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sábado, 10 de julho de 2021

A doutrina católica sobre o sacerdócio ministerial, antes, durante e depois do Concílio Vaticano II (Parte 5/5)

Presbíteros
Padre Mauro Gagliardi – Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, Roma
  1. Aspectos concretos da pastoral e da formação para o presbiterato

Também nesta última seção, como em todas as anteriores, não temos nem poderíamos ter a menor veleidade de apresentar um discurso orgânico e completo. Façamos apenas um punhado de observações a um tema de grande importância, que merece reflexões adequadas em local apropriado.

A ação pastoral dos presbíteros e a formação dos candidatos ao presbiterato estão estreitamente ligadas à visão que tivermos da identidade e do papel do ministro ordenado. A linha magisterial que desembocou no grande Concílio de Trento imprimiu uma imagem clara do sacerdote e exerceu incalculável influência sobre a pastoral e sobre a formação. O presbítero é aí considerado sobretudo pastor de almas, autoridade constituída sobre uma porção do rebanho de Cristo, para cuja santificação colabora, como instrumento vivo do Senhor, sobretudo mediante a celebração dos sacramentos, principalmente a Eucaristia e a Penitência, mas também por meio dos outros munera que lhe são próprios[47]. A formação obtida no seminário – lembremos que foi justamente o Concílio de Trento que deu impulso a essa instituição – tendia fundamentalmente a preparar sacerdotes que se dedicassem ao cuidado das almas e sublinhava, com correção e de bom grado, a grandeza do sacerdote, escolhido pelo Senhor para desenvolver no seio da Igreja, em nome desta e em obediência a sua hierarquia, um papel de extraordinário valor e dignidade. O Padre da Igreja de referência, aqui, é São João Crisóstomo, que escreveu páginas esplêndidas sobre a dignidade e a grandeza do sacerdote.

O limite dessa orientação consiste no perigo do clericalismo e de uma insuficiente valorização do laicado católico. Outro perigo é o de absolutizar a figura sacerdotal, esquecendo que esta é chamada a desenvolver seu papel não apenas “diante” da Igreja, mas também “dentro” desta[48]. Em terceiro lugar, poderia nem sempre ser visto com clareza o vínculo de fraternidade sacerdotal, baseado no fato de pertencer à Ordem dos presbíteros. Enfim, se é verdade que nessa visão o vínculo entre episcopado e presbiterato se baseia no sacerdócio comum, ou seja, no poder de consagrar a Eucaristia e de celebrar outros sacramentos (munus sanctificandi), menos evidente é o laço entre bispos e presbíteros no que diz respeito aos outros dois munera. O Vaticano II, como vimos, quis, por conseguinte, reafirmar a doutrina tradicional sobre o presbiterato, dentro de uma visão que levasse em conta esses riscos, além das transformadas circunstâncias históricas. Não se trata de uma revisão dogmática, mas de uma apresentação nova da doutrina de sempre e de uma consistente aplicação pastoral dessa doutrina. Semelhante ensinamento, quando foi seguido e aplicado, trouxe frutos significativos para a vida sacerdotal e para a formação preparatória a esta.

Como dissemos, todavia, essa orientação muitas vezes foi substituída por um modelo diferente. O texto do Concílio foi abandonado muito cedo, e delineou-se uma visão principalmente – quando não exclusivamente – funcional do presbiterato. O próprio termo “sacerdócio” foi muitas vezes revogado do uso: houve quem falasse apenas de “presbíteros” e não mais de “sacerdotes”. Em muitos seminários, foi ensinado que não era preciso absolutamente dizer “tornar-se sacerdote”, mas, sim, “ser ordenado presbítero”. A primeira expressão era rejeitada por ter um sabor excessivamente ontológico: o presbiterato é um serviço à comunidade, assinalado mediante o rito da ordenação, mais que um dom sobrenatural, marcado indelevelmente na alma do ordenado com o caráter sacramental. Na formação proposta em muitos noviciados e seminários, foram apontados, por exemplo, de maneira quase exclusiva, perfis de bispos e sacerdotes mergulhados na animação social, e muito menos, ou de modo algum, figuras de sacerdotes – até mesmo santos e santificadores – que se dedicaram sobretudo ao ministério sacramental da Eucaristia e da Penitência, ou que foram mestres da Palavra de Deus e da arte da oração e da ascese cristãs. A apresentação de figuras de sacerdotes como Santo Afonso Maria de Ligório, São Pedro Juliano Eymard, São João Maria Vianney, São Pio de Pietrelcina, São Leopoldo Mandic não aparecia – e muitas vezes ainda não aparece – no currículo de muitas casas de formação para o presbiterato e, mesmo quando presente, desses sacerdotes era sublinhado particularmente o aspecto ativo e a obra caritativa – certamente de enorme importância -, mais que a prática de ensino da sã doutrina, a vida de oração, o cuidado com as almas e o culto divino. De fato, aconteceu muitas vezes não apenas que desse preeminência ao aspecto funcional do sacerdócio, posto acima do aspecto ontológico, mas também que a missão sacerdotal fosse entendida mais como um “ir para o mundo” que como uma solicitude perante aqueles que já são crentes e precisam de ajuda para tender à perfeição cristã. Além disso, foi sublinhada na formação a unidade entre os dois sacerdócios (comum e ministerial), e atenuada a sua distinção, que o Concílio define “em essência e não apenas em grau” (LG 10). Ou seja, enquanto o Vaticano II ditou a linha de uma renovação da vida sacerdotal e, por reflexo, da formação preparatória para esta – como podemos ver no Decreto Optatam Totius –, no pós-concílio outras teologias e outras linhas de formação foram impostas na prática, o que levou a inserir na Igreja muitos jovens sacerdotes cuja generosidade de empenho viu-se frustrada ou desorientada na ação, não tendo recebido uma ideia clara de sua identidade presbiteral e, portanto, de sua missão.

