Cardeal Stella e a Praça São Pedro | Vatican News |
Os
dicastérios da Santa Sé contados de dentro: história, objetivos e "balanço
de missão", como funcionam as estruturas que apoiam o ministério do Papa.
A Congregação para o Clero na entrevista com o Prefeito, Cardeal Beniamino
Stella.
Alessandro De Carolis – Vatican News
A "oficina" é o seminário, onde não
apenas se constrói um intelecto, mas especialmente o coração, a própria fibra,
humana mais do que cristã, do homem chamado a se tornar pastor de almas. O
percurso para a formação sacerdotal é tarefa da Congregação para o Clero que dá
especial atenção ao contexto de uma atividade que abraça e administra todos os
aspectos da vida de um ministro de Deus em suas diversas articulações, com um
balanço de missão anual de cerca de 2 milhões de euros (valores de 2021).
O cardeal Beniamino Stella, prefeito do dicastério, explica o
trabalho de seus colaboradores ao longo do caminho indicado pelo Papa
Francisco, o de uma Igreja servida e animada por inteligências e braços que
reavivam, em todo o mundo, a figura do Bom Samaritano.
Balanço de missão dos Dicastérios |
A carta escrita em 4 de agosto de 2019, por ocasião
do 160º aniversário da morte do Cura d'Ars, representa uma pequena
"suma" pastoral e espiritual do magistério do Papa Francisco sobre o
sacerdócio; qual é a "identidade típica" do sacerdote contida nela?
R. - O Papa Francisco está sempre muito atento aos
sacerdotes e ao seu ministério. Já falou a eles em várias ocasiões, destacando
certos aspectos da vida sacerdotal. A Carta para o 160º aniversário da morte
de São João Maria Vianney representa um presente especial do
Santo Padre, que se dirige aos sacerdotes a partir, antes de tudo, de sua
própria experiência de vida. Lendo o texto do Papa, parece que ele
"vê" seus "irmãos sacerdotes", que "sem fazer
barulho" deixam tudo para se comprometerem ao serviço da comunidade e
trabalhar "nas trincheiras", expostos às mais variadas situações,
colocando "seu rosto", mas sem se dar "demasiada importância,
para que o povo de Deus possa ser cuidado e acompanhado".
Assim, o Papa Francisco oferece uma típica identidade
“existencial” do sacerdote. Ele não fala de um sacerdote ideal, que não
existe, mas na realidade ele se dirige à multidão de sacerdotes que "em
muitas ocasiões, de forma silenciosa e sacrificada", empenhando-se no
"serviço a Deus e a seu povo", no anúncio do Evangelho, na celebração
dos Sacramentos e no testemunho da caridade, escrevem "as mais belas
páginas da vida sacerdotal". Apesar dos pecados e até mesmo às vezes
dos crimes de alguns membros do clero, sobre os quais o Santo Padre não se
cala, ele assinala que existem "muitos sacerdotes que, de maneira
constante e íntegra (...), fazem de suas vidas uma obra de misericórdia".
É precisamente a misericórdia, diz o
Santo Padre, depois do dom da própria vida, que é outra "qualidade
primorosa" do padre, que o configura a Cristo Bom Pastor. Trata-se de uma
atitude alegre, que tira sua força da oração e dos sacramentos, que toma forma
na comunhão com o Bispo e seus coirmãos, que se realiza no entusiasmo pela
evangelização e que, na perseverança e "paciência", torna-se
proximidade "à carne do irmão sofredor".
Uma outra característica indicada pelo Santo Padre
é a "coragem sacerdotal", que a Ratio Fundamentalis
Institutionis Sacerdotalis coloca dentro da necessária maturidade
humana exigida dos candidatos às ordens sagradas. O Papa Francisco explica que
o ministério sacerdotal não está imune "ao sofrimento, à dor e até mesmo à
incompreensão", que são meios de configuração a Cristo, quando são
assumidos e integrados no caminho da fé e da oração, através dos quais o
sacerdote, fugindo da acídia - que o Papa chama de "tristeza
adocicada" - permanece "diante do Senhor", que cura seu coração
ferido e lava seus pés que ficaram sujos pela "mundanização".
Por fim, o conjunto de identidade oferecido pela
Carta, descreve, sem citá-lo, a experiência de santidade do Cura d'Ars,
explicita "dois laços constitutivos" da identidade sacerdotal:
a ligação pessoal, íntima e profunda com Jesus, e a ligação com o Povo de Deus.
A atitude que o Santo Padre propõe, seguindo o exemplo da Mãe de Deus, é o
louvor. Poderíamos dizer, resumindo os traços de vida sacerdotal apresentados
na Carta, que o Papa Francisco pede aos sacerdotes de hoje que sejam sacerdotes
do Magnificat.
Cardeal Beniamino Stella ao lado da foto de São João Maria Vianney |
Para o Pontífice, "a renovação da fé e o
futuro das vocações só é possível se tivermos padres bem formados". Que
espaço ocupam os temas da pastoral vocacional e da formação permanente do clero
no trabalho da Congregação?
R. - A Congregação para o Clero dedicou tempo e
energia para a elaboração da Nova Ratio Fundamentalis Institutionis
Sacerdotalis, publicada em 8 de dezembro de 2016, que, portanto, no
final de 2021, completará 5 anos em vigor. É precisamente o próprio "dom
da vocação ao presbitério, colocado por Deus no coração de alguns homens, que
compromete a Igreja a oferecer-lhes um sério caminho de formação". O
Papa Francisco, reunido com a Congregação por ocasião da Assembleia Plenária de
2014, definia a formação como "guardar e fazer crescer as vocações para
que deem frutos maduros". De fato, os sacerdotes são um diamante bruto, a
ser trabalhado com cuidado, com respeito pela consciência das pessoas, e com
plenitude, para que possam brilhar no meio do povo de Deus". Na
perspectiva da Ratio, a formação sacerdotal é única,
começa no seminário (Formação Inicial), e continua durante toda a vida do
sacerdote (Formação Permanente).
A Congregação acompanha, portanto, as Conferências
Episcopais, e às vezes as dioceses individuais, na promoção da formação inicial
e permanente do clero. Uma oportunidade favorável para o diálogo a este
respeito com os Bispos dos diversos países do mundo é proporcionada pelas Visitas
ad limina, ocasião em que, além de tratar de vários outros temas
relativos às competências do Dicastério, é dado amplo espaço ao tema dos
seminários e caminhos de formação permanente do clero. A Congregação insiste na
implementação de projetos de formação e acompanha os caminhos iniciados,
oferecendo indicações tanto de método como de conteúdo.
Por fim, a Congregação presta particular atenção
às vocações sacerdotais, exortando ao estabelecimento e promoção em
dioceses individuais, ou em nível regional ou nacional, de Centros apropriados,
encorajando iniciativas de oração e também apoiando os Bispos como os
principais responsáveis pelas vocações ao sacerdócio. É uma convicção comum, de
fato, que a presença em comunidades do clero treinadas humana, espiritual,
intelectual e pastoralmente, de acordo com as bem conhecidas quatro dimensões
apresentadas pela Pastores dabo vobis, contribuirá
significativamente para criar um clima espiritual adequado para o crescimento
de novas vocações.
Como está estruturada a atividade do Dicastério e
quais são os custos de gestão que permitem apoiar os objetivos da
"missão" que lhe foi confiada?
R. - Como a palavra Congregação sugere, o
Dicastério é composto de uma pluralidade de pessoas que
colaboram para o serviço ao clero. Fazem parte da Congregação como membros,
alguns Cardeais, Arcebispos e Bispos, designados pelo Santo Padre tanto de
dentro da Cúria Romana como de diferentes partes do mundo garantindo assim seu
alcance universal. A Congregação é presidida por um Cardeal Prefeito, assistido
por dois Arcebispos Secretários, um dos quais responsável pelos Seminários, e
por um Subsecretário. Dentro do Dicastério há 27 sacerdotes e 4 leigos. Além
disso, quando necessário, vários consultores (teólogos, canonistas, psicólogos,
juristas) colaboram com o Dicastério, tanto clérigos como leigos.
A atividade da Congregação para o Clero está
dividida em quatro Seções. A Seção Clero, além dos
numerosos casos "disciplinares" e de apoio às Igrejas particulares,
examina as reclamações e responde aos pedidos dos Bispos e do clero. Uma área
significativa é a dos "Recursos hierárquicos", por exemplo contra a
supressão das paróquias, como expressão da liberdade dos fiéis de
"dialogar" com a autoridade quando se sentem sobrecarregados por
algum ato de governo e não é possível, apesar das tentativas, chegar a uma
solução pacífica de outra forma. Através das "Faculdades Especiais"
concedidas ao Dicastério, a Congregação pode demitir, por razões muito graves,
os presbíteros e diáconos do estado clerical. Do trabalho e da experiência da
Seção Clero surgiu a recente Instrução A Conversão Pastoral da
Comunidade Paroquial a Serviço da Missão Evangelizadora da Igreja (20
de julho de 2020).
A Seção Seminários se ocupa da
promoção das vocações e apoia os Bispos diocesanos e as Conferências Episcopais
no campo da formação sacerdotal, tanto inicial quanto permanente, especialmente
nos seminários. Promove o conhecimento e a aplicação da Ratio
Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis e acompanha os episcopados
locais na elaboração da Ratio Nationalis, que deve depois ser
aprovada pela Congregação para o Clero. Também é responsável pelos Colégios e
Internatos em Roma. A Seção Administrativa, é competente em matéria
de ordenamento e administração dos bens eclesiásticos que se encontram
"sob a Suprema Autoridade do Romano Pontífice" e é um dos
instrumentos que o Santo Padre utiliza para supervisionar a correta
administração do patrimônio da Igreja. O Dicastério também exerce esta função
quando se trata de conceder a Licença necessária ad valitatem para
alguns atos de alienação de bens. A Seção Dispensas trata com
os clérigos que abandonaram o exercício do ministério e pretendem se
reconciliar com Deus, com a comunidade eclesial e também com sua própria
"história". A concessão da dispensa - reservada ao Santo Padre - não
é um direito, mas uma graça, concedida caso a caso, como sinal de misericórdia,
quando a situação de abandono do ministério e de perda de identidade por parte
do clérigo é considerada irreversível.
No que diz respeito aos custos de gestão,
estes são atribuíveis aos salários dos funcionários e às despesas operacionais,
e são cobertos pelas entradas das Atividades Institucionais (concessão de
Rescrições em referência ao ordenamento de bens eclesiásticos, das dispensas
das obrigações sacerdotais e diaconais, e da aplicação das Faculdades
Especiais). Por fim, os Cursos de formação oferecidos pelo Dicastério são
parcialmente financiados por uma contribuição simbólica dos estudantes, e o
restante através da generosidade de outras entidades, entre as quais, em sua
maioria, a Pia Fundação Pontifícia "Ajuda à Igreja que Sofre".
A questão do celibato sacerdotal volta ciclicamente
ao centro dos debates da Igreja. O Papa Francisco tem reiterado repetidamente
seu valor como uma "doação" e – concordando com a clara posição de
São Paulo VI - sempre excluiu uma mudança na atual disciplina eclesiástica.
Como a Congregação relança o Magistério do Papa e promove a reflexão entre os
sacerdotes sobre o valor da escolha do celibato?
R. - O tema da vida no celibato do sacerdote
reaparece várias vezes à atenção, até porque é um "sinal de contradição"
com respeito à mentalidade mundana, como é o casamento fiel, indissolúvel e
aberto à vida. Além disso, as inconsistências e às vezes até mesmo os crimes
dos sacerdotes poderiam levar a pensar que o problema reside precisamente no
fato de que o padre viva no celibato. No entanto, os Pontífices do século
passado reafirmaram e motivaram, mesmo em tempos difíceis, o valor do celibato
como doação total a Deus e, consequentemente, como um espaço de liberdade para
o ministério.
A Congregação para o Clero contribui para a
reafirmação deste valor antes de tudo com um constante trabalho de
estudo, por assim dizer, interno: os oficiais - teólogos, canonistas,
psicólogos, formadores - se aplicam a um exame contínuo do tema, com a
contribuição dos Membros e dos Consultores, para que a escolha celibatária
possa ser compreendida em sua autenticidade, mas também em sua atualidade. O
fruto deste trabalho é apresentado nos Cursos promovidos pelo Dicastério e
compartilhado com as Conferências Episcopais, com os Formadores dos Seminários
e com as Universidades. Um aspecto fundamental é a formação para o
celibato sacerdotal. A formação ao celibato sacerdotal, de fato, não
pode ser limitada ao tempo do seminário (formação inicial), mas deve continuar
durante toda a vida do sacerdote (formação permanente), para que os sacerdotes
possam constantemente assumir e renovar sua consciência de estar
"enraizados em Cristo Esposo e totalmente consagrados ao serviço do Povo
de Deus", entendendo o "celibato como um dom especial de Deus",
segundo o ensinamento da Ratio, n. 110.
Não se trata, porém, de observar externamente uma
pura disciplina, mas de acolher e assimilar sempre e de novo, como exortava São
João Paulo II na Pastores dabo vobis, n. 29, "a motivação
teológica da lei eclesiástica do celibato". Trata-se, por assim dizer, de
viver um mistério, que talvez "não seja dado a todos para entender" (Mt
19 11-12), mas que justamente por isso exige uma profunda maturidade
humana e espiritual, que a Congregação se compromete em promover através
dos diversos canais de formação e apoio às Igrejas locais. Há uma bela imagem
usada pelo Papa Francisco na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida
Amazonia, no n. 101: "Jesus Cristo apresenta-Se como Esposo da
comunidade que celebra a Eucaristia, através da figura de um varão que a ela
preside como sinal do único Sacerdote”. Por esta razão o presbítero celibatário
não só representa, mas vive, poderíamos dizer, a representação viva deste
"diálogo entre o Esposo e a esposa".
O tema do abuso de menores por parte de sacerdotes
continua sendo uma ferida aberta no coração da Igreja. Qual é a contribuição
específica que seu Dicastério pode oferecer para o trabalho de prevenção e
erradicação deste doloroso fenômeno?
R. - A prevenção desses crimes por parte dos
clérigos encontra-se em uma cuidadosa formação sacerdotal. Deve ser
especificado, entretanto, que por formação não se entende simplesmente a
comunicação de conceitos, com vistas à informação ou atualização, mas sim -
tanto no seminário como após a ordenação – de uma formação integral, ou seja,
relativa a todos os aspectos da pessoa, incluindo também a dimensão humana nos
aspectos de afetividade, sexualidade e vontade. O seminarista primeiro, e
depois o sacerdote, são chamados a crescer harmoniosamente como homens dotados
de um saudável equilíbrio psicológico, maturidade afetiva e capacidade
relacional.
A Congregação para o Clero propõe este tipo de
educação da personalidade nos Seminários e nos cursos de formação permanente do
Clero. Com efeito, a Ratio, pede neste campo "a máxima
atenção", exclui das ordens sagradas os que "estiveram de alguma
forma envolvidos em crimes ou situações problemáticas nesta área", e
fornece "no programa de formação inicial e permanente" lições, seminários
ou cursos específicos sobre a proteção de menores", interessando-se também
"por áreas de possível exploração ou violência" como "por
exemplo, o tráfico de menores" ou "trabalho infantil" (Ratio,
202). A figura do sacerdote proposta pela Ratio Fundamentalis,
neste sentido, é a de um Pai e de um Pastor que cuida dos fiéis, um
defensor dos mais pobres e fracos.
Em 2013, a Congregação foi encarregada da
responsabilidade dos Seminários. Em quais setores e de que forma este trabalho
é realizado?
R. - O Papa Bento XVI, com o motu proprio Ministrorum
Institutio, de 16 de janeiro de 2013, quis que a Congregação para o Clero
fosse responsável por tudo o que diz respeito à formação, vida e ministério dos
sacerdotes e diáconos, a partir da perspectiva da unidade da matéria. Desde
1992, de fato, a exortação apostólica Pastores dabo vobis tinha
permitido superar a concepção de formação identificada quase exclusivamente com
o aspecto intelectual, e destinada a passar nos exames e obter títulos. A
novidade do documento, por outro lado, consistia em apresentar em primeiro
lugar uma formação integral, ou seja, incluindo, em harmonia,
quatro dimensões: intelectual, espiritual, pastoral e humana. Em segundo lugar,
depois, uma formação única e contínua, dividida em duas fases. A
primeira no Seminário, como formação inicial que depois
continua durante toda a vida do sacerdote na segunda fase, ou seja, a formação
permanente.
Com essa perspectiva, foi realizada a transferência
de competência em 2013, seguida, em 2016, pela nova Ratio Fundamentalis
Institutionis Sacerdotalis. Como resultado, as quatro Seções da
Congregação, distinguidas pelas exigências de trabalho, atuam em conjunto em
favor do clero. De maneira particular, os pedidos que emergem da vida concreta
dos sacerdotes contribuem para estruturar caminhos de formação mais condizentes
com a realidade e respondem às experiências do tempo presente. Na prática, o
Dicastério acompanha as Conferências Episcopais na elaboração de uma Ratio
Nationalis, ou seja, diretrizes para a formação sacerdotal que, com
base nas indicações para a Igreja Universal contidas na Ratio
Fundamentalis, refletem mais adequadamente a história, a cultura e os
desafios de cada país individualmente. Além disso, a Congregação é competente
para seminários interdiocesanos, no que se refere à sua criação, supressão e
unificação, assim como para a aprovação de seus estatutos e a nomeação de seu
reitor, sob proposta do episcopado local.
Um âmbito de particular importância a este respeito
é o das Visitas Apostólicas ordinárias aos Seminários, que são
necessárias para manter constante um diálogo e intercâmbio entre as Igrejas
particulares e a Igreja universal. A fim de garantir este espírito, a Seção
Seminários promove o diálogo com as Comissões Episcopais apropriadas, bem como
com as Associações Nacionais de Seminários. Além deste estreito contato com as
Igrejas locais, o Dicastério promove regularmente cursos de formação para
formadores nos Seminários, geralmente por áreas linguísticas, organiza um Curso
de Práxis Administrativa Canônica para os sacerdotes que são estudantes em Roma
e que serão chamados para serem agentes legais em suas dioceses de origem,
assim como um Curso de Práxis Formativa para os que se dedicarão a atividades
educacionais, especialmente nos Seminários. A ideia básica é 'pensar' e criar
seminários que preparem Sacerdotes segundo o Coração de Cristo, adequados às
necessidades do mundo contemporâneo.
Cardeal Stella ao lado de uma foto antiga de seminaristas jogando futebol |
O âmbito de atividade da Congregação também inclui
o diaconato permanente. Qual é a realidade deste ministério na Igreja de hoje?
E que espaço específico deve ser dado aos diáconos para evitar o risco de que
seu papel permaneça suspenso em algum lugar entre o do padre e o do leigo?
R. - O Papa Francisco o disse abertamente:
"Devemos ter cuidado para não ver os diáconos como meio-sacerdotes e
meio-leigos". E ele identificou sua principal característica: eles são
"os guardiães do serviço na Igreja". A ordenação diaconal
é para alguns, os chamados diáconos transitórios, uma etapa no
caminho para o sacerdócio ministerial, na qual a atitude de Cristo Servo é
assumida para toda a vida, imitando o Senhor Jesus também no celibato. Depois,
o Concílio Vaticano II, na esteira da Tradição da Igreja, restabeleceu a
possibilidade do diaconato permanente, ou seja, dos homens,
mesmo casados, ordenados não para o sacerdócio, mas precisamente para o serviço
na Igreja. De fato, eles exercem seu ministério em celebrações e pregações,
em obras de caridade, no cuidado com os pobres e na colaboração
competente na administração dos bens da Igreja.
A Congregação para o Clero, em sua recente Instrução sobre
a Renovação da Comunidade Paroquial (nn. 79-82), apresentando uma visão
ministerial da Igreja, e na esteira do ensinamento conciliar e dos Pontífices,
destacou a tarefa dos diáconos permanentes como profetas de serviço.
Seu ministério, além disso, deve ir além dos limites da comunidade eclesial; de
fato, eles são enviados às "periferias" e são
marcados por um carisma missionário, especialmente para o
"primeiro anúncio" do Evangelho nos lugares de fronteira e nos
ambientes da vida ordinária das pessoas. Refiro-me aos diáconos permanentes
envolvidos em hospitais, prisões, no acolhimento de migrantes, no mundo da
educação e nos centros de escuta das Cáritas: hoje eles continuam, em nome de
toda a Igreja, a obra do Bom Samaritano.
O aplicativo Clerus-App |
Para realizar esta vocação específica, existe
a necessidade de uma formação que não diz respeito apenas à
dimensão intelectual, mas também à maturidade humana e espiritual,
em vista da evangelização. Por esta razão, o Dicastério acompanha as Conferências
Episcopais na elaboração de uma Ratio para a formação dos
diáconos permanentes, a fim de realizar plenamente o potencial inerente à
sua vocação. Além disso, a Congregação está em diálogo com os episcopados
locais para que em todo o mundo possa ser instituída a ordem
dos diáconos permanentes, que em algumas Igrejas locais ainda não foi
providenciada. De fato, é responsabilidade das Conferências Episcopais
providenciar a promoção do diaconato permanente em cada país.
Além disso, um aspecto único do diaconato
permanente é o fato de que os homens casados também podem ser
admitidos neste ministério. Esta opção os distingue claramente dos padres, que
são sempre celibatários na Igreja latina. Também, o diácono permanente que tem
uma família e exerce uma profissão é uma testemunha privilegiada do
chamado universal à santidade na vida ordinária. No entanto, existem,
embora em menor número, diáconos permanentes celibatários que
testemunham o valor da virgindade para o Reino dos Céus, assumindo o
compromisso do celibato no momento da ordenação, a fim de se dedicarem com
maior liberdade às exigências do ministério.
A
Congregação para o Clero está empenhada em promover o diaconato permanente em
toda sua riqueza e atualidade: estes homens, de fato, não são "acólitos
com a estola", mas são cristãos que se comprometem em manifestar - em
comunhão com o Bispo e o presbitério diocesano - o rosto de Jesus, que não veio
para ser servido, mas para servir e dar a sua vida, seguindo o exemplo de São
Francisco de Assis, que foi diácono permanente e que, motivando o serviço com a
fraternidade, nos ensina a dirigir-nos aos outros chamando-os de "Fratelli
tutti".
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