servilismo, confronto com opressão, caridade com assistencialismo, força com destruição. Toda a verdadeira vocação nasce do dom de si mesmo, que é a maturação do simples sacrifício” – declara o Santo Padre.

“A paternidade, que renuncia à tentação de decidir a vida dos filhos, sempre abre espaços para o inédito. Cada filho traz sempre consigo um mistério, algo de inédito que só pode ser revelado com a ajuda dum pai que respeite a sua liberdade. Um pai sente que completou a sua ação educativa e viveu plenamente a paternidade, apenas quando se tornou «inútil», quando vê que o filho se torna autónomo e caminha sozinho pelas sendas da vida, quando se coloca na situação de José, que sempre soube que aquele Menino não era seu: fora simplesmente confiado aos seus cuidados. No fundo, é isto mesmo que dá a entender Jesus quando afirma: «Na terra, a ninguém chameis “Pai”, porque um só é o vosso “Pai”, aquele que está no Céu» (Mt 23, 9)” – escreve o Papa.

No próximo 1º de maio celebra-se o Dia do Trabalhador na festa litúrgica de S. José Operário. Uma altura oportuna para refletir, em tempo de pandemia, sobre os problemas do trabalho e do emprego através das palavras do Papa Francisco na invocação de S. José na sua dimensão de trabalhador no texto da Carta Apostólica “Patris Corde”. Fica o desejo do Papa: “nenhum jovem, nenhuma pessoa, nenhuma família sem trabalho!”

Laudetur Iesus Christus

Vatican News

Papa Francisco presidirá Consistório para canonização de 7 beatos

Imagem referencial. Consistório ordinário público em 2019.
Foto: Vatican Media

Vaticano, 26 abr. 21 / 09:02 am (ACI).- O Departamento das Celebrações Litúrgicas do Vaticano informou em 26 de abril que o Papa Francisco presidirá um Consistório ordinário público para o voto nas causas de canonização de sete beatos.

Entre os beatos está Charles de Foucauld, aristocrata francês do início do século XX que, depois de se converter, abandonou a vida de luxo que levava para viver retirado como eremita no Marrocos.

O carisma de Charles de Foucauld se baseava no longo período anterior à vida pública de Jesus em que Nosso Senhor viveu uma vida oculta. Foucauld foi assassinado no Marrocos, país de maioria muçulmana.

O Consistório ordinário público acontecerá no dia 3 de maio às 10h (hora local) na sala do consistório do Palácio Apostólico do Vaticano.

Em primeiro lugar, o Santo Padre rezará com os cardeais presentes a hora terça da liturgia das horas e, em seguida, será realizado o Consistório ordinário público solene para a aprovação definitiva e a definição das datas.

As causas da canonização são a do beato Charles de Foucauld, sacerdote diocesano francês, fundador de dez congregações religiosas e de oito associações de vida espiritual surgidas do seu testemunho e carisma; a do beato César de Bus, sacerdote, fundador da Congregação dos Padres da Doutrina Cristã (doutrinários); a do beato Luigi Maria Palazzolo, sacerdote, fundador do Instituto das Irmãs dos Pobres (Instituto Palazzolo) e a do beato Giustino María Russolillo, sacerdote, fundador da Sociedade das Divinas Vocações e da Congregação das Irmãs do Divino Vocações.

Além disso, serão votadas as causas de canonização da beata Maria Francesca di Gesù (nascida Anna Maria Rubatto), fundadora das Irmãs Terciárias Capuchinhas de Loano, que nasceu em Carmagnola (Itália) e morreu em Montevidéu (Uruguai) e da Beata Maria Domenica Mantovani, cofundadora e primeira superiora geral do Instituto das Irmãzinhas da Sagrada Família.

Por fim, a causa da canonização do beato Lázaro, chamado Devasahayam, leigo, mártir, que nasceu na aldeia de Nattalam (Índia) e foi assassinado, por ódio à fé, em Aralvaimozhy (Índia).

ACI Digital

Santo Anacleto

S. Anacleto | ArqSP
26 de abril

Eis uma curiosidade com relação ao santo venerado nesta data: seus dados biográficos se embaralharam ao serem transcritos século após século.

