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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Das Catequeses de São Cirilo, bispo de Jerusalém

S. Cirilo de Jerusalém | Canção Nova

Das Catequeses de São Cirilo, bispo de Jerusalém

(Cat. 13,1.3.6.23: PG 33,771-774.779.802)

(Séc. IV)

Seja-te a cruz um gozo, mesmo em tempo de perseguição

Toda ação de Cristo é glória da Igreja católica. Contudo, a glória das glórias é a cruz. Paulo, muito bem instruído, disse: Longe de mim gloriar-me a não ser na cruz de Cristo.

Foi uma coisa digna de admiração que ele tenha recuperado a vista àquele cego de nascença em Siloé. Mas o que é isto em vista dos cegos do mundo inteiro? Foi estupendo e acima das forças da natureza ressuscitar Lázaro após quatro dias de morto. Mas a um só foi dada essa graça; e os outros todos, em toda a terra, mortos pelo pecado? Foi maravilhoso alimentar com cinco pães, qual fonte, a cinco mil homens. Mas e aqueles que em toda a parte sofrem a fome da ignorância? Foi magnífico libertar a mulher ligada há dezoito anos por Satanás; mas que é isto se considerarmos a todos nós, presos pelas cadeias de nossos pecados?

Pois bem; a glória da cruz encheu de luz os que estavam cegos pela ignorância, libertou os cativos do pecado, remiu o universo inteiro.

Não nos envergonhemos da cruz do Salvador. Muito pelo contrário, dela tiremos glória. Pois a palavra da cruz é escândalo para os judeus e loucura para os gentios, para nós, no entanto, é salvação. Para aqueles que se perdem é loucura; para nós, que fomos salvos, é força de Deus. Não era um simples homem quem por nós morria; era o Filho de Deus feito homem.

Outrora o cordeiro, morto segundo a instituição mosaica, afastava para longe o devastador. Porém, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, não poderá muito mais libertar dos pecados? O sangue de um cordeiro irracional manifestava a salvação. Sendo assim, não trará muito maior salvação o sangue do Unigênito?

O Cordeiro não entregou a vida coagido, nem foi imolado à força, mas por sua plena vontade. Ouve o que ele disse: Tenho o poder de entregar minha vida; e tenho o poder de retomá-la. Chegou, portanto, com toda a liberdade à paixão, alegre com a excelente obra, jubiloso pela coroa, felicitando-se com a salvação do homem. Não se envergonhou da cruz pois trazia a salvação para o mundo. Não era um homem qualquer aquele que padecia, era o Deus encarnado a combater pelo prêmio da obediência.

Por conseguinte, não te seja a cruz um gozo apenas em tempo de paz. Também em tempo de perseguição guarda a mesma fidelidade, não aconteça seres tu amigo de Jesus durante a paz e inimigo durante a guerra. Agora recebes a remissão dos pecados e és enriquecido com os generosos dons espirituais de teu rei. Rebentando a guerra, luta por ele valorosamente.

Jesus foi crucificado em teu favor, ele não tinha pecado. Tu, por tua vez, não te deixarás crucificar por aquele que em teu benefício foi pregado na cruz? Não estarás fazendo nenhum favor porque primeiro recebeste. Entretanto, mostras tua gratidão pagando a dívida a quem por ti foi crucificado no Gólgota.

https://liturgiadashoras.online/

A Igreja e a escravidão no Brasil (Parte 3/3)

Presbíteros

A Igreja e a escravidão no Brasil

Em síntese: O Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil ocasionou a publicação de várias obras atinentes ao assunto, portadoras de notícias e documentos poucos divulgados referentes à ação humanizadora da Igreja em favor dos escravos. Três dessas obras são utilizadas nas páginas seguintes, pondo-se em relevo traços da atitude da Igreja frente à escravatura.

A ocorrência do Centenário da Abolição no Brasil oferece-nos ocasião de voltar ao assunto, valendo-se de obras recém-editadas sobre o mesmo e portadoras de novos dados, extraídos de Arquivos, que põem em mais claro relevo a ação humanizante da Igreja perante o fato escravagista. De modo especial referimo-nos a três publicações:

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, A Escravidão. Convergências e Divergências. Ed. Folha de Viçosa 1988.

Idem, A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Rio de Janeiro 1988.

Jaime Balmes, A Igreja Católica em face da Escravidão, com Adendo do Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho: A Igreja e a Escravidão no Brasil, São Paulo 1988.

Estas três obras apresentam informações e documentos pouco divulgados, que passamos a resumir ou ocasionalmente transcrever nas páginas subseqüentes.

3.    Observação final

É necessário, sim, reconhecer o passado com realismo e veracidade. Mas não se pode esquecer o presente ainda trágico, que a humanidade vive, trazendo até hoje a chaga da escravatura, embora dissimulada ou elegantemente rotulada.

Eis, a propósito, o que se refere na imprensa de nossos dias:

Mundo tem 200 milhões de crianças escravas

“Londres – Em alguns países podem ser comprados pelo equivalente a apenas US$ 15 e em outros trabalham até 20 horas por dia. Não se trata dos robôs produzidos pela moderna tecnologia, mas de vítimas de um comércio que se acreditava há muito desaparecido: a escravidão de crianças.

Segundo a Sociedade contra a Escravidão, que tem sede em Londres, há no mundo pelos menos 200 milhões de crianças escravas, trabalhando em fazendas, fábricas, na indústria do sexo, esgotando-se em longos expedientes, freqüentemente maltratadas e sempre pagas com migalhas.

No livro “Crianças escravizadas”, recentemente lançado, Roger Swayer, de 57 anos, doutor em História, afirma que há no mundo mais escravos hoje que durante o século passado, quando a escravidão se tornou ilegal. Autor de muitas outras sobre a escravidão, ele explica que aparece até como participação forçada das vítimas em conflitos bélicos.

Swayer descreveu em seu livro as condições imperantes numa fábrica do norte da Índia, onde foram libertadas 27 crianças. Algumas haviam sido seqüestradas, outras vendidas por mães desesperadas para receber algumas rúpias imprescindíveis a alimentar o resto da família e outras “hipotecadas” a prestamistas que os parentes das vítimas utilizam para adquirir comida.

“Qualquer tentativa para escapar dos estreitos limites de uma jornada de trabalho de 20 horas era reprimida por golpes com uma vara de ferro ou bambu, e a penalidade por chorar era ser golpeado por uma pedra  envolta de pano. O castigo por tentar fugir era ser pendurado numa árvore de cabeça para baixo”.

Na Europa e nos Estados Unidos, as crianças-escravas trabalham fundamentalmente para a indústria de sexo. “O sofrimento físico das crianças utilizadas na indústria do cinema pornô, na prostituição e no tráfico de narcóticos faz com que, comparadas às crianças do Terceiro Mundo, pareçam privilegiadas”, escreveu Swayer, segundo quem a prostituição infantil e juvenil está proliferando em Paris, Nova York e Londres.

Somente em Paris, segundo especialistas, existem 8.000 crianças de ambos os sexos dedicadas à prostituição, em sua maioria provenientes da Argélia e Marrocos. Em várias grandes cidades dos Estados Unidos existem os denominados “cavalariços”, meninos de entre 12 e 14 anos que praticam a prostituição” (O Globo, 25/07/88, p. 12).

Como se vê, ainda mais importante do que censurar o passado é considerar o presente e dar-lhe os remédios de que carece para evitar a persistência da escravatura em nossos dias. Na verdade, somente a fé em Deus, que suscita o amor ao próximo, é capaz de conter a onda de erotismo e ganância que degradam o ser humano em nossos tempos. Possa, pois, o passado servir de escola e advertência ao presente, contribuindo para despertar a consciência do homem contemporâneo para uma das grandes nódoas do momento.

A propósito:

TERRA, JOÃO EVANGELISTA MARTINS, A Igreja e o Negro no Brasil. Ed. Loyola 1983.
PR 274/1984, pp. 240-247 (síntese do livro acima).
Bíblia, Igreja e Escravidão. Coordenador João Evangelista Martins Terra S. J. Ed. Loyola 1983.
PR 267/1983, pp. 106-132.

https://www.presbiteros.org.br/

5 belos versículos bíblicos sobre amizade

De Kamil Macniak | Shutterstock

Para compartilhar nos seus grupos do WhatsApp ou utilizar como legenda das fotos com amigos.

A amizade verdadeira é um dos maiores presentes que Deus nos concedeu.

Santo Agostinho, por exemplo, dizia que a amizade está diretamente ligada a Deus, pois ele é o nosso primeiro amigo. Disse o santo em seu livro “Confissões”:

“Bem-aventurado o que te ama, Senhor, e ama ao amigo em Ti, e ao inimigo por amor a Ti; só não perde o amigo quem tem a todos por amigos Naquele que nunca se perde”.

No final do mesmo livro, Santo Agostinho conclui:

“Eu amava a meus amigos desinteressadamente, e também sentia que eles me amavam com o mesmo desinteresse.”

De fato, esse amor desinteressado entre amigos está cada vez mais raro hoje em dia. Mas, como cristãos, precisamos resgatá-lo, assim como fizeram e recomendaram os santos.

A amizade na Bíblia

Não apenas os santos abordaram a questão da importância da amizade. Bem antes, as Sagradas Escrituras já falavam sobre este tesouro.

“Um amigo fiel é um remédio de vida e imortalidade; quem teme o Senhor, achará esse amigo.” (Eclesiástico 6, 16).

Além deste exemplo, na Bíblia existem muitos outros versículos que fazem referência à amizade e aos bons amigos. Abaixo, separamos cinco deles. Dá até para compartilhar esses versículos nos seus grupos de amigos do WhatsApp ou utilizá-los como legenda naquelas fotos que você posta com seus amigos e amigas nas redes sociais. Confira!

“Quem teme a Deus terá bons amigos, porque estes serão semelhantes a Ele.”(Eclo 6,17)

“Melhor é a repreensão aberta do que o amor encoberto. Fiéis são as feridas dum amigo.”(Provérbios 27,5-6)

“O amigo ama em todo o tempo: na desgraça, ele se torna um irmão.”(Provérbios 17)

“Porque, se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só; pois, caindo, não haverá outro que o levante.”(Eclesiastes 4,10)

“Amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro.”(Eclo 6,14)

Aleteia 

OBRIGADO, A GRANDE ORAÇÃO

Pinterest
Dom Adelar Baruffi
Bispo de Cruz Alta (RS)

OBRIGADO, A GRANDE ORAÇÃO

Em tempos de pandemia, onde nossa oração maior é sempre uma súplica, a oração de ação de graças é preciosa. A oração é o grande grito do coração que se confia em Deus: “um grito que sai do coração de quem crê e se confia a Deus” (Francisco, Audiência, 06/05/2020). Somente quem tem um coração pleno da presença de Deus, pode dizer a Deus uma súplica ou um muito obrigado. Na verdade, a oração para quem confia nele, que sabe que ele caminha conosco sempre, tem duas dimensões: a súplica e a gratidão.

            Sempre, na oração o homem tem duas mãos ao alto. “Fé significa ter duas mãos levantadas, uma voz que grita para implorar o dom da salvação” (Francisco, Audiência, 06/05/2020). O homem, como “mendigo de Deus”, eleva a Deus sua prece sempre. A fé é um protesto contra a condição humana que não compreendemos. “A não-fé é limitar-se a padecer uma situação à qual não adaptamos” (Francisco, Audiência, 06/05/2020). Sempre dissemos que a fé dos católicos nos impulsiona muito neste tempo de provação. Ai de nós se não tivermos esta fé! De fato, a fé em Deus nos responde quem somos, o que fazemos aqui, para onde vamos, quem nós somos. Esta fé é a resposta para as limitações humanas, ainda presentes, sobretudo pelo desemprego, e sobre as grandes questões da vida após esta. Somos instigados a dizer um “muito obrigado”.

            Quando o ser humano reza, não é somente seu intelectual que reza. Nem é somente seu desejo, que logo pode passar, assim que passar a pandemia. O que reza é sua vida, seu coração, aquele que habita no seu ser. “O corpo reza, mas pode-se falar com Deus até na invalidez mais grave. Por conseguinte, é o homem todo que ora, se o seu “coração” reza” (Francisco, Audiência, 13/05/2020). Na verdade, o cristianismo é a manifestação de um Deus de amor, um grande misericordioso, que sabe que é sempre misericordioso.  “O cristianismo é a religião que celebrar continuamente a ‘manifestação’ de Deus, ou seja, a sua epifania” (Francisco, Audiência, 13/05/2020). Jesus inaugurou uma nova palavra para falar desta presença de Deus. Ele é o “paizinho”. Ele é aquele que “já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15).

            O grande mistério da criação de Deus, para quem tem fé, é uma obra divina. Por isso, ao nos aquietarmos um pouco e contemplarmos tudo o que Deus fez, dizemos: como Deus é bom. A beleza e o mistério da criação divina geram no coração humano o desejo de Deus. A admiração é o grande mistério da nossa fé, olhar e deixar que tudo o que existe possa encontrar um lugar dentro de nós. O que somos nós, diante da grandeza do que existe? Tão pequenos! “Se a vicissitude da vida, com todas as suas amarguras, às vezes corre o risco de sufocar em nós o dom da oração, é suficiente a contemplação de um céu estrelado, de um pôr do sol, de uma flor…, para reacender a centelha da gratidão” (Francisco, Audiência, 13/05/2020).

            Mesmo quando a dor for grande demais, o sentimento interior que nasce da oração é um dizer: obrigado, Senhor! Neste obrigado, sabemos que o dom de Deus, maior do que tudo, é grande e seu amor é maior do que qualquer dano. Afinal, aguardamos dias melhores e o Senhor nos acompanha sempre.

CNBB

A oração não é uma varinha mágica: é necessário rezar com Fé, diz Papa

Papa Francisco | Guadium Press
A condição para uma boa oração é a humildade, um diálogo com Deus, como o Pai-Nosso e não uma varinha de condão que obriga Deus a dar sempre o que pedimos.

Cidade do Vaticano (26/05/2021, 14:40, Gadium Press) Nesta quarta-feira, 26/05, o Papa Francisco voltou a falar da Oração durante a Audiência Geral que foi realizada novamente no Pátio interno do Palácio Apostólico contando com a presença de fiéis.

Dentro dessa temática que vem sendo desenvolvida, o Papa falou da certeza de ser ouvido nas orações.

“Se Deus é Pai, por que não nos ouve”?

Desta vez, ao falar da oração, Francisco levantou a questão das preces que parecem permanecer desatendidas pelo Providência e que podem ser interpretadas como sendo algo escandaloso para muitos:
Todos rezamos por alguém, pela doença de um amigo, de um familiar e, depois eles morrem, disse o Papa.

Então, alguém poderia questionar: “Se Deus é Pai, por que não nos ouve? Todos nós fazemos esta experiência”, disse Francisco.

A oração não é uma vara de condão que executa mágicas…

O Pontífice recordou que uma resposta para este questionamento está no próprio Catecismo quando ali já se adverte para o risco de a relação com Deus ser transformada em uma espécie de passe de mágica.
Isso não seria autêntica experiência de fé: “A oração não é uma varinha de condão, mas um diálogo com Deus”, disse Francisco.

Essa atitude pode conduzir para a crença de que Deus deve sempre nos servir, atender sempre nossos desejos. O contrário disso é que deve ser, nós é que devemos servir a Deus.

Que Deus deva realizar nossos desejos, sem que admitamos outros planos que Ele para conosco é algo errado.

A condição para uma boa oração é a humildade. Jesus, ao nos ensinar a rezar, sabiamente, rezou o “Pai-Nosso” onde, humildemente, Ele pede que se realizasse a vontade do Pai no mundo.

Os tempos de Deus são diferentes dos nossos tempos: porque Deus nos faz esperar?

Na oração é Deus que deve nos converter, e não nós que devemos convertê-Lo, afirmou o Papa.

“É a humildade”, devemos rezar pedindo a Deus que converta o nosso coração pedindo o que é conveniente e o que seja melhor para a minha saúde espiritual.

Porém, relembrou Francisco, permanece o “escândalo”: quando homens rezam com coração sincero, quando uma mãe reza por um filho doente, por que às vezes Deus parece não ouvir?

Para responder a esta pergunta, disse o Pontífice, é necessário meditar calmamente os Evangelhos. Jesus cura imediatamente um doente que pede piedade mas, em outras ocasiões isso não acontece, como foi aconteceu com a mulher da Cananeia, e acrescentou:

“Todos tivemos esta experiência. Quantas vezes pedimos uma graça, um milagre e nada aconteceu. Depois, com o tempo, as coisas se ajustaram, mas segundo o modo de Deus, o modo divino, não segundo o que eu queria naquele momento. O tempo de Deus não é o nosso tempo.”

Um exemplo que diz muito: não ter medo, ter Fé

Como exemplo do que dizia, Francisco recorda um exemplo do Evangelho.
Ele recorda a filha de Jairo, que acaba falecendo mesmo tendo implorado misericórdia ao Mestre. Este pareceria o final, mas Jesus diz ao pai: Não tenha medo, tenha fé.

É a fé que sustenta a oração, disse o Papa. E, com efeito, Jesus despertará a menina do sono. Mas por um período, Jairo teve que caminhar na escuridão, somente com a chama da fé. Pedir a graça de ter fé é o que devemos fazer, recomendou o Pontífice.

Francisco recorda também a oração de Jesus ao Pai, no Getsêmani: parece permanecer desatendida. Mas o Sábado Santo não é o capítulo final, porque no terceiro dia há a ressurreição: o mal é senhor do penúltimo dia, jamais do último.

Foi no último dia em que se realizaram os desejos humanos da salvação

O último dia pertence a Deus, e é o dia em que se realizarão todos os anseios humanos de salvação.

“Aprendamos esta paciência humilde de esperar a graça do Senhor, esperar o último dia. Muitas vezes o penúltimo é terrível, porque os sofrimentos humanos são terríveis. Mas o Senhor está ali. E no último dia Ele resolve tudo.” (JSG)

(Com informações VaticanNews/Foto VaticanMedia)

https://gaudiumpress.org/

Simpósio aborda o papel da família na iniciação à vida cristã

Imagem ilustrativa / Crédito: Unsplash

REDAÇÃO CENTRAL, 26 mai. 21 / 04:00 pm (ACI).- No próximo sábado, 29 de maio, acontecerá o 11º Simpósio Nacional das Famílias, que neste ano tem como tema “Família e Catequese” e abordará a importância dos processos de iniciação à vida cristã voltados para a família e os processos que ocorrem no ambiente familiar, na formação cristã dos filhos pelos pais.

O evento é promovido pela Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF). Será transmitido pelo canal da Pastoral Familiar no Youtube e na página da CNBB no Facebook.

Um dos palestrantes será padre Jânison de Sá Santos, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB. De acordo com ele, os pais tem uma responsabilidade central da formação cristã dos filhos, mas “delegaram aos catequistas, às instituições essa missão”.

“Os pais que iniciam seus filhos na fé alimentam e os ajudam a crescer na mesma fé”, disse o sacerdote ao Portal Vida e da Família, da Pastoral Familiar.

Segundo pe. Jânison, a Igreja motiva na atualidade a redescoberta de uma catequese familiar a serviço da iniciação à vida cristã. Nesse sentido, afirmou que o Novo Diretório para a Catequese, publicado no ano passado, dedica uma atenção especial sobre a catequese em família, “os pais como iniciadores na fé dos seus filhos, uma catequese também para namorados, para noivos e para jovens casais”.

Para o assessor da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética, no atual contexto de pandemia de covid-19, muitas famílias reassumiram sua missão de educar os filhos na fé, pois algumas paróquias passaram a realizar a catequese de modo virtual.

“Em alguns casos, não é propriamente dita uma catequese sistemática, mas um alimentar a fé da família, catequizandos e pais”, afirmou. De acordo com ele, os catequistas enviam para os pais “textos bíblicos, propostas de celebração, propostas de leitura orante” e “as famílias se reúnem, rezam, partilham a palavra; enfim, os pais catequizando seus filhos”.

Com isso, disse, “está crescendo sempre mais essa convicção e certeza do acompanhamento dos pais na iniciação à vida cristã de seus filhos”, isto é, “os pais como catequistas, como iniciadores”. “Mesmo diante da dificuldade dos pais, que podem trabalhar o dia inteiro e têm pouco tempo, mas não podemos esquecer dessa missão tão bonita que os pais têm que ter na educação na fé de seus filhos”, afirmou.

O 11º Simpósio Nacional das Famílias acontecerá no dia 29 de maio, das 8h às 12h e das 14h às 18h. Podem participar todas as pessoas que desejarem. A inscrição deve ser feita pelo site http://bit.ly/Simp2021.

ACI Digital

Santo Agostinho de Cantuária

S. Agostinho de Cantuária | Canção Nova
27 de maio

Santo Agostinho de Cantuária

Um século após são Patrício ter convertido os irlandeses ao catolicismo, a atuação de Agostinho foi tão importante para a Inglaterra que modificou as estruturas da região da mesma forma que seu antecessor o fizera. No final do século VI, o cristianismo já tinha chegado à poderosa ilha havia dois séculos, mas a invasão dos bárbaros saxões da Alemanha atrasou sua propagação e quase destruiu totalmente o que fora implantado.

Pouco se sabe a respeito da vida de Agostinho antes de ser enviado à Grã-Bretanha. Ele nasceu em Roma, Itália. Era um monge beneditino do mosteiro de Santo André, fundado pelo papa Gregório Magno naquela cidade. E foi justamente esse célebre papa que ordenou o envio de missionários às ilhas britânicas.

Em 597, para lá partiram quarenta monges, todos beneditinos, sob a direção do monge Agostinho. Mas antes ele quis viajar à França, onde se inteirou das dificuldades que a missão poderia encontrar, pedindo informações aos vários bispos que evangelizaram nas ilhas e agora se encontravam naquela região da Europa. Todos desaconselharam a continuidade da missão. Mas, tendo recebido do papa Gregório Magno a informação de que a época era propícia apesar dos perigos, pois o rei de Kent, Etelberto, havia desposado a princesa católica Berta, filha do rei de Paris, ele resolveu, corajosamente, enfrentar os riscos.

A chegada foi triunfante. Assim que desembarcaram, os monges seguiram em procissão ao castelo do rei, tendo a cruz à sua frente e entoando pausadamente cânticos sagrados. Agostinho, com a ajuda de um intérprete, colocou ao rei as verdades cristãs e pediu permissão para pregá-las em seus domínios. Impressionado com a coragem e a sinceridade do religioso, o rei, apesar de todas as expectativas em contrário, deu a permissão imediatamente.

No Natal de 597, mais de dez mil pessoas já tinham recebido o batismo. Entre elas, toda a nobreza da corte, precedida pelo próprio rei Etelberto. Com esse resultado surpreendente, Agostinho foi nomeado arcebispo da Cantuária, primeira diocese fundada por ele.

A notícia chegou ao papa Gregório Magno, que, com alegria, enviou mais missionários à Inglaterra. Assim, Agostinho prosseguiu e ampliou o trabalho de evangelização, fundando as dioceses de Londres e de Rochester. Não conseguiu a conversão de toda a ilha porque a Inglaterra era dividida entre vários reinos rivais, mas as sementes que plantou se desenvolveram no decorrer dos séculos.

Agostinho morreu no dia 25 de maio de 604. O corpo de Agostinho foi originalmente sepultado no pórtico do que hoje é a Abadia de Santo Agostinho, em Cantuária, mas foi posteriormente exumado e recolocado num túmulo dentro da igreja da abadia, que se tornou um local de peregrinação e veneração. Após a conquista normanda, o culto de Agostinho passou a ser ativamente promovido e o seu santuário passou a ter uma posição central entre as capelas laterais, ladeado por santuários de seus sucessores, Lourenço e Melito. O rei Henrique I da Inglaterra concedeu à abadia uma feira de seis dias a ser celebrada na época em que as relíquias foram transladadas para o seu novo santuário, de 8 a 13 de setembro, anualmente.

O Martirológio Romano indica a festa litúrgica de santo Agostinho da Cantuária no dia 27 de maio.

https://franciscanos.org.br/

quarta-feira, 26 de maio de 2021

Vaticano: crise climática tem um rosto humano, são necessárias respostas coletivas

"Cuidar da Casa Comum" | Vatican News

“Não se trata de questões meramente políticas ou econômicas, mas de uma questão de justiça que não pode mais ser ignorada ou adiada, é uma obrigação moral para com as gerações futuras". Palavras do Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra.

Vatican News

O Arcebispo Ivan Jurkovič, Observador Permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra, participou do Colóquio Internacional sobre Migrações, realizado pela Organização Internacional para as Migrações. Durante a sessão de terça-feira (25) afirmou: “A mudança climática e suas consequências sobre as migrações têm 'um rosto humano' e colocam questões às quais toda a comunidade internacional deve responder de forma "coletiva e coordenada". O tema do encontro, "muito caro ao Papa Francisco", sublinhou o prelado foi: "Rumo à Cop26: Acelerar as ações para enfrentar a migração e o deslocamento no contexto das mudanças climáticas e ambientais".

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2021/05/26/15/136062682_F136062682.mp3

Pandemia e Clima

O Arcebispo então fez uma comparação entre a pandemia da Covid-19 e a crise climática: enquanto a primeira "chegou inesperadamente", disse, a segunda "vem se desenvolvendo há anos; no entanto, não foi abordada até recentemente", de modo que agora "suas consequências paralisantes já são uma realidade para milhões de pessoas em todo o mundo". Mas é essencial lembrar uma coisa, reiterou o prelado: "A mudança climática ocorre em toda parte, mas a capacidade de responder e se adaptar a ela varia muito". Os mais afetados "de modo desproporcional" são "os mais pobres e os mais vulneráveis". Neste sentido, portanto, "é fundamental reconhecer que a crise climática tem um rosto humano", o de "pessoas forçadas a fugir de seu ambiente natural por ter se tornado inabitável".

Desacordo com a Casa Comum

Entre outras coisas, Dom Jurkovič acrescentou, este "pode parecer um processo inevitável da natureza", mas na realidade "a deterioração do clima é muitas vezes o resultado de escolhas erradas, atividades destrutivas, egoísmo e negligência que colocam a humanidade em desacordo com a Criação, nossa casa comum". Por sua "própria natureza e magnitude", disse o Observador Permanente, "a realidade humana da migração" e "a questão da mudança climática" exigem "uma resposta coletiva e coordenada da comunidade internacional". Nenhum Estado, de fato, "pode administrar as consequências sozinho", e todos os países "estão de algum modo afetados".

Portanto, tendo em vista a 26ª Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudança Climática, programada para Glasgow, Reino Unido, em novembro próximo, o Arcebispo observou que "é imperativo abordar a dimensão humana da mudança climática sem mais delongas", porque - como o Papa Francisco lembrou recentemente - "há uma dívida ecológica que devemos à própria natureza, bem como aos povos e países afetados pela degradação ambiental causada pelo homem e pela perda da biodiversidade".

Não se trata, portanto, de "questões meramente políticas ou econômicas", destacou ainda o Observador Permanente, "mas de questões de justiça, uma justiça que não pode mais ser ignorada ou adiada", pois envolve "uma obrigação moral para com as gerações futuras". A seriedade com que respondemos a estas perguntas", concluiu o prelado, "moldará o mundo que deixaremos para nossos filhos".

Vatican News

Deus ama o pecador, mas detesta o pecado

Canção Nova
Por Márcio Mendes
O MEDO

Um grande aliado do Tentador é o medo. Quantas pessoas se tornaram infelizes, desviaram-se de Deus, entregaram-se a toda espécie de vícios por causa do medo! Medo de Deus, medo do diabo, medo de não ser feliz, medo de não se casar, medo de perder o marido, medo de morrer pobre, de fracassar, de ir para o inferno e, por fim, um dos piores medos: medo da morte!

Numa busca desesperada de segurança, de garantias e “felicidade instantânea”, um número incontável de pessoas se entregou aos arrastos da carne, aos prazeres pecaminosos e a toda sorte de pecados, procurando vida onde só há morte. Muita gente buscou e ainda busca libertações no espiritismo, no ocultismo e em outros tantos espiritualismos, a fim de manipular o sobrenatural, como se com o barro pudesse do barro se limpar. Até parece que ouvimos o desespero gritar: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos”.

Deus ama o pecador, mas detesta o pecado, pois, no Seu amor de Pai, Ele jamais consentirá algo que nos destrua e nos faça infelizes. Não há nenhum pecado que faça bem. Eu nunca vi. Sei que jamais verei o pecado, por si só, gerar verdadeiros benefícios.

O pecado tem a força de destruir o homem

Deus se ofende com o pecado, principalmente, porque este mata o homem, destrói aquele que Deus mais ama.

O Apocalipse narra: “alegrai-vos, ó céus, e todos os que aí habitais. Mas ó terra e mar, cuidado! Porque o demônio desceu para vós, cheio de grande ira, sabendo que pouco tempo lhe resta” (Ap 12,12). Não podendo nada contra Deus, o diabo O ofende em Suas criaturas. Quer atingi-Lo pelo Seu amor.

O que será mais doloroso: machucarem-nos ou machucarem nosso filho ou a nossa mãe, por exemplo? Eu penso que a dor assume proporções gigantescas quando o mal se abate sobre aqueles que amamos. Que sofrimento Deus padece pelo amor que tem por nós! Diz a Sagrada Escritura que o coração de Deus se revolve, que o Senhor se comove, estremece de dó e compaixão pelos Seus filhos que O abandonam seduzidos pelo diabo (cf. Os 11,8c).

Quais são as artimanhas do inimigo?

Há mais um medo pelo qual o inimigo nos seduz: o medo de perder a nossa liberdade. Tentamos garanti-la defendendo-a de Deus, defendendo-a d’Aquele que nos deu toda a liberdade. Como se Ele no-la quisesse tirar.

No íntimo do nosso coração, sopra uma vozinha dizendo: “Deus não vai me deixar fazer isso ou aquilo!”; “Olha que Deus está te vendo!”. Pergunto-me se será mesmo só a voz da consciência.

Deus ama, e quem ama liberta. Porque nos ama, Ele nos respeita. Precisamos defender a nossa liberdade sempre, mas não de Deus, e sim do violador, do príncipe deste mundo que mantém as pessoas prisioneiras pelos seus vícios: álcool, fumo, drogas, jogos, promiscuidade, mentira e uma infinidade de outros que só trazem como salário a morte – primeiro da alma e depois do corpo. Mas, pela oração, podemos desarmar todas as ciladas do demônio.

Trecho extraído do livro “Quando só Deus é a resposta” do Márcio Mendes

https://formacao.cancaonova.com/

A Igreja e a escravidão no Brasil (Parte 2/3)

Presbíteros

Em síntese: O Centenário da Abolição da Escravatura no Brasil ocasionou a publicação de várias obras atinentes ao assunto, portadoras de notícias e documentos poucos divulgados referentes à ação humanizadora da Igreja em favor dos escravos. Três dessas obras são utilizadas nas páginas seguintes, pondo-se em relevo traços da atitude da Igreja frente à escravatura.

A ocorrência do Centenário da Abolição no Brasil oferece-nos ocasião de voltar ao assunto, valendo-se de obras recém-editadas sobre o mesmo e portadoras de novos dados, extraídos de Arquivos, que põem em mais claro relevo a ação humanizante da Igreja perante o fato escravagista. De modo especial referimo-nos a três publicações:

Cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, A Escravidão. Convergências e Divergências. Ed. Folha de Viçosa 1988.

Idem, A Igreja e a Escravidão. As Irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, Rio de Janeiro 1988.

Jaime Balmes, A Igreja Católica em face da Escravidão, com Adendo do Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho: A Igreja e a Escravidão no Brasil, São Paulo 1988.

Estas três obras apresentam informações e documentos pouco divulgados, que passamos a resumir ou ocasionalmente transcrever nas páginas subseqüentes.

2.    Alforrias e “Mão Posta”

1. A alforria é ato de libertar um escravo. Tal prática foi notável no Brasil colonial não só em favor dos inválidos (como erroneamente já se disse).

Havia ocasiões propícias à concessão de alforria por parte dos senhores: festas familiares, confecção de testamento, visitas episcopais… A alforria  podia ser concedida também como recompensa à lealdade no serviço.

Além disto, registram-se os vários casos de escravos que compravam a sua liberdade ou a conseguiam através de padrinhos e madrinhas benfeitores.

Os libertos ajudavam os ex-companheiros de serviço a conseguirem a sua libertação. As próprias Irmandades emprestavam dinheiro para que o escravo se tornasse forro.

Podia outrossim ocorrer a chamada “coartação”: o escravo e o patrão estipulavam o preço do resgate, que o servo ia pagando aos poucos; entrementes, o cativo já gozava de vários direitos do homem livre.

Mais: os escravos que denunciassem um contrabando, eram libertados pelo Estado. Aqueles que encontrassem diamantes acima de vinte quilates, eram alforriados.

Na Bahia os negros organizaram “fundos de empréstimos” para facilitar a compra da alforria; essas organizações foram-se convertendo em sociedades emancipacionistas. A eficácia de tais instituições pode-se avaliar pelo seguinte depoimento de Herbert S. Klein, doutor pela Universidade de Chicago e autor do livro African Slavery in Latin America and the Caribbean, onde assevera:

“Na época do primeiro censo nacional brasileiro, em 1872, havia 4,2 milhões de pessoas de cor livres e 1,5 milhão de escravos. As pessoas de cor livres não apenas ultrapassavam em número os 3,8 milhões de brancos, mas também representavam 43% da população brasileira, de 10 milhões de habitantes. Tudo isto mais de uma década antes da abolição da escravatura” (pp. 241-3).

A Igreja incentivou as formas de libertação dos cativos, como bem dizia D. Pedro Maria de Lacerda, bispo do Rio de Janeiro:

“provemos que os aplausos tantas vezes dados a quem dava alforria, eram aplausos sinceros, nascidos de um coração ansioso de ver a liberdade refulgir mais e mais entre os homens à sombra da Cruz”  (Carta Pastoral anunciando a Lei nº 2040 de 27/09/1871).

2. A Manu posita (Mão posta) era a prática de angariar recursos para redimir cativos por parte de pessoas caridosas; estas eram chamadas “manuposteiros”. Constituiam associações com o Seu Regimento; os membros dessas entidades tinham cada qual a sua função: ora a de esmolér, que pedia donativos por ocasião das festas ou nas fazendas, nas igrejas, nas ermidas…, ora a de escriturar as receitas (escrivães), ora a de guardá-las e distribui-las na qualidade de tesoureiro…

Aliás, existiam na Igreja a Ordem da SS. Trindade, desde 1198, e a dos Mercedários ou Nolascos desde 1222, destinadas a redimir os cativos detidos pelos Sarracenos. A existência dessas ordens era, por si mesma, uma réplica à prática da escravatura: como explicar a arrecadação de elevadas somas para pôr em liberdade cativos, se de outro lado, os próprios portugueses aprisionavam africanos e os reduziam à escravidão? Os Trinitários e os Mercedários suscitaram, por seu trabalho, uma mentalidade anticativeiro, que se exprimiu no Brasil através dos manuposteiros. Assim descreve o historiador Vítor Ribeiro a solenidade do resgate realizada pelas Ordens Religiosas:

“Era revestida de pompas estranhas a expedição de resgates. Os redentores, depois de terem recolhido as esmolas em cofre especial, despediam-se de El-Rey e do seu convento, deixavam crescer  longas barbas, embarcavam com o cofre, e iam à Mauritânia expor-se a mil perigos, vexames e emboscadas com a cautela que a experiência lhes ia aconselhando; negociavam os resgates por intermédio do governo de Bey ou das autoridades e, por fim, conseguindo libertar os cativos, reconduziam-nos ao reino, onde faziam e publicavam longas listas de resgates, com os nomes, idades, naturalidades, condições de cativeiro e libertação e custo dos resgates… Depois, em dia aprazado, fazia-se em Lisboa solene procissão em que entravam várias  Ordens e Confrarias, especialmente a da Misericórdia e a Nossa Senhora do Resgate, a qual dava volta à Igreja velha da Misericórdia e regressava ao convento” (cf. História de Portugal, vol. IV , Damião Peres (Dir.) Barcellos, Portucalense Editora 1932, p. 565).

O Bispo do Rio de Janeiro, D. Pedro Maria de Lacerda, em 1871 escrevia na sua Carta Pastoral referente à Lei do Ventre Livre:

“A Igreja Católica alegra-se imensamente à vista do que acaba de realizar-se entre nós. E como não? Por ventura não é a Igreja Católica que deu ao mundo São João da Mata e que aprovou a Ordem dos seus Religiosos da Santíssima Trindade, cujo fim principal foi resgatar os que gemiam cativos em poder dos Sarracenos? Não foi a Igreja Católica que aprovou a Ordem dos Religiosos das Mercês, instituída por São Pedro Nolasco com o fim de resgatar os cativos que viviam sob o poder dos infiéis, obrigando-os a um heroísmo assombroso de caridade, ligando-os com um solene voto a se deixarem eles mesmos em ferros como penhora e reféns, se tanto fosse preciso para o resgate dos Cristãos? E a Igreja Católica não celebra há tantos séculos a 24 de setembro de cada ano a instituição dessa heróica Ordem Religiosa, criada por inspiração de Maria Santíssima, a quem a Igreja reconhece tanti operis Institutricem? E graças a Deus, no quinto dia dentro do oitavário desta festa é que a nova lei brasileira foi sancionada pela Augusta princesa Imperial Regente”.

Os frutos da mentalidade humanitária despertada pelo Cristianismo são atestados por vários relatos de viajantes e cronistas que passaram pelo Brasil. Entre outros, merece atenção Henry Koster. Filho de ingleses, nascido em Portugal, chegou ao Brasil em 1809. No seu livro Travels in Brazil relata viagens ao Nordeste e refere-se à condição dos escravos:

“Atesta Koster: “Os escravos no Brasil gozam de maiores vantagens que seus irmãos nas colônias britânicas. Os numerosos dias santos para os quais a Religião Católica exige observância, dão ao escravo muitos dias de repouso ou tempo para trabalhar em seu proveito próprio. Em trinta e cinco desses dias e mais nos domingos é-lhes permitido empregar seu tempo como lhes agradar”. Atribui à opinião pública força suficiente para obstar que os senhores diminuíssem o número destes dias, o que revela uma mentalidade altamente humanitária da sociedade de então.

Desce Koster a detalhes sobre as alforrias, porta aberta para a libertação dos cativos…

Destaca o papel não relevante das associações religiosas: “Os escravos possuem sua Irmandade como as pessoas livres, e a ambição que empolga geralmente o escravo é ser admitido numa dessas confrarias, e ser um dos oficiais ou diretores do conselho da sociedade”…

Focaliza a terna devoção dos cativos a Nossa Senhora do Rosário, “algumas vezes, pintada com a face e as mãos negras”. Ressalta que “os reis do Congo brasileiro invocam a Nossa Senhora do Rosário e são vestidos como vestem os brancos. Conservam, é verdade, a dança do seu país, mas nessas festas são admitidos pretos africanos de outras nações”. É que tribos de diversas regiões africanas, muitas até rivais na África, aqui se irmanavam sob o signo da Mãe comum, a Virgem Maria, que tanto amavam e veneravam.

Que os escravos eram respeitados se deduz deste assento: “Os escravos no Brasil são regularmente casados de acordo com as fórmulas da Igreja Católica. Os proclamas são publicados como se fossem para pessoas livres. Tenho visto vários casais felizes (tão felizes quanto podem ser os escravos), com grande número de filhos crescendo ao redor deles”. Nota ainda Koster que era permitido que os escravos se casassem com pessoas livres. Se a mulher era escrava, o filho permanecia cativo; mas se o homem era escravo e a mulher forra, o filho era também livre.

“Aos escravos pertencem os sábados de cada semana para providenciar sua própria subsistência, além dos domingos e dias santificados. Os que são diligentes raramente deixam de comprar sua liberdade. Os monges não guardam interferência alguma quanto às roçarias dadas aos escravos, e quando um desses morre ou obtém sua alforria, permitem que leguem seu pedaço de terra a qualquer companheiro de sua escolha. Os escravos alquebrados são carinhosamente providos de alimento e roupa”. (Grifo nosso).

Testemunha ainda que muitos agricultores tratavam sua escravaria com carinho. Aliás, alega textualmente: “Embora os negros sejam sustentados por seus amos, existindo terras com abundância, permitem aos escravos plantar o que quiserem e vender as colheitas a quem lhes aprouver. Muitos criam galinhas e porcos e, ocasionalmente, um cavalo para alugar e possuir o dinheiro assim obtido” (Transcrito do livro de J. Balmes: A Igreja Católica em face da Escravidão, pp. 108-110).

São estes alguns aspectos da história da escravidão no Brasil que devem ser postos em relevo para que se tenha uma visão tão objetiva e fiel quanto possível do período analisado.

A propósito:

TERRA, JOÃO EVANGELISTA MARTINS, A Igreja e o Negro no Brasil. Ed. Loyola 1983.
PR 274/1984, pp. 240-247 (síntese do livro acima).
Bíblia, Igreja e Escravidão. Coordenador João Evangelista Martins Terra S. J. Ed. Loyola 1983.
PR 267/1983, pp. 106-132.


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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF