Flores, velas, pequenos calçados na "No Pride in Genocide" em Toronto, Canadá, em memória às crianças indígenas sepultadas nas escolas residenciais (AFP or licensors) |
As
trágicas descobertas de centenas de sepulturas anônimas em terrenos de
ex-escolas residenciais para crianças indígenas no Canadá, motivou a abertura
de investigação também nos Estados Unidos. O episcopado assegurou total
colaboração.
Lisa Zengarini – Vatican News
Após a dolorosa descoberta de restos mortais em
antigas escolas residenciais católicas para crianças indígenas no Canadá,
também nos Estados Unidos haverá uma investigação sobre as antigas faculdades
financiadas pelo governo federal, na busca de possíveis túmulos de crianças
indígenas estadunidenses. O anúncio foi feito pela secretária do Interior,
Debra Haaland. “É importante entender o que aconteceu nos Estados
Unidos”, explicou a política do Novo México, ex-membro da Câmara dos Representantes
dos Estados Unidos. Ao comentar a notícia - relata a agência de notícias CNS -
o porta-voz da Conferência Episcopal dos Estados Unidos (USCCB) declarou que os
bispos irão ajudar nas investigações no que for possível.
A iniciativa foi bem recebida pela National
Native American Boarding School Healing Coalition, uma associação de
nativos estadunidenses que há anos luta pela verdade e para que seja feita
justiça pelos "traumas históricos" infligidos aos nativos da América
nessas estruturas.
Entre os séculos XIX e XX, de fato, o Governo
federal dos Estados Unidos financiou mais de 350 escolas residenciais,
geralmente administradas pela Igreja, e embora ainda não se disponha de dados
precisos, estima-se que centenas de milhares de crianças nativas tenham
frequentado essas instituições. A organização, que conseguiu recuperar somente
38% dos registros, pede que o destino delas seja esclarecido. “Acreditamos que
chegou o momento da verdade e da cura. Temos o direito de saber o que
aconteceu”, afirma um comunicado.
A associação recorda como essas crianças tenham
sido, voluntariamente ou à força, afastadas de suas famílias e impedidas de
falar a própria língua materna, de praticar seus costumes e culturas e
despojadas de suas roupas tradicionais, de acordo com as disposições da Civilization
Fund Act (“Lei do Fundo de Civilização”) de 1819, que visava
introduzir os costumes e a cultura da "civilização" europeia nas
tribos indígenas dos Estados Unidos.
A investigação da Administração Biden, que
apresentará um relatório final no próximo mês de abril, servirá não só para
localizar os ex-colégios residenciais, mas também para identificar eventuais
sepulturas e as tribos de origem dos alunos que os frequentavam.
Neste meio tempo no Canadá, após a descoberta em
maio dos restos mortais de 215 crianças na escola residencial indígena
Kamloops, na Colúmbia Britânica, e de outras 751 sepulturas anônimas na última
semana em outra escola em Marieval, em Saskatchewan, foram descobertas 182
novas sepulturas de crianças indígenas, onde podem estar os restos mortais de
alunos da antiga escola da missão St Eugene, perto de Cranbrook, também na
Colúmbia Britânica.
Essas trágicas descobertas reacenderam os holofotes
da opinião pública canadense e mundial sobre o que, em 2015, a Comissão
Nacional especial para a Verdade e Reconciliação definiu um verdadeiro
"genocídio cultural" perpetrado contra os povos originários do país
por meio dessas escolas.
Entre os séculos XIX e XX, 150.000 crianças
indígenas no Canadá foram arrancadas à força de suas famílias e colocadas em
escolas residenciais - muitas das quais administradas pela Igreja Católica -
para serem educadas na cultura e na língua europeias, sofrendo violência física
e psicológica, abusos e, em alguns casos, vindo até mesmo a morrer.
Nas últimas semanas, os bispos canadenses
intervieram em várias ocasiões para expressar sua solidariedade e o desejo da
Igreja de colaborar com as First Nations (Primeiras Nações) na
busca da verdade em um dos capítulos mais sombrios da história do país.
Um convite às autoridades políticas e religiosas do
Canadá para "se comprometerem humildemente em um caminho de reconciliação
e cura" também foi dirigido pelo Papa Francisco no Angelus de 6 de
junho, após o caso da escola residencial Kamloops. Em dezembro, o
Pontífice receberá em audiência uma delegação de bispos canadenses e líderes
indígenas Inuit, Metis e Primeiras Nações, iniciativas que, no entanto, não
impedem os atos de vandalismo perpetrados contra igrejas católicas no Canadá.
Nos últimos 10 dias, um total de oito igrejas foram queimadas. Entre eles está
a histórica igreja de São João Batista em Morinville, na diocese de St. Paul,
que foi consumida pelas chamas em 30 de junho.
Fonte: Vatican News Service - LZ