Papa Anacleto teve sua vida contada como se ele "fosse dois": papa Anacleto e papa Cleto, comemorados em datas diferentes, 26 de abril e 13 de julho.

O engano, que passou também pelo cuidadoso Barônio, parece ter sido de um copista, que teria visto abreviado em alguma lista dos papas o nome de Anacleto por Cleto e julgou que deveria colocar novamente o nome apagado de Anacleto sem excluir a abreviação. Após a revisão dos anos 1960, como conseqüência dos estudos de Duchesne, verificou-se que se tratavam da mesma pessoa e a data de julho foi eliminada.

Ele foi o segundo sucessor de são Pedro e foi o terceiro papa da Igreja de Roma, governou entre os anos 76 e 88. Anacleto nasceu em Roma e, durante o seu pontificado, o imperador Domiciano desencadeou a segunda perseguição contra os cristãos.

Ele mandou construir uma memória, isto é, um pequeno templo na tumba de São Pedro. Morreu mártir no ano 88 e foi sepultado ao lado de são Pedro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

domingo, 25 de abril de 2021

Papa Francisco: sacerdócio não é carreira, é serviço

Missa com ordenações sacerdotais na Basílica de São Pedro
Vatican News

No 58º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, Francisco presidiu a Missa com a ordenação sacerdotal de nove diáconos na Basílica de São Pedro. Ele recomendou aos novos sacerdotes viver o estilo de Deus de proximidade, compaixão e ternura, recordando que o sacerdócio "não é uma carreira, mas um serviço".

Antonella Palermo – Vatican News

No Altar da Confissão da Basílica de São Pedro, o Papa Francisco conferiu o ministério sacerdotal a nove diáconos, na presença de várias centenas de fiéis, todos usando máscaras, incluindo os novos ordenandos. Concelebraram o cardeal Angelo De Donatis, vigário geral do Papa para a Diocese de Roma, Dom Gianpiero Palmieri, vice-regente de Roma, alguns cardeais, bispos auxiliares, superiores dos seminários onde os novos sacerdotes foram formados ​​e os párocos dos ordenandos.

Sacerdócio não é uma carreira, é um serviço

O Papa, em uma homilia proferida de forma espontânea, convidou os novos sacerdotes a serem pastores, como o Senhor, “é isso o que ele quer de vocês: pastores. Pastores do Santo povo fiel de Deus. Pastores que vão com o povo de Deus: às vezes na frente, no meio, atrás do rebanho, mas sempre ali, com o povo de Deus", repetiu Francisco, que convidou a superar a linguagem de um tempo que fala de “carreira eclesiástica”. “Isto não é uma carreira: é um serviço, um serviço como o mesmo que Deus fez ao seu povo”, afirmou.

Proximidade, compaixão, ternura

Estas são as três palavras que distinguem o estilo de Deus e que o Papa as examina detalhadamente, entregando aos novos sacerdotes a imitação desse estilo. Ele se detém em particular nas quatro declinações de proximidade: com Deus, na oração, nos Sacramentos, na Missa

Basílica de São Pedro | Vatican News
“Falar com o Senhor, estar próximo do Senhor”, esta é a preocupação do Papa, que recorda que o Senhor se fez próximo de nós em seu Filho. E que esteve próximo no caminho de discernimento vocacional dos ordenandos, “mesmo nos maus momentos do pecado: ele estava lá. Proximidade. Estejam próximos do santo povo fiel de Deus, mas antes de tudo perto de Deus, com a oração”. E diz: “Um sacerdote que não reza lentamente apaga o fogo do Espírito em seu interior”.

Sejam colaboradores do bispo

“No bispo tereis a unidade”, esta é a principal razão pela qual é importante permanecer firme com o seu bispo. “Vós sois colaboradores do bispo”, diz o Papa, que recorda um episódio de muito tempo atrás: “Um sacerdote teve a infelicidade - digamos assim - de me fazer escorregar. A primeira coisa que tive em mente foi chamar o bispo. Mesmo nos momentos difíceis, chama o bispo para estar perto dele”. O Papa sublinha a paternidade espiritual do bispo, a quem se confiar com humildade.