Também nesse caso, porém, não é preciso aplicar à situação descrita o dito latino post hoc ergo propter hoc. A difícil situação, a “crise de identidade do presbítero” do pós-concílio não encontra sua raiz nos textos do Vaticano II, mas na superposição a estes de uma hermenêutica da descontinuidade, que quis separar-se da grande tradição da Igreja e da fecunda releitura que desta fazem os textos conciliares, para propor uma leitura diferente. Devemos lembrar, porém, que, “enquadrando a tradicional doutrina do sacerdócio ministerial na perspectiva da missão, o Vaticano II não refutou a perspectiva do culto e da consagração, mas a tornou mais dinâmica e eclesial[49]. Em síntese, retomando mais uma vez a conhecida terminologia de Pastores dabo vobis 16, enquanto os riscos do modelo anterior podem ser sintetizados no perigo de viver um sacerdócio apenas “diante” e não também “dentro” da Igreja, os riscos desse modelo mais recente implicam a possibilidade de entender o presbiterato apenas “dentro” e não também “diante” da Igreja. Nas aplicações práticas mais radicais, além disso, foi perdida até mesmo a referência determinante à eclesiologia, e o ministério passou a ser entendido exclusivamente “para o mundo”, como ação não-religiosa perante o mundo e em favor da sociedade: é a completa secularização do sacerdócio católico, quando não existe mais nenhuma identidade presbiteral. É claro que, dentro de semelhante visão, muitos elementos tradicionais do sacerdócio católico – citamos aqui apenas o compromisso com o celibato[50] e a obrigação do traje clerical – já não têm uma razão de ser convincente e por isso são postos em discussão fortemente. Mas a própria vida espiritual e a propensão à santidade por uma vida de graça, de contemplação e de ascese – ardentemente recomendadas pelo Concílio – não se inserem facilmente num quadro como esse. Um ministério presbiteral entendido em sentido secular não requer todas essas coisas, que podem mesmo ser interpretadas como desvio de um tempo precioso que poderia ser dedicado à ação social, ou como uma fuga dos problemas da “vida real”.

Nesse sentido, a marca que o Santo Padre Bento XVI deu ao Ano Sacerdotal revela mais uma vez a contribuição de uma hermenêutica da continuidade, baseada na leitura dos textos conciliares e em sua aplicação prática. De modo particular, a referência qualificadora ao Cura d’Ars mostra-se extremamente significativa. Como conclusão, portanto, podemos trazer alguns excertos dos discursos mais recentes do Papa, algumas passagens dos quais tomamos a liberdade de destacar.

No discurso em que comunicou a instituição do Ano Sacerdotal, Bento XVI afirmou:

“Pela imposição das mãos do bispo e pela oração consagradora da Igreja, os candidatos tornam-se homens novos, tornam-se ‘presbíteros’. Nessa luz, aparece claramente como os tria munera são primeiro um dom e só consequentemente um ofício, primeiro a participação de uma vida, e por isso uma potestas. Sem dúvida, a grande tradição eclesial desvinculou justamente a eficácia sacramental da situação existencial concreta de cada sacerdote, e assim as expectativas legítimas dos fiéis são adequadamente salvaguardadas. Mas essa justa especificação doutrinal nada tira à necessária, aliás indispensável, tensão para a perfeição moral, que deve habitar cada coração autenticamente sacerdotal”.

Nesse discurso, o Sumo Pontífice declarou ter decidido instituir o Ano Sacerdotal justamente com a finalidade de promover a “tensão dos sacerdotes para a perfeição espiritual, da qual sobretudo depende a eficácia de seu ministério”. Em seguida, acrescentou:

“A missão tem suas raízes de modo especial numa boa formação, desenvolvida em comunhão com a Tradição eclesial ininterrupta, sem cesuras nem tentações de descontinuidade. Neste sentido, é importante favorecer nos sacerdotes, sobretudo nas jovens gerações, uma correta acolhida dos textos do Concílio Ecumênico Vaticano II, interpretados à luz de toda a bagagem doutrinal da Igreja. Parece urgente também a recuperação desta consciência que impele os sacerdotes a estar presentes e ser identificáveis e reconhecíveis quer pelo juízo de fé, quer pelas virtudes pessoais, quer também pelo hábito, nos âmbitos da cultura e da caridade, desde sempre no coração da missão da Igreja”[51].

Na carta enviada aos sacerdotes por ocasião da instituição do ano a eles dedicados, o Santo Padre recordou em primeiro lugar, diante dos escândalos provocados às vezes pelos sacerdotes, que

“o máximo que a Igreja pode extrair de tais casos não é tanto a acintosa relevação das fraquezas de seus ministros, como sobretudo uma renovada e consoladora consciência da grandeza do dom de Deus, concretizado em figuras esplêndidas de generosos pastores, de religiosos inflamados de amor por Deus e pelas almas, de diretores espirituais esclarecidos e pacientes”.

O Papa, em seguida, apontou o Santo Cura d’Ars como modelo de vida sacerdotal:

“A primeira coisa que devemos aprender é sua total identificação com o próprio ministério. Em Jesus, tendem a coincidir Pessoa e Missão: toda a sua ação salvífica era e é expressão do seu ‘Eu filial’, que, desde toda a eternidade, está diante do Pai em atitude de amorosa submissão à sua vontade. Com modesta, mas verdadeira analogia, também o sacerdote deve ansiar por essa identificação. Não se trata, certamente, de esquecer que a eficácia substancial do ministério permanece independentemente da santidade do ministro; mas também não podemos deixar de ter em conta a extraordinária frutificação gerada pelo encontro entre a santidade objetiva do ministério e a subjetiva do ministro”.

Bento XVI cita depois algumas expressões de São João Maria Vianney, relativas à centralidade da Missa para a vida sacerdotal:

“Dizia ele: ‘Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do sacrifício da Missa, porque aquelas são obra de homens, enquanto a Santa Missa é obra de Deus’. Estava convencido de que todo o fervor da vida de um padre dependia da Missa: ‘A causa do relaxamento do sacerdote é que não presta atenção à Missa! Meu Deus, como é de lamentar um padre que celebra [a Missa] como se fizesse um coisa ordinária!’ E, ao celebrar, tinha tomado o costume de oferecer sempre também o sacrifício de sua própria vida: ‘Como faz bem um padre oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs!’ Essa sintonia pessoal com o Sacrifício da Cruz levava-o – por um único movimento interior – do altar ao confessionário”.

A respeito da vida ascética do sacerdote, o Pontífice lembra que o Santo Cura

procurava aderir totalmente à própria vocação e missão por meio de uma severa ascese: ‘Para nós, párocos, a grande desdita’, deplorava o Santo, ‘é entorpecer-se a alma’, entendendo, com isso, o perigo de o pastor se habituar ao estado de pecado ou de indiferença em que vivem muitas de suas ovelhas. Com vigílias e jejuns, punha freio ao corpo, para evitar que este opusesse resistência a sua alma sacerdotal. E não se esquivava a mortificar-se a si mesmo pelo bem das almas que lhe estavam confiadas e para contribuir para a expiação dos muitos pecados ouvidos em confissão”.

O Papa mencionou depois outros aspectos, entre os quais o da comunhão dos presbíteros com os bispos:

“Queria ainda acrescentar, apoiado na exortação apostólica Pastores dabo vobis, do Papa João Paulo II, que o ministério ordenado tem uma radical ‘forma comunitária’ e pode ser cumprido apenas na comunhão dos presbíteros com o seu bispo. É preciso que essa comunhão entre os sacerdotes e com o respectivo bispo, baseada no sacramento da Ordem e manifestada na concelebração eucarística, se traduza nas diversas formas concretas de uma fraternidade sacerdotal efetiva e afetiva. Só desse modo é que os sacerdotes poderão viver em plenitude o dom do celibato e serão capazes de fazer florir comunidades cristãs em que se renovem os prodígios da primeira pregação do Evangelho”[52].

Enfim, na homilia pronunciada durante as Vésperas da Solenidade do Santíssimo Coração de Jesus, o Papa disse:

“Como não recordar com emoção que diretamente deste Coração brotou o dom do nosso ministério sacerdotal? Como esquecer que nós, presbíteros, fomos consagrados para servir, humilde e respeitavelmente, o sacerdócio comum dos fiéis? A nossa missão é indispensável para a Igreja e para o mundo, e requer plena fidelidade a Cristo e união incessante com Ele; ou seja, exige que tendamos constantemente para a santidade [para o amor de Jesus], como fez São João Maria Vianney”[53].

Referência: Clerus.org

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Por que casar é melhor que se juntar?

MNStudio | DepositPhotos

O matrimônio é muito mais estável que a união livre, porque o compromisso de vida une o casal é bem diferente.

A Igreja Católica enfrenta atualmente grandes desafios diante da erosão da figura do casamento em diversas sociedades, sobretudo ocidentais. A proliferação das uniões livres e dos divórcios é uma preocupação atual.

De acordo com estudos sociológicos, “observa-se uma queda muito importante da população que se casa, e um aumento importante das uniões livres. Há alguns países nos quais a situação já se inverteu: há mais uniões livres que casamentos”, afirma Fernando Pliego, pesquisador social em temas como a família.

“Esta é uma realidade muito importante diante de qualquer decisão que a Igreja Católica tomar sobre o casamento e a vida das famílias”, especificou Fernando, com base nas pesquisas internacionais que fundamentam seus estudos.

Os casamentos são mais sólidos

O especialista fez uma distinção entre o casamento e os motivos pelos quais a união livre frequentemente fracassa, e comentou que a proliferação deste tipo de uniões que se está dando atualmente com mais frequência entre os jovens “é um problema para a Igreja Católica e para todo aquele que estiver interessado em fortalecer o vínculo entre homem e mulher”.

O especialista comentou que, no casamento, “as pessoas têm um projeto claro de uma comunidade de ajuda e de amor, de cooperação; então, a expectativa e a esperança são muito fortes; por isso, ele é mais sólido, tem mais clareza e é muito mais estável que a união livre”.

Fernando acrescentou que “o casamento tem força porque tem uma expectativa, sempre e quando falamos de um matrimônio por uma religião – como a Igreja Católica. Os que entram pela união livre se separam muito mais facilmente que os que entram pelo matrimônio”.

O anterior se sustenta em que os matrimônios têm mais expectativas do que envolve um projeto de vida compartilhada, e têm uma comunidade solidária de cooperação, de carinho e de amor. “Então, como têm esta expectativa, a relação é muito mais sólida.”

O pesquisador destacou que “nem toda união livre é igual, e isso permitiria ter três estilos de trabalho com os jovens”.

Ele citou três tipos de união livre: a que é resultado de uma relação casual, sem expectativas nem projetos de futuro. Há outra que considera que é como um teste. E uma terceira na qual os jovens dizem: “Nós não nos casamos agora porque precisamos juntar dinheiro, comprar uma casa…” Nenhuma dessas três tem a força e o nível de comprometimento do casamento.

Fonte: Aleteia

Bispos franceses propõem os "10 mandamentos do cristão em férias"

Escoteiro descansa em frente à Gruta de Massabielle.
(Foto de Matthieu Rondel / AFP)

Estamos em pleno verão europeu, o que levou os bispos franceses a elaborar algumas "regras", ou, sugestões para os cristãos não darem férias à sua fé, mas levarem Deus consigo e testemunharem a alegria do Evangelho.

Isabella Piro - Vatican News

Como fazer férias "divinas"? Abre-se com esta pergunta, intencionalmente provocativa, o particular "Decálogo do cristão em férias" preparado pelos bispos franceses para este verão 2021.

A proposta do episcopado parte de um dado de fato: "Durante as férias, somos 'menos' cristãos. Antes ainda, às vezes não o somos de nenhuma maneira – lê-se no site da Conferência Episcopal (CEF). Permitimo-nos um tempo excepcional, uma festa sem Deus, domingos sem Missa. Resumidamente: Deus está de férias”. Neste sentido, a sugestão para conceber o tempo de ócio e de descanso também como “um itinerário no amor do Senhor”.

A primeira regra, então, será dedicar "tempo à caridade", refletindo sobre o "peso" que o amor terá durante as férias. “Este é um ponto essencial - sublinham os bispos - caso contrário, o período de verão corre o risco de ser somente egoísmo disfarçado de relax”.

A segunda regra será “colocar Deus na mala”, isto é, bastará, por exemplo, levar consigo “uma pequena Bíblia, a vida de um Santo, uma pequena obra de Teologia”, explica a Conferência Episcopal francesa, sem esquecer “o Rosário, um pequeno ícone ou um crucifixo”.

Da mesma forma, o terceiro Mandamento convida a "levar Deus no coração em cada momento das férias", porque "a fé é a nossa ligação com o Senhor".

No quarto ponto, por outro lado, os bispos exortam os fiéis a "fugir dos lugares sem Deus", isto é, daquelas "situações ambíguas ou doentes que prejudicam o nosso vínculo com o Senhor e com o próximo".

O tempo das férias, de fato - e este é o quinto mandamento - deve ser entendido como “um longo domingo”, portanto, como “um tempo para dedicar um espaço somente a Deus”.

Por isso, como sexta regra, a CEF exorta a não “faltar à Missa” usando desculpas triviais, mas sempre participar do encontro com o Senhor.

Enfim, os quatro últimos mandamentos são indicações práticas para “contemplar, testemunhar, servir e alegrar-se”: contemplar a beleza presente “na natureza, na arte, no ser humano”, porque “sem contato com a beleza, ficamos áridos rapidamente”; dar testemunho de Cristo, porque “nas férias, não devemos nos limitar a 'permanecer' cristãos, mas também a despertar a fé nos outros”; servir ao próximo, porque colocar-se ao serviço do outro significa percorrer “o caminho de Deus”.

E, por fim, se alegrar: “O cristão se alegra em tudo porque sua alegria está antes de tudo em Deus - recorda a CEF. Longe do ideal mundano da ociosidade preguiçosa e desumanizante, o cristão exala alegria quando Deus dá sua graça, na verdade e a gratuidade do dom de si”.

“E no seu regresso, melhor do que as fotos orgulhosas das empreitadas turísticas - concluem os bispos - o cristão dará testemunho de um coração mais alegre por ter levado Deus de férias com ele”.

Fonte: Vatican News Service - IP

Líderes nativos do Canadá pedem fim de ataques a igrejas

Igreja incendiada no Canadá / Crédito: Polícia Provincial de Ontário

REDAÇÃO CENTRAL, 09 jul. 21 / 02:11 pm (ACI).- Líderes indígenas do Canadá pediram o fim de atos de vandalismo contra igrejas cristãs depois que cinco igrejas católicas foram completamente queimadas e outros templos, católicos e protestantes, sofreram vandalismo desde o dia 21 de junho por causa da descoberta de túmulos anônimos de crianças nas sedes de antigas escolas residenciais para as crianças das Primeiras Nações e outras tribos abertas pelo governo canadense e administradas por igrejas.

A maioria dos incêndios foi em territórios indígenas. Os mais recentes ocorreram esta semana nas províncias de Alberta e Ontário.

igreja protestante House of Prayer Alliance, frequentada pela comunidade vietnamita na cidade de Calgary, foi queimada. A igreja batista de Johnsfield, no território das Seis Nações em Ontário, também foi queimada na madrugada de segunda-feira, 5 de julho. Os incêndios foram controlados, sem danos significativos às igrejas. A polícia acredita que ambos os incêndios foram provocados intencionalmente. A agência Global News informou que a igreja católica Nossa Senhora da Paz, no noroeste de Alberta, foi atacada com coquetéis molotov no sábado, 3 de julho. O fogo foi apagado. A polícia também suspeita que outro incêndio foi provocado na igreja Trinity United em Spruceland, na Colúmbia Britânica, durante o fim de semana.

Cheryle Delores Gunargi O'Sullivan, disse em entrevista coletiva na segunda-feira que o suposto incêndio criminoso está “nos transformando em vilões, quando na realidade somos as vítimas”. “Não vai nos ajudar a construir relações ou reconstruir relações com a religião, com o governo ou mesmo com a Polícia Montada do Canadá. É contraproducente. É preciso que isso pare, para que possamos nos concentrar nas crianças que ainda não foram encontradas”, disse ela.

Jenn Allan-Riley, descendente de antigos alunos das escolas residenciais e ministra pentecostal, disse em uma entrevista coletiva que os atos destrutivos “não são uma forma de solidarizar-se com a gente, com os povos indígenas”. “Esta não é a nossa forma nativa. Nós não odiamos as pessoas. Nós não espalhamos o ódio. Nós amamos as pessoas. Não destruímos as (casas de culto) de outras pessoas”, afirmou.

O sistema de escolas residenciais foi estabelecido pelo governo federal canadense na década de 1870 para afastar as crianças indígenas de suas comunidades e  facilitar sua aculturação. As escolas foram dirigidas por católicos ou membros de outras igrejas cristãs. A Igreja Católica, através das ordens religiosas, chegou a dirigir mais de dois terços das escolas. A última escola residencial administrada pelo governo federal fechou em 1996.

Em 22 de maio, os túmulos de 215 crianças indígenas foram descobertos no local da antiga Escola Residencial Indígena Kamloops, na Colúmbia Britânica. Em 24 de junho, os líderes das Primeiras Nações Cowessess anunciaram a descoberta de 751 túmulos na antiga Escola Residencial Indígena Marieval, em Saskatchewan.

Em 30 de junho, líderes das Primeiras Nações do Baixo Kootenay anunciaram a descoberta de mais 182 túmulos nos terrenos da antiga escola residencial de São Eugênio, perto de Cranbrook, na Colúmbia Britânica.

Allan-Riley afirmou que muitas pessoas das Primeiras Nações e ex-alunos de escolas residenciais ainda são católicos praticantes e agora perderam seus lugares de culto após os atentados.

“A queima e desfiguração de igrejas traz mais conflitos, depressão e ansiedade para aqueles que já estão em luto e doloridos. Também traz para suas vidas sentimentos traumáticos de violência e ameaças anteriores. Isso também está aumentando a divisão entre os povos indígenas do Canadá”, disse Allan-Riley.

Nem Allan-Riley nem O'Sullivan acreditam que os incêndios foram provocados por povos indígenas.

Ambos fizeram declarações após o líder indígena, Arthur Noskey, condenar qualquer tipo de violência contra as igrejas, em um emotivo vídeo publicado em 1º de julho. Noskey explicou que, embora as ações do governo canadense contra as crianças das Primeiras Nações no sistema escolar residencial equivaliam a um genocídio, a destruição não é a resposta.

Ele disse que “estamos pedindo a eles, aos Nehiyaw e aos Dene, às comunidades, nas suas comunidades onde têm essas igrejas, que se abstenham de ações justiceiras contra os edifícios da igreja”.

Noskey afirmou que entendia a raiva em relação à Igreja. “Existem 11 escolas, e eu sei que existem escolas adjacentes à suas reservas. Você sabe, eu até me sinto assim muitas vezes. Queremos fazer algo, agora mesmo, de imediato, mas não com um coração cheio de ira ou agitação”, disse Noskey.

Outros anciãos das tribos também consideraram que a queima das igrejas são atos de desrespeito aos seus antepassados, que construíram as igrejas agora destruídas.

Carrie Allison, idosa de 90 anos da tribo Upper Similkameen e ex-aluna da escola Kamloops, disse que estava “muito desapontada” com a recente destruição da igreja de Sant´Ana em Hedley, na Colúmbia Britânica.

Em entrevista à Coast Mountain News, Allison explicou que a igreja foi construída por membros da tribo há mais de um século. “Houve muitos momentos felizes e alegres nos casamentos de todo o mundo naquela igreja, e para o casal que ia se casar lá na próxima semana. Estou arrasada”, disse.

A pessoa que ateou o fogo “não deve ter sentimentos nem respeito pelos anciãos ou pelos seus antepassados”, acrescentou.

A tribo Upper Similkameen emitiu um comunicado em 28 de junho afirmando que “eles não podem acreditar no total desprezo pelos nossos ancestrais e idosos”, em referência aos recentes incêndios que destruíram as igrejas de Nossa Senhora de Lurdes, em Chopaka, e a de Sant´Ana no território das tribos Upper and Lower Similkameen.

Segundo o comunicado, a tribo estaria “cooperando plenamente e ajudando com as investigações”. “Entendemos a raiva relativa às escolas residenciais em todo o nosso país, mas pedimos a todos que procurem apoio e se ajudem mutuamente para expressar sua raiva e suas emoções de uma forma diferente. Colocar nossas terras, vida selvagem e membros em risco não é o caminho”, afirmaram.

O bispo de Nelson, Dom Gregory Bittman, celebrou uma missa no território indígena do Lower Similkameen no domingo, 4 de julho. “Apesar das perdas que sofreram, apesar das forças que procuram nos dividir, nos reunimos como um só povo, unidos na fé. Peço orações contínuas por todos os irmãos e irmãs indígenas, especialmente por aqueles que perderam suas igrejas missionárias, inclusive a mais recente em Hedley e Chopaka”, disse em comunicado.

O primeiro-ministro Justin Trudeau é católico e se pronunciou sobre os incêndios provocados na igreja em 2 de julho. Ele disse que não acreditava que as ações sejam úteis para uma comunidade ferida. “A queima de igrejas está realmente privando as pessoas que precisam de luto, cura e lugares onde podem chorar, refletir e buscar apoio”, disse ele.

A Conferência Canadense de Bispos Católicos (CCCB) informou, na semana passada, que o papa Francisco receberá bispos canadenses, antigos alunos das escolas residenciais e líderes indígenas em audiências privadas no Vaticano entre os dias 17 e 20 de dezembro de 2021.

Na oração do Ângelus do domingo 6 de junho Francisco uniu-se “aos bispos canadenses e a toda a Igreja Católica do Canadá para expressar minha proximidade ao povo canadense, que ficou traumatizado com esta chocante notícia” dos túmulos anônimos. Além disso, afirmou que o descobrimento, que definiu como “espantoso” e “triste”, “aumenta a nossa consciência da dor e do sofrimento do passado”. “Que as autoridades políticas e religiosas do Canadá continuem colaborando com determinação para aclarar este triste acontecimento e comprometer-se humildemente em um caminho de reconciliação e cura”, acrescentou. 

Fonte: ACI Digital

Dia tranquilo para o Papa, que retoma gradualmente o trabalho

Vatican News

Prossegue a convalescência pós-operatória do Papa, que está retomando gradualmente o trabalho. Francisco fez um agradecimento especial aos médicos que o assistem na Policlínica Gemelli e manifestou a sua proximidade a quem sofre.

Vatican News

“O dia do Papa Francisco foi tranquilo, com o quadro clínico esperado. Os exames de sangue são satisfatórios os tratamentos prescritos.” É o que informa o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé,  Matteo Bruni.

O Papa, acrescenta o comunicado, “está retomando gradualmente o trabalho e continua a caminhar no corredor onde se encontra o apartamento. À tarde, celebrou a Santa Missa na capela particular e, à noite, jantou comunitariamente com quem o assiste nesses dias”.

“O Santo Padre – conclui-se o comunicado –, sentindo pessoalmente a humana dedicação do pessoal médico–sanitário que o assiste, dirige um pensamento especial a todos aqueles que, com cuidado e compaixão, escolhem a face do sofrimento, envolvendo-se numa relação pessoal com os doentes, sobretudo os mais frágeis e vulneráveis.”

Fonte: Vatican News

Santa Verônica Giuliani

Sta. Verônica Giuliani | ArquiSP
10 de julho

Santa Verônica Giuliani

Úrsula Giuliani nasceu em Mercatello, perto de Urbino, no ano de 1660. Foi a sétima filha do casal Francisco e Benta, profundamente católico. Quatro de suas filhas já eram clarissas quando apoiaram a sua caçula, que, aos dezessete anos, desejou ingressar no mosteiro da Ordem na cidade de Castello. Lá ela vestiu o hábito e tomou o nome de Verônica.

No convento, ela trabalhou muito, sem distinção de cargos: foi camareira, cozinheira, encarregada da despensa, enfermeira, professora das noviças e, finalmente, abadessa. Transformou o mosteiro numa verdadeira e especial escola de perfeição com o seu próprio exemplo de amor ao Redentor, à sua Paixão na cruz e à Virgem Maria, deixando para a posteridade um legado instigante de sua prolongada e rica experiência mística.

Os registros de manifestações místicas na vida dos santos da Igreja não são poucos. E consideram-se místicos os fenômenos extraordinários que vivem algumas pessoas escolhidas por Deus para mostrar sua intervenção na existência terrena de seus filhos. São eles os milagres, as profecias, o domínio sobre fenômenos da natureza, as visões, os êxtases e as aparições dos estigmas de Cristo no corpo. Entretanto o que ocorreu com Verônica não teria chegado até nós se não fosse a inspiração de seu diretor espiritual.

Tudo começou a partir de 1697, quando lhe apareceram no corpo os estigmas de Jesus, ou seja, passou a conviver com as mesmas chagas que martirizaram o Cristo. Na ocasião, Verônica pediu a Jesus que os escondesse aos olhos de todos, não desejava que absolutamente ninguém soubesse o que lhe ocorria. Também não queria ser vista como uma escolhida, preferia viver na humildade. Ela conseguiu, mantendo-se reclusa em sua cela e sem contato com nenhuma pessoa fora do convento, pelo resto da vida.

E teria permanecido assim, sem que ninguém soubesse de sua história, não fosse uma ordem que lhe impôs seu confessor e diretor espiritual. Verônica teria de escrever todas as experiências místicas que vivenciava e sentia nos seus contatos com Jesus. Porém, depois, não poderia reler o que havia registrado. Desse modo, ficaram para a posteridade quarenta e quatro volumes de uma fantástica vivência de trinta anos com o extraordinário.

Um dos relatos mais impressionantes trata-se da descrição que ela fez de como lhe surgiram os estigmas. "Vi sair das santas chagas do Cristo cinco raios resplandecentes e todos vieram perto de mim. Em quatro estavam os pregos, e no quinto a lança que, candente, me transpassou o coração de fora a fora", descreveu ela. Era uma Sexta-Feira Santa, de madrugada.

Foi numa sexta-feira também que Verônica Giuliani morreu, em 1727, depois de trinta e três dias de doença e agonia em seu corpo, onde se viam, ainda, as chagas da Paixão. Para corroborar seus escritos, a autópsia constatou que, realmente, seu coração estava vazado de lado a lado.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

sexta-feira, 9 de julho de 2021

A cruz e a luz da solidão sacerdotal, destacadas por um padre brasileiro

Thoom | Shutterstock

"O sacerdote, pelo seu celibato, é homem solitário: mas não é solidão vazia, porque está plena de Deus".

A cruz e a luz da solidão sacerdotal foram destacadas pelo padre brasileiro Allan Victor Almeida Marandola em sua rede social.

O sacerdote, da diocese de Umuarama, PR, compartilhou um extrato da carta encíclica Sacerdotalis Cælibatus (números 58-59), do Papa São Paulo VI, o que é particularmente merecedor de nota porque exemplifica o esforço de muitos padres, religiosos e leigos católicos para colocar os fiéis em contato direto com a doutrina da Igreja sobre assuntos que costumam chegar ao público tergiversados por interpretações e narrativas de “intermediários” como a assim chamada “grande mídia”, com seus “comentaristas” que nem sempre estão mais dispostos a expor a real posição da Igreja do que a sua própria.

Eis o que o pe. Allan Victor compartilhou a propósito da “solidão sacerdotal”:

“É certo: o sacerdote, pelo seu celibato, é homem solitário. Mas não é solidão vazia, porque está plena de Deus e da superabundante riqueza do seu reino. Além disso, ele preparou-se para esta solidão, que deve ser plenitude interior e exterior de caridade, escolheu-a conscientemente e não por orgulho de ser diferente dos outros, não para subtrair-se às responsabilidades comuns, não para estremar-se dos irmãos ou por desestima do mundo. Segregado do mundo, o sacerdote não está separado do Povo de Deus, porque foi constituído em favor dos homens (Hb 5,1), consagrado totalmente ao serviço da caridade (cf. 1 Cor 14,4ss) e à obra para que o Senhor o chamou”.

A cruz e a luz da solidão sacerdotal

O pe. Allan comenta então que, daqui em diante, “segue-se um do mais belos parágrafos jamais escritos sobre a solidão sacerdotal”. E prossegue com o extrato da encíclica:

“Por vezes a solidão pesará dolorosamente sobre o sacerdote, mas nem por isso há de arrepender-se de tê-la generosamente escolhido. Também Cristo, nas horas mais trágicas da vida, ficou só, abandonado mesmo daqueles que tinha escolhido para testemunhas e companheiros e que Ele tinha amado até ao fim (Jo 13,1), mas declarou: ‘Eu não estou só, porque o Pai está comigo’ (Jo 16,32).

Quem escolheu ser todo de Cristo há de encontrar, antes de tudo, na intimidade com Ele e na sua graça, a força de ânimo necessária para dissipar a melancolia e para vencer os desânimos. Não lhe faltará a proteção da Virgem Mãe de Jesus e os maternos desvelos da Igreja a cujo serviço se consagrou. Poderá contar com a solicitude do seu pai em Cristo, o Bispo, com a fraternidade íntima dos irmãos no sacerdócio e com o conforto de todo o Povo de Deus. E se a hostilidade, a desconfiança, a indiferença dos homens lhe tornarem por vezes demasiado amarga a solidão, há de saber compartilhar com dramática evidência a mesma sorte de Cristo, como o apóstolo que não é maior do que Aquele que o enviou (cf. Jo 13,16;15,18), como o amigo que foi admitido aos segredos mais dolentes e mais gloriosos do divino Amigo que o escolheu para produzir, num viver aparentemente de morte, frutos misteriosos de vida”.

(Papa São Paulo VI, carta encíclica Sacerdotalis Cælibatus, n. 58-59)

 Fonte: Aleteia

A doutrina católica sobre o sacerdócio ministerial, antes, durante e depois do Concílio Vaticano II (Parte 4/5)

Presbíteros
Padre Mauro Gagliardi – Pontifício Ateneu Regina Apostolorum, Roma
  1. Tendências teológicas pós-conciliares

Na década de 1970, o presbiterato viveu uma crise de proporções talvez nunca antes vistas na história da Igreja. O fato de isso ter acontecido pouco depois da conclusão do Vaticano II nos leva a dizer com certeza post hoc, mas não podemos afirmar com igual segurança também o propter hoc. A sucessão temporal nem sempre indica uma relação de causalidade e, por conseguinte, o fato de uma “crise de identidade do presbítero”[33] generalizada ter sido experimentada depois do último Concílio não significa que a única explicação plausível seja que essa crise surgiu por causa do Vaticano II. É preciso, isto sim, reconhecer que esta se manifestou não apenas por razões culturais e sociais, mas também porque cedo nos afastamos do texto conciliar, para desenvolver outras visões do sacerdócio. A crise de identidade do presbítero – que de muitos pontos de vista perdura até hoje – fez surgir uma série de perguntas entre os teólogos e os pastoralistas, e produziu um desvio nas publicações sobre o ministério ordenado: a bibliografia sobre o sacerdócio orientou-se, entre o final da década de 1970 e a de 1980, não mais aos textos conciliares, a não ser in obliquo, mas, sim, ao tema dos ministérios do Novo Testamento e ao estudo sobre a razão de ser do ministério ordenado na Igreja[34].

De modo geral, os estudos teológicos sobre o presbiterato se polarizaram em torno de dois núcleos: o cristológico e o eclesiológico[35]. Os estudos da primeira série (a cristológica) se desenvolveram em duas linhas principais: uma que sublinha sobretudo o caráter cultual do ministério ordenado, entendendo-o principalmente como sacerdócio; e outra que desenvolve mais a categoria de representação, numa reflexão que se apoia no caráter missionário e pastoral do presbiterato. Detendo-nos na leitura que fizemos da LG e do PO, com base na tradição bimilenar da Igreja, o primeiro modelo parece ser mais adequado, ainda que seja preciso evitar alguns erros em que podemos incorrer, se este é mal aplicado. No modelo “sacral-sacerdotal”, o presbítero é compreendido com base no sacerdócio que Cristo instituiu e transmitiu em primeiro lugar aos apóstolos e depois, a partir destes, a seus sucessores. Nessa ótica está fundamentalmente o texto da Carta aos Hebreus, cujo valor, no que diz respeito à teologia do sacerdócio cristão, foi muitas vezes contestado em nossos tempos, mas – como vimos – é afirmado com clareza pela tradição magisterial e teológica. É claro que nessa ótica a identidade do sacerdote católico é compreendida em relação a Cristo[36]. O limite observado por diversos estudiosos recentes consiste no fato de alguns representantes dessa orientação teológica entenderem o munus sanctificandi como o “ser” do presbítero e os munera docendi et regendi apenas como o “fazer”, pondo em risco a unidade entre os tria munera. Essa aplicação do modelo sacral ou sacerdotal da teologia do presbiterato não coincide perfeitamente com os textos sobre o presbiterato do Vaticano II, que falam da supremacia do munus sanctificandi, mas não o separam claramente dos outros dois munera.

Assim, outros teólogos, mesmo permanecendo no polo interpretativo cristológico, preferiram desenvolver a teologia do presbiterato católico segundo o modelo da representação (modelo missionário-pastoral), que – como vimos – era utilizado já no Catecismo Tridentino[37]. Entre esses autores, desponta o nome de Joseph Ratzinger[38]. Ele assumiu a categoria da “missão de Cristo” como ponto de partida de sua teologia do sacerdócio ministerial. O ministro deve ser compreendido em primeiro lugar como enviado. A missão constitui a natureza do ministério ordenado, e essa missão é sempre entendida a partir do polo cristológico: é Cristo, o Enviado do Pai, que está presente no ministro (representação vicária) e continua, por intermédio dele, sua missão. Dessa forma é evitada também a alternativa entre aspectos ontológicos e funcionais do sacerdócio católico. É extremamente relevante que Ratzinger tenha reapresentado essa linha interpretativa também como Pontífice, na Audiência Geral da quarta-feira seguinte à abertura solene do Ano Sacerdotal. Nela, o Papa chamou a atenção explicitamente também para seus estudos sobre a matéria enquanto teólogo particular, dizendo:

“Num mundo em que a visão conjunta da vida abrange cada vez menos o sagrado, em cujo lugar a ‘funcionalidade’ se torna a única categoria decisiva, a concepção católica do sacerdócio poderia correr o risco de perder a sua consideração natural, às vezes inclusive no interior da consciência eclesial. Não raro, quer nos ambientes teológicos, quer também na prática pastoral concreta e de formação do clero, confrontam-se e por vezes opõem-se dois conceitos diferentes de sacerdócio. A este propósito, salientei há alguns anos que existe ‘por um lado uma concepção social-funcional que define a essência do sacerdócio com o conceito de serviço: o serviço à comunidade, no cumprimento de uma função. […] Por outro lado, existe a concepção sacramental-ontológica, que, naturalmente, não nega a índole de serviço do sacerdócio, mas, ao contrário, a vê ancorada no ser do ministro e considera que esse ser é determinado por um dom concedido pelo Senhor pela mediação da Igreja, cujo nome é sacramento’ (Ratzinger, J. “Ministero e vita del Sacerdote”. In: Elementi di Teologia Fondamentale. Saggio su fede e ministero. Bréscia: 2005, p. 165). Também a passagem terminológica da palavra ‘sacerdócio’ para os termos ‘serviço, ministério e encargo’ é sinal dessa concepção diferente. Além disso, à primeira, a ontológico-sacramental, está vinculado o primado da Eucaristia, no binômio ‘sacerdócio-sacrifício’, enquanto à segunda corresponde o primado da palavra e do serviço do anúncio.

Considerando bem, não se trata de duas concepções opostas, e a tensão que, contudo, existe entre elas deve ser resolvida a partir de dentro [segue citação de PO 2].

Então, interroguemo-nos: ‘O que significa propriamente, para os sacerdotes, evangelizar? Em que consiste o chamado primado do anúncio?’ Jesus fala do anúncio do Reino de Deus como da verdadeira finalidade da sua vinda ao mundo e o seu anúncio não é apenas um ‘discurso’. Inclui, ao mesmo tempo, o seu próprio agir: os sinais e os milagres que realiza indicam que o Reino vem ao mundo como uma realidade presente, que em última análise coincide com a sua própria pessoa. Neste sentido, é importante recordar que, também no primado do anúncio, palavra e sinal são indivisíveis. A pregação cristã não proclama ‘palavras’, mas a Palavra, e o anúncio coincide com a própria pessoa de Cristo, ontologicamente aberta à relação com o Pai e obediente à sua vontade. Portanto, um serviço autêntico à Palavra exige da parte do sacerdote que tenda para uma aprofundada abnegação de si mesmo, a ponto de dizer com o Apóstolo: ‘Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim’. O presbítero não pode considerar-se ‘senhor’ da palavra, mas servo. Ele não é a palavra, mas, como proclamava João Batista, cuja Natividade celebramos precisamente hoje, é ‘voz’ da Palavra: ‘Voz que brada no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas’ (Mc 1,3).

Pois bem, ser ‘voz’ da Palavra não constitui para o sacerdote um mero aspecto funcional. Pelo contrário, pressupõe um substancial ‘perder-se’ em Cristo, participante no seu mistério de morte e de ressurreição com todo o próprio eu: inteligência, liberdade, vontade e oferta do próprio corpo, como sacrifício vivo (cf. Rm 12,1-2). Somente a participação no sacrifício de Cristo, na sua kénosi, torna autêntico o anúncio! E este é o caminho que deve percorrer com Cristo para chegar a dizer ao Pai, juntamente com Ele: ‘Não se faça o que Eu quero, mas o que tu queres’ (Mc 14,36). Então, o anúncio comporta sempre também o sacrifício pessoal, condição para que o anúncio seja genuíno e eficaz.

Alter Christus, o sacerdote está profundamente unido ao Verbo do Pai, que, encarnando-se, assumiu a forma de servo, se tornou servo (cf. Fl 2,5-11). O presbítero é servo de Cristo, no sentido de que a sua existência, ontologicamente configurada com Cristo, adquire uma índole essencialmente relacional: ele vive em Cristo, por Cristo e com Cristo ao serviço dos homens. Precisamente porque pertence a Cristo, o presbítero encontra-se radicalmente ao serviço dos homens: é ministro da sua salvação, nessa progressiva assunção da vontade de Cristo, na oração, no ‘estar coração a coração’ com Ele. Assim, essa é a condição imprescindível de cada anúncio, que exige a participação na oferenda sacramental da Eucaristia e a obediência dócil à Igreja”[39].

Como deduzimos do longo texto citado, o Papa retoma de seus estudos teológicos a orientação de uma teologia do presbiterato guiada pelo polo cristocêntrico e exposta com base no modelo missionário-pastoral da representação. O Santo Padre evidencia, porém, o que continua a ser imprescindível: o caráter sagrado do sacerdócio. Entre outras coisas, Bento XVI cita a expressão alter Christus, típica do modelo sacro-cultual, que portanto não deixa brechas a dúvidas sobre o ensinamento proposto pelo Pontífice. Em síntese, podemos dizer que o Papa lembrou como é inquebrável o binômio identidade-missão. O presbiterato deve ser compreendido ontologicamente quanto à identidade sacerdotal, derivada da recepção do sacramento da Ordem. Semelhante identidade tem por finalidade a missão e dela é inseparável[40]. A negação de um desses dois aspectos leva a visões redutivas do ministério ordenado. O papa Bento refrisou esse ensinamento na Audiência Geral de 1º de julho:

“Na verdade, precisamente considerando o binômio ‘identidade-missão’, cada sacerdote pode sentir melhor a necessidade daquela progressiva identificação com Cristo que lhe assegura a fidelidade e a fecundidade do testemunho evangélico. O próprio título do Ano sacerdotal – Fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote – põe em evidência o fato de que o dom da graça divina precede qualquer possível resposta e realização pastoral do homem, e assim, na vida do sacerdote, anúncio missionário e culto nunca são separáveis, como nunca devem ser separadas a identidade ontológico-sacramental e a missão evangelizadora. De resto, a finalidade da missão de cada presbítero, poderíamos dizer, é ‘cultual’: para que todos os homens possam oferecer-se a Deus como hóstia viva, santa e do seu agrado (cf. Rm 12,1)”[41].

A visão equilibrada e tendencialmente completa oferecida por Bento XVI mostra, pelo contraposição, a parcialidade das leituras tantas vezes feitas na última década a partir do outro polo interpretativo, o eclesiológico. Frequentemente, na década de 1970, os candidatos ao sacerdócio, ou os presbíteros nos retiros mensais do clero, ouviram repetir que o sacerdote, mais que representante de Cristo (como ensina o Vaticano II), seria representante da comunidade, enquanto presidente, mas também expressão dela. Dessa forma, nos aproximávamos do conceito protestante do ministério, mas perdíamos de vista aspectos essenciais da tradição teológico-magisterial católica, até mesmo do ponto de vista do exercício concreto do ministério, com a consequente submissão do sacerdote à comunidade, da qual devia ser intérprete, mais que guia, e da qual devia prestar contas.

Não raro, além disso, algumas orientações teológicas propuseram-se à sistemática dessacralização e até à “desacerdotalização” do ministério presbiteral. O presbiterato foi interpretado preponderantemente, quando não exclusivamente, de modo funcional e não ontológico. Destacam-se, entre os estudiosos que expressam essa linha, e que naturalmente apresentam também notáveis diferenças entre si, os nomes de Karl Rahner[42], Edward Schillebeeckx[43], Hans Küng[44], Leonardo Boff[45] e outros. É importante, aqui, não deixar de apresentar suas propostas, mesmo que de maneira puramente esquemática. Podemos dizer apenas que, em termos gerais, uma visão principalmente funcional do presbiterato não coincide nem com os textos do Vaticano II nem com a bimilenar tradição magisterial e teológica de que este nasceu, representando sua mais recente manifestação conciliar. Citamos mais uma vez Bento XVI:

“Tendo recebido um dom de graça tão extraordinário, mediante a sua ‘consagração’, os presbíteros tornam-se testemunhas permanentes do seu encontro com Cristo. Partindo precisamente dessa consciência interior, eles podem desempenhar plenamente a sua ‘missão’, pelo anúncio da Palavra e pela administração dos Sacramentos. Depois do Concílio Vaticano II, houve aqui e ali a impressão de que na missão dos sacerdotes, neste nosso tempo, havia algo de mais urgente; alguns pensavam que era necessário, em primeiro lugar, construir uma sociedade diversa. A página evangélica, que ouvimos no início, evoca ao contrário os dois elementos essenciais do ministério sacerdotal. Naquela época e hoje, Jesus envia os Apóstolos a anunciar o Evangelho e confere-lhes o poder de expulsar os espíritos malignos. Portanto, ‘anúncio’ e ‘poder’, ou seja, ‘palavra’ e ‘sacramento’, são as duas colunas fundamentais do serviço sacerdotal, para além das suas possíveis e múltiplas configurações[46].

Referência: Clerus.org

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF