S. Pedro | Apologistas da Fé Católica |
SÃO PEDRO FIXA A SUA SEDE EM ROMA
PROVAS DESSE FATO, ANO 42 OU 44
Depois de ter saído da prisão (Alguns autores dizem que são Pedro fora a Roma antes da sua prisão e que ali tornou pouco depois, o que faz com que uns fixem essa ida a 42, outros a 44 e até alguns, como Dom Ceillier, a 58.), São Pedro, deixando em seu lugar em Antioquia São Evódio, um dos seus discípulos ( Nicéforo, história eclesiástica, livro 2, capítulo 25— Teodoreto, Tradição da Igreja.), partiu com Marcos, seu secretário, para a capital do império, Roma, onde fixou a sua sede para sempre. Assim como um valente general, logo que começa a peleja, lança às vezes a sua bandeira ao meio das tropas inimigas para animar os seus soldados, também o chefe da Igreja, vendo travado o combate da fé com o paganismo, vai ele mesmo implantar o estandarte da Cruz no centro da idolatria. “E desse modo, diz S. Leão Magno, que um pobre barqueiro, que tinha trepidado diante de uma simples escrava, foi encarar sem medo a onipotência dos Césares.”
Esse fato importante, e de uma coragem evidentemente sobrenatural, tem
toda a certeza histórica possível. Toda a tradição o afirma pela voz dos homens
e dos monumentos. Atestam-no: no primeiro século, S. Papias, Papa S. Clemente e
Santo Inácio de Antioquia; no segundo século, S. Dionísio, bispo de Corinto,
Santo Irineu (livro III, capítulo 3) e S. Justino, em sua Apologia; no
terceiro, S. Clemente de Alexandria, Tertuliano, Orígenes e S. Cipriano; no
quarto, Arnóbio, Santo Epifânio”, Eusébio, São João Crisóstomo e Santo
Ambrósio; no quinto, S. Jerônimo, Santo Agostinho “, S. Optato”, Orósio”,
Teodoreto”, etc. “A ida de S. Pedro a Roma, diz Barônio, é certificada por
todos os escritores eclesiásticos nas duas Igrejas, grega e latina”.
No século segundo, Caio, jurisconsulto romano do tempo do Papa Zeferino,
refere que os fiéis afluíam a Roma a fim de visitar os sepulcros de S. Pedro e
de S Paulo. Juliano, o Apóstata, diz que, antes da morte de S. João, eram
venerados secretamente pelos cristãos os corpos desses dois Apóstolos. Desde os
primeiros séculos até os nossos dias, essa veneração e afluência dos fiéis têm
conservado sempre esse caráter de perpetuidade e de universalidade, que é como
o selo incomunicável da verdade. Ademais, o estabelecimento da sede de S. Pedro
em Roma comemora-se na Igreja com uma festa especial desde tempo imemorial. Dão
fé disso os mais antigos Martirológios; e um concílio de Tours, celebrado em
567, intentou remediar os abusos que nela se haviam introduzido. Belet, teólogo
parisiense que escrevia há 500 anos, diz que se tinha instituído essa festa para
desviar os cristãos de imitar os idólatras, que, em certos dias do mês de
fevereiro, punham carnes sobre as sepulturas de seus pais. Esse último
testemunho, sobretudo, faz evidentemente remontar essa festa aos primeiros dias
do cristianismo.
Além disso, nenhuma seita antiga negou esse ponto histórico tão
importante. Dentre os modernos, impugnaram-no alguns protestantes; mas os
sábios mais recomendáveis da Reforma conformam-se a esse respeito com toda a
história. “Nós temos, diz o Barão de Stark, em favor da primazia do episcopado
de S. Pedro em Roma, o testemunho de toda a antiguidade cristã, desde Papias e
Irineu, que ambos viviam no segundo século da Igreja e dos quais o primeiro era
um discipulo de S. João Evangelista.” Basnage declara que nenhuma tradição tem
mais testemunhos em seu favor e que não se pode duvidar dela sem destruir toda
a certeza histórica. Pearson diz que nenhum dos antigos contestou a fundação da
Igreja romana por S. Pedro nem a sucessão dos Papas. Puffendorf, em seu Livro
da monarquia do Pontífice romano, e Grócio, em suas Cartas, falam claramente a
favor da primazia da Igreja romana e da sua sucessão episcopal; e é tão
incontestável essa verdade que nem Lutero, nem Calvino, nem os centuriadores de
Magdeburgo tentaram impugná-la (Centuriadires deMagdeburgo> Nome dado a sete
ministros protestantes que, em 1552, principiaram a publicar em magdeburgo uma
história eclesiástica, repartida por séculos, à qual puseram o título
centúrias). Calvino diz que não ousa negar que S. Pedro morresse em Roma, “por
causa do consenso dos escritores”, propter scriptorum consensum. Leibnitz,
Hammond, Scaligero, Newton, Blondel, Barratier, Bertoldo, Cave, Shroch,
William, Cobbet, etc. declararam-se tão abertamente pela ida de S. Pedro a Roma
como os mais fervorosos católicos. “É preciso ter perdido o juízo, diz o sábio
alemão Leandro, para rejeitar o testemunho unânime da antiguidade eclesiástica
e não admitir que S. Pedro estivesse em Roma. (Nícolas, estudos filosóficos,
tratado da história da infalibilidade dos Papas; Gorini e John Maccorry,
supremacia de São Pedro. Calvino, institutas, livro 4 e 6).
ORIGENS DOS TRÊS PRIMEIROS PATRIARCADOS
Roma era a capital do mundo, principalmente do Ocidente: Pedro
estabeleceu nela a sua sede, “para dali apascentar os cordeiros e as ovelhas de
Jesus Cristo”. Antioquia, cognominada a grande, para distingui-la de suas
homônimas, em número de dez ou doze, era a capital do Oriente, e Pedro para lá
tinha levado a sua sede. Alexandria era a capital do Egito: de Roma, Pedro enviou
para ali Marcos, seu discípulo, cerca do ano 60, a fim de fundar uma Igreja em
seu nome (Alexandriae Marcum proefecit Petrus [Nicéforo, Félix, Teodoreto].
Roma, Antioquia e Alexandria eram, de alguma sorte, diz Jager, as três
metrópoles do politeísmo; cada uma delas tinha um panteão. O chefe dos
Apóstolos começa por implantar ali o estandarte sagrado; vai assim direto ao
inimigo e o fere no coração. Cada uma dessas três grandes capitais estava
colocada no centro do movimento intelectual e comercial da parte do mundo a que
ela presidia. Porém todas três podiam corresponder-se mutuamente, receber ou
dar expeditamente as suas ordens, porque estavam situadas às margens desse mar,
que não é mais que um Iago em comparação do imenso oceano. Era, pois, difícil imaginar
melhor situação para os patriarcados nos pontos de vista geográfico, político e
religioso. As igrejas dessas três grandes capitais do mundo então conhecido
chamaram-se patriarcas e apostólicas. por causa da supremacia de Pedro. É isso
tão notório que, no século V, querendo um imperador e um concílio ecumênico, o
de Calcedônia, conferir a dignidade de patriarca ao bispo da nova Roma ou de
Constantinopla, recorreram ao sucessor de Pedro nestes termos: “Dignai-vos
derramar também por sobre a lgreja de Constantinopla os raios de vosso primado
apostólico”. O que mostra que, no sentir da Igreja, o patriarcado não é mais
que uma dimanação do primado de Pedro, cuja plenitude reside na sede de Roma.
(Bastará que uma Igreja seja fundada por Pedro para ser patriarcal? Não. É
necessário, diz Thomassin, que Pedro quisesse ali estabelecer de um modo
especial a preeminência do seu trono, da disciplina, livro 1, capítulo 3).
Tratado de história eclesiástica, volume 1 — Padre RIVAUX, 1876—
Brasília: Editora Pinus, 2011.
Fonte: Apologistas da Fé Católica