Não cair na fofoca

O Papa sugeriu um propósito para este dia: nunca falar pelas costas de um irmão sacerdote. “Se vocês tiverem alguma coisa contra o outro - disse Francisco - sejam homens (...), vão lá e digam na frente”. E enfatizou mais uma vez a nunca falar pelas costas. “Não sejam fofoqueiros. Não caiam na fofoca” e recomendou a unidade: no Conselho Episcopal, nas comissões, no trabalho.

Sacerdotes do povo, não clérigos do Estado

“Nenhum de vocês estudou para se tornar sacerdote. Vocês estudaram ciências eclesiásticas”, continou Francisco, dirigindo-se novamente aos ordenandos. “Vocês foram eleitos, tirados do povo de Deus”. E cita as palavras do Senhor a Davi: "Eu te tirei de trás do rebanho". Então, convida a não se esquecerem de onde vieram: “de sua família, de seu povo. Não percam o faro do povo de Deus”.

O Santo Padre também cita o apóstolo Paulo que disse a Timóteo para se lembrar de sua mãe, sua avó, das próprias origens.  O autor da Carta aos Hebreus diz: «Lembrai-vos daqueles que vos introduziram na fé». Francisco deixa com clareza este convite: “Sejam sacerdotes do povo, não clérigos do Estado!”.

Não fechar o coração aos problemas das pessoas

O Papa exorta os sacerdotes a "perderem tempo ouvindo e consolando", e a serem dispensadores do perdão de Deus, que nunca se cansa de perdoar. Usar a “terna compaixão, de família, de pai, que faz sentir que tu estás na casa de Deus”: é o estilo que o Papa deseja aos padres, na recomendação de não serem “galgadores”, perseguindo o orgulho do dinheiro. “Sacerdotes, não empresários”, repete o Pontífice, convidando-os a não terem medo: “Se tiverem o estilo de Deus, tudo irá bem”.

https://youtu.be/lQsym-eSSAo


Vatican News

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas.”

Carmelitas

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas.” (Jo 10,11)

por Web Master  em 01/04/2021

AS IMAGENS da cultura bíblica, ritmada pelos tempos cadenciados da vida nômade e pastoril, parecem bem distantes das nossas exigências diárias de eficiência e competitividade. No entanto, também nós sentimos por vezes a necessidade de uma pausa, de um lugar para repousar, de um encontro com alguém que nos acolha do jeito que somos.
Jesus se apresenta como aquele que, mais do que ninguém, está pronto a nos acolher, a nos revigorar. Mais ainda: a dar a vida em favor de cada um de nós.

No longo trecho do Evangelho de João em que encontramos esta Palavra de Vida, Jesus nos transmite a certeza de que Ele é a presença de Deus na história de cada pessoa, conforme prometido a Israel pela boca dos profetas1. 

Jesus é o pastor, o guia que conhece e ama as suas ovelhas, ou seja, o seu povo cansado e por vezes desnorteado. Não é um estranho que desconhece as necessidades do rebanho, não é um ladrão que vem para roubar, ou um bandido que mata e dispersa, nem mesmo um mercenário, que age apenas por interesse.

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas.”

O rebanho que Jesus reconhece como seu é formado certamente pelos seus discípulos, por todos aqueles que já receberam o dom do batismo. Mas não apenas por esses: Ele conhece todas as criaturas humanas, chama-as pelo nome e cuida de cada uma com ternura.
Ele é o verdadeiro pastor, que não só nos guia rumo à vida, que não só vem à nossa procura cada vez que nos perdemos2, mas que até mesmo já deu a sua vida para cumprir a vontade do Pai, que é a plenitude da comunhão pessoal com Ele e a reconquista da fraternidade entre nós, ferida mortalmente pelo pecado.

Cada um de nós pode procurar reconhecer a voz de Deus; ouvir a palavra que Ele dirige pessoalmente a cada um e segui-la com confiança. Sobretudo, podemos ter a certeza de que somos amados, compreendidos e perdoados incondicionalmente por Aquele que nos assegura:

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá sua vida pelas ovelhas.”

Quando experimentamos, pelo menos um pouco, esta presença silenciosa, mas poderosa na nossa vida, acende-se no coração o desejo de partilhá-la, de fazer aumentar a nossa capacidade de dedicação e de acolhida dos outros. Seguindo o exemplo de Jesus, podemos tentar conhecer melhor as pessoas da nossa família, o nosso colega de trabalho ou o vizinho de casa, e permitir sermos incomodados pelas necessidades dos que estão ao nosso lado.
Podemos desenvolver a criatividade do amor, envolvendo os outros e permitindo que nos envolvam. No nosso pequeno mundo, podemos contribuir para a construção de comunidades fraternas e abertas. E nos tornaremos capazes de acompanhar a caminhada de muitos, com paciência e coragem.

Meditando essa mesma frase do Evangelho, Chiara Lubich escreveu:  Jesus diz abertamente de si mesmo: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a própria vida por seus amigos” (Jo 15,13). E Ele vive a sua oferta até as últimas consequências. O seu amor é um amor oblativo, de doação, isto é, um amor feito de efetiva disponibilidade a oferecer, a doar a própria vida. [...] Deus pede também a nós [...] atitudes de amor que tenham a medida do seu amor (pelo menos na intenção e na decisão). […]. Somente um amor assim é um amor cristão: não uma pitada de amor, não um verniz de amor, mas um amor tão grande que coloca em jogo a própria vida. [...] Desse modo, a nossa vida de cristãos dará um salto de qualidade, um grande salto de qualidade. E assim veremos reunirem-se em torno de Jesus, atraídos pela sua voz, homens e mulheres de todos os cantos da terra.3

1) 1) Cf. Ez 34,24-31. 
2) Cf. Lc 15,3-7; Mt 18,12-14. 
3) LUBICH, Chiara. Um salto de qualidade. Palavra de Vida, abril de 1997

https://www.cidadenova.org.br/

Uma política de fraternidade é a resposta aos populismos

L'Osservatore Romano

A «verdadeira resposta» ao populismo não é o individualismo mas «uma política de fraternidade», disse o Pontífice numa mensagem em vídeo aos participantes na conferência internacional «Uma política enraizada no povo», organizada a 15 de abril em Londres pelo Centro para a teologia e a comunidade sobre os temas do livro «Vamos sonhar juntos: o caminho para um futuro melhor», fruto de uma conversa do Papa Francisco com Austen Ivereigh. Eis o texto da mensagem.

Estimados irmãos e irmãs!

Tenho o prazer de vos dirigir algumas palavras de saudação no início desta conferência, organizada pelo Centro para a Teologia e a Comunidade em Londres, sobre os temas tratados no livro Vamos sonhar juntos, especialmente no que diz respeito aos movimentos populares e às organizações que os apoiam.

Saúdo em particular a Campanha Católica para o Desenvolvimento Humano que celebra 50 anos de ajuda às comunidades mais pobres dos Estados Unidos para que vivam mais dignamente, promovendo a sua participação nas decisões que lhes dizem respeito.

Outras organizações do Reino Unido, da Alemanha e de outros países também trabalham nesta dimensão, cuja missão é acompanhar o povo na sua luta pela «tierra, techo y trabajo» [“terra, teto e trabalho”] os famosos três “ ”, e apoiá-los quando encontram atitudes de oposição e desprezo. A pobreza e a exclusão do mercado de trabalho que derivam desta pandemia que vivemos tornaram muito mais urgentes e necessários o vosso trabalho e o vosso testemunho.

Um dos objetivos do vosso encontro é mostrar que a verdadeira resposta ao ápice do populismo já não é o individualismo, mas o contrário: uma política de fraternidade, enraizada na vida do povo. Num livro recente, o Reverendo Angus Ritchie [diretor executivo do Centro para a Teologia e a Comunidade, ndr] descreve esta política que fazeis como «populismo inclusivo»: gosto de usar «populismo» para expressar a mesma ideia.1 Contudo, o que importa não é o nome mas a visão, que é a mesma: trata-se de encontrar mecanismos para garantir a todas as pessoas uma vida digna de ser chamada humana, uma vida capaz de cultivar a virtude e de forjar novos vínculos.2

Em Vamos sonhar juntos chamo a esta política «Política com o P maiúsculo», política como serviço, que abre novos caminhos para que o povo se possa organizar e exprimir. Trata-se de uma política não só para o povo, mas com o povo, enraizada nas suas comunidades e valores. Ao contrário, os populismos têm como inspiração, consciente e inconscientemente, outro lema: «Tudo para o povo, nada com o povo», paternalismo político. Por isso, na visão populista o povo não é o protagonista do próprio destino, mas acaba por ficar devedor de uma ideologia.

Quando o povo é descartado, também é privado não só do bem-estar material, mas inclusive da dignidade de agir, de ser o protagonista da sua história, do seu destino, de se expressar com os seus valores e a sua cultura, da sua criatividade e da sua fecundidade. Portanto, para a Igreja, é impossível separar a promoção da justiça social do reconhecimento dos valores e da cultura do povo, incluindo os valores espirituais que são a fonte do seu sentido de dignidade. Nas comunidades cristãs, estes valores nascem do encontro com Jesus Cristo, que procura incansavelmente quantos estão desanimados ou desorientados, indo até aos limites da existência para ser rosto e presença de Deus, para ser «Deus connosco».

Muitos de vós aqui reunidos trabalham há anos realizando isto nas periferias e acompanhando os movimentos populares. Às vezes, pode ser desconfortável. Alguns acusam-vos de ser demasiado políticos, outros de querer impor a religião. Mas vós compreendeis que respeitar o povo significa respeitar as suas instituições, inclusive as religiosas; e que o papel destas instituições não consiste em impor algo, mas em caminhar com o povo, recordando-lhe o rosto de Deus que nos precede sempre.

Por conseguinte, o verdadeiro pastor de um povo, um pastor religioso, é aquele que tem a coragem de caminhar na frente, no meio e atrás do povo.

Na frente para mostrar o caminho, no meio para sentir com o seu povo e não se enganar, e atrás para ajudar quantos estão atrasados e para deixar que o povo por sua vez encontre caminhos com o próprio olfato.

Por este motivo, em Vamos sonhar juntos, falo de um desejo: que todas as dioceses do mundo tenham uma colaboração sustentada com os movimentos populares.3 Ir ao encontro de Cristo ferido e ressuscitado nas comunidades mais pobres permite-nos recuperar o nosso vigor missionário, pois foi assim que nasceu a Igreja, na periferia da Cruz. «Se nos desinteressarmos dos pobres, deixaremos de ser a Igreja de Jesus e revivemos as velhas tentações de nos transformarmos numa elite intelectual ou moral», uma nova forma de pelagianismo, ou vida essénia.4

Do mesmo modo, uma política que ignora os pobres nunca pode promover o bem comum. Uma política que ignora as periferias jamais compreenderá o centro e confundirá o futuro com a projeção através de um espelho. Uma forma de se desinteressar pelos pobres é desprezar a sua cultura, os seus valores espirituais, os seus valores religiosos, quer descartando-os, quer explorando-os em nome do poder. O desprezo pela cultura popular é o início do abuso de poder. É reconhecendo a importância da espiritualidade na vida dos povos que se regenera a política. Por isso é essencial que as comunidades de fé se encontrem e familiarizem, a fim de trabalhar «para e com o povo». Com o meu irmão e Grão-Imã Ahmad Al-Tayyeb «assumimos» a cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta e o conhecimento recíproco como método e critério.5 Sempre ao serviço dos povos!

Caros amigos, agora mais do que nunca, devemos construir um futuro a partir de baixo, de uma política com o povo, enraizada no povo. E que a vossa conferência ajude a iluminar o caminho. Obrigado!


1. Angus Ritchie, Inclusive Populism: Creating Citizens in the Global Age (Univ. Notre Dame Press, 2019).
2. Papa Francisco, Vamos sonhar juntos: o caminho para um futuro melhor. Conversa com Austen Ivereigh.
3. Ibidem.
4. Ibidem.
5. Documento sobre a fraternidade humana, citado na Fratelli tutti, n. 285.

https://www.osservatoreromano.va/